ESPERE Escola de Perdão e Reconciliação

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10 de maio de 2011

Joanne Blaney e Petronella Maria Boonen Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo

São Paulo www. cdhep.org.br

Programa Perdão e Justiça

INTELIGÊNCIA EMOCIONALInteligência Emocional é a capacidade que

cada ser humano tem para lidar com os conflitos cotidianos e com o volume e controle de suas angústias e ansiedades, aprendendo a compreender seus próprios sentimentos e a descobrir-se nos outros, com quem busca efetivamente conviver.

Antunes, Celso. Inteligências múltiplas e emocionais. Rio de Janeiro,2009.

ESPERE e Práticas Restaurativas Um curso de 48 horas sobre os temas:Um curso de 48 horas sobre os temas: - Círculo da violência;- Círculo da violência; - Raiva; - Raiva; - Perdão;- Perdão; - Compaixão;- Compaixão; - Construção de verdade; - Construção de verdade; - Comunicação assertiva e habilidades emocionais; - Comunicação assertiva e habilidades emocionais; - R- Responsabilização e justiça justa;

- Desenvolvimento e transformação do conflito; - Reconciliação e Justiça restaurativa.Justiça restaurativa.

Dimensões da Formação ESPEREA formação ESPERE lida com as 4 dimensões do ser humano:Pensar (aspeto cognitivo)Sentir (aspeto emocional)Transcender (aspeto espiritual)Agir (aspeto comportamental) -----------------------------------------------------------------------CONCEITOS FUNDAMENTAIS:• Afirmação da raiva e do conflito: Encarar, falar e refletir a

respeito é o caminho para sua superação.• A justa justiça: A justiça que procura restaurar o dano,

recuperar o malfeito e restabelecer a convivência entre as pessoas.

• Responsabilização e restauração no lugar da punição.

Uma necessidade de nosso tempo “A maior necessidade de nosso tempo é limpar a

enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas.

Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.

Thomas Merton, monge trapense da Abadia de Getsêmani, em Kentucky. EUA.

Multiplicação ESPERE com educadores/as

OBJETIVOS:• Capacitar os educadores de crianças e adolescentes para lidar

com a violência, a raiva, a dor e a sensação de impotência para quebrar o ciclo da violência;

Oferecer acesso a ferramentas para quebrar o ciclo da violência através de algumas técnicas e reflexões sobre alfabetização emocional, perdão, transformação de conflito e a justiça que restaura.

Aprender a lidar com as emoções que a violência provoca.Entender e o desenvolvimento dos conflitos e aprender a lidar de

forma transformativa.

Os educadores(as) têm um desejo grande de melhorar seu desempenho. Várias reflexões com eles incluíram assuntos como:

Qual é nosso papel como educador no CCA e no Serviço de MSE? Quem é a criança ou adolescente com quem nós trabalhamos?

O que significa justiça e perdão em nosso contexto?  

ESPERE com Educadores/as

A Arte de Viver e Conviver

Entre 2007 e 2011, o CDHEP formou na metodologia ESPERE e práticas restaurativas:

62 profissionais de Centros de Crianças e Adolescentes (CCAs) que atendem um público de 7 à 14 anos.

56 educadores de Serviços de Medidas Sócio-educativas (MSE) que acompanham jovens entre 12 à 21 anos em conflito com a lei e profissionais da área de assistência social das sub-prefeituras.

Aproximadamente 550 educadores e profissionais de diversas áreas.

“Estou me sentindo bem melhor, aprendi a pensar e enxergar as pessoas de uma outra maneira. E no meu cotidiano estou aplicando muito das técnicas que venho aprendendo neste curso e isso está fazendo uma diferença muito benéfica na minha vida e no meu trabalho com as crianças do CCAs “.

““Eu descobri que nem sempre sou a Eu descobri que nem sempre sou a vítima da historia”. vítima da historia”.

““Entendo que o processo do perdão Entendo que o processo do perdão compreende poder enfrentar a outra compreende poder enfrentar a outra

com respeito”.com respeito”.

DEPOIMENTOS:

“Três aspectos que achei positivos no curso foram:1. Saber que a raiva pode ser controlada por nós mesmas. 2. Saber lidar melhor com nossas diferenças.3. Trabalhar o emocional do perdão: ódio, raiva, e mágoa.”

“Eu descobri que eu posso ou não escolher ficar com estes sentimentos de ódio e vingança. Depois deste curso eu estou pensando mais antes de agir, ofender ou achar que só eu que estou certa”.

Uma arte de viver e conviver Escola de Perdão e Reconciliação

Trabalhando com os educadores dos CCAs apareceu a necessidade de traduzir o conteúdo dos adultos para um público mirim.

São crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, dos bairros periféricos em São Paulo - lugares no último grupo do Índice de Vulnerabilidade Juvenil submetidos as diversas formas de agressões: conflitos familiares, abusos diversos, alcoolismo, drogas, exploração, prostituição e outras situações.

Uma equipe se responsabilizou para desenvolver dinâmicas, ajustando textos. Durante dois anos a material foi aplicado o diversos grupos dos equipamentos sócio-educativos.

Organizou-se encontros mensais de supervisão e visitas ao CCAs para identificar as dificuldades e refinar as dinâmicas.

Uma arte de viver e conviver Escola de Perdão e Reconciliação

.... é fruto da aplicação destes conceitos a mais de 1.500 crianças e adolescentes, bem como professores, pais de família e comunidade.

.... Contém 20 módulos para trabalhar com crianças/adolescentes. Cada encontro trata de um tema com atividades, textos, dinâmicas, diário de bordo e celebrações.

Aplicação ESPERE com crianças

Uma arte de viver e conviver Escola de Perdão e Reconciliação

Os resultados obtidos nos Centros de Crianças e Adolescentes revelam a diminuição da agressividade e de comportamentos violentos e a mudança dos próprios educadores em sua forma de lidar com a raiva e os conflitos.

A mudança interna é fundamental para acolher as mudanças paradigmáticas que uma justiça restauradora pede.

A formação em Perdão, Justiça e Reconciliação oferece uma base para essa mudança.

Depoimento de uma criança de 11 anos de idade

Quando questionada por jornalistas sobre a ESPERE e se a mudança no comportamento das crianças e adolescentes iria durar, um menino de nove anos respondeu:

“Eu vejo assim: depois que a gente aprende a ler

e escrever, a gente nunca esquece. É a mesma

coisa com a ESPERE. Eu mudei e sinto que não

vou voltar a ser como era antes”.

Depoimentos

Depoimento de uma

criança de 9 anos de idade

1. Formação e capacitação dos educadores(as) na metodologia da ESPERE e das Práticas Restaurativas (80 horas). 2. Os educadores(as) aplicam o curso com crianças e adolescentes. São realizadas supervisões mensais que permitem a troca de experiências, o aprofundamento dos conceitos e o planejamento.3.Oficinas de sensibilização para o perdão e a justiça com as famílias. 4. Criação de 4 Núcleos de Práticas Restaurativas para transformar os conflitos nas escolas e comunidades. (2011-2012)

O PROCESSO

•Os MSEs são espaços que recebem do poder público os jovens em conflito com a lei. •Os educadores(as) tentam ajudar o adolescente a lidar com a transgressão e a inserir-se de novo na família, comunidade e sociedade; eles ajudam também a cobrar do Estado as promessas não cumpridas na vida destes jovens. •Mesmo que o jovem atendido no MSE seja agressor, é provável que, em alguma situação ele seja vítima também. A tarefa de muitos educadores é tentar restaurar o agressor-vítima.

ESPERE e Práticas Restaurativas com adolescentes em conflito com a lei

Os jovens são convidados a:

•elaborar a dor,

•perdoar-se e

•fazer alguma promessa para se obrigarem a

manter certos valores necessários para o

convívio em nossa sociedade.

ESPERE e Práticas Restaurativas com adolescentes em conflito com a lei

DEPOIMENTOS DOS ADOLESCENTES

“ Foi muito importante quando eu consegui falar sobre meu problema”.

DEPOIMENTOS DOS ADOLESCENTES

“Aprendi a perdoar meu

pai”.“ O mais importante foi aprender a perdoar, mesmo que seja muito difícil pedir perdão”.

ESPERE e Práticas Restaurativas - Avaliação A partir das avaliações dos cursos: O que mudou? 1- Atinge principalmente aspectos cognitivos, emocionais e

comportamentais. Ajuda a humanizar-se, lidar com emoções, controlar emoções como raiva, rancor e desejo de vingança. Propicia um novo olhar sobre si mesmo e sobre a justiça. Possibilita também diversos conhecimentos através da troca com outras pessoas.

2- Ajuda para ter um “novo olhar” em relação ao outro e a situação. A possibilidade de se colocar no lugar do outro é apresentada como um caminho para mudar atitudes e abrir-se ao diálogo. Favorece aspectos de atuação e intervenção em situações de conflitos, por exemplo, através da comunicação assertiva.

3- “Este curso tem como propósito mostrar aos participantes uma nova maneira de se lidar com a violência.

Mais do que uma série de palestras ou reflexões teóricas, propõe uma vivência que, experimentada inicialmente no plano individual, é expandida para o coletivo, mostrando que o enfrentamento da violência pode e deve ocorrer também no âmbito público.

O que começou com uma experiência do âmbito privado, termina com a possibilidade de profundas mudanças pessoais e propostas de políticas públicas.

Outro aprendizado é que, embora seja necessário pensar no processo da violência na esfera pessoal e subjetiva, é igualmente necessário trabalhá-la no espaço público, no qual a responsabilização por um ato, qualquer que seja, é sempre compartilhada.”

(Baring 2010) Relatório de um psicólogo participante.

ESPERE e Práticas Restaurativas – Avaliação

•Conflitos de valores que geram conflitos para as crianças e adolescentes.

•Mudanças na equipe e novos alunos entrando nos núcleos durante o ano.

•Falta de tempo para os educadores (as) tornaram-se multiplicadores com os pais ou outros adultos.

DIFICULDADES:

APRENDIZAGENSÉ necessário também trabalhar no espaço público, no qual a

responsabilização por um ato, qualquer que ele seja, é sempre compartilhada .

As mobilizações e discussões propostas pelos capacitados tiveram como principal tema a tolerância, o respeito da diferença e o desenvolvimento da capacidade de ouvir o outro (escuta).

O trabalho corporal no início dos módulos para crianças, adolescentes e educadores ajuda os participantes a lidar com suas emoções e centrar mais no programa.

O curso trouxe uma quebra de rotina e diversificou as dinâmicas. O ambiente criado oferece um espaço seguro para os alunos falar de seus sentimentos e assuntos importantes. Alguns alunos difíceis se tornaram multiplicadores.

Contínuo de Práticas de Justiça Restaurativa

Alfabetização Emocional Fundamentos CompetênciasRaiva Comunicação Assertiva Verdade Reconciliação -Práticas

RestaurativasPerdão Comunicação Não-

ViolentaJustiça Punição

Círculo de Paz,Encontros Restaurativos com Vítima, Ofensor, Comunidade

Informal Formal

Expressão

“Eu me sinto...”

Pergunta p. ofensor: “Como

você imagina que a vítima se

sente?”

Pequenos encontros espontâneos

entre envolvidos em conflitos

Encontro grande com envolvidos (marcados

ou não)

Círculo restaurativo

formal

A lógica das verdades

1. Dos fatos – o que2. Dos sentidos – por que

3. Das necessidades – para que

Cada envolvido no conflito tem suas próprias verdades.

O processo de reconciliação pede a construção de uma verdade mínima, aceita por todos.

Sobre a punição na lei Paul Ricoeur

É vista como um direito da vítima (representada pelo Estado).

É um caminho de reconhecer publicamente a vítima como ser ofendido.

O reconhecimento da vítima pode contribuir para o trabalho de luto, de elaboração dos acontecimentos dolorosos, com o qual a alma ferida se reconcilia consigo mesma.

Pune-se o ato criminoso na proporção da lei. A lei da justiça retributiva é que, na justa proporção, a cada um, o que lhe é devido.

A punição deixa claro quem é o agressor.

Sobre a Punição

É fazer sofrer alguém intencionalmente, impor algo

desvantajoso, oneroso.

O conteúdo da punição não é desejado pelo sujeito

punido: ele se torna sujeitado a uma vontade alheia.

Esta imposição, submissão, torna difícil aceitar a

punição como um meio para reforçar

responsabilidade e cidadania.

Desconstruir a necessidade de punir Se a punição é uma necessidade socialmente

construída, ela pode também ser desconstruída socialmente.

A confrontação com os próprios atos é uma possibilidade saudável na tentativa de responsabilização e autorresponsabilização dos envolvidos em ofensas e crimes.

A confrontação como reafirmação das regras da sociedade, a persuasão do ofensor para assumir seu lugar social de convívio e colaboração entre humanos, pouco a pouco, pode substituir a punição.

Nosso Proposta: Nosso Proposta: Em vez de sujeitar o outro a uma Em vez de sujeitar o outro a uma punição, punição, educá-lo para ser sujeito. educá-lo para ser sujeito. Sujeito de direito, Sujeito de direito, sujeito que Reconhece sua sujeito que Reconhece sua responsabilidade, responsabilidade, Respeita a vida do outro, da humanidade Respeita a vida do outro, da humanidade e do planeta e e do planeta e Restaura o que foi danificado. Restaura o que foi danificado.

Busquemos Busquemos CAMINHOS de CAMINHOS de PERDÃO, menos vingançaPERDÃO, menos vingança

AÇÕES CONJUNTAS, menos isolamentoAÇÕES CONJUNTAS, menos isolamentoRESTAURAÇÃO, menos puniçãoRESTAURAÇÃO, menos puniçãoIGUALDADE, menos competiçãoIGUALDADE, menos competição

SOLIDARIEDADE SOLIDARIEDADE

que leva à que leva à RECONCILIAÇÃO.RECONCILIAÇÃO.

10 de maio de 2011

Joanne Blaney e Petronella Maria Boonen Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo

São Paulo www. cdhep.org.br