Post on 25-Jan-2016
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FÉ E POLÍTICA
COMPROMISSO COM
A VIDA
Pe. Marcelo Moreira SantiagoCoordenador Arquidiocesano de
Pastoral
ESCOLA
ARQUIDIOCESANA
DE FÉ E POLÍTICA
DOM LUCIANO
“Serviço e profecia nas lutas do povo, luz e inspiração em nossa caminhada
como Movimento Fé e Política e militância cristã na construção do
Reino e transformação da sociedade”
ORAÇÃO DO CRISTÃO NA POLÍTICA
Deus da vida e Senhor da história,
Pai de todos nós,
em vosso filho Jesus Cristo,
já venceste o pecado, a escravidão e a morte.
Queremos fazer da política,
direito e dever da cidadania,
um serviço à vida e libertação integral de todos.
Concedei-nos construir um Brasil novo,
na vivência fraterna, no respeito às diferenças,
sem exclusão e sem privilégios,onde se abracem a justiça e a paz.
Que os valores do vosso reino orientem sempre maisas decisões e a ação política em nosso país.
Ajude-nos a intercessão de Maria, nossa mãe Aparecida,
das santas e santos companheiros da caminhada.
Vosso filho, Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida,
nos iluminem na construção
de uma sociedade justa e solidária.
Amém.
COMPROMISSO SOCIAL E POLÍTICO À LUZ DA FÉ
É importante que a Igreja forme pessoas em níveis de decisão. A opção pelos pobres exige uma pastoral voltada aos construtores da sociedade, sem esquecer que os pobres e marginalizados são também “sujeitos de mudança e de transformação de sua situação”
Todos os fiéis são impulsionados pelo Espírito a participar da vida política, pois a vida cristã não se expressa somente nas virtudes pessoais, mas também nas virtudes sociais e políticas
Os leigos, devidamente formados, devem estar
presentes na vida pública, atuando como
verdadeiros sujeitos eclesiais e competentes
interlocutores entre a Igreja e a sociedade. Por
outro lado, a participação política, motivada pela
fé, pode assumir diferentes formas, desde o
interesse pelos problemas sociais, a participação
em conselhos de direito, até a filiação a partidos e
a aceitação de cargos eletivos
(DGAE n. 86; DAp nn. 501, 394, 508, 497, 507)
SOMOS TODOS POLÍTICOS O ser humano realiza-se como pessoa na
convivência interpessoal. Esta convivência é uma convivência política
Todos fazemos política A pessoa humana é, por natureza, um ser político
Tudo o que fazemos ou deixamos de fazer é uma atitude política
Da política depende a vida dos cidadãos
Não se interessar pela política é não se interessar pela felicidade pessoal e pelo bem-estar da sociedade
Não há nada que seja do ser humano que seja estranho à Igreja (Paulo VI)
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos os que sofrem, são também as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias
dos discípulos de Cristo”
(Gaudium et Spes, n.1 – Concílio Vaticano II)
O ANALFABETO POLÍTICO O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve,
não fala, não participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política
Não sabe que de sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais
(Bertold Brecht, 1898-1956)
A fé cristã não despreza a atividade política,
pelo contrário, a valoriza e a tem em alta
estima:
A Igreja sente como seu dever e direito estar presente
neste campo da realidade: porque o cristianismo deve
evangelizar a totalidade da existência humana, inclusive
a dimensão política (...). Esta necessidade provém do
mais íntimo da fé cristã: do domínio de Cristo que se
estende a toda a vida” (Puebla 513 a 516)
Desafio: “cristianizar” os políticos e “politizar” os cristãos
O QUE É A FÉ Enquanto expressão religiosa, a fé é uma opção de
vida que tende a englobar, na abertura ao transcendente, toda a existência e inspirar os atos da pessoa humana
É um modo de ser e de atuar que se apresenta com duas mediações principais: A mediação propriamente religiosa, pela qual a fé aparece
como culto, oração... A mediação ética, pela qual a fé aparece como práxis
(prática), como vida concreta
Quando se fala na fé como práxis, se entende a fé como compromisso social, como “caridade política”
O QUE É A POLÍTICA
É toda atividade que influencia no processo social. É organização da “pólis” = cidade, sociedade
Temos dois níveis de política: Como participação na vida social, no nível da “sociedade
civil” (corresponsabilidade) Como luta pelo poder do Estado, seja para conquistá-lo
(partidos, movimentos...), seja para exercê-lo (governo). Esse é o nível da “sociedade política”
POLÍTICA NA BÍBLIA
NO ANTIGO TESTAMENTO
Êxodo/Juízes/Deuteronômio
Revela Deus como o Deus dos oprimidos que quer
a sua libertação concreta
A libertação divina na história é por um lado
“libertação de” (do Egito = escravidão) e, por outro,
“libertação para” (terra prometida/nova sociedade)
Profetas Anunciam Deus como o Deus da justiça e denunciam
uma “religião separada da vida” (Am 5,21-27; Is 58; 0s 6; Mq 6,5-8; Jr 7; Zc 7; ...)
Preanunciam um mundo novo, onde reinará a justiça; mais ainda, o próprio Deus (Is11; 60; 65; Jr 31; Ab 21; Zc 8 e 9; ...)
A “mensagem política” dos profetas parte sempre da “mensagem religiosa” mais ampla: A aliança de Deus com seu povo, expressa nas Tábuas da Lei (Decálogo)
NO NOVO TESTAMENTO
Jesus anuncia o Reino como “revolução absoluta”: a “libertação plena” para o mundo
Esse Reino inclui: Uma dimensão pessoal – fé e conversão
Uma dimensão final – ressurreição e vida eterna
Uma dimensão social – libertação das doenças, da
fome, etc (Lc 4,1ss; 6,20-26; Mt 25,41s; ...)
Quanto à pratica, Jesus:
Liberta o povo dos males concretos (sinais ou
milagres/ Lc 7,21-23)
Toma a defesa dos pequenos contra os grandes
(Lc 13,10-17)
É crucificado em consequência do seu
compromisso libertador em favor dos “perdidos”
deste mundo –exigência da vontade do Pai (Mc
15,10; Jo 11,4)
A dimensão política da mensagem, vida e
morte de Jesus é apenas uma dimensão
implicada em sua missão profética e
salvífica maior
Ele age em vista do Reino e para a salvação
do gênero humano
Por outro lado, trata-se de uma dimensão
integrante altamente significativa para nós
hoje
OUTROS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
(Atos, cartas, apocalipse) Ensinamento: o compromisso social do cristão
não é certamente o coração do Cristianismo, por isso não deve ser absolutizado, mas está intimamente ligado ao “núcleo” da fé cristã, isto é: À verdade da fé de que “Cristo é o Senhor” (1 Cor 12,3) e
deve sê-lo também no espaço político (Puebla 516 e 552) Ao preceito da caridade (Mt 22,34-40) que vê na política uma
“forma exigente” (Paulo VI – Octogésima Adveniens 46) e necessária para a consolidação da sociedade justa e fraterna, em vista do Reino de Deus (Puebla 327: “Amor estrutural”)
A Bíblia revela a vocação integral do
Ser humano, mostrando que esta
implica uma responsabilidade “política” a ser vivida de acordo com
o Plano de Deus
COMO SE RELACIONAM FÉ E POLÍTICA
Fé e política, em nível existencial, não são duas coisas ou grandezas lado a lado: A política é antes uma dimensão interna à fé: uma
dimensão constitutiva. É a própria fé, enquanto realizada no social (práxis histórica)
A fé inclui a política, mas também a supera O perigo é reduzir a fé à política (tentação dos
engajados) ou reduzi-la à vida privada (tentação da burguesia)
A encarnação da fé na política não é direta
O Evangelho, por exemplo, não diz diretamente quanto deve ser o salário, ou em que partido votar, menos ainda diz como resolver problemas. O Evangelho dá orientações para discernir o “agir”
Para que o evangelho atue, enquanto iluminação, na política concreta, são necessárias as mediações, tanto em nível teórico quanto prático, como as teologias, as escolas de formação política, os grupos pastorais, os movimentos populares e de militância cristã na sociedade, os partidos, os conselhos, as ONGs...
Sem mediações a fé permanece abstrata ou faz-se cega, ingênua, acrítica
“A Igreja, à luz da fé, contribui para promover os
valores que devem inspirar a política, interpretando as aspirações dos povos, especialmente os anseios daqueles que a sociedade tende a
marginalizar. E o faz mediante seu testemunho, doutrina e sua multiforme ação pastoral”
(Puebla 522)
À luz da fé, existe uma relação intrínseca que não pode ser
dissociada entre a vida e a fé, promoção humana e missão religiosa, uma consciência
ético-cristã de defesa da vida, da dignidade da pessoa e do
bem-comum
MISSÃO DA IGREJA NO CAMPO POLÍTICO
ENQUANTO REPRESENTADA PELA HIERARQUIA
POSIÇÕES EQUIVOCADAS Apolitismo
Considera que é impossível uma missão assim, de uma Igreja
envolvida no mundo político, porque a Igreja é apolítica
Na verdade, é preciso que se tenha clareza de que a Igreja é
apartidária, não apolítica
Clericalismo É a reivindicação do poder temporal, a partir da hierarquia
(governo eclesiástico)
Na verdade, é preciso que se tenha clareza de que a
competência da Igreja no campo político é mais ética que técnica
Aliança com o Estado Poderes atrelados, a modo de se confundirem:
temporal e espiritual, como foi no período da
cristandade, na idade média
Na verdade, a Igreja, em razão de sua finalidade e
competência, de modo nenhum se confunde com a
comunidade política ou com algum sistema político, ela
é sinal e salvaguarda, por excelência, do caráter
transcendente da pessoa humana
POSIÇÃO CORRETA
É precisamente pastoral ou evangelizadora. Ela supõe:
a) evangelizar o “político” (função profética)
Educar as consciências, orientando-as, denunciando
profeticamente as injustiças, anunciando uma
sociedade nova Preparar militantes políticos e acompanhá-los
pastoralmente
b) Celebrar as esperanças e lutas do povo (função sacerdotal)
Com seus ritos e liturgia, celebrar o Deus da vida
que quer que todos tenham vida e vida em
plenitude, alimentando suas esperanças e lutas,
encarnando a fé na história, em vista do Reino
definitivo
c) Solidarizar-se com as lutas justas do povo
oprimido, através de apoio público e presença
física (função régia)
Concretamente: Salvar a vida contra a fome e a violência estabelecida Proteger os indefesos contra os violadores dos direitos
elementares Animar os oprimidos frente às mortes frequentes e os
dramas sociais Juntar o povo disperso, para que se organize Alimentar a esperança no futuro contra a opressão
duradoura
MISSÃO DA IGREJA NO CAMPO POLÍTICO
Enquanto representada pelos cristãos, membros do Povo de Deus
Enquanto cidadãos, os cristãos devem
entrar, com plenos direitos, na política
direta
Para sua ação política concreta, o cristão não
recebe ordens da fé ou da Igreja institucional, nada
de “política cristã”, enquanto dividendos para a
Igreja, mas política inspirada na mensagem cristã,
em favor do bem comum e da justiça social
PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA, À LUZ DO
EVANGELHO Perspectiva de libertação: optar por partidos que
busquem a transformação social e a criação de uma nova sociedade
Opção pelos pobres: optar por organizações que assumem realmente a causa dos pobres
Métodos participativos: entrar em movimentos que dão espaço ao povo, que adotam processos “de baixo para cima” e preferem métodos não-violentos
Respeito à liberdade de consciência e religião: frente a tais critérios, nem todas as organizações de luta se equivalem para o cristão, mas existe sempre um legítimo pluralismo político ( GS 43,3)
NÍVEIS DE PARTICIPAÇÃO FORMAL 1. Apoio: voto, simpatia e filiação
2. Ação direta: militância e liderança
No nível de apoio, deve continuar, de modo permanente, a
pastoral de conscientização política do povo em geral
No nível da ação direta, há necessidade de uma pastoral
específica que ajude a formar os militantes cristãos para a
competência política e para uma espiritualidade adequada
(João Paulo II aos Bispos do Brasil - 9.4.86)
Exigência para os militantes continuarem enraizados em sua
base eclesial e popular e para terem eficácia política maior e
mais qualificada
RETROSPECTO HISTÓRICO DA AÇÃO DA IGREJA NO CAMPO
SOCIOPOLÍTICO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS A preocupação da Igreja no Brasil com
problemas de ordem sócio-econômica e política não é de hoje: Na década de trinta, esforços para promover a
participação dos cristãos na vida política Na década de sessenta, apoio “às reformas de base” Nos anos oitenta, emendas populares na constituição
(1988)
Nos anos noventa aos nossos dias, luta contra a corrupção e empenho nas políticas públicas.
“Bandeiras”, entre outras assumidas:
a) Erradicação da fome (redistribuição de renda e políticas de geração de renda, política agrícola)
b) Respeito pelos direitos humanos (educação, saúde, moradia e segurança)
c) Combate à miséria e à fome
d) Defesa da vida e de sua dignidade, em todos os seus estágios e condições
e) Desenvolvimento sustentável (qualidade de vida à população e respeito à ecologia)
f) Empenho contra a corrupção político-eleitoral, como a lei 9840 e a da “Ficha limpa”
QUESTÕES
1) - Diz o Concílio Vaticano II: “O divórcio entre fé e vida cotidiana é um dos mais graves erros do nosso tempo” (GS 43,1) Quais são as raízes desse divórcio? Quais são os seus frutos? Como superar esse divórcio?
2) - Muita gente do povo acha a política uma “coisa suja” De onde vem essa idéia? Como ajudar o povo a superá-la?
3) - Qual a contribuição da Fé para a política e da
política para a fé?
4) - Discutir a posição dos cristãos (ministros
consagrados e leigos) frente a política,
entendida de modo amplo, como também a
política partidária:
Como é esta posição? Como deve ser ? O que fazer para atingir seus objetivos e metas?
BIBLIOGRAFIA CNBB, Igreja, comunhão e missão, doc. 40, Paulinas
1988 nn 184-227 BEOZZO, O (org.) Fé e Política (Clodovis Boff) in Curso
de verão – Ano 1 (Coleção Teologia Popular, Paulinas 1988, pg. 141-14
LIBÂNIO, J. B., Fé e Política, Loyola, 1985 CNBB, CF – 1996: Fraternidade e Política: Justiça e Paz
se abraçarão, Salesiana Dom Bosco, 1996 ARQUIDIOCESE DE MARIANA, Fé e Política – uma
proposta de formação, dom Viçoso, 2006 CELAM, Documentos de Medellin, Puebla, Santo Domingo
e Aparecida