Galileu 99 - Conhecimento

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O mistério e o fascínio do Santo SudárioA ciência revela: o lençol de Turim não é uma fraude. E retoma o estudo da mais famosarelíquia do mundo

Por José Tadeu ArantesE-mail: jtadeu@edglobo.com.br

O Sudário, tal como aparece a olho nu

O Sudário de Turim — uma peça de linho que a tradição diz ser o lençol mortuário de Jesus — abriga pólens deplantas que só existem na região de Jerusalém e cuja data é anterior ao século 8 d.C. — podendo provir deépocas bem mais antigas. A informação foi divulgada, em agosto último, pelo botânico Avinoam Danin, daUniversidade Hebraica de Jerusalém. Ela derruba definitivamente a tese de que o Sudário seria uma falsificaçãoproduzida na Europa durante a Idade Média. Essa idéia, comunicada de maneira sensacionalista em 1988,baseava-se numa única prova: a datação da relíquia, realizada pelo método do carbono 14, que fixou comoperíodo de sua fabricação os anos compreendidos entre 1260 e 1390 d.C. A opinião pública embarcou nessatese, sem atentar para os seguintes fatos:

1 - O Sudário já passou por milhares de testes

2 - De todos os experimentos, só o do carbono 14 contestou a autenticidade da peça

3 - Os especialistas se opuseram à utilização dessa técnica, devido à grande contaminação que o pano sofreuao longo dos séculos

4 - Harry Gove, o principal responsável pela datação, admitiu que a contaminação podia ter falseado osresultados do teste.

A idéia da falsificação está agora descartada.

A existência dos pólens era conhecida pelos pesquisadores desde 1973, mas essa informação foi atropeladapelo rolo compressor do teste do carbono 14. Ela devolve ao estudo do Sudário a seriedade que o assuntomerece. E chama a atenção para um "detalhe" que os autores da tese da falsificação se esqueceram deexplicar: como foi produzida a imagem gravada no tecido?

A Síndone (outro nome pelo qual é conhecido o Sudário, derivado da palavra grega sindón, que significa lençol)apresenta uma imagem muito tênue e invertida. Ela é reinvertida e revela detalhes espantosos, quandoobservada no negativo fotográfico. Esse fato causou enorme surpresa ao advogado italiano Secondo Pia, que,em 1898, fez a primeira foto do lençol. Surpresa ainda maior ocorreria quase cem anos mais tarde, em 1974,quando se descobriu que a imagem comportava também uma informação tridimensional. Verificou-se que erapossível relacionar de maneira rigorosa a intensidade das marcas produzidas no tecido com a distância quesupostamente havia separado pontos do pano do corpo morto. Com base nisso, dois pesquisadores americanos,John Jackson e Eric Jumper, utilizando um computador da Nasa, fizeram, em 1978, uma reconstituiçãovolumétrica integral do corpo. Não se conhece nenhuma imagem como essa. Para alguns, ela é uma prova daressurreição de Jesus. Para outros, continua sendo um mistério insondável. A ciência ainda está longe deexplicá-lo. Mas já lançou muita luz sobre ele, como se verá nas páginas a seguir.

O homemMarcas do açoite e da crucifixão

O lençol apresenta uma imagem dupla, ventral e dorsal, de um homem nu, em tamanho natural. Ospesquisadores americanos Kenneth Stevenson e Gary Habermas calculam que ele tinha entre 30 e 35 anos,aproximadamente 1,80 m de altura e 79 kg de peso. "Era um homem musculoso, habituado ao trabalho manual",afirmam. Dale Stewart, do Museu Smithsoniano de História Natural, dos Estados Unidos, diz que a barba, ocabelo e os traços faciais são característicos do grupo racial semita.

Cabelos trançadosO historiador inglês Ian Wilson foi o primeiro a chamar a atenção para o formato da longa mecha de cabelo que

cai sobre o meio das costas. Ela assemelha-se muito a uma trança desmanchada. Trançar os cabelos atrás dopescoço era uma moda comum entre os homens judeus do tempo de Jesus. As numerosas marcas deferimentos que aparecem no homem do Sudário revelam que ele foi brutalmente açoitado, coroado comespinhos, crucificado e perfurado com lança do lado direito do tórax. Pierre Barbet, cirurgião do hospital Saint-Joseph, de Paris, e outros especialistas em anatomia e medicina legal antes e depois dele estudaramexaustivamente essas marcas. E concluíram que elas correspondem, nos mínimos detalhes, às narrativas sobrea flagelação, morte e sepultamento de Jesus que aparecem nos Evangelhos. E que acrescentam informaçõesdesconhecidas pela tradição cristã, mas confirmadas pela recente pesquisa histórica e arqueológica — como ofato de o crucificado ter sido pregado à barra horizontal da cruz pelos pulsos e não pelos meios das mãos. Éimpossível acreditar que falsificadores medievais pudessem saber de tudo isso. Além de dominar uma técnicade impressão sem paralelos na história, eles precisariam ter conhecimentos de arqueologia, história, anatomia efisiologia que só se tornaram disponíveis no século 20.

A idéia de que os homens do passado seriam muito baixos baseia-se nas dimensões das armaduras medievais. Mas não leva em conta queestas geralmente pertenciam a jovens pagens e não a cavaleiros adultos. A altura média dos judeus adultos do século 1 era de 1,77 ou 1,78m.

A imagem dramática que aparece no negativo fotográfico

Entre 1978 e 1981, um grupo internacional de cientistas do mais alto nível, reunidos no Projeto de Pesquisa doSudário de Turim, dedicou, em conjunto, quase 150 mil horas de trabalho à análise do lençol mortuário. Echegou à conclusão de que a figura que nele aparece não é uma representação, mas uma imagemmisteriosamente produzida pelo corpo que ele envolveu. Este apresenta uma grande quantidade de feridas,com uma precisão de detalhes simplesmente espantosa. É o caso, por exemplo, dos halos formados em tornodas manchas de sangue, decorrentes da separação entre a parte sólida e o soro. Segundo os pesquisadoresdo projeto, o corpo exibe sinais indiscutíveis de morte e rigidez, mas nenhum indício de decomposição –informação que foi interpretada por muitos como uma das provas da ressurreição.

O "mapa" do Sudário, feito sobre o negativo fotográfico do lençol, revela os seguintes elementos:

queimaduras devidas ao incêndio que danificou o Sudário em 1532;

remendos aplicados, em 1534, sobre as partes destruídas do tecido;

manchas produzidas pela água utilizada para apagar o fogo;

ferimentos causados pelos açoites nas costas; gotas de sangue provocadas por perfurações nacabeça; ferida decorrente do transpassamento do pulso esquerdo; rastros do sangue que escorreu pelosantebraços durante a crucifixão; ferida causada por transpassamento no lado direito do tórax;rastro do sangueque escorreu da ferida do tórax; mancha de sangue resultante do transpassamento dos pés; contusãoproduzida pelo transporte da barra horizontal da cruz (círculos nas costas).