Post on 02-Jun-2018
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
1/64
f BC
BC
A iir
N0 1
neC / \utor : Hmndao.
He
km H.
Nagamine
l'il
u
'
ti:
liitrodutiio uanal ise
do
d is
funda na s
> ponto de
enomenos
o discurso
jufst icono
ele
representa, no interior da
lingua,
os
efeitos das contradicSes ideologicas , a analise do
d i scu rso ap resen ta - se como
um a disciplina nao
acabada, em constante
mudanca,
em que o
linguisticoe
o iugar,
o espaco que da
materialidade, espessura
a
ideias, tematicas
de que o
homem
se faz
sujeito,
um
sujeito concreto, hist6rico,
porta-voz de um amplo
discurso social .
I n t r o d u g a o
a
analise
do
d i s c u r s o
mine
B r a n d a o
UFES
286898
T O R A|
W i m ^ M
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
2/64
iNTRODUgAO
A A N A L I S E D O D I S C U R S O
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
3/64
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
4/64
F l C H C A T A L O C R A F IC A E L A B O R A D A
P E L A
I L J O T E C CENTRAL
D A UNICAMP
Brandao,Helena
Hathsue Nagamine.
B733i Introducaoa
analise
do discurso / Helena H. Nagamine Brandao.
-
2*
ed.rev. - Campinas,
SP:
EditoradaUNICAMP,2004.
I. Andiisedo discurso. 2.Atosde fala (Lingiifst ica).I.Titulo.
ISBN 85-268-0670-X
CDD 415
4 1 2 . 1
Indices paracatilogo sistematico:
1. Analise
do
discurso
2. Atos de
lala
(Lingiifst ica)
415
412.1
,vA
Copyright by Helena Hathsue Nagamine Brandao
Copyright 2004
b y
Editorada U N I C A M F
2
a
reimpressao, 2006
N e n h u m aparte desta publica9ao pode
ser
gravada,
armazenadaem
s i s te ma
eletr&nico, fotocopiada,reproduzida por meiosm ecanicos
ou
outros quaisquer sem autorizacaoprevia do editor.
d t B i D h o t e c a / U F E S
S U M A R I O
I N T R O D U C E D 7
Lmgua LingiMgem:
uma abordagem in t emt io nal 7
Entre alinguae a
fala:
o
discurso
10
CAPiTuLO i ANALIS ED O D I S C U R S O 13
Esbofo
histdrico 13
A
perspectiva,
tedricajrancesa 16
O
concetto
de ideotogia 18
Em Marx 19
Em Althusser 23
EmRicoeur 26
O conceito de discurso em
Foucautt
32
Lingua,
discurso
e ideologia 38
Condifoes
deprodufao
do
discurso 42
Formagcio
ideoldgica e formacao
discursiva 46
CAPfTULO
2 SOBRE A NOCAO DE
S UJEITO
53
A subjetividade emBenveniste
5
5
O
sujeito
descentrado: o
u o
outro
59
A
heterogeneidade discursiva
60
Monologismo
versus
dialogismo
61
O discurso e seuavesso 65
Ateoria polifonicade Ducrot 69
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
5/64
Sentido esujeito na andlise
do discurso
76
Uma teorianao subjetivista daenuncia^ao 78
A ilusao discursivadosujeito 82
Conclusao 85
CAPfTULO 3 SOBREANOCAO DE INTERDISCURSIVIDADE 87
A relafao discursointerdiscurso
89
O outronomesmo 91
A intertextualida.de 94
A memoriadiscursiva 95
Dominiosd o campo enunciat ivo 96
O domfnio de memoria 98
O
domfnio
de
atualidade
1 00
O
dommio
de antecipa^ao 100
Efeitos
dememoria
101
CONCLUSAO
103
GLOSSARIO
105
B I B L I O G R A F I A B A S I C A
C O M E N TA D A
'.
111
B I B L I O G R A F I A
117
iNTRODUgAO
Lingual
Linguagem:
uma abordagem interacional
Qualquer estudodalinguageme hoje, de alguma forma,
tributario de
Saussure, quer
tomando-o
como ponto
de
par-
tida,assumindosuaspostulatesteoricas,quer
rejeitando-as.
No
nosso caso,
a
referenda
a
Saussure
deve-se,
sobretudo,
a sua
celebreconcepcao dicotomicaentre
aIfnguae a fala.
Embora
reconhecendo o
valor
da
revolu^ao
l ingufstica
provocada
por
Saussure, logo se
descobriram
os limites dessa dicotomia
pelas
conseqiiencias advindas
da
exclusao
da
fala
do
campo
dos es-
tudos lingiiisticos.
Dentreos que
sentiramessa camisa
de
for^a
que co-
locava como
objeto da
l ingiifstica
apenas
a
lingua,
tendo-a
comoalgoabstratoeideala constituir umsistemasincronico
e
homogeneo,
esta Bakhtln (Voloshinov,
1929)
que, com
seusestudos,anteclpa de
muito
as
orientacoes
da
lingiifstica
moderna.
Palmilhando
a trilha
aberta
por
Saussure, parte tarn-
b^m do princi'pio de que a
Ifngua
e um fato social cujaexis-
tencia se
funda
na s necessidades de comunica^ao. No en-
tanto,afasta-sedo mestre genebrino ao ver a
I fngua
como algo
concrete, f ruto da
manifesta9ao individual
de
cada
falante,
valorizandodessa forma a fala.
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
6/64
Visando
afo r m u l a ca ode uma
teoria
do
enunciado,
' Bakhtin atribui um lugar privilegiado a
enuncia9&o
enquanto
realidade dalinguagem: "Amateria
linguistica
apenas um a
i parte do enunciado; existe
tambe'm
um a outra parte,nao-
f
verbal,
qu e
corresponde
ao
contexto
da
enunciacjio".
Dessafo rm a ,
ele
diverge
dos
seus antecessores
(Saussure
e
a escola do subjetivismoindividualistarepresentado por
Vosslere
seus discipulos), para quem
o
enunciado
era um ato
individual e,portanto,uma
nocao
nao-pertinente
Imgiiisti-
camente. Bakhtin, alias,
nao so
coloca
o
enunciado como
objeto
dos estudos da linguagem como da asituacjiode enun-
ciac,ao opapeldecomponentenecessario para a compreensao
e
expHcacaoda estrurura
semantica
de qualquer ato de comu-
nicacao
verbal.
Como,
atravesde
cada
ato de
enunciate,
se
realiza
a
intersubjetividade humana, o processo de interacao verbal
passa a
constituir,
no
bojo
de sua
teoria,
uma
realidade fun-
damental dalingua.O interlocutornao 6um elemento passive
na constituicao do
significado.
Daconcepcaode signo lingiiis-i
tico
como um
"sinal"
inerte que advem da analise da Ifngua
como sistema sincronico abstrato, passa-se
a uma
outra com-
;
preensao do fen6meno: a de signodialetico,vivo, dinamico.
Essa
visao
dalinguagem
como
intera^aosocial,em que
o Outrodesempenha papel fundamental na
constituicao
do
significado,
integratodoato de enunciacao individualnum
contexto
m a isamplo,
revelando
as
relacoes
intrinsecas
entre
o
linguistico e o social. O percurso que o individuo faz da ela-
borac^aomental
do
conteudo,
a ser
expresso
a
objetivacao
ex-
terna a
enunciacao
desse conteudo, e orientado so-
cialmente,
buscando adaptar-se ao contexto imediato do ato
da falae, sobretudo, a
interlocutores
concretes.
Nessaperspectiva,
ficaevidente
que uma
l ingi i fst ica
imanente que se limite ao estudo interno da lingua nao po-
dera dar conta do seu objeto. E necessario que
ela
traga para
o interior mesmo do seu sistema um enfoqueque articule o
linguisticoe osocial, buscandoas
relacoes
que
vinculam
alin-
guagemaideologia. Sistemadesignificac,ao darealidade, a j
linguagem 6u m distanciamentoentreacoisa representadae j
osignoque a
representa.
E enessadistancia,no
intersticio
entrei
a
coisa
e sua
representacao sfgnica,
qu e
reside
o
ideologico.
1
Para Bakhtin, a palavra e o signo ideologico porexce-
j lencia, pois, produto dainteracao social,ela secaracteriza pela
\
plurivalencia.Por
sso6 olugar privilegiado para
a
mani festac,ao
da
ideologia; retrata
as
diferentesfo rm as
de
significar
a
rea-
lidade, segundo vozes e pontos de vista daqueles que a
empre-
gam. Dialogica
por
natureza,
a
palavra
setransform ae m
arena
1
de luta de vozes que, situadas em diferentes posicoes, querem
ser ouvidas
por
outras vozes.
Consequentemente,
a linguagem nao
pode
ser encarada
como uma entidade
abstrata,
mas como o lugar em que a ideo-
logia sem ani festaconcretamente, em que o ideologico, para
seobjetivar, precisade umamaterialidade, conformenosmos-
tra Bakhtin (Voloshinov, 1929, p. 19) quando a f i rm a :
Cadasigno
ideologico
6
nao apenas um
refiexo,
um a
sobra
da realidade, m as
t am b e m
um fragm ento m ater ial dessa
realidade.Todof enomenoqu e
funciona
c o m osigno ideo-
logico
tern um a
encarnacao
m ater ial,
seja c om o
som,co -
m o
m assaffsica, c o m ocor,
como m ovim ento do
corpo
ou
como outracoisa qualquer.
Nesse
sentido, arealidade do
signo etotalm ente
objetiva
e,portanto , passfvel de um es-
tudo
m etodologicamente uni tario eobjerivo. Um s igno e
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
7/64
um
fenomeno
do mundo
exterior.
Oproprio
signo
e
todos
os
seusefehos(todasa s
acoes, reacoes
enovos signosqu e ele
gera
no meiosocial
circundante)
aparecemna experiencia
exterior.
Este umpontodesuma importancia. No en-
tanto,
p or m a i s
elementar
e
evidente
que ele
possa parecer,
oestudodasideologias aindanao
tirou
todasasconseqiien-
cias
que
dele
decorrem.
M a is
tarde,
ao
de f in i r
a
tarefa
da
semiologia, Barthes
sublinhatambema importancia do
carater
ideologicodosig-
no.Para ele,aideologia deveserbuscadanaoapenasnos te-
mas em que
ternsido mais facilmente
percebida ,
mas,
so-
bretudo,n as
formas,
istoe, no funcion am ento s ignif icante da
linguagem,
que e o
lugar onde
se da a sua materialidade:
Uma
daspossibilidades da semiologia,
enquanto
disciplina
ou
discurso sobreosentido,e
precisamente
darinstrumentos
deanaliseque permitam
circunscrever
aideologianasformas,
isto
6 ,onde
ela em geralImenos procurada.Oalcanceideo-
I6gico
dos conteudos e
algo
percebido desdeha
muito tempo,
m as oconteiido
ideologico
das
formas,
se
quiserem,constitui,
de certomodo,uma das grandespossibilidadesde
trabalho
do
seculo
(apudRobin, 1973).
Entre
a
lingua
e a .
fala:
o
discurso
O
reconhecimento
da
dualidade constitutiva
da
lin-
guagem, istoe, do seu
cardter
a o
mesmo
tempo formaleatra-
vessado po rentradas
subjetivas
e sociais,
provoca
um deslo-
camento no sestudos l ingi i fst icos ate"entao balizadospela
10
problematica
colocada pelaoposicao l ingua/fala
que impos
uma lingii/stica da lingua. Estudiosos passamabuscaruma
compreensao dofenomenodalinguagemnao mais centrado
apenasnalingua, sistema
ideologicamente
neutro,mas
num
nfvel
situado
fora
desse polo
da
dicotomia
saussuriana. E
essa
instancia dalinguagem e a dodiscurso.Ela possibilitaraoperar
a ligacaonecessaria entre o nfvelpropriamente lingiiisticoe
o
extralingiifstico
apartird omomentoem que sesentiu que
"o
H a m e
qu e
liga
as
'significances'
de um
texto ascondic.6es
socio-historicas
deste textonao e de
fo rm a
a lgum a
secunda"-
rio,m as
constitutive
da spr6prias
significances"
(Harochee t
al.,
1971,p.98).Opontode articulacao dos
processes
ideologicos
e
dosf enomenos
lingiii'sticos
e,portanto, odiscurso.
A
linguagem enquanto discurso
nao
constitui
um uni-
verso
d e
signos
qu e
serve apenas como
instrumentod ecomu-
nicacao ou
suporte
de
pensamento;
a
linguagem enquanto dis-
cursoe
interacao,
e um
modo
deproducaosocial;ela nao e
neutra,inocentee nem natural, porissoolugar privilegiadode
m anifesta^aoda
ideologia.
Ela e o "sistema-suporte das
repre-
sentacoes
ideol6gicas
[...]
e o
'medium'social
em que se ar-
ticulam
e defrontam agentes coletivos e se consubstanciam
relacoes interindividuais"(Braga, 1980).Comoelementode
mediacao
necessaria entre
o
homem
e sua
realidade
e
como
fo r m a
de engaja-lo na propriarealidade,alinguagemelugar
de conflito, deconfronto
ideologico,
n ao
podendo
ser
estudada
fora da sociedade, um a vez que osprocessesque a
constituem
sao historico-sociais.
Seu
estudo
na o
podeestardesvinculado
de suas
conduces
de
producao.Esse
serao
enfoque
a serassu-
midopor uma
nova
tendencia lingiiistica que
irrompe
na
decada de 60: a
analise
do
discurso.
11
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
8/64
C A P l T U L O
1
A N A L I S E D O D I S C U R S O
Esbogo historico
Pode-se
a f i rmar co m M aingueneau
(1976)
qu e
foram
os
form alistas
russos que abriram espaco para a entrada no
campo
dos
estudos lingiiisticos daqullo
que se
cham aria
m a is
tardediscurso.
Operando
corn
o
texto
enele
buscando
um a
loglca
de
encadeam entos "transfrasticos", superam
aabor-
dagem filologica ouim pressionistaque ate
entao dom inava
os estudos
da
lingua. Essa abertura
em
direcao
ao
discurso
na o
chega,
entretanto,
as
ultim as
consequenclas,
pois
seus
seguidores, os
estruturalistas,propoem-se
como objetivo
es-
tudar a estrutura do texto
"nele mesm o
e por
ele
m esm o" e
restringem -se
a um a
abordagem
im anente dotexto,
excluindo
qualquer reflexao sobresu a exterioridade.
Os
anos
5 0serao
decisivos para
a consti tuicao de um a
analised o
discurso enqua nto
discipl ina. Deum lado,
surge
o
trabalho
de
H arri s
(Discourse analysis., 1952),qu e
m ostra
a
possibi l idade
d e
ultrapassar
a s
analises
confmadas
mera-
men te
afrase, ao
estender procedim entos
d a
l ingufsticadis-
tribuc ional am ericana aos enunciados (cham ados discursos)
e,
de outro
lado,
os trabalhos de R. Jakobson e E. Benveniste
sobrea enunclac_ao.
13
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
9/64
Esses trabalhos
ja apontam
paraa
diferenca
de perspec-
tiva
que vai marcar uma
postura teorica
de uma
analise
do
discurso delinhamaisamericana, de
outra m a is
europeia.
EmboraaobradeHarris possaserconsideradaarnar-
cp
inicial da
analise
dp discurso,
ela
se
coloca ainda como
simples extensao
da
l inguist icaimanente
na
medida
em que
transfereeaplica procedimentos deanalisede
unidades
da
lingua ao senunciados e situa-se fora de
qualquer reflexao
sobre
a
s ignif icacao
e as
consideracoes socio-historicas
de
producaoque vao distinguir emarcar posteriormenteaana-
lise
do discurso.
Numa
direcaodiferente,
Benveniste,aoafl rm ar que "o
locutorseapropriadoaparelho
formal
dalinguae
enuncia
sua
posicao
d e
locutor
por
indices
especfficos", da
relevo
ao
papel
do sujeitofalanten oprocessod aenunciacaoeprocura
mostrar
como acontecea inscricaodessesujeiton osenunciadosq ue ele
emite.
Ao
falar
em
"posicao"
do
locutor,
ele
levanta
a
questao
da
relacao
que seestabeiece entreolocutor,seuenunciadoe o
mundo;
relacao
q ueestaranocentreda sreflexoesd aanalisedo
discursoem que oenfoquedaposicao socio-historicadosenun-
ciadores ocupaum
lugar
primordial.
Segundo
Orlandi (1986),
essas duasdidoes
vao
mar-
ca rduas maneiras diferentes
de
pensar
a
teoria
do
discurso:
uma que aentende como uma extensaodal ingufst ica (que
corresponderia
a
perspectiva americana)
e
outra
que
con-
sideraoenveredar paraavertentedodiscursoo sintoma de
uma
crise interna
da
l inguist ica,
principalmente
na
area
da
sem ant ica
(que corresponderia aperspectiva europeia).
Conforme essavisao,
o conceito de
teoria
do
discurso
como extensao
d al ingufst ica ,
aplicado
a
perspectiva teorica
americana, just i f ica-se pelo fato de
nela
se considerarem
14
frase
etexto como elementos i som or f lcos , cujas analisesse
diferenciam
apenasem
graus
decomplexidade.Ve-se otex-
to de uma
forma redutora,nao
se
preocupando
com asfor-
m as de ins ti tu icao dosentido, m a s c om a s
form as
de
orga-
nizacao dos
elementos
que o
constituem.
Embora
a
gramatica
se
enriqueca
e
ganhe novaorien-
tacao com
questoes
colocadas
pela
pragmatica e
pela
socio-
lingiifstica,nao seprocessaumaruptura fundamental, pois
a
questao
do
sentido continua sendo tratada,
essencialm ente,
no
interior
do l ingufstico:
A contribuicao daSociolingiiistica,nesse sentido,e a de que
sedeveobservar o uso atual da linguagem; e a daPragmatica
a de que a
linguagem
em uso
deve
se r
estudada
em
termos
do s
atos
d e fala.
Emboraessasquestoes indiquem
um a
certa
mudanca
em relacao adominanciadosestudosdagramatica,
naoproduzem umrompimento
m a i or
masapenaso de se
acrescentar
um outro
componente
a gramatica. O
discurso
caracteriza-secomo
o que
vem
a
mais,
o que
vemdepois,
o
que seacrescenta.Em suma, o
secundario,
o
contingente
(Orlandi, 1986, p. 108).
Numa perspectiva oposta
a
dessa
concepcao da
analise
dodiscurso como extensaodalingufstica, Orlandi apontauma
tendenciaeuropeia que,
partindo
de uma
relacao necessaria
entre
o
dizer
e as
condicoes
deprodu9ao
desse
dizer",
coloca
a
exterioridade
comomarcafundamental. Esse
pressuposto
exige
um
deslocamento
teorico, de carater
conflituoso,
que vai re-
"correr aconceitos exteriores aodominiode um a
l ingufst ica
imanente paradarcontadaanalisedeunidades mais complexas
da
linguagem.
15
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
10/64
A perspect iva tetfrica francesa
ParaMaingueneau(1987),a
chamada "escola
francesa
de analise do
discurso"
(que
abreviaremos
AD) filia-se:
auma certa tradi9ao intelectualeuropeia (esobretudoda
Franca)
acostumada a unir
reflexao
sobre texto e sobre his-
t6ria.
Nos anos
60,
sob a egide do
estruturalismo,
a
con-
junturaintelectual francesa propiciou, em torno de uma
reflexao
sobrea"escritura",uma
articulacao
entrealinguis-
tica,
o marxismo e apsicanalise.A AD nasceu tendo
como
basea
interdisciplinaridade,
poiselaerapreocupacao
nao
so
delingiiistas como de historiadores e dealgunspsicologos;
e a umacerta pratica escolarque e a da"explicac,aodetex-
to", muito
em
voga
na Franca, do colegio a universidade, nos
idos
anteriores a 1960.
Para
A.
Culioli
(apud Maingueneau,
1987,
p. 6), "a
Francaum
pafsem que a
literaturaexerceu
um
grande
papel epode-se
perguntar
se aanalisedodiscurso
nao e uma maneira de substituir a
explicac.ao
de texto en-
quanto
exercicioescolar".
Inscrevendo-se
em um quadro que articula o
lingiifstico
com osocial,a AD
ve
seucampoestender-separa outras areas
do
conhecimento
eassiste-sea uma verdadeiraproliferacaodos
usosdaexpressao"analise do discurso". A polissemia de que se
investeotermo"discurso" nos mais diferentesesforcos
ana-
Ift icos
entao empreendidos
faz com que a AD se
mova
num
terreno maisoumenos
fluido.
Elabusca, dessa forma,definir
o seucampode atuacjio,procurandoanalisar inicialmente
cor-
poratipologicamente mais marcadossobretudonosdiscur-
sospolfticosde esquerda e textos impresses. Sente-se a ne-
16
cessidade de criterios
mais
precisos para delimitar o campo da
AD afimde sechegara suaespecificidade.Definida inicial-
mente como
"o
estudo lingiiistico
das condicoes de
producao
de um enunciado", a AD se ap6ia sobre conceitos e metodos
dalingiiistica("A AD pressupoea
Lingufstica
e
6
pressupondo
a Lingufsticaque ganha especificidade emrelafao asmeto-
dologiasde tratamento da linguagem nas ciencias humanas",
Orlandi,1986,
p.110).Se por um
lado esse pressuposto te6-
rico
e metodologico da lingiiistica distingue a AD das outras
areas das
ciencias humanas
com as
quais confina (historia,
so-
ciologia,psicologia etc.),poroutro,
entretanto,
naoserasufi-
ciente para, por si so, marcar a sua especificidade no interior
dos estudos da linguagem, sob o risco de permanecer numa
lingiiisticaimanente.
Sera"
necessario considerar outras
dimen-
soes,
como as que aponta Maingueneau (1987):
o
quadro
das instituicoes em que o
discurso
e
produzido,
as
quais delimitam fortemente a enuncia9ao;
os embateshistoricos,sociais etc. que se cristalizam no dis-
curso;
o
espa9Opr6prio
que cada
discursoconfigurapara
si
mesmo
no interior de um interdiscurso.
Dessaforma,alinguagem passaa ser um fenomeno que
deve ser
estudado
nao so em
relacao
ao seu
sistema
interno,en-
quanto
forma9ao lingiifsticaa exigir de seus
usuarios
uma com-
petenciaespecffica,mas
tambem
enquanto
formacaoideologica,
que se manifesta
atraves
de uma
competencia socioideologica:
Um a
praticadiscursiva
na o
pode
se
explicar senao
em
funcao
de um aduplacom petencia :
1.
u m a
competencia
especffica,
17
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
11/64
sistem a
interiorizado de
regrasespecificamente lingiifsticas
e
qu e
asseguram a
produc.ao
e a compreensao de frases
sempre
novas
o
ind ivfduo
eu
utilizando
essas regras de m aneira
espedfica (performance);
2.
uma competencia
ideologica
ou
geral
que
torna
implicitamente
possivel
a
totalidade
dasasoes
e
dassignificacoes novas (Slakta,
1971,
p .
110).
Preconizando,
assim ,
um quadro teorico que alieolin-
giiistico
a os6cio-historico, na AD , dois conceitos tornam -se
nucleares: o de
ideologia
e o de discurso. As
duas grandes ver-
tentes
que vao influenciar a corrente
francesa
de AD sao, do
lado da ideologia, os conceitos de Althussere,do lado do dis-
curso, as
ideias
de
Foucault.
E sob a
influencia
dos
trabalhos
desses dois teoricos que Pecheux, urn dos estudiosos
mais
pro-
fifcuos da AD,
elabora
os
seus conceitos.
De
Althusser,
a
influencia
mais diretase faz apartirde seutrabalho sobreos
aparelhos
ideologicos de Estado na conceituacao do
termo "for-
macaoideologica".E sera daArqueologiado
saber
quePecheux
extraira
a
expressao "fbrm ac,ao discursiva",
da
qual
a AD se
apropriara , subm etendo-a a um trabalho especifico.
O conceito de ideologia
M atizado por nuancassignificativas,o term o ideologia
6
a inda
hoje
um anocao
confusa
econtroversa. Antesdeabor-
dar o conceito de ideologia em Althusser, serao expostas algu-
m as
colocasoes sob re
o
f e n o me n o
ideologico feitasp or
M a rx ,
do qual o primeiro e tributario, e, emseguida,
algumas
con-
sideracoes
de Ricoeur
(1977),
que r eto m auma visao
inte-
ressante de Jaques Ellul sobre o fenom eno ideologico.
\
\
Segundo Chaui (1981),o t er m o "ideologia", criado
pelo
filosofo Destuttde Tracy em 1810 na obra Elementsd e
ideologie^
nasceu com o s inonim o
da
atividade cientifica
qu e
procurava analisar afaculdadede pensar, tratando asideias
"como
f enom enos
naturals que exprim em a
relacao
do
corpo
humano,
enquanto organism o vivo,com o m e i oam b iente 'U
(p. 23). Entend ida como
"ciencia
positiva
d o
espirito",e la
se
opunha
k m etafisica,
ateologiae apsicologia pela exatidaoe
rigor cientfficos que se
propunham
co mo
metodo.
Contrariando
esse
significado
original,
o
termo
passa
a ter um sentidopejorativepela prim eira vez com Napoleao,
qu e
qualifica
os
ide6logos
franceses de"abstratos,
nebulosos ,
idealistas e perigosos (para o poder) por causa do seudesco-
jihecimentodos
problem as
concretes"
(Reboul, 1980,
p.
17).
A ideologia passa a ser vista entao com o um a doutri na i rrea-
lista esectiria, sem fundam ento objetivo, e perigosa para a
ordemestabelecida.;
Em
Marx
Em
M a rx
e
Engels, vam os encontrar
o
t erm o "ideo-
logia"
tambem
im pre g na d o
de uma
ca rga sem ant ica
ne-
gativa.'jA
sem elhan9a de Napoleao, que crit icara os
filosofos
franceses, M arx e Engels^condenam a "m aneira de verabs-
trata e ideologica" dos filosofos alem aes que, perdi dos na
s ua
fraseologia,
nao
J^ uscam a "ligac.aoentr e a
filosofia
a lem a e
a realidade
a lem a , io
laco entresu a
crftica
e seu
proprio
m e io
material"(1965,p. 14).
\-
M a rx e
Engelsjdentificam
"ideologia" com a
separacao
que se faz entre a
producao
das ideias e as
condicoes
socials
.i9;
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
12/64
ehistoricasem que saoproduzidas. For issoequeelestomam
como base para suasform ulac_6es
apenas
dadospossfveis de
umaverificacaopuramente empiricalosdadosdarealidade
que sao "osindivfduos reais,suaacjio esuas condic,6es ma-
terials de existencia,aquelasque
ja
encontrama suaesperae
aquelas
que
surgem
com a sua
propriaacao"
(p.
14).
Dessa
f o rm a ,
citando novamente MarxeEngels,a
"pro-
ducjiodeideias,de concep^oes e daconsciencia
liga-se,
a
pf
in-
cipio,diretamente
e
intimamente
a atividade
material
e ao
comerciomaterial dos homens, como uma linguagem da vida
real"^
Conseqiientemente,
"a observacaoempirica temdemos-
trar
empiricamente
e sem qualquerespeculac_aoou
mistificac,ao
aligacao entreaestrutura socialepolftica e a
producao".'
No entanto, o que as ideologias
fazem,
segundo Marx e
Engels, e colocar os homens e suasrelacoesdecabec,aparabai-
xo,como ocorre com arefrac,aoda imagem numa camara es-
cura. Metaforicamente,essa inversaodaimagem, istoe, o"des-
cer do ceuparaaterraem vez deirdaterra paraoceu"que ele
denuncia nos filosofosalemaes,representa o desvio de percurso
que consiste em partir das ideias para sechegara realidade.
Segundo Chaui (1980), e
nesse
momento que,
para
Marx,nasce
S ^
a
ideologiapropriamentedita,isto
e, o
sistemaordenado
de ideias ou representagoes e das
n o rm a s
e
regras
como
algo separadoeindependentedas condi9oesmaterials,
visto qu e
seus
produtores oste6ricos, osIdeologos,o s
intelectuais
naoestao
diretamente vinculados a
produ-
9ao
m ateria ldas condi9oes deexistencia.E, semperceber,
e xpr ime m
essa
desvincula^ao
ou separa9&o atraves de suas
ide"ias\(p.65).
Essaseparacao entre trabalbointelectuale trabalho ma-
terial3d umaaparente autonomiaaoprimeiro, isto6,asideias
que,autonomizadase prevalecendo sobre o segundo,.passam
a ser expressao dasideiasdaclasse dominante;
As ideiasda
classe
dominante sao,em cada
epoca,
a sideUas
dominantes,istoe , aclasseque e a
for^am a te ria l dom ina nte
da sociedade
e,
a o m e sm otempo,s ua for9a espiritual. A
classe
que tem a suadisposi9ao osm e i os de produ9ao m a-
terial dispoe, ao
mesmo
tempo,dosmeiosde produ9ao es-
piritual. [...]Na medida em que dominam como classee
de te rmina m todooambito de uma
e"pocahist6rica,
eevi-
dente que o fa9am em todaa sua extensao e,consequen-
tem ente , entreoutras coisas,
dominem
ta m b ^ m
como
pen-
sadores,comop rodutoresde ideias; que regulem aprodu-
9ao e dlstribui9ao de ideiasde seutempoe que suas
id&as
sejam,
por isso m esm o, asideias
dominantes
da epoca
(Marx
eEngels,1965,p.14).
fi na sequencla dessas coloca9&esque Chaui (1980)
chega entao a[caracterizacao da ideologia segundo a concep-
c,aomarxista.Elaeum instrumentode dornina9ao declasse
porqueaclasse dominantefaz com quesuasiddias passem a
serideias detodos.Para isso eliminam-se as contradicoes en-
tre forc,a deprodu^ao,relacoessocialse
consciencia, resul-
tantes
da divisao
social
do
trabalho material
e
intelectual.
Necessaria a domina^ao de classe, a ideologia e ilusao, isto e,
abstra9ao
e
inversao
da
realidade,]
e por
isso
pe rm a ne ce
semp re
no
piano im ed ia to
do
aparecer
social...
oaparecersocial6omodode ser do sociald eponta-cabec.a.
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
13/64
A aparencia social
na"o
a
algo
falso e
errado,
mas e omodo
como o processo social aparece para a consciencia direta dos
homens. Isto
significa que um a
ideologia sempre
possui
um a base real ,s6 que essa base estadeponta-cabeca,ia
aparenciasocial
(p.105).
\ Para criar
na
consciencia dos homens
essa
visao ilusoria
da realiHade como sefosse
realidade,
a ideologia organiza-se
"comoum
sistema
logico ecoerentede
representa^oes (ideias
e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e
prescrevemaos membros dasociedadeo que devem pensar
e como devem pensar/o quedevem valorizar,o quedevem
sentir,o que devem
fazer
e como devem fazer"(Chaui, 1980,
p. 113).
Ela
se
apresenta,
ao
mesmo tempo, como explicacao
teoricae
pratica?
Enquanto
explicacao,elanaoexplicitae,
alias, nao pode explicitar
tudo
sob o risco de se perder, de se
destruir ao expor, por exemplo, asdiferencas,ascontradicoes
sociais. Essa manobra
camufladora
vai fazer com que o dis-
curso, e demodo especialo marcadamenteideologico,se ca-
racterize pela
presenc.ade "lacunas",
"silencios",
"brancos"
que
preservem
a
coerencia
do seu
sistemaX
Dessa forma,
se em
Marx
o
termo "ideologia" parece
estar reduzido a uma simples categoria filosoficade ilusao ou
mascaramentodarealidadesocial, isso decorre do fato de se
tomar, como ponto
de partida
para
a
elaboraclo
de
suateorla,
acriticaao sistema capitalista e o respectivo desnudamento
da ideologia burguesa. A ideologia a que elesereferee, por-
tanto,
especificamente
aideologiadaclassedominante.
Em
Althusser
\ Em Ideologia e
aparelhos
ideologicosdoE s tado (1970),
Althusser
afirmaque,
para manter sua
dommacao,
a classe do-
minante gera mecanismosdeperpetuacaoou de reproducao
das
condisoes
materials, ideol6gicas
e politicas de explorasao.
E afentaoque entra opapel do Estado que,
atravds
deseus
Aparelhos
Repressores
ARE (compreendendo o gover-
no, a administracao, o Exercito, apolicia,os tribunals, as pri-
soes
etc.)^ eAparelhos Ideologicos
;
AIE (compreendendo
institui^oes tais
como:
a rellgiao, a
escola,
a
familia,
odireito,
apolitico, osindicato, acultura,ainforma^aoJ/Tnterv^m ou
pela repressao ou pela ideologia, tentando forcara classe do-
minada
a
submeter-se
as
redoes
e
condi^oes
de
explorac^q.
Dentre
as
diferencas
que
Althusser estabelece
entreos ARE e
os AIE estaria sua forma defuncionamento:enquanto que os
primeiros "funcionam
de uma
maneira massivamente pre-
valentepela repressao (inclusive fisica),embora funcione se-
cundariamente pela ideologia"; inversamente
os
segundos "fun-
cionam de um modo massivamente prevalentepela ideologia,
embora
funcionando secundariamente pela repressao, mesmo
que no
limite,
mas
apenas
no
limite, esta sejabastante ate-
nuada, dissimuladaou atesimb6lica"(p.47).
Althusser assinala
que
} como todofuncionamento da
ideologia dominante estd
concentrado
nos AIE, ahegemo-
ma
ideologica exercida atraves deles e
importante
para se cria-
rem asconduces
necessarias
para reproduijao das relacoes de
Na segunda parte de seuensaio,Althusser retoma asin-
daga^oes
sobre o conceito de ideologia, mas nao
mais
sob o en-
foqueda
problematica
dos AIE e da
reproducao
que gira em
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
14/64
tornodeum uso
especffico
doconceito,o de ideologia do-
minance".
Nessa
pane
do seuestudo,
ele vai
seaplicar
a
con-
ceituacao do que enrendeporideologia emgeral,que
Ih e
e
distinta dasideologias
particulars,
queexprimem sempre,
seja
qualfor a sua
f o rm a
(religiosa,
moral,
jurfd ica,
politica),
posicoes declasse"(p. 12).
Sua
ideologia
em
geral seria,
no
fundo,
a
"abstracao
dos
elementos comuns
de
qualquer ideologia concreta,
a fi-
xacao
teorica
domecanismogeraldequalquer ideologia e,
para
explica'-la,
formulatres
hip6teses:
a)
"a
ideologia representa
a
relafaoimaginaria
de
individuos
comsuas
reais
conducesde existencia .
Comesta tese,Althusserseopoea
concepcao
simplista
deideologia como representacao
mecanica
(ou "mime'tica")
da
realidade;
para ele,oproblemadaideologia secolocade
outra forma:a ideologia e amaneirapelaqual oshomens
vivem a sua
relacao
com as
condicoes
reaisdeexistencia,eessa
relacao6necessariamente imaginaria. Acentuaocarater ima-
ginario,oaspecto,por
assim
dizer,"produtivo" da
ideologia,
poisohomemproduz, cria formass imb ol icasderepresen-
tagao
da sua
relaclo
com a
realidade concreta.
O
imaginario
eomodocomoohomem atua,relaciona-secom as
condicoes
reais
devida. Sendo essasrelacoesimaginarias,istoi,repre-
sentadas
simbolicamente, abstratamente,
supoem
um
distan-
ciamento da realidade. Eessedistanciamento pode ser "a
causaparaa
transposic.ao
eparaa
deformac^ao
imaginariad as
condicoes deexistencia reaisdo homem,numapalavra,para
a alienac,aono
imaginario
da
representacao
dascondic,6esde
existenciadoshomens (p. 80).
b)
"aideologiatern um aexistencia porque
existe
sempre nu m
aparelho e na sua pratica ou suaspraticas".
Para explicarsuatese, Althusser
pane
da colocacao
fe i t a
por uma
corrente idealista
que
reduz
a
ideologia
a
ideias dotadas
por
def inicao
de
existencia espiritual;
em ou-
traspalavras, ocomportamento (material)de "umsujeito
dotado
de uma consciencia em queformalivremente,ou
reconhece
livrem ente ,
asideiasem que ere",decorrenatu-
ralmente dessas ideias
que
constituem
a suacrenca.Re-
conhece-se,dessa forma,
que as
ideias
de um
sujeitoexistem
ou devem
existir
no s
seus atos,
e se
isso
nao
acontece,em-
prestam-se-lhesoutras ideias correspondentesaosatosque
ele
realiza.
ParaAlthusser,entretanto,essasidelasdeixam
de ter
um a
existencia ideal, espiritual,
e
ganhammaterialidade
na
medida em que suaexistencias 6
6possfvel
noseio de "um
aparelho ideologico material que prescreve prdticas ma-
teriais governadas
por um
ritual material,
praticasque
exis-
tem nas
acoes
m ater ia lsde um sujeito (McLennan et al.,
1977, p. 125).
Aexistencia
da
ideologia
e,
portanto, material, porque
as rela9oes
vividas,
nela
representadas, envolvem
a
parti-
cipacao
individualemdeterminadas praticaserituaisno in-
terior deaparelhos ideologicos
concretes.
Em outros
ter-
mos,
a
ideologia
se
materializa
nos
atos
concretes,
assu-
mindo
c om
essaobjetivaclo
um
carater moldador
d as
39068.
Issoleva Althusser aconcluir que apratica soexiste
numa
ideologiae
atraves
de uma ideologia.
c)
"a
ideologia interpela individuos como sujeitos".
24
25
J
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
15/64
Toda ideologia
tern
por
funcao
constituir
individuos
concretesem
sujeitos. Nesse processo
deconstituisao,a
inter-
pelacao
e o (re)conhecimentoexercempapel importanteno
runcionamento
de
toda
ideologia. ftatraves dessesmecanis-
mos
que a
ideologia,
funcionando nos
rituais materiais
da
vida
cotidiana,
opera
a
transform acao
do s
indivfduos
e m s u-
jeitos.
O
reconhecimento
seddno
momento
em que o
sujeito
seinsere,a si
mesmo
e asuasacoes, em praticasreguladas
pelos aparelhos ideologicos. Comocategoria constitutivada
ideologia,
sera"somente atravesdo sujeitoe nosujeito que a
existencia daideologia sera"possivel.
Em Ricoeur
O
f enom eno
ideologicotern sido fortemente marcado
pelom arx ism o. Sem querer combater Marxou i r a seu
favor,
Paul Ricoeur alerta para um atendenciaque se fazsentir sob
ainfluenciade se
fazer
um a
interpretacao
redutora dofeno-
meno ideol6gico partindo
de uma
analise
em
termos
de
clas-
ses socials.
Interpretacao
redutora porqueeladefine ideologia
apenas por sua
fun9ao
de
justificacao
do sinteressesde u m a
classe,
a
dominante.
Um a defini9ao de
ideolog'ia
que a
reduz
a sfuncoes de
dominacaoe de
justiflca9ao
e que noslevaaaceitar,sem crf-
tica,
a
identificacao
de
ideologia
com as
no9oes
de erro,men-
tira,
ilusao.
E le
nao
nega
a
existencia
d e
taisfuncoes, mas,
antesd echegaraela,diz ser
precise
entender um a
funcao
an -
terior
e
basica
q ue
concerne
a
ideologia
em
geral.
E le
analisa
oconceitodeideologiaem tres instandas:
a) F u nc aogeral
da
ideologia
26
Ricoeur
(1977)
atribui
a
ideologia
a funcao
geral
de
mediadora
na integracao
social,
na
coesao
do
grupo. Esse
papelse
caracteriza
pela presenca decincotraces:
1)
A
ideologia perpetua
um ato
fundador
inicial.
Nesse sen-
tido,
a
ideologia 6funcao
da
distancia
qu e
separa
a
memoria
so-
cial
de umacontecimento que,no
entanto,
trata-sederepetir.
Seu
papelnao esomenteo ded i f i ind ira convic9aoparaal^m
do
cfrculo
do s
paisfundadores,para
convert^-la num
credo
de todoogrupo,mas
tambem
o de perpetuar aenergia ini-
cial
para
alem
do
periodo
de
efervescencia
(p. 68).
Essa perpetuacaode um atofundador
esta
ligadaa
"ne-
cessidade, paraumgrupo social,de
conferir-se
uma ima-
gem de simesmo,derepresentar-se,nosentidoteatraldo
termo, de
representar
e encenar".
2) A
ideologia
e dinamica e motivadora. Ela impulsiona apra-
xi s
social,
motivando-a,
e "um
motivo
e ao
mesmo
tempo
aquilo
q ue
justifica
e que
compromete".
P or
isso,
"a
ideo-
logia
argumenta",
estimulaumapraxis socialque acon-
cretiza.Nesse sentido,
ela
&
m ais do que um
simples reflexo
de um a formacaosocial,ela etambemjustificafao (porque
sua
praxis"e
movida
pelo
desejo
de
demonstrar
que ogrupo
que aprofessatem razao de ser o que e")zprojeto (porque
modela,dita
as
regras
de um
modo
de vida).
3)Todaideologiaes im plif icadorae
esquem atica.
Inerentea
su a
funcaojust i f icadora , aideologia apresentau m carater
codif icado parase dar uma
visao
deconjunto,nao so-
mente
do
grupo,
mas dahistoriae, em
ultimainstancia,
do
27
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
16/64
mundo".Porisso,visando aeficdciasocial de suas ideias, ela
iracionalizadorae suaf o rm adeexpressaopreferencialsao
asmaxirnas, sloganse form as
lapidares onde
aretxSrica
esta
sempre presente.
4) Umaideologia6
operatoria
e
nao-tematica.
Isto6,"ela opera
atras
de n6s, mais do que apossufm oscomoumtemadian-
te de
nossos
olhos.fi a
partir
delaque pensamos,
mais
do
que podemos pensar sobre ela" (p.
70).
E
devido
a esse esta-
tuto
nao-reflexivo
e nao-transparente da ideologia que se
vinculou
a ela a
nocao
de
dissimulacao,
de
distorcao.
5) A
ideologia
e,poderfamosdizer,intolerante
devido a inercia
que
parece
caracteriza-la. Inercia em relacao ao aspecto tem-
poral, umavezque
"o
novoso pode ser recebido a partir do
tipico,
tambem oriundo
da
sedimentacao
da
experiencia
social". Nesse sentido, a ideologia e conservac.ao e resis-
tencia
asmodifica^oes.O
novo poe
em
perigo
as
bases
es-
tabelecidas pela ideologia. Ele representa um perigo ao
grupocujosmembros devemsereconhecere sereencontrar
na
comunhao
das mesmas ideias e
praticas
sociais. A
ideo-
logia opera, assim, um
estreitamento
das possibilidades de
interpretac,aodosacontecimentos.Afetadapeloseu ca-
rater
esquematizador,
ela se
sedimenta
enquantoosfatos
e assituac.6essetransformam.Sedimentacao que pode
levar
ao "enclausuramento ideologico e atemesmoa cegueira
ideologica".
b) Func.ao de
dominac.ao
Nessa instancia, o conceito de ideologia esta ligado aos
aspectoshierirquicosda organizacjio social cujosistema de
autoridadeinterpretsejustifica.
28
Toda autoridade procura, segundo seus sistemaspoli-
ticos,
legitimar-se,
e para
tal
e necessario que
haja
correlati-
vamente
uma cren^a por parte dos indivi'duos nessa legitimi-
dade.Comoa legitimacao daautoridadedemandamais crenca
do que osindivfduos
podem dar,
surge a ideologia como sis-
tema justif icadorda
dominacao.
Enomomentoem que a ideologia-integracao secru-
za
com a
ideologia-dominac_ao
que emerge o carater de dis-
torcaoe de
dissimulacao
da
ideologia.
Mas
nem todos
os
tra-
cosque foram a t r ibufdo sa seu papelmediadorpassam a fun-
93.0
da
dissimulacao, como
se
costuma
fazer.
c)
Fun^ao
de deformacao
Aqui o
termo
"ideologia" adquire a no^ao rnarxista pro-
priamentedita. Tomando a religiao (que opera a inversao entre
o ceu e a terra) como a ideologia por
excelencia,
Marx, como
ja
vimos,
concehuao
fenomeno ideologico como aquilo
que
nos faz, segundopalavrasde Ricoeur,"tomaraimagempelo
real,
o
refiexo
pelo original".
Para Ricoeur,essa funca ode deformacao e uma
instancia
especfficado conceito de ideologia e supoe as duas outrasana-
lisadasanteriormente. Pois para elee
ba^ ico ,
no fenomeno
ideologico,
o
papel mediador incorporado
ao
mais elementar
vmculo
social:
"a
ideologia
um
fenomeno
insuperaveldaexis-
tencia social,
na
medida
em que a
realidade social sempre
possuiu uma constituicao simbolica e comporta uma
inter-
pretacao,
em imagens e representacoes, do pr6prio
vfnculo
social"
(p. 75).
Seguindoo percurso
analft ico
de Ricoeur, podemos
sentir que,
na
instancia inicial, quando
o
fenomenoideolo-
29
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
17/64
gico tern
sua
funcao
originariamente
ligada
ao
papel
de me-
diador
na
integracao social,
a nocao de
ideologia
nao
carrega
propriamente
sentido negativo. Esse sentido negative
apa-
recera
(e
se fixaradefinitivamentecom omarxismo) quando
o fen6meno se
cristalizar
em
face
do problema da autoridade
que,acionando o sistema
just i f icat ivo
da dominacao,detona
ocaraterde distorcao e de
dissimulate
da ideologia.
Um
balance
das
colocacoesvai-nos mostrar
que
essas
diferentes fo rmas
de ver e
conceituar
a ideologia
oscilam
entre
dois polos; e issocertamente vai determinar maneiras d i fe-
rentes__de
abordararelacao linguagem ideologia.
/ De umlado,temos
uma
concepcaodeideologia
geral-
mente
ligada a
tradicaomarxista,
que apresenta o f e n o m e n o
ideologia de
maneira
m a is
restrita
e
particular, entendendo-o
como o mecanismo que leva ao escamoteamento da realidade
social, apagando as contradicoes que Ih e
sao
inerentes.
Con-
sequentemente, preconiza a
existencia
deumdiscurso ideo-
logico
que,utilizando-se de varias manobras, serve parale-
git imarLo
poder de uma classeou gruposocial?)
/ D eoutro lado, temos
uma
nocaomais ampla
de
ideo-
logia
que e
definida
como uma visao, uma
concepcao
de
mundo
de uma
determinadacomunidadesocial
numa
deter-
minada circunstancia hist6rica. Isso vai acarretar uma
com-
preensao dos fenomenos linguagem e ideologiacomono9oes
estreitamente
vinculadas e mutuamente
necessarias,
uma vez
que a primeira e uma das
instancias
maissignificativasem que
a segunda se
m ater ializa.
Nesse sentido, nao ha
um
discurso
ideol6gico, mas
todos
os discursos osao.Essa postura deixa
de lado uma concepcao de ideologia como "falsaconsciencia"
ou dissimulacao, mascaramento, voltando-se para outradi-
recao
ao entender a ideologia como
algoinerente
ao signo em
geral. Dessa forma,
pelo
carater arbitrario do signo, se por um
lado a linguagem levaa criacao, a produtividade de sentido,
por outro representa um risco na medida em que
permite
manipular a construcao da referenda. Essa liberdade de re-
lacao entre signo e sentido permite produzir, por exemplo,
sentidosnovos,atenuar outros e eliminar os indeseiaveisl
Parece que essasduas
concepcoes
nao se excluem se
partirmos do
pressuposto
de que a
ideologia, enquanto
con-
cepcao
de mundo, apresenta-se como uma forma
legitima,
verdadeira de pensar esse mundo. Talmodode pensar, de
recortar
o mundo atravessado pela subjetividade em-
bora se apresente como legf tim o , pode ser,no
entanto,
in-
compativel
com a realidade, isto e, os
modos
de
organizacao
dos dados fornecidos pela ideologia podem ser
autonomos,
imaginarios,fictfcios emrela9aoaos modos de organizacao da
realidade.Essaincompatibilidade pode ser vivida de maneira
inconsciente. E nesse sentido que Ricoeur diz ser a ideologia
operat6ria
e nao-tematica,
porque,
"operando atras de
nos"
e
a partir dela que pensamos e agimos sem, muitas vezes,
tematiza-la, traze-la ao
nivel
da consciencia. Elajentretanto,
A ^ ~ ~
pode ser produzida intencionalmente. E nessepontoque as
duas concep9oes de ideologia se cruzam. Issopodeocorrer
especificamente
com
determinados discursos como
o po-
litico,
o religiose, o da propaganda,e n fi m ,os marcadamente
institucionaiizados.Neles, faz-se um recorte da realidade,
embora,por um mecanismodemanipulate,orealnao se
mostre na medida em
que,
intencionalmente, seomitem,
atenuam
ou
falseiam dados, como
as
contradicoes
que
sub-
jazem
as
rela^oes
sociais. Selecionando, dessa maneira,
os
elementos da realidade e mudando asf o rm a sde articulacao
do
espaco
darealidade,a ideologia escamoteiaomodode
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
18/64
ser
do
mundo.
Eessemodode ser do
mundo, veiculado
por
essesdiscursos,e orecorteque uma determinada
insti tuicao
ou
classe social
(dominante)
numdado sistema (por
exemplo,
o ca pitalista) faz da
realidade,
retratando assim ,aindaque de
fo r m a
enviesada,
uma
visao
de
mundo.
O conceitode
discurso
em
Foucault
Alguns
dos
conceitos colocados
por
Foucault
foram
fecundospara aqueles
que se
lancaram numapesquisalin-
giii'sticavisando
ao
discurso.
Foucault
(1969)
concebe
os
discursos
comouma
dis-
persao, isto
e,
como
sendo formados
por
elementos
que
nao
estao
ligadospor nenhum principio deunidade. Cabea ana-
lise
d odiscurso descrever essa dispersao, buscandooestabe-
lecimentoderegras capazesderegeraformacaodosdiscursos.
Tais regras,chamadas porFoucaultde regrasde formacao",
possibilitariam
a determinacao dos
elementos
que compoem
o
discurso,
a
saber:
os
objetos
que
aparecemcoexistem
e se
t rans form am num
"espaco
comum"
discursive;
os
diferentes
tipos de
enunciado que
podem
permear odiscurso; os
con-
ceitos
em suas formas de
aparecimento
e
transformacao
em
um
campo discursive,
relacionadosem umsistema comum;
os temase
teorias-,isto
e, osistemade
relac.6es
entre diversas
estrate"giascapazes
de dar
conta
de um a
formacao discursiva,
permitindo
ou
excluindo certos temas
ou
teorias.
Essas
regras
que
determinam,portanto,
uma
"formacao
discursiva se apresentam sempre como um
sistema
de re-
lacoes entre objetos, tipos enunciativos, conceitos eestra-
tegias. Sao elas que caracterizam a "formacao discursiva em
suasingularidade
e
possibilitam
a
passagem
da di spersao
para
a
regularidade. Regularidade
que eatingidapelaanalisedos
enunciados
que
constituem
a
formacaodiscursiva.
Z^Qefinindo odiscurso como umconjuntode
eiiuncia-
dos que se
remetem
a um a
mesma
form acao
discursivaj("um
discurso
e um
conjunto
de
enunciados
que
tern
seus
prin-
ci'pios
deregularidadeem umamesmaformacaodiscursiva ,
Foucault,1969,p-l46jGparaFoucault,aanalisede umafor-
*s>--
mac.aodiscursiva
consist ird,
entao,na descric,aodos
enun-
ciadosque ac o m p o em X Eanocaod eenunciado em Foucault
e
contraposta
a
nocaode
proposicao
e d e frase(unidades, res-
pectivamente, constitutivas
da logica e da
l ingiifstica
da
frase),
concebendo-o
como
a
unidade elementar,basica,
que fo r m a
um
discurso.|O
discurso seria concebido, dessa
fo r m a ,
como
um a
f amf l ia
deenunciados pertencentes a um amesma for-
macaodiscursiva^
Foucault enumera quatro caracteristicas constitutivas
do
enunciado.
A
primeira
diz
respeito
arek^aodo
enunciado
com
seu
correlate
que elechama de
"referenda ".
O refe-
renda ",aquiloque oenunciado enuncia, "e a condicao de
possibilidadedoaparecimento,
diferencia9ao
edesapareci-
mento
d osobjetose relacoes que saodesignados pela frase".
Ass im ,
o
enunciado,
por sua
fun9ao
de existencia,
"relaciona
as
unidadesdesignosq uepodemser proposicoes ou
frases
com
um d o m fn io
ou
campo
de
objetos (Machado,1981,
p.
168),
possibilitando-as
de
aparecerem
com
conteudosconcretes
no
tempo e no
espaco.
Asegunda caracterfstica (em cuja
exposicao
n osalon-
garemos devido aimportanciada questaoparaaanalisedo
discurso)d izrespeitoa relacao doenunciadocom seu
sujeito.
Foucaul tsitua-se
na
vertente oposta
a uma concep9ao
idea-
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
19/64
lista
do
sujeito
que, interpretadocomo ofundador dopen-
samento e do
objeto
pensado,
ve
a historia
como
um
processo
sem rupturaem que oselementos sao introduzidos conti-
nuamente no tempo concebido como totaliza5&o.Critica,
dessa
form a ,
uma
concepcao
do
sujeito enquanto
instancia
fundadora dalinguagem:
Poder-se-iadizer
que otemado
sujeito fundador permite
eli-
dir a realidade dodiscurso.Osujeito fundador
[...]esta
en-
carregadodeanimar
diretam ente
com seumodode ver" as
formas
vazias
da
lingua:
e
ele
que,
atravessando
a
espessura
ou
ainertiadascoisas
vazias,
retoma, intuitivamente, osen-
tidoqueaiseencontradepositado;e ele igualmenteque, para
alem dotempo,
funda
horizontesde
significances
que a
his-
toria
nao
tera,
em seguida,senaoqueexpHcitareondeaspro-
posi^oes,
as
ciencias,
os
conjuntos dedutivos encontrarao
enfim
seu
fundamento.
Em sua relacao com o
sentido,
o su-
jeito fundadordispoe designos,de
m arcas,
de
traces,
de
le-
tras.
M as nao
tern
necessidade,
para
o s
manifestar,
de
passar
pela
instancia
singular
do
discurso(1974,
p.49).
Rompendo comessaordem classicaque via a historia
como
um
discurso
do
continue,
do
desenrolar
previsivel
do
Mesmo,Foucault instaura
uma
novavisao
da
historia
como
rupturaedescontinuidade, construindo-se umaseriede mu-
tacoes inauguralsonde
nao ha lugar
para
um
projeto divino
ouhumano. Atribuindoa
instancia
singulardodiscursoum
estatuto
privilegiado,
paraele,
a m ateria de um a anal ise
his-
torica descontinuaioeventona sua
m anifestac,ao
discursiva
sem
referenda
a uma teleologiabu a umasubjetividade fun-
dadora: Descrever
uma
form ulae,aoenquanto enunciado
nao
34
consiste em analisaras relacoesentre oautor e o que ele diz
(ouquis dizer,oudissesemquerer);mas emdeterminarqual
ea posicao que
pode
e
deve
ocupar
todo individuopara
ser
seusujeito (1969, pp . 119-20).Dessa
forma ,
se osujeitoe
um a
func.ao
vazia,
um
espaO
a ser
preenchido
p or
diferentes
indivfduosque o
ocuparao
aoform ula rem oenunciado,deve-
serejeitarqualquer concepcao
unif icante do
sujeito.
O
dis-
curso
nao
iatravessado pela unidade
do
sujeito
e
simpela
sua
dispersao;
dispersaodecorrente
da s
variasposicoes possiveis
deserem assumidaspor ele nodiscurso: "asdiversasmoda-
lidadesdeenunciacaoemlugarderemeterasi'nteseou a fun-
cjiounificantede um sujeito,m anifestam suadispersao
(1969,
p.69).Dispersaoquerefleteadescontinuidadedospianosde
onde fala
o
sujeito
que
pode,
no
interior
do
discurso, assumir
diferentesestatutos. Esses pianos "estaoligados
por um
sis-
tema
de
relates,
o
qual
nao e
estabelecido pela atividade
sinte'ticade uma consciencia
identica
a
si ,
mudaou
preVia
a
qualquerpalavra,
mas
pelaespeciflcidade
de uma pratica
dis-
cursiva (1969,p.70).
yAconcepcao
de
discurso como
um
campo
de
regula-
ridades,e m qu ediversasposi9oes desubjetividade podemm a-
nifestar-se,
redimensionao papel dosujeitono processode
organizacao da
linguagem, eliminando-o como
fonte
geradora
de
significa^oes.
Para Foucault,osujeitodoenunciadonao e
causa, origemoupontodepartidadofenomenode
articulacao
escrita ouoralde um enunciado e
nem
afonte ordenadora,
movel
e constante, das
operates
designificacaoque osenun-
=w
ciadosviriam manifestarna superffcie do discursoA
Outra caracteristica
e a que diz
respeito
a
existencia
de
umdominio,ou seja,de um campo adjacente" ou
"espaco
colateral",
associado
ao
enunciado integrando-o
a um
conjunto
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
20/64
de
enunciados,jaque,
aocontrariode um afraseou proposicao,
[nao
existe um enunciado isoladamente:
Todo enunciado se encontra
assim especificado:
nao existe
enunciado em
geral,
enunciado
livre,
neutro
e independen-
te; mas, sempre urnenunciadofazendopartede umaserieou
de
urn conjunto,
desem penhando
um
papel
no meio dos ou-
ttos,
apoiando-senelese se
distinguindo deles:e le
se
integra
sempre em um jogoenunciativo\1969,p. 124).
A
quarta caracterfstica constitutiva do enunciado e
aquela
que o faz
emergir como objeto: refere-se
a sua
con-
dicao
material. Para caracterizaressamaterialidade, Foucault
faz
um a
distincaoentre enunciado
e
enunciacao. Esta
se da
toda vez que alguem emite um conjunto de signos; enquanto
aenunciacao
se
marca
pelasingularidade,
pois j a m a i s
se re-
pete,
o
enunciado pode
ser repetido. Hipoteticamente, enun-
cia^oesdiferentes podem encerrar o mesmo enunciado. No
entanto,
como a
repeti9ao
de um enunciado depende de sua
materialidade,
que e de ordem
institucional, isto
e,
depende
de sua
localiza^ao
e m u m
campo institucional,
um a
frasedita
no
cotidiano,
inserida
num
romance ou inscritan um .outro
tipo
qualquerdetexto, jamais seraomesmoenunciado,pois
em
cada
um
desses espacos, possui
uma
funcao
enunciativa
diferente.
As
ideias
de
Foucault
sao
fecundas
na
medida
em que
colocam diretrizes para uma
analise
do discurso, mas ve-
r i f i car como
se
concretizam essas diretrizes,
no n ivel lin-
gu(stico
propriamente
dito,
e uma
tarefa
que deixa aos
lin-
giiistas,
e ele nao a
realiza
uma vez que nao
tinhacomo preo-
cupa9ao central o enfoque do discursoenquantoproblema
36
lingiiistico(1979,p.
247).
Com
essa
ressalva,
destacaremos
dentre
as
suas ideias, enquanto contribuicao para
o
estudo
da linguagem, os seguintes itens:
a)
a concepcao do discurso considerado como pratica que
prove'm
da form acaodos
saberes,
e a
necessidade, sobre
a
qua
insiste obsessivamente, de sua
articulacao
com as ou-
tras
praticas
nao-discursivas;
b) o
conceito
de "form acao discursiva",
cujoselementos cons-
titutivos
sao
regidos
por
determinadas "regras
de form acao";
c)dentre
esses
elementos constitutivos
de um a
formacaodis-
cursiva,ressalta-se adisti^aoentre enunciacao (que em
diferentes
form asde jogos enunciativos singulariza o dis-
curso)
e o enunciado (que passa a
funcionar
como
a uni-
dade lingiiistica
basica,
abandonando-se, dessa fo r m a , a
nocao
desentencaou
frase gramatical
co m
essa
funcao);
d) a concepcao de discurso como jogo estrategico e
polemico:
o
discurso
nao
pode
m a isser
analisado simplesmente
sob
seu aspectolingiifstico,
m as
comojogo estrategico
de 3930
e
de
rea9ao,
de pergunta e resposta, de domina9ao e de
esquivae
tambem como
luta(1974,p. 6);
e) o
discurso
6o espa9O em que
saber
e
poder
se
articulam,
pois quernfala, fala
de
algum lugar,
a
partir
de um
direito
reconhecido institucionalmente. Esse discurso,
que
passa
po r
verdadeiro,
que
veicula saber
( o
saber institucional),
6
gerador
de poder;
f) a
produ9ao
desse discurso gerador
d e
poder
e
controlada,
selecionada,
organizadae
redistr ibufda
po r
certosprocedi-
mentos
que
tern
por
funcaoeliminar toda
e
qualquer
a
permanencia
desse poder.
37
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
21/64
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
22/64
Essas
tres
rendencias estao ligadasporrelates contra-
dito~riasquerseopondo,quersecombinando, quersesubor-
dinando uma a outra. Por exemplo, a tendencia historica liga-
seestranhamente
a formalista-logicista pordiferentesformas
intermediarias (o funcionalismo, o distribucionalismo etc.);
a lingufstica da enunciacaomantem tambem uma relacao
contraditoriacom o formalismo-logicista, principalmente
com a
fllosofia
analfticadaescoladeOxford(Austin,Searle,
Strawson etc.), ao abordar os problemas da
pressuposicao.
Uma
contradiclo
comum que
opoe
a primeira ten-
dencia as duas outras e aquela que liga a"langue"ao mes-
mo tempo a"historia"(2
a
tendencia) e aos"sujeitos falantes"
(3
a
tendencia) ou, em outros termos, "uma
contradicao
entre
sistemalingufstico (a
langue}
edetermlnacoes nao-sistemicas
que,
a margem do sistema se opoem a
ele
e mtervem sobre
ele"
(p.
19).Essa contradi^ao que constitui justamente o
obje-
to da "semantica" estaria no
centre
das pesquisas lingiiisticas
atuais. Pecheuxnao seprop5e,em seutrabalho,aresolver essa
contradifao, mas a contribuir para o
aprofundamento
da ana-
lise
dessa contradicao
atraves
de uma posicao firmada noma-
terialismo hist6rico.
Essaintervencao da fllosofia
materialista
no domfnio
da
lingufstica,
em vez detrazersolucoes,consistiraantes de
tudo em colocar uma
se"rie
de questoes sobre seus pr6prios
"objetos"e sobre a relacao da propria lingufstica comum
outrodomfnio cientjfflco, o dacienciadasfbrma96essociais.
Mecanismos lingiifsticoscomo,
por
exemplo,
a
opo-
sicao, mencionada por Pecheux (1975, p.
35),
entre expli-
cacao/determina^ao (propriedades
morfologicas e sintaxicas
ligadas ao funcionamento das relativas), que constituem ao
mesmo tempo fenomenos lingufsticose lugares de questoes
40
filos6ficas,fazemparte de uma zona de articula9aoda lin-
gufstica
com a
teoria historica
dos processes
ideologicos
e
cientfficos:
os istem ad a lingua 6om e smo pa rao materialista eparao
idealista, para orevolucionar ioeparaoreacionar io ,para
o que dispoe de um conhecimentodadoeparao que nao
dispoe. Isso na o resultaq ue eleste ra o o me sm o discurso: a
l ingua
aparece como
a
base
comumde
processesdiscursivos
diferenciados
{p.
81).
Pecheux coloca, dessa forma, duas nocoes fundamen-
tals
e
opositivas:
ano^aode base
lingutstica
que constitui precisamente o
objeto dalingufsticae compreende
todo
o sistema lingiiis-
ticoenquanto conjunto de estruturasfonologicas, morfo-
logicas
e
sintaxicas. Dotado
de uma
relativa
autonomia, o
sistema
lingufstico
e
regido
por leis
internas;
a
nocao
de
processo
discursivo- ideologico que se desenvolve
sobre a
base dessas leis internas; rejeita-se, assim,qualquer
hipotese de uma discursrvidade enquanto utiliza9ao"aci-
dental"
dos sistemas
lingufsticos
ou enquanto "parole", isto
e,umamaneira
"concreta"
de habitar a"abstra^ao"da "lan-
gue".
O
conceito
de
processo discursive6elaborado
a
partir
da nocao foucaultiana de sistema de
formacao
compreen-
dida como conjunto de regras discursivas que determinam
a existenciados objetos, conceitos, modalidades
enuncia-
tivas,
estrategiasyVpreocupa^aodePecheuxinscrevero
processo
discursive
em uma relacao
ideologica
de
classes,
pois reconhece,citando Balibar, que, se a
I fngua
iindi-
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
23/64
ferente
adivisao de classes socials e a sualuta(daf a relativa
autonomia
do
sistema lingiiistico), estas
(as
classes
socials)
nao
o sao emrelacaoa
lingua
aqua
utilizam
de
acordo
com
o
campo
de
seus
antagonismos>
Essa
distincao
fundamental leva a
reconhecer
que:
< Q a
lingua constitui
a
condicao
de
possibilidade
do
"discurso",
poise uma especie de invariante pressuposta por todas as
condicoes de
producaopossfveis
em um
momento historico
determinado;
(}os processes
discursivos
constituem
a fonte da producao
dos
efeitos
de sentido no discurso e a lingua e o lugar
ma-
terial em que se realizam os efeitos de sentido.
^Segundo
essa perspectiva, se processo
discursive
e
pro-
ducao
de sentido, discurso passa a ser o
espaco
em que emer-
gem as
significacoes.
E aqui, o lugarespecrficoda
constituicao
dos
sentidos
e aformacao
discursiva, nocao
que, juntamente
com a de
condicao
de
producao
e
formacao ideologica,
vai
constituir uma
trfadebisica
nas
formulacoes
teoricas da ana-
lise
dodiscurso^,
Condigoes de
produgao
dodiscurso
Para Courtine (1981), as origens danocaode
condicoes
deproducao(que abreviaremos CP) sao de
tres
ordens:
a)
origina-se em primeiro lugar da analise do conteudo tal
como
e praticada sobretudo na psicologia social;
b) origina-se
indiretamente dasociolingiii'sticana
medida
em
que esta admite
variaveis
sociol6gicas
("o
estado social
do
emissor, o estado social do destinatario, as
condicoes
socials
da situacao
de
comunicacao...")como responsaveis pelas
CPs do
discurso;
c)
tern
uma origem implicita no texto de Harris,
Discourse
analysis
(1952):
nele
nao figura o
termo
CP, mas o
termo
"situacao", colocado
em
correlacao
com o de
"discurso"
ao
referir-se
aofatode se dever considerar como
fazendo
parte
do discurso apenas asfrases "queforampronunciadasou
escritas
umas em seguida das outras por uma ou
variaspes-
soas
em uma so
situacao"
ou de estabelecer uma
correlacao
entre as caracterfsticas
individuals
de um enunciado e "as
particularidades
de
personalidade
que provem da expe-
riencia doindividuo
emsituates interpessoais
condicionadas
socialmente (apud Courtine, 1981, p.20).
Essa
noc,ao de situacao se mostra
insuficiente
e ainda
bastante proxima daformulacaode CPelaborada pelaanalise
de
conteudo
da
psicologia social
ou da sociolingiiistica.
Na seqiiencia
dessas
concepcoes de origem,
dois con-
juntos
de
definicao
da nocao de CP se
sucederam:
umnomeadoporCourtine (1981,p. 21)como "definicoes
empfricas"em que "as CPs do discurso tendem a se con-
fund ircom adefmicao em pf ricade uma
situacao
de
enun-
ciacao";
outro
que
forma
um
conjunto
de
"definicoes teoricas"
que
aparecem
na AD
desde 1971
ao lado da
nocao
de"forma-
cao discursiva"
(Haroche et
al., 1971,
p.
102).
43
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
24/64
F oi Pecheux
(1969) querntentou
fazer
aprimeirade-
f in icao
em pi'rica
gerald a
nocao
de CP . Ele o fezinscrevendo
anocao noesquema
"informacional"
da comunicacaoela-
boradoporJakobson(1963,p.214); esquema que,apresen-
tando
a
vantagem
de
colocar
em
cena
os
protagonistas
do
discurso e o seu "referente" perm ite
compreender
ascondi-
coes
(M st6ricas)da
producao
de umdiscurso|A
contribuicao
de
Pecheux
esta
no
fato
de ver nos
protagonistas
do
discurso
nao a
presenc,a
fisica de"organismos humanos individuals ,
m asa
representacao
de
"lugares
determinados naestruturade
um a formacao social, lugares cujo feixe detracesobjetivos
caracteristicos pode
se t
descritopela sociologia".Assim, no
interior de uma
instituicao
escolar ha "o
lugar"
dodiretor, do
professor,
do aluno,
cada
um marcado por
propriedades
di-
ferenciais. N o discurso, as relacoesentre esses lugares, obje-
tivamente
definfveis, acham-se representadas
por uma se"rie
de " form a^oes imaginarias"quedesignamolugarque
des-
tinadoredestinatirioatribuema simesmoe aooutro,a ima-
gemqueelesfazem de seu pr6prio lugar e do lugar dooutro.
Dessa forma,emtodo processodiscursive, oemissorpode
anteciparas representacoes doreceptore, deacordo co m essa
antevisao
do
"imagindrio"
do outro,
fundar estrategias
de
discurso7
~~--J3
Segundo Courtine (1981),
essa
tentativa de de fmicao
da no9ao de
CP,
esbocada por Pecheux, nao
rompe,
entre-
tanto,c om a sorigens
psicossociologicas
j a
assinaladas
na fase
anterior. Para ele,
"os
termos 'imagem'
ou
'formasao
ima-
ginaria'
poderiam perfeitamente
ser substitm 'dos
pela
no9ao
de 'papel' ta l
como
eutilizada nas 'teorias do papel'herdadas
dasociologia
f uncional ista
deParsons,ouaindado
interacio-
nismo
psicossociologicode
G o f fm a n"
(p.
22).
E ,por exemplo,essa posturaque Courtine detecta no
trabalho
e m qu e
Courdesses(1971)
analisa as
diferencasenun-
ciativas
que
caracterizam
os
discursos
de
Blum
e
Thorez. Nele,
asC P s saoformuladasdemodo que assegurema"passagem
continua
da
historia
(a conjuntura e o
estado
das
relacoes so-
ciais) aodiscurso (enquanto tipologias que nele sem an i fes-
tarn)pela
mediacao
de uma caracterizacao psicossociologica
(as relacoes do indivi 'duo ao
grupo)
de um a s itua^ao de
enun-
ciacao"
(p.22). Sob esse
enfoqueXa
rela^aoentrelingua e
discurso,
mediatizadapelo
psicossociologico, apagaas
deter-
m ina9oes
propriamentehistoricas,fazendo
com que a
carac-
ter izacaodoprocessodaenunciacaoemcada discurso nao
sejarelacionadaaoefeitode uma conjuntura,mas ascaracte-
rfsticas
individuals de
cada locutor
ou
ainda
as
relacoes
in -
terindividuais que sem ani festam noseiode umgrupo. Na
nocao de CP
assim
definida,o
piano
psicossociologico
do-
mina
opiano historico,naohavendouma
hierarquiza9ao
teo-
ricadospianosde referenciaT^
^~Court}&& propoeuma
definicao
de CP que nao
seja
atrafda
po r
essa
operacao
psicologizante
da sdetermina9oes
historicasdodiscurso, fazendo-astransformar-seemsimples
circunstancias.
Circunstancias em queinteragemos"sujeitos
do discurso", que
passam
a
constituir
a
fonte
de
relacSes
dis-
cursivasdasquais,naverdade,nao saosenaooportador ou
o
efeito^Postula
umaredefm i^aoda
nocao
de CP
alinhada
a
analise
historica
das
contradi^oes
ideologicas
presentes
na
materialidade
dos
discursos
e
articulada teoricamente
com o
conceito de
formacao discursivaj
8/11/2019 Introduo Anlise Do Discurso - Helena Brando
25/64
Formagtio ideoldgica eformagao
discurs iva
\
^L.discursQ, umadas
instancias
em que a
materialidade
W_ - ea - - -
_
ideologicase concretizajistoe, e um dosaspectos materialsda
"existencia^
irnaterial"
H as
ideologias.Aoanalisarmosa articu-
la^aodaideologiacom odiscurso, dois conceitos ja tradicio-
nais
em AD devem sercolocados: o deforma^ao
ideoldgica
(que abreviaremos
FI)
e o de
formacao
discursiva(FD).
\ParaPecheux
(1975),
a
regiao
do
materialismo historico
que
interessa
a uma
teoria
do
discurso
e a da
superestrutura
ideoldgica ligadaaomodode
producao
dominantena forma-
caosocial considerada. Dessa forma, e uma materialidade es-
pecifica
articulada sobre
a
materialidade economica
que
deve
caracterizara
ideologm
o
funcionam ento
da
instancia
ideoldgica
deve
ser
concebido
c o m o"determinadoe m ultima instancia"pelainstancia eco-
nom l canamedidaem q ue ele
aparece
comoum a dascon-
dicoes
(nao-econom icas) da
reproducao
da base
econ6mica,
m ais especif icam entedasredoesde produ^aoinerentesa
esta
baseeconomica.
Essaconcep^aodainstanciaideologica,que vaipermitir
a Pecheux chegar a representa9ao do "exterior da lingua", 6
caudataria dotrabalhode Althusser sobre as ideologias.
j
Nareproducaodas relacoes deproducao,uma dasformas
pelaqua a instancia ideologicafuncionae a da
"interpelacao
ou
assujeitamento dosujeitocomo
sujelto
ideologico". Essa interpe-
lacao ideologica conslste em fazercom que cada
indivfduo
(sem
que eletomeconsciencia
disso,
mas,ao
contrario,
tenha aim-
pressao
de quesenhorde sua
propria
vontade) sejalevadoa
ocupar seu lugar em um dosgruposouclassesde urna deter-
minadaforma9ao soclalTiAs
classes
socials,
assim constitufdas,
mantem
relacSes
que sao reproduzidascontinuamente e ga-
rantidas materialmente peloqueAlthusser denominouAIE.
Realidadescomplexas,os AIE"colocamemjogopraticasasso-
ciadas a lugares ou a relacao de lugares que remetem arelacao
declasse".Numdeterminado
momento
historicoe no interior
mesmo desses
aparelhos, as relacoes de
classepodem carac-
terizar-se
pelo
afrontamento
de posicoes pohticas eideologicas
que seorganizamde forma a entreter entre si relacoes de
alian-
93,de
antagonismos
ou de
dominacao.
Essa organizacaode
po-
sicoes
poh'ticas e ideologicas e que constitui as
forma^oesideo-
I6gicas
queHarocheetal. (1971, p.102)assim
deflnem:
Falar-se-d
de formacao
ideologicaparacaracterizar
um
ele-
m e n t o(determinado aspecto dalutan os
aparelhos)
suscep-
tfvel deintervircomou m a forca confrontada cornoutras
forcas
na conjuntura
ideologica
caracteristica de um afor-
m acao socialem ummomentodado;?cada form acaoideo-
k ~ ~
logica constitui assim um conjunto complexode atitudes e
de
representacoes
q ue
na o
sao nem
"individuals"nem "uni-
versais" m as se relacionam m aisou menos
diretamente
a posi-
-sn
coes
de
classe
em
conflito u m a s
em
relacao
as
outras.\
-4
Constituindo odiscursoum dosaspectos materialsde
ideologia, pode-se afirmar
que o discursive e uma
especie
pertencente
ao
generoideologico.
Em
outros
termosfa for-
*
^
,
macao ideologica tem necessariamente como um deseus
componentes uma ou varias formacoes discursivas inter-
ligadas
L
Jssos ignif ica
que os discursos sao governados por for-