Post on 27-May-2020
III ème Colloque franco-latino-américain de recherche sur le handicap
Proposta de sessão temática
Título: Acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de
artes e de ciências –imagens táteis e estratégias multissensoriais
Coordenador:
Virgínia Kastrup –Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro
virginia.kastrup@gmail.com
Diversas estratégias para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual vem sendo
desenvolvidas e experimentadas em museus e centros culturais de todo o mundo. Num
primeiro sentido, a noção de acessibilidade remete a dispositivos técnicos que facilitem
o acesso aos prédios públicos e assegurem o conforto das pessoas com deficiência
visual. Num sentido mais amplo, a noção possui uma dimensão não apenas técnica, mas
também política, na medida em que indica o reconhecimento da existência dessas
pessoas e o valor de sua participação na vida da cidade. No campo cultural, um dos
grandes desafios é desenvolver dispositivos e estratégias para que pessoas cegas e com
baixa visão tenham acesso ao patrimônio dos museus. Neste domínio, há que se
distinguir a acessibilidade física, a acessibilidade à informação e a acessibilidade
estética. A acessibilidade física diz respeito ao acesso e deslocamento no espaço do
museu, incluindo desde os meios de transporte, até a sinalização sonora e pisos táteis. O
acesso à informação é oferecido por placas e textos em Braille e pela descrição das
obras pelo áudio-guia. Já a acessibilidade estética coloca um maior número de
problemas, pois passa pela apreciação tátil das obras. Além da resistência por parte de
curadores ao toque em obras como esculturas e objetos, um dos grandes desafios da
acessibilidade estética é a criação de estratégias e dispositivos capazes de traduzir obras
bidimensionais como pinturas, desenhos, gravuras e fotografias. Nos últimos anos, tem
havido um investimento crescente na produção de imagens táteis por museus para a
acessibilidade de pessoas com deficiência visual, como na Cité des Sciences & de
l'Industrie em Paris, na França. Estes dispositivos visam o acesso de pessoas cegas a
conteúdos informacionais, artísticos e figurativos da cultura visual, traduzidos em
imagens para tocar. Contudo, a utilização de imagens táteis para o acesso à experiência
estética de obras de arte bidimensionais ainda coloca grandes desafios e requer uma
ampla discussão, que leve em conta a heterogeneidade e a singularidade dos modos de
perceber das pessoas com deficiência visual. Por sua vez, o Centro Cultural do Banco
do Brasil do Rio de Janeiro começou seu programa de acessibilidadecom uma ampla
utilização de placas táteis. Posteriormente, passou a experimentar atividades e
dispositivos multissensoriais que trabalhavam os conceitos das obras e proposições
corporais diversas, obtendo resultados mais significativos. O objetivo da seção temática
Acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual em museus de artes e de
ciências é realizar uma discussão crítica acerca da utilização de imagens táteis como
dispositivos para o acesso à experiência estética de pessoas com deficiência visual no
encontro com obras de arte bidimensional. É também apontar dispositivos e estratégias
multissensoriais capazes de criar condições para uma experiência que ultrapassa o nível
da informação e identificação de formas, gerando o desejo de aprender e ir além do
mero reconhecimento. A discussão toma como base conhecimentos da psicologia
cognitiva da deficiência visual e experiências realizadas em museus de artes e de
ciências, no Rio de Janeiro e em Paris. Perceber uma imagem tátil pode ser uma
tarefamuito difícil, principalmente nas primeiras vezes. Por outro lado, proposições de
exploração corporal, conceitual e multissensorial de obras de arte têm se mostrado um
caminho fértil para a acessibilidade estética, gerando o desejo nas pessoas com
deficiência visual de frequentar instituições culturais. Para tratar deste tema,
apresentaremos os trabalhos Questões teóricas e políticas acerca da acessibilidade
estética, de Virgínia Kastrup, Para além das placas táteis: experiências em
acessibilidade no CCBB-RJ, de Raquel Guerreiro, Adapter des expositions de
science: La Cité des sciences 30 ans d’accessibilité, de Nathalie Joncour e
Illustration avec un projet précis: La Carte du Ciel em braile et en relief, de
Barbara Chauvin. O primeiro trabalho apresenta as questões teóricas e políticas acerca
da acessibilidade estética para pessoas com deficiência visual enquanto que os outros
três trabalhos apresentam experiências em acessibilidade, no Centro Cultural do Banco
do Brasil, no Rio de Janeiro, e na Cité des Sciences et de l’Industrie Universcience
(Palais de la découverte), em Paris, na França.
Palavras-chave: acessibilidade estética; museus acessíveis, deficiência visual;
imagens táteis
Línguas de comunicação: Português e Francês
Comunicações que compõem a sessão temática:
1) Questões teóricas e políticas acerca da acessibilidade estética
Virginia Kastrup
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
O conceito de acessibilidade estética voltada para pessoas com deficiência
visual, que dá título à sessão temática e à minha própria comunicação, merece ser
definido logo de saída. Quando falamos em acessibilidade, normalmente nos vem à
cabeça a acessibilidade física. Tal acessibilidade é necessária, mas não é suficiente para
que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso aos museus de artes e de ciências.
A acessibilidade física diz respeito ao acesso e deslocamento no espaço do museu,
incluindo desde os meios de transporte, até a sinalização sonora e pisos táteis. Há um
segundo tipo de acessibilidade que remete ao acesso à informação. A acessibilidade
informacional é oferecida por placas e textos em Braille e pela descrição das obras pelo
áudio-guia. Já a acessibilidade estética coloca um maior número de problemas, pois
passa pela apreciação tátil das obras.
Além da resistência por parte de curadores ao toque em esculturas e objetos, um
dos grandes desafios da acessibilidade estética é a criação de estratégias e dispositivos
capazes de traduzir obras bidimensionais como pinturas, desenhos, gravuras e
fotografias. O objetivo desta comunicação é, partindo dessa distinção entre a
acessibilidade física, a acessibilidade à informação e a acessibilidade estética, discutir
alguns problemas teóricos e políticos que cercam o acolhimento de pessoas cegas em
museus de arte. Para isso, vamos abordar algumas propriedades cognitivas do tato e
analisar sua capacidade estética, bem como discutir os problemas que rondam a
autorização do toque nas obras nos museus, cujas razões por vezes são estritamente
técnicas, mas muitas vezes também são políticas. Os museus são tradicionalmente
instituições voltadas para a apreciação eminentemente visual das obras, onde o toque é
proibido. Por outro lado, a história da filosofia é plena de considerações sobre uma
suposta superioridade da visão para a experiência estética, chegando a ser questionada a
própria possibilidade de uma experiência estética tátil (Revesz, 1950). Sendo assim, do
ponto de vista dos museus, a acessibilidade para pessoas cegas é quase sempre
considerada complicada, suscitando resistências e polêmicas, pois ela problematiza
tanto a lógica da conservação quanto crenças estéticas, ambas muito arraigadas
(Candlin, 2004).
Constance Classen (2005) analisa a história da proibição do tato nos museus,
apontando que no século XVIII os museus da Europa não apenas autorizavam o toque,
mas o consideravam como um importante adjunto da apreciação visual, possibilitando
um encontro mais íntimo com os objetos antigos, raros e curiosos que faziam parte do
patrimônio dos museus. A situação muda no século XIX quando, com o capitalismo
industrial, aumenta fortemente o número dos visitantes dos museus, que não se
restringem mais às elites, mas incluem as classes trabalhadoras. A preocupação com a
proteção dos objetos não é a única causa da proibição do toque nos museus. Há diversos
outros obstáculos teóricos, atitudinais e políticos que precisam ser problematizados e
analisados à luz de estudos científicos.
Do ponto de vista museológico propriamente dito, a questão do toque nos
museus e outras instituições de patrimônio tem sido amplamente discutida e sua
importância vem sendo defendida por diversos autores que destacam seu papel na
produção de interesse, prazer e inspiração para a aprendizagem. Fiona Candlin (2004;
2006) é uma das autoras que mais tem apontado a importância da manipulação de
objetos e outras formas de engajamento sensorial para que os museus cumpram seu
papel como espaços de aprendizagem informal e inclusão social. Diversos estudos (Pye,
2007; Chatterjee, 2008) buscam a reavaliar a proibição do tato e mesmo encorajá-lo.
Além de apontar que o maior número de danos sofridos pelos objetos dos museus
ocorre durante o transporte entre instituições, há estudos que sugerem o
desenvolvimento de pesquisas sobre os reais danos que podem ser causados pelo toque.
Levantam também a possibilidade do treinamento das habilidades de manuseio pelas
pessoas cegas, tal como ocorre na formação de conservadores e curadores.
Tato e experiência estética
Segundo John Dewey (2005) a experiência estética possui uma unidade,
incluindo de modo indistinto as dimensões emocional, prática e intelectual. É a
dimensão emocional que responde pelo caráter de totalidade da experiência. A emoção
é uma qualidade da experiência, ou seja, a experiência estética é emocional. Mas não
existem nela coisas separadas chamadas emoções. A experiência estética é distinta da
experiência de reconhecimento, que é uma percepção interrompida, no sentido em que
ela é rebatida sobre a experiência passada, fazendo com que o novo perca seu estatuto
de surpresa e novidade. Já a experiência estética consiste em se deixar impregnar, em
mergulhar no objeto ou situação com atenção, evitando a interrupção precipitada e o
acionamento imediato da ação que está a serviço da vida prática.
No caso do toque em obras de arte, é preciso que a dimensão funcional do tato
ceda lugar à dimensão estética. As pessoas com deficiência visual podem encontrar
dificuldades para a suspensão da dimensão funcional do tato e torná-lo receptivo à
experiência estética. Em função de problemas que enfrentam no dia a dia, sobretudo o
deslocamento espacial na cidade, a atenção funcional funciona aí como um poderoso
dispositivo de autocontrole. Pela ausência da visão, da percepção global à distância e
pela reduzida capacidade de previsão, essas pessoas desenvolvem uma atenção
permanentemente alerta aos obstáculos que podem surgir de modo inesperado,
tornando-as vulneráveis a acidentes. Por esta razão, a atenção aos signos táteis, e
também aos auditivos, possui uma forte tendência para a identificação de objetos. A
mobilização constante e sistemática dessa atenção sempre alerta traduz-se numa
disposição perceptiva para a função de reconhecimento. Por exemplo, ao caminhar pela
rua a percepção é absorvida pela busca de informação, ficando quase nada ou às vezes
nada disponível para a apreciação estética.
A cognição se organiza com uma tensão de fundo, diversas vezes traduzida
numa postura corporal rígida. A experiência estética, por seu caráter de mergulho no
objeto, produz uma redução da atenção aos estímulos circundantes e cria uma condição
de vulnerabilidade. Por outro lado, quando realizada, pode produzir momentos de
distensão, exercitando uma outra disposição cognitiva.
Para Rudolf Arnheim (1986) a educação artística e a aprendizagem com base na
experiência estética são baseadas em desafios perceptivos, que mobilizam a capacidade
de aprender, interpretar, elucidar e aperfeiçoar-se. Os desafios perceptivos de caráter
estético são diferentes dos estímulos sensoriais que produzem apenas a intensificação da
percepção, como o excesso de informação do mundo atual e as drogas de enhacement
cognitivo. No caso da pessoa com deficiência visual, é importante sublinhar que não
estamos nos referindo ao um suposto desafio perceptivo que seria colocado pela
deficiência própria visual. A experiência estética tátil diz respeito ao caráter
surpreendente ou enigmático da percepção, que puxa para além da dimensão objetiva e
material do objeto. Os museus devem cultivar a experiência estética e desencadear, a
partir dela, processos de aprendizagem.
Num texto sobre arte com pessoas cegas Arnheim (1990) discute longamente os
aspectos perceptuais e artísticos da questão. Ele parte da ideia de que a arte envolve
sobretudo o caráter dinâmico e expressivo da forma e afirma, contra Revesz (1950), a
legitimidade da experiência estética tátil. O tato permite às pessoas cegas a apreensão
das formas, aí compreendida também sua dimensão dinâmica. Afirma que a ideia de que
os cegos seriam desprovidos de uma percepção gestáltica, tão indispensável na
apreciação estética quanto dominante na visão, é derivada uma interpretação equivocada
tanto do tato quanto da visão. A percepção tátil exploratória, também chamada
percepção háptica, é capaz de criar a imagem do todo através de sucessivos atos de
fixação. Os estudos de Hatwell (2003) e de Hatwell, Streri e Gentaz (2000) confirmam
amplamente tais ideias e constituem hoje referências nos estudos do tato. É certo que,
no caso da visão, a presença constante do campo perceptivo facilita em muito a síntese
das fixações e a percepção da totalidade. Mas a síntese em nível perceptivo é
característica de todas as modalidades perceptivas. A visão também não processa todos
os seus componentes num único ato. Por outro lado, a exploração tátil com as duas
mãos funciona como uma espécie de orquestra de estímulos táteis, produzindo uma
simultaneidade sem equivalente na visão. Uma pessoa cega pode apreender a frente e as
costas de um objeto, ou o côncavo e o convexo, os movimentos graduais ou súbitos de
uma forma e forças de expansão e constrição numa única apreensão, integrados num
único percepto.
Após nosso estudo, concluímos que quando se trata da acessibilidade estética,
não há regras pré-definidas para serem aplicadas pelos programas de acessibilidade para
HV em museus, mas há algumas recomendações a serem seguidas.
Num balanço geral das estratégias e dispositivos, pode-se dizer que a existência
de peças disponíveis ao toque facilita a visita individual e de grupos autônomos,
permitindo o acesso às obras em seu próprio ritmo. Por outro lado, exige o
conhecimento do Braille para a leitura das etiquetas e, para um melhor resultado, um
acompanhante ou um bom áudio-guia. As visitas em grupo são muito potentes,
sobretudo com grupos heterogêneos de cegos e videntes que tem espeço para a troca de
experiências. A presença do mediador tem um papel importante na condução da
exploração tátil na direção da descoberta, sobretudo nas obras de arte.
A seleção dos objetos deve obedecer a critérios táteis e estéticos, e não apenas
critérios de preservação e à concessão dos curadores. Nesta medida, parece
imprescindível a participação de pessoas com deficiência visual na equipe de
acessibilidade, bem como a proximidade, o trabalho conjunto e a negociação com
curadores e diretores de coleção. As pessoas com deficiência visual devem participar de
todas as etapas dos programas de acessibilidade, e não apenas na avaliação final. Pode-
se pensar também na formação de pessoas cegas ou de grupos especializados para o
trabalho junto a museus, dotados de capacidade crítica e bom nível de exigência em
relação à qualidade dos dispositivos e estratégias oferecidas.
No que tange a esculturas, o toque depende em grande medida da sensibilidade e
da autorização dos curadores e diretores de coleção. É preciso reconhecer que boa parte
da descoberta estética depende da qualidade tátil dos objetos selecionados, ou seja, do
tamanho, peso, textura e temperatura dos objetos. Simples réplicas em resina podem
reduzir drasticamente o impacto da percepção háptica de uma escultura cujo original é
em mármore ou bronze. Nesta medida, há necessidade de estudos científicos que
possam fundamentar a elaboração de réplicas.
Um dos maiores desafios dos programas de acessibilidade parece vir justamente
do campo das artes visuais como a pintura, a gravura e a fotografia. O desafio é a
tradução da visão para o tato, sem a perda da força expressiva da obra e da possibilidade
da experiência estética. Não há um código pré-existente comum, mas certas qualidades
estruturais e uma dinâmica das formas que deve ser preservada. Por outro lado, limitar a
acessibilidade a estratégias verbais seria muito limitado, como de resto seria para um
vidente. Como veremos, as imagens táteis definitivamente não são o melhor caminho.
O primeiro benefício dos programas de acessibilidade para pessoas com
deficiência visual é estimulá-las a sair de casa, ativar ou reativar conexões, participar da
vida da cidade. Sair de casa para conhecer uma exposição que as pessoas estão
comentando, ou para aprender sobre um determinado assunto, seja um tema científico,
um movimento na história da arte ou a obra de determinado artista é participar da cidade
e partilhar o conhecimento circulante, aprendendo de modo vivo e agradável. Além
disso, frequentar museus pode, por meio de experiências estéticas, abrir brechas e
transformar uma cognição sobrecarregada pelo funcionamento utilitário. O desafio do
museu é produzir momentos de distensão, de apreciação do que passa, convocando o
desejo e levando mais longe, para além dos da gestão utilitária do dia a dia. Durante a
experiência estética tátil ocorrem associações, ressonâncias e reverberações. Sua
espessura temporal instaura uma descontinuidade e produz um ritmo, onde se alternam a
tensão e a distensão. Ir a um museu pode ser cansativo para uma pessoa cega, como
também pode ser para qualquer vidente, pois requer uma atitude pouco habitual, que no
início deve ser acionada de modo voluntário. Mas com a continuidade, pode ter um
efeito de pausa e descanso, concorrendo para a formação de uma maior abertura para a
aprendizagem.
Por esses motivos o museu deve trabalhar com uma política de formação de
público. Desse ponto de vista, a distinção entre os museus que oferecem uma agenda
com programação regular e os trabalham sob a demanda é um marco diferencial.
Apenas os primeiros possuem um projeto consistente de aprendizagem. Encontros
mensais regulares concorrem para a formação deste tipo de público. É preciso também
levar em conta que o grupo de pessoas com deficiência visual é bastante heterogêneo.
Há pessoas cegas e com baixa visão, pessoas que nunca viram e outras que perderam a
visão, algumas na infância e outras quando jovens ou adultos. Elas possuem
funcionamentos cognitivos bastante diversos, em função da existência ou não da
memória visual e outras referências cognitivas, e requerem por isso diferentes tipos de
dispositivos e estratégias de acessibilidade. É preciso lembrar também que algumas
dessas pessoas jamais foram a um museu, enquanto outras gostavam e tinham a pratica
de frequentá-los quando eram videntes. No primeiro caso, o primeiro desafio é a
produção do interesse, do desejo e do gosto. No segundo, trata-se de resgatar um
território existencial, refazendo conexões sociais e culturais previamente existentes.
Enfim, o grupo das chamadas pessoas com deficiência visual possui uma grande
heterogeneidade do ponto de vista cognitivo e também de sua relação com os museus, e
isso deve ser levado em consideração.
A visita de uma pessoa com deficiência visual a um museu não pode ser
entendida como uma experiência individual e isolada do contexto social. Ela começa no
trajeto percorrido na cidade, tem no acolhimento um momento muito importante e
culmina no encontro com as obras. Uma boa recepção depende de um ou mais guias
disponíveis, dependendo do grupo. É também muito importante a sensibilização e ao
menos uma pequena formação de todas as pessoas que trabalham no museu, incluindo o
pessoal da recepção e vigilância. A visita de uma pessoa a um museu pode ficar
marcada na memória tanto pelo caráter positivo da experiência estética como pela
experiência desagradável de uma abordagem inadequada. A experiência estética e a
mobilização subjetiva que a ela se segue continua após a visita e a ideia é que fique o
desejo de voltar. Nesta medida, não se sustenta o argumento de que basta disponibilizar
poucas peças para as pessoas cegas, pois a exploração tátil é cansativa. Ora, dependendo
do museu, o vidente também não consegue ver tudo numa só visita. Quase sempre
precisa voltar e a ideia é que volte mesmo. É este mesmo raciocínio que deve ser
utilizado quando pensamos em criar museus acessíveis para pessoas com deficiência
visual.
Referências bibliográficas
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Classen, C (Ed) (2005) The book of touch. Oxford: Berg.
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Dewey, J. (2005) Art as experience.London: Perigee.
Hatwell, Y, Streri, A. & Gentaz, E. (Orgs) (2000) Toucher pour connaître. Paris: PUF.
Hatwell, Y. (2003) Psychologie Cognitive de la cécité precoce. Paris: Dunod.
Pye, E. (Ed) (2007) The power of touch. Handling objects in museum and heritage
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Revesz, G. (1950) Psychology and art of the blind.London: Longmans Green
2) Para além das placas táteis: experiências em acessibilidade no CCBB-RJ
Raquel Guerreiro
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Esta apresentação tem como base meu trabalho de mestrado1 no projeto de
pesquisa Experiência estética e transmodalidade: fundamentos cognitivos para museus
acessíveis a pessoas com deficiência visual, coordenado pela Professora Virgínia
Kastrup do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro e Núcleo de Cognição e Coletivos, e tem parceria com o Instituto Benjamim
Constant, que é a instituição de referência para pessoas com deficiência visual no Rio.
No projeto, buscávamos iniciativas de acessibilidade a pessoas com deficiência visual
em museus e centros culturais da cidade. Acompanhávamos visitas de grupos de
pessoas cegas e com baixa visão às exposições acessíveis, experimentando com elas os
dispositivos e atividades. Avaliávamos, em seguida, a eficácia das estratégias na criação
de condições de possibilidade para o acesso uma experiência estética no encontro com a
arte.
Vimos que o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) era a única instituição
cultural na cidade que possuía um projeto regular de acessibilidade a pessoas com
deficiência visual. O setor responsável pela acessibilidade é o CCBB Educativo,que na
busca pela inclusão e diversidade, é composto por mediadores com formações diferentes,
uma mediadora intérprete de LIBRAS e uma mediadora com deficiência visual. Esta,
atualmente, trabalha também na formação de mediadores para o trabalho em
acessibilidade.
Acompanhamos o projeto de acessibilidade a pessoas com deficiência visual no
CCBB ao longo de três anos, de 2012 a 2015. Como praticamos o Método da
Cartografia de pesquisa, que abarca a pesquisa-intervenção eo acompanhamento de
processos2, experimentávamos junto às pessoas cegas e com baixa visão os dispositivos
de acessibilidade oferecidos no centro cultural. Além disto, realizávamos reuniões de
devolução do trabalho ao Educativo, onde contribuíamos com análises baseadas em
conhecimentos da cognição da deficiência visual.
Percebemos uma grande mudança no modo de fazer acessibilidade no CCBB ao
longo desse tempo, passando por diferentes momentos. Acompanhamos visitas a oito
exposições diferentes. No início, havia a utilização de placas táteis, passando para a
invenção de outros tipos de estratégias, que envolvem o trabalho com conceitos, com o
corpo, práticas coletivas e o compartilhamento de experiências. Notamos que
1 “CARTOGRAFIA, DEFICIÊNCIA VISUAL E ARTE: acompanhando o processo da acessibilidade no Centro
Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro” 2 PASSOS, KASTRUP, ESCÓSSIA, 2010
estesoutros tipos de estratégias, que chamamos de multissensoriais3, abrem espaço para
a experiência estética com a obra, indo além da transmissão de informação e
reconhecimento de formas, que as placas táteis oferecem. O modo de mediar passou a ser
mais afetiva e experimental, destoando de uma mediação tradicional. As propostas para a
acessibilidade passaram a convidar à experimentação por meio de diferentes sentidos e à
troca entre as percepções de pessoas cegas e pessoas videntes. Cabe ressaltar que o grupo
Educativo enfrenta grandes dificuldades na negociação com os curadores das
exposições (por vezes, com os próprios artistas) para o toque em obras de arte4.
Deste modo, apresento neste trabalho uma crítica às placas táteis enquanto
dispositivos de acessibilidade estética com obras de arte. Cito e comento também outras
estratégias -multimodais, conceituais e estratégias multissensoriais – que marcaram este
processo, a fim de problematizare pensar outros modos de fazer a acessibilidade estética a
pessoas cegas e com baixa visão em museus de arte e centros culturais.
O processo da acessibilidade do CCBB
Os primeiros dispositivos para acessibilidade que experimentamos foramas
placas táteis5, na exposição de pinturas Tarsila do Amaral: um percurso afetivo. Estas
placas poderiam ser de dois tipos: em alto relevo ou com texturas. Ambas são feitas em
madeira e possuíam as mesmas dimensões, formas e disposição dos elementos das
pinturas originais. Nas placas em alto relevo, as formas da pintura eram diferenciadas
pelo relevo, que era mais elevado nas formas com maior valor pictórico e mais baixo
para as demais formas. Já nas placas com texturas, alguns objetos recebiam aplicação de
texturas semelhantes às dos objetos aos quais pretendiam se remeter. Por exemplo,
havia pelúcia para o macaco, papel rugoso para o tronco da árvore, feltro para as folhas
e papel lixa para os cactos.
Percebemos que ambas as placas apresentaram grandes dificuldades quanto à
compreensão do que era tocado, principalmente para as pessoas cegas congênitas. As
imagens das placas em alto relevo não pareciam fazer sentido e nem corresponder à
3 Segundo Kastrup e Vergara (2012, p.63), conceito de multissensorial esta “na base das passagens e das
rupturas que atingem o primado das artes visuais, [...] implicando em mudanças no sistema que rege as atitudes do percebedor e do próprio conceito de educação estética”, propondo o deslocamento da percepção visual da arte para o corpo todo, engajando os corpos de múltiplas sensações no contato com a arte, com o intuito de promover uma expansão perceptiva. 4 Para saber mais sobre a proibição do toque à obras de arte em museus, cf. CANDLIN 2003, 2004.
5 Para saber mais, cf. GUERREIRO, KASTRUP, 2015.
audiodescrição da obra, que em geral acompanhava a exploração tátil. As placas em
texturas tampouco foram eficazes. As texturas, que se apresentavam em um mesmo
plano, lado a lado, deixavam a imagem a ser tocada confusa e complexa.
O tato e a visão possuem propriedades específicas diferentes mas, na elaboração
de dispositivos deste tipo, espera-se que os dedos dos cegos sejam correspondentes aos
olhos dos videntes (VALENTE & DARRAS, 2010). Além disto, a leitura de imagens,
tanto táteis quanto visuais, deve ser aprendida. Mas, por não haver uma grande difusão
de imagens táteis, poucas pessoas têm acesso a elas, não possibilitando o surgimento de
uma cultura da imagem tátil.
As imagens em alto relevo, por serem imagens em duas dimensões de objetos
conhecidos em sua tridimensionalidade e de maneira multissensorial na vida cotidiana,
são difíceis de serem identificadas por serem pouco específicas para quem não conhece
ou não domina as regras da linguagem gráfica bidimensional. Isto faz com que o
reconhecimento de formas pelo tato possa ser tão custoso que a experiência estética não
chega a acontecer.
Em uma das nossas visitas, uma moça cega congênita, ao ouvir da mediadora
que a árvore representada em uma placa em alto-relevo, era redonda, comentou que ela
deveria parecer um poste. A palavra “redonda”, pela qual a mediadora se referia à visão
da copa da árvore da artista, foi compreendida pela menina como referente a um poste,
que é circular. Em seguida, a mediadora convidou a moça a tocar na placa em alto
relevo, e ela então comentou que a forma daquela árvore se assemelhava a uma raquete
de ping-pong. A moça tocou algo redondo, achatado e plano, e logo pensou em uma
raquete, que é um objeto praticamente destituído de uma terceira dimensão e feito de
madeira, assim como a placa. A imagem que ela toca não é reconhecida como uma
árvore. Provavelmente o mais importante de sua imagem de árvore não seja a forma,
mas elementos multissensoriais: a textura do tronco, o som das folhas no vento, o
perfume das flores, o frescor da sombra que cobre o corpo. Para esta moça, foi tão
difícil reconhecer uma árvore em duas dimensões que não foi possível chegar a perceber
a novidade da árvore de Tarsila do Amaral, o que faria parte da experiência estética.
Nas placas com textura, que é uma propriedade muito importante para o tato,
encontramos novamente os problemas da forma e da bidimensionalidade da imagem,
que são atributos visuais. Voltando ao caso da moça cega: ao tocar a placa, ela
conseguiu identificar o macaco no galho da árvore. Mas não demonstrou nenhuma
surpresa, nenhum encantamento estético. Isto nos leva a pensar que a experiência com
este tipo de placa ficou limitado ao reconhecimento dos elementos da pintura, fazendo
com que a exploração de texturas continuasse em sua dimensão funcional.Deste modo,
vimos que as placas táteis, dotadas ainda de elementos visuais, não pareciam o
dispositivo mais adequado para traduzir a expressividade estética de obras de arte.
Na segunda exposição que contava com estratégias de acessibilidade, Antony
Gormley: corpos presentes, houve a performance de uma das mediadoras do Educativo,
que é deficiente visual. Neste trabalho artístico, a moça, vestida e movendo-se de modo
semelhante às esculturas do artista, criou uma narrativa polifônica acerca da cegueira,
com elementos vindos de textos literários, teóricos, e outros, de sua própria história de
vida. Ela também fazia perguntas para a plateia, relacionadas com o tema da cegueira,
nos fazendo pensar. A performance pareceu um convite a uma acessibilidade ampliada,
por levar a problematização do lugar da deficiência visual também às pessoas videntes,
permitindo-nos repensar o conceito de deficiência e afirma-lo não como uma falta, mas
sim como outro modo de estar no mundo. Este trabalho mostrou também que as
medidas em acessibilidade não são somente para as pessoas com deficiência visual, mas
para todos.
Para a exposição Impressionismo: Paris e a modernidade, que era uma
exposição de pinturas vindas do acervo do Museu d’Orsay, na França, foi construída
uma Estação Sensorial, que é uma sala onde se dispõem diferentes dispositivos para
quem deseja sentir as obras de arte de outros modos. Além de algumas placas táteis em
alto-relevo de pinturas importantes, havia dispositivos tridimensionais, com objetos que
buscavam reproduzir a forma e a disposição exatas das pinturas originais. A novidade
da Estação Sensorial montada para esta exposição foi a inclusão de elementos olfativos
e sonoros para complementar a experiência tátil oferecida pelos dispositivos. Potinhos
contendo ervas como alecrim e erva doce, outro com fumo, um vidrinho com perfume,
fones de ouvido acoplados às placas táteis e um rádio que tocava músicas da época do
movimento impressionista na França foram algumas das novas estratégias utilizadas.
Isto indicou uma grande atenção para a promoção de experiências multimodais (que
estimulam os diferentes sentidos), o que contribuiu para tornar mais interessante a
exploração dos dispositivos táteis (bi e tridimensionais). Contudo, podemos ficar ainda
presos à experiência de reconhecimento de formas. Esse tipo de estratégia pode nos
fornecer mais informação acerca do movimento impressionista, mas não vamos além.
Para o trabalho na exposição Elles: mulheres artistas da coleção do Centre
Georges Pompidou, os mediadores do Educativo elegeram um conceito que pudesse
guia-los pelas obras da exposição: o ser “mulher”. Este tema foi trabalhado juntamente
com a exploração de algumas obras, como o vídeo de Marina Abramovic “Art must be
beautiful; Artist must be beautiful”, em que se escuta o som de uma escova de cabelos
passando com força pelos fios, e frente a uma fotografia da série Manequins, de Valérie
Belin. Para esta obra houve a exploração tátil da réplica de uma cabeça feminina feita de
isopor e a continuação da exploração do tema da mulher. O grupo conversou sobre as
características de aparências estereotipadas, como é o caso das manequins, trocando
experiências.
A exposição Yayoi Kusama: obsessão infinita foi marcante no que diz respeito à
estratégias de acessibilidade estética de qualidade. Essa era uma exposição que continha
pinturas, vídeos das performances, instalações e esculturas da artista. Na direção de uma
mediação experimental6 e multissensorial, os mediadores lançaram mão de estratégias e
dispositivos que levaram à modulação de nossa atenção em direção à desaceleração
cognitiva e à abertura ao sentir, fazendo da experiência do corpo a protagonista da
visita.
Num momento inicial, os mediadores exploraram elementos arquitetônicos do
centro cultural em uma atividade em que misturavam pessoas cegas e pessoas
videntes.Juntos, as pessoas dos grupos deveriam encontrar a nona pilastra do saguão
que, mais tarde, descobrimos ser uma pilastra sonora. Não podendo ser nem vista e nem
tocada, a pilastra tomava corpo por meio da projeção do som de nossa voz em direção à
abóbada do prédio. O som retornava da abóboda ao chão, o que fazia do corpo uma
coluna de som. Essa chegada, além de nos permitir conhecer o espaço do centro
cultural, nos levou a uma mudança na qualidade da atenção, para operarmos um desvio
da atenção funcional, que é objetiva e virada para o exterior, para uma atenção mais
aberta e voltada para o interior, receptiva à experiência com a arte (KASTRUP, 2012).
Essa se caracteriza por uma abertura, qualidade mais próxima à percepção do artista,
que nos torna disponíveis para sermos tocados pelas forças de uma obra de arte.
Em um segundo momento, já na galeria, frente à obra Redes Infinitas (Infinity
Nets, 1953), uma série de pinturas na qual a artista transpunha os limites da moldura ao
expandir as redes para o próprio contorno da tela e, por vezes, também para as paredes.
Trabalhando o conceito de rede, os mediadores nos propuseram uma atividade com
bambolês. Segurando-os ao redor do corpo, amarramos com barbante os bambolês uns
6A mediação experimental leva em conta o caráter de imprevisibilidade da experiência na emergência
de afetos no encontro com a obra, oferecendo condições a uma experiência de qualidade estética
nos outros, compondo uma espécie de rede. Pensando a relação da nossa rede com a
obra da artista, ensaiamos alguns movimentos e pudemos sentir os efeitos das ações de
nossos corpos para além deles, assim como as pinturas que ultrapassavam os limites das
molduras dos quadros. Assim, sentimos a rede como um grande corpo comum, amplo e
inclusivo, e que comporta a diferença. Frente àquela obra, pudemos partilhar a sensação
de sermos todos pontos, interconectados em um corpo-rede. Além disso, a infinitude da
rede pôde ser sentida pelos afetos emanados daquele grande corpo comum, que se
mexia em frente à obra. Seu movimento pareceu se expandir para toda a sala de
exposição, afetando e instigando quem passava por aquele espaço. Foi uma intervenção
na sala de exposição do CCBB, que foi transformada em um local não somente de
contemplação, mas também de afetação, criação e alegria.
Considerações Finais
O processo da acessibilidade para pessoas com deficiência visual no CCBB tem
realizado muitos avanços no sentido da promoção de condições para uma experiência
estética no encontro com a arte. No início, havia a utilização das placas táteis, que
reproduzem o conteúdo de obras por meio da transposição do sentido visual para o tátil.
Apesar dos estudos críticos que pontuam que talvez essa não seja a melhor opção para a
acessibilidade estética de pessoas com deficiência visual, as placas táteis ainda são
muito utilizadas em centros culturais e museus. Para a exposição Corpos Presentes, uma
performance artística que problematizava a questão da deficiência visual. Na exposição
de pinturas impressionistas, passou-se à exploração de recursos multimodais e, na
exposição das obras das mulheres artistas, o conceito “mulher” guiou o percurso da
visita. Na exposição de Yayoi Kusama, notamos o surgimento de uma mediação
experimental e inventiva, com propostas coletivas onde o corpo desempenhava o papel
central. Mobilizando nossas sensações, compartilhamos uma experiência coletiva de
encontro com a arte que abarcava a diferença. Estes exemplos mostram um pouco do
processo que partiu da reprodução de informação visual em direção à abertura aos
afetos, inaugurando novos meios de fazer acessibilidade.
Acreditamos que as propostas de acessibilidade estética devem ser para todos -
para as pessoas que veem e as que não veem - e podem aparecer como um convite a
perceber com o corpo todo. A experimentar sentir as forças das obras de arte de outras
formas, tocando e trocando com os outros nossas impressões, inventando novos sentidos
para a arte e para a vida. A verdadeira acessibilidade está na mistura, na composição das
diferenças. Esperamos que a experiência no CCBB possa inspirar outras instituições de
arte a ousarem na criação de estratégias, que visem à inclusão e a formação de um
público com deficiência visual que frequente seus espaços e possa usufruir do prazer
estético do encontro com a arte.
Referencias Bibliográficas
ALMEIDA, M. C.; CARIJÓ, F. H.; KASTRUP, V. Por uma estética tátil: sobre a
adaptação de obras de artes plásticas para deficientes visuais. Fractal, Revista do
Departamento de Psicologia da UFF, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, jan./abr. 2010.
CANDLIN, F. Blindness, art and exclusion in museums and galleries. London:
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CANDLIN, F. Don’t Touch! Hands off! Art, blindness and the conservation of
expertise. London: Birkbeck ePrints, 2004. Disponível em:
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CLAUDET, P. Image Tactile. Voir Barré, n. 38-39, Bruxelles, Ligue Braille, 2011. p.
122-128.
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2010. p. 109-141.
GUERREIRO, R. Cartografia, deficiência visual e arte: acompanhando o processo da
acessibilidade no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Dissertação de
Mestrado em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
2016.
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art. Revue Terra Haptica. Dijon: Les Doigts Qui Rêvent, 2015.
KASTRUP,V. Atenção na experiência estética: cognição, arte e produção de
subjetividade.Revista Trama Interdisciplinar,v. 3, n. 1, 2012. Disponível em:
<http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/5000>. Acesso em: 10
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KASTRUP, V; VERGARA, L. G. A potência do experimental nos programas de
acessibilidade: Encontros Multissensoriais no MAM Rio. Cadernos de Subjetividade,
São Paulo, PUCSP, ano 9, n. 14, p. 62-77, 2012.
PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. (Orgs.). Pistas do método da
cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina,
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VALENTE,D ; DARRAS, B. Images à toucher: réflexions sémiotiques sur les images
tactiles destinées au public aveugle. Terra Haptica, Dijon, v. 1, p. 7-21, 2010.
3) Adapter des expositions de science: La Cité des sciences 30 ans d’accessibilité -
Nathalie Joncour/Universcience (Palais de la découverte et Cité des sciences)
Présentation du cadre théorique : design universel.
Depuis 2009, le Palais de la Découverte (8ème arrondissement) et la Cité des sciences et
de l’industrie (19ème arrondissement) sont réunis en un même établissement :
Universcience. La Délégation à la Qualité d’Usage et à l’Accessibilité (DQUA)
regroupe une équipe composée d’experts par famille de handicap. Ils sont intégrés aux
équipes de conception des expositions, forment les médiateurs scientifiques et
accueillent le public, avec pour mission principale l’accès aux contenus.
En ce qui concerne les publics déficients visuels, diverses méthodes d’accessibillisation
du contenu scientifique sont mises en œuvre. Le graphisme des expositions est donné à
toucher dans le but de partager des images communes avec tous les publics. Les
panneaux comportant du contenu écrit sont enregistrés par des comédiens et proposés à
l’écoute dans l’exposition et sur le site internet. Pendant toute la durée de la conception
de l’exposition, une réflexion sur le design universel est engagée en partenariat avec les
équipes de la direction des expositions. Nous tentons de créer des manipulations
interactives et inclusives pour tous. En parallèle des expositions, la médiation humaine
est une offre importante d’Universcience. Les médiateurs sont formés par l’équipe
accessibilité.
Nous communiquons à nos publics via une newsletter ainsi qu’une page web dédiée aux
visiteurs déficients visuels
http://www.cite-sciences.fr/fr/ma-cite-accessible/deficients-visuels/
Genèse et panorama de 30 années d’accessibilité
A la Cité des sciences, on vous dira souvent "Veuillez toucher s’il vous plaît !".Vous
trouverez dans chaque exposition des présentations tactiles avec des schémas en relief et
des textes en braille pour mieux comprendre les concepts scientifiques.
Tous vos sens sont sollicités : vous pouvez écouter dans chaque exposition des films
audiodécrits, des murmurants, des maquettes et des livres sonores.
Vous pouvez également suivre des visites guidées et assister à des ateliers tactiles sur la
biodiversité, la mécanique, l'astronomie...
Les abattoirs de Paris se trouvaient à l’emplacement actuel du Parc de la Villette.
Dans les années 70, ils ont fermé. Suite à un voyage aux Etats-Unis, Valéry Giscard
d’Estaing commença à évoquer l’idée d’un musée de sciences mais pas de sciences
dures, on voulait des sciences accessibles à tous, des sciences de la vie de tous les jours,
comme il avait pu en voir là-bas. C’est à dire créer non pas un musée classique,
historique, mais un lieu de découvertes et de manipulations interactives, un outil
pédagogique destiné à un large public.
On créa ensuite l’Etablissement Public du Parc de la Villette, présidé par Paul
DELOUVRIER, qui était un homme réputé pour avoir travaillé sur de grands projets et
était apprécié pour ses qualités visionnaires. C’est lui qui a, le premier, émis l’idée
d’intégrer les personnes handicapées, et ce dès le début : il voulait un musée ouvert à
tous et pour tous. Il embaucha donc le cabinet Grosbois qui était payé pour revoir tous
les plans des architectes et valider ou non leur accessibilité. C’était l’une des premières
fois que quelqu’un était payé pour cela. Peu de temps après, une Charte des Personnes
Handicapées a été rédigée, ce qui pour l’époque, était déjà novateur. Il s’agit cependant
de recommandations telles que « faire attention à », il n’y a donc pas vraiment de
données chiffrées et concrètes pour rendre accessible un bâtiment ou une exposition.
D’autant plus que le cadre législatif de l’accessibilité à l’époque était en pleine
édification : la loi d’orientation de 1975 avait engendré des premiers décrets mais était
incomplète. Le cadre normatif était donc très largement dépassé et il a fallu prendre des
voies nouvelles d’études et de propositions pour obtenir des aménagements novateurs,
aller au-delà de la législation : cette charte aboutira en 1984.
Marie-Laure LAS VERGNAS, qui est actuellement responsable du service accessibilité
fut embauchée à ce moment-là, dans le but de former les médiateurs au niveau de
l’ingénierie technique. Ses supérieurs lui ont demandé de se rendre à une réunion
accessibilité pour leur faire un compte rendu. Elle s’y est alors beaucoup intéressée et a
commencé naturellement à travailler sur quelques tests pour adapter certaines
manipulations de la Cité. Elle a ensuite mis en place une collaboration avec l’INJA
(Institut National des Jeunes Aveugles) afin de faire tester son travail sur des classes
d’enfants aveugles. L’architecture et la scénographie ne posaient plus de problème mais
l’accès aux contenus des expositions restait incomplet. Il n’était pas facile de les rendre
accessibles car personne ne s’y connaissait vraiment dans ce domaine. Marie-Laure
LAS VERGNAS a alors eu l’idée d’embaucher des personnes elles-mêmes en situation
de handicap afin de connaître au mieux les moyens à mettre en œuvre. Sont alors arrivés
Guy BOUCHEVEAU et Hoëlle CORVEST en 1986. Marie-Laure LAS VERGNAS a
naturellement commencé à travailler avec eux puisque leur embauche était à son
initiative. « L’or » fut la première exposition temporaire qui a été adaptée pour les
sourds : la réputation de la Cité des sciences était alors en pleine expansion. Ils se sont
donc demandé comment adapter ces expositions également aux personnes déficientes
mentales ? Elle rencontra Jean Pierre FERRAGU qui travaillait à ce moment-là à la Cité
des enfants mais qui avait une solide expérience avec les publics déficients mentaux. Il
récupéra également le travail du cabinet Grosbois, qui était axé davantage sur le
handicap moteur et entra dans l’équipe accessibilité. Une fois le service accessibilité
constitué, ils fabriquèrent eux-mêmes le réel cahier des charges, qui est toujours utilisé
aujourd’hui en découpant les plans de Grosbois ainsi que des parties de la charte. Le
cahier des charges était alors prêt et était enfin un outil concret avec des indications
chiffrées et précises pour rendre accessible la Cité ainsi que ses contenus. Il s’agissait de
définir les règles pour organiser, aménager, meubler, identifier et signaliser des espaces
et des éléments d’exposition devant accueillir le plus grand nombre de visiteurs que l’on
souhaitait actifs. Les manipulations devaient donc être réalisables par tous, quelles que
soient les capacités de chacun. La Cité est alors devenue un établissement pilote,
d’autant plus que dans les années 2000 elle obtient le label tourisme et handicap
directement après sa création, et ce pour les 4 handicaps. Par ailleurs, en 2003, les
ministres commençaient à parler d’accessibilité et la RECA (Réunion des
Etablissements Culturels Accessibles) a été créée, pilotée par la Cité des Sciences joue
un rôle important.
Pour conclure cet historique, nous ne pouvons que mettre en avant les solides et
innovantes convictions du premier président Paul DELOUVRIER, ainsi que tout le
travail qui a été entrepris dans un second temps pour que ces efforts soient effectifs,
notamment le fait de mettre en place une cellule accessibilité avec des employés eux-
mêmes en situation de handicap.
Méthodologie d’accessibilité des éléments d’expositions
L’équipe accessibilité fonctionne selon le principe suivant : pousser au maximum la
démarche d’accessibilité universelle dans la conception et ne recourir à des ajouts
spécifiques que lorsqu’il n’y a pas d’autre solution, intégrer les éléments spécifiques
dans les parcours pour tous. En effet, les visiteurs ont tous des besoins différents même
au sein d’un même groupe. Aller le plus loin possible dans ce sens, c’est faciliter
l’intégration de chacun et le confort de tous.
La Cité des sciences et de l’industrie, avec ses 3 hectares au sol (à peu près la place de
la Concorde) et sa hauteur équivalente à un immeuble de 14 étages est un bâtiment de
très grande taille dans lequel on pourrait mettre quatre Centre Pompidou, est un espace
dans lequel il est très difficile de se repérer pour une personne déficiente visuelle. Des
maquettes tactiles et des bandes de guidage au sol permettent de s’y repérer. La loi
française exige une accessibilité au cadre bâti mais la Cité des sciences dépasse cette
limite et propose un accès aux contenus scientifiques.
L’accompagnement humain est également une solution inclusive qui offre aux différents
publics un moment de partage et d’inclusion.
Partant de l'exemple réussi de "courir en duo" qui a su réunir des personnes
déficientes visuelles et des personnes voyantes autour de la passion de la course
à pied, le groupe Expoduo a été créé pour réunir des personnes qui aiment visiter des
expositions. Le principe est de poster un message dès qu’une personne souhaite visiter
une exposition, y compris et surtout si l’offre n’est pas dédiée aux personnes déficientes
visuelles. Ce groupe s'adresse aux personnes déficientes visuelles et voyantes qui
aiment visiter des musées, des expositions ou des centres culturels. Ce groupe doit
permettre de se rencontrer pour visiter une exposition à deux.
Nous accueillons également, depuis le début de l’année, trois volontaires en service
civique dont la mission est d’accompagner individuellement les personnes déficientes
visuelles dans nos espaces.
Nous essayons d’évaluer de manière empirique les pratiques de visite pour nous adapter
au mieux aux demandes des visiteurs.
Est-ce que l’image tactile scientifique peut être vectrice d’inclusion pour les personnes
DV ?
4) Illustration avec un projet précis: La Carte du Ciel em braile et en relief –
Barbara Chauvin/Universcience et étudiante de Master à l’INSHEA
Projet carte du ciel en relief et en braille
Tous les ans, le Parc de la Villette et la Cité des sciences et de l’industrie accueillent
début août l’événement national « La Nuit des Etoiles ». Pendant une soirée, et ce
jusqu’à minuit, il est proposé aux participants une série d’animations, d’observations au
télescope, de conférences, notamment par des membres de l’AFA (Association
Française d’Astronomie), le tout est encadré et animé par des médiateurs scientifiques
de la Cité des sciences et de l’industrie. Chaque année, l’événement attire plusieurs
centaines de personnes, passionnées d’astronomie ou curieux. Cette année, l’équipe
accessibilité a décidé de rendre cet événement accessible aux personnes déficientes
visuelles. En effet, il est souvent difficile lorsque l’on est déficient visuel d’avoir une
représentation de l’espace, des étoiles, des planètes. Ce sont des notions très visuelles
qui séduisent le grand public en grande partie pour leurs compétences esthétiques. C’est
la raison pour laquelle nous avons décidé de pallier à cela en mettant en place un outil
afin que la Nuit des Etoiles soit accessible et qu’elle suscite l’intérêt des personnes
déficientes visuelles pour l’astronomie. Cet outil est une carte du ciel en relief et en
braille, car lors de l’animation de la Nuit des Etoiles, les médiateurs remettent une carte
du ciel à toutes les personnes présentes afin qu’elles puissent apprendre, par exemple, à
repérer les constellations. Il semblait donc nécessaire que cette carte soit adaptée. Elle
est en bigraphisme, c’est à dire qu’elle est visible et tactile à la fois, et un cercle
intérieur permet de situer ce que l’on peut voir du ciel en fonction de la date à laquelle
nous sommes pendant l’observation. Cela a déjà été fait quelques années auparavant,
mais la carte contenait de multiples erreurs, d’un point de vue scientifique et
accessibilité.
L’objectif en créant cette carte était de mettre en place un outil adapté afin de permettre
aux personnes déficientes visuelles de découvrir l’astronomie et susciter leur intérêt
pour cette science, tout en les faisant participer à un événement national réputé. Les
points forts de ce projet étaient l’expertise interne sur les questions d’astronomie et
d’accessibilité, le fait que la carte soit réalisée dans le cadre de la Cité des sciences et de
l’industrie, un cadre connu et reconnu en matière d’accessibilité, et également le fait que
les cartes ne soient pas uniquement faites pour la Nuit des Etoiles. En effet, elles
serviront aussi aux diverses animations qui ont lieu régulièrement dans le musée. Par
ailleurs, il y avait aussi la menace d’une météo incertaine ou d’événements pouvant
compromettre la sécurité de la manifestation. L’équipe en charge du projet et qui
composait le comité de pilotage était constituée de la responsable de l’accessibilité pour
les déficients visuels, la responsable du service accessibilité de la Cité des sciences et de
l’industrie, des scientifiques du musée spécialisés dans l’astronomie, comme par
exemple le responsable du planétarium, ainsi que moi-même, ce projet étant le cœur de
mon année d’alternance. En externe, nous avions la chance de bénéficier d’un partenaire
important, un astrophysicien de l’école normale supérieure qui est également déficient
visuel. Son aide nous était donc précieuse car il était en mesure de lier les différents
points de vues : l’accessibilité et la précision du contenu scientifique. Enfin, nous avons
également fait appel à deux prestataires. Tout d’abord un graphiste, que nous avons
choisi car il est également astrophysicien, c’est donc lui qui a conçu toute la carte. Nous
avons aussi fait appel à un imprimeur spécialisé dans l’impression en relief, avec qui
nous avons l’habitude de travailler. Soulignons que notre travail s’attachait uniquement
à organiser l’accessibilité de cette soirée, et non la soirée dans son intégralité.
La mission première a été de prendre en main le projet, décrypter tout ce qui était
demandé, lister les phases d’actions ainsi que trouver les partenaires et prestataires. Une
fois ceci fait, nous avons rencontré le graphiste ainsi que l’imprimeur afin de leur
présenter le projet, notamment en leur montrant la précédente carte et en mettant en
avant ses forces et faiblesses. Notre mission principale était finalement la coordination
des différents prestataires/partenaires. En effet, la difficulté première a été la
confrontation entre ces différents acteurs et leur point de vue : le graphiste par exemple,
avait en tête ses contraintes de place et d’esthétique, l’astrophysicien déficient visuel
pensait davantage au tactile et donc au surplus d’informations difficilement lisible, alors
que les scientifiques avaient à cœur de mettre le plus d’informations possible de contenu
scientifique qui leur semblait essentiel mais qu’il a évidemment fallut réduire. Ces
étapes ont été des phases décisives du projet et nous ont amené à nous poser beaucoup
de questions, nous reviendrons donc particulièrement dessus plus tard.
Tout projet ne peut être complet que s’il a pu être évalué. Dans notre cas, le prototype
de la carte était passé dans de nombreuses mains avant d’être imprimé : l’astrophysicien
déficient visuel, la responsable du service accessibilité déficients visuels, elle-même
malvoyante, ou encore quelques personnes qui ont été interrogées dans le cadre
d’entretiens sur l’astronomie. De plus, elle a également été évaluée plusieurs fois par les
scientifiques de la Cité des sciences et de l’industrie qui ont pu donner leur validation
finale. La Nuit des Etoiles allait également être le moment idéal pour voir la carte entre
les mains des personnes déficientes visuelles, évaluer leur utilisation, leur ressenti, leur
compréhension… Cependant et malheureusement, suite aux nombreux événements qui
se sont produits partout en France au cours des derniers mois, la Nuit des Etoiles dans le
Parc de la Villette a été contrainte d’être annulée au début du mois d’août, pour des
raisons de sécurité, et ce en application du plan Vigipirate. Heureusement, la carte
n’avait pas été conçue dans le seul but de rendre accessible cet événement, mais bien
pour être utilisée à tout moment dans le cadre d’animations au sein du musée, nous
avons donc eu d’autres occasions de voir la carte entre les mains des publics.
Cette soirée s’annonçait innovante, accessible et très riche, pour tous. En effet cela
pouvait également être un très bon moyen de sensibiliser d’autres visiteurs à ce qu’est la
déficience visuelle et comment réussir à répondre aux besoins de ces publics. De plus, la
plus belle récompense était avant tout de réconcilier les déficients visuels avec
l’astronomie et leur faire découvrir les merveilles de notre univers grâce à d’autres sens
que la vue. Par ailleurs, notons que le point à retravailler de notre carte serait le fait
qu’elle fasse passer un message très scientifique mais peu poétique « Je ne crois pas
que toucher une carte en relief pourrait me faire la même chose que ça fait de voir aux
voyants ». Cependant, nous espérons que cet aspect soit quelque peu comblé par le
partage avec les personnes présentes à l’événement, voyantes ou non. De plus, notons
que nous avons également mis d’autres projets en place afin de parler d’astronomie à
nos publics déficients visuels.
Visite et séance d’astronomie adaptées
Tout d’abord, nous avons mis en place une visite adaptée : nous avions à cœur de
redynamiser une ancienne exposition permanente de et de rester dans la même lignée de
travail que la carte du ciel : c’est donc l’exposition « Grand Récit de l’Univers » qui a
été choisie. Bien qu’elle soit une des premières expositions à avoir été mise en place
dans les années 80, elle dispose d’un grand nombre de techniques d’accessibilité
remarquables, comme par exemple des pierres qui parlent lorsque nous les touchons et
qui racontent leur création, ou encore des pièces phares à toucher comme une météorite,
ou enfin des petites maquettes représentant les constellations. Le travail n’a donc pas
consisté à créer l’accessibilité de l’exposition, mais davantage à partir de ce qui était
déjà mis en place afin de concevoir un parcours accessible. Il a donc pour cela fallut
passer beaucoup de temps dans l’exposition, afin de comprendre et tester les éléments
pour cerner l’idée principale et choisir ou non de l’intégrer dans le parcours. En effet, un
visiteur déficient visuel mettra plus de temps qu’un visiteur classique pour faire une
exposition dans la mesure où toucher un élément prend plus de temps que le regarder et
comprendre ses spécificités d’un seul regard. De plus, déambuler dans l’exposition peut
prendre également plus de temps. Il faut donc choisir les éléments afin de faire en sorte
que la visite ne dure pas plus de 2h, pour ne pas fatiguer le visiteur. D’autre part, il a
également fallu prendre le temps de correctement s’imprégner du contenu scientifique
afin de pouvoir guider les personnes dans l’exposition, dans le but que la médiation soit
claire et accessible à tous.
Enfin, et toujours dans le même cadre, nous avons mis en place des séances
d’astronomie adaptée : en partenariat avec un astrophysicien, chercheur à l’école
normale supérieure, qui est lui-même déficient visuel. Ensemble, nous avons
longuement parlé du manque d’accès à l’astronomie et nous avons souhaité, en plus de
la carte du ciel, mettre en place des courtes séances afin de commencer à parler à nos
publics de notions simples, et surtout leur faire toucher du matériel : nous avons par
exemple utilisé des boules de polystyrène pour faire les planètes en 3D, et nous avons
également fait de nombreux dessins reliefs, notamment de la voie lactée. Ces séances
d’1h30 ont connu un succès considérable, elles étaient complètes et nous avons dû
mettre en place une liste d’attente. De plus, l’engouement qu’elles ont suscité nous a
amené à nous interroger sur le rapport des déficients visuels à l’astronomie. En effet,
même si c’est une science au premier abord difficilement accessible pour eux, de
nombreux déficients visuels auraient souhaités avoir plus de matériel adapté entre les
mains pour s’y intéresser. Nous avons par exemple était interviewés par une radio
spécialisée qui souhaitait avoir plus de précisions sur nos techniques permettant de
« faire toucher les étoiles aux aveugles ». Ces séances ont donc eu lieu et elles ont été
un l’occasion d’une observation très intéressante sur le savoir initial des personnes en
astronomie ainsi que leur intérêt pour cela, ce qui nous a permis de mieux cerner les
besoins et attentes pour notre carte du ciel.
Avec tous ces projets, nous pouvons donc nous questionner : culture scientifique et
accessibilité sont-elles compatibles ?
Culture scientifique et accessibilité : ces deux notions sont-elles compatibles ?
Pour chaque nouvelle exposition ou nouveau projet, le travail de l’accessibilité se fait en
lien avec les chefs de projet ainsi que les scientifiques de la Cité des sciences et de
l’industrie. Environ un avant l’ouverture de l’exposition, et un an après que l’équipe ait
commencé à travailler dessus, le service accessibilité assiste à une réunion de
présentation de l’exposition où les chargés d’accessibilité donnent leurs préconisations.
Puis ont lieu différentes réunions où chacun des éléments sont décrits et analysés afin de
savoir s’ils sont accessibles tels quels. Si ce n’est pas le cas, nous réfléchissons
ensemble à d’éventuelles modifications afin qu’ils le deviennent. Ce moment est l’un
des plus important de la conception car il définira la qualité d’accessibilité d’une
exposition. Il peut être parfois très riche et intéressant dans la mesure où c’est la partie
créative du métier de chargé d’accessibilité, où nous devons chercher et trouver des
solutions, mais il peut également être compliqué lorsque nous devons faire des choix,
surtout du point de vue scientifique : quel contenu choisit-on de rendre accessible ? Y a-
t-il des éléments que l’on peut choisir de ne pas rendre accessible ? Comment concilier
sciences et déficience visuelle ?
Les chefs de projet d’exposition n’ont pas toutes les connaissances requises en matière
d’accessibilité et inversement, les chargés d’accessibilité n’ont pas toutes les
connaissances scientifiques sur le contenu des expositions. Le travail et les choix
doivent donc nécessairement se faire ensemble : certains éléments vont être modifiés, et
d’autres resteront en état. Toutefois, d’autres questions vont se poser en terme de
contenu : rendre accessible un élément n’engendre-t-il pas une modification contenu
scientifique ? Parce que nous sommes déficients visuels devons-nous nous contenter
d’un « minimum culturel » ?
Pour illustrer cela, reprenons l’exemple de notre carte du ciel en relief et en braille :
bien évidemment, la carte du ciel classique contient bien plus d’informations que celle
en relief. Comment peut-on donc choisir ce que l’on décide d’apprendre aux personnes
déficientes visuelles ou pas ? Dans notre cas, c’est le graphiste, qui est également
astrophysicien, qui est parti de la carte classique et a sélectionné les informations,
principalement en fonction de la place qui lui était accordée. Il a ensuite fait une
première proposition, qui a été soumise aux doigts de notre astrophysicien déficient
visuel, ainsi qu’à l’œil expert des scientifiques de la Cité des sciences et de l’industrie.
C’est à cette étape que les discussions se compliquent et que des choix doivent être
faits : les scientifiques ont évidemment du mal à mettre de côté certaines notions qui
leur semblent indispensables, l’astrophysicien déficient visuel défend quant à lui l’idée
qu’il faut sélectionner au maximum les informations afin de ne pas noyer notre public
d’idées et de représentations qu’ils ne cerneront pas si elles sont trop nombreuses et
petites, et le graphiste défend quant à lui son manque de place ainsi que l’aspect
esthétique de la carte et des conditions graphiques à respecter. Le rôle du coordinateur
et chef de projet intervient alors, ce fut d’ailleurs la difficulté majeure de ce projet dans
la mesure où il était bien souvent délicat de défendre les points de vues des uns auprès
des autres ainsi que d’oser prendre des décisions. Par ailleurs il a bien fallu prendre des
décisions et concilier tous les aspects du projet afin de satisfaire tous les acteurs.
La démarche a été la suivante : en tant que chargée d’accessibilité pour les publics
déficients visuels, l’essence du projet était selon nous basé sur l’accessibilité et donc le
respect des normes pour que la carte soit adaptée mais aussi agréable à toucher et non
qu’elle soit simplement un condensé d’informations beaucoup trop important pour être
lisible tactilement. Cependant, la carte devant de toute façon être validée par le comité
scientifique du musée, il a également fallu faire des concessions dans leur sens et cela a
été possible en réunissant tous les points de vue, en prenant le temps de calmement les
expliquer auprès de chacun des acteurs, dans le but de pouvoir prendre les décisions
ensemble. Nous avons donc décidé de privilégier les éléments indispensables pour notre
carte du ciel, en axant notre travail sur les éléments classiques comme la grande ourse
ou encore l’étoile polaire. Par ailleurs, la carte va tout de même assez loin dans la
connaissance en parlant d’un grand nombre de constellations ou de nébuleuses peu
connues : nous avons donc dû faire des choix, en éliminant par exemple certaines
constellations astrologiques, principalement car elles n’étaient pas mentionnées dans
l’animation scientifique faite par un médiateur qui accompagne la carte. Cependant,
nous n’avons pas conservé uniquement les éléments classiques et basiques, et nous
estimons proposer une carte aboutie qui permet d’obtenir de nombreuses connaissances
qui sont, pour le grand public, sûrement inconnues.
Il semble donc évident qu’il faille faire des choix pour rendre accessibles des éléments
aux personnes déficientes visuelles, et cela dépend évidemment de beaucoup de critères
comme le budget, l’ouverture d’esprit de l’équipe projet, la volonté et l’esprit de
synthèse des scientifiques… Certains projets sont donc sûrement plus difficiles à mener
que d’autres, par ailleurs, on ce qui concerne la carte du ciel, nous estimons ne pas nous
être contenté d’un minimum culturel indispensable et basique, mais bien être allés au
bout du projet en tentant de faire preuve d’un esprit de synthèse pour proposer un outil
accessible mais aussi riche de connaissances. Culture scientifique et déficience visuelle
serait alors compatible, mais ce après de longs débats et longues réflexions en commun.