Post on 17-Mar-2016
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Escola António Arroio
Trabalho de Língua Portuguesa
artista: Banksy 1
Professora: Elisabete Miguel
Francisco Lacerda, n.º11 – 10º ano – Turma F
Índice:
Introdução
Eu, Florbela Espanca
Mendiga, Florbela Espanca
O dos Castelos, Fernando pessoa
Não me importo com as rimas, Fernando pessoa
Improviso Corrigido, José Régio
Declaração, José Régio
Amor é fogo que arde sem se ver, Luís de Camões
O dia em que eu nasci morra e pereça, Luís de Camões
Há palavras que nos beijam, Alexandre O’Neill
Gaivota, Alexandre O’Neill
Ser ou não ser, Manuel Alegre
Última pagina, Manuel Alegre
Retrato, Cecília Meireles
O amor, Cecília Meireles
Cantiga do fogo e da guerra, Sérgio Godinho
Canção, Almada Negreiros
Frustração, Miguel Torga
Mãe, Miguel Torga
Teria passado a vida, Agostinho da Silva
Queria que os portugueses, Agostinho da silva
Conclusão
A minha ilustração do poema ”Retrato” de Cecília Meireles
Introdução
Foi-nos pedido, pela professora de língua portuguesa, um trabalho
composto por 20 poemas, em língua portuguesa, todos à volta de um tema, de
livre escolha de cada aluno.
Em livros e na internet, pesquisei os poemas para este dossiê. Dei especial
destaque a “Retrato” de Cecília Meireles, que ilustrei, explicando a minha opção.
Como tudo está interligado, todos os pensamentos, todos os sentimentos,
escolhi poemas de temas diversos para levar o leitor a sentir o mesmo que eu,
pois, na minha opinião, é bom fazermos leituras de textos com temas
diversificados. No entanto, na minha selecção, há, em quase todos os versos
escolhidos, um fio condutor, uma certa mancha de descontentamento. Os
outros, a minoria, elegi-os porque são especiais para mim.
Eu
Até agora eu não me conhecia
Julgava que era eu mas não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia
Mas que eu não era eu não era Eu não o sabia
E mesmo que o soubesse, o não dissera
Olhos fitos em rutila quimera
Andava atrás de mim…e não me via
Andava a procurar-me -pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!
Florbela Espanca, Poesia Completa, pág. 305
Mendiga
Na vida nada tenho e nada sou;
Eu ando a mendigar pelas estradas…
No silêncio das noites estreladas
Caminho, sem saber para onde vou!
Tinha o manto do sol… quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de ouro espedaçou?
Agora vou andando e mendigando,
Sem que um olhar dos mundos infinitos
Veja passar o verme, rastejando…
Ah, quem me dera ser como os chacais
Uivando os brados, rouquejando os gritos
Na solidão dos ermos matagais!…
Florbela Espanca, Poesia Completa, página 315
O dos Castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar ‘sfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
Fernando Pessoa, Mensagens e outros
Poemas afins, Clássicos, página 137)
Não me importo com as rimas
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...
Alberto Caeiro [Fernando Pessoa], http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v074.txt
Improviso Corrigido
Se minto? Quantas vezes!
Mas em palavras. Não
Nos meus olhos castanhos portugueses,
Nestas linhas atávicas da mão...
Se minto?... Minto, pois!
Mas nas orais palavras que vos digo.
Não nas que entoo a sós comigo,
E em que enfim deixo de ser dois.
Não nas que entrego a músicas, miragens,
Alegorias, fábulas, mentiras,
Cadências, símbolos, imagens,
Ecos da minha e mil milhões de liras.
Se minto?... Minto!
É regra de viver. Mas não quando, poeta, me desnudo,
E a mim me visto de inocência, e a tudo.
Venha quem saiba ver!
Venha quem saiba ler!
José Régio, Poesia Completa II, página 368
Declaração
Teorias são brinquedos
Que, por mim, não tomo a sério.
Tomo a sério os meus enredos.
Crer... só sei crer no Mistério.
De doutrinas não me importo!
Sinto-me bem no mar alto.
Só me recolho ao meu porto.
Convidam-me, e sempre eu falto.
De escolas, não sou aluno.
Se comunico, é em verso.
Sou muito diverso,
E uno.
José Régio, Poesia Completa II, página 390
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões , http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v301.txt
O dia em que nasci moura e pereça,
O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.
A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
Luís de Camões , http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v057.txt
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O´Neill,
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v115.txt
Gaivota
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Alexandre O´Neill, http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v227.txt
Ser ou não ser
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre,
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v218.txt
Última Página
Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.
Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.
Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.
Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.
Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página
Manuel Alegre,
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v315.txt
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles, http://pensador.uol.com.br/cecilia_meireles_poemas/
O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!
Cecília Meireles, http://www.ubern.org.br/?p=1539
Cantiga do fogo e da guerra
Há um fogo enorme no jardim da guerra
E os homens semeiam fagulhas na terra
Os homens passeiam co´os pés no carvão
que os Deuses acendem luzindo um tição
Pra apagar o fogo vêm embaixadores
trazendo no peito água e extintores
Extinguem as vidas dos que caiem na rede
e dão água aos mortos que já não têm sede
Ao circo da guerra chegam piromagos
abrem grande a boca quando são bem pagos
soltam labaredas pela boca cariada
fogo que não arde nem queima nem nada
Senhores importantes fazem piqueniques
churrascam o frango no ardor dos despiques
Engolem sangria dos sangues fanados
E enxugam os beiços na pele dos queimados
É guerra de trapos no pulmão que cessa
do óleo cansado que arde depressa
Os homens maciços cavam-se por dentro
e o fogo penetra, vai directo ao centro
Sérgio Godinho,
http://charagoesquerdo.wordpress.com/category/jose-mario-branco/
Canção
A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a conhecia e todos estão a
chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amôres. Á beira do rio nasceu uma arvore
e os braços da arvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de alêm. Morreu a pastorinha e levou as
mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém. Morreu a pastorinha e os seus
olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro
da pastorinha.
Onde estão os seus amôres? Ha prendas para Lhe dar. Ninguém sabe se é Elle e
ha prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das bandas do mar.
Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o
luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha mórta é a Senhora
dos Milagres.
Almada Negreiros, http://poemas-
poestas.blogspot.com/search/label/Almada%20Negreiros%20-%20Poemas
Frustração
Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga, http://www.citador.pt/poemas/frustracao-miguel-torga
Mãe
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, http://www.citador.pt/poemas/mae-miguel-torga
Teria passado a vida
atormentado e sozinho
se os sonhos me não viessem
mostrar qual é o caminho
umas vezes são de noite
outras em pleno de sol
com relâmpagos saltados
ou vagar de caracol
quem os manda não sei eu
se o nada que é tudo à vida
ou se eu os finjo a mim mesmo
para ser sem que decida.
Agostinho da Silva, http://www.citador.pt/poemas/sonho-agostinho-da-silva
Queria que os Portugueses
Queria que os portugueses
tivessem senso de humor
e não vissem como génio
todo aquele que é doutor
sobretudo se é o próprio
que se afirma como tal
só porque sabendo ler
o que lê entende mal
todos os que são formados
deviam ter que fazer
exame de analfabeto
para provar que sem ler
teriam sido capazes
de constituir cultura
por tudo que a vida ensina
e mais do que livro dura
e tem certeza de sol
mesmo que a noite se instale
visto que ser-se o que se é
muito mais que saber vale
até para aproveitar-se
das dúvidas da razão
que a si própria se devia
olhar pura opinião
que hoje é uma manhã outra
e talvez depois terceira
sendo que o mundo sucede
sempre de nova maneira
alfabetizar cuidado
não me ponham tudo em culto
dos que não citar francês
consideram puro insulto
se a nação analfabeta
derrubou filosofia
e no jeito aristotélico
o que certo parecia
deixem-na ser o que seja
em todo o tempo futuro
talvez encontre sozinha
o mais além que procuro.
Agostinho da Silva,
http://www.citador.pt/poemas/queria-que-os-portugueses-agostinho-da-silva)
Poema escolhido
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
Conclusão
Neste trabalho, comecei por pesquisar e recolher poemas de livros que
tinha em casa, mas, como não eram muitos, tive de ir também procurar alguns
na internet. Tenho que admitir que fiquei bastante surpreendido pela
capacidade que os poetas têm em esconder sentimentos por trás de palavras, na
maneira como todas as rimas adquirem um significado maior.
Não me foi difícil a escolha do poema a ilustrar, em breve, decidi-me por
“Retrato” de Cecília Meireles. Estes versos fizeram-me refletir e concluir que
tenho de aproveitar a vida ao máximo para que um dia não venha a pensar e
sentir exatamente o mesmo que o sujeito poético.
Para o leitor, uma das partes menos positiva deste meu trabalho será,
talvez, uma certa falta de unidade no tema, pois eu só me apercebi de que era
um dos requisitos do trabalho quando já havia feito a minha seleção dos textos.
Ainda considerei a possibilidade de reformular as minhas opções e enveredar
por um outro percurso, mas, deliberadamente, acabei por não o fazer. Por
variadíssimos motivos, mas, principalmente, porque os versos que havia
escolhido me passaram a significar muitíssimo.
A minha ilustração para o poema “Retrato” de Cecília Meireles.