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ESTUDO DA FLOCULACAO DE APATITA COM AMIDOS
RESUMO
ARMANDO corrセa@ DE ARAUJO 1
GEORGE WESLEY POLING 2
Amostras de diversos amidos foram testadas como floculante para fluorapatita. o objetivo principal do estudo foi de caracterizar o modo de interacão entre amido e. a superflcie do mineral • Os resultados obtidos indicaram que à adsorção e conseq\iente flo culacão da fluorapatita dependem do pH, da presença de lons de cálcio e do peso molecular dos amidos. um mecanismo envolvendo pontes de cálcio para o ancoramento das moléculas de amido é proposto. A interação de amidos com a superflcie da apatita é provavelmente de natureza qulmica.
1 Engenheiro de Minas, M.Sc., Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Minas, UFMG
2 Professor, UBC, Vancouver, Canadá
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1 - INTRODUÇÃO
Amidos e derivados de amido são utilizados no beneficiamento de di
ferentes minérios entre algumas das aplicações pode-se citar: agem
como depressores na flotação de minérios de ferro · (1-7) e fosfato
(8-10) dextrinas e amidos foram testados na depressão de carvões
(11) (12). Foram também utilizados como floculantes antes do advento
dos polímeros sintéticos (13) e mais recentemente, vêm sendo utili
zados como floculantes seletivos na floculação seletiva de minério
de ferro na usina de Tilden nos EUA (14). Além dessas aplicações
amidos e derivados têm sido testados ao longo dos anos em diversos
estudos para a aplicação de floculação seletiva a minérios de ferro
e fosfato, tanto no Brasil (15-20) como no exterior (21-36).
Embora muitos estudos de caráter mais fundamental já foram feitosem
sistemas minerais envolvendo amidos, ainda não se pode explicar de
finitivamente as razões pelas quais existe um grau de seletividade
na adsorção de amidos e nas ações de floculação e depressão de ce!
tos minerais. Essa seletividade na ação desses polímeros é a razão
primordial da vasta aplicação dos mesmos em sistemas minerais.
O amido é quimicamente classificado como um polissacarídeo. セ@ um
-\mero natural formado pela condensação de moléculas de a-D(+)<,! '
se. Ocorre sob a forma de grãos cujos tamanho e forma são carac •
rísticos da planta de origem. Diversos livros e artigos cobrem a
química de amido com grande detalhe (37-42) e apenas alguns aspec -
tos são discutidos a seguir.
Em geral, amidos contêem entre 20% e 25% de uma fração linear 」ィ。ュセ@
da amilose e entre 75% e 80% de uma fração ramificada chamada 。ュゥャセ@
pectina. A proporção de amilose e amilopectina nos diferentes tipos
de amido pode, entretanto, variar consideravelmente em alguns 」。ウッセ@
A presença de dois componentes e de diversas impurezas nos amidos
naturais complica sobremodo as investigações utilizando esses rea -
gentes. Cooke et alii (1) observaram que enquanto todas as amostras
de amido por eles testadas adsorviam na hematita, existia uma dife
rença apreciável na capacidade de adsorção dependente do tipo de a
mido. Isto pode ser um reflexo das diferenças no conteúdo das duas
frações (de amilose e de amilopectina) nos amidos usados assim como
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de diferença no conteúdo de impurezas. Iwasaki e Lai (4) observaram
urna maior adsorção de arnilopectina que de arnilose na hernatita, o
que contradiz os resultados obtidos por Cooke et alii (1). Mais re
centemente Khosla et alii (43-44) mostraram que em termos de moles
de polímero adsorvidos por área unitária de superfície de hernatita,
a adsorção de arnilose (de peso molecular 20 vezes menor que a 。イョゥャセ@
pectina) é superior a de arnilopectina. Todavia se a adsorção é cal
culada em rng do polímero adsorvido por área unitária de hernatita, a
adsorção de arnilopectina é superior a de arnilose, o que concordaoom
os resultados obtidos por Iwasaki e Lai (4) e também por Iwasaki e
Lipp (5).
Os esforços para se estudar as características mais fundamentais da
interação entre amidos e minerais têm se concentrado no estudo da
interação arnido-hernatita. Outros sistemas que já foram objeto de
estudos fundamentais incluem arnido-calcita (43-46), arnido-fluorita/
barita/calcita (46), amido-quartzo (5,22), arnido-talco/schelita/ga
lena/apatita (47). Dentre os últimos, para o sistema arnido-calcita,
Sornasundaran (45) propôs a formação de ligações químicas fortes セ@
través de complexos envolvendo os íons Ca da superfície da calcita
e as moléculas de amido adsorvidas. Khosla e colaboradores (43 - 44)
também concluíram que a interação entre amido e calcita é de nature
za química. Estudos calorimétricos para os sistemas amido-calcita e
amido-hematita indicaram que a adsorção dos volímeros sobre ・ウウ。ウウセ@
perfícies é um processo exotérmico. Estudos de deserção mostraramiE
reversibilidade parcial ou histerese, indicando a alta ・ウー・」ゥヲゥ」ゥ、セ@
de da adsorção.
No presente trabalho sao apresentados os resultados dos estudos da
adsorção e floculação de apatita na presença de diferentes amidos.
O objetivo principal da presente pesquisa foi de verificar e carac
terizar os mecanismos que regem a interação amido-apatita, assim co
mo esclarecer alguns pontos relacionados a seletividade da adsorção
e 」ッョウ ・j i NLセ ョゥᄋ・@ floculação da apatita em sistemas contendo amido.
218
2 - MATERIAIS E mセtodos@
2.1 - Amostras Minerais
Uma amostra de fluorapatita, procedente de Monteiro, PB, foi utili
zada. Em termos de pureza química esta amostra apresentou os ウ・ァオゥセ@
tes resultados: %P 2o5 40,50; %Ca0 54,01; %F 2,6; %Cl 0,38; %Fe 2o3 0,014; %Al 2o3 0,057; %Si0 2 0,27; todas as demais impurezas metáli -
cas < 0,005% (os resultados foram obtidos através de análise quími
ca via úmida ーセイ。@ os teores elevados e de ICP para as impurezas me
nores). Difração de raios-X e espectroscopia no infravermelho, tam
bém confirmaram a alta pureza e cristalinidade do mineral.
Em alguns testes comparativos foi também utilizada uma amostra de
quartzo, procedente de Ottawa, Canadá, que analisou 99,56% Si0 2 .
Reagentes
Amido de mandioca (pureza comercial, procedente da Tailândia), ami
do de batata (Fisher Scientific), amilose e amilopectina de amido de
oatata (purificadas, British Drug House) foram utilizados no ーイ・ウ・セ@
te trabalho. Estas amostras foram analisadas através de ・ウー・」エイッウ」セ@
pia no infravermelho (ver detalhes na seção de resultado e discus -
soes).
Além das amostras de amido foram utilizados outros reagentes, todos
de pureza analítica, a saber: KOH, NaOH e HCl (modificadores de pH
e na gelatinização dos amidos, AMACHEM); Cacl 2 .2H2o (fonte de íons
cálcio, Fisher Scientific); Iodo e iodeto de potássio (para análise
de amido, Fisher Scientific); solução tampão para calibração de pH
metro (pH 4,01; 7,41 e 10,41, Fisher Scientific) e; HN0 3 e etanol ーセ@
ra limpeza de vidraria (ambos da Fisher Scientific).
Equipamentos e Técnicas Experimentais
A preparação das duas amostras minerais é descrita deta1hadamente
na referência (48).
A análise granulométrica das amostras preparadas â MSXセュL@ executada
219
usando um Elzone Celloscope* (Particle Data Incorporation) , resul
tou em diâmetros médios (na distribuição logarítmica) de 13,5 um e
14,4 セュ@ para o quartzo e a fluorapatita, respectivamente. Ambos mi
nerais mostraram distribuições granulométricas bastante similares セ@
té a granulometria de 5 セュL@ minimizando assim problemas relaciona -
dos à sedimentação preferencial devida a diferença de tamanho nos
testes de floculação.
As amostras foram também submetidas à medição de área superficial セ@
tilizando-se a técnica padrão de BET (4-5 pontos). Para tanto usou
se um Quantsorb (Quantrachrome Corporation) , com N2
como gás adsor
vente. Os resultados foram 1,0.4 m2/g para a fluorapatita e 0,53 m2;
g para o quartzo. Isso demonstra que apesar da semelhança nas dis -
tribuições granulométricas, a amostra de fluorapatita possui uma
proporçao de material mais fino (abaixo de 5 セュI@ bem maior que a a
mostra de quartzo (o que seria esperado devido a diferença de dure
za entre os dois minerais) .
Os testes de adsorção foram efetuados numa temperatura entre 20 e
21oc. Alíquotas dos minerais pesando l,Sg foram colocadas em fras -
cos de vidro com tampa. A estes frascos foram adicionados 50 ml da
solução de amido (preparadas através de gelatinização cáustica) na
concentração desejada, já com o pH ajustado. Os frascos para cada
isoterma foram então agitados por 60 minutos (testes cinéticas fei
tos anteriormente indicaram que a quantidade de adsorção mantinha -
se constante a partir de 30 minutos de agitação) num "Lab-line Omit
Environ-Shaker (Lab-line Instruments) a 300 rpm. Após a agitação
as amostras dos frascos foram deixadas em repouso por 10 minutos, o
pH final medido e então filtradas usando-se filtros de papel em fi
bra de vidro Whatman 934 AH (diâmetro de poros de 1 セュIN@ O filtrado
foi analisado para determinação do conteúdo de amido através da ad!
ção de 0,1 ou 0,2 ml de uma solução de KI/I 2 e da leitura da inten
sidade de absorção de luz no comprimento de onda de 600 nm (num es
pectrofotômetro de ultra-violeta- visível tipo Spectronic 2l,Bausch
*O "Elzone Celloscope" opera no mesmo princJ.pJ.o do Contador Coulter que envolve a medida da mudança momentânea de resistência elétrica num orifício, causada pela passagem de uma partícula de um volume determinado.
220
and Lomb) . Curvas de calibração para os diversos amidos foram ーイセ@
paradas previamente, apresentando-se lineares para
menores que 100 mg/1*.
concentrações
Para os testes de floculação foi utilizada uma técnica semelhante
aos testes convencionais para o dimensionamento de áreas de ・ウー・セ@
sadores. Usou-se entretanto provetas graduadas de menor volume(lOO
ml) . A concentração de sólidos foi fixada em 40 g/1. Apenas os ーッセ@
tos iniciais da curJa de sedimentação foram obtidos (porção linear).
A partir dess es resultados obteve-se, por regressão linear, os va
lores das taxas de seJ imentação em cm/min.
Em alguns dos testes de adsorção e floculação, as soluções conti
nham além de amido, cloreto de cálcio, para o estudo da ação de
íons Ca. Estes testes foram também correlacionados com testes onde
se mediu a condutividade de soluções contendo amido, cloreto de
cálcio e misturas dos dois. O ッ「ェ・エゥカセ@ desses últimos foi de mos
trar uma interação direta entre grupos ativos nas moléculas de arni
do e íons Ca. Para tanto utilizou-se um medidor de condutividade
Radiometer (tipo COM 2d) equipado com urna célula de condutividade
coe 104 com três eletrodos.
Os espectros de infravermelho tanto para os minerais como para as
amostras de amido foram gravadas num espectrofotôrnetro Perkin E!
mer de feixe duplo, modelo 283-B. Para ambos os casos foi utiliza
da a técnica de discos de KBr.
A descrição dos outros equipamentos e técnicas utilizadas na pre
sente investigação pode ser encontrada na referência (48).
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos espectros infravermelhos** das amostras de amido in-
* Isto não se aplica à arnilose, onde só foi possível obter linhas retas até concentrações de 30 mg/1. Optou-se então pelo uso de diluiÇÕes dos filtrados (duas vezes) antes da adição da solução de KI/I2 .
**Os e f.. :. ectros não são apresentados no presente trabalho devido a limitaçãt de páginas . Estão disponíveis na referência (48).
221
dica a presença dos sinais característicos das ligações das ュッャ←」セ@
las de amido tais como estiramento de ligação OH intermoiecular
(3500-3200 cm-1 ), estiramento assimétrico. CH2
(2920-2930 cm-1 ) - -1 -1 flexao H-O-H (1640-1645 cm ) , estiramento C-OH (1150-1160 m e
1084-1098 cm-1 ), deformação de ligação OH sobreposta a vibração do
anel (985-1045 cm-l) e vibrações do anel e deformações de ligação
OH de hidrogénios livre e ligado em números de onda menores. Além
destes sinais típicos, uma série de outros sinais de menor intensi
dade estão presentes nos espectros e podem ser correlacionados às
impurezas. No espectro da amilose os sinais na região de número de
onda entre 1490 e 1575 cm-l podem ser atribuídos a deformação 。ョァセ@
lar do grupo NH presente sob a forma de proteínas (um dos tipos
mais comuns de impurezas em amidos e geralmente associados à fra
ção amilose) . Os mesmos sinais não foram encontrados na amilopect!
na mas estão presentes em menor intensidade nos espectros dos ami
dos de mandioca e batata. Todos os espectros apresentaram também
sinais que podem ser atribuídos a grupos carboxílicos COOH (1730 -
1750 cm-1 ). Grupos fosfato podem também estar presentes mas são
de identificação difícil no infravermelho por estarem superpostos
a outros sinais fortes.
A figura 1 apresenta as isotermas de adsorção no pH 10 para amilo
se e amilopectina sobre a fluorapatita. A simples observação da f!
gura indica claramente que a amilopectina se adsorve mais ヲッイエ・ュ・セ@
te que a amilose. A curva de adsorção da amilopectina mostra que
o platô de máxima densidade de adsorção é atingido mesmo para con
centrações de equilíbrio relativamente pequenas. Mostra também que
para concentraçnes iniciais pequenas, o polímero adsorve-se comple
tamente. Curvas do tipo da amilopectina são associadas a adsorção
de polímeros com grande afinidade pela superfície (49) . Curvas se
melhantes podem também ser encontradas nos trabalhos de Iwasaki e
Lipp (5) e Balajee e Iwasaki (22) para o sistema amido de milho-he
matita.
A figura 2 mostra as isotermas de adsorção no pH 10 para os amidos
de mandioca e batata sobre a fluorapatita. As curvas apresentadas
na figura 1 foram repetidas nessa figura para comparação. Isoter -
mas de adsorção de amidos de mandioca e batata sobre o quartzo
também estão incluídas na figura 2. Nessa figura pode-se observar
222
os seguintes aspectos:
i - tanto para o amido de batata e de mandioca, os isotermaa de
adsorção sobre fluorapatita se aproximam mais a amilopectina que a
de amilose.
ii - se comparadas, as formas das isotermas de adsorção de 'amido
sobre fluorapatita e quartzo mostram nítidas diferenças, que refle
tem seguramente mecanismos de adsorção também diferentes.
Em média, amidos de mandioca e de batata contam 17% e 25% de 。ュゥャセ@
se, respectivamente (42). Nas isotermas de adsorção apresentadas na
figura 2, a maior proporção de amilopectina no amido de ュ。ョ、ゥッ」。セ@
de explicar sua maior adsorção quando comparado ao de batata. Ou -
tro ponto que deve ser salientado relaciona-se aos pesos molecula
res. A fração ramificada (amilopectina) apresenta sempre um ー・ウッセ@
lecular bem mais elevado que a fração linear (37-42).
Com relação à adsorção sobre quartzo esta é muito inferior que a
quela ocorrendo para a amostra de fluorapatita. Explicar a maior
adsorção sobre a fluorapatita baseando-se somente em diferenças nas
cargas elétricas nos dois ュゥセ・イ。ゥウ@ não seria satisfatório. As cur
vas de mobilidade eletroforética desses mesmos minerais são encon
trados em outro trabalho dos autores (19) . No pH 10 em água desti
lada as amostras apresentavam potenciais zeta (de acordo com a e
quação Helmholtz-Smoluchowski) de -30 mv para a fluorapatita e -45
mV para o quartzo. Apesar de se esperar uma repulsão eletrostática
maior no caso do quartzo ela não seria suficiente para justificar
tão grande diferença na adsorção*.
Uma outra evidência confrária a um mecanismo eletrostático para a
adsorção de amidos é encontrada na figura 3. Nesta figura é ュッウエイセ@
do o efeito do pH na adsorção de amido de mandioca sobre a fluora
patita. Como se pode notar, não existe um decréscimo na adsorção
quando o pH é elevado de 6 até 11 (o iep (pH) da amostra se locall
za no pH 4,0). Ao contrário a adsorção aumento com o aumento do pH
* Embora os amidos sejam considerados no sentido clássico como polímeros não-iÔnicos, eles possuem cargas -elétricas negativas quando seus grãos são suspensos em água indicando que quando dissolvidos devem comportar-se como polímeros levemente aniÔnicos (48).
223
。エセ@ em torno de pH ll. Após este valor a adsorção decresce. Se, no
caso da adsorção sobre fluorapatita atração e repulsão eletrostátl
cas fossem predominantes deveria se esperar um decréscimo na adsoE
çao a medida que carga negativa na superfície do mineral aumentas
se em valor absoluto.
Outra força normalmente considerada na explicação dos mecanismosde
adsorção de amidos é a ligação de hidrogênio (5) (22) (46). lゥァ。セ@
de hidrogênio podem estar presentes e devem participar na adsorção
de amidos sobre superfícies minerais. Todavia elas, por si só, não
seriam suficientes para explicar a grande diferença na adsorção de
amidos sobre os dois minerais utilizados no presente trabalho. Am
bos apresentam átomos na suas superfícies que são capazes de for -
mar pontes de hidrogênio com as moléculas dos amidos.
Um terceiro tipo de interação que pode ser considerado na adsorção
de amidos é através de ligações químicas fortes. Somasundaran (45)
propôs uma interação de natureza química para um sistema envolven
do calcita e amido de milho. Uma das maneiras de se explicar esta
interação química é a reação de grupos iÔnicos (presentes nas ゥューセ@
rezas associadas aos amidos) com íons metálicos na superfície dos
minerais. A figura 4 procura mostrar a importância de íons c。ー。イセ@
a adsorção de amido de mandioca sobre a fluorapatita (pH lO). Nela
são encontradas três isotermas de adsorção do polímero sobre a flu
orapatita na ausência de íons Ca e na presença desses íons em 2
concentrações diferentes (a isoterma na ausência de íons Ca é a
curva da figura 2) . Pode-se observar que à medida que a concentra
ção de íons Ca do testes aumenta, também aumenta a quantidade ad -
sorvida do polímero. Esse aumento foi pequeno para a concentração
de 2xl0- 4M Ca(II) mas foi bastante significativo para a maior con
centração de íons testada (a adsorção máxima na região do ーャ。エセ@
se duplicou) .
Analisando a figura 4 nao se deve esquecer do fato que a presença
de íons Ca reduz o valor negativo da carga elétrica na interface
fluorapatita-solução. Todavia, o valor desse potencial paraamaior
concentração (lxl0- 3M) ainda é em torno de -20 mV (usando-se a e -
quação de Helmholtz-Smolvchawski) (48).
224
Para se investigar com maior detalhe a interação entre Ca em solu
ção e amido uma série de testes envolvendo a medida da 」ッョ、オエゥカゥ、セ@
de elétrica de soluções de amido e cálcio. Na ausência de intera -
ção iónica entre eletrólitos, em solução, a condutividade elétrica
total de uma mistura de eletrólitos é a soma das condutividade elé
trica de soluções de amido e cálcio. Na ausência de interação iÕn!
ca entre eletrólitos, em solução, a condutividade elétrica total
de uma mistura de eletrólitos é a soma das condutividades indivi -
duais.
Entretanto, quando há interação, a regra de simples adição das 」ッセ@
dutividades não se aplica. A tabela I reune os resultados obtidos
para os diversos amidos. A técnica utilizada é semelhante à descri
ta por Khosla et alii (43).
Tabela I- Interação Amido-Cálcio (lxl0- 3M cacl 2 .2H20l - Medidasde
Condutividade Elétrica das Soluções (pH 10 セ@ 0,2)
Amido Concentração(mg/1)
Amilose 50
75
Amilopectina 50
75
Amido de batata 60
85
Amido de mandioca 50
75
Condutividade (micromho/cm)
medida calculada % decréscimo
800
890
790
875
1.175
1.350
875
975
950
1.040
940
1.060
1.425
1.625
1.160
1. 300
15,8
14,4
16,0
17,5
17,5
16,9
24,6
25,0
Na tabela pode-se observar claramente que existe uma interação en
tre os diversos amidos e íons Ca em solução. Esta interação foi
maior para o amido de mandioca, aproximadamente igual para amilo -
pectina e amido de batata e menor para a amilose. Sulkan et alii ,
obtiveram para amidos de milho e batata entre 16 e 18% de cálcio 1!
gado (extraído) . Estes resultados corroboram a hipótese levantada
para uma interação de natureza química entre a superfície da fluo
rapatita (portadora de sítios com Ca) e as moléculas dos ーッャ■ュ・イッセ@
A ordem obtida para a maior adsorção de amido de mandioca que de
225
amido de batata ·também foi confirmada.
O caso da amilopectina é diferente , e provavelmente a maior adsoE
ção desse polímero comparativamente a adsorção de amido de mandio
ca (maior interação com Ca) está relacionada ao maior peso molecu
lar e também a presença de apenas moléculas ramificadas para o pr!
meiro.
A figura 5 apresenta os resultados dos testes de floculação. são セ@
presentadas 5 curvas de floculação de fluorapatita no pH 10 com as
diversas amostras de amido. Uma delas (curva 5) mostra o efeito de
íons Ca. Uma análise das 4 curvas na ausência de íons Ca mostra os
seguintes pontos importantes:
i - fica confirmado que a amostra de amilose, devido ao seu peso
molecular reduzido em comparação às demais, apresenta o menor po
der floculante.
ii - as demais amostras de amido apresentam máximos em termos de
concentrações para máxima taxa sedimentação. Os máximos se encon -
tramem concentrações entre.l2,5 e 25 mg/1.
iii - os máximos nas curvas correspondem aproximadamente às concen
trações residuais dos platôs das isotermas de adsorção apresenta -
das na figura 2.
iv - pela ordem atingem o máximo as curvas para as seguintes 。ュッセ@
tras de amido: amilopectina, amido de mandioca e amido de batata
(ordem idéntica da adsorção) .
v - o comportamento da curva para o amido de mandioca é singulac
Nela existe um decréscimo acentuado na taxa de sedimentação para
concentração mais altas.
Observando a curva 5 da mesma figura, verifica-se que as taxas de
sedimentação. Obtidas após a adição de íons Ca são muito superio -
res. O formato da curva, entretanto, é bastante semelhante a de a
mido de mandioca sozinho. Lembrando-se do fato que a interação en
tre amido de mandioca e íons Ca (tabela I) é superior a dos outros
amidos tais curvas, com uma queda acentuada nas taxas de sedimenta
ção para concentrações mais elevadas, podem refletir essa intera -
çao maior. De qualquer forma, as evidências apresentadas para uma
participação efetiva de Ca na floculação de fluorapatita se somam.
226
Quartzo nao floculou em nenhuma das condições da figura S.
4 - CONCLUSÕES
1. Os mecanismos de adsorção de amidos sobre fluorapatita envolve
forças de natureza química e ligações de hidrogênio. Forças elétr!
cas de repulsão/atração podem estar envolvidas, mas se estiverem ,
desempenham um papel secundário.
2. A presença de íons Ca em solução aumentam consideravelmente a
adsorção e consequente floculação de fluorapatita com amidos.
3 . Entre as duas frações componentes dos amidos, amilose se adsor
ve menos e promove menor floculação que amilopectina. Tais ッ「ウ・イカセ@
ções devem estar relacionadas em primeiro lugar a grande diferença
de peso molecular entre as duas frações.
4. A adsorção de amido sobre quartzo é muito inferior àquela sobre
fluorapatita. Este fato pode estar relacionado aos bons resultados
obtidos na floculação seletiva de minérios ヲッウヲ£エセ」ッウ@ de ganga si
licosa.
S. Os resultados indicam a necessidade de se controlar a 」ッョ」・ョエイセ@
ção de íons Ca em solução em sistemas envolvendo fluorapatita e a
mido.
6. A maior afinidade do amido de mandioca por íons Ca (o que resu!
tou numa maior adsorção e floculação mais rápida) pode estar rela
cionada a presença de maior quantidade de impurezas contendo gru -
pos COOH e outros que podem formar complexos com Ca. A maior アオ。セ@
tidade de impurezas é devida à qualidade da amostra (produto comer
cial).
S - AGRADECIMENTOS
Um dos autores (A.C.de A.) agradece ao CNPq e à UFMG pela bolsa de
doutrado e licenca para o afastamento do país, respectivamente.
6 - REFERtNCIAS
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セゥ@u. a: o Cl)
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22 9
l,S イMMLMMMMMNMMMLNMMMMLイMMMセMMNNNLNNNNMMN@
O AMILOPECTINA
& AIIIILOSE
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SUISTRATO- FLUORAPATITA, -38 Jl•
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CONCEHTRAÇlO DE EOUILÍBRIO ("'IJ/11
Figura 1 - Adsorção de Ami1opectina e Ami1ose sobre F1uor apatita
(pH 10,0 + 0,2).
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20 lO 40 50 60
CONCENTRAÇÃo DE EOUILÍBRIO (tnt/1)
Figura 2 - Adsorção de diversos amidos sobre fluorapatita e quart
zo (pH 10,0 ± 0,2).
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231:
Y AMIDO H IUIIDIOCA
COIICI:IITUc;J'o INICIAL • 10 •til
'LUORAI'ATITA
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Figura 3 - Efeito do pH na adsorção de amido de mandioca sobre flu
orapatita.
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232
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-3 Y 1 alO M CeCiz. 2Hz0
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o
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10 20 30 40
CONCENTRAÇÃO
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•
• •
DE EOUILIBRIO '"'''''
Figura 4 - Adsorção de amido de mandioca sobre fluorapatita na au-
sência e p resença de í o ns Ca (pH 10,0 2: 0,2).
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233
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40
FLUORAPATI TA
& AIIILOIE ICUitVA 1 I e AMILOPECTINA ICUitVA 21
I AMIDO DE IATATA ICUitVA 3)
9 AMIDO DE MANDIOCA ICURVA 41
'{AMIDO DE MANDIOCA (CURVAS) 1 a ler' M C• 」セN@ 2HzO
'" = 10 セ@ 0,2
2
80 100 120
CONCE:NT"Açio lmt/1 l
Figura 5 - Floculação de fluorapatita com diversos a midos (pH 10,0
2: Q 12) •