João Manuel Cardoso de Melo

Post on 04-Feb-2016

223 views 0 download

description

resumo

Transcript of João Manuel Cardoso de Melo

João Manuel Cardoso de Melo inicia seu ensaio demarcando alguns pontos do pensamento da CEPAL (comissão econômica para América Latina), criada 1949, com o objetivo de elaborar estudos e alternativas para o desenvolvimento dos países latino – americanos. Para o autor a CEPAL, foi criada para estabelecer o processo de aparecimento da industrialização entre 1914 e 1945. A saída vista pela CEPAL para a América Latina seria a industrialização. O autor crítica o critério cepalino de periodização histórica (economia colonial / economia nacional, crescimento para fora, industrialização por substituição de importações e industrialização extensiva / industrialização intensiva), partindo daí, João Manuel C. de Melo vai repensar a história, formação e desenvolvimento do modo de produção capitalista na América Latina. Começando com as raízes do capitalismo retardatário, onde o autor faz um paralelo entre economia colonial e economia exportadora capitalista é como ambas se desenvolveram no Brasil, usando este mesmo paralelo entre o seu ponto de vista e o da CEPAL.

 

O autor fala que o modo de crescimento para fora causa em última possibilidade a transformação das economias da América Latina em conformidade ao “modelo primário – exportador”.

O João Manuel C. de Melo, vê no problema central da CEPAL a problemática da industrialização nacional a partir de um ponto de vista ou “situação periférica”.

Conceituando os termos crescer para fora e o desenvolvimento para dentro, o primeiro termo designa as economias periféricas enquanto exportadoras de produtos primários em que segundo o autor não dispõe de comando pobre seu próprio crescimento, ocorrendo o contrário e ficando em estado de dependência da força da demanda ao centro. E é no período de 1880 a 1914, que surge por causa da demanda de produtos primários desempenhada pelo país do centro fazendo surgir economias periféricas.

O segundo ponto é a etapa de desenvolvimento para dentro; em que o centro dinâmico da economia se move para dentro da nação, que passa a comandar a si próprio, substituindo a variável exógena da demanda externa por uma variável endógena de investimento como impulsão da economia, que significa a modificação para o interior da nação os centros de decisão.

No pensamento cepalino a industrialização seria a saída dos países da pobreza e para criação de bases econômicas.

Um dos problemas levantados pelo autor em seu texto é o fato de que a industrialização periférica esbarra, no desequilíbrio entre as técnicas importadas e a relativa fragilidade da demanda. Então para o autor, a dinâmica da economia mundial tende, a aprofundar o desenvolvimento desigual. Deste modo cria-se uma situação de “dependência externa” onde se exprime a relação centro / periferia, surgindo dessa forma vários tipos de “situações de dependência” ao longo da história latino-americana, como a dependência colonial, primário exportadora e tecnológica financeiro.

Para João Manuel, dependência e desenvolvimento representam uma chance de constituir uma nova problemática, que seriam a da “instauração de um modo de produção capitalista em formações sociais que encontram na dependência seu traço histórico peculiar”, a problemática da formação e do desenvolvimento do modo de produção capitalista na América Latina. Diante do que foi exposto partiremos agora para “raízes do capitalismo retardatário”, que de acordo com o autor, surge com o paradigma cepalino, nas últimas décadas do século XIX, uma nova etapa do processo de desenvolvimento latino americano com a constituição das economias primário – exportadoras. Esta forma de crescer caracterizada por uma clara especialização em dois setores que são o setor externo e o setor interno, dependente do primeiro.

O autor faz uma diferenciação entre economia colonial e economia primário – exportadora, para o autor a diferença se encontrava nas distintas relações sociais básicas que eles estão subjacentes, trabalhando compulsório, servil ou escravo, de um lado e trabalho

assalariado de outro. A economia colonial organiza-se para cumprir uma função, a de instrumento de acumulação primitiva de capital, sendo deste modo mercantil.

Mas o capital comercial não se limita na América – Latina a explorar os modos de produção já existentes a conquista. Ao contrário aumentou o campo de circulação que lhe era próprio e entrar na esfera de produção formando a economia colonial.

Partindo agora para o capitalismo industrial, que quer a formação de uma periferia produtora de produtos primários de exportação, organizando a produção em bases capitalistas, quer dizer com o trabalho assalariado.

Portanto, a passagem da economia colonial à economia exportadora capitalista com sua complexidade toma como movimento determinado a princípio “fatores internos” e por último por fatores externos. 

O autor conclui nestes pontos em linhas gerais a transição de economia colonial à economia exportadora capitalista no Brasil, pela economia mercantil escravista nacional. Que para o autor estava longe de ter sido assimilado pelo modelo cepalino.

Bom, vamos agora “A industrialização retardatária” que é figurada em cima da crítica ao pensamento cepalino. Neste ponto João Manuel investiga o processo de industrialização na América latina. O ponto que o autor parte para fazer sua analise é a capacidade de diversificação do crescimento para fora que consiste na capacidade do setor exportador que é o conjunto de empresas produtoras de certo produto primário de exportação, em que se criara um mercado mais ou menos amplo, pensado, como mercado de bens de consumo corrente.

Porém a industrialização induzida pela expansão das exportações encontrava, fronteiras estreitas impostos pelo crescimento dos mercados gerados pelo setor exportador, que uma só vez “ocupados” tornaria a expansão industrial distante e débil. O que para a CEPAL seria a passagem do “modelo de crescimento para fora” ao “modelo de crescimento para dentro”.

As condições fundamentais que precisam ser cumpridas para que isso ocorra, a princípio deve-se parti de bens de consumo menos elaborados e progredindo lentamente até atingir os bens de capital.

Outro ponto quanto às condições internas para a industrialização intensiva pelo tamanho restrito dos mercados latino-americanos, levando em conta que a tecnologia importada impõe escalas em que a produção é ajustada aos mercados de países desenvolvidos. O autor conclui por tanto que tomar o paradigma cepalino que é tomar a industrialização latino-americana como uma industrialização capitalista.

 

 

                                                           *****

João Manuel Cardoso de Melo bacharelou-se em direito em 1965 na faculdade de direito da USP. Em 1966 fez um curso de desenvolvimento econômico do programa CEPAL-BNDE e em 1968 o curso de programação industrial da CEPAL-ELPES. Fez parte do núcleo de fundadores do departamento de economia do instituto de filosofia e ciências humanas da universidade de Campinas. O ensaio “O capitalismo tardio” foi apresentado em 1975 como sua tese de doutoramento. O livro é basicamente uma crítica das reflexões de Raul Prebisch, Aníbal Pinto, Celso Furtado entre outros. Assim como o autor sempre envolvido com complexo problema do capitalismo periférico.

Neste livro o autor faz uma análise do capitalismo brasileiro e também latino-americano que é onde faz uma crítica a CEPAL, sendo que esta crítica não é mais uma crítica sem fundamento afinal João Manuel foi formada pela CEPAL.

É também neste ensaio que o autor reconhece a contribuição de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto (Dependência e desenvolvimento na América-Latina ensaio de interpretação sociológica).

Para o autor o pensamento cepalino foi de certa forma equivocado, pois separa os condicionamentos sociais e políticos, externos e internos do processo econômico.

O novo exame que faz João Manuel em seu capitalismo tardio limita-se apenas aos aspectos econômicos. Porém ele usa de análises já feitas antes como: Caio Prado Jr. (Revolução brasileira) em que abrange a política outro foi Fernando Novaes que faz um exame mais histórico do período colonial, já a Revolução de 1930 fica a cargo de Boris Fausto e muitos outros, o livro conta com excelente bibliografia em relação ao Brasil que é muito utilizada por João Manuel em sua análise do desenvolvimento capitalista brasileiro.

João Manuel faz uma periodização diferente da CEPAL em relação a industrialização, para ele poderia ser dividida na seguinte ordem, economia colonial-economia mercantil-escravista nacional-economia exportadora capitalista-retardatária, que vem dividida em mais três fases: nascimento e consolidação da grande industria, industrialização restringida e industrialização pesada. Bom sendo o objetivo de este ensaio fazer uma nova periodização da economia brasileira, diferenciando da CEPAL o autor conseguiu.

A periodização feita pela CEPAL era desta forma, ou melhor, dividida desta forma primeira: período colonial; período primário-exportador; período de industrialização substitutiva de importações, subdividida em duas fases: a primeira tem por base a indústria leve e a segunda baseada na indústria de bem de consumo e de bem de capital.

O que ficou um pouco vago foi à questão de ter o autor se demorado tanto na questão da abolição da escravatura e economia colonial.

Para o autor diferindo da CEPAL, há duas e não apenas uma economia primário-exportadora, que seria uma apoiada no trabalho escravo e outra organizada com o trabalho assalariado.  

          “Enfim, reversamente, a história do capitalismo é também nossa história: o capitalismo não pode formar-se sem o apoio da acumulação colonial; o capitalismo valeu-se da periferia para rebaixar o custo de reprodução tanto da força de trabalho quanto dos elementos componentes do capital constante; ademais dela se serviu quer como o mercado para sua produção industrial, quer como campo de exportação de capital financeiro e mais adiante produtivo”.                                                                               

                                                                                         (Mello, 1982, pg.177)

 

 

                                                                             

O capitalismo tardio é um livro crítico, interessante e essencial para estudiosos de economia brasileira.