Post on 08-Jun-2015
Universidade do Minho
Trabalho realizado para a cadeira de Métodos de Intervenção
Intervenção no luto infantil:
Ajudar crianças a lidar com a dor e sofrimento resultantes da morte de alguém significativo
Licenciatura em Psicologia
Ana Daniela dos Santos Cruzinha Soares da Silva Nº25136Vanessa Peixoto Pereira Nº25110
Base generativa
“Sinto-me como a última pétala que ficou numa flor e as outras pétalas estão a voar para longe...”“Sinto-me como a última pétala que ficou numa flor e as outras pétalas estão a voar para longe...”
Victoria Evans (6 anos)
A morte de uma pessoa importante é, porventura, a mais delicada situação que
temos de enfrentar na vida. O luto (mourning) que se segue à morte de uma pessoa
que nos estava próxima, independentemente da sua forma, não é uma doença, mas
sim um processo de adaptação que tem de seguir o seu curso. Ao longo do tempo o
conceito de luto assumiu dois significados diferentes. O primeiro derivou da teoria
psicanalitica e refere-se a uma predisposição ampla ou um processo inter-psiquico,
consciente e inconsciente que nos prepara para perda (Bowlby, 1980 in Rando, T.,
1984). O segundo significado diz respeito à resposta cultural à dor, sendo a reacção à
dor influenciada quer social quer culturalmente e como tal variável de pessoa para
pessoa. Distingue-se de grief (pesar) que diz respeito às experiências pessoais,
pensamentos e sentimentos associados com a morte (Worden, J., 1996).
O sofrimento da perda na infância é uma dor crua e penetrante que pode ser
devastadora. Os adultos tem o benefício da experiência e de conhecimentos passados,
podem perspectivar a perda mas não é esse o caso das crianças que não possuem
este tipo de estratégias para a ultrapassar esta situação. A grande tensão que os pais
sentem reflecte-se frequentemente na família e estes, apanhados como estão no
turbilhão das suas próprias emoções, tem dificuldade em lidar simultaneamente com
as necessidades crescentes de crianças alquebradas e com a sua própria perda
(Mallon, B., 1998). Ao longo do processo de luto a criança precisa de saber que não
está só e que os seus sentimentos são normais e fazem parte da vida; por isso um
adulto que se preocupa com ela deverá ser identificado como uma ancora, seja este
um membro da família, um amigo, um professor ou um trabalhador social.
As reacções à morte são muito parecidas com as que ocorrem em outros
momentos de perda e embora possam ser mais intensas, o que é crítico é a
importância dessa perda para o indivíduo-criança. Cada criança reage à perda com
base no seu relacionamento com a pessoa ou coisa que foi perdida, dependendo das
suas predisposições, personalidade, sensibilidade e todos os outros factores que
contribuem para criar um indivíduo único.
Um estudo realizado em Boston por J. Worden com 125 crianças em situação de
luto mostrou que durante os dois primeiros anos após a morte, somente uma minoria
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significativa de crianças (33%) registou algum risco de desenvolver problemas
emocionais ou comportamentais. Tal, indica que as crianças tem diferentes recursos
de suporte e força e diferentes áreas de vulnerabilidade sendo a adaptação à perda
multideterminada. Embora a interacção entre estes determinantes seja complexa e
ocorra de diferentes formas, é possível identificar seis categorias de mediadores que
influenciam o curso da adaptação à perda, sendo eles: a morte e os rituais
subjacentes; as relações da criança com os familiares mais próximos antes e depois
da morte; o funcionamento dos familiares sobreviventes e a sua capacidade para
apoiar a criança; influências familiares como o tamanho, a solvência, a estrutura, os
estilos de coping, suporte e comunicação bem como stressores familiares e
mudanças/disrupções no dia a dia da criança; suporte dos pares e outros fora da
família; e as características da criança, incluindo a idade, o género, a auto-estima e a
compreensão da morte. Variações nestes factores mediadores significam variações no
processo de luto de cada criança e determinam a forma como a criança experencia a
dor a seguir à perda de uma pessoa significativa.
A literatura indica três estádios principais do luto (Mallon, B., 2001):
Fase I – Primeiro estádio: A fase do protesto
Nesta fase as sensações de choque, alarme, torpor e recusa são comuns. O choque
inicial da separação e da perda revela-se tanto física como emocionalmente.
Fase II – Estádio Agudo: A fase da desorganização
A raiva vem à superfície neste estado agudo do luto em que a realidade da perda
se abate sobre o indivíduo. As crianças podem procurar outra pessoa- o médico, um
dos pais ou até o defunto. Pode ser muito difícil aguentar esses sentimentos tão
fortes, em especial se a criança utilizar os membros imediatos da família como objecto
da sua intensa raiva.
Fase III- Estádio da cedência: A fase da reorganização
Neta fase final do luto, existe um conflito entre a necessidade de “deixar andar”
num sentido emocional, e o desejo de “se manter firme”. Esta tracção entre o passado
conhecido e o futuro desconhecido é a tónica dominante para a resolução do luto. Este
é um momento muito importante onde se confirma que o luto não é o esquecimento
da pessoa amada mas uma nova maneira de se ligar a ela.
Estes estádios não são rígidos – cada pessoa vive a dor à sua maneira única -, mas
servem de guia para as reacções que podermos encontrar. Contudo uma criança pode
parecer encontrar-se um dia num estádio e no dia seguinte passar para outro; por isso
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não podemos esperar observar uma progressão facilmente reconhecível. O luto é um
processo e não um caminho linear e não há um padrão fixo.
Ao longo destes estádios que caracterizam o processo de luto a resposta de grief
normalmente é experienciada de 12 diferentes formas (Haasl & Marnocha, 1990):
Resposta “grief” Descrição
Choque / Recusa / Estupor
A perda pode parecer irreal ou impossível. A duração do choque pode ocorrer só por breves momentos ou arrastar-se por muitos meses (a norma aponta para 6 a 8 semanas).
IndiferençaPor vezes as crianças mostram-se indiferentes à perda como
forma de se defenderem. Contudo isto não revela ausência de sofrimento ou sentimentos em relação à morte.
Mudanças fisiológicas
Fadiga; dificuldade em dormir; perda ou aumento do apetite; dor de garganta; respiração lenta; tensão muscular; dores de cabeça e estômago; perda de energia; inépcia; precipitação ou impulsividade.
Estes sintomas podem levar as crianças a pensar que elas também vão morrer.
Regressão
A criança pode-se tornar mais dependente, dos adultos, exibir desejo de ser abraçada, acarinhada e/ou dormir com os pais. Pode apresentar comportamentos próprios do estádio de desenvolvimento anterior como “baby talk” e ter problemas na relação com os pares.
Actuar como um adulto
Podem querer ocupar o lugar da pessoa que morreu. No caso da morte do pai, por exemplo, o filho mais velho pode querer assumir o papel do pai/marido na família.
Desorganização e pânico
Os sentimentos podem estar desorganizados e interferir com os procedimentos normais da criança. Podem estar assustadas com a intensidade e duração dos seus sentimentos e acreditar que nada voltará ao normal outra vez.
Raiva e comportamentos
agressivos
A criança atribui a culpa da morte da pessoa querida a ela mesma ou aos outros manifestando comportamentos desafiadores e provocantes como forma de se proteger de um novo abandono.
Culpa e auto-censura
Se a criança alguma vez desejou a morte dessa pessoa, elas podem sentir-se culpadas; a criança pode ver o seu comportamento passado como responsável da morte de alguém querido.
Medo
Pode demonstrar medo que outras pessoas morram e podem preocupar-se com o facto de não terem ninguém para cuidar delas, isto pode levar a manifestar comportamentos de dependência excessiva.
Perda, vazio e tristeza
Ocorre quando a criança se apercebe que a pessoa querida não volta mais. Isto ocorre quando essa pessoa não está em momentos especiais em que a família está toda junta.
IntegraçãoA aceitação é o culminar do processo em que a criança se
conforma com a realidade da perda e dos seus sentimentos sobre o que aconteceu.
Os sonhos também são uma componente importante na forma como a criança
manifesta a sua dor podendo em alturas de perda ser especialmente perturbadores.
Jonh Bowlby informou que cerca de 1/5 das crianças que estavam a fazer um luto
tinham graves terrores nocturnos, enquanto que 1/4 insistia em dormir à noite com
um dos pais ou irmão (Bowlby, 1980). Os sonhos podem ser veículos de expressão dos
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medos pelo que será útil informar as crianças que dada a situação tensa em que se
encontram é normal que os pesadelos ocorram e que estes funcionem como uma
válvula de segurança que deixa sair alguma da pressão, aliviando assim, alguma da
ansiedade que os sonhos maus lhes provocam.
As crianças passam pela mesma gama de emoções que os adultos apesar de as
poderem expressar de maneiras diferentes. A idade da criança também influencia e
determina a forma como integram e reagem à morte (Mallon, 2001). As crianças muito
jovens tem uma compreensão limitada da permanência da morte, mas reconhecem-
na como uma separação e podem reagir com uma profunda tristeza. Entre os cinco e
os oito anos encontram-se no estádio do “pensamento mágico” pensando que basta
formularem um desejo para que qualquer coisa aconteça. Assim podem ficar
horrorizadas com o seu aparente poder de fazerem com que qualquer coisa aconteça
especialmente se antes haviam desejado que isso acontecesse. A crença continuada
neste poder mágico é visível no comportamento das crianças. As crianças com idades
compreendidas entre os oito e os dez anos ficam frequentemente intrigadas com a
morte. Às vezes, a morte é vista como uma pessoa que as vem buscar, por exemplo
um fantasma, ou a morte é uma consequência, por exemplo de terem pensado ou
feito algo mal. Por volta dos nove anos de idade, as crianças começam a aperceber-se
da permanência da morte e a expressarem a sua dor pela perda, como os adultos.
A criança precisa de tempo para fazer o seu luto; alguns especialistas dizem que
são sete anos, porventura a vida inteira, se não tiverem uma ajuda nesse período de
aprendizagem e de formação que é a infância. Embora não tenhamos encontrado
muitos estudos nesta área, parece ser importante a ajuda dos os profissionais, tanto
para as crianças, como para as famílias, para que tenham tempo e espaço para a dor,
a aceitação e a renovação. Cada um de nós pode ajudar as crianças a enfrentar as
dificuldades e todos os que desempenham um papel no acompanhamento das
crianças, sejam eles professores, médicos, psicólogos ou pessoal de enfermagem,
podem fazer muito para ajudarem as crianças e as suas famílias a enfrentarem o
impacto da perda. Se conseguir-mos reconhecer a tensão e aceitar a validade do
“falar” da criança conseguiremos então fazer alguma coisa para aliviar a dor. As
crianças expressam a sua angústia se os familiares, os amigos e os professores
estiverem dispostos a ouvi-las, ou quando faltam as palavras, comunicam através da
sua linguagem corporal ou exteriorização do seu comportamento.
Um programa de grupo com crianças em luto pode ser útil, na medida em que
pode ajudar as crianças a expressar abertamente os seus sentimentos de dor e a
receber suporte de outros que se encontram na mesma situação mostrando-lhes que
não estão sozinhas nos seus sentimentos.
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Mais especificamente, Linda Goldman (1996) refere algumas técnicas que podem
ser utilizadas para ajudar estas crianças:
Técnica / Formas de ajuda
Descrição
Visualização ou Imaginação guiada
Ajuda a criança a criar imagens positivas, pensamentos saudáveis e reduzir ansiedade.
Role-Playing
Facilita a exploração e expressão dos sentimentos que a criança tem dificuldade em expressar como a raiva, medo... Os jogos, fantoches, histórias podem ajudar as crianças a projectarem os sentimentos não resolvidos de uma forma mais aberta.
Explorar os sonhos Através de desenhos ou narração do sonho podemos aceder a pensamentos e sentimentos mais profundos.
Trabalhar memórias
Usar fotografias, artigos de jornais ou objectos associados à pessoa que morreu podem ajudar a solidificar sentimentos. Fazer uma caixa/livro de memórias pode ajudar as crianças a iniciar uma discussão e a partilhar as suas memórias.
Projecção Os desenhos, brinquedos, contar histórias ajudam as crianças a projectarem os seus sentimentos.
Teste da realidade
É importante, que a criança aceite a morte como algo irreversível mas para tal deve-se promover um clima de estabilidade em que a criança perceba que a morte é uma experiência comum e que poderá voltar a ter uma vida normal. Isto pode-a ajudar a lidar com as suas preocupações e medos.
A investigação parece indicar que não existem regras rígidas quanto à maneira de
ajudarmos todas as crianças, mas há linhas mestras que realçam o que ajuda e o que
atrasa o processo. Inicialmente é essencial aceitar que as crianças fazem um luto e
que isto lhes pode provocar grande tensão. Precisão de toda a nossa compreensão e
apoio para conseguirem sair com êxito das poderosa vagas de emoção que ameaçam
submergi-las.
Programa de Intervenção
A nossa proposta de intervenção consiste num programa de grupo para crianças,
entre o seis e os dez anos, que estão a passar por uma situação de luto. Os grupos
devem conter entre sete a oito elementos com experiências de luto diversificadas
(tipo de morte, ligação afectiva à pessoa que morreu...). Este programa é constituído
por seis sessões de periodicidade semanal com a duração de uma hora e meia cada
sessão.
Optamos por esta modalidade de intervenção porque é uma forma das crianças
expressarem abertamente os seus sentimentos de dor e receberem suporte de outras
crianças que se encontram na mesma situação. Além disso, os familiares da criança,
muitas vezes tem dificuldade em lidar com esta situação e falar abertamente com as
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crianças acerca dos seus sentimentos, sendo importante criar um espaço seguro onde
a criança se possa expressar.
Adoptando uma perspectiva educativo-desenvolvimental, este programa pretende:
ensinar as crianças a reconhecer e expressar sentimentos de tristeza, encorajando a
comunicação aberta e descobrir concepções disfuncionais pouco saudáveis que a
criança possa apresentar; proporcionar às crianças uma oportunidade para
experenciar o luto e aceitá-lo num ambiente seguro e partilha-lo com outras crianças
que também passaram por uma situação semelhante; dar às crianças informação
sobre o luto para facilitar uma melhor expressão e compreensão dos seus
sentimentos; e ajudar as crianças a reconhecer alternativas apropriadas para
expressarem a sua dor.
No planeamento da nossa intervenção baseamo-nos no modelo de adaptação à
crise de Scholossberg, em que se presta atenção a interacção entre as características
pessoais, ambientais e da crise em si. A consideração das características pessoais
(idade, valores, estatuto socio-económico, competências psicossociais, ...) é
importante, por exemplo, na escolha das actividades a realizar e na forma de abordar
as temáticas, uma vez que estas devem estar adaptadas ao nível de desenvolvimento
das crianças e ao estádio de luto em que a criança se encontra. Também são um
factor importante a considerar na selecção dos elementos de cada grupo, sendo que a
este nível é importante uma certa diversidade ao nível das experiências mantendo, no
entanto, alguma homogeneidade para não haver uma discrepância muito grande
entre os elementos o que iria dificultar a partilha.
As características dos ambientes pré e pós crise, como sejam contexto físico,
sistema de suporte interpessoal e o suporte institucional, são fundamentais numa
intervenção deste tipo tendo como objectivo manter uma certa continuidade entre
estes ambientes, o que trará à criança mais estabilidade e controlo sobre a situação.
Neste âmbito, tivemos a preocupação de abordar a temática da mudança com relativa
frequência, procurando que a criança explorasse diferenças pré e pós a morte de
alguém significativo, assim como os pensamentos e sentimentos associados a essas
mudanças. Além disso, pensamos também ser importante envolver a família da
criança no programa, convidando-a a participar em alguns momentos das sessões,
informando-a acerca do processo de grupo e tentando obter algum feedback.
Por último, as características específicas de uma situação de luto em particular
(fonte externa, afecto negativo, implica perdas, tem caracter permanente) exigem da
criança determinados recursos e competências que tentamos levar em atenção na
nossa intervenção.
Tratando-se de uma intervenção em situações de crise, as estratégias escolhidas
procuram ir de encontro às necessidades criadas por estas situações, em que parece
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ser importante, como foi referido na base generativa, que as crianças falem livre e
abertamente sobre o que aconteceu, sobre os seus pensamentos e sobre as suas
emoções sem julgamento ou crítica, seguindo uma orientação mais cognitivista. Desta
forma, pensamos ser importante na aplicação do programa, reforçar o positivo, de
modo a que as crianças possam construir defesas; evitar reacções psicológicas e
emocionais excessivas; reforçar comportamentos e comunicação apropriados; facilitar
a manutenção de uma rede de suporte social; e promover o auto-conceito e a
autoconfiança das crianças.
Em síntese, esta intervenção pretende ajudar as crianças a lidar com a situação de
crise imediata, prevenir o desenvolvimento de sintomas graves, assim como avaliar
necessidades de intervenção posteriores.
Estrutura do programa
Sessão I: Introdução e Discussão da Morte/Grief
Objectivos Actividades
Familiarizar os participantes
com a experiência de luto dos
membros do grupo
Estabelecer regras de
funcionamento do grupo
Oferecer a cada participante
oportunidades para partilhar a sua
experiência de morte/luto
Ouvir a experiência de luto
das outras crianças para que
compreendam que não são as
únicas que perderam alguém
querido
Introduzir as
sessões de
grupo
Apresentação dos facilitadores, dos
objectivos do programa, das regras de
funcionamento
Breve descrição das sessões e
informação geral acerca dos trabalhos de
casa.
Nota: Os pais/responsáveis pelas crianças são convidados a participar nesta parte da sessão e eles podem fazer questões ou dar conselhos nesta altura.
Início das
actividades
Os participantes devem realizar uma
actividade que favoreça o conhecimento
dos membros do grupo e que os faça
sentir mais confortáveis no seio do
mesmo.
Partilhar a
experiência
de Morte
Incentivar cada participante a partilhar
informação acerca da sua experiência
com a morte, incluindo, quem morreu,
tipo de morte, à quanto tempo ocorreu, e
outra informação que eles desejem
partilhar.
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Desenho da
morte/vida
Pedir às crianças para num lado da folha
desenharem uma imagem que represente
a morte e do outro lado uma que
represente a vida. Discutir o desenho em
grupo.
LancheOportunidade de partilha informal entre
as crianças
Sessão II: Discussão de Conceitos/Mudanças ligadas à Morte
Objectivos Actividades
Explorar a percepção das crianças de
morte/grief mostrando formas alternativas
mais adaptativas
Aprender conceitos básicos sobre a morte
Avaliar o entendimento da causa de morte
Identificar crenças disfuncionais e aceitar a
realidade de perda
Discutir as mudanças/perdas pessoais
Identificar maneiras de lidar com a mudança
Discutir mudanças relacionadas com a
morte
Relembrar as temáticas abordadas na
sessão anterior
Fazer desenhos e actividades relacionadas
com o processo de luto de cada criança e
partilhá-los com o grupo
Incentivar as crianças a
narrarem/desenharem um sonho que tenham
tido e explorar o seu conteúdo em grupo.
Explorar as mudanças familiares que
ocorreram com a morte da pessoa querida
completando frases e discutindo-as em grupo
Sessão III: Sentimentos / Auto- estima
Objectivos Actividades
Fornecer informação acerca
dos sentimentos associados com o
processo de luto/grief
Oferecer uma oportunidade às
crianças de expressarem os seus
sentimentos acerca da morte da
pessoa significativa
Início das
actividades
Distribuir um cartão a cada criança com
um sentimento e estas devem indicar
uma situação em que se sentiram assim.
Listar
Sentimentos
É feita pelo grupo em conjunto
escrevendo-se no quadro tendo em conta
que:
Não há sentimentos bons e mausTodos temos diferentes sentimentos em diferentes momentosFalar com alguém acerca dos nossos sentimentos pode ser difícilÁs vezes estamos confusos e frustados quando estamos a passar por um luto, eO luto afecta a forma como nos sentimos connosco próprios
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Assegurar a criança acerca da
normalidade dos seus
sentimentos
Encorajar a aceitação e a
partilha de sentimentos
Identificar maneiras de
expressar sentimentos negativos
Mostrar a relação entre grief e
auto-estima / autoconfiança
Desenho dos
sentimentos
Escolher um dos sentimentos da lista e
desenhá-lo. Partilhar o desenho e falar
sobre ele aos outros membros do grupo
Actividade da
placa de
papel
De um lado, a criança desenha como se
sentia antes da morte e do outro de
como se sente agora. Partilha com o
grupo.
Sentimentos
de culpa
Ler uma história às crianças que aborde
esta temática e discuti-la em grupo (E.g.
O Fardo de Bracken de Brenda Mallon)
LancheOportunidade de partilha informal entre
as crianças
Introdução da
próxima
sessão (TPC
para próxima
sessão)
Levar na próxima sessão um objecto na
memória para partilhar com o grupo. Pode
ser uma imagem, dom, comida, ou
qualquer coisa que vos lembre a pessoa
especial que perderam.
Trazer também uma revista velha que
possam cortar para fazer colagens.
Sessão IV: Memórias
Objectivos Actividades
Explorar e reforçar o uso de
memórias positivas na forma
como vivenciam o luto/grief
Oferecer às crianças
oportunidade para partilhar as
suas memórias especiais
durante a sessão.
Discutir memórias dolorosas.
Início das
actividades
Pedir às crianças para pensarem e
escreverem uma memória que gostem de
recordar acerca da pessoa querida que
morreu
Pedir às crianças para pensarem e
escreverem uma memória que queiram
esquecer acerca da pessoa querida que
morreu
Partilhar estas memórias com o grupo
Partilhar
memórias
Trazer para o grupo um objecto da pessoa
que morreu, descrevê-lo e dizer porque é que
o objecto é importante para a criança.
Colagem de
memórias
Procurar e cortar imagens numa revista que
lhe lembrem a pessoa que morreu (prato
preferido, cores, passatempos, profissões,
roupas, locais, ...) e fazer uma colagem com
estas imagens.
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Lanche Oportunidade de partilha informal entre as
crianças
Sessão V: Processo de enterro (funeral)
Objectivos Actividades
Oferecer às crianças oportunidade para
falarem sobre o funeral da pessoa querida
Torná-los aptos a explorarem o processo
de funeral e fazerem questões acerca do
mesmo.
Desenho do funeral
Explicação do processo de funeral
Sentir a própria história/experiência de
funeral
Completar frases acerca de grief/ funeral
Lanche
Sessão VI: Finalização
Objectivos Actividades
Expressar a grief de forma
alternativa através do uso de
fantoches ou de uma história
Fornecer informação acerca de
formas construtivas de lidar com a
morte/grief
Identificar/reconhecer sistemas de
apoio...
Rever o programa
Iniciar o encerramento da
experiência de grupo
Encorajar as crianças a
continuarem a partilhar os seus
sentimentos e memórias acerca da
pessoa querida que eles perderam
Actividade de fantoches
Pedir aos membros do grupo que indiquem formas
construtivas de lidar com a dor resultante da perda,
escrevê-las num quadro e discuti-las em grupo.
Escrever uma carta acerca do que +/- gostarem no
grupo, de como esta experiência os ajudou...
Convidar os pais a participarem nos últimos 15
minutos da sessão, onde os facilitadores podem rever
com os pais o que ocorreu durante as sessões e elicitar
feedback dos pais acerca das suas interacções com as
crianças durante o programa de grupo.
Lanche
Dar uma lembrança da experiência de grupo a cada
elemento para levarem para casa (e.g. Boneco de
peluche, livrinho,...).
Avaliação
Para fazer uma avaliação formativa, consideramos pertinente no final de cada
sessão os facilitadores reunirem e discutirem cada caso assim como o processo de
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grupo, analisando o material feito pelos elemento do grupo. Além disso, consideramos
fundamental, no final de cada sessão pedir feedback às crianças acerca da sessão (se
gostaram, como se sentiram, o que gostariam de fazer, dúvidas com que ficaram...). O
momento do lanche também pode ser um momento importante para avaliar as
crianças e a forma como estas estão a vivenciar a experiência de grupo.
Para avaliar os resultados da intervenção planeamos fazer uma avaliação
imediatamente após o término do programa pedindo às crianças para escrever uma
carta sobre a experiência de grupo por que passaram, assim como, solicitando os
pais/responsáveis pela criança a participarem no final do programa, de forma a darem
feedback sobre as alterações verificadas na criança. Planeamos ainda, avaliações
mais espaçadas no tempo, mantendo contactos periódicos (gradualmente mais
espaçados no tempo) com a família da criança para ver a necessidade de novas
intervenções ou possível ocorrência de recaídas.
Aspectos a considerar...
As principais dificuldades que antecipamos na aplicação deste programa
prendem-se, por um lado, com a aceitação da implementação destes programas, uma
vez que ainda há pouca sensibilização para a problemática do luto infantil
especialmente no que concerne à utilidade da intervenção psicológica a este nível. Por
outro lado, o envolvimento das famílias e das próprias crianças no programa também
pode ser um obstáculo dado à situação difícil (luto) em que normalmente se
encontram, não estando capazes de colaborar/participar da melhor forma.
No que diz respeito às limitações do programa de grupo, consideramos que talvez
devesse ter uma maior interacção com outras áreas da vida da criança, como o
colégio ou a escola, uma vez que também são contextos de desenvolvimento
importantes para a criança.
Outra dificuldade por nós antecipada diz respeito ao facto desta ser
simultaneamente uma intervenção grupal e individual, exigindo por parte dos
facilitadores uma articulação constante entre as questões temáticas a desenvolver no
programa e a ponderação dos processos de grupo. o que nem sempre é fácil. Se estes
factores não forem levados em conta, podem ocorrer fenómenos sobre os quais os
facilitadores não tem qualquer controle podendo as consequências do programa não
serem as mais desejadas. Neste sentido, consideramos pertinente que cada grupo
tenha dois facilitadores, para que este controlo/monitorização seja mais fácil.
Outro aspecto que nos levantou algumas duvidas na execução do programa
prende-se com a decisão de fazer com que as crianças partilhem a sua experência de
luto logo na primeira sessão, já que, poderá ser uma fase muito prematura ao nível do
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desenvolvimento do grupo. No entanto, optamos por tomá-la porque pensamos que
poderá facilitar a identificação dos elementos ao grupo promovendo o envolvimento
futuro e coesão entre os membros. Contudo, dada a precocidade das relações
estabelecidas, consideramos que se deva deixar a criança falar somente aquilo que
deseja acerca da morte e quando esta se sentir à vontade para tal. Além disso, o
facilitador deve estar atento e verificar se o grupo se encontra apto a ouvir e saber
respeitar as histórias dos outros, de forma a evitar que alguma criança experencie
qualquer mal-estar que poderia comprometer a sua continuação no grupo. Em suma,
esta fase inicial do programa pode apresentar alguns perigos, exigindo algumas
decisões importantes por parte dos facilitadores, sendo necessário alguma
flexibilidade na escolha das actividades a realizar de acordo com o grupo particular e
o estado em que este se encontra.
Outra dificuldade que pode surgir do programa prende-se com a excessiva
dependência dos elementos ao grupo, sendo necessário trabalhar muito bem o
encerramento do grupo de forma a que todos os elementos se encontrem aptos para
o fazer, tendo interiorizado as temáticas tratadas e estando capazes de as
transportando para a vida do quotidiano (estádio de recordação e dissolução).
Bibliografia
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complicated grief – suicide, homicide, aids, violence and abuse. Bristol:
Accelerated Development.
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Accelerated Development.
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Caregivers.Illinois: Research Press Company.
Worden, J. (1996). Children and grief. New York: Guilford.
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