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Introdução
A Congregação das Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus foi
fundada no dia 3 de julho de 1925, em Santa Marinella, cidadezinha litorânea próxima de
Roma, em um imóvel alugado denominado “Vila Persichetti” e que reunia dois grupos1, um
provindo de Modica - Sicília e outro, de Roma. No dia 24 de setembro de 1947, após vinte e
dois anos de sua fundação, partia o primeiro grupo de missionárias, com destino ao Brasil,
para Paracatu-MG.
A Congregação que nasceu da fusão2 de dois ideais, o ideal missionário de Padre
Lourenço van den Eeerenbeemt e o ideal educativo de madre Crucifixa Curcio, concretizava o
ideal missionário com a abertura da missão das Carmelitas Missionárias em Paracatu. Foram
anos de expectativas e de insistente persistência de Padre Lourenço que mantinha
correspondência3 com os Padres Carmelitas da Holanda, da Indonésia assim como de
Paracatu, principalmente com o bispo Prelado, dom Eliseu van de Weijer4.
1 Para a fundação da Congregação, Padre Lourenço van den Eerenbeemt e Madre Crucifixa Curcio visitaram
pela primeira vez a cidadezinha de Santa Marinella, no dia 18 de maio de 1925, onde Padre Lourenço celebrava
nos finais de semana e nas festividades e, por isso, conhecia muito bem o local. Os dois protagonistas já se
conheciam através de correspondências e tentativa falida de fundação em Arenella - Nápoles, em 1924. Em
Santa Marinella decidiram alugar uma casa, determinaram a data de início da fundação do Instituto, reunindo o
grupo de Modica - Sicilia encabeçado por Madre Crucifixa Curcio e o outro grupo de Roma encabeçado por
Padre Lourenço. 2 de Padre Lourenço e Madre Crucifixa: "O Instituto das Missionárias Carmelitas da Ordem Terceira, tem O
termo fusão foi usado por Padre Lourenço no Exposto apresentado ao Cardeal Antônio Vico, em julho de 1925,
para obter a aprovação diocesana da Congregação, in Arquivo da Postulação. Esse mesmo termo foi utilizado
também por Dom Vital Wilderink, no Seminário de estudos, no dia 4 de janeiro de 2007, quando ele apresentou
o tema: Perfil Humano e Espiritual de Padre Lourenço, in ASPSTL. Cf. texto: “O primeiro capítulo
(Constituições) que define” o fim das Missionárias Carmelitas apresenta uma fusão dos ideais como fim a
propagação da Fé, sob a proteção do Sagrado Coração de Jesus, da Bem-aventurada Virgem do Carmo e de S.
Teresa do Menino Jesus, mediante as obras de atividade missionária, especialmente, aquelas que se referem à
educação das adolescentes do povo, e principalmente da infância abandonada". 3 Abundante correspondência compõe o arquivo “Padre Lourenço”, na sala da Postulação, em Santa Marinella,
onde todos os documentos, manuscritos, escritos editados e não editados foram organizados e sistematizados por
Padre Emanuele Boaga, OCarm e por irmã Cecilia Tada. 4 Dom Elizeu Van de Weijer. Albertus Hendrikus nasceu em Harderwyk (Holanda), em 29 de dezembro de 1880,
tendo como pais Hendrikus Joannes van de Weijer e Henrina Hchelina Schiffmacher. Atraído pela vocação
religiosa em setembro de 1899, entrou no noviciado dos padres carmelitas em Boxmeer. Em outubro de 1903,
professou solenemente na Ordem Carmelita os votos de pobreza, castidade e obediência. O bispo Wilhelmus
Van de Vem conferiu-lhe as ordens sacerdotais em 17 de junho de 1905. Uma vez sacerdote, passou a residir no
convento de Os, onde era “lector theologiae”. Frei Eliseu, imbuído do espírito de sacrifício e desejoso de servir a
Deus em outras terras, colocou-se à disposição da Ordem para servir no Brasil, onde os padres holandeses
restauravam a Província Carmelita Fluminense. Em Santos recebeu sua nomeação para administrador apostólico
da recém-criada prelazia de Paracatu, em 27 de abril de 1929. No dia 26 de julho fez o juramento canônico nas
mãos do Núncio Apostólico DOM Bento Aloísio Masella, na capela particular da Nunciatura no Rio de Janeiro.
Em 27 de outubro, festa de Cristo Rei, foi sagrado bispo na igreja do Convento da Lapa, no Rio de Janeiro, pelo
Núncio Apostólico Dom Bento Aloísio Masella, sendo bispos consagrantes Dom Francisco de Aquino Correa,
arcebispo de Cuiabá, e Dom José André Coimbra, bispo de Barra do Piraí (RJ). Muito trabalhou para que a
prelazia “nullius” fosse elevada à categoria de diocese, o que aconteceu através da bula “Navis Gubernationi” de
João XXIII, em 14 de abril de 1962. Sentiu profundamente não ter sido nomeado bispo de Paracatu, apesar de
sua idade avançada. Com a instalação da diocese, em 26 de agosto de 1962, e posse do primeiro bispo o confrade
Dom Raimundo Lui, mais uma vez mostrou seu grande espírito de desprendimento e de humildade. Preferiu
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Dom Gabriel Paulino Bueno Couto5, quando ainda frade carmelita, seguia muito de
perto as Carmelitas Missionárias. Ordenado bispo em 1936, estimulou muito as Irmãs
Carmelitas a virem para o Brasil. Acompanhou a tramitação de correspondência entre os
Carmelitas do Rio de Janeiro e de Paracatu, abençoando essa iniciativa, tanto que a Superiora
Geral Madre Crucifixa é recordada no depoimento de Irmã Virginia Murtinu sobre a maneira
transferir-se da cidade que muito amava, a fim de dar ao novo bispo ampla liberdade de trabalho. Com pesar e
muita saudade passou a residir no Convento dos Carmelitas, em Teresópolis, Rio de Janeiro. Os paracatuenses
não se conformavam de Dom Eliseu não mais residir na terra que o adotou e oficializaram através da Câmara
Municipal e Prefeitura de Paracatu, em 29 de dezembro de 1962, como mais um dos beneméritos cidadãos
paracatuenses. Tudo fizeram até trazê-lo de volta em dezembro de 1965. E foi para ficar. Dom Raimundo o
acolheu com todo o carinho fraternal em sua residência assistindo-o, tanto material como espiritualmente, onde o
teve até 25 de janeiro de 1966, quando entregou sua alma ao Senhor. 5 Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, OCarm., filho de Porcino Camargo Couto e Gabriela Bueno. Ingressou no
Seminário dos Padres Carmelitas, em Itu, onde, em 1927 recebeu o hábito carmelita e realizou seu noviciado.
Sua profissão religiosa foi realizada em 30 de dezembro de 1928. Cursou Teologia no Colégio Internacional
Santo Alberto, em Roma, frequentando a Pontifícia Universidade Gregoriana. Emitiu seus votos perpétuos em
1931. Foi ordenado presbítero no dia 9 de julho de 1933, em Roma, onde permaneceu por 17 anos. No dia 16 de
outubro de 1946 foi eleito bispo, aos 36 anos. Sua ordenação episcopal deu-se a 15 de dezembro de 1946, em
Roma, pelas mãos dos cardeais Raffaele Carlo Rossi, OCD, Luigi Traglia e de Dom Giuseppe D'Avack. Foi
bispo auxiliar de Jaboticabal, São Paulo, de 1946 a 1954; Curitiba, Paraná, de 1954 a 1955; bispo auxiliar de
Taubaté, São Paulo, de 1955 a 1965; bispo auxiliar de São Paulo de 1965 a 1966. Dom Gabriel esteve presente
em todas as sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965). No dia 21 de novembro de 1966 foi nomeado pelo
papa Paulo VI para ser o primeiro bispo diocesano de Jundiaí, São Paulo. Permaneceu nesta função até sua morte
em 1982. Foi administrador apostólico da Diocese de Bragança Paulista, de 1968 a 1971, período compreendido
entre a enfermidade de Dom José Maurício da Rocha e a posse de Dom José Lafayette Ferreira Álvares. Em
1972, foi um dos signatários do documento Testemunho de Paz: declaração conjunta do episcopado paulista
(Brodowski, São Paulo, 8 de junho de 1972). Esta declaração foi a primeira manifestação do episcopado
brasileiro sobre as prisões e torturas cometidas pelo governo militar no Brasil, era então presidente do Regional
Sul-1 da CNBB Dom Paulo Evaristo Arns. Faleceu em Jundiaí, no dia 11 de março de 1982. A Diocese de
Jundiaí e a Ordem Carmelita, à qual pertencia, estão trabalhando pela sua beatificação. Seu processo,terminada a
fase diocesana encontra-se em Roma.
Foto 1 - Fundadores: Padre Lorenzo van den Eereenbeemt e Madre Crucifixa Curcio. Primeiras missionárias Carmelitas no Brasil, em Paracatu: Irmã Inês Giunta, Irmã Eliana Spadola,
Irmã Grazietta Macauda e Irmã Virginia Murtinu.
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como foi abordada para aceitar vir em missão ao Brasil. “O vosso confessor de Roma, Dom
Couto, pediu-me quatro Irmãs para abrir uma missão no Brasil6”.
Irmã Virginia Murtinu é a primeira a ser quase forçada a assinar a folha de adesão para
vir ao Brasil. “Quem sabe se abrires a lista com teu nome, algumas outras te seguirão”, foi o
encorajamento que recebeu. Após dez anos sem visitar a mãe na Sardenha, Irmã Virginia
impõe como condição poder visitá-la antes de partir definitivamente em missão.
E assim se compõe o primeiro grupo: Irmã Inês Giunta7 – Superiora e Delegada da
Superiora Geral, Irmã Eliana Spadola8, Irmã Grazietta Macauda9 e Irmã Virginia Murtinu10.
As missionárias partiram do Porto de Nápoles para embarcar em Gênova com destino
ao Rio de Janeiro, no dia 28 de novembro de 1947, acompanhadas por Padre Carmelo Luisi,
Irmã Grazietta Giunta e Irmã Rosina Savarino. Após visitar o Santuário de Pompeia,
embarcaram no navio. Lágrimas, soluços, saudades e muita dor preencheram o momento de
despedida:
Sentimo-nos exaustas pelo esforço de manter-nos calmas, à vista do navio.
Sentimo-nos perturbadas, não conseguíamos mais conter as lágrimas...
Dizíamos a nós mesmas: ‘Coragem, o Senhor e a Virgem Santíssima nos
ajudarão, encorajemo-nos mutuamente’11.
Já no navio “Sestriere”, Irmã Virginia registrava em seu Diário o primeiro ato do dia
seguinte, depois de uma noite mal dormida.
6 Positio, p. 241. 7 Seu nome de batismo era Maria Teresa. Após a vestição religiosa passou a ser chamada Inês. Irmã Inês Giunta nasceu em Modica (RG) no dia 29 de junho de 1901. Faz parte do quinto grupo de candidatas que entraram na Congregação e iniciou o postulantado no dia 2 de setembro de 1927, o noviciado em 8 de dezembro de 1927, emitindo os votos privados de pobreza, obediência e castidade nas mãos de Padre Lourenço no dia 6 de janeiro de 1929. Emitiu a profissão perpétua no dia 6 de janeiro de 1932. Depois de ter sido mestra das noviças e superiora local em algumas comunidades italianas, foi enviada ao Brasil, para a cidade de Paracatu – MG, fazendo parte do primeiro grupo de missionárias em 1948. Após percorrer algumas comunidades, faleceu em Uberaba no dia 25 de agosto de 1986. 8 Irmã Eliana Spadola, seu nome de batismo era Orazia. Nasceu em Modica no dia 31 de março de 1903. Fêz parte do quinto grupo fundacional, iniciando o postulantado no di 24 de agosto de 1928, sendo admitida ao noviciado no dia 6 de janeiro de 1929. Emitiu a profissão temporária em 23 de outubro de 1930, sendo enviada ao Brasil fazendo parte do primeiro grupo. Em 1970, para submeter-se ao tratamento da saúde retornou para Itália, falecendo em Modica no dia 5 de dezembro de 1977. 9 Irmã Grazietta Macauda fez parte da primeira geração de Irmãs que ingressaram na Congregação com aprovação diocesana. Não havia estudos a não ser o primário, mas preparou-se para exercer a enfermagem seja na Itália, como no Brasil. No Brasil aprimorou-se na enfermagem frequentando diversos cursos. Trabalhou sem descanso, oferecendo o melhor de si para suavizar os enfermos. Chegando ao Brasil com o primeiro grupo, em 1948, prestou relevantes serviços em Paracatu e em Paulo de Faria. Retornou à Itália para prestar assistência à sua irmã religiosa e faleceu em Módica em 10 de março de 2009. 10 Seu nome de batismo era Giovanna, passando a ser chamada Virgínia após a vestição religiosa. Integrou o primeiro grupo de missionárias de 1948. Foi uma das pioneiras na implantação e expansão das obras em Paracatu, tendo sido mandada de volta à Itália em 1955. Cumpre obediência em 1964, retornando ao Brasil como Delegada da Superiora geral. Foi Superiora e Mestra de Noviças em Uberaba e, em 1 de novembro de 1972 foi nomeada Superiora Regional para as Casas do Brasil. Em 1º de agosto de 1980 retorna à Itália, falecendo no dia 2 de fevereiro de 2012. 11 Irmã Virginia Murtinu, Diário de viagem e fundação da Congregação no Brasil, in ASPSTL.
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Por sorte temos o conforto de ter a bordo 13 sacerdotes. Enquanto às 6h30
assistimos a Santa Missa, a sirene dá o sinal de partida e às 7h15
precisamente, a Sestriere se separa do cais. Admirável coincidência.
Enquanto se celebra o divino sacrifício, o navio inicia sua viagem. Parece
que o Senhor quis dar uma prova nesta coincidência que incorporava ao seu
divino sacrifício o nosso sacrifício12.
Em seu Diário, Irmã Virginia relata as peripécias de uma viagem de navio por 20
intermináveis dias entre o “mal de mar”, tempestades que quase engoliam o navio, belezas
que contemplavam, amizades que cultivavam com todos os viajantes e, finalmente, no dia 16
de dezembro, escrevia:
No início da tarde aparecem as primeiras montanhas. À medida que nos
aproximávamos, vemo-las aumentar e se veem outras mais. Ao pé da costa
vemos a praia. Há muita areia e é longuíssima. Depois, mais montanhas e
algumas ilhotas e, enfim, eis-nos na última ponta, pela qual finalmente
giramos e entramos na baía do Rio de Janeiro. Chegamos!13
No porto do Rio de Janeiro encontraram frei Angelino Wissink14, OCarm. que as
acompanhou até a Escola Santa Teresa, residência das Irmãs de São Vicente de Paulo,
próxima à Igreja do Carmo. Permaneceram nessa casa por quase um mês, como nos relata
Irmã Virginia:
Ficamos quase um mês com as Irmãs Filhas da Caridade, cercadas de
cuidados e muita bondade. Especialmente nas festas natalícias, nos
cumularam de cordialidade. Além do alojamento e alimentação abundante,
boa e variada, nos deram belíssimos presentes e de utilidade para a casa de
Paracatu. [...] Depois de 15 dias que estávamos no Rio, chegou o Bispo de
Paracatu dom Elizeu Van de Weijer, holandês, já um pouco idoso, mas ainda
enérgico. Disse-nos que deveríamos esperar ainda alguns dias, porque nossa
casa ainda não estava pronta15.
12 Ibid p. 14. 13 Ibid p. 34. 14 Foi, na época, Prior da Ordem, em São Paulo. 15 Ibid p. 38.
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As missionárias recém-chegadas observam tudo e chegam a questionar a razão de ser de
sua presença como missionárias:
Notamos com admiração que o povo brasileiro é simples e muito religioso.
As igrejas que visitamos estão sempre cheias de gente que reza, participa da
Santa Missa de joelhos e quase todos recebem a comunhão, inclusive os
homens. Tudo isso nos enche de admiração e nós dizemos: Mas, então,
porque querem tantos missionários?16
Depois de 23 dias de permanência na casa das Irmãs Vicentinas, finalmente partem do
Rio para Belo Horizonte de trem. Não habituadas com longas distâncias, tampouco com
longas horas de viagem, anotam:
A viagem foi muito desconfortável e durou 20 horas. Chegamos à meia-
noite. Tínhamos os ossos quebrados. Ficamos hospedados com as Irmãs
Dominicanas, que aqui têm uma bela casa de noviciado. Também aqui nos
trataram com muita gentileza. Após quatro dias de permanência, partimos
para Patrocínio. Também desta vez, tivemos que viajar de trem toda a noite.
Às 21h30 do dia seguinte, chegamos. Também aqui fomos hospedadas por
Irmãs. Tinham um colégio com muitas alunas, internas e externas. Nós
olhávamos tudo com interesse, porque pensávamos que futuramente
poderíamos ter um colégio e, portanto, queríamos observar o sistema desse
país, muito diferente do nosso17.
As peripécias da viagem de Patrocínio a Paracatu, percurso feito na estrada de chão, são
relatadas pormenorizadamente no Diário. O primeiro estágio da vida missionária puderam
fazer nesse trajeto, hospedando-se em casas de pau a pique, passando pelo desconforto dos
16 Ibid, p. 39. 17 Ibid, p. 40.
No Corcovado: Irmã Inês Giunta,
Irmã Eliana Spadola, Irmã Grazietta
Macauda e Irmã Virginia Murtinu,
acompanhadas por uma Irmã
Vicentina.
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atoleiros, experimentando a fome, a sede, mas também o conforto da solidariedade dos
viajantes que vinham ao encontro e os ajudavam.
A entrada na cidade de Paracatu se fez pelo bairro Paracatuzinho. Na época, o bairro era
habitado por gente muito simples e pobre. O cenário da chegada em Paracatu é ilustrado
nesses termos:
A casa episcopal é bastante velha e rústica. Na residência do bispo, moram
três padres jovens de mais ou menos 30 anos. Enquanto nos trazem alguma
coisa para comer, o bispo janta conosco arroz branco, feijão, carne moída e
bananas. Estávamos muito cansadas. Os padres. vendo o nosso cansaço, nos
acompanharam à nossa casa. Era a porta vizinha, a dois passos deles. Deram-
nos a chave, para que a Superiora abrisse a porta e depois, desejando-nos boa
noite, foram embora satisfeitos18.
O relato feito no Diário descreve o que encontraram na parte residencial destinada às
Irmãs. Como foi dito, era uma casa só com paredes que separavam da parte residencial do
bispo e tinha entrada externa independente. Piso de tábuas gastas e esburacadas; na cozinha,
fogão a lenha; todos os utensílios em bom estado, mas usados com o nome dos doadores;
banheiro fora (fossa coberta de palha); nada de água encanada, poço para retirar água e roupa
a ser lavada no rio19.
O dia 6 de janeiro de 1948 é o dia em que as Irmãs amanhecem na suspirada Paracatu.
São surpreendidas com uma serenata. Acordam de madrugada com música e canto em
homenagem a Santa Teresinha. Após escutarem comovidas e felizes, prepararam-se para
participar da Santa Missa, na Catedral, às 6 horas. A missa foi celebrada pelo bispo Dom
Elizeu. As Irmãs receberam os cumprimentos após a Santa Missa.
Quando saímos da Igreja, começaram os cumprimentos e abraços. Não
paravam mais de manifestar-nos alegria pela nossa presença no meio deles.
Nós olhávamos com ternura e trocávamos os abraços, enquanto dizíamos
algumas palavras em português. Como nos fizeram notar os padres e
pudemos constatar também nós, pela graça de Deus, causamos uma boa
impressão na população. Especialmente as mulheres de condições mais
humildes, que ansiosamente perguntam se precisamos de alguma coisa, o
que faremos pelo povo, pelas crianças e se vamos abrir uma escola. Nós,
sorrindo, dizemos que, com o tempo, faremos tudo aquilo se Deus quiser20.
18 Ibid, p. 45. 19 Até as décadas de 1960 e 1970, Paracatu era um município muito isolado, de difícil acesso. Saiu de seu
isolamento a partir da construção da capital Brasília e os projetos de construção de rodovias ligando as capitais,
principalmente a BR 040. 20 Ibid, p. 46.
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Irmã Virginia dizia que a casa das Irmãs parecia uma repartição pública. Os adultos,
jovens e crianças não sentiam distância das Irmãs. Tinham muita liberdade, como podemos
constatar neste relato:
Depois de alguns meses que já estávamos em Paracatu, vem fazer-nos uma
visita uma menininha de uns 8 anos. Trouxe-nos uma garrafa de manteiga
fresca. Apresentou-se, dizendo: ‘Eu me chamo Inês; pois bem, contem-me
coisas belas de Roma’. Então, a Superiora procurou contar alguma coisa,
mas as palavras não vinham em português, e então a menina, a uma certa
altura a interrompe e quase com pena lhe diz: ‘Coitadinha, não sabe nem
falar... mas por que a senhora não sai e vai pelas ruas e se põe a falar com
um e com outro que encontrar pelas ruas, assim poderá aprender. Ficando
sempre dentro de casa, não aprenderá nunca...’21
Além da língua que as duas Irmãs italianas não conseguiam dominar, apesar de terem
estudado a gramática portuguesa, resultava muito difícil a conversação, sobretudo para as
Irmãs mais idosas. Irmã Virginia era a mais jovem do grupo e conseguia abrir caminhos para
novas saídas para sobreviverem e subsistirem com coragem. Dadas essas condições,
ocuparam-se, no início, com a limpeza da igreja, da casa dos padres e de seus indumentos,
sem deixar de visitar famílias carentes e necessitadas, além de tocar órgão na Igreja durante
cerimônias e casamentos22.
Depois de alguns meses, os padres e o bispo que forneciam a porção diária de alimentos
como gratificação pelos serviços que as Irmãs prestavam, suspenderam completamente,
21 Ibid, p. 47. 22 Cf. ibid, p. 48.
Foto 3. Rua Sacramento (Eduardo Pimentel) Residência episcopal nas décadas de 1940/1950, onde as Irmãs Carmelitas tiveram sua residência por um ano. Na casa residiam o bispo e os padres. As duas últimas portas da casa faziam parte da residência das Irmãs com salas-ambientes para as atividades de Jardim de Infância e Escola de trabalhos manuais. A seta indica a porta de entrada da residência das Irmãs.
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propondo a elas se transferirem para uma área retirada. Era a fazenda dos padres, como era
conhecido o local. Uma fazenda extensa, cultivada com cana-de-açúcar, café, bananas e
hortaliças, além de vacas, porcos, galinhas e patos. À proposta que o Bispo fizera de residir na
fazenda, as Irmãs reagiram com convicção:
Certamente era um lugar magnífico, mas nós não tínhamos vindo ao Brasil
para morar em uma fazenda. Não era o nosso ideal. Por isso, com gentileza e
firmeza, lhe fizemos entender que preferíamos continuar onde estávamos por
causa da proximidade da Igreja, pela Santa Missa e de todo um conjunto de
coisas, que nos colocavam em contato com o povo, pois nós queríamos ficar
com o povo, especialmente com as crianças e com os mais pobres23.
Com o passar do tempo, as Irmãs experimentaram a fome, porque não contavam com
nenhuma gratificação pelo serviço que prestavam.
A Superiora estava angustiada, parada e muda. Nós não sabíamos o que
fazer. Tínhamos tanta fome e em casa não tínhamos nada. Dinheiro não
havia. Não tendo outra coisa, fomos para debaixo das árvores, onde
comíamos mangas, às vezes verdes. Chegamos a comer as rosas e os botões.
A Superiora tinha trazido da Itália três mil liras que deram duzentos
cruzeiros, o sustento para algumas semanas24.
A angústia, a tristeza e a desesperança tomaram conta principalmente da Superiora que
propôs retornar à Pátria. No entanto, o desencorajamento de uma era sustentado pela coragem
de outra. A beleza da vida em comunidade é a sustentação que um membro pode oferecer ao
outro membro mais fragilizado.
Uma noite, quando cansadíssima ia deitar-me, a Superiora veio debaixo da
minha cortina. Estava muito triste. Com voz de choro, me disse: ‘Irmã, não
podemos mais continuar assim, sozinhas, sem meios para viver. O que você
pensa de voltarmos para a Itália? Eu não aguento mais, não me sinto mais
com coragem de suportar tudo isto, não quero mais ficar. Vamos embora
desse lugar’! Fiquei sem respiração, sentada na minha cama, e olhava
surpresa, com a fraca luz da vela apoiada no chão. Quase imediatamente
respondi: ‘Superiora, fizemos tantos sacrifícios para vir! O pior já passamos.
Agora iremos adiante como Deus quiser. Vamos inspirar coragem umas às
outras. Deus não nos abandonará, porque é por Ele que vivemos. Não, não
devemos absolutamente voltar atrás. Nossa Senhora nos guiará e nos
proverá’. Ela me olhou calada e foi embora25.
23 Ibid, p. 49. 24 Cf. Ibid, p. 50. 25 Ibid, p. 51.
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Foi o início para encontrar saídas e, com criatividade, dar um novo rumo com aquilo
que cada membro é capaz de produzir para sobreviver. Começaram a propagar a realização de
trabalhos manuais: bordados, crochês, tricôs, preparação de enxovais para recém-nascidos,
para casamentos. Além dos trabalhos de encomenda, abriram um laboratório de trabalhos
manuais para jovens que quisessem aprender todas essas prendas domésticas26. Irmã Eliana
dedicou-se ao cultivo de hortaliças e ao cuidado das galinhas, patos etc.
As Irmãs sobreviviam com a escola de trabalhos manuais, depois de três meses da
chegada. Em seguida, Irmã Grazietta ocupou-se com as crianças do Jardim da Infância “Santa
Teresinha”. Sem o domínio da língua e sem uma preparação pedagógica, entrou no cenário a
benfeitora e amiga Zilah Santiago. Irmã Grazietta organizava o material e Zilah se
encarregava da parte pedagógica, com atuação maior entre as crianças27.
Após o trabalho do dia, as Irmãs ocupavam-se com a pastoral.
Nas horas vagas, geralmente depois do jantar, dávamos catecismo em nossa
casa. Preparávamos para o casamento, casais já unidos há muito tempo;
alguns já velhos, com filhos. Na maioria das vezes, deveriam receber todos
os sacramentos, começando pelo batismo. Essa preparação a fazíamos a
pedido de alguns padres e das próprias pessoas a serem ajudadas. Eram
enviadas por eles à nossa casa28.
26 Ibid, p. 52. 27 Cf. Oliveira Melo, 40 anos de Brasil, p. 32. Nesse livro o autor teve o cuidado de relacionar os nomes dos
primeiros alunos do Jardim da Infância e da Escola Nossa Senhora do Carmo (p. 33). 28 Ibid, p. 54.
Foto 4. JARDIM DE INFÂNCIA “SANTA TERESINHA”
No quintal da Casa Episcopal. Momento de recreação das crianças.
Foto 5. O primeiro grupo de Missionárias com o bispo Dom Elizeu Van de Weijer.
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Noviciado
Com o Prot. 1214/50 p. 6, o bispo de Porto e S. Rufina, Cardeal Eugenio Tisserant,
atendendo ao pedido da Madre Geral, das Irmãs Terciárias Carmelitas Missionárias de Santa
Teresa do Menino Jesus, no dia 8 de agosto de 1950, concedia licença de abrir uma nova Casa
de Noviciado no Brasil, provisoriamente em Paracatu, de acordo com a norma do Can. 495 do
Código de Direito Canônico29.
A primeira vocacionada a ingressar na Congregação foi uma professora que frequentava
a casa das Irmãs para dar aulas de
português e praticar a conversação.
“Chamava-se Odília Dulce de
Oliveira. Tinha 35 anos de idade, era
professora há 18 anos na escola
primária do Estado. Os pais não
queriam absolutamente que se
tornasse freira. No entanto, depois de
um ano, Odília decidiu entrar.
Preparou os documentos necessários,
um pouco de enxoval e entrou30.
Como a candidata ingressou no
convento contrariando os familiares,
no dia da vestição do hábito nenhum
dos membros da família esteve
presente. Odília recebeu o nome da padroeira: Irmã Maria Terezinha do Menino Jesus.
Chegou o dia da vestição: a primeira noviça brasileira. Quantas esperanças,
quantos projetos para nossa missão. Foi uma grande festa! Depois de alguns
meses, outras três chegaram a ser noviças: Irmã Eugênia, Irmã Maria
Josefina e Irmã Maria do Carmo. Depois de alguns meses de noviciado, Irmã
Maria do Carmo ficou com muitas saudades da mãe e dos seus e voltou para
sua casa. Irmã Josefina não foi admitida à profissão. Ficou só Irmã Eugênia
Taveira31.
As Irmãs menos idosas sonhavam com o futuro muito promissor com as novas
agregadas. O Noviciado era uma porta aberta para a expansão da Congregação e, por isso,
sonhavam com a escola e o burburinho das crianças e com outras obras que pudessem
favorecer a vida do povo.
A um dado momento, com o Noviciado em andamento, a comunidade passou por uma
turbulência. Sem terem os pés ainda no chão, as Irmãs abriram os olhos para a dura realidade.
Tomaram consciência de que deveriam agora lutar por um pedaço de chão para assegurar um
29 Cf. Doc., in ASPSTL. 30 A aventura de entrar no convento sem a permissão do pai teve suas consequências. Se houver interesse no
relato pode-se procurar o Diário de Viagem e Fundação, nas bibliotecas de nossas casas. 31 Cf. Diário, p. 57.
Foto 6. Primeiro grupo de noviças brasileiras: Irmã Teresa (Odília), Irmã M. do Carmo (M.do Carmo) Ir. Josefina (Antônia Lobo) e Irmã Eugênia (Sebastiana)
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teto onde se abrigar, pois o espaço onde se encontravam era apenas cedido e poderia ser
requisitado pelo proprietário a qualquer momento. Da indignação, passaram a discutir o que
fazer. Com o aconselhamento do padre Atanásio Maatman32, constituiu-se uma equipe com
algumas senhoras, duas Irmãs e o padre. As outras Irmãs se envergonhavam de sair pedindo
ajuda ao povo. Irmã Terezinha, que era noviça paracatuense, disse: “Se me concedem
permissão para isso, porque sou uma noviça, eu vou sair de casa em casa e estou certa de que
o povo nos ajudará”33.
Padre Atanásio falou de modo persuasivo com a Superiora e depois com o bispo, e a
permissão foi dada. Depois dos afazeres matutinos, Irmã Virginia e a noviça Irmã Terezinha
saíam pelas ruas com duas filhas de Maria e o padre Atanásio. Logo, as duas Irmãs ficaram
sozinhas, percorrendo todas as casas do centro e dos bairros por cinco meses debaixo do sol e
da chuva e conseguiram completar a soma de 85 mil cruzeiros. Padre Atanásio aconselhou-as
a aplicar imediatamente o dinheiro, comprando uma casa. Visitaram algumas propriedades e
decidiram por uma delas, mesmo a contragosto da Superiora que, ao vê-la, sentia náusea e dor
de cabeça34.
A casa tinha treze amplos cômodos e um vasto porão em toda sua extensão. E seu
estado físico não era dos mais precários. Bastavam pequenas reformas. A área do terreno era
de 5.660 m².
32 Frei Atanásio Maatman (Hendricus Gerardus Maria). Nasceu em Raalte (Holanda) em 14-05-1913. Recebeu o
hábito em 15-01-1930. Professou em 25-01-1931; Ordenou-se sacerdote no dia 21-05-1936. Frei Atanásio
começando seu ministério no seminário menor em Itu, organizador da Paróquia Nossa Senhora do Carmo em
Belo Horizonte. Eremita na Áustria, pregador em Portugal e missionário incansável no Vale do Rio Doce, em
1950 esteve como Prior dos Religiosos em Paracatu. Faleceu em 1992. 33 Ibid p. 58. 34 Uma descrição detalhada de todas as aquisições das Irmãs com os respectivos valores, proprietários, números
de registro, formas de pagamento, dificuldades encontradas nas negociações, formas de permutas, etc., encontra-
se no livro de Oliveira Melo, 40 anos de Brasil, páginas 34 a 38.
12
Foto n. 7. Tela de Walda Nascentes de Queiroz Melo Largo de Junqueira que leva à rua do Córrego (Rua Rio Grande do Sul), onde se vê ao fundo o casarão adquirido pelas Irmãs Carmelitas Missionárias, em 13 de dezembro de 1951.
Escola Nossa Senhora do Carmo e Orfanato São José
No Diário de Irmã Virginia, encontramos a imediata ação para a criação da Escola
Nossa Senhora do Carmo no casarão apenas adquirido.
Foto 8. Igreja Matriz de Santo Antonio, elevada a Catedral a partir de 1929. Ao lado da Casa episcopal, à rua Sacramento.
Foto n. 9. Fachada da primeira casa que pertenceu à Congregação, `a Rua do Córrego (Rua Rio Grande do Sul).
13
Fizemos pedidos à Secretaria da Educação para que reconhecesse nossa
escola como escola pública, e que a professora Odília de Oliveira
continuasse sendo remunerada pelo governo. Havendo obtido tudo isso, e
sendo período de matrícula para o ano novo escolar, abrimos as inscrições
para a escola maternal e para o primário. Vieram tantos alunos, que não
sabíamos onde colocá-los; por isso, foi necessário ter dois turnos para cada
turma, manhã e tarde35.
Foto 10. Frente: Irmã Inês Giunta com as quatro primeiras professoras da Escola “Nossa Senhora do Carmo”: Amélia Carneiro, Cléa Botelho, Maria Isabel de Almeida e Marta Costa Ulhôa. Atrás: noviça Irmã Eugênia Taveira, Irmã Virginia Murtinu, Irmã Eliana Spadola, Irmã Teresa de Oliveira e Irmã Grazietta Macauda.
No dia 31 de janeiro de 1952, fundaram o Orfanato São José36 para acolher crianças em
situação de vulnerabilidade e totalmente órfãs. Abrigavam já 25 crianças. A instalação da
Escola visava ao encaminhamento dessas crianças para fazerem o maternal e o primário. A
continuidade do curso era assegurada nas Escolas do município tanto para as órfãs, como para
as internas.
O dia 2 de fevereiro de 1952 marca a data da ação educacional propriamente dita das
Carmelitas Missionárias no Brasil. As Irmãs Virginia e Terezinha assumiram duas turmas,
uma pela manhã e outra à tarde. Faziam o vai e vem para as orações e para as refeições junto
com as outras Irmãs: Grazietta, Inês e Eliana, e retornavam para dar aulas e dormir na nova
casa.
35 Ibid p. 62. 36 Cf. Estatutos Orfanato São José, cópia in ASPSTL.
14
Na primeira reunião oficial do corpo docente da Escola “Nossa Senhora do Carmo”,
realizada em 27 de agosto de 1952, reunia as professoras Amélia Carneiro, Cléa Botelho,
Maria Isabel de Almeida e Silva, Marta Costa Ulhoa, Irmã Virginia Murtinu, Irmã Eugênia
Taveira37 e Irmã Teresa do Menino Jesus, e contou com a presença de padre Atanásio
Maatman.
Foto 11. Pátio interno do Casarão onde se realizavam as recreações das crianças órfãs e das crianças que frequentavam a Escola Nossa Senhora do Carmo que tinha suas salas de aula no porão e nas salas contíguas ao prédio.
Foto 12. Primeiro grupo de crianças e adolescentes Foto 13. Crianças do Orfanato São José (Ed. S. Inês) do Orfanato São José – arquivo 1952.
O dia 8 de junho de 1952 – domingo da Santíssima Trindade é a data da transferência
definitiva de todas as Irmãs e pensionistas à nova casa.
Estávamos cansadas demais de fazer essa vida de baixo para cima,
decidimos ficar todas juntas em nossa própria casa. Viera também a
37 Sebastiana Vantejulia Taveira, era a sua identidade, recebendo o nome de Irmã Eugenia com a vesticção religiosa. Ingressou no convento em 1951, fazendo a sua profissão temporária em agosto de 1952. Ocupou cargos de Ecônoma e de Superiora local. Foi professora de arte culinária na Escola Doméstica. Ministrou aulas de ensino religioso e de trabalhos manuais no Ginásio Dom Elizeu. Faleceu no dia 28 de março de 1988.
15
Superiora, apesar de ter ainda aquela impressão de dor de cabeça. Na noite
da festa da Santíssima Trindade, enquanto no céu começavam a cintilar as
primeiras estrelas e as ruas já estavam escuras e desertas, nós, com as nossas
internas, e cada uma com a sua bagagem, algumas com a lanterna acesa na
mão, fomos para a nossa residência, como para uma festa38.
As dificuldades foram aparecendo e, na sua medida, também foram encontradas
soluções com novas aquisições de terrenos e construção de ambientes para abrigar maior
número de alunos e de jovens no internato. Festas foram organizadas para arrecadação de
fundos que possibilitaram a construção de um amplo dormitório que denominaram
Dormitório São José com capacidade para 50 leitos e com serviço hidráulico e elétrico, mais a
aquisição de um terreno contíguo.
Por ocasião da ida do Governador Juscelino Kubistchek de Oliveira a Paracatu, em 21
de junho de 1953, a Escola Nossa Senhora do Carmo recebeu sua visita, acompanhado pelo
Secretário de Estado da Educação Odilon Beherens, pelo Deputado Cândido Ulhoa, pelo
Bispo Dom Elizeu van de Weijer, pelo Prefeito Afrânio Salustiano Pereira, pelo Vigário Frei
Brocardo Stokof, pelo médico dr. Adelmar da Silva Neiva e demais autoridades estaduais e
municipais.
Foto 14. Visita do Governador Juscelino Kubistchek Foto 15. Dom Elizeu Van de Weijer saúda o Governador.
Oliveira Melo salientou o trabalho realizado pela Odília.
Foi relevante o trabalho de Odília Dulce de Oliveira. Ela muito contribuiu na
organização das escolas e na sua continuidade, não só pela titulação de que
era detentora, mas também por sua experiência no magistério e capacidade
de trabalho e organização39.
A abrangência da presença e missão das Irmãs Carmelitas Missionárias em Paracatu
nesse período vem descrita no Diário:
Há alguns anos melhoramos bem a nossa situação. A escola funciona
regularmente. As professoras são pagas por nós e lecionam com boa
vontade. Os alunos são 400, sem contar a escola maternal40. Temos 37
38 Ibid, p. 64. 39 Ibid, p. 42. 40 Jardim de Infância ou Escola Infantil.
16
colegiais41 e 25 órfãs. As colegiais pagam e as órfãs estudam e moram aqui
por nossa conta. Não recebemos colaboração nem da sociedade, nem de seus
familiares. Fazemo-las estudar e, se desejam, até se diplomarem. Em nossa
casa cursam o primário, depois continuam estudando fora. Quem não quiser
estudar, frequenta o primário e depois aprende a profissão que quiser para
ser costureira, cozinheira, doceira, etc.42
Foto 16 e 17. A Escola Nossa Senhora do Carmo reunia muitos alunos pela dinamicidade das Irmãs e das eficientes professoras. Promovia muitos momentos culturais e religiosos.
Foto 18 e 19. Grupos de Catequizandos que culminavam o percurso na celebração da Primeira Comunhão.
Neste cenário de lutas, resistências, angústias e vitórias das Irmãs, paira a presença
decisiva de verdadeiros Anjos na terra que ofereceram apoio e sustentação sem que todos se
revelassem explicitamente. Bem lembradas pelo historiador Oliveira de Melo algumas
famílias e pessoas que acompanharam de perto a vida das Irmãs Carmelitas Missionárias.
Um baluarte, desde essa época e durante boas dezenas de anos, foi Luiza
Rocha. Pessoa sempre pronta a ajudar, não apenas solicitando auxílio dos
41 Pensionistas ou jovens e crianças internas sob a tutela das Irmãs, somente para estudar. 42 Diário, p. 66. Incluímos aqui o depoimento de EVANGELINA GOMES VIEIRA, órfã de pai, que esteve no
Orfanato São José, de 1953 a 1958. Ela se recorda que nesse período já eram 47 meninas assistidas pelo
Orfanato. Atualmente reside em Unaí – MG e é aposentada. Fez o curso primário e o 5º ano, ou admissão ao
Ginásio, como se dizia, na época. Muito inteligente, conseguiu assimilar bem o que fora ensinado, mas não pôde
continuar os estudos porque deveria assistir sua mãe enferma. Aposentou-se alfabetizando as crianças,
adolescentes e adultos e teve o reconhecimento do Município pela dedicação e eficiência na missão de
educadora. Continuou muito religiosa e dedicou-se à Catequese não somente de crianças, mas também de
adultos, envolvendo pais e filhos. Recorda-se com gratidão desse tempo que significou a possibilidade de doar
seu tempo na evangelização de crianças e adultos.
17
outros, mas com seus próprios recursos financeiros. Jamais trombeteou para
conhecimento de terceiros. Exercitava a autêntica caridade cristã. E isto sem
se falar na orientação comercial e na total assistência que lhes dava, tanto na
parte contábil como na financeira. Ao lado de Luiza Rocha, as Irmãs
encontraram, também, o auxílio da Família de Dr. Joaquim Brochado,
através de Dona Helena, Marta e Carmem; Stela Lepesquer, Maria do Carmo
Neiva, Dona Maria Botelho e tantas pessoas mais43.
No mês de outubro de 1955, Irmã Virginia Murtinu foi solicitada a preparar seus poucos
pertences, a fim de dar início à viagem de retorno à Itália juntamente com a Superiora Irmã
Inês Giunta e Irmã Terezinha de Oliveira44.
Foto 20. Luiza Rocha e Antonio Oliveira Melo Foto 21. Luiza Rocha em sua residência com os familiares
Segundo grupo de missionárias para Paracatu
Irmã Inês, Superiora e Delegada da Madre Geral, e Irmã Terezinha que acompanharam
Irmã Virginia de volta para a Itália, retornam ao Brasil no dia 20 de novembro de 1955,
acompanhadas por mais cinco Irmãs, entre italianas e maltesas: Irmã Scolástica Paolino45,
Irmã Emmanuela Gamba, Irmã Paula Brincat46, Irmã Elena Bezzina e Irmã Carmem
Bonnici47.
43 Oliveira Melo, 40 anos de Brasil, p. 31. 44 Cf. Diário, p. 67. 45 Vincenza Palma Paolino era o seu nome, recebendo o nome de Irmã Scolastica no dia de sua vestição religiosa. Fez parte do 2º grupo de missionárias vindas da Itália, no final de 1955. De 1959 a 1969 permaneceu em Graciosa e Paranavai para a fundação das duas Casas. Em Graciosa construiu o Educandário Nossa Senhora do Carmo e abriu a Escola Santa Teresinha. Em 1965 fundou a obra em Paranavaí, construindo a Escola Stella Maris e fundando o Educandário São José. Trabalhou muito pela expansão da Província encaminhando muitas candidatas à vida religiosa ao Noviciado de Uberaba. Em 1973 permaneceu em Paulo de Faria realizando atividades pastorais. Em 1979 retornou para Itália por motivos de saúde. Retornou à casa do Pai no dia 28 de abril de 1988. 46 Maria Stella Brincat era a sua identidade, recebendo o nome de Paula no dia da vestiação religiosa. Ingressou no convento em 1953, fazendo a sua profissão temporária em 16 de julho de 1955. Juniorista ainda partiu para o Brasil, em novembro de 1955. Realizou trabalhos domésticos nos primeiros tempos e a partir de 1965 passou a integrar a comunidade do hospital, como atendente, em Paracatu. Em 1976 participa da fundação da
18
Fotos 22 e 23. Do Porto de Nápoles, acompanhadas pela Vigária Geral Irmã Grazietta Giunta, juntamente com Irmã Inês e
Irmã Terezinha, partem as Irmãs do 2º grupo de missionárias: Irmã Elena, Irmã Carmem, Irmã Emanuela, Irmã Scolástica e
Irmã Paula.
Irmã Carmem48 relatou a viagem de quinze dias no navio. Tiveram a sorte de contar
com a gentileza do Capelão que conseguiu passá-las da terceira classe para a primeira, porque
havia muitos lugares. A viagem transcorreu com serenidade, apesar de sentirem muitas
saudades.
No Rio de Janeiro foram hospedadas pelas Irmãs Vicentinas que as acolheram com
muita bondade e gentileza. Prosseguiram a viagem e chegaram a Paracatu no dia 5 de
dezembro, sendo acolhidas por Irmã Eugênia, Irmã Imaculada, Irmã Eliana e Irmã Grazietta.
Nos primeiros anos, inseriram-se nos trabalhos realizados pelas outras Irmãs, como
auxiliares.
No Hospital, junto aos enfermos
Em 1955, Irmã Grazietta Macauda começou a prestar serviços na Santa Casa de
Misericórdia. Nesse período, juntamente com Irmã Grazietta, estavam também Irmã Eugênia
Taveira e Irmã Elena Bezzina. Ao mesmo tempo, Irmã Lourença e Irmã Elena frequentavam o
Curso de Enfermagem. Todas procuravam realizar o trabalho com dedicação e amor,
sobretudo porque era o único hospital da Região. Segundo o relato de Irmã Carmem, as Irmãs
faziam um bem imenso no cuidado dos doentes, testemunhando a caridade de Cristo. No seu
relato, ela diz:
comunidade de Frutal como chefe da Santa Casa de Misericórdia. Em 1984 retorna para Itália para integrar a comunidade de fundação de uma comunidade em Tanzânia, na África. De volta da missão encontra-se na comunidade da Malta, sua terra natal. 47 Mary Rose Bonnici, conhecida Irmã Carmem. Emitiu o votos temporários em 1954 e em novembro de 1955 integrou o segundo grupo de missionárias. Construiu edifício e fundou o Colégio Dom Elizeu, em Paracatu, oferecendo o ensino médio e o Curso de Magistério. Em 21 de junho de 1974 retorna para Itália e de lá para Malta, sua terra natal. 48 No seu depoimento, Irmã Carmem registrou a falta de preparação de todas elas e a consequente dificuldade de
adaptação e acolhida da cultura diversa, bem como a dificuldade em se comunicar (cf. Doc. In ASPSTL).
19
Uma vez, Dr. Romualdo, que era um bom médico e muito caridoso, chamou
Irmã Elena e perguntou que medicamento ela estava usando nos doentes
porque estava percebendo que eles não se revoltavam com o fastio do mal.
Ao que ela respondeu: ‘procuro aliviá-los com atenção e ternura e, às vezes,
ofereço água com açúcar’. O médico aprovou e recomendou que continuasse
agindo assim49.
O ano de 1959 foi marcado por alguns acontecimentos. Na véspera da festa da Padroeira
Nossa Senhora do Carmo, veio a falecer a juniorista Irmã Imaculada Lacerda, após um longo
período de sofrimento.
Primeira Visita da Superiora Geral ao Brasil – setembro de 1959
Após 11 anos da fundação da missão das Carmelitas, as Irmãs receberam a visita da
Superiora Geral Irmã Grazietta Giunta e sua secretária, Irmã Filomena Cuccu.
O jornal local publicou a chegada das Irmãs em Paracatu, no dia 10 de setembro.
Registrou a satisfação pelo trabalho realizado pelas Irmãs em prol das crianças órfãs, pelo
ensino ministrado à juventude paracatuense e desvelo no Hospital Dr. Adelmar da Silva
Neiva50.
As impressões das Irmãs também foram registradas e publicadas no jornal local. Foram
acolhidas com muitos gestos de carinho por toda a população. Após elogiar o povo brasileiro,
povo de alma inteligente, generosa e boa, a Superiora Geral sintetizou tudo, dizendo:
A mais bela impressão que me deixa recordação indelével da minha
primeira visita ao Brasil é a bondade de coração do povo
paracatuense. Impressão esta produzida na minha alma, não pela
aproximação dos habitantes da cidade, mas pela realidade da obra que
o próprio povo, com sua generosidade e dedicação, auxilia as
Carmelitas Missionárias a desenvolver neste pedaço escondido do
Brasil. A Escola Nossa Senhora do Carmo e o Orfanato São José são
duas realidades viventes em Paracatu. Ali, na humilde Rua Rio
Grande do Sul, pobres e ricos recebem instrução, educação religiosa e
palavras de conforto no seu infortúnio51.
49 Doc. In ASPSTL. 50 Cf. F. DOM – 27 de setembro de 1959 – nº 93 – p.4. 51 F.DOM – 11 outubro de 1959 – nº 95 – p. 2.
20
Foto 24. Com o encerramento do Pensionato, o Dormitório São José foi reformado para ser a Capela das Irmãs Carmelitas aberta ao público. As duas colunas e a pequena torre com o sino constituiu a réplica da Capela das Irmãs Carmelitas em Roma, construída pelo Fundador Padre Lourenço van den Eerenbeemt.
Em 16 de setembro de 1959, com a presença da Superiora Geral, foi lançada a pedra
fundamental para a construção dos prédios do Colégio e do Orfanato. A solenidade foi
presidida pelo padre Ricardo Caspers, com a presença de autoridades religiosas, civis e
militares. O projeto, porém, evaporou.
O ano de 1960 sinaliza também alguns acontecimentos. A Escola Nossa Senhora do
Carmo entrou em processo de encerramento de suas atividades, mas o remanejamento de
algumas pessoas fez voltar ao cenário a obra da educação, não o ensino fundamental, mas
apostando na oferta do ensino médio. E assim começa uma nova etapa, como nos relata Irmã
Carmem:
A obra educativa com a escola católica era uma necessidade no lugar como
campo de evangelização. Ficar sem esta obra parecia esvaziar a missão das
Irmãs. Não podia conformar-me vendo a falta que faz uma escola naquela
comunidade e disse: por que não oferecer uma coisa diferente em vez de
reabrir o curso elementar? Criamos o ensino médio e, assim, falando com
Dona Carmem e Prof. Petrônio, eles se dispuseram a nos ajudar52.
A etapa foi marcada com o lançamento da pedra fundamental no dia 16 de julho de
1962. Presidiu a cerimônia da bênção frei Ricardo Caspers, OCarm, estando presentes o bispo
Prelado Dom Elizeu Van de Weijer e seus confrades: frei Miguel e frei Bruno. Marcaram
presença o senhor prefeito Wladimir da Silva Neiva e os amigos e benfeitores da
Congregação: Casimiro de Freitas, Juiz de Paz, Alberto Rocha, Valter Silva Neiva, Luiza
52 Doc. In ASPSTL.
21
Rocha, Joaquim Machado, Petrônio Costa, Lucas Botelho, Sylvio Adjuto Botelho, Carmem
Brochado Costa, Álvaro Carneiro de Ulhôa, Zélia Mendonça Lourenço, Jordão Campos
Lepesqueur, Helena Botelho Brochado, Maria Botelho Vitor Rodrigues, Nair Santos Neiva,
Maria Adjuto Botelho, Maria José Adjuto Botelho, Giselda Botelho Carvalho, Lauro Taveira
Santiago, Antonio Taveira, Paulo Taveira. Entre as Irmãs encontravam-se: Irmã Ângela
Godoi, Irmã Grazietta Macauda, Irmã Carmem Bonnici, Irmã Maria Grazia Cavallo, Irmã
Madalena Tada, Irmã Venância Barriello e Irmã Eliana Spadola. Começaram imediatamente a
obra da construção do prédio do Colégio sem o suficiente que assegurasse sua continuidade.
No entanto, com a cara e a coragem, iniciaram, confiando na Providência Divina. Realizaram
diversas campanhas, como também a coleta através do “Livro de Ouro”.
Ao lado da edificação do prédio para o funcionamento do Ensino Médio, em março de
1962 criaram-se as Escolas Combinadas anexas ao Orfanato São José que receberam os
alunos da Escola Nossa Senhora do Carmo. No livro de registro de atas das Escolas
Combinadas Anexas ao Orfanato São José de Paracatu, registra-se à pagina 2 a ata da
Instalação da Escola, no dia 4 de abril de 196253. Assumiu a direção das Escolas Combinadas
a Sra. Maria Isabel Taveira Neiva. A obra teve seu funcionamento até o mês de novembro de
1963, com o encaminhamento dos alunos ao Grupo Escolar Temístocles Rocha.
Em todas as decisões, tramitações de aquisições, compras, permutas e contratos
encontrou-se a figura imprescindível da Srta. Luiza Rocha, que foi o sustentáculo da
Congregação no dizer de Oliveira Melo.
...como cabeça pensante para a fixação das Irmãs através de obras
duradouras em terras paracatuenses. Planejava todos os negócios, realizava-
os, fazia a escrituração necessária, regularizando toda a documentação da
propriedade da Congregação e ainda mantinha toda a correspondência em
dia. Sem falar do serviço contábil. Não ficava apenas nisso. De 1952 a 1971,
durante 19 anos, portanto, emprestava dinheiro sem juros, por tempo
indeterminado, a fim de superarem os problemas financeiros e poderem
continuar suas obras54.
Colégio Dom Elizeu van de Weijer
O dia 21 de março de 1966, com a instalação do Curso Ginasial, reunindo autoridades
religiosas, civis e militares, deu-se por criado o Colégio Dom Elizeu Van de Weijer55. Ainda
com o prédio em construção deram início às primeiras classes do ensino médio, com o
funcionamento de duas salas. Durante a sessão solene, tomou posse da direção do Colégio a
Sra. Carmem Brochado Costa;na Secretaria, Irmã Carmem Bonnici e todos os professores que
compunham o quadro de docentes do referido Colégio: Português: Teresinha Medeiros Pena
Botelho; Francês: Dr. José Raimundo Rodrigues da Cunha, Matemática: Maria Aparecida
Gonçalves, História do Brasil: Márcia Macedo Meireles, Geografia Geral: Nair da Silva
53 Cf. Cópia do livro de registro das Escolas Combinadas anexas ao Orfanato São José, in ASPSTL. 54 40 anos de Brasil, p. 38. 55 A leitura do pronunciamento feito pela Diretora a Profa. Carmem Brochado Costa, como também o registro de
Instalação feito em Ata, lavrada pela Secretária do Ginásio, Irmã Carmem Bonnici, podem ser encontrados na
íntegra, no livro “40 anos de Brasil”, p. 44 a 46.
22
Neiva, Iniciação às Ciências: Ana Rocha Faria, Desenho: Petrônio Costa, Inglês: Walderez
Gonçalves Simplício. A área destinada à construção do Colégio era ao longo da Rua Rio
Grande do Sul, em continuidade ao Casarão das Irmãs, onde se encontravam as casas
residenciais de João Botelho, dos filhos de Paulo de Abreu, de Andreza Gonçalves de Souza e
de Eleutéria Coelho Guimarães.
Irmã Carmem Bonnici que, protagonizando o andamento das obras e sua oficialização
com a obtenção do reconhecimento da Secretaria da Educação, testemunhou as lutas para
superar todas as dificuldades.
Encontramos muitas dificuldades, impedindo-nos de levar adiante esta
Escola que apenas começava. Mas com a nossa resistência, superamos todas
as dificuldades. Assim, progressivamente, ampliamos as classes chegando a
ter 400 alunos. Recebíamos também os alunos carentes que não podiam
assumir a mensalidade. Foram inúmeros os alunos que conseguiram
diplomar-se nesta Escola e encontrar trabalho para o próprio sustento56.
56 Doc. In ASPSTL.
Foto 25.
Colégio Dom Elizeu Van
de Weijer, Rua Rio Grande
do Sul, 444. Paracatu –
MG.
Ao lado, Dormitório São
José, reformado para servir
de Capela das Irmãs,
demolido em 1976,
juntamente com o Casarão,
para a edificação de novo
projeto.
23
Foto 26. Irmã Carmem Bonnici ao centro com a Prof. Márcia, Carmem Brochado, Petrônio Costa, Teresinha
Botelho; Ariadna de Pinho Ribeiro.
Foto 27. Alunos do Colégio no momento do intervalo.
No dia 10 de março de 1969, deu-se a instalação do Curso Normal, de acordo com a
Port. 69/69 do Órgão Oficial, na presença das autoridades religiosas, civis e militares.
24
Com o retorno de Irmã Carmem Bonnici57 à Itália e, posteriormente, a Malta, assumiu a
direção do Colégio Irmã Madalena Tada, a partir do dia 30 de janeiro de 1975.
Com as reformas de ensino efetuadas no país, no dia 22 de março de 1977, de acordo
com a Portaria 147/77 da Secretaria da Educação de Minas Gerais, dava-se a instalação do
Curso de Assistente de Administração58.
A Direção do Colégio não só se preocupava com as aulas ministradas pelos professores,
mas procurava oferecer ambientes e plataformas que favoreciam o aprendizado dos alunos.
Em 21 de março de 1979, registrando o 13º aniversário de fundação do Colégio, ocorria a
inauguração do Laboratório de Química e Física, com a presença dos alunos de todos os
turnos e representação de todos os estabelecimentos de ensino da cidade.
A partir de dezembro de 1980, assumiu a direção do Colégio Dom Elizeu Irmã Cecília
Tada. Colocando em ato a autorização dada pela Portaria 55/76, de 8 de fevereiro de 1977, da
Secretaria da Educação, a nova Diretora procedeu ao funcionamento das classes do Pré-
Escolar e das quatro primeiras séries do primeiro grau, em 16 de fevereiro de 1981.
Visando favorecer a educação integral do aluno, as Irmãs Carmelitas passaram a
construir uma Quadra Poliesportiva, onde seus alunos pudessem praticar diversas
modalidades de esporte. A inauguração foi no dia 19 de novembro de 1981, às 19 horas, com
a bênção do Padre Carmelo Luisi. Na mesma oportunidade, foram inauguradas as novas
dependências da Escola Infantil. Foram apresentados diversos números artísticos, seguidos de
jogos de handebol feminino e futebol de salão masculino.
Em 8 de novembro de 1982, foi inaugurado o Laboratório de Biologia do Colégio, com
a presença de autoridades religiosas, civis, militares, envolvendo todos os alunos e
professores. O evento contou com a presença de frei Pedro Caxito, Irmã Madalena Tada,
Superiora regional da Congregação, Irmã Inês Giunta, fundadora da missão das Carmelitas
em Paracatu, Irmã Paula Brincat e outras Irmãs representantes das casas de Uberaba, Frutal e
Sobradinho. O Ato contou também com a presença de representação da 16ª DRE: Ana Rocha
Faria, Bernadete Caetano de Souza, Deolinda Mundim; Diretores de estabelecimento de
Ensino: Cacilda Caetano Souza, Bernadete Ávila Furtado, Jussara Maria Kaiano, Bernadete
Caetano de Souza, Ivone Machado André, Dulce Caldeira na pessoa de sua representante
Raquel Botelho Taveira, Naira Faria, Inspetora de Ensino e Professores da Escola: Antonio
Lemos do Prado Junior, Nilza Alves Costa, Delma Dalva Silva Santos, Maria Zilma Teixeira
de Oliveira, Cibele Santos Teixeira, Maria Ângela Joaquim de Morais, Márcia Macedo
Meireles, Tânia Mara Ferreira Mariano, além de convidados especiais e os alunos.
Ainda na gestão de Irmã Cecília Tada deu-se o início do funcionamento do Curso de
Estudos Adicionais em Ciências, Comunicação e Educação Física no dia 28 de fevereiro de
1983, autorizados através do parecer 742/82 de 22 de dezembro de 1982 do Conselho
Estadual de Educação e da Portaria 353/84, de 16 de julho de 1984, da Secretaria do Estado
de Educação de Minas Gerais.
57 Irmã Carmem Bonnici deixa o Brasil em 21 de junho de 1974. 58 Cf. Cópia Doc. In ASPSTL.
25
Em julho de 1984 assumiu a direção do Colégio Irmã Bernadete e Silva que
permaneceu por um ano, sendo substituída por Irmã Marluce Ferreira Borges.
Sob a direção de Irmã Marluce Borges, a partir de 1985, deu-se início ao funcionamento
do Curso de Contabilidade, no dia 10 de fevereiro de 1986.
Passaram pelo cargo de diretoras do Colégio Dom Elizeu: Irmã Alice Rodrigues Costa,
Irmã Celina Dalazoana, Irmã Vanilda Silva Rocha e Sra Vania Gonçalves de Assis.
A partir de 1999, assumiu a direção do Colégio Dom Elizeu, Irmã Irene Lopes. Durante
a sua gestão foram introduzidas várias parcerias com sistemas de ensino com a Anglo e
realizou várias obras de melhorias nos ambientes e estruturas da Quadra Poliesportiva e da
Escola Infantil.
Em 5 de abril de 2003, foi feita a bênção e inauguração da cobertura da quadra
poliesportiva.
Fotos nn. 28 e 29. Arquivo 2003. Inauguração da cobertura da quadra e bênção. Padre Benedito, hoje, bispo de
Presidente Prudente, Dom Benedito Gonçalves dos Santos, Irmã Irene Lopes. Irmã Luiza Silva, Irmã Zilda
Rocha e demais professores e alunos.
26
Foto n. 30. Arquivo 2003. Apresentações feitas pelos alunos do Colégio durante a inauguração.
Em 2006, o Colégio Dom Elizeu, sob a direção de Irmã Irene Lopes, celebrou
solenemente os 40 anos educando para a vida, com a publicação da edição especial da Revista
do Colégio.
Em 28 de março de 2008, foi inaugurada a Biblioteca “Professor Antônio Lemos do
Prado Júnior” com novo acervo de livros e o Salão de Convenções dedicado a Irmã Madalena
Tada. Com o funcionamento da Escola Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, o
Colégio abrigava mais de 800 alunos, ocupando ambientes cuidadosamente preparados em
uma área total de mais de 12.600m².59
Em 2015, sob a direção da Irmã Simony Angelino, o Colégio oferece Educação Infantil
com 237 alunos distribuídos em 14 turmas, o Ensino Fundamental com 579 alunos
distribuídos em 26 turmas e o Ensino Médio com 152 alunos distribuídos em 06 turmas.
Quase mil alunos passam pelo processo de crescimento, formação e maturação, preparando-se
para a vida.
O Colégio tem como Patrono o primeiro bispo Dom Elizeu Van de Weijer. A partir de
1962, a Igreja Particular de Paracatu passou para diocese e por ela, vários bispos assumira a
cátedra. A partir de 2012, é bispo da diocese de Paracatu, dom Jorge Alvez Bezerra60, SSS.
59 Cf. Revista 40 anos Educando para a Vida, 1966-2006. 60 Dom Jorge Alves Bezerra - SSS, nasceu em São João de Meriti – RJ em 23 de abril de 1955. Filho de
Ezequiel Alves Bezerra e Elzira Alves Bezerra. foi operário da construção civil, militar, comerciário e auxiliar de
escritório, mas sempre participou da vida da Igreja, tendo sido acólito, congregado mariano e adorador noturno.
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São suas as palavras de estímulo e de reconhecimento pela ação evangelizadora das Irmãs,
que passa pela missão educacional das crianças, jovens e adultos:
A presença das irmãs na diocese de Paracatu significa a encarnação de um
carisma enraizado no mistério do amor de Deus e comprometido com a
missão.
Os serviços prestados nas áreas da educação e da ação pastoral muito
contribuem para testemunhar o evangelho na comunidade eclesial de
Paracatu61.
Foto n. 31. Arquivo 2015. Crianças da Educação Infantil com os Educadores.
Foto n. 32. Arquivo 2015. Crianças Ensino Fundamental I.
Orfanato São José - Educandário Santa Inês
No Livro E nº 2 do Registro de Sociedades Civis, às fls. n.º 106 e 107, sob o número de
ordem 48, consta o registro dos Estatutos do Orfanato São José, fundado em 31 de janeiro de
Ingressou no pré-noviciado sacramentino em 1979. Fez sua profissão religiosa, Congregação do Santíssimo
Sacramento, no dia 25/01/1982. Ordenado Sacerdote no dia 10/08/1985 em São Bernardo do Campo - SP. Foi
nomeado bispo da diocese de Jardim, pelo papa Bento XVI, no dia 21/05/2008 e ordenado no dia 10/08/2008,
Rio de Janeiro - RJ. Tomou posse na diocese de Jardim no dia 06/09/2008 onde atual como bispo diocesano até a
data de hoje 07 de novembro de 2012, quando então foi nomeado, pelo Papa Bento XVI, como o novo bispo
diocesano de Paracatu. Dom Jorge Alves – SSS é o 4º bispo diocesano de Paracatu. Especializou-se em Teologia
Moral na Academia Alfonsianum em Roma. Fez o curso de Formador - Escola de Formadores de Florianópolis -
SC. Escritor do livro “O Apóstolo da Eucaristia - São Pedro Julião Eymard”. Nomeado bispo de Paracatu no dia
07 de novembro de 2012. O Seu lema Totus Dei nos inspira o amor total a Deus e a convicção de uma
caminhada frente a Este Deus. Seu carisma Eucarístico nos mostra a direção a ser tomado, ser um só povo, e um
só mistério Eucarístico. 61 Mensagem de Dom Jorge Alves Bezerra, bispo de Paracatu. Anexo n. 9.
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1952, pelas Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus, na Rua Rio
Grande do Sul, nº 444. Foi uma formalização do ato, pois as Irmãs já abrigavam na época 25
crianças em regime de internato. A partir de 31 de dezembro de 1976, modificava-se
oficialmente a denominação sem mudar seu conteúdo, passando-se para Educandário Santa
Inês, em homenagem a sua fundadora: Irmã Inês Giunta. Remetemos às informações
pormenorizadas dadas pelo historiador Oliveira Melo, sobre o “Livro de Ouro” que registram
os nomes de muitos paracatuenses que colaboraram com a Obra Assistencial das Irmãs62.
O ano de 1976 foi o ano da demolição da primeira residência das Irmãs Carmelitas e
onde funcionou a Escola Nossa Senhora do Carmo, que abrigava mais de 60 órfãs. Ocupando
a área livre, sob a gestão de Irmã Madalena Tada como diretora do Educandário, deu-se início
à construção definitiva para a residência das Irmãs63 e das crianças do Educandário Santa
Inês. Foi construída a área residencial para as crianças do Educandário e residência das Irmãs
com dois pavimentos e uma Capela ampla aberta para o público, num total de 1.301,70m².
Foto 33 -Depois da demolição do Casarão – Capela. Foto 34 – Capela e Residências das Irmãs e das
crianças e adolescentes órfãs. Área livre para a construção da residência do Educandário.
Foto 35 - Pátio interno da residência das Irmãs e das crianças e Foto 36- Do lado da Capela onde foi construída a área de adolescentes do Educandário recreação e a atual residência das Irmãs.
Para complementar o orçamento para a manutenção do Educandário, a partir de 1977,
celebrou-se o convênio com a FEBEM, passando a receber crianças do CERT de Belo
Horizonte. A inadaptação dessas crianças e adolescentes transferidas de Belo Horizonte criou
62 Cf. 40 anos de Brasil, p. 36-38. 63 Atualmente funciona a Escola Infantil do Colégio Dom Elizeu.
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não poucos problemas à Instituição. A partir de 1982, procurou-se um acordo com a FEBEM
para receber crianças somente de Paracatu e região.
As crianças assistidas nesse período gozaram da atenção e cuidados dispensados por
algumas entidades do exterior, principalmente da Missão Carmelita dos Estados Unidos, na
pessoa de Padre Mário. Tomado pela compaixão, quis proporcionar um momento de alegria,
oferecendo um passeio para conhecer Brasília e realizar compras no shopping. Em um ônibus
fretado, conheceram a cidade, entraram em restaurante pela primeira vez e percorreram as
lojas do shopping para escolher o presente de Natal. E, assim, as crianças tiveram a alegria de,
pela primeira vez, realizar uma compra a partir da própria escolha e decisão.
Em dezembro de 1980, foi diretora do Educandário Irmã Cecília Tada, que procurou
ampliar o prédio a fim de organizar algumas salas ambientes. Buscando uma área coberta para
a recreação das crianças e adolescentes do Educandário e a realização de atividades múltiplas,
destinou-se a área térrea para essa finalidade. Foi construído o pavimento superior para a
residência das Irmãs. O projeto foi de Antonino Camilo de Andrade Filho, seguido pelo
mestre de obras Sr. Ercílio Ferreira de Araújo, que havia cuidado também da obra da
construção da Capela. Esses prédios levantados sob sua orientação levam a marca da
competência, do zelo e do desprendimento em oferecer o melhor de si, de seus conhecimentos
técnicos e com pessoal sempre mais eficiente para a realização do trabalho. Toda a área
construída somou 718,74m.
Foto 37 e 38. As Irmãs e as crianças visitaram
Brasília. Foram à Catedral, divertiram-se na
piscina, saborearam um churrasco e
percorreram o Shopping para a compra de
presentes.
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Foto n. 39. Arquivo 1982. Na Catedral, Dom José Cardoso preside a Celebração Eucarística
em ação de graças pelo 30º aniversário do Educandário Santa Inês.
Foto 40 e 41. Comemoração do 3º aniversário de fundação do Educandário Santa Inês. Crianças prestam
homenagem à Irmã Inês Giunta. Presentes: Dom José Cardoso, bispo de Paracatu, Irmã Madalena Tada
Superiora Regional, Irmã Eugênia Taveira, Irmã Paula Brincat, Irmã Celina Dalazoana, Irmã Carimeli Chiaroti,
Irmã Izolina Matos.
Em 21 de janeiro de 1982, o Educandário comemorava solenemente o 30º aniversário
de sua fundação. A celebração contou com momentos de homenagem à fundadora da
Congregação no Brasil, Irmã Inês Giunta. Foi o período em que as crianças e adolescentes do
Educandário tiveram visibilidade com a formação do coral cantando na rádio e na TV
Brasília, sobretudo apresentando-se nas transmissões de Missas dominicais. Outro fato
marcante foi a possibilidade de as crianças e adolescentes passarem 15 dias de férias nas
praias de Santos, na Casa da Vovó Anita64, graças à doação do percurso Paracatu-Santos feita
64 Casa da Vovó Anita, Av. Bartolomeu de Gusmão, 48, Santos, SP.
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pela Sra. Maria Conceição Rocha Pinheiro. Todas as crianças puderam sair de Paracatu pela
primeira vez, conhecendo a extensão do país, outras cidades e contemplar as maravilhas da
natureza.
Foto 42. Viagem de ônibus da Real Expresso. Foto 43. As crianças não se continham de alegria.
Foto 44. As crianças curtiram sol e praia por 15 dias Foto 45. A ação de graças foi na Basílica de Em Santos, hospedadas na Casa da Vovó Anita. Aparecida.
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Foto 50. Residência das Irmãs concluída em 1983 com área livre no pavimento inferior para atividades
múltiplas, destinadas ao uso das crianças do Educandário. Piscina projetada em 1983 e concluída em 1985.
Foto 46. Irmã Laura Gomes e Irmã Maria José, Foto 47. Crianças e adolescentes no estúdio de TV-
educadoras que acompanhavam as crianças e Brasília. Transmissão da Santa Missa, com animação
adolescentes, preparando-as para a vida. de cantos litúrgicos pelas crianças do Educandário.
Fotos 48 e 49. Crianças do Educandário ocupavam-se do cuidado da terra, produzindo hortaliças e legumes,
sob a orientação das Irmãs.
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Nesse período, as crianças do Educandário receberam a visita de Padre Mário, das
Missões Carmelitas dos Estados Unidos. Durante a recepção calorosa das crianças, Padre
Mário deixou, para alegria das crianças e adolescentes, um presente não perecível, mas que
poderia beneficiar e alegrar tantas crianças no futuro. O Padre benfeitor recomendou à Irmã
Cecília que seguia de perto as obras, que não fosse feito um tanquinho para as crianças se
banharem, mas que fosse realmente construída uma piscina. Foi projetada uma piscina
semiolímpica com 12m por 25m com vestuários masculino e feminino. E uma piscina para os
pequeninos. O Projeto foi assumido pela ENGEPA, a cargo do engenheiro Jueli Cardoso
Jordão. Padre Mário doou à Congregação o valor necessário à construção da piscina.
Providências foram tomadas para a melhor localização da obra.
O Educandário Santa Inês continuou prestando abrigo e assistência a tantas crianças e
adolescentes, encerrando as atividades em 22 de junho de 2000, diante das dificuldades em
manter a obra seja com recursos materiais, como também humanos.
Atividades pastorais e de evangelização
Desde as origens, o que marcou a presença das Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa
Teresa do Menino Jesus foi a dedicação no serviço de evangelização, não somente entre os
frequentadores das obras do Educandário como do Colégio, mas também a presença marcante
nas comunidades suburbanas e periferias.
A pastoral da catequese foi sempre a nota marcante, seguida da organização de
comunidades nas periferias, através do conseguimento de espaço e estrutura física para as
reuniões. Os finais de semana ficavam sempre reservados para alcançar toda a população do
bairro Alvorada, do Alto do Açude e do Alto do Córrego. Além de assegurar a catequese aos
pequenos e grandes, trabalhava-se na pró-construção das Capelas e do Centro Catequético.
P adre Mário Dittami, foi nome religioso
A njo de Deus se fez entre os pequenos
D oando momentos de inesquecível alegria
R enovando os corações desesperançados
E nchendo-os de sonhos e de esperanças.
M aria é tua Mãe e Irmã, Nossa Senhora
A mavas-a nos pequeninos e indefesos
R enovando os votos na doação total,
I rradiando luz da paz e da justiça,
O ração, ternura e fraternidade foi tua vida!
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Foto 51 – Construção da Capela Nossa Senhora de Fátima Foto 52. – Catequese ministrada ao ar livre, no Alto do
Açude.