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Citius, Altius, Fortius
O projecto do grupo da Farmácia Franco
Versão 1.1
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
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ALGUNS CONCEITOS
Instituição: “ideia de obra ou empresa” segundo a definição de Maurice
Hauriou. É aquilo que constitui a essência do SL Benfica porque congrega o
tangível (os adeptos, os jogadores, os complexos desportivos, os resultados de
exploração etc.) com o intangível (a importância do encarnado, o amor ao
Clube, os valores altaneiros como o voo da águia, etc.). No fundo, aquilo que é
inquantificável e que constitui a principal força do SL Benfica.
Clube: designa o Sport Lisboa e Benfica, enquanto pessoa colectiva de direito
privado, conforme consta dos seus Estatutos (Art. 1º dos Estatutos do Sport
Lisboa e Benfica).
Grupo Benfica: conjunto das empresas criadas para auxiliar a actividade do
SL Benfica.
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INTRODUÇÃO
Ou as razões de uma candidatura
Quando surge uma lista candidata aos órgãos sociais do Sport Lisboa e
Benfica, existe o desejo de ser eleito. Estão a ler um documento escrito por
gente que pede para NÃO ser eleita. Assumimos que não temos capacidade e
não temos vontade de liderar o Clube mais importante do Mundo.
Mas, então, o que leva ao surgimento desta candidatura?
Em primeiro lugar – e podem achar que isto é ser picuinhas –, achámos que
fazia falta uma lista constituída por benfiquistas para animar estas eleições.
Benfiquistas desde pequenos, que vão ao Estádio há muitos anos, que são
sócios há muito anos e… (pormenor) que não são ou nunca foram sócios de
outros Clubes.
Em segundo lugar, tememos que a campanha se centre em questões menores,
como descobrir se o maior erro de contratação foi o Everson (responsabilidade
do Veiga), o Marco Ferreira (responsabilidade do Vieira) ou o Balboa
(responsabilidade do Rui Costa). Ou então debatermos se o Fernando Santos
devia ter sido despedido à primeira jornada ou devia ter ficado. Para nós, por
exemplo, é óbvio que nunca devia ter vindo. Um treinador que tem no plantel o
Deco, o Jardel e o Martins dos Santos e não consegue ser campeão, não pode
ser grande coisa.
A nós interessam-nos as questões importantes: qual o futuro do Benfica, quais
os projectos que importa valorizar e quais as ideias que é fundamental debater.
Os nomes para os lugares são irrelevantes, os lugares para os nomes são-nos
indiferentes.
Aquilo que queremos é uma oportunidade para entrar no debate. Assim,
poderemos desconstrui-lo e centrar o discurso nos assuntos que realmente nos
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interessam a todos. É que já estamos fartos deste futebolzinho de treta que
existe em Portugal. E estamos fartos deste Benfiquinha.
É por isso que não revelamos quem somos. Porque o importante não são os
nomes, mas as ideias. O importante não são os rostos, mas os valores. Não
sabemos se teremos as assinaturas necessárias para ir a votos. Se as tivermos
é porque as ideias venceram sobre os nomes. Mas, de qualquer maneira, este
documento ficará. Pelo nosso lado, fica a promessa de não nos levarmos a
sério. Pedimos que também você, caro leitor, do outro lado da página ou do
ecrã, não leve demasiado a sério o que aqui está escrito.
Por fim, usamos as palavras do grande António Ribeiro dos Reis para
concluirmos esta introdução:
“Foram esses pioneiros que lançaram a semente à terra e que nos legaram o
exemplo da sua tenacidade e da sua perseverança.
Foram eles que nos ensinaram a triunfar de todas as contrariedades. A sua fé
nos iluminados permitiu-lhes nunca descrer das possibilidades do clube.
Souberam resistir a todas as cisões e mercê do seu exemplo de pertinácia e do
seu trabalho que não conheceu canseiras, o Benfica continuou na sua senda
sempre triunfante.
Por cada dezena que desertou surgiram centenas e centenas, atraídos pela
lição gloriosa desse passado que foi uma escola de sacrifícios e de sublimes
dedicações.
Esse serviço inestimável lhes ficamos devendo todos os que hoje e com
legítimo orgulho nos ufanamos de pertencer ao Sport Lisboa e Benfica.”
A Comissão
PS: Devemos um pedido de desculpas à malta do Record. A ideia inicial era
fazer este documento em banda desenhada para vocês conseguirem entendê-
lo. Mas como as eleições foram antecipadas, não tivemos tempo para fazer a
bonecada.
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PARTE I:
O SPORT LISBOA E BENFICA
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1.1 - RESENHA HISTÓRICA DO SL BENFICA
O Sport Lisboa e Benfica (SL Benfica) é o resultado da fusão, em 1908, do
Sport Lisboa com o Grupo Desportivo de Benfica.
O Sport Lisboa foi fundado a 28 de Fevereiro de 1904, na Farmácia Franco,
situada na Rua Direita de Belém, por antigos alunos da Casa Pia. Desde a sua
origem o Clube viveu grandes dificuldades, tanto a nível financeiro como a nível
logístico, pela ausência de campo próprio para treinar e jogar e de uma sede
com carácter duradouro. Contudo, desde o início que o Clube se destacava
pelos seus êxitos desportivos, sobretudo no futebol. O equipamento era
composto por camisolas encarnadas, calções brancos e meias pretas e foi
assim escolhido por serem cores facilmente distinguíveis e porque
comunicavam alegria, colorido e simbolizarem a vivacidade da luta desportiva.
Um factor fundamental para que o Sport Lisboa começasse a ser acarinhado
pelos lisboetas foi o facto de ser a primeira equipa de portugueses a vencer os
“invencíveis” ingleses do Carcavelos a 10 de Fevereiro de 1907. Data dessa
altura o epíteto de «Glorioso» que se colou ao SL Benfica até aos dias de hoje.
Não tem a ver com o facto de ser o clube português mais titulado ou com os
fantásticos resultados dos anos 60. Tem a ver com uma vitória abnegada, e em
que quase ninguém acreditava, de esforçados portugueses sobre uma
invencível armada.
No ano de 1906, mais concretamente a 26 de Junho, é fundado o Grupo Sport
de Benfica, Clube que dava uma ênfase especial ao ciclismo e ao atletismo.
Este Clube, sem ter um destaque particular no desporto nacional, possuía uma
saúde financeira e instalações invejáveis. O Grupo Sport de Benfica tinha
ligações ao Partido Regenerador Liberal e com o regicídio de D. Carlos em
Fevereiro de 1908 os seus sócios decidem em Assembleia-Geral mudar a sua
designação para Sport Clube de Benfica.
Em 1908 dá-se a fusão entre os dois Clubes formando-se o Sport Lisboa e
Benfica. O novo emblema resulta da sobreposição da roda de bicicleta do
Grupo Desportivo de Benfica sob o escudo do Sport Lisboa (escudo vermelho e
branco, com uma bola de futebol e uma faixa diagonal com as iniciais do Clube,
às quais se acrescenta o B de Benfica), encimado pela águia, por ser uma ave
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altaneira, símbolo da elevação de propósitos e do espírito de iniciativa do
Clube, que segura a legenda "e pluribus unum", como apologia da união e do
espírito de família que caracterizou a criação do Clube. Os equipamentos
desportivos mantêm o encarnado do Sport Lisboa. Esta fusão foi sobretudo de
conveniência: ao prestígio e excelência desportiva do Sport Lisboa juntou-se o
campo, a sede e o dinheiro do Clube Sport de Benfica. Se a fusão não foi
pacífica, como os registos da época o confirmam, o passar do tempo acabou
por fazer com que as desconfianças e desacordos desaparecessem. Contudo,
o facto de, até há pouco tempo, as filiais do Clube se designarem por “Sport
Lisboa e ...”, é prova dessas reticências. Durante algum tempo, os sócios
provenientes do Sport Lisboa tentaram que o Sport Lisboa e Benfica fosse uma
mera filial do Sport Lisboa original, cuja sede se manteria em Belém. Mas o
tempo tudo acalmou. Agora, repare-se, as filiais já se designam por “Sport ... e
Benfica”.
Devido ao facto de ter sido fundado por quem foi, o SL Benfica teve um grande
cuidado com os mais pobres. Entre as suas actividades incluíam-se salas de
estudo, cursos de inglês e francês, de ginástica, bibliotecas e até o
funcionamento de uma escola primária. A vertente social, que perdurou ao
longo da História do Clube, foi fundamental para a conquista do respeito de
todos os portugueses e de muitos adeptos, sobretudo da parte das classes
mais desfavorecidas, primeiro de Lisboa e depois de todo o país.
Nas suas duas primeiras décadas de vida, o SL Benfica teve de enfrentar dois
momentos de deserção dos seus jogadores mais importantes para outros
Clubes e conseguir sobreviver. Em Maio de 1907, oito dos jogadores da
primeira equipa do (ainda) Sport Lisboa partem para integrar o recém-criado
Sporting CP, seduzidos pelas promessas financeiras de um Clube rico: campo
próprio, sede, uma bola nova em cada jogo e prémios de jogos. É importante
notar que a rivalidade com o Sporting CP surge, não pela via dos resultados
desportivos, dado que o grande rival na época era o Clube Internacional de
Futebol (e o Sporting nem obtinha grandes resultados), mas por uma série de
atitudes que os dirigentes do Sporting CP tomaram em relação ao SL Benfica,
nomeadamente o constante aliciamento de jogadores da equipa principal e
uma declaração de 1914 em que se dizia que o SL Benfica “não era digno de
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pisar as instalações do Sporting CP”. O insulto ou desrespeito partiu sempre do
Sporting CP e não foi resultado de uma rivalidade desportiva pois existia um
Clube bastante superior (o SL Benfica) em relação ao outro (o Sporting CP). De
notar que em reunião de Direcção de 28 de Agosto de 1923, o SL Benfica, num
gesto de enorme elevação, esquece as incorrecções que o Sporting tinha tido
para com o Clube e oferece, gratuitamente, as suas instalações desportivas ao
Sporting. Este Clube estava em risco de perder o Campo Grande e não teria
onde treinar e jogar.
Em 1919 é fundado o CF “OS Belenenses” com uma série de jogadores
oriundos do SL Benfica. Esta situação é, ainda, herdeira da fusão de 1908 pois
muitos sócios do SL Benfica, oriundos de Belém (de onde era o Sport Lisboa)
não viam com bons olhos a deslocação do centro de gravidade do SL Benfica
de Belém para Lisboa, mais concretamente para Benfica. Esta fundação e a
posterior fundação do Casa Pia Atlético Clube, em 1921, privam o Clube do
seu viveiro de jogadores natural: Belém e a Casa Pia.
É prudente dividirmos a História do SL Benfica em três períodos. O primeiro vai
da data da fundação até à inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica
(popularmente conhecido como Estádio da Luz) a 1 de Dezembro de 1954.
Este primeiro período caracteriza-se pela conquista do apoio popular dos
portugueses. O segundo período parte dessa data e vem até 1994,
caracterizando-se pela sucessão de vitórias que o Clube viveu. O último lapso
de tempo refere-se ao período compreendido entre 1995 e os dias de hoje e á
constante turbulência que tem atravessado a nossa instituição.
No primeiro período há um desenvolvimento da actividade do Clube, onde o
ecletismo se expande a toda uma série de actividades desportivas. A primeira
delegação do Clube é fundada em 1911 em Portalegre. A morte por insolação,
de Francisco Lázaro, durante a maratona dos Jogos Olímpicos de 1912, fez
dele um dos primeiros ícones do Clube. O SL Benfica contribui para o seu
jazigo, erigido por subscrição pública e tudo isto contribui para o aumento da
popularidade do SL Benfica. Em 1915 o número de sócios ultrapassa, pela
primeira vez, o milhar. As sucessivas vitórias em várias modalidades fazem
com que o entusiasmo à volta do SL Benfica cresça bastante. Em 1917, o SL
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Benfica tinha secções de futebol, ténis, atletismo, patinagem, hóquei em patins,
tiro aos pombos, ginástica, pólo aquático, natação, esgrima, tiro ao alvo e boxe.
Além disso tinha ainda sessões de cinema, teatro e uma biblioteca. No mesmo
ano já existiam delegações do Clube em Portalegre, Braga, Lagos, Seixal,
Santarém, Sintra, Abrantes, Faro e nas colónias na Beira (Moçambique), São
Tomé e Luanda. O número de sócios ultrapassa os 2000.
Por outro lado, as constantes crises financeiras com que o Clube se debate e a
inexistência de uma solução definitiva quanto às instalações desportivas,
nomeadamente o campo de jogos, põem por diversas vezes em risco o futuro
do Clube. Nos primeiros cinquenta anos da sua vida o Clube mudaria oito
vezes de sede e oito vezes de campo de jogos.
A 11 de Março de 1924, Armando de Vasconcelos, António Tavares, Fernando
Rodrigues e António Matos organizam a Taça Ausenda de Oliveira, actriz de
teatro muito popular. Assim, a Taça seria entregue ao Clube que tivesse mais
votos numa eleição efectuada nos intervalos da peça “O Sonho da Valsa” que a
actriz encabeçava no Teatro S. Luís. No final da peça, a actriz entregaria o
troféu ao vencedor. O SL Benfica vence com 1673 votos, ficando o Sporting em
2º lugar com 1321. O Benfica confirmava, pela primeira vez, que era o Clube
mais popular do Portugal.
O ciclismo, numa altura em que os jornais eram poucos e a televisão não
existia, levava o nome e as cores do Benfica a Portugal, com José Maria
Nicolau a tornar-se um dos símbolos vivos da mística benfiquista, vencedor das
Voltas a Portugal em 1931 e 1934.
Em 1954 o SL Benfica tinha mais de 15 000 sócios e 40 delegações. A
implantação nacional e o prestígio de melhor Clube português estavam
assegurados.
O segundo período assiste à conquista da hegemonia do futebol português
pelo SL Benfica. Ao longo de vinte anos, de 1960 a 1980, o SL Benfica
conquista 13 Campeonatos nacionais. Ao mesmo tempo, as 5 finais de
competições europeias, onde se conquistam 2 Taças dos Campeões
Europeus, fazem com que o Clube se torne um histórico do futebol mundial. Os
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portugueses revêem-se no SL Benfica e por isso a sua maioria é deste Clube
adepto. No estrangeiro o Clube é respeitado pelo seu potencial futebolístico.
A nível político, e dadas as circunstâncias da vida política portuguesa, o SL
Benfica serve também como válvula de escape para os portugueses
democratas. As Assembleias-gerais do Clube são um exemplo de participação
democrática que atravessa toda a ditadura. A própria denominação de
“encarnados”, atribuída aos jogadores do SL Benfica, tem uma explicação
política. As vitórias do SL Benfica podiam ser utilizadas pelos jornalistas como
uma metáfora para a defesa da oposição ao regime em geral e para o ressaltar
do comunismo em particular (os “vermelhos” era um termo aplicado aos
jogadores do SL Benfica e aos comunistas soviéticos). Assim, a censura
proibia a utilização da palavra “vermelho” em referência ao SL Benfica
substituindo-a pela mais (politicamente) inócua “encarnado”.
A descolonização portuguesa vai ter um efeito importante na vida do Clube. Até
então, a utilização dos jogadores vindos das então colónias fornecia o Clube de
recursos humanos consideráveis. Com a descolonização esta fonte seca e, em
resultado disso, cerca de 4 anos mais tarde, numa Assembleia-Geral de 1978,
os sócios decidem, após uma acesa discussão que demora seis horas, aceitar
jogadores estrangeiros no seu plantel de futebol.
A partir deste momento, e apesar da disputa de 3 finais de competições
europeias e da conquista de 8 Campeonatos nacionais no lapso entre 1980 e
2000, o SL Benfica perde a hegemonia do futebol português.
Ainda surgem alguns momentos de glória do Clube como o facto de em 3
épocas (1989, 1990 e 1991) o SL Benfica conquistar um total de 30 títulos de
Campeão Nacional sénior da I Divisão nas várias modalidades que não o
futebol.
É então que caímos na terceira fase da nossa história. A partir de meados da
década de 90 as profundas dificuldades económicas que se viviam desde o
final dos anos 80 tiveram reflexos no desempenho da equipa de futebol e na
sustentabilidade do Clube em geral. O desejo ávido de vitórias por parte dos
benfiquistas fez com que um estilo sebastianista, retórico, demagógico e
mentiroso ganhasse as eleições para os corpos sociais do Clube. O chico-
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espertismo vigente durante três anos quase destruiu o SL Benfica minando-lhe
a credibilidade, renegando os seus valores, destruindo o ecletismo e a
formação e mantendo a mediocridade da equipa de futebol.
Que não nos enganemos. O futebol português vive 30 anos de mentira, de
corrupção, de enganos e de vergonha. Mas isso não deve servir de desculpa
para esquecermos os nossos erros e nos desresponsabilizarmos pelo triste
fado que temos cantado, ano após ano.
Só em 2000 se pode começar a reconstruir o Clube, nalguns aspectos do zero,
noutros aspectos de menos que isso. Nestes últimos anos, muito se fez.
Substitui-se o decrépito parque desportivo da Luz por um novo estádio, novos
pavilhões e piscinas, ao mesmo tempo que se descentralizou a estrutura de
formação e de treinos para o concelho do Seixal. As escolhas em matéria de
infra-estruturas não foram as perfeitas, mas foram as possíveis, dadas as
circunstâncias em que ocorreram. As modalidades foram reavivadas, com um
projecto estruturado a partir da formação que começa agora, quase dez anos
depois, a dar os seus frutos. O futebol viveu alguns fogachos de sucesso – com
o comprovam a conquista dos quatro troféus nacionais em disputa nos últimos
seis anos e algumas participações honrosas nas competições europeias -, mas
muito longe das expectativas que todos temos. Além disso, a situação
financeira calamitosa em que o SL Benfica se encontrava foi combatida,
melhorada, mas o actual cenário economico-financeiro ainda não permite que
todos os benfiquistas suspirem de alívio. Resta arregaçar as mangas e
trabalhar. Como o fez Cosme Damião e Felix Bermudes. Como o fez Bento
Mântua. Como o fez Francisco Lázaro. Como o fez Eugénio Salvador. Como o
fizeram Ferreira Queimado, Borges Coutinho, Fernando Martins e Jorge de
Brito. O nosso tempo foi ontem. É hoje.
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1.2 - O SL BENFICA HOJE
O Sport Lisboa e Benfica, enquanto instituição, é, neste momento1, constituído
da seguinte forma:
Fonte: www.slbenfica.pt
Nota: O site é gerido pela Sportinveste, portanto poderá conter erros.
O Sport Lisboa e Benfica
O SL Benfica é uma pessoa colectiva de direito privado (Art. 1º dos Estatutos
do SLB) que se dedica ao fomento e à prática do futebol, de diferentes
modalidades desportivas e de outras actividades sociais, culturais e
recreativas.
Neste momento o SL Benfica tem a seu cargo, além dos respectivos serviços
administrativos, a prática do Andebol, Atletismo, Basquetebol, Bilhar, Ciclismo,
Futsal, Ginástica, Golfe, Hóquei em Patins, Judo, Natação, Pesca Desportiva,
Rugby, Surf, Ténis de mesa, Tiro com Arco, Triatlo e Voleibol. A organização
destas secções dentro do Clube é bastante diversa. O futsal, por exemplo, é
uma modalidade que está praticamente autonomizada, enquanto o ténis de
mesa funciona com uma estrutura tradicional. O rugby é gerido pela
1 Consideramos como “neste momento” o dia 1 de Junho de 2009.
Sport Lisboa eBenfica
Benfica Multimédia
Benfica Comercial
Parque Benfica
Benfica Estádio
Andebol, Atletismo, Basquetebol, Bilhar, Ciclismo, Futsal, Ginástica, Golfe, Hóquei em Patins, Judo, Natação, Pesca Desportiva, Rugby, Surf, Ténis de mesa, Tiro com Arco, Triatlo, Voleibol
Benfica Futebol
SAD
Benfica TV
Fundação Benfica
Clínica Benfica
Benfica SGPS
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Associação SLB Rugby, criada por antigos atletas, enquanto o triatlo parte de
um apoio atleta-a-atleta.
Além disso, o SL Benfica detém uma série de participações nas empresas
criadas dentro do grupo empresarial SL Benfica.
SL Benfica, Sociedade Gestora de Participações Sociais (SGPS) SA
A SL Benfica SGPS, detida a 100% pelo SL Benfica detém, por sua vez,
10,04%2 da Benfica Futebol SAD, permitindo, ao mesmo tempo, o respeito do
Código das Sociedades Anónimas Desportivas e assegurar que o Clube
controle a SL Benfica Futebol SAD. A SL Benfica SGPS exerce a actividade de
gestão de participações sociais como forma indirecta de exercício de
actividades económicas.
SL Benfica Futebol SAD
A SL Benfica Futebol SAD é participada a 40% pelo SL Benfica e a 10,01%
pela SL Benfica SGPS, assegurando que a legislação em vigor é cumprida mas
que os sócios não perdem o controlo do futebol do SL Benfica. Luís Filipe
Vieira detém 5,66% das acções da sociedade, Manuel Vilarinho 12,27%, o
BES, 1,02%, José Guilherme 5,6%, a Sportinveste 4,08% e a Somague 3,85%.
O resto está distribuído por pequenos accionistas.
A SL Benfica Futebol SAD tem por objectivo desenvolver a prática do futebol,
tanto das equipas profissionais, como dos escalões de formação.
2 Ver Prestação de Contas Consolidadas SAD Benfica SAD 2007-2008.
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Tabela 1 – Resumo dos três últimos exercícios da SAD
Exercícios 07/08 06/07 05/06
Proveitos operacionais 49.503€ 56.874€ 52.000€
Custos com pessoal 27.215€ 25.976€ 30.879€
Custos operacionais 43.660€ 57.667€ 55.986€
Resultados operacionais
(antes de transacções de atletas) 5.843€ - 793€ - 3.906€
Transacções de atletas - 1.847€ 22.123€ 4.815€
Resultados operacionais 3.996€ 21.330€ 829€
Resultado líquido exercício 116€ 15.274€ - 1.221€
Nota: o exercício de 2007/2008, por razões contabilísticas teve apenas 11 meses.
Fonte: Relatórios e Contas SL Benfica Futebol SAD 2007-2008, 2006-2007, 2005-2006. Análise: Citius, Altius, Fortius.
Da análise dos resultados da SL Benfica Futebol SAD referentes aos últimos
três exercícios, verificamos que os proveitos operacionais, excluindo as
transferências líquidas de atletas3, rondam os 50 milhões de euros. Os custos
operacionais estão, habitualmente, acima das receitas operacionais (apenas
em 07/08) isso não aconteceu, o que coloca a SAD numa posição deficitária e
refém da venda dos seus melhores jogadores para prover o equilíbrio das
contas.
Em resultado, a SL Benfica Futebol SAD vive acima das suas possibilidades.
Os custos com pessoal têm um peso crescente nos proveitos totais: 59% em
2006, 46% em 2007 e 55% em 2008, valores muito acima do limite de 50%
defendido pelo G14.
3 Consideramos as transferências de atletas como resultados extraordinários por razões óbvias. A boa gestão não pode contar com este resultado como certo. É impossível prever uma venda com exactidão e a constante venda de atletas põe em risco a competitividade do produto. Sendo assim, contamo-las como resultados extraordinários.
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Tabela 2 – Proveitos da SAD nos três últimos exercícios
Proveitos 07/08 06/07 05/06
Publicidade e patrocínios 9.726€ 11.031€ 8.133€
Receitas de televisão 8.403€ 9.805€ 7.625€
Prémios de competições 7.883€ 8.511€ 9.520€
Quotização 7.848€ 8.328€ 6.542€
Bilheteira 7.686€ 9.893€ 11.688€
Cativos 2.868€ 2.750€ 2.483€
Merchandising 2.470€ 2.499€ 2.405€
Outros 1.613€ 4.657€ 3.604€
Nota: o exercício de 2007/2008, por razões contabilísticas teve apenas 11 meses.
Fonte: Relatórios e Contas SL Benfica Futebol SAD 2007-2008, 2006-2007, 2005-2006. Análise: Citius, Altius, Fortius.
A análise discriminada das receitas permite verificar a reduzida expressão que
os proveitos da venda de direitos televisivos têm no cenário geral, assim como
a incapacidade do SL Benfica Futebol SAD teve em incrementar a sua grelha
geral de proveitos desde o ano em que foi campeão pela última vez.
Tabela 3 – Resumo dos primeiros 9 meses de 08/09 de actividade da SAD
e comparação com período homólogo
08/09 07/08
Proveitos operacionais 36.566.001€ 41.995.928€
Custos operacionais 41.226.028€ 35.501.303€
Custos com pessoal 25.924.406€ 21.935.648€
Resultados operacionais
antes de transacções de atletas
- 4.660.027€ 6.494.625€
Transacções de atletas - 10.889.990€ 728.005€
Resultados operacionais - 15.550.017€ 7.222.680€
Resultado líquido do exercício - 18.450.273€ 3.684.109€
Fonte: Informação SL Benfica Futebol SAD à CMVM. Análise: Citius, Altius, Fortius.
A situação referente ao período de 07/2008 a 03/2009 é mais preocupante,
uma vez que mostra uma diminuição das receitas considerável (menos 13%),
explicável pela fraca prestação desportiva da equipa de futebol e um aumento
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relevante dos custos, nomeadamente dos custos com pessoal, que dispararam
para 70% dos proveitos operacionais.
Além disso, a informação trimestral que a SL Benfica Futebol SAD enviou para
a CMVM indica que «o passivo aumentou 20,48% face a 30 de Junho de 2008,
o qual é essencialmente justificado pelo crescimento verificado nas rubricas de
empréstimos obtidos para fazer face aos investimentos efectuados na equipa
de futebol na presente época desportiva».
Quer isto dizer que, não só os custos com pessoal aumentaram
significativamente, como o endividamento da sociedade cresceu. Mas a pior
notícia é que o crescimento da dívida foi superior ao resultado líquido de
transacção de atletas (-10,899 milhões de euros), ou seja, pediram-se
empréstimos para pagar salários.
Esta política é demasiado arriscada e pode hipotecar as hipóteses de
viabilização de uma sociedade a médio prazo.
Benfica Estádio – Construção e Gestão de Estádio SA
A Benfica Estádio é participada a 100% pelo SL Benfica. A Benfica Estádio tem
por objectivo a construção, organização, planeamento e exploração económica
de infra-estruturas desportivas, gerindo todos os aspectos relacionados com a
construção do novo Estádio do SL Benfica e com a sua posterior exploração.
Segundo a informação veiculada pelo próprio SL Benfica, «a operação com a
Somague termina em Janeiro de 2010. E no caso do Project Finance, 95%
estará pago na mesma altura e o resto estende-se até 2013»4. Mais tarde, o
mesmo responsável admitiu que «o próprio Project passou a integrar outro tipo
de endividamento, essencialmente dívida que a Benfica SGPS não tem
conseguido saldar perante a SAD. Fizemos uma cedência dos créditos que a
SAD tinha sobre a Benfica SGPS à Benfica Estádio. (…)»5. Por fim, existe o
desejo de incorporar a Benfica Estádio – cessando esta a sua actividade – na
Benfica Futebol SAD. Esta operação permite aumentar o capital social da
4 Entrevista de Domingos Soares de Oliveira ao Público de 17 de Outubro de 2008.5 Entrevista de Domingos Soares de Oliveira ao Jornal de Negócios de 22 de Maio de 2009.
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sociedade de 75 milhões de euros para 235 milhões e deixar de se colocar o
problema lançado pelo artigo 35º do Código das Sociedades Comerciais6.
Mas isto também quer dizer a Benfica Estádio – e o complexo desportivo que
ela detém e gere –, que neste momento está a 100% nas mão do SL Benfica,
passará para a SAD, uma sociedade que, neste momento é controlada
maioritariamente pelo Clube, mas que poderá não o ser, no futuro.
SL Benfica Comercial
A SL Benfica Comercial é participada a 99,97% pelo SL Benfica. A SL Benfica
Comercial dedica-se à gestão e exploração comercial da marca “Benfica”,
directamente ou em parceria, à organização, gestão e exploração comercial de
espectáculos ou eventos desportivos e à angariação e gestão de patrocínios,
publicidade estática e sponsors.
Em 2003, o SL Benfica e a Adidas oficializaram um acordo com a duração de
dez anos para o patrocínio técnico das suas equipas. Este acordo tem uma
componente fixa e uma componente variável em função do volume de vendas
dos artigos. Ao mesmo tempo, foi celebrado um acordo semelhante com a TBZ
para a comercialização de merchandising não técnico, mas em Dezembro de
2008, ele foi rescindido por incumprimento por parte desta empresa. Segundo
Domingos Soares de Oliveira, o Benfica «está a proceder a uma reformulação
da sua oferta de merchandising, reduzindo o número de produtos e inovando.
Assim, pode acontecer que esta estrutura fique a cargo do clube»7.
Benfica Multimédia
A Benfica Multimédia é participada a 51% pelo SL Benfica e a 49% pela
Sportinveste.
A Benfica Multimédia dedica-se à disponibilização de conteúdos relacionados
com o SL Benfica, nomeadamente no que diz respeito às novas tecnologias. O
seu principal veículo é o site oficial, que demonstra uma enorme pobreza ao
nível de conteúdos, ideias e apresentações.
6 Que dispõe que as sociedades que apresentem em dois anos consecutivos um capital próprio inferior a metade do capital social são imediatamente dissolvidas.7 Entrevista de Domingos Soares de Oliveira na Revista Mística de Maio de 2009.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
18
Também toda a comunicação com os sócios, através de e-mails e de sms, é
centralizada pela Sportinveste, o que é incompreensível.
Benfica TV
A Benfica TV é detida em 50,01% pelo SL Benfica, tendo a SL Benfica Futebol
SAD 49,98%.
É um projecto estruturante de comunicação com os adeptos e de
potencialização da marca. Além da evidente atenção dada ao futebol – mas do
qual não dispõe dos direitos de transmissão dos jogos em directo – transmite
partidas das modalidades, da formação e informa sobre toda a vida do Clube,
de uma forma geral.
O investimento inicial cifrou-se nos 3 milhões de euros e está estimado que os
custos operacionais representem um valor de 4 milhões de euros anuais.
Ao contrário da grande maioria dos projectos existentes na Europa, o Benfica
decidiu transmitir a Benfica TV em sinal aberto, contando, então apenas com
as receitas de publicidade para sustentar o negócio.
Para garantir a sustentabilidade do negócio, o SL Benfica Futebol SAD e a
Portugal Telecom renegociaram o seu contrato de patrocínio, elevando-o para
6 milhões de euros anuais, até 2011. Em troca a Benfica TV teve um arranque
exclusivo no Meo, a plataforma de televisão da PT. Neste momento, a Benfica
TV trnasmite no Meo, Cabovisão, AR Telecom e Clix Smart TV. Não existem
negociações com a Zon.
Clínica Benfica
Detida em partes iguais pelo SL Benfica e pela SL Benfica Futebol SAD, está
ainda em fase de lançamento.
Fundação Benfica
Participada pelo SL Benfica, destina-se a cumprir a missão social do SL
Benfica, inscrita nos seus Estatutos. Ainda em fase embrionária, começa gora
a dar os primeiros passos.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
19
PARTE II:
O FUTEBOL NO MUNDO
E EM PORTUGAL
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
20
2.1 - O FUTEBOL NO MUNDO
2.1.1 - A GLOBALIZAÇÃO E O ACÓRDÃO BOSMAN
O futebol de alta competição, tal como o conhecemos hoje, é o resultado da
influência de dois fenómenos sobre um desporto-espectáculo que apaixona
milhões de pessoas. Estes dois fenómenos foram o processo de globalização,
sobretudo ao nível dos media, e os efeitos do processo de integração europeia,
sobretudo pela construção de um mercado único europeu que potenciou o
Acórdão Bosman. E o principal mercado do futebol ainda é o continente
europeu, pelo que as alterações à estrutura operadas na Europa têm
repercussões por todo o Mundo.
O processo de globalização que afectou e continua a afectar as economias e
as sociedades também atingiu o futebol. O desenvolvimento dos media e das
redes de transmissão televisiva, por satélite ou por cabo, e o desenvolvimento
de plataformas e aplicações pela internet, fizeram com que algo que era local
se pudesse tornar global. Os grandes espectáculos televisivos, nomeadamente
o futebol, tornaram-se acessíveis a milhares de milhões de pessoas, em
directo. O último Campeonato do Mundo, disputado em 2006, foi visto por uma
audiência média diária de 1,1 mil milhões de pessoas (Fonte: FIFA), um
número superior ao dos Jogos Olímpicos da China que só no último dia de
provas ultrapassou essa fasquia com 1,3 mil milhões de espectadores (Fonte:
CNN).
As grandes competições de selecções e Clubes, e até as próprias Ligas
nacionais passaram a ser transmitidas para todo o Mundo. Por outro lado, as
possibilidades oferecidas pela Internet fizeram com que um adepto se possa
inteirar da vida do seu Clube em tempo real e independentemente da sua
localização geográfica.
O alargamento do mercado dos adeptos de futebol aumentou as receitas ou as
perspectivas de receitas, sobretudo ao nível da venda dos direitos de
transmissão televisiva. Este aumento, por vezes exponencial, fez com que o
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
21
fosso entre os Clubes8 geradores de grandes receitas e os Clubes geradores
de pequenas ou médias receitas se alargasse, com consequências óbvias ao
nível da competitividade. Nos últimos anos, contudo, um crescimento menor
das receitas efectivamente geradas em comparação com as perspectivadas,
sobretudo as de transmissão televisiva, fez com que a espiral inflacionista que
se vivia no mundo do futebol fosse estancada, à custa da própria sobrevivência
dos Clubes.
Mas outro fenómeno, o da entrada de grandes investidores (Roman
Abramocivh, Malcom Glazer, etc.) em clubes-empresa, veio desvirtuar o
modelo tradicional. O jornal The Guardian, por exemplo, revelou que dos 20
clubes que compõem a Premier League, 10 têm presença de capital não
britânico. Por um lado, esses clubes-empresa tiveram acesso a recursos
elevados que lhes permitiram cavar um fosso face a outros emblemas, fazendo
até com que algumas equipas sem grande expressão ao nível de massa
adepta se tornassem actores importantes. Mas, por outro lado, estes recursos
acabaram por entrar no circuito do futebol porque estes clubes-empresa
adquiriram passes de jogadores, distribuindo montantes elevados um pouco
por todos os outros clubes.
O acórdão Bosman (Caso C415/93 URBSFA vs. Bosman [1995] ECR I-4921)
conseguiu que a liberdade de circulação dos jogadores profissionais de futebol
no espaço comunitário fosse respeitada, obrigando a que a UEFA e a FIFA, e
as federações nacionais, liberalizassem os processos de transferência de
jogadores na União Europeia, onde se concentram os Clubes mais ricos e os
melhores jogadores de futebol do Mundo.
É importante notar que
“ (...) a prática de desportos só é abrangida pelo direito comunitário na medida em que
constitua uma actividade económica na acepção do Artigo 2 do Tratado. É o caso da
actividade dos jogadores de futebol (...)”. [Acórdão Bosman]
Assim, o Acórdão Bosman liberaliza o mercado de jogadores (a livre circulação
de jogadores profissionais respeita a uma actividade económica na acepção do
Artigo 2º do Tratado) mas não liberaliza o mercado do produto, ou seja, as
8 Referimo-nos indiferentemente a Clubes na acepção estrita do termo ou a sociedades desportivas.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
22
competições em si (as competições desportivas não se coadunam com a
acepção de actividade económica prevista no Artigo 2 do Tratado). Em
resultado os Clubes não podem escolher livremente a Liga Europeia onde
podem participar (ex.: o SL Benfica na Liga Espanhola). Isto causa problemas
aos grandes Clubes dos pequenos mercados porque têm de competir pelos
jogadores num mercado livre (e os custos produtivos, nomeadamente os
custos de pessoal, tendem a encarecer), mas não têm acesso ao mercado do
produto mais atractivo (recebendo menos pelo produto que oferecem).
O Acórdão enuncia um princípio fundamental do futebol, pois a solidariedade
entre Clubes deve ser mantida:
“Tendo em vista uma considerável importância social das actividades desportivas e em
particular do futebol na Comunidade, os objectivos da manutenção de um equilíbrio
entre Clubes pela preservação de uma certa igualdade e incerteza em relação aos
resultados (...) devem ser aceites como legítimos.” [Acórdão Bosman]
De facto, a eliminação da competição significaria o fim do futebol. É a incerteza
do resultado que dá magia ao jogo. Esta visão do futebol vai servir de princípio
a outras decisões da Comunidade Europeia, nomeadamente ao nível das
vendas dos direitos televisivos da Liga dos Campeões da UEFA (UCL).
2.1.2 - A UEFA COMO ACTOR FUNDAMENTAL
A UEFA, apercebendo-se das transformações que ocorriam no espectáculo do
futebol, começou, a partir do início da década de 90, a introduzir modificações
na forma de abordar as competições. Assim, a Taça dos Campeões Europeus
deu lugar à UCL, uma prova em que se tentam juntar as melhores equipas da
Europa, aumentando o número de jogos entre elas, e que tem prémios
financeiros relevantes provenientes da venda dos direitos de transmissão
televisiva e da publicidade estática dos jogos.
Para igualar as condições de competição entre os vários Clubes (as regras são
diferentes, mais ou menos exigentes, consoante a Liga em que se participa) e
para tornar o negócio sustentável, combatendo a especulação e as espirais
inflacionistas, a UEFA tenciona introduzir um sistema de licenciamento de
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
23
Clubes a partir da época de 2004/2005. O objectivo deste sistema é igualar e
aumentar os padrões de qualidade do futebol europeu. Desta forma, cada
Federação nacional membro da UEFA (ou Liga, quando a responsabilidade de
organização da competição nela for delegada) terá de desenvolver um sistema
de licenciamento de Clubes que se coadune com os mínimos estabelecidos
pelo Manual de Licenciamento de Clubes da UEFA.
O desenvolvimento e implementação das licenças devem ser feitos, em cada
Federação, em conjunto com os actores envolvidos, particularmente os Clubes
e as suas Direcções. A UEFA apenas aceitará, para participar nas provas por si
organizadas, Clubes que possuam a respectiva licença.
Os critérios para a emissão da licença são:
Desportivos;
Infraestruturais;
Administrativos;
Jurídicos;
Financeiros.
De todos os critérios aquele que é mais relevante é o critério financeiro que
deve ser alvo de uma aplicação faseada. Assim, os Clubes devem submeter os
seguintes documentos à autoridade competente:
A contabilidade, por razões de harmonização, deve seguir o International
Accounting Standard definido pela UE. O organismo independente que
examinará este critério não fará qualquer juízo sobre as contas mas apenas
declarará se elas estão, ou não, compatíveis com as regras estabelecidas.
2.1.3 - O G-14 COMO LOBBY E COMO EXEMPLO
Este desenvolvimento da indústria do futebol europeu deu origem ao European
Football Clubs Grouping (G-14), fundado em Setembro de 2000 pelo Real
Madrid, FC Barcelona, Bayern de Munique, Juventus, AC Milan, Inter Milan,
Ajax, Manchester United, Borussia de Dortmund, PSG, Olympique de
Marselha, PSV Eindhoven e FC Porto após uma série de reuniões informais
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
24
que haviam começado em 1997. Posteriormente foram convidados a entrar o
Arsenal, o Bayer Leverkusen, o Olympique Lyonnais e o Valência (o G-14
permanece um clube fechado para o qual só é possível entrar por convite). A
razão da formação deste Grupo foi a necessidade de constituir um lobby dos
Clubes junto das estruturas dirigentes do futebol internacional, nomeadamente
a UEFA, dado que era necessário reforçar a posição dos Clubes e dos seus
interesses num ambiente dominado pelas Federações. O G-14 tornou-se um
lobby muito importante e muito poderoso.
A prioridade do G-14 é a representação dos Clubes no processo de tomada de
decisão das matérias do futebol internacional de Clubes.
Para tal, os membros do G-14 desejam:
Obter condições favoráveis para os Clubes no contexto da
implementação da política de direitos comerciais da UCL,
correspondente ao acordo celebrado entre a UEFA e a Comissão
Europeia em 4 de Junho de 2003;
Encontrar soluções que permitam aos Clubes assegurar balanços
financeiros positivos, apesar da estagnação ou decréscimo das receitas
do futebol, e proporcionar aos membros do G-14 ferramentas para
limitar as suas despesas. Uma taxa máxima de 50% das receitas do
Clube foi identificada como um limite máximo na alocação dos custos
salariais globais;
Desenvolver o diálogo entre os corpos dirigentes do futebol para se
melhorar o entendimento dos anseios dos Clubes, nomeadamente ao
nível da harmonização de calendários e da redução da carga sobre os
jogadores, que deve ser partilhada por Selecções e Clubes.
Se os Clubes pertencentes ao G-14 abandonassem as provas da UEFA,
formando uma Liga autónoma, a importância das provas da UEFA esvaziar-se-
ia.
A ausência do SL Benfica neste fórum coloca-o perante uma posição de
fragilidade por duas razões. A primeira, porque está impossibilitado de
influenciar o principal lobby de Clubes a nível europeu, o que pode ter
consequências negativas directas. Em segundo lugar porque uma eventual
Liga Europeia, por convite, dentro ou fora do âmbito da UEFA, começará
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
25
provavelmente com os Clubes do G-14, o que pode colocar o SL Benfica do
lado de fora, igualmente com consequências negativas não negligenciáveis, a
nível financeiro e competitivo.
2.1.4 - A ECONOMIA DO FUTEBOL EUROPEU
Quando falamos da economia do futebol europeu falamos da forma como, hoje
em dia, as receitas e as despesas são afectadas.
2.1.4.1 - RECEITAS
Figura 1 – A geração de receitas de um Clube de futebol
A geração de receitas ordinárias de um Clube de futebol deve obedecer ao
esquema proposta na Figura 1. Assim, 33% das receitas seriam provenientes
de quotização e bilheteira, 33% seriam provenientes da venda de
merchandising e 33% seriam provenientes da venda de direitos de transmissão
televisiva. A venda de direitos de transmissão televisiva implica um operador de
televisão que difunda as imagens e aqui a relação entre adepto e Clube é uma
relação indirecta. Nas primeiras duas situações existe uma relação directa
entre adepto e Clube.
ADEPTOS CLUBE
Quotização e bilheteira
Merchandising
Direitos de transmissão televisiva
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
26
Não estão aqui incluídas receitas extraordinárias como as geradas pela venda
dos direitos desportivos de jogadores que podem representar montantes não
negligenciáveis.
Quotização e Bilheteira
O adepto pode ser sócio do Clube e por isso pagar uma quotização. Mais
ainda, o adepto paga o preço do bilhete de várias formas: bilhete para um jogo,
bilhete de época ou lugar cativo, entre outros. Normalmente, este preço varia
consoante a importância do jogo e o rendimento dos adeptos.
Antes dos dois fenómenos anteriormente referidos, que revolucionaram o
futebol europeu, esta era a fonte de receita ordinária mais importante e isso
permitia um maior equilíbrio entre os Clubes. De facto, a receita de bilheteira
depende da capacidade de um estádio e do preço praticado. Tanto um facto
como o outro não permitiam que as discrepâncias fossem tão grandes como as
existentes pela venda dos direitos televisivos (Old Trafford tem uma
capacidade 1,5 vezes superior ao Estádio das Antas mas o mercado televisivo
inglês é 6 vezes superior ao português).
Hoje assiste-se à necessidade de modernizar os estádios de futebol para
garantir que o adepto tenha maior segurança (os problemas de segurança nos
estádios foram o principal problema do futebol nos anos 80) e conforto. O
espectáculo do futebol ao vivo tende a tornar-se um espectáculo de luxo, o que
implica um aumento dos preços dos bilhetes. Os estádios de futebol americano
(NFL) têm vindo a substituir os seus lugares normais por um número crescente
de corporate seats (camarotes de empresa) porque são muito mais rentáveis.
O estádio do futuro será composto essencialmente por camarotes, com grande
conforto, televisão para acompanhar os jogos em cada lugar e a prestação de
diversos serviços. Um estudo da Delloite & Touche indica que a prestação de
serviços durante o jogo de futebol é a área onde as receitas dos Clubes podem
aumentar de forma mais acelerada.
Merchandising
O adepto compra artigos que contenham referências, mais ou menos
evidentes, ao seu Clube. Neste caso, é importante garantir que os adeptos
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
27
comprem apenas produtos licenciados e não contrafeitos para que os lucros
revertam para o Clube. A inovação e o estudo permanente de mercado são
fundamentais.
Ao mesmo tempo, a harmonização horizontal dos produtos de merchandising
também suscitar um aumento das receitas: as equipas da Liga dos Campeões
utilizarem todas o fornecedor de equipamentos, por exemplo.
Direitos televisivos
Existem dois tipos de transmissão de jogos de futebol em televisão: em canal
aberto e o pay per view (ppv). Se por um lado, o ppv garante mais receitas
unitárias, por outro, o universo de clientes é mais reduzido e por isso, para
cada jogo, há que definir qual o sistema mais benéfico. Uma avaliação
incorrecta destas duas alternativas está na base das falências de algumas
grandes cadeias televisivas que originaram grandes dificuldades para alguns
Clubes. O adepto quer ver os jogos do seu Clube e está disposto a pagar para
isso. Os sistemas de ppv na Europa assentam sobretudo na transmissão de
filmes e de desporto, essencialmente de jogos de futebol. Os adeptos estão
dispostos a pagar pelos “grandes jogos”, e não pelos pequenos, e foi esta a
causa dos problemas das redes de transmissão televisiva. A solução, então, é
aumentar o número de “grandes jogos”.
Outro aspecto a ter em conta é o facto de os grandes Clubes não quererem
partilhar paritariamente as receitas de televisão. De facto, são eles
essencialmente que geram as receitas e por isso não as querem partilhar. O
adepto quer ver o Real Madrid mas não faz questão de assistir ao jogo do
Rosenborg. Assim, os grandes Clubes desejam vender os jogos
individualmente, retendo a totalidade das receitas. A UEFA vende os jogos da
UCL em bloco, distribuindo as receitas pelos Clubes participantes. Isto levou a
momentos de tensão e a ameaças de tentar encontrar outras competições que
gerem essas receitas: torneios, ligas pan-europeias, ligas internacionais entre
os grandes Clubes dos pequenos mercados.
A Comissão Europeia, segundo um Comunicado emitido a 24/07/03, aprovou o
sistema de venda dos direitos televisivos da UCL em bloco, ou seja, a UEFA
vende em bloco os direitos televisivos da prova, não podendo os Clubes vender
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
28
isoladamente os direitos dos jogos em que participem. Assim se mantém a
chamada “solidariedade” (princípio enunciado no Acórdão Bosman) e
redistribuição de riqueza a nível europeu. Por outro lado, a utilização desses
direitos em outros media será explorada caso a caso pelos Clubes e pela
UEFA, permitindo que novas oportunidades de mercado possam surgir a este
nível. A Internet e o telemóvel são os alvos desta designação “outros media”.
A grande causa do aumento do fosso entre Clubes grandes e pequenos, a
nível europeu, deve-se, como se viu, a uma mudança na repartição das
receitas: antes eram as receitas de bilheteira as fundamentais (e estas tendiam
a ser mais iguais). Agora são as receitas de TV as mais importantes, e aqui a
população de um Estado assume uma importância muito maior dado que a
diferença do PIBpc não é, na maior parte dos casos, muito grande. Portugal
assume aqui uma maior desvantagem. Os grandes mercados televisivos na
Europa são a Inglaterra, a Alemanha, a Espanha, a Itália e a França e
dificilmente os grandes Clubes dos pequenos mercados podem competir com
os grandes Clubes dos grandes mercados.
Tabela 4 – População e PIB de alguns Estados europeus
Estado População PIB pc (€)
Alemanha 82.221.800 44.605
França 63.753.100 44.950
Reino Unido 58 921 560 45.083
Itália 59.618.100 38.811
Espanha 45.283.300 35.592
Polónia 38.115.600 13.793
Holanda 16.404.300 52.970
Grécia 11.215.000 31.881
Bélgica 10.666.900 47.473
Portugal 10.617.600 23.027
República Checa 10.381.100 20.910
Hungria 10.045.000 15.588
Suécia 9.182.900 52.766
Dinamarca 5.475.800 62.740
Fonte: Eurostat e IMF 2008.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
29
A solução para equilibrar as receitas dos Clubes grandes dos mercados
grandes com Clubes grandes de mercados pequenos será a realização de
receitas extraordinárias com a venda dos direitos desportivos de jogadores
formados internamente. Portugal e a Holanda são o exemplo vivo desta opção
estratégica, realizando mais-valias que permitem equilibrar as contas dos
Clubes quando as despesas se aproximam das despesas médias dos grandes
mercados.
2.1.4.2 - DESPESAS
As despesas de um Clube de futebol têm a sua parcela mais importante nas
despesas com pessoal que cobrem as despesas com jogadores e equipa
técnica. Em resposta à situação gerada pelo Acórdão Bosman, e para segurar
os jogadores num mercado liberalizado, os montantes antes utilizados para
pagar transferências de jogadores passaram a ser utilizados para pagar os
seus salários, que aumentaram de valor, e assegurar contratos mais
prolongados. Contudo, a estabilização das receitas geradas fez com que estes
contratos, de longa duração e montantes elevados, se revelassem
contraproducentes.
Tabela 5 – Os 20 Clubes com maiores receitas (2007-2008)
Clube Receitas (milhões de euros) Custos Pessoal
(Milhões euros)Total Bilheteira TV Merchandising
1 Real Madrid 365,8 101,0 135,8 129,0
2 Manchester United 324,8 128,2 115,7 80,9 139,7
3 FC Barcelona 308,8 91,5 116,2 101,1 162,6
4 Bayern Munique 295,3 69,4 49,4 176,5
5 Chelsea FC 268,9 94,1 97,8 77,0 172,0
6 Arsenal FC 264,4 119,5 88,8 56,1 116,8
7 Liverpool 210,9 49,5 96,4 65,0 183,3
8 AC Milan 209,5 26,7 122,5 60,3 120,0
9 AS Roma 175,4 23,4 105,7 46,3 65,0
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
30
10 FC Internazionale 172,9 28,4 107,7 36,8 120,0
11 Juventus 167,5 12,5 106,6 48,4 115,0
12 Olympique Lyonnais 155,7 21,8 75,0 58,9
13 Schalke 04 148,4 32,3 56,0 60,1
14 Tottenham Hotspur 145,0 51,0 50,9 43,1 61,1
15 Hamburger SV 127,9 45,5 28,7 53,7
16 Olympique Marseille 126,8 23,5 69,4 33,9
17 Newcastle FC 125,6 41,0 51,9 32,7 86,0
18 VfB Stuttgart 111,5 18,7 43,9 48,9
19 Fenerbahçe 111,3 27,9 26,7 56,7
20 Manchester City 104,0 23,4 54,6 26,0 62,5
Fonte: Delloite Football Money League 2009 e Citius, Altius, Fortius.
Como se vê, 19 dos 20 Clubes com maiores receitas provêm de Espanha,
Inglaterra, Itália e Alemanha. Aliás, 7 dos 20 Clubes provêm de Inglaterra,
demonstrando a importância da venda dos direitos televisivos pois estes, em
Inglaterra, rendem grandes montantes. É relevante a percentagem que as
despesas com pessoal representam no total das receitas. Nalguns casos
menos que 50%: Manchester United, AS Roma ou Bayern Munique. Isto
permite libertar recursos para outras opções estratégicas como a compra de
direitos desportivos de grandes jogadores, a formação, o desenvolvimento
infraestrutural e o desenvolvimento de novas oportunidades de negócio.
Noutros casos, os custos com pessoal são desajustados para o volume de
receitas: Manchester City, Liverpool ou Chelsea. Isto advém da entrada de
investidores nestes clubes, mas a médio prazo, não lhes garante
sustentabilidade. Quando desaparecerem os investidores, a queda será
abrupta se, entretanto, não for criada massa crítica.
Se a isto juntarmos que a percentagem que os custos salariais têm nos custos
totais é superior nos Clubes dos mercados pequenos que nos Clubes dos
grandes mercados (mesmas despesas com receitas menores) conclui-se que
estes grandes Clubes dos pequenos mercados têm proporcionalmente menos
recursos para desenvolver outras oportunidades de negócio e infra-estruturas.
A tendência, a longo prazo, é o aumento do fosso.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
31
De qualquer forma, Dan Jones, partner do sport business Group da Deloitte
afirma que «o grande teste para suportar os desafios económicos virá em
2009/10, quando a procura de bilhetes para a época, e em particular, as
renovações de patrocínio tiverem de apoiar o desempenho das receitas. O
maior desafio pode vir da manutenção de receitas comerciais e no aumento de
preço dos bilhetes, num contexto de inflação de salários e custos»9.
A crise vai implicar restrições orçamentais no futebol. Aqueles que mais
depressa estiverem preparados para ela, melhor lidarão com ela.
2.1.4.3 - A ESTRATÉGIA A SEGUIR
A estratégia que os grandes Clubes têm seguido é de alargar a sua massa de
adeptos para aumentar receitas. A revolução nos meios de comunicação
permite fazê-lo para além das fronteiras nacionais. Hoje, qualquer amante de
futebol pode ver os grandes jogos de futebol em qualquer parte do mundo e
seguir a par e passo os acontecimentos da sua equipa pela Internet. Por vezes,
um adepto apoia a sua equipa tradicional, de âmbito regional ou nacional, e
escolhe uma outra “super-equipa”. As receitas da venda dos direitos televisivos
podem vir de qualquer parte do mundo, ao contrário das receitas de bilheteira.
A estratégia seguida pela FIFA (Mundial de Futebol nos EUA em 1994, na Ásia
– Coreia e Japão – em 2002 e na África do Sul em 2010) insere-se nesta lógica
de alargamento dos adeptos do futebol, potenciando-o como negócio. O Real
Madrid contrata os melhores jogadores a nível mundial para conquistar adeptos
fora de Espanha. Digressões pela Ásia e América do Norte efectuam-se para
explorar mercados com grande potencial de crescimento e que são, ainda,
“virgens”. A loja do Manchester United com maiores receitas está localizada em
Hong-Kong e não em Inglaterra como seria de esperar.
A final da UCL de 2008/2009 foi vista em 1,4 milhões de casas nos EUA, um
valor superior à média dos jogados da Major League Baseball (Fonte: ESPN).
Cerca de 60% dos asiáticos vê jogos de futebol pela televisão. Na Europa este
número fica-se pelos 54%. Estes exemplos indicam que quanto mais
9 Disponível em www.deloitte.com.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
32
competitivos são os campeonatos, mais os espectadores vêm o futebol
confirmando a ideia de que os espectadores estão dispostos a pagar para
verem grandes jogos. A Europa é um mercado maduro mas há mercados em
grande crescimento.
No gráfico seguinte tentamos fazer uma caracterização dos mercados para o
futebol. Para tal, utilizamos duas variáveis. Chamamos à primeira “estrutura”,
consistindo na maior ou menor existência de uma estrutura consolidada de
futebol-negócio, envolvendo Clubes, atletas, competições nacionais e adeptos.
Para a segunda utilizamos o PIBpc médio da região considerada (da UE para a
Europa, dos EUA para a América do Norte, do Japão e Coreia do Sul para a
Ásia, do Mercosul para a América do Sul e da União Africana para África).
Como resultado definimos quatro áreas:
Mercado maduro e rentável (azul);
Mercado maduro e pouco rentável (vermelho);
Mercado virgem e rentável (verde);
Mercado virgem e pouco rentável (laranja).
Figura 2 – O mercado mundial de futebol
Fonte: FIFA e IMF2008.
Em mercados mais estruturados (Europa e América dos Sul) é mais difícil
ganhar adeptos pelo que é para a Ásia e a América do Norte, concentrando
América Norte
Ásia
América Sul
África
Europa
0 20 000 € 40 000 €
Estrutura
PIBpc
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
33
maior riqueza que em África, que os investimentos para a conquista de adeptos
se têm dirigido.
Em conclusão, os Clubes devem:
Desenvolver receitas ordinárias, aumentando a massa de adeptos numa
lógica de marketing que atravesse as fronteiras, identificando
objectivamente o produto e o alvo das suas acções;
Desenvolver oportunidades de negócio, pois as receitas ordinárias
tendem a estabilizar, nomeadamente as oportunidades oferecidas pela
Internet e pela TV (canal do Clube);
Diversificar a oferta da marca, diminuindo a dependência dos resultados
desportivos. O futebol tende a evoluir para uma indústria de lazer,
semelhante ao modelo da Disney, em que os jogadores são uma peça-
chave da estratégia de marketing;
Investir em infra-estruturas como o complexo de lazer do Estádio
(Estádio, loja, museu, restaurante, ...) e centros de formação;
Controlar as despesas com pessoal reduzindo a sua percentagem face
ao total das receitas ordinárias.
2.2 - O FUTEBOL EM PORTUGAL
2.2.1 - A IMPORTÂNCIA DO FUTEBOL
O futebol é comummente considerado como o desporto mais popular em
Portugal. Contudo, a importância do futebol em Portugal ultrapassa o mero
carácter de evento desportivo para se tornar num espectáculo desportivo com
um peso muito considerável.
Enquanto desporto mais popular podemos verificar que o futebol tem cerca de
115 000 praticantes federados, mais do que o basquetebol, o andebol ou o
hóquei em patins (Fonte: Instituto do Desporto em Portugal). Em matéria de
audiências televisivas, o futebol ganha também vantagem sobre os outros
desportos, tal como ao nível de espectadores em eventos desportivos.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
34
Se quisermos ver o futebol como um espectáculo desportivo, o Estudo Global
do Futebol Português (EGFP) de 2003, elaborado pela Delloite & Touche para
a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, considera que as receitas directas
geradas pelo futebol representam 461 milhões de euros, sensivelmente 0,4%
do PIB, relativamente o mesmo peso do sector do calçado ou da metalurgia na
economia portuguesa. O futebol português emprega 19 537 pessoas, gerando
uma massa salarial de 291 milhões de euros, um valor próximo dos 0,4% do
emprego nacional. Por tudo isto podemos atestar a importância que o futebol
tem na sociedade portuguesa.
2.2.2 - A CARACTERIZAÇÃO DO FUTEBOL EM PORTUGAL
O futebol em Portugal subsiste à custa do desenvolvimento de recursos
(através da formação) que gerarão receitas extraordinárias e de sucessivos
apoios estatais (totonegócio, perdões fiscais, ...) ou de empréstimos
disfarçados (dispersão do capital das SAD), dado que sofre de uma grande
pressão por parte da opinião pública (adeptos), que o obrigam a aumentar as
despesas, sobretudo as despesas com pessoal, e não consegue gerar receitas
ordinárias que equilibrem os custos em que incorre.
Mais ainda, o futebol português tem uma estrutura macrocéfala, baseada em
três grandes Clubes.
Tabela 6 – Peso dos três maiores Clubes no total dos adeptos
Fonte SL Benfica FCP SCP % 3 grandes
Record (2003) 44% 21% 26% 91%
D&T (2004) 39% 25% 21% 85%
Eurosondagem () 39% 20% 29% 88%
Fonte: Record, Delloite & Touche, Eurosondagem.
Como se verifica na tabela anterior, o peso dos três grandes do futebol
português é enorme. Eles suportam a indústria do futebol em Portugal e
suportam os outros Clubes pois muitas das receitas destes são devidas, de
forma indirecta, aos três grandes: receita de bilheteira de jogos com estes,
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
35
receitas extraordinárias pela venda dos direitos desportivos de jogadores a
estes Clubes, ...
O EGFP 2003 adianta, ainda, dois outros dados que são importantes. Primeiro,
28% dos adeptos que foram aos estádios de futebol no último ano foram
mulheres, o que é uma percentagem considerável. Na última final de um
campeonato do Mundo, estimou-se que 42% dos espectadores eram do sexo
feminino. Em segundo lugar, o SL Benfica é o clube com uma distribuição de
adeptos mais uniforme por todo o Portugal, enquanto o FC Porto se concentra
sobretudo no Grande Porto e o Sporting CP na Grande Lisboa.
Por outro lado, alguns dados representam uma ameaça. Um estudo relevado
pelo Instituto Português de Administração de Marketing em 2009 mostra que «à
medida que se desce na idade, há cada vez mais adeptos do FC Porto. E as
razões da escolha do FCP, em detrimento do Benfica ou Sporting não são a
influência familiar ou a proximidade geográfica, mas o mérito»10.
Assim, é fundamental que o SL Benfica, além de ser o maior, seja
indiscutivelmente o melhor.
10 Entrevista de Carlos Liz ao Jornal de Notícias de 25 de Março de 2009.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
36
2.2.3 - RECEITAS E DESPESAS
Vejamos cada fonte de receita ordinária que existe no futebol português
(2007/2008)
Tabela 7 – Receitas e Despesas do SLB, FCP e SCP em 07/08
SL Benfica FC Porto Sporting CP
Quotas 9.276€ n.a. 4.330€
Bilheteira e cativos 10.716€ 14.500€ 11.343€
Direitos de TV 8.409€ 7.100€ 10.000€
Prémios de competições 7.883€ 11.600€ 5.600€
Publicidade e patrocínios 9.726€ 9.100€ 6.400€
Merchandising 2.470€ n.a. n.a.
Nota: O FCP não consolida as receitas de quotização e merchandising nas contas da SAD.
O SCP não consolida as receitas de merchandising nas contas da SAD.
Fonte: Relatórios e Contas do FCP SAD, SCP SAD e SLB SAD 08/09.
QUOTIZAÇÃO
As receitas de quotização estão directamente ligadas ao número de sócios. A
iniciativa do Kit Sócio revelou-se certeira por ter permitido duplicar o número de
sócios do SL Benfica. Importa agora definir formas para fixar os sócios já
existentes, até porque em muitos casos, a decisão foi feita com bases
emocionais, mais do que racionais.
BILHETEIRA E CATIVOS
Tabela 8 – Preço médio de um bilhete e assistência média (07-08)
Liga Real Madrid MU ACM Feyenoord FCP SLB
Preço médio 35€ 40€ 21€ 25€ 19€ 18€
Assistência média 76.200 75.700 56.600 44.600 38.300 38.700
Nota: Para jogos das competições europeias.
Fonte: Citius, Altius, Fortius.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
37
Pela análise do quadro acima exposto é fácil compreender o fosso que separa
os grandes mercados dos pequenos mercados. Portugal, que tem a 15º liga
com maior assistência média da Europa, tem quatro ou cinco vezes menos
espectadores por jogo que os grandes mercados. Mesmo comparando com um
país com uma população pouco maior (a Holanda), a diferença é para mais do
dobro. Se a isto juntarmos os preços de um bilhete, o fosso aumenta ainda
mais pois Portugal não pode praticar os preços que são usados noutros
mercados com maior poder de compra. Só a melhoria dos espectáculos
desportivos e da qualidade e segurança dos estádios de futebol permite
aumentar o número de espectadores e justificar o do preço dos bilhetes, que
não pode ser aumentado num cenário recessivo.
MERCHANDISING
Tabela 9 – Receitas merchandising em 2002-2003
País/Liga Receita média por clube
(milhões euros)
Inglaterra / Barclays Premier League 8,6
Espanha / Liga BBVA 7,3
Alemanha / Bundesliga 7,1
Itália / Serie A 3,2
França / Ligue 1 3,2
Holanda / Eredivisie 3,6
Portugal / Liga Sagres 1,8
Nota: Para a Holanda só contaram os seis maiores clubes. Para Portugal só contaram os três maiores clubes.
Fonte: Football Finance.
As receitas relativas à venda de merchandising só são relevantes ao nível dos
três principais Clubes portugueses. Mesmo assim, o mercado português é
pequeno se comparado com os grandes mercados europeus, como se pode
ver pela comparação das receitas de merchandising. A diferença é abissal.
Contudo, pela sua implantação nacional e não regional e pelos adeptos que
espalhados pelo Mundo, o mercado potencial do SL Benfica é maior que
Portugal.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
38
DIREITOS TELEVISIVOS
Á situação em relação à venda de direitos televisivos é semelhante às
anteriores. Portugal não consegue gerar recursos comparáveis aos libertados
nas grandes ligas pela venda de transmissões televisivas dos jogos. Os
mercados de Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Espanha são muito maiores
e as receitas são também superiores (Fonte: Diário Económico).
No entanto, as receitas efectivamente libertadas pela Olivedesportos, o
intermediário que adquires os direitos da Liga sagres, para os clubes são muito
menores do que aquelas que efectivamente poderiam ser. Segundo Domingos
Soares de Oliveira, «os clubes portugueses receberam 42 milhões de euros de
direitos televisivos em 2007/2008, enquanto a Sport TV facturou cerca de 150
milhões de euros, só em assinaturas do serviço»11.
Há aqui, claramente, uma margem para obter maiores receitas pela venda dos
direitos televisivos a partir da renegociação dos contratos actualmente
vigentes.
2.2.4 - ESTRATÉGIA A SEGUIR
A solução para o mercado português passaria por uma procura do aumento
das receitas, sobretudo as ordinárias, e a contracção das despesas. Dado que
o mercado português é pequeno, o aumento das receitas nunca será capaz de
se equiparar aos grandes mercados europeus. Uma severa contracção das
despesas, a par da realização de receitas extraordinárias pela venda dos
direitos desportivos de jogadores formados nos Clubes, permitiria equilibrar as
contas mas aumentaria o fosso entre a competitividade do futebol português e
a competitividade dos grandes mercados europeus. Como conciliar a
sustentabilidade do futebol português com a sua competitividade?
Primeiro que tudo, os Clubes deveriam utilizar as linhas de acção genéricas
identificadas no capítulo anterior, nomeadamente o desenvolvimento de
receitas ordinárias e de novas oportunidades de negócio, a diversificação da
11 Prós e Contras, RTP1, de 23 de Março de 2009.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
39
oferta da marca, o controlo das despesas com pessoal e o investimento em
infra-estruturas. Contudo, para além disso, o futebol, português tem
especificidades que requerem uma acção particular:
Licenciamento de Clubes, seguindo o Manual de Licenciamento da
UEFA, para garantir a qualidade do espectáculo;
Abertura do mercado de jogadores entre os três grandes. O SL Benfica,
o FC Porto e o Sporting CP dominam o mercado de jogadores em
Portugal mas não realizam negócios entre si. Isto é contraproducente
porque exige que o estrangeiro seja a única solução para a alienação de
activos e não permite a compra de activos que poderiam ser um
investimento acertado;
Estratégia de marketing do produto “futebol” e do produto “Superliga”
eficaz e eficiente, o que não é feito, neste momento, de uma forma
minimamente aceitável;
Reestruturação das competições nacionais:
Campeonato (actual Superliga)
São os grandes jogos que dão receitas, tanto de bilheteira como pela venda
dos direitos televisivos. Assim, a solução passa pelo aumento destes jogos.
Uma liga a 10 clubes e 4 voltas proporcionaria 36 jornadas. Uma liga a 12
clubes e 3 voltas implicaria 33 jornadas. Uma liga a 16 clubes e 2 voltas implica
30 jogos. Nos últimos cinco anos a diferença pontual tem sido a seguinte:
Tabela 10 – Diferenças pontuais nos últimos campeonatos
Época 1º-10º 1º-12º 1º-16
04-05 21 24 31
05-06 35 39 45
06-07 34 37 47
07-08 34 37 56
08-09 36 40 47
Fonte: LPFP.
A melhor solução, para aumentar a competitividade e dada a realidade do
futebol profissional português, seria um campeonato restringido a 10 Clubes.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
40
Além de se aumentar a competitividade, garante-se que os clubes participantes
têm, efectivamente, capacidade para disputar competições profissionais.
Taça de Portugal: esta competição deveria ser aberta a toda e qualquer
equipa que dela quisesse participar (incluindo amadores), como se faz em
Inglaterra, bastando para isso inscrever-se na FPF. Assim se criaria a
verdadeira “festa da Taça”.
Taça da Liga: para aumentar o número de jogos entre as equipas maiores,
uma Taça da Liga deveria ser disputada entre os Clubes da Liga Profissional e
dos outros clubes que a ela queiram ter acesso e que garantam condições
prévias para a participação. Para promover a competitividade, a vitória na Taça
da Liga permitiria o acesso desportivo a uma competição europeia.
Sabemos que isto não chega. O futebol português está podre. Os dirigentes
são maus, herdeiros de um passado vergonhoso e que não querem deixar o
poder. Além disso, há uma série de actores a quem interesse um estado de
coisas bafiento. À cabeça, os empresários de futebol, que alternam entre o
vampirismo e a venda de pesadelos travestido de sonhos. Se antes
dominavam os jogadores, agora dominam os clubes enterrados em dívidas.
Depois, os jornalistas, mal preparados, com agendas próprias e com ligações a
determinados poderes que fazem com que a informação seja a desinformação.
Por fim, os árbitros, mal preparados e que, na maior parte dos casos, vagueiam
entre a incompetência e, eventualmente, a corrupção.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
41
PARTE III:
OPÇÕES ESTRATÉGICAS
PARA O SL BENFICA
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
42
A definição de uma estratégia para o SL Benfica tem de ter em conta três
dimensões: a sociedade em que o SL Benfica e o futebol se inserem e os
próprios SL Benfica e futebol. Estas dimensões são dinâmicas e interactivas.
Assim:
As opções estratégicas a tomar devem reflectir cada uma destas dimensões e
a sua dinâmica conjunta.
Proposta de organograma para o Benfica
Modalidade Formação
Modalidade Autónoma
Provedordo Sócio
Fundação Sport Lisboa e
Benfica
Benfica Estádio
Clínica Benfica
Benfica Multimédia
Benfica TV
Benfica Comercial
BenficaFutebol
Sport Lisboa e Benfica
Direcção-Geral Modalidades
SL BenficaFutebol
Sociedade
Direcção-Geral Negócios
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
43
A constituição desta nova organização, particularmente do grupo empresarial
(as sociedades constituídas sob a direcção-geral de negócios), implica que os
Estatutos sejam alterados para garantir que o SL Benfica controle sempre as
sociedades que crie. Assim, no Art. 2º, 3 dos Estatutos do SL Benfica, onde se
lê:
“O Sport Lisboa e Benfica poderá igualmente explorar, directa ou indirectamente,
actividades de carácter comercial, destinando-se as respectivas receitas ao
desenvolvimento dos seus objectivos.”
Deve ler-se:
“O Sport Lisboa e Benfica poderá igualmente explorar, directa ou indirectamente,
actividades de carácter comercial, sendo sempre maioritário nas sociedades que
constitua para o efeito, destinando-se as respectivas receitas ao desenvolvimento dos
seus objectivos.”
3.1 – O SL BENFICA NA SOCIEDADE: O DISCURSO E A IMAGEM
A imagem que um Clube projecta na sociedade condiciona as opções
estratégicas à sua disposição. Nos últimos anos a imagem do SL Benfica tem-
se degradado pela ausência de vitórias desportivas importantes, sobretudo no
futebol profissional.
Mas esta realidade não nos deve desanimar. Pelo contrário, se olharmos o
passado recente do SL Benfica verificamos que conseguimos afastar a imagem
de “mau pagador”, infelizmente merecida. Assim, é com confiança que
devemos definir objectivos.
A imagem actual é altamente prejudicial para o SL Benfica porque ataca o
intangível do Clube, o nome “Benfica”, afasta os adeptos e principalmente
afasta as próximas gerações de adeptos do SL Benfica. Assim, é prioritário
fazer passar uma nova imagem do Clube que assenta numa atitude positiva, de
orgulho e de vitória. Esta mensagem deve basear-se em dois pontos:
Se nos últimos dois triénios, “o SL Benfica foi devolvido aos
benfiquistas”, agora é a vez de “devolver o SL Benfica aos portugueses”.
Esta mensagem resume a ideia de que o SL Benfica é uma das
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
44
instituições que mais orgulho traz a Portugal e que os portugueses, e
não só os benfiquistas, devem sentir orgulho no SL Benfica;
O SL Benfica é um Clube de gente humilde, trabalhadora. Tudo o que
conseguiu erguer e vencer foi à custa do esforço dos benfiquistas e de
forma honrada. Desde sempre foi assim: nos primeiros 50 anos de
existência teve de mudar oito vezes de sede e oito vezes de campo de
jogos. Isso não colocou em risco o Clube. Pelo contrário, tornou-o mais
forte. E nunca devemos esquecer que os nossos propósitos são
elevados como o voo da águia.
Estas duas mensagens devem ser passadas de forma serena e apaziguadora,
mas firme e constante no discurso dos dirigentes.
O discurso dos dirigentes do SL Benfica tem de considerar que os seus rivais
são os maiores Clubes do mundo, como o Real Madrid ou o AC Milan, não os
Clubes portugueses como o FC Porto, o Sporting CP, os Belenenses ou o
Boavista. Estes são Clubes respeitáveis, mas não rivais. O SL Benfica não
precisa dos outros Clubes portugueses, são os Clubes portugueses que
precisam do SL Benfica. Se o SL Benfica cair numa rivalidade em Portugal
caminha para o declínio e contribui para valorizar os outros Clubes
portugueses.
O discurso deve ser coordenado. Devem ser definidas as mensagens a
transmitir em cada situação e estas devem ser partilhadas transversalmente
(às várias “vozes” do SL Benfica) para que haja uma só interpretação e um
discurso único para a sociedade.
Posto isto, uma consideração final. O discurso do «vou fazer isto por outro
lado»12 e da «beijoca»13 é totalmente inaceitável. É irrelevante o que se faz
noutros lados. São indiferentes as especificidades do futebol português. Estas
expressões e este modus operandi, independentemente da forma como o
12 Luís Filipe Vieira, à data presidente do SL Benfica, discutiu com Valentim Loureiro a nomeação do árbitro para o Benfica-Belenenses da Taça de Portugal, segundo o jornal Público de 8 de Setembro de 2006.13 José Veiga terá alegadamente conseguido que o campo do FC marco fosse interditado antes do jogo com o Estoril-Praia, SAD de que era accionista, através de pressão sobre Valentim Loureiro, segundo o Publico de 12 de Setembro de 2006.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
45
queiram embrulhar ou desculpar, enlameia a nossa História e envergonha-nos
a todos.
Se queremos honrar os ideais e o passado do Sport Lisboa e Benfica, temos
de defender a verdade desportiva em todas as situações. Assim, propomos
que, em nenhuma altura, algum elemento do Sport Lisboa e Benfica possa,
voluntária e conscientemente, atentar contra ela. Seja pelo não pagamento de
impostos ou de uma dívida, seja pela condução sob o efeito de substâncias
ielgais, seja pelo engano de um árbitro dentro de um campo, seja pelo tráfico
de influências ou pela corrupção. Se isso acontecer, é responsabilidade do SL
Benfica reparar o estrago feito e punir esse elemento de acordo com os
Estatutos e Regulamentos do Clube. Mais ainda, o Sport Lisboa e Benfica deve
liderar, apoiar e implementar todas as medidas tendentes a garantir o respeito
pela verdade desportiva, a honradez e a exemplar vida pública.
3.2 – O SL BENFICA
3.2.1 – O SPORT LISBOA E BENFICA
O eixo fundamental de toda a instituição deve ser o Sport Lisboa e Benfica –
Clube. Os órgãos sociais, eleitos em representação dos associados,
comandarão toda a actividade e todos os negócios que recaíam sobre o nosso
emblema.
Os órgãos sociais devem ser os primeiros e os maiores respeitadores dos
associados. Por eles foram eleitos e de entre eles foram escolhidos. Quem se
esquecer disso não merece a responsabilidade do cargo que ocupa.
Os Sócios
Os sócios são o Sport Lisboa e Benfica. Não são clientes do Clube, nem são
seus donos. São o próprio Sport Lisboa e Benfica. É fundamental dar-lhes a
importância e a dignidade que eles merecem.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
46
A campanha do Kit Sócio é uma boa ideia, mas tende a esgotar o sócio num
voucher ou num livro com vantagens. Ter um cartão de sócio do SL Benfica
não é a mesma coisa que ter um cartão de desconto do Continente. Os sócios
do SL Benfica têm de saber que, com os direitos, vêm os deveres,
preconizados pelos nossos fundadores. Ser sócio do SL Benfica é, mais que
uma escolha racional, uma adesão a um ideal. Se tivemos o Vale e Azevedo foi
porque nos demitimos da nossa função escrutinadora. Deixámos de pensar por
nós próprios. Se endeusamos o Reyes antes de ele dar um pontapé na bola é
porque pedimos ao Record para pensar por nós. Se perdemos um jogo contra
o Trofense é porque nos demitimos da nossa cultura de exigência e vivemos
arrogantemente com a cabeça enfiada na areia. Se há antigos atletas que
passam fome ou estão sozinhos é porque não respeitamos o passado. A culpa
não é dos outros. A culpa é nossa. Nós somos o Sport Lisboa e Benfica. As
qualidades e defeitos do Clube são as nossas qualidades e defeitos.
Assim, defendemos que o SL Benfica precisa de mais sócios, mas precisa de
melhores sócios.
A massa de adeptos deve ser alargada para garantir a sobrevivência do Clube.
Esta estratégia deve ser dual:
A nível nacional: o SL Benfica é o único Clube com uma implantação
nacional relativamente uniforme. A manutenção desta tipologia e ao
aumento dos adeptos faz-se por:
o Vitórias desportivas, fundamentais neste momento;
o Disputa de jogos por todo o Portugal nas várias modalidades para
aproximar o Clube dos adeptos;
o Desenvolvimento do conceito de “família benfiquista”,
considerado pelos estudos de opinião como o factor mais
importante na conquista de adeptos. As várias iniciativas do
Clube devem reflectir isto mesmo;
o Atenção especial aos adeptos do Porto e do norte. O discurso
“anti-tripeiro” está errado. O carácter nacional do SL Benfica e o
“orgulho português no SL Benfica” têm de se reflectir num
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
47
cuidado especial com os adeptos do Porto e do norte. Perder o
norte é perder a implantação nacional.
A nível internacional: alargamento da massa de adeptos na:
o Europa e América: esforço junto das comunidades de luso
descendentes;
o África: esforço prioritário junto dos PALOP pois significa um
investimento com retorno no futuro;
Propomos a formação de parcerias com alguns patrocinadores-chave (como a
Sagres e a PT, por exemplo) para acompanhar o processo de
internacionalização dessas marcas, sobretudo em mercados–alvo como os
africano e americano.
Depois de atingida a marca de «maior clube do mundo», o SL Benfica deve
parar para reflectir sobre formas de retenção dos sócios que tem. E não deixar
de atrair para si mais e mais associados.
Neste sentido, o conjunto de vantagens proporcionadas pelo cartão de sócio
deve ser permanentemente reformulado e aumentado.
Além disso, as vantagens proporcionadas pelo cartão devem contemplar a
entrada de novos sócios, mas também dar vantagens para aqueles que se
fidelizam ao emblema e continuam como sócios durante muitos anos (ex.: a
percentagem de desconto na loja da Adidas no Estádio da Luz ser igual ao
número de anos de sócio).
Nesse sentido e pelo que representam para a instituição, propomos que todos
os sócios que tenham bigode, terão direito a um desconto de 5% na aquisição
de lugares cativos14.
Propomos que o kit sócio seja gratuito (com oferta da primeira mensalidade) a
quem accionar o débito directo e pagar de uma só vez o primeiro trimestre de
quotas. No fundo, paga dois meses, recebe três de quotas e ainda fica com o
kit grátis.
14 Entendemos como bigode, um conjunto de pelos faciais com não menos de 0,5 centímetros de comprimento, situado entre o lábio superior e o nariz. Esta regra é valida para sócios do sexo masculino e do sexo feminino.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
48
Propomos a figura do «recuperador» do sócio. Este recuperador entra em
contacto com todos os sócios que se atrasem no pagamento de dois meses de
quotas. Tem de perceber as razões do atraso e tentar recuperá-lo, através de
novos contacto, oferta de visitas ao Estádio ou ao Caixa Futebol Campus, etc.
Para sócios até aos 14 anos, devemos encontrar formas de os reter e desejar
ser sócios. Muitas vezes, são-no porque os pais assim o desejaram. Está na
hora de eles assumirem essa condição por eles próprios. Ex.: ante-estreias
gratuitas de filmes da Pixar-Disney, entrega de samples de material escolar em
Setembro, acompanhados de um catálogo para encomendar material oficial do
SL Benfica.
Em regra geral, um jogo do SL Benfica, sobretudo em futebol, é um subsídio
que o Clube dá a outros emblemas. Enche o estádio do adversário ou, pelo
menos, dá-lhe uma boa receita de bilheteira. Uma vez que esse benefício, que
tem origem nos benfiquistas, não pode ser constituído como proveito, é
necessário encontrar uma forma de internalizar essa externalidade. Assim, é
constituído o conceito de Benfica On Tour, que oferece além do bilhete de jogo
um pacote de viagem. Este conceito é muito diferente da actual Benfica
Viagens, que mais não faz do que roubar os desgraçados que acompanham o
SL Benfica através de uma parceria que o nosso Clube fez com a (pasme-se)
tristemente conhecida Cosmos.
Através de um protocolo com a CP e com restaurantes, pousadas e hotéis da
região onde o SL Benfica jogue, será possível aos sócios e adeptos do Clube,
acompanhados da sua respectiva família, estarem com a equipa e terem um
fim-de-semana de escapadela. As Casas terão aqui um papel importante para
encontrar os respectivos parceiros locais.
Desta forma, é possível ao Clube ganhar algo de uma situação (bilhetes fora)
em que dificilmente tirará vantagem.
Lançamento do «Depósito Campeão» em parceria com um banco ou um
sindicato de bancos. O sócio pode investir num depósito que se destina a servir
de fundo de tesouraria da actividade do Clube nesse ano. Se o SL Benfica for
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
49
campeão nacional de futebol paga “euribor + 1%” aos sócios que colocaram
dinheiro nesse fundo. Se não for campeão, devolve o capital investido.
Lançamento da «despesa de campeão». Se o SL Benfica for campeão nacional
de futebol, devolve 5% das despesas feitas por esse sócio em cativos, bilhetes
e compras nas megastores do Estádio na época que passou num voucher de
desconto válido para a época seguinte.
O SL Benfica e o desporto português
Ao mesmo tempo, o Sport Lisboa e Benfica deve liderar um processo de
aproximação aos outros Clubes portugueses, nomeadamente o Sporting CP e
o FC Porto. Não faz sentido que as maiores potências do desporto português
vivam permanentemente de costas voltadas.
Assim, honrando a memória dos nossos fundadores, defendemos o profundo
respeito pelos emblemas dos nossos adversários, assim como pelos valores
que eles professam.
Ao mesmo tempo, condenamos o clima de guerrilha permanente que se vive
no desporto português. A guerrilha é caracterizada por um endurecimento das
condições de combate e pela utilização de métodos não convencionais ou de
armas não tradicionais, que levam a que um adversário, mais forte no plano
material, se torne mais fraco pela debilidade da sua força moral. O SL Benfica
é o maior Clube português. Mas não é o mais ágil, unido e flexível. A táctica de
guerrilha não o favorece. Há quem o saiba muito bem. Pelos vistos, os
benfiquistas não se aperceberam disso ainda.
Como sabemos que é impossível entrar em contacto com alguns presidentes
de Clubes mais caducos e arreigados a tácticas do passado, advogamos que
os presidentes das Assembleias-Gerais comecem a sentar-se à mesma mesa
e promovam o diálogo15 inter-clubes.
15 Depois, lembrámo-nos que o presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Sporting é o Dias Ferreira.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
50
Para simbolizar essa pacificação, propomos que o SL Benfica lidere um
movimento de homenagem a alguns atletas que representaram uma época do
futebol português. Assim, propomos a realização de um jogo de homenagem
aos seguintes atletas:
- Vítor Baía, o guarda-redes mais titulado do futebol português e que, apesar
de ter feito grande parte da carreira no FC Porto, até era do Benfica em
pequeno. O seu exemplo como atleta e como homem merece essa
homenagem pelo nosso Clube;
- Luís Figo: um dos melhores jogadores portugueses de sempre e que foi
considerado o melhor jogador do mundo. Por tudo o que fez, merece essa
homenagem;
- João Pinto: o nosso capitão. Levou uma equipa do Benfica às costas, quando
não fomos capazes de cumprir o nosso ideal e de estar à altura das nossas
responsabilidades. Um símbolo maior do SL Benfica;
- Rui Costa: um exemplo de amor ao Benfica. A sua despedida foi emotiva,
mas merece tomar parte desta homenagem.
O SL Benfica e o seu passado
Para fomentar a solidariedade entre os atletas do SL Benfica, propomos a
constituição de um fundo específico, cujas receitas provenham do orçamento
para o futebol profissional. Assim, 0,1% do orçamento para o futebol será
direccionado, todos os anos, para a constituição de um fundo de apoio aos
antigos atletas do Sport Lisboa e Benfica que se encontrem em situações de
debilidade financeira ou de saúde.
Ao mesmo tempo, o Caixa Futebol Campus reservará dois quartos para antigas
glórias do Clube que precisem de um alojamento e de cuidados médicos.
Assim, garante-se que o SL Benfica consegue responder a solicitações deste
tipo, ao mesmo tempo que os jovens jogadores conheçam as histórias e a
mística do Clube pelo convívio diário com quem transporta as cicatrizes e as
rugas da glória benfiquista.
As Casas do Sport Lisboa e Benfica
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
51
O trabalho que tem sido feito no desenvolvimento das Casas do Benfica é
meritório e válido. Permite uma implantação nacional e até internacional do
Sport Lisboa e Benfica, ao mesmo tempo que agrega em lugares distantes os
benfiquistas e os portugueses.
A uniformização da imagem das Casas e a profissionalização dos seus
dinamizadores são passos no caminho correcto. Ao mesmo tempo, devem ser
segmentados algumas tipologias de casas, tendo em conta a sua localização
geográfica, dimensão e capacidade de trabalho. E consoante essa
segmentação, as Casas teriam acesso a diferentes ofertas da marca Benfica
por forma a aumentar as receitas de merchandising, bilhetes e a conquista e
manutenção de novos sócios. Assim, as Casas deveriam ter acesso a bilhetes
e merchandising em condições preferenciais, desde que cumprissem com a
venda de determinados objectivos acordados previamente.
Para as casas maiores, nomeadamente as de fora de Portugal, seria
importante definir um modelo de franchising de restauração, ao estilo de um
Planet Hollywood ou Hard Rock Cafe ou mesmo o Red Cafe do Manchester
United. Uma espécie de «Terceiro Anel» da restauração.
As Casas também deverão ser responsabilizadas pelo acompanhamento das
equipas e dos adeptos do Sport Lisboa e Benfica, aquando das suas
deslocações pelo País e estrangeiro.
Propomos um Congresso Anual das Casas.
É escolhido um tema anual e as Casas são convidadas a reflectir sobre ele.
Contudo, o Relatório final abarcará todos os temas que as Casas desejem.
Durante os três meses que o antecedem, as Casas são convidada a dar os
seus contributos e é escolhida uma Casa que funcionará como redactora. O
Congresso aprovará esse documento final que servirá para guiar a acção da
Direcção.
Assim, todas as Casas podem participar neste Congresso, mesmo aquelas que
não tenham disponibilidade de tempo ou financeira para participarem no
Congresso podem dar os seus inputs.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
52
3.2.2 – A FUNDAÇÃO SPORT LISBOA E BENFICA
Respondendo ao ideal casapiano fundador do Sport Lisboa, o SL Benfica
honrar a constituição da Fundação Sport Lisboa e Benfica que, de acordo com
o Art. 2º dos Estatutos, desenvolverá um trabalho social e cultural,
representando a ponte de ligação entre o Clube a sociedade.
A Fundação deve desenvolver actividades:
Desportivas:
o Clínicas de Desporto: desenvolvimento de clínicas de desporto
para jovens, nomeadamente de futebol e de basquetebol, durante
as férias escolares (Natal, Páscoa e Verão), com o objectivo de
combater a ausência de actividades durante estes períodos,
formando-os como pessoas, integrando os encarregados de
educação neste processo. Os jovens carenciados e os naturais
dos PALOP serão um alvo preferencial destas clínicas. Estas
clínicas podem ainda ter um papel fundamental na integração de
imigrantes e filhos de imigrantes em Portugal, usando uma
linguagem universal, o desporto, para os integrar na sociedade e
fazer desenvolver competências ao nível da língua portuguesa.
o Programas de Verão: desenvolvimento de programas itinerantes
de prática desportiva, nomeadamente ao nível do futebol e
basquetebol. O objectivo é a promoção do SL Benfica, fomentar a
prática do desporto e a descoberta de novos valores desportivos.
Assim, com o auxílio de patrocinadores, monta-se uma feira
itinerante ao estilo dos “beach games” ou dos “urban games” que
divulgará a marca SL Benfica e que promoverá a prática de
desporto adaptada à logística dos locais, nomeadamente a praia.
Culturais:
o Concurso de Ensaio sobre o SL Benfica: implantação de um
concurso anual para o melhor ensaio sobre o SL Benfica, ao nível
da investigação histórica, sociológica, económica ou outra. A
divulgação deste Concurso nas Universidades, proporcionando
um prémio pecuniário, poderá ter grande adesão.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
53
o Biblioteca de futebol em parceria com uma Universidade:
implantação da melhor biblioteca especializada em futebol do
Mundo.
o Patrocínio de Disciplinas, Cursos de Pós-Graduação ou
Mestrados em Gestão Desportiva, usando o know-how do SL
Benfica, em parceria com Universidades portuguesas.
o Organização de Conferências sobre Desporto e sobre o SL
Benfica, em parceria ou isoladamente.
o Publicação de uma Revista de Estudos sobre Desporto e sobre o
SL Benfica, de carácter semestral, em parceria ou isoladamente.
o Desenvolvimento de um Centro de Documentação que reunirá,
inventariará, recuperará e explorará todos os documentos do
Clube, e que servirá de apoio para especialistas e investigadores.
Servirá, ainda, de apoio para o Museu do Clube.
o Gestão do Museu do Clube.
Sociais:
o Avaliação de pedidos de auxílio enviados ao SL Benfica, que
surgem frequentemente pelas mais diversas razões.
3.2.3 – PROVEDOR DO SÓCIO DO SPORT LISBOA E BENFICA
A instituição do Provedor do Sócio procuraria responder aos anseios e
reclamações dos Sócios do SL Benfica. Sem ter poderes de decisão seria uma
entidade independente, capaz de funcionar como um elo de ligação entre os
sócios e os corpos dirigentes. A sua missão seria a de receber todas as
reclamações dos associados, estudá-las, avaliar a sua pertinência e procurar
resolvê-las junto dos organismos competentes.
3.2.4 – O FUTEBOL DO SPORT LISBOA E BENFICA
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
54
O conceito de SAD não trouxe nada de novo ao futebol português. Em
determinada altura serviu para alavancar financeiramente os Clubes – que
estavam falidos – através da entrada de capitais e pela libertação de
determinados passivos que ficaram no «Clube». Alguns anos volvidos, verifica-
se que nada de relevante mudou: os problemas estruturais mantêm-se, um
dirigismo vincadamente trauliteiro ganhou raízes e a liquidez bolsista é
inexistente. Assim, é altura de reflectir sobre as razões e as vantagens de
manter a SL Benfica Futebol SAD.
A profissionalização da estrutura gestora e a transparência na informação para
o mercado e para os associados não depende de uma CMVM, mas apenas dos
desejos e acções dos seus dirigentes.
Talvez seja altura de pensar numa dissolução da SAD. O Benfica é dos sócios,
não é dos accionistas ou dos credores. A Benfica SAD compromete o
intangível do Clube.
Assim, propõe-se que o SL Benfica realize uma OPA sobre a SL Benfica
Futebol SAD a um preço que garantisse um prémio de 20% sobre o preço
médio de mercado dos últimos seis meses das acções. Sabendo que muitos
associados investiram as suas economias na SAD, numa opção emocional, a
diferença desse preço oferecido para os 5 euros de valor nominal dos títulos,
por cada acção detida, seria convertida em créditos para a compra de produtos
licenciados ou de cativos no estádio e bilhetes nos Pavilhões, durante o
próximo triénio.
Propomos que o futebol do Sport Lisboa e Benfica esteja organizado da
seguinte forma:
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
55
A Direcção Executiva seria encabeçada por um CEO. Teria como função
coordenar toda a actividade do futebol, assumindo também a responsabilidade
de gerir o marketing e a comunicação do futebol. Assim, faz todo o sentido que
a estrutura da Direcção Executiva do Futebol seja coincidente com a estrutura
da Direcção-Geral de Negócios.
Propomos que existam dois critérios para escolher os profissionais que
trabalham no Sport Lisboa e Benfica16:
- Competência;
- Respeito pelo Sport Lisboa e Benfica.
A Direcção Desportiva teria a seu cargo toda a actividade desportiva,
nomeadamente a gestão de:
Equipa técnica, com ligação ao futebol de formação;
Plantel de jogadores profissionais;
Departamento médico;
Gabinete de prospecção, nacional e internacional. Deverá haver, pelo
menos, um elemento do Gabinete de Prospecção em cada distrito (a
nível nacional) ou Estado (a nível internacional) onde existam Casas do
Benfica. É fundamental o envolvimento das Casas no projecto da
Prospecção. As Casas terão acesso a um procedimento que deve ser
levado em conta para acompanhar um atleta (determinação do seu
16 Como é óbvio, o Domingos Soares de Oliveira é um elemento que deve ser retido.
Direcção do SL Benfica
Direcção Executiva
Direcção Desportiva
Direcção Planeamento
Direcção Financeira
Direcção Jurídica
ComunicaçãoMarketing
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
56
talento, personalidade, honradez, vontade em ingressar no SL Benfica,
…);
Equipas técnicas da formação;
Planteis da formação.
A Direcção de Planeamento tem a seu cargo a análise estatística do SL
Benfica e de outros Clubes e competições, de Portugal e da Europa, a gestão
logística, as relações públicas e o desenvolvimento de novos projectos.
A Direcção Financeira, a Direcção Jurídica, a Direcção de Marketing e a
Direcção de Comunicação têm a seu cargo as tarefas decorrentes da sua
denominação.
A gestão do futebol do Sport Lisboa e Benfica terá de obedecer a determinados
critérios.
Em primeiro lugar, a definição do jogador à Benfica, seja qual for a sua idade,
faz-se preferencialmente por:
- ser formado pelas escolas do SL Benfica;
- ter nacionalidade portuguesa;
- ter uma personalidade vincada, com honradez, capacidade de trabalho e
sofrimento;
- ter talento;
- ter respeito pelo SL Benfica;
- ter respeito pelo futebol.
Em segundo lugar, quem não quer estar no SL Benfica de alma e coração tema
abertas as portas de saída, desde que defendidos os superiores interesses do
Clube. O SL Benfica nunca ficará refém dos desejos de ninguém. O Clube é
sempre maior que o atleta ou o profissional.
Em terceiro lugar, quem não revelar um comportamento digno da camisola que
enverga – dentro e fora do campo – não pode ser jogador do SL Benfica.
Em quarto lugar, os jogadores e equipa técnica do SL Benfica têm um horário
de trabalho que deve ser cumprido à risca. Quando o trabalho específico do
futebol não requer todas as horas do seu dia, há actividades relacionadas com
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
57
os patrocinadores e com a responsabilidade social que não podem ser
descuradas.
Em quinto lugar, os jogadores do SL Benfica têm de ser melhores que todos os
outros porque (e a ordem não foi colocada ao acaso):
- Trabalham mais;
- Têm mais vontade;
- Têm mais talento.
Para a equipa de futebol profissional, defendemos a assinatura de um contrato
de longo prazo com o Senhor Álvaro Magalhães. Este contrato estipularia que
ele desempenharia funções de treinador-adjunto permanente, não dependendo
das equipas técnicas contratados e não podendo ser treinador principal da
equipa. O Senhor Álvaro Magalhães tem a responsabilidade de acompanhar e
ajudar as várias equipas técnicas do Clube e de se colocar junto à linha em
todos os jogos a gritar o que achar melhor para dentro do campo.
Ao mesmo tempo e por razões evidentes, defendemos a rescisão imediata do
contrato com os Senhores:
- Jorge Gomes17, responsável de prospecção;
- Paulo Gonçalves18, responsável jurídico;
- Jorge Ribeiro19, atleta.
O SL Benfica deve:
A nível internacional:
o Fazer pressão para ser convidada a integrar o G-14, beneficiando
do prestígio, informação e influência que este lobby representa;
o Estudar as hipóteses existentes para o futuro do futebol europeu
ao nível da criação de uma Superliga Europeia, dentro ou fora do
âmbito da UEFA. O SL Benfica deve ter uma atitude proactiva e
não reactiva; 17 Não percebemos o que ele faz na SAD: http://www.youtube.com/watch?v=gDkL1XYbL_U18 O que é que ele faz mesmo, além de enviar e receber SMS?19 Um Clube que não se dão ao respeito, nunca será respeitado. Se alguém insulta os sócios, dirigentes e atletas do Clube, no decurso de um Varzim-Benfica, nunca mais merece vestir aquela camisola.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
58
A nível nacional:
o Formar um grupo de trabalho para aplicar as directrizes do
Caderno de Encargos da UEFA no SL Benfica e liderar a
discussão a nível nacional;
o Desenvolver esforços para abrir o mercado de transferência de
jogadores entre o SL Benfica, o Sporting CP e o FC Porto.
o Reformular a organização do futebol português: o aumento das
receitas dos Clubes portugueses implica que haja uma
reorganização do futebol, tornando-o mais competitivo e apelativo
e fazendo com que as regras, servindo a todos, isto é, mantendo
a solidariedade entre Clubes, sejam cumpridas por todos. Neste
sentido, indicamos algumas mudanças.
A) Reformulação das competições
A Liga Sagres deve ser reduzida para 10 Clubes, encontrando uma fórmula
que, com este número de Clubes, permita que cada equipa dispute cerca de 36
jogos. Só com este número de Clubes podemos encontrar um nível de
espectáculo que atraia os adeptos, tanto para os recintos desportivos como
para as transmissões televisivas. Ao mesmo tempo, para disputar a Liga
Sagres, um Clube tem de ser licenciado para tal, cumprindo os requisitos de
um caderno de encargos fornecido pela Liga. Este Caderno deve ser inspirado
no Manual de Licenciamento da UEFA, e consideramos como critério
fundamentais:
Desportivo: tem de se classificar, nas provas do ano anterior, numa
posição que lhe permita o acesso à Liga Sagres do ano seguinte;
Infraestrutural: tem de possuir um Campo de futebol que aceite os
critérios impostos pela Liga. Se não o possuir, terá de alugar um Campo
que obedeça a esses critérios. Só assim se garante a existência de
público suficiente nos Estádios para sustentar os Clubes envolvidos (e
não só quando os “grandes” os visitam), devido à segurança e qualidade
do espectáculo oferecido e se garante a qualidade e beleza das
transmissões televisivas.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
59
Administrativo: tem de possuir uma determinada estrutura administrativa,
nomeadamente um gabinete de apoio à imprensa e um gabinete
jurídico.
Jurídico: tem de ser um Clube ou uma SAD em conformidade com os
regulamentos da LPFP.
Financeiro: tem de provar possuir recursos financeiros que lhe permitam
sobreviver durante o período em causa sem pôr em risco o pagamento
de dívidas contraídas. Só assim se garante a sustentabilidade do
negócio e que todos os Clubes estejam numa situação de igualdade.
Estes critérios não terão de ser aplicados de imediato e na totalidade pois
poderão ser aplicados gradualmente mas num período de tempo não muito
lato.
Deve ser implantada uma Taça da Liga, disputada entre os Clubes
pertencentes à LPFP, pois desta forma se aumentariam o número de jogos
entre as principais equipas portuguesas e o número de jogos com relevância
para os adeptos (meias-finais, finais), aumentando as receitas de bilheteira e
de transmissão televisiva.
B) Desenvolvimento do produto “Liga Sagres”
As transmissões televisivas devem ser homogeneizadas para que os adeptos,
portugueses e estrangeiros, facilmente identifiquem o produto “Liga Sagres”.
Assim, o grafismo dos jogos de futebol deve ser o mesmo, independentemente
do canal de televisão que o transmita, a par de um sinalizador no canto do ecrã
de que é um jogo da Liga Sagres. Este sistema existe já na transmissão da
Liga dos Campeões e pode ser criado através de um acordo com os canais de
televisão portugueses.
A LPFP deve, ainda, em comum acordo com as televisões portuguesas,
realizar um programa semanal sobre a Liga Sagres, ao exemplo do que se faz
com a NBA e com a Liga dos Campeões.
Da mesma forma, para vender o produto, deve ser organizado uma Comissão
que, de acordo com critérios objectivos estabelecidos pelos diversos actores do
futebol (Clubes, LPFP, FPF, jogadores, treinadores, árbitros e jornalistas)
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
60
estabeleça um Ranking de Clubes mensal (a exemplo do que faz a IFFHS) e
um MVP por jornada e anual.
Para aumentar a competitividade da equipa, a formação de jogadores assume-
se como fundamental. Assim, quando se perspectiva a saída de um jogador da
equipa profissional para realizar mais-valias, a formação deve investir em
jogadores que actuem na mesma posição que esse jogador.
A Direcção de Planeamento de Futebol SL Benfica deve definir novas
oportunidades de negócio e investir no seu desenvolvimento.
O SL Benfica deve constituir um gabinete que acompanhe os jogadores da
equipa profissional, durante as 24 horas do dia. Desde a compra ou
arrendamento de uma casa até à definição de regras de conduta, os jogadores
devem ser saber que o Benfica os apoia e controla. Se for preciso com
pulseiras electrónicas ou trelas fluorescentes. Eles estão no Benfica para
treinar e jogar á bola, não é para dar entrevistas, fazer capas de jornais e sair à
noite. Estamos fartos de meninos mimados que nunca ganharam nada na vida
e se comportam como vedetas da bola. Estamos farto de meninos que acham
que são maiores que o Clube. Vedetas são o Cavém, o Senhor Coluna e o
Carlos Manuel. Os jogadores do plantel do Benfica têm de perceber que não
são ninguém comparados com aqueles que os precederam. A eles cabe-lhes a
difícil responsabilidade de honrar a camisola que envergam.
Propomos a venda do «patrocinador do jogo» que terá direito a estar presente
em vários meios que passarão a sua mensagem: ecrãs gigantes, momento do
intervalo, momentos antes do jogo, na análise ao jogo no site do SL Benfica e
na Benfica TV aquando da transmissão, retransmissão e análise do jogo.
QUOTIZAÇÃO E BILHETEIRA
Os dias de jogos devem ter motivos para atrair o público ao complexo
desportivo para além do futebol. Os adeptos têm de se sentir atraídos pela
qualidade do jogo e por outros motivos de interesse. Além disso, como já foi
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
61
referido, é fundamental prestar outros serviços aos espectadores dos jogos
para conseguir um aumento das receitas.
O incentivo às famílias para que vão juntas ao futebol é essencial porque
aumenta o número de espectadores e fixa os jovens como adeptos do SL
Benfica. O estudo realizado pelo IPAM (e já referido neste documento) indica
que, nos últimos tempos, a ida ao futebol se faz em grupo de amigos, mais do
que em família, como antigamente.
Assim, é fundamental a elaboração de um estudo sobre o que leva e o que
levará os adeptos aos jogos. Cada jogo do SL Benfica deve ser uma festa.
Como exemplo de acções para levar a cabo temos:
O bilhete (ou os bilhetes mais caros) deve incluir uma brochura sobre o
jogo ou então esta seria posta à venda;
Cada jogo terá direito ao seu cachecol comemorativo;
Fomentar os jogos em horários que sejam racionalmente explicáveis. O
SL Benfica tem uma mancha adepta distribuída por todo o País. É dos
três grandes o que mais sofre com os jogos às nove da noite de um
Domingo ou Segunda-Feira, fruto da ditadura nojenta da Sport TV.
Assim, é urgente, recuperar o poder para marcar os jogos em horários
que permitam às famílias, amigos e casas do Benfica deslocarem-se em
festa até ao Estádio da Luz;
Coordenar os bilhetes para determinados jogos com descontos ou
ofertas em restaurantes e hotéis. Por exemplo: na apresentação de
quatro bilhetes para um jogo do SL Benfica, o quarto McMenu é grátis;
O bilhete pode incluir um sorteio de produtos ou serviços associados ao
SL Benfica. Deve estabelecer-se parcerias com os sponsors oficiais para
estes prémios;
Deve investir-se no conceito “Super Águias”, ao nível do que é feita com
as claques organizadas dos EUA. As cheerleaders são uma fonte de
receita importante para os Clubes da NFL (participação em espectáculos
e venda de posters);
Música e concursos nos intervalos (ex.: penalties contra guarda-redes
juniores ou velhas glórias do Clube);
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
62
Introdução do Cativo Dourado: um leilão, com base de licitação em
25.000 euros, para um lugar cativo – para os jogos em casa – que fique
no banco de suplentes.
Quem tiver um lugar cativo e assistir a todos os jogos em casa da Liga Sagres
terá direito, no final da época a uma camisola oficial da época que passou pelo
preço de 5 euros.
Deve existir um bilhete cativo especial em que, por um valor ligeiramente
superior (25%, por exemplo), se pode assistir, também, a todos os jogos das
modalidades nos Pavilhões da Luz.
3.2.5 – DIRECÇÃO-GERAL DAS MODALIDADES
As modalidades são um pilar essencial do Sport Lisboa e Benfica. Abdicar
delas é abdicar do Sport Lisboa e Benfica.
A Direcção-Geral das Modalidades tem como função liderar toda a actividade
das modalidades do Sport Lisboa e Benfica.
Neste novo organograma o eixo continua a ser o SL Benfica. Tem a seu cargo
os serviços administrativos e as modalidades chamadas de “formação”,
nomeadamente o Atletismo, Bilhar, Ciclismo, Ginástica, Golfe, Judo, Natação,
Pesca Desportiva, Surf, Ténis de Mesa, Tiro com Arco e Triatlo. O SL Benfica
tem a obrigação de as apoiar a nível logístico e procurar formas de
financiamento para que isso não acarrete desequilíbrios financeiros para o
Clube.
As modalidades autónomas, nomeadamente o Andebol, Basquetebol, Futsal,
Hóquei em Patins, Rugby e Voleibol seriam incorporadas no organograma de
forma diferenciada.
Estas modalidades teriam a exclusiva responsabilidade de encontrar as suas
receitas e definir as suas despesas, tendo uma gestão autónoma do Clube,
mas reportando a um Director-Geral, que garante a coordenação dos esforços.
Este Director-Geral define as acções de marketing (incluindo os planos para o
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
63
merchandising), bilhética e a logística, que devem ser coordenadas com o SL
Benfica para que se possam constituir sinergias e se evitem as duplicações de
esforços. Além disso, cada uma destas modalidades deve definir um plano de
formação para que os atletas do SL Benfica sejam cada vez mais oriundos das
escolas e identificados com os valores do Clube. Se a «modalidade autónoma»
não tiver capacidade para viabilizar a formação, ela será efectuada pela
direcção de «formação».
Devem ser definidos a cada quadriénio, um conjunto de atletas olímpicos que
serão apoiados pelo Clube de forma diferenciada e com objectivos definidos: o
Projecto Francisco Lázaro.
Propormos o desenvolvimento do patrocinador oficial da modalidade. Ano após
ano, as modalidades não têm patrocínios (sobretudo o hóquei, o voleibol, o
basquetebol e o andebol). Têm de ser encontrados patrocínios para essas
modalidades.
3.2.6 – DIRECÇÃO-GERAL DE NEGÓCIOS
A direcção-geral de negócios será uma estrutura operacional e executiva que
terá a seu cargo a gestão das sociedades comerciais em que o SL Benfica
tenha participações.
A sua actividade deve ser transversal ao Clube, procurando sinergias e
aumentos de massa crítica.
3.2.7 – BENFICA ESTÁDIO
O SL Benfica deve tornar-se uma indústria de lazer para aproveitar o complexo
desportivo nos dias em que não há jogo. As infra-estruturas desenvolvidas à
volta do novo Complexo Desportivo (estádio, museu, megastore, pavilhões,
restaurantes, área comercial) devem proporcionar aos adeptos um contacto
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
64
permanente com o SL Benfica para rentabilizar a infra-estrutura e aumentar as
receitas. Além daquilo que é oferecido pela restauração, lojas e megastores
podem ser constituídas duas âncoras:
O museu pode organizar actividades interactivas para adeptos,
essencialmente jovens e crianças;
As actividades organizadas podem ser divididas em:
o Regulares: visitas aos interiores do complexo, jogos para escolas
nas instalações do Clube, ...;
o Esporádicas: experiências anteriores como o Dia do Benfiquista
podem ser desenvolvidas e repetidas, com o cuidado de abrir o
Clube ao mundo e não o fechar sobre si mesmo (“devolver o SL
Benfica aos portugueses”).
Tendo em atenção o estado do futebol português nos últimos 30 anos, a acção
dos dirigentes políticos e desportivos durante este lapso e os recentes
desenvolvimentos decorrentes do Apito Dourado, propomos que o Sport Lisboa
e Benfica não esteja disponível para ceder o seu Estádio para a candidatura da
FPF à organização conjunta do Mundial de 2018.
Deve ser promovida uma campanha de mobilização de sócios e adeptos para a
conclusão do Estádio do Sport Lisboa e Benfica20, a dois tempos. Primeiro, um
debate sobre o que se pode fazer nas paredes exteriores para darem à
Catedral a dignidade que ela merece. Em segundo lugar, mobilizar sócios e
adeptos, para que, à semelhança do Estádio antigo, sejamos nós, pelo nosso
braço e suor a realizar essas obras.
Propomos que as obras sejam feitas pelos sócios e adeptos por uma questão
pedagógica. O objectivo não é poupar dinheiro. O objectivo é envolver os
benfiquistas, fazê-los vencer vergonhas e dificuldades e, à imagem dos nossos
pais e avós, podermos, mais tarde, olhar para a Catedral e dizer que ali está
um pouco de nós.
20 Que é impossível considerar-se acabado assim como está. O Estádio é tão cinzento como o futebol praticado pela equipa.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
65
Ao mesmo tempo, o interior do Estádio – as paredes das escadas, os átrios –
deverá estar repleto de mensagens de apoio ao Benfica e de recordações de
momentos gloriosos do Clube. Caberá aos sócios decidir que mensagens e
que imagens serão seleccionadas e a forma como elas serão expostas.
A Praça Centenário tem um potencial demasiado grande para não ser
aproveitado. As suas reais possibilidades ainda não foram estudadas. Assim, é
importante perceber o que se pode fazer com ela, para além de parque de
estacionamento.
A política de segurança do Estádio da Luz tem de ser revista. Em todos os
jogos no Estádio da Luz, os adeptos e sócios do Benfica são insultados com o
clássico «SLB, filhos da puta SLB», perante a passividade da Polícia e dos
dirigentes do Clube. As câmaras de vigilância, em seis anos de actividade,
serviram para muito pouco.
Ao mesmo tempo, é comum haver uma tradicional carga policial sobre um
conjunto de adeptos que se encontra no anel inferior da bancada Sagres.
Porque somos sempre agredidos pela Polícia em casa? Alguém o consegue
explicar?
Estamos fartos de adeptos da treta. Estamos fartos de burgueses que vão
passear para os banquinhos vermelhos deste Estádio, lavar as frustrações da
sua vida. Temos saudades dos índios do Estádio antigo. Da malta do garrafão
e das sandes de couratos que foi substituída por cromos armados com
smartphones e cigarrilhas. Queremos encher as bancadas de lampiões.
3.2.8 – BENFICA TV
Deve ser desenvolvido o projecto da “TV Benfica”.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
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Ao mesmo tempo, deve-se proceder ao arquivo de todas as imagens da
história do SL Benfica (jogos, reuniões, especiais de informação, ...), em
conjunto com a fundação Benfica.
O SL Benfica deveria estabelecer contactos com cadeias televisivas por cabo,
na Europa e no mundo (consoante a definição dos mercados preferenciais para
a conquista de adeptos), para a transmissão dos seus jogos.
3.2.9 – BENFICA COMERCIAL
O encarnado deve ser uma opção estruturante de toda a estratégia de
marketing do SL Benfica por tudo aquilo que significa. A camisola encarnada
deve ser mantida e da forma mais clássica e tradicional possível por ser o
espelho do intangível que forma a essência da instituição.
Além disso, o acordo com a Adidas deve incluir uma adenda que permita ao
Clube cumprir os Estatutos. O branco será sempre a cor do equipamento
alternativo, conforme os Estatutos do Sport Lisboa e Benfica o exigem. As
ultimas direcções e a Adidas têm-nos desrespeitado com enorme desfaçatez.
Ao mesmo tempo, os equipamentos das modalidades devem estar disponíveis
na loja. Não se compreende que os equipamentos de basquetebol, do hóquei
ou do rugby, muita em voga hoje em dia, não sejam colocados à venda para
sócios e adeptos.
O merchandising deve ser alvo de uma permanente pesquisa de mercado de
forma a lançar produtos inovadores. Cerca de 30% dos espectadores de
futebol em Portugal são do sexo feminino. O merchandising não aproveita as
oportunidades que este segmento oferece.
Deve introduzir-se uma linha de equipamentos vintage de alguns dos antigos
atletas do Clube. Será necessário acordar com a Adidas, Olympic e Hummel,
mas o Benfica deverá ter réplicas de camisolas de atletas como Eusébio,
Coluna, Torres, Carlos Lisboa, Carlos Manuel, Bento, Humberto Coelho,
Preud’homme. Parte do lucro das vendas deste merchandising deverá ser
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
67
distribuído por estes jogadores, pois o SL Benfica tem de lhes devolver o suor
que eles deixaram em respeito daquela camisola.
3.2.10 – BENFICA MULTIMÉDIA
O site do SL Benfica é pobre em conteúdos e deve ser totalmente reformulado.
O acordo estabelecido com a Sportinveste, altamente lesivo para o Clube, deve
ser revisto o mais depressa possível. Nem tanto por uma questão comercial,
mas por uma questão de dignidade. O site oficial do SL Benfica não é melhor
que um qualquer site de um clube de segunda divisão inglesa.
Hoje em dia, o site de um Clube é o principal ponto de encontro dos adeptos
desse Clube, fora do Estádio, e dos adeptos de futebol em geral. Assim, o site
do SL Benfica deve:
Ser o mais atractivo possível, pois é a imagem do SL Benfica para todos
aqueles que acedem à Internet.
Estar permanentemente actualizado com notícias do SL Benfica. Não
basta uma notícia por dia. Tem de estar actualizado em tempo real e
com notícias, não com banalidades;
Conter toda a informação sobre o SL Benfica: discurso directo, sobre os
jogadores de todas as modalidades e de todos os escalões, informação
médica, etc.
Estar disponível em inglês (língua franca da Internet) imediatamente,
para possibilitar que os adeptos estrangeiros tenham acesso à realidade
do SL Benfica e no prazo mais rápido possível em francês, por ser a
língua de referência da comunidade de luso descendentes espalhada
pelo Mundo. Eventualmente, outras línguas poderiam estar disponíveis,
pelo menos em alguns dos conteúdos.
Conter todos os dados existentes sobre o SL Benfica, ao nível histórico
e estatístico, económico (grupo empresarial) e multimédia.
Ser um espaço interactivo, com comentários de personalidades
relevantes do Clube e com um fórum para a opinião dos adeptos.
2009 [CITIUS, ALTIUS, FORTIUS]
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Propomos o desenvolvimento de uma sinergia com a Benfica TV e inserir no
site uma plataforma rádio (que teria, numa fase experimental, os serviços
noticiosos Benfica 10h, 14h, 21h e os Propomos o desenvolvimento de uma
sinergia com a Benfica TV e inserir no site uma plataforma rádio (que teria,
numa fase experimental, os serviços noticiosos Benfica 10h, 14h, 21h e os
relatos dos jogos).
Propomos o desenvolvimento de um portal júnior para jovens benfiquistas.
Propomos o desenvolvimento de uma página oficial do SL Benfica no youtube.
A Benfica Multimédia deve ser o meio que permite ao Clube aproveitar todas as
plataformas de comunicação existentes hoje em dia e estar em permanente
contacto com o sócio e com o adepto.
No fundo, não se trata de ser altamente inovador. Apenas se devem replicar as
boas-práticas que se fazem pelo mundo fora.