Invocação e Dedicarória

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OS LUSÍADAS

INVOCAÇÃO e DEDICATÓRIA

INVOCAÇÃO

E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mi um novo engenho ardente, Se sempre, em verso humilde, celebrado Foi de mi vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloco e corrente, Por que de vossas águas Febo ordene Que não tenham enveja às de Hipocrene .

Dai-me uma fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou frauta ruda , Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda. Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no Universo, Se tão sublime preço cabe em verso.

 

INVOCAÇÃO

Invocar significa apelar, pedir, suplicar.

Nestas estrofes, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhe que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime:

“Dai-me agora um som alto e sublimado,

Um estilo grandíloco e corrente” 

INVOCAÇÃO

E vós, Tágides minhas, (...)

Dai-me (...) Dai-me (...) Dai-me (...)

INVOCAÇÃO

E vós, Tágides minhas, (...)

Dai-me (...) Dai-me (...) Dai-me (...) A Anáfora é uma figura de estilo

que consiste em repetir a mesma palavra no princípio de várias frases ou versos. A forma verbal “Dai-me” (modo imperativo) surge repetido três vezes no início do verso: trata-se da figura de estilo anáfora.

INVOCAÇÃO

Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estrutura do texto.

INVOCAÇÃO

Apóstrofe  A apóstrofe consiste na interpelação ou invocação de

alguém ou de alguma coisa personificada, por meio de um vocativo.

  Repara: para invocar as ninfas, Camões utiliza o vocativo.  O vocativo pode estar presente numa frase quando se

pretende chamar ou invocar alguém, utilizando-se para isso um nome ou expressão equivalente. O vocativo na frase é móvel, pois pode surgir no princípio, no meio ou no fim, mas está destacado por vírgulas.

 

INVOCAÇÃO

Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao longo destas duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança

INVOCAÇÃO

O poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade do assunto requerem; o " som alto e sublimado ", exigido pelo " novo engenho ardente " que as ninfas colocaram nele.

INVOCAÇÃO

Este confronto serve-lhe para marcar a superioridade relativa da poesia épica sobre a lírica.

POESIA LÍRICA 

POESIA ÉPICA

verso humilde agreste avena frauta ruda

novo engenho ardente som alto e sublimado estilo grandíloco e corrente fúria grande e sonorosa tuba canora e belicosa

INVOCAÇÃO

A Invocação, para Camões, é mais um processo de engrandecimento do seu herói. De facto, é a grandiosidade do assunto que se propôs tratar que exige um estilo e uma eloquência superiores.

INVOCAÇÃO

Para poder cantar devidamente tão altos feitos, necessito que vós, Tágides minhas, ninfas amadas do meu rio Tejo, já por mim cantado em muitos poemas líricos, me ajudeis a encontrar o estilo grandioso, um estilo grandíloco adequado à celebração dos Portugueses. Se me ajudardes, ficareis ainda mais célebres e afamadas do que a antiga fonte de Hipocrene, nascida de uma patada do cavalo de Pégaso, condutor do carro de Apolo, deus do sol, da poesia e das artes. Essa fonte dava inspiração poética a quem dela bebia.

in Os Lusíadas em prosa (adaptação) de Amélia Pinto PaisLurdes Martins

INVOCAÇÃO

DEDICATÓRIA

A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’ Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.

Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império.

  D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei

antes do domínio espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu de uma lenda e que tem povoado o imaginário coletivo do nosso povo, ao longo dos séculos.

DEDICATÓRIA

E vós, ó bem nascida segurançaDa Lusitana antiga liberdade,

DEDICATÓRIA

Modificador do nome apositivo O Modificador do nome apositivo é uma

expressão que vem imediatamente a seguir a outra, normalmente entre vírgulas e que surge como uma caracterização ou explicação complementar.

A expressão “poderoso rei” exerce a função de Modificador do nome apositivo, pois surge a seguir ao pronome “Vós”, adicionando-lhe uma informação que o torna mais completo.

DEDICATÓRIA

SINÉDOQUE

Na caracterização de D. Sebastião, o poeta usa frequentemente a sinédoque – figura de estilo em que se troca a palavra que indica o todo de um ser por outra que indica apenas uma parte dele:

“Vós, ó novo temor da Maura lança,”  Embora só se refira à lança, o poeta pretende

designar todo o exército de mouros.

DEDICATÓRIA

Identifica as figuras de estilo presentes nos versos seguintes:

  “E vós, ó bem nascida segurança”  “Tomai as rédeas vós do Reino vosso:”  “Aqueles que, nos Reinos lá da Aurora”  “O Sol, logo em nascendo, vê primeiro”  “Por um pregão do ninho meu paterno”  “Que afeiçoada ao gesto belo e tenro”  “E julgareis qual é mais excelente,

Se ser do mundo Rei, se de tal gente.”

DEDICATÓRIA

Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso recorre a uma linguagem argumentativa, sendo a função de linguagem predominante a apelativa. O poeta recorre a numerosos vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do modo imperativo. Há quem considere que o discurso da Dedicatória segue a estrutura própria do género oratório.

O poeta chama constantemente a atenção do seu destinatário, D. Sebastião, para o que o poema vai celebrar.

DEDICATÓRIA

Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso recorre a uma linguagem argumentativa, sendo a função de linguagem predominante a apelativa. O poeta recorre a numerosos vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do modo imperativo. Há quem considere que o discurso da Dedicatória segue a estrutura própria do género oratório.

O poeta chama constantemente a atenção do seu destinatário, D. Sebastião, para o que o poema vai celebrar.