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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA
Monografia de Investigação
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DOS CANAIS
RADICULARES COM LASER DE Er,Cr:YSGG NA
RESISTÊNCIA DE EXTRUSÃO DE ESPIGÕES DE
FIBRA DE VIDRO
Ana Isabel Ribeiro Araújo
PORTO, JUNHO DE 2013
I
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA
Monografia de Investigação
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DOS CANAIS
RADICULARES COM LASER DE Er,Cr:YSGG NA
RESISTÊNCIA DE EXTRUSÃO DE ESPIGÕES DE FIBRA DE
VIDRO
Ana Isabel Ribeiro Araújo
Aluna do 5º ano do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Universidade do Porto
Orientador
Professora Doutora Maria Teresa Pinheiro de Oliveira Rodrigues de Carvalho
Co-orientador
Mestre Miguel Rui Antunes Rodrigues Martins
PORTO, JUNHO DE 2013
II
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Teresa Oliveira, minha orientadora, pelo apoio, conselhos,
disponibilidade, carinho e ensinamentos que sempre me transmitiu…mas, sobretudo, pelo
incentivo e força que sempre me deu através da sua alegria e forma de encarar a vida.
Ao Mestre Miguel Martins, meu co-orientador, pelo apoio, conselhos, conhecimentos e
rigor científico transmitidos desde o primeiro dia.
Ao Prof. Doutor Álvaro de Azevedo, pelo apoio e colaboração prestados.
À Professora Doutora Sofia Oliveira pela simpatia, disponibilidade e imenso apoio
prestado.
Aos meus pais e irmãos, pelo apoio, amor, carinho e tolerância que sempre me deram em
todos os projetos da minha vida.
Ao meu namorado, Joel, pelo incansável incentivo, pela tolerância e imensurável
paciência que teve nas horas de maior aflição… e, sobretudo, pelo amor que sempre me deu em
todos os momentos.
III
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
NaOCl – Hipoclorito de Sódio
H2O2 – Peróxido de Hidrogénio
EDTA - Ácido Etilenodiamino Tetra-acético
Er,Cr:YSGG - Érbio, Crómio: Ítrio, Escândio, Gálio e Granada
G1 – Grupo 1
G2 – Grupo 2
IV
ÍNDICE
RESUMO ....................................................................................................................................................... V
ABSTRACT .................................................................................................................................................... VI
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 2
2. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................................... 5
3. RESULTADOS ....................................................................................................................................... 12
4. DISCUSSÃO .......................................................................................................................................... 15
5. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................ 17
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 18
V
RESUMO
Intodução: Através de estudos clínicos, tem sido demonstrado que, em dentes
restaurados com o auxílio de espigões de fibra de vidro, as principais falhas ocorrem na adesão à
estrutura dentinária, que é comprometida frequentemente pela presença de smear layer na
superfície radicular. A irrigação química é, deste modo, recomendada para dissolver os detritos
após a preparação do canal radicular. No entanto, alguns autores afirmam que nenhuma solução
irrigadora tem a capacidade de remover totalmente a smear layer. A introdução do laser de
Er,Cr:YSGG na medicina dentária como coadjuvante na limpeza dos canais radiculares, tem
vindo a abrir novos horizontes nesta área.
Material e Métodos: Quarenta incisivos humanos (N=40) foram descoronados e sujeitos
a tratamento endodôntico. A amostra foi dividida em dois grupos: Grupo 1 (G1, n=20), cujo
espaço para a colocação do espigão foi tratado com solução de hipoclorito de sódio (5,25%) e,
no Grupo 2 (G2, n=20), o espaço para a colocação do espigão foi tratado com laser de
Er,Cr:YSGG. Os espécimes de cada grupo foram, de seguida, seccionados em três discos de
1mm cada e sujeitos a testes push-out¸ com uma máquina de teste universal. A análise estatística
foi feita com significância de p=0,05, através de testes t-student e ANOVA de medidas repetidas.
Resultados: A resistência adesiva nas regiões cervical, média e apical (MPa) foi mais
elevada no grupo 2 do que no grupo 1, embora estas diferenças não tenham sido estatisticamente
significativas (p >0,05). Comparando isoladamente as três regiões do grupo 1 verificou-se que a
região apical é significativamente mais resistente à extrusão do que a região cervical (p<0,05).
No grupo 2 verificou-se que a região apical registou, igualmente, valores de resistência
superiores à região cervical (p<0,1).
Conclusão: O laser de Er,Cr:YSGG demonstrou ter um efeito positivo nos valores de
resistência dos espigões de fibra de vidro à estrutura radicular, o que poderá ser determinante na
estabilidade das restaurações a longo prazo.
Palavras-chave: Fiber posts, Post retention, Push-out tests, Adhesion, Er,Cr:YSGG laser, Smear
Layer
VI
ABSTRACT
Introduction: With the aid of many clinical studies, it has been established that, in teeth
restored with glass fiber posts, the major flaws occur in the adhesion to the tooth structure, witch
is often compromised by the presence of smear layer in the root surface. The chemical irrigation
is, thus, recommended to dissolve de debris after root canal instrumentation. However, some
authors claim that no irrigants the hability to remove completely the smear layer. The introdution
of Er,Cr:YSGG laser in dentistry as shown to promote cleaner root canal surfaces, which has
been opening new horizons in this area.
Materials and Methods: Forty human incisors (n=40) were sectioned transversally 1mm
below the cementum emanel junction and endodontically treated. The sample were divided into
two groups: Group 1 (G1, n=20), witch fiber post space were treated with a solution of sodium
hypochlorite (5,25%), and Group 2 (G2, n=20) witch fiber post space were treated with
Er,Cr:YSGG laser. The specimens of each group were, sectioned into 1mm slices at a distance of
1,5mm of each other. The push-out test was performed with na universal machine test. The
statistical analysis was performed with a significance of p=0,05, using a t-student test and
ANOVA repeated measures.
Results: The bond strenght in the cervical, médium and apical (MPa) was higher in group
2. Comparing singly the three regions of group 1, it was verified that the values of bond strength
in the apical region was significantly higher than the cervical and médium regions (p<0,0025). In
the three regions of group 2 there were not found statistically significant diferences (p >0,05).
Conclusion: The Er,Cr:YSGG laser showed a positive effect in the push-out bond
strength values of glass fiber posts to the radicular structure, witch could be determinant in the
long-term stability of restorations.
Key words: Fiber posts, Post retention, Push-out tests, Adhesion, Er,Cr:YSGG laser, Smear
Layer
2
1. INTRODUÇÃO
A restauração de dentes que apresentam uma perda de estrutura dentária significativa,
associada a um tratamento endodôntico, é cada vez mais frequente na prática clínica e apesar de
ser um tema bastante estudado, apresenta ainda algumas perspetivas controversas.
As fraturas são mais comuns em dentes sem polpa do que em dentes vitais [1]. Alguns
estudos têm proposto que a dentina dos dentes com tratamento endodôntico é mais frágil que a
dos dentes vitais [2-4]. Num estudo in vitro com dentes homólogos, Sedgley e Messer[5]
mostraram que a dentina de dentes vitais é mais dura que a dentina dos seus contralaterais com
tratamento endodôntico, mas não demonstraram alterações biomecânicas significativas que
possam realçar a fragilidade dos dentes com tratamento endodôntico. Se no passado os dentes
com tratamento endodôntico eram considerados mais frágeis devido às alterações estruturais da
dentina, tais como, a desidratação e a quebra das ligações de colagénio [6], atualmente, tem se
demonstrado que a perda de estrutura dentária associada à preparação do acesso endodôntico
aumenta a deflexão das cúspides durante a sua função. Esta situação está relacionada com a
elevada ocorrência de fraturas. Além disso, a microinfiltração coronal e a contaminação
bacteriana que pode ocorrer quando os dentes não são imediatamente restaurados, provoca falhas
no tratamento endodôntico e por vezes necessidade de retratamento. Deste modo, a quantidade
de tecido dentário remanescente parece ter maior influência na estabilidade e na ocorrência de
fraturas radiculares [7].
Os dentes com perda de estrutura dentária significativa exigem restaurações extensas ou
restauração completa da coroa. Se a estrutura dentária remanescente não for suficiente para reter
o material restaurador, preconiza-se a utilização de um espigão radicular para aumentar a sua
retenção [8]. Assim, o principal objetivo de um espigão é reter a coroa ou o material restaurador
num dente com grande perda de estrutura coronária [9, 10].
Contudo, a preparação do espaço para o espigão acrescenta algum risco ao procedimento
restaurador devido a possíveis erros iatrogénicos, tais como perfuração da região apical ou das
paredes laterais da raiz, também conhecidos como strip perforation. A colocação do espigão
aumenta, deste modo, o risco de fratura radicular e consequente fracasso do tratamento.
No caso da opção restauradora recair sobre a utilização de um espigão radicular, será
necessário escolher o tipo de espigão mais adequado. Nos últimos 10 anos, diversos estudos
clínicos têm preconizado a escolha de espigões pré-fabricados, por estes oferecem melhor
prognóstico que os espigões fundidos, em dentes com tratamento endodôntico [11].
3
O material usado para o espigão deve ter propriedades físicas semelhantes à dentina, deve
aderir à estrutura dentária e deve ser biocompatível com as estruturas dentárias. Além disso, deve
ser capaz de absorver grande parte ou a totalidade das forças, transmitindo apenas uma força
residual á estrutura dentária remanescente [12]. A estrutura dentária remanescente e as
exigências funcionais são, portanto fatores determinantes para a escolha do espigão mais
adequado [13].
Tradicionalmente, os espigões eram feitos de matrizes metálicas e eram descritos como
sendo particularmente rígidos, adicionando dureza à raiz. Atualmente estes parecem estar
frequentemente associados às fraturas radiculares [14]. A ocorrência de fraturas radiculares
aliada á falta de estética conduziu á procura de espigões compostos por um material capaz de
colmatar tais desvantagens.
Os espigões de fibra de vidro, são constituídos por fibras unidirecionais envolvidas por
uma matriz de resina, são mais flexíveis que os espigões metálicos e têm um módulo de
elasticidade semelhante ao da dentina, o que permite uma distribuição uniforme das forças
através da raiz, diminuindo assim a probabilidade de ocorrência de fraturas radiculares [15], e
por isso, têm sido bastante requisitados na restauração de dentes anteriores.
Durante a preparação do canal forma-se uma camada de smear layer [16], composta por
partículas orgânicas e inorgânicas da dentina, remanescentes do tecido pulpar, microrganismos,
endotoxinas e células sanguíneas [17], que inibe a penetração das soluções irrigadoras no interior
dos túbulos dentinários, o que aumenta a microinfiltração [18]. Vários estudos têm demonstrado
que a remoção completa da smear-layer pode influenciar a polimerização dos cimentos de
resina, que é um dos passos importantes na adesão do espigão ao cimento e à dentina [19, 20].
Vários estudos in vitro têm demonstrado, no entanto, que as principais falhas de adesão
dos espigões de fibra de vidro ocorrem na interface cimento-dentina[21-23]. Quando a
restauração de dentes com tratamento endodôntico é feita com espigões de fibra de vidro, o
mecanismo de adesão do sistema adesivo às paredes do canal radicular é essencialmente de
natureza micromecânica, baseado na hibridização da superfície desmineralizada e nos tags de
resina [24]. Assim, para se conseguir uma camada híbrida preconiza-se a remoção da smear-
layer presente nas paredes do canal e na porção inicial dos túbulos dentinários para aumentar a
retenção do cimento usado [25].
A irrigação química é recomendada em combinação com instrumentação mecânica a fim
de dissolver detritos orgânicos, inorgânicos e a própria smear-layer [26, 27]. A irrigação química
com NaOCl, H2O2, EDTA, clorexidina, ácido cítrico, ácido ortofosfórico (H3PO4), e suas
4
combinações são, deste modo, usadas para aumentar a retenção micromecânica dos cimentos,
facilitando a sua penetração nos túbulos dentinários [16, 19, 28-30].
No entanto, estas soluções irrigadoras são incapazes de remover eficazmente a smear-
layer [31, 32] e, segundo Fedorowicz et al., existe insuficiente evidência científica para provar a
superioridade de alguma solução de irrigação[33].
Em 1960, Theodore Maiman [34] desenvolveu o primeiro dispositivo de laser, que emitia
um feixe profundo de luz vermelha de um cristal de ruby. Nos anos seguintes e até hoje, vários
investigadores estudam as possíveis aplicações laser na medicina dentária. O laser de
Er,Cr:YSGG é um sistema de laser com um comprimento de onda de 2,78 µm que tem sido
considerado útil na ablação de tecidos duros (p.e. esmalte, dentina, cemento e osso) e na remoção
da smear layer e detritos [35, 36].
A utilização do laser de Er,Cr:YSGG (ʎ=2780nm) tem sido reportado cientificamente
como co-adjuvante na preparação biomecânica tradicional e diversos estudos têm apontado a
utilização deste comprimento de onda na limpeza e desinfeção dos canais radiculares [37].
Devido às suas características de absorção predominante na água, bem como nos grupos
OH- da hidroxiapatite, o laser de Er,Cr:YSGG tem sido especialmente estudado quanto à
capacidade em remover a smear layer através de fenómenos de cavitação [38] e alterar a
morfologia dentinária [37], o que resulta numa melhor adaptação dos materiais de preenchimento
às paredes do canal radicular [39, 40], que possivelmente contribuirá para uma maior retenção
dos espigões às paredes do canal radicular.
Durante a irradiação da luz laser, parte do feixe propaga-se também para além do ápice
radicular e, no sentido de minimizar este efeito foram, recentemente desenvolvidas pontas de
irradiação radial (RFT- radial firing tips), que permitem uma distribuição mais homogénea da
radiação ao longo das paredes do canal [41].
O método mais utilizado com o fim de determinar a eficácia da adesão entre os espigões e
a estrutura radicular são os testes push-out [42].
Nesse sentido, pretende-se com este estudo avaliar o efeito do tratamentos da superfície
do canal radicular coadjuvado pelo laser de Er,Cr:YSGG, na força de extrusão dos espigões de
fibra de vidro.
5
2. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi aprovado pela comissão de ética da Faculdade de Medicina Dentária da
Universidade do Porto.
Para a realização deste estudo foram usados quarenta incisivos superiores humanos
extraídos por motivos periodontais e/ou protéticos. Os espécimes foram armazenados em água
destilada, durante um período inferior a 6 meses após a sua extração. Os critérios de seleção
incluíam existência de um canal radicular permeável, reto ou com ligeira curvatura (<10-15º),
com ápice formado, ausência de cáries ou fraturas radiculares, ausência de tratamento
endodôntico prévio, espigões ou coroas.
Previamente à realização do tratamento endodôntico, todos os dentes foram radiografados
no sentido vestíbulo-palatino e mesio-distal, a fim avaliar a integridade e morfologia da raiz;
Todas as raízes foram minuciosamente inspecionadas e todos os resíduos superficiais foram
removidos com recurso a um aparelho de ultrassons (GC1-KAVO®). De seguida, a coroa de
cada dente foi removida 1mm acima da junção esmalte-cemento com um disco diamantado
(Gebr, Brasseler, GmbH&Co - Komet®).
Fig 1. Aspeto inicial de alguns dos
espécimes
Fig 2. Remoção dos resíduos
superficiais
Fig 3. Remoção das coroas
Fig 4. Aspeto de alguns dos espécimes
após remoção das coroas
6
Tratamento endodôntico:
O acesso endodôntico foi feito com o auxílio de uma broca peeso, sob refrigeração. A fim
de obter o comprimento de trabalho, inseriu-se uma lima tipo K-flexofile ISO #10 até ser visível
através do forâmen apical ao qual se subtraiu 1mm.
As raízes foram então instrumentadas com recurso a instrumentação reciprocante com
limas Wave One primary #25.08, de 25mm (Dentsply-Maillefer®, Switzerland) irrigando com
3ml de NaOCl (3%) entre cada penetração da lima, com seringa de irrigação lateral (Monojet
30G). Foi usada uma lima para cada duas raízes.
Os canais foram secos com cones de papel calibrados (Dentsply-Maillefer®, Switzerland)
e obturados com cones de gutta percha primary (Dentsply Maillefer®, Switzerland) e cimento
de óxido de zinco e eugenol. Foi utilizada a técnica do cone único e compactação vertical.
Preparação do espaço para o espigão:
Após uma semana, procedeu-se á preparação do espaço para a colocação do espigão de
fibra de vidro. Usou-se uma broca de desobturação do kit de espigões (Rebilda Post-Voco®)
para remover a gutta percha coronal, deixando 4mm de selamento apical. O espaço para o
espigão foi, de seguida, preparado com uma broca de calibração do kit de espigões a baixa
rotação.
Todos os espécimes foram preparados pelo mesmo operador seguindo o protocolo
recomendado pelo fabricante.
Fig 5. Limas Wave One Primary primary (Dentsply Maillefer®, Switzerland) e cones de gutta percha primary
(Dentsply Maillefer®, Switzerland)
7
A amostra foi dividida em dois grupos:
Grupo 1 (n=20), o espaço para a colocação do espigão foi tratado com solução de
NaOCl a 5,25%, com uma seringa de irrigação lateral (Monojet, 30G) em movimentos verticais
de apical para coronal;
Grupo 2 (n=20), o espaço para a colocação do espigão foi tratado com laser de
Er,Cr:YSGG (Waterlase MD, Biolase, CA), com pontas de dispersão radial RFT3 (Endolase tip,
Biolase) de diâmetro 320µm e comprimento onda 17mm, com 1,25W, 50Hz, 140µs, 24% de
água e 34% de ar, num movimento vertical de apical (gutta percha – 1mm) para coronal a
aproximadamente 2mm.s-1. O protocolo foi repetido duas vezes em cada espécime e cada ponta
foi utilizada para duas raízes.
No final do tratamento do espaço para a colocação do espigão, todos os canais radiculares
foram secos com cones de papel (Dentsply-Maillefer®, Switzerland)
Fig 6. Calibração do espaço para
o espigão
Fig 7. Irrigação do espaço para o
espigão com NaOCl (5,25%) Fig 8. Aparelho de laser
Waterlase MD, Biolase, CA
Fig 9. Ponta de dispersão radial
RFT3 (Endolase tip, Biolase)
Fig 11. Irradiação do espaço para o
espigão (vista oclusal) Fig 10. Irradiação do espaço para
o espigão (vista do feixe de luz
com dispersão radial ao longo do
canal radicualr)
8
Cimentação dos espigões:
Neste estudo foi usado o sistema de espigões de fibra de vidro (Rebilda Post-Voco®) de
diâmetro 1mm. Os espigões foram marcados de acordo com o comprimento do espaço para o
espigão, de modo a ficar 3mm de espigão fora da raiz e foram cortados transversalmente com um
disco diamantado. De seguida limpou-se a superfície dos espigões com álcool etílico e secou-se
com jato de ar. Os espigões foram cimentados de acordo com as instruções do fabricante:
aplicou-se o sistema adesivo com micro-brushes durante 20 segundos, aplicou-se o cimento
resinoso (Rebilda DC-Voco®) de apical para coronal e, por fim, colocou-se o espigão de fibra de
vidro. A polimerização foi feita com um aparelho de luz de intensidade 1,200 mW/cm2 (Blue
phase-Ivoclar®) durante 40 segundos e os 3mm de espigão visíveis serviram de guia para
padronizar a distância da ponta de luz durante a polimerização.
Fig 12. Sistema de espigões de
fibra de vidro usado (Rebilda
Post – Voco®)
Fig 13. Cimento resinoso usado
(Rebilda DC - Voco®) e adesivo
usado (Futurabond – Voco ®)
Fig 14. Aplicação do sistema
adesivo (Futurabond – Voco ®)
Fig 15. Aplicação do cimento
no interior do canal radicular
(Rebilda DC – Voco®)
Fig 16. Cimentação do espigão de
fibra de vidro (Rebilda Post –
Voco®)
Fig 17. Fotopolimerização
(Blue phase-Ivoclar®)
9
Testes Push-out:
Uma semana após a cimentação dos espigões de fibra de vidro, todos os espécimes foram
incluídos em acrílico autopolimerizável (Vertex®, dental B.V.-Netherlands) com um auxílio de
um molde cilíndrico metálico pré-fabricado. Obtiveram-se assim 20 cilindros de acrílico com os
espécimes do G1 incluídos até á porção cervical da raiz e 20 cilindros de acrílico com os
espécimes do G2 incluídos do mesmo modo. Os cilindros foram seccionados perpendicularmente
ao longo eixo da raiz com uma máquina de corte (Isomet 1000 Precision Saw-Buehler,
Germany), sob refrigeração constante.
Em cada raiz foram cortados 3 discos de 1mm de espessura e espaçados entre si 1,5mm: o
primeiro disco representa a porção cervical do espigão de fibra de vidro, o segundo disco
representa a porção média e o terceiro disco representa a porção apical. Cada disco foi marcado
na sua parte coronal com um marcador permanente e a sua espessura exata foi medida com uma
craveira digital (Digimatic caliper, Mitutoyo, Tokyo, Japan) de precisão 0,01mm.
Os testes push-out foram realizados numa máquina de teste universal (Instron corp 4502,
USA), a uma velocidade de 0,5mm/min. Cada disco foi colocado sobre uma plataforma com uma
abertura central, com a superfície apical voltada para cima. Usou-se um espigão metálico (1mm
de diâmetro), que foi fixado às garras da máquina de teste. Houve especial cuidado em centrar a
ponta do espigão metálico com o espigão de fibra de vidro, de modo a não tocar na dentina
circundante. A força foi aplicada de apical para coronal até o espigão de fibra de vidro se
deslocar. O valor máximo da falha foi registado em Newton (N) e convertido para MPa através
da seguinte fórmula:
Força de descolamento (MPa) = Força de falha (N)
Área (cm2)
Fig 18. Espécime após cimentação do espigão de fibra de vidro
10
Uma vez que os espigões são cónicos, a área de descolamento foi calculada pela seguinte
fórmula: A= π(D+d)√(D-d)2 + h2, em que R e r são respetivamente o diâmetro maior e menor da
zona do espigão e h é a espessura do disco. Os diâmetros maior e menor da zona do espigão
foram medidos com recurso a um microscópio ótico com ampliação de 20X (Travelling
Microscope, Mitutoyo- Tokyo, Japan).
Fig 21. Espécime estabilizado no
interior do acrílico
Fig 19. Molde para estabilizar o
espécime perpendicular no acrílico
Fig 20. Espécime estabilizado no
molde
Fig 22. Espécime estabilizado no
interior do acrílico antes da remoção
do molde
Fig 23. Cilindro de acrílico com um
espécime no interior
Fig 24. Aspeto da máquina de corte
(Isomet 1000 Precision Saw-Buehler,
Germany)
Fig 25. Corte de um dos discos de um
espécime
Fig 26. Disco após corte (vista
frontal)
Fig 27. Disco após corte (vista
lateral)
11
Análise estatística:
A análise estatística foi feita através do software IBM SPSS®, V.21, com significância de
p=0,05.
A normalidade das variáveis foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov e o teste
de Levène foi feito para avaliar a sua homogeneidade. Recorrendo ao teste t-student
independente comparou-se o grupo laser (G2) e o grupo controlo (G1) na mesma região
(cervical, média e apical).
De seguida fez-se uma análise de correlações lineares usando a correlação de Pearson
para legitimar o uso da MANOVA, o que acabou por não ser possível. Usou-se então uma
ANOVA de medidas repetidas para avaliar a existência de diferenças nas três regiões do canal
(cervical, média e apical), considerando separadamente os dois grupos (G1 e G2).
Fig 28. Verificação da
espessura dos discos com
uma craveira digital
Fig 29. Testes push-out Fig 30. Disco após teste push-
out
Fig 31. Fotografia microscópio
ótico (20x) da região cervical do
disco
Fig 32. Fotografia microscópio
ótico (20x) da região média do
disco
Fig 33. Fotografia microscópio,
(20x) da região apical do disco
12
3. RESULTADOS
A tabela 1 apresenta o valor da média e desvio-padrão dos testes push-out nas três regiões
da raiz (cervical, média e apical) nos dois grupos experimentais (NaOCl e Laser). A média da
resistência adesiva nas regiões cervical, média e apical (MPa) foi mais elevada no G2 do que no
G1. Em todo caso não se encontraram diferenças estatisticamente significativas (t-student,
p>0,05).
Tabela I. Médias e desvio padrão (MPa) da resistência nas três regiões da raiz (cervical, média e apical) dos dois
grupos experimentais (NaOCl e Laser)
NaOCl Laser
Média ± Desvio Padrão Média ± Desvio Padrão
Resistência região
Cervical 6,15 ± 6,30 6,68 ± 3,83
Resistência região
Média 7,75 ± 4,10 10,15 ± 6,24
Resistência região
Apical 10,23 ± 5,25 11,31 ± 8,00
Gráfico 1. Valores da média e desvio-padrão da resistência na região cervical nos dois grupos
experimentais (G1 e G2).
13
Gráfico 2. Valores da média e desvio-padrão da resistência na região média nos dois grupos
experimentais (G1 e G2).
Gráfico 3. Valores da média e desvio-padrão da resistência na região apical nos dois grupos
experimentais (G1 e G2).
14
Através do teste ANOVA de medidas repetidas avaliou-se a existência de diferenças nas
três regiões do G1 e verificou-se que a região apical registou maior resistência à extrusão (4,178
MPa) que a região cervical (p<0,05).
Comparando as três regiões do G2, verificou-se que a região apical registou maior
resistência (4,431 MPa) à extrusão que a região cervical (p<0,1).
Gráfico 4. Valores da resistência nas regiões cervical, média e apical, no G1
Gráfico 5. Valores da resistência nas regiões cervical, média e apical, no G2.
15
4. DISCUSSÃO
Os dentes sujeitos a tratamento endodôntico têm normalmente uma estrutura dentinária
enfraquecida devido á extensa perda de estrutura dentária; por isso, é comum nestes dentes
recorrer-se á reabilitação com espigões radiculares [43]. No que diz respeito ao material do
espigão radicular, vários tipos de espigões foram desenvolvidos, nomeadamente metálicos, de
fibra de carbono e de fibra de vidro. Os espigões de fibra de vidro apresentam um módulo de
elasticidade mais semelhante ao da dentina quando comparados com os espigões metálicos. Num
estudo in vitro, Hai Qin et al. concluíram que os dentes restaurados com espigões de fibra de
vidro demonstraram valores de fratura significativamente inferiores aos espigões de níquel [44].
A retenção dos espigões de fibra de vidro depende de uma adequada adesão entre o
espigão e o cimento e entre o cimento e a dentina. Uma das principais falhas dos espigões de
fibra de vidro reside na falha de adesão do cimento á dentina [45, 46]. O tratamento da superfície
radicular e a remoção da smear layer são essenciais para o processo de adesão às paredes do
canal.
Desde 1918, a solução irrigadora mais comumente usada é o hipoclorito de sódio
(NaOCl), que tem a capacidade de dissolver os tecidos orgânicos [47-50] e é um agente
antimicrobiano eficaz [50-52]. A concentração ideal recomendada para os tratamentos
endodônticos varia entre 0,5 e 5,25%. Alguns estudos têm mostrado que a força de adesão de
alguns adesivos e cimentos resinosos pode ser, no entanto, comprometida pelo uso de hipoclorito
de sódio [25, 53-55]. Além disso, é sabido que esta solução irrigadora tem efeitos citotóxicos e
isso altera os componentes orgânicos da dentina, especialmente o colagénio que contribui
consideravelmente para as propriedades mecânicas da dentina [56, 57].
Com as soluções irrigadoras comuns consegue-se eliminar uma quantidade suficiente de
remanescente dentinário dos canais radiculares. No entanto, devido ao diâmetro estreito dos
túbulos dentinários e à elevada tensão superficial das soluções irrigadoras, estas apenas
conseguem atingir uma pequena distância no interior dos túbulos. A profundidade de penetração
das soluções irrigadoras no interior dos túbulos dentinários é, geralmente, de apenas 100µm.
Por sua vez, a irradiação com laser de Er,Cr:YSGG consegue penetrar na dentina a uma
profundidade superior a 1000µm [37].
Unni Endal et al. avaliaram a quantidade de detritos que ficavam na zona do istmo do
canal mesio-lingual de molares inferiores após instrumentação, irrigação e obturação do canal e
concluíram que, apesar da irrigação contínua antes e depois da instrumentação, uma quantidade
considerável de detritos dentinários era produzida e armazenada nesta zona [58].
16
As diversas aplicações do laser de Er,Cr:YSGG tem ganho, assim, destaque no
tratamento de dentes endodonciados, nomeadamente pela sua capacidade de remoção da smear
layer. Neste estudo, o grupo tratado com laser mostrou valores de resistência mais elevados nas
regiões cervical, média e apical, o que possivelmente se deve à maior eficácia na remoção da
smear layer. Do mesmo modo Taskin et al., num estudo desenvolvido em dentes
monorradiculares humanos, demonstrou valores mais baixos de smear layer no grupo tratado
com laser enquanto o grupo tratado com NaOCl apresentou detritos e smear layer na superfície
radicular [59].
Nagase et al., num estudo em quarenta dentes bovinos, avaliou a influência da irradiação
com lasers de Er,Cr:YSGG e de Nd:YAG na força de extrusão de um tipo de espigões de fibra de
vidro (Ângelus, Paraná, Brasil), cimentados com um adesivo total-etch (Scotch Bond
Multipurpose, 3M/ESPE, Brasil) e com um cimento resinoso (RelyX ARC, 3M/ESPE, Brasil).
Concluiu que o tratamento adicional com laser de Er,Cr:YSGG ou de Nd:YAG não afeta a
retenção dos espigões de fibra de vidro [14]. No entanto, um estudo recente de Mohammadi et
al. demonstrou que o tratamento dos canais radiculares com laser de Er.Cr:YSGG aumentou a
força de adesão dos espigões de fibra de vidro ao canal radicular [36], o que vai de encontro aos
resultados deste estudo, onde a resistência à extrusão foi mamais elevada no grupo do laser (G1).
Além disso, concluiu que a força de adesão não era afetada pela região radicular para a
colocação do espigão. Neste estudo, as diferenças entre as 3 regiões (cervical, média e apical) do
grupo do laser também não apresentaram valores de resistência significativamente diferentes.
Varella et al. [39] demonstrou que o tratamento das paredes do canal radicular com laser
resultou numa superfície mais limpa e consequentemente numa melhor adaptação dos materiais
restauradores ao canal radicular, quando comparado com a irrigação com NaOCl e EDTA.
Dado o potencial que os lasers de Er,Cr:YSG têm em alterar a morfologia da dentina,
desnudando os túbulos dentinários, é possível constatar a sua influência positiva na força de
adesão entre os espigões e a estrutura radicular [60, 61].
17
5. CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos no presente estudo, foi possível concluir que o laser de
Er,Cr:YSGG (ʎ=2780nm), mediante o presente protocolo, poderá ter um efeito positivo na
remoção da smear layer e/ou alteração da morfologia dentinária de modo a obter melhores
valores de adesão dos espigões de fibra de vidro à estrutura radicular. Isto poderá ser
determinante no que concerne à estabilidade clínica das restaurações a longo prazo.
18
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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