Post on 22-Apr-2015
II Seminário Internacional Qualidade dos Serviços de Acolhimento Institucional
ATENÇÃO E APOIO EMOCIONAL AO SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL DE CRIANÇAS ACOLHIDAS: O atendimento psicológico individual externo e a ação técnica no cotidiano dos serviços de acolhimento
A Instituição
• CRAMI - Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD
• Fundada em 1988
• Eixo de atuação: atendimento psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e exploração sexual, bem como a seus familiares.
Objetivo do atendimento da instituição:
Missão: Propiciar atendimento psicossocial a crianças e
adolescentes vítimas de violência doméstica e desenvolver ações preventivas que lhes possibilite defesa e proteção
incondicional.
A proposta institucional é oferecer o tratamento a criança e ao adolescente que tiveram seus direitos violados, bem como o atendimento à sua família, construindo novas formas de se relacionarem.
O encaminhamento da família à instituição:
A criança o adolescente e sua família, que estejam em situação de violência doméstica, encaminhadas pelo
CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social para acompanhamento psicossocial.
A situação de Acolhimento Institucional:
O acolhimento institucional é medida de caráter excepcional e provisório, prevista no ECA para garantir
a proteção integral de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal ou social ou grave violação.
A criança e o adolescente em acolhimento institucional: Por que fui acolhida(o)?
Questão perturbadora, da qual a resposta nem sempre é clara, ou faz sentido para a criança e para o
adolescente.
Por maior que seja a violência no ambiente doméstico, é lá que a criança e o adolescente,
geralmente, quer estar.
Algumas consequências da institucionalização:
• Medo;• Raiva;• Culpa;• Comportamento agressivo;• Quadro de depressão e ansiedade;• Ideações suicidas e homicidas.
Prejuízos Emocionais:
A institucionalização, principalmente se for prolongada, pode impedir a ocorrência de condições favoráveis ao
bom desenvolvimento da criança. A ausência da vida em família dificulta a atenção
individualizada, questão importante ao desenvolvimento emocional da criança e do
adolescente.
As Perdas...
• Os pais que apesar de, na maioria das vezes, serem os agentes violadores de direitos, é a família que ela tem e ama;
• Do lar;
• Da individualidade;
• Da escola;
• Dos amigos;
• Da sua vida.
As Falas...
“Eu sinto saudades do cheiro do meu cobertor”
“Por que eu tive que sair de casa, se eu não fiz nada”
“Eu não quero voltar a morar com minha mãe. Deixa ela quieta no cantinho dela”
“Eu só quero uma família que goste de mim”
O atendimento:
• Acolher
• Flexibilizar (enquadres diferenciados)
• Sustentar
• Ter disponibilidade
O atendimento:
Fundamental e necessário sobreviver aos aspectos destrutivos emergentes pela criança ou adolescente.
Para Winnicott (1947):“Se for inevitável que ao analista sejam atribuídos sentimentos brutais, é melhor que ele esteja consciente e prevenido, pois lhe será necessário tolerar que o coloquem nesse lugar”. (p.279)
Ver: Winnicott, D.W. O ódio na contratransferência – Da Pediatria à Psicanálise Winnicott, D.W. Sobre “O Uso de um Objeto – Explorações Psicanalíticas
As dificuldades:
• Constantes mudanças (de casa, dos cuidadores, de escola);
• Oscilações técnicas no atendimento;
• A falta de consenso sobre os processos que envolvem a vida da criança ou do adolescente;
• A transferência da criança ou adolescente de uma instituição para outra;
• A descontinuidade dos laços afetivos;
• Vivências que revitimizam, gerando insegurança, medo e falta de confiança no outro;
• (Re)construção dos vínculos.
Desafios:
• Com a rede: (comunicação prejudicada, desvio do olhar para outras questões, que não a criança e o adolescente)
• Com a escola: (dificuldades em atender as especificidades da demanda de crianças e adolescentes institucionalizadas, recaindo na responsabilização e estigmatização)
Desafios:
• Com a saúde: (medicalização excessiva e/ou inadequada)
• Com a família: (vínculos extremamente fragilizados, aliados a crença de que os filhos estão sendo “mais bem criados” no serviço de acolhimento institucional)
Possibilidades:
• Importância de um diagnóstico precoce, para a realização de encaminhamentos adequados e também precoce.
• Fortalecimento dos vínculos familiares (compreensão da dinâmica familiar, retomada dos vínculos, compreender os fatores que levaram o acolhimento).
• Flexibilidade nos atendimentos com enquadres diferenciados (atenção as especificidades de cada família).
Importante:
• Trabalho articulado e complementar.
• Capacitação da Equipe Técnica da Instituição de Acolhimento (formação continuada).
• Investimento no trabalho preventivo.
• Supervisão (também continuada).
E a mim o que restou?
Restou!
Remanesceu o meu existir a partir do seu olhar.
Marjori de Lima Macedo