Post on 22-Nov-2018
Laudo de Análise Elementar Sobre Causas do Desabamento daEncosta na Falésia do Cabo Branco
Em atendimento à solicitação feita pela digníssima Sra. Drª. Roseane Costa Pinto
Lopes, Curadora do Meio Ambiente do Ministério Público do Estado da Paraíba - 1º Centro
de Apoio Operacional, onde no seu ofício nº 0007/CMA, define como objetivo instrucional
“identificar as causas que levaram o desabamento de blocos de terra na falésia do Cabo
Branco”, solicita ainda caráter urgente e com sugestões para o problema. A Sra. Curadora
enviou ainda, por nossa solicitação, e anexando assim ao ofício, documentos já pertinentes
ao processo de avaliação e questionamentos sobre aquela área.
Dado a pertinência, urgência e complexidade da perícia em foco, optou-se por
análise elementar como instrumento que poderá vir a auxiliar na tomada de decisão sobre
qualquer ação deliberativa junto aquela área. Considera-se que a análise elementar é o
primeiro passo após qualquer processo especulativo, não sendo ainda uma ciência formada
por hipóteses corroboradas ou refutadas, sendo esta ciência, resultado de uma análise
sistemática e transdisciplinar, envolvendo: técnicos, cientistas e o cidadão do cotidiano
daquela área.
Antecedentes da Análise Elementar
Mesmo estando ciente da superficialidade de uma análise elementar não se deve
tratá-la sem a devida responsabilidade, pois sabe-se que seu resultado poderá conduzir a
diversas interpretações, daí opta-se por rigores tanto no uso adequado de postulados quanto
por rigores determinados pela sistematização. Esse é o primeiro passo para a análise
sistemática. No entanto, sua continuidade se dará em aplicar esse rigor em um volume
significativo de dados coletados, o que inevitavelmente instrumentará o volume amostral
enquanto estudo de probabilidade e possibilidades.
Essa pertinência conduz a processos estruturais de pesquisa, surgindo então a
determinação de como se instruirá os procedimentos para resposta a Sra. Curadora, a partir
do olhar Geográfico, construindo-se um projeto de estudos:
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Projeto
Caracterização geográfica da ponta do Cabo Branco: dinâmicaambiental.
Problema
Quais os componentes da estrutura da paisagem que determinam adinâmica ambiental na zona costeira da ponta do Cabo Branco?
Hipóteses
a) Ação direta dos elementos componentes do clima: ventos eprecipitações;b) Ação direta dos componentes oceânicos: maré e ondas;c) Ação abrasiva dos elementos climáticos e oceânicos sobre orelevo costeiro;d) Combinação da drenagem superficial, a cobertura vegetal comporosidade do solo e o relevo na distribuição e contenção das águaspluviais;e) O aspecto sócio-ambiental na relação sentimental entre asociedade e a paisagem, onde esta representa um monumento designificação historicamente geográfica.
Objetivos
Geral
Compreender a dinâmica ambiental na ponta do Cabo Branco.
Específicos
- Delimitar a área de estudo;- Representar a área cartograficamente: planta baixa, perfis
longitudinais e transversais.- Caracterizar os fatores e elementos da estrutura da paisagem;- Definir parâmetros de referência teórica para coletar dados e
informes sobre:, clima, dinâmica marinha e erosão costeira;- Elaborar formulários de coleta de dados;- Elaborar questionários e questionamentos sobre a paisagem.
Metas
- Construção de uma carta geográfica;- Diagnóstico elementar sobre a paisagem;
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Metodologia
Levantamento bibliográfico pertinente à composição tópica da estrutura da
paisagem; levantamento de documentos ortográficos e iconográficos referentes à área em
observação; Excursões expeditas a fim de se estabelecer ação de observação e coleta direta
de dados; Medição de elementos componentes da paisagem com instrumental para maior
grau de rigor; questionamento e entrevista à população sobre o comportamento do lugar e as
relações topofílicas.
Referência Teórica
As categorias que balizarão o estudo serão de importância teórico-práticas, pois
servirão como horizontes norteadores determinando sempre os rumos e consequentemente
avanços e recuos na busca da resolução do problema e na corroboração ou refutação das
hipóteses.
Como a pesquisa se dará em um lugar geográfico e com domínios naturais
enquanto eventos particípes da paisagem, teremos assim uma pesquisa geográfica de
caráter regional, pois serão denunciados tópico a tópico que, conectados sistematicamente,
formarão a estrutura e a dinâmica da paisagem.
A Teoria Geral de Sistemas servirá também como elemento fundamental para à
compreensão das conexões que determinarão as estruturas componentes da paisagem.
Tomaremos como super-estrutura os tópicos que isoladamente serão
caracterizados e sua individualidade capturada de forma técnica, a partir de observação e
coleta sistemática, com auxílio de referências e instrumental especializado, pois assim se
aumentará o rigor na explicação dos fenômenos em si.
A definição de um esquema, enquanto representação gráfica da organização da
estrutura, servirá como mapa das categorias de fundamentação.
Climático Biótico Topográfico
Hídrico
(adaptação elaboração a partir da proposta de Sthraeler)
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Composição da estrutura dos fenômenos
Onda:
- altura Maré;- dinâmica;- comprimento;- cronograma;- direção;- relações com fatores astronômicos.
Onde observar:
- dentro do mar na maré baixa — marcas de ondas e maré alta (sizigia)
Clima:
- vento: sobre a barreira, na praia, na vegetação;- observar: horários e fenômenos astronômicos;- chuva: canais de escoamento superficial.
O ambiente: uma tentativa de caracterização regional
Tomando-se como paradigma a questão regional devido a complexidade do evento
em si deslizamento de encosta, mesmo assim “a delimitação de áreas regionais complexas
representa uma tarefa espinhosa na medida em que a unidade do conjunto é fruto de relações
entre fenômenos de natureza diferente neste caso, é conveniente partir do interior do sistema
para determinar os limites da estrutura geográfica considerada “(Dolfuss: 1973 p. 94)1. É
nessa condicionante, sistema e estrutura geográfica que o evento deslizamento de encosta
está inserido e como as condições iniciais, não necessariamente, estarão contidas no evento,
procurar-se-á então inserí-lo (o evento) numa concepcão regional.
“O termo região não apenas faz parte do linguajar do homem comum (....) (....) o
conceito de região está ligado a noção fundamental de diferenciação de área, quer dizer, à
1 DOLFUS, Olivier. A Análise Geográfica. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1973.
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aceitação da idéia de que a superfície da terra é constituída por áreas diferentes entre si”
(Corrêa, 1990, p.22)2.
Nessa concepção encaminha-se o evento para o contexto regional, onde está contido
no subconjunto relevo, cujo conjunto é o topográfico, sendo parte do conjunto paisagem.
A paisagem reflete uma fisionomia e esta “é o que se vê e o que se salta aos nossos
olhos (....) (Egler, p. 121)3, a paisagem passa a ser então um conjunto de fenômenos
aparentes que ocorrem em um dado momento e num dado lugar. No entanto, nem sempre o
que está acontecendo numa paisagem as condições iniciais estão aí localizadas. Nessa
perspectiva é que se estabelece a proposição regional, onde se tentará determinar elementos
limites ou limiares para caracterizar os outros subconjuntos dos conjuntos climáticos e
hídricos, demarcando assim a paisagem regional.
A região do Cabo Branco: caracterização da paisagem
O conjunto paisagístico é constituído estrutural e geográficamente pelos conjuntos:
topográfico, hídrico e climático. A hierarquia em que apresenta os subconjuntos é a mesma a
que Egler realça sobre “o fenômeno que salta aos nossos olhos”, pois o evento deslizamento
de encosta é ocorrência no conjunto topográfico, subconjunto relevo, ora como fenômeno de
degradação e paradoxalmente de agradação, ou seja, o material que é retirado de um lado é
depositado em outro. O segundo conjunto, o hídrico, tem a ver com a dinâmica da massa
fluida hídrica que é o subconjunto oceânico em constante ação erosiva, enquanto força de
demolição e construção nas suas zonas de contato com o relevo. O terceiro subconjunto: que
é o climático, age de forma liminar ou subliminar com seu agentes, tanto na formação como
na deformação de situações aparentemente estáveis.
Na tentativa de regionalizar a área do Cabo Branco é fundamental estabelecer alguns
conceitos que representam aquela realidade. Os elementos que compõem o conjunto relevo
enquanto estrutura, são na realidade elementos da superestrutura, como planaltos e planícies.
Já o conjunto hídrico é desmembrado nos subconjuntos: água continentais e águas
oceânicas, sendo as águas oceânicas a de primeiro interesse e sua superestrutura
2 CORRÊA, Roberto Lobato. Região e OrganizaçãoEspacial. 3º ed., São Paulo, editora Ática.3 EGLER, Walter Alberto. Coletânea de trabalhos de Walter Egler. Org. por Pedro L. B. Lisboa. Museu
Paranaens. Emílio Goeldi.
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representada pelos eventos: marés, ondas e correntes. E as águas continentais, no caso
específico águas em escoamento superficial e de subsuperfície.
O subconjunto climático que ressaltamos sua ação em liminar, algo bem aparente,
bem sensível (como a temperatura, os ventos e a chuva e, subliminar como a pressão
atmosférica.
O Cabo Branco é um acidente geográfico decorrente da ação erosiva do mar e sua
litologia é constituída por sedimentos que vieram sendo depositados, possivelmente, apartir
da era terciária entorno de 65 Milhões de Anos (Departamento Nacional da Produção
Mineral – Geologia do Brasil-p. 12), tempo este que permitiu a compactação do material,
contribuindo assim para sua consolidação e formando a unidade do relevo denominada
planalto: baixos Planaltos Costeiros, sobreposto ao grupo litológico denominado Barreiras.
Grupo esse sem datação específica devido a falta de material fossilizado o que viria a
permitir datação. Por planalto, entende-se unidade do relevo que perde material tanto pelo
intemperismo, ação imposta pelos condicionantes elementos e/ou fatores como temperatura,
radiação luminosa, sonora, etc. e, também por erosão como a ação dos impactos provocados
por chuvas, ventos, ondas, marés e enxurradas. ... O material perdido pelo planalto ou pelas
montanhas, serão depositados em vales e nas planícies e no caso da região do entorno do
Cabo Branco, mais especificamente ao norte, na planícies costeira, cuja área é praieiras.
Não há como olhar o Cabo Branco sem uma especulação paleo-geográfica, onde
possivelmente essa paisagem seja, geológicamente bem recente. No entanto olhando em
direção NE e Leste para dentro do mar, e com a maré baixa, observa-se os recifes,
provavelmente blocos residuais que se mantiveram resistentes ao tempo cronológico e a
ação destrutiva da dinâmica erosiva do intemperismo, permitindo assim a especulação
conotativa de como foi a paisagem do Cabo Branco – planaltos costeiros que avançavam
adiante, além da atual linha de costa.
Hoje esse cenário tem nuances desse trabalho erosivo, onde se tem bem
caracterizado o corte abrupto dos baixos planaltos, formando assim encostas com
características de penhascos, pois são encostas com mais de 70º de declividade. Esses
penhascos foram e estão sendo trabalhados erosivamente pela ação marinha e neste contato,
passam a ser denominados de falésias - vivas quando há contato e mortas quando perde o
contato com o mar. As nuances do trabalho do mar sobre os baixos planaltos formando as
planícies costeiras é bem nítido na formação da planície da praia da Penha, ao sul do Cabo
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Branco. E ao norte, onde as falésias estão mortas, pois encontram-se recuadas em relação ao
trabalho erosivo do mar, surgindo a praia como resultado de uma série de sucessões de
cordões litorâneos que foram sendo acumulados no decorrer do tempo. Na praia de Cabo
Branco e Tambaú, onde a falésia também encontra-se recuada, morta, afastada do mar, há aí
entre o mar e a falésia um preenchimento por material sedimentar formando planície
costeira que se estende até Cabedelo na foz do Rio Paraíba. É importante notar que a linha
de falésia é interrompida entre o Altiplano e Tambaú pela passagem do rio Jaguaribe e
sendo mais uma vez interrompida na descida do bairro João Agripino, em direção ao terraço
flúvio-marinho do sistema estuarino do Rio Paraíba.
O realce que foi dado descritivamente ao acidente geográfico e seu entorno, tanto
espacial quanto temporal, tem como objetivo sua complexa delimitação regional, daí então
poder buscar suas zonas de contato nas adjacências circunstanciais. Passamos assim a
considerar como a região do Cabo Branco, as áreas de falésia viva no seu contato com as
planícies ao sul praia da Penha e nas planícies ao norte da praia de Tambaú e por último
agente de delimitação paramétrico a rede de drenagem na superfície da falésia.
Investigação elementar sobre a dinâmica dos subconjuntos: uma amostragem
A superfície do relevo é bem pouco ondulado, denotando assim uma monotonia que
lhe coube o nome de altiplano.
A ruptura na monotonia do relevo é abrupta, acarretada pela aparentemente ação
marinha, chegando a característica de penhasco pela elevada declividade.
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A partir do perfil transversal da falésia, torna-se nítida a configuração estratificadados componentes que aí se acomodoram, permitindo assim a determinação dos diversoselementos que compõem os diversos estratos. Há a distinção desses elementos mesmo aolho nú e também por exames simples ao toque manual, onde há fácies que se apresentambem arenosos e outros bem argilosos, o que denota a permissividade de comportamentosdiferenciados tanto pelo intemperismo quanto pela erosão.
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Base da Falésia denotanto o trabalho da erosão Marinha
O topo da falésia é constituído de material arenoso: areias quartzosas, com baixo teor
de materia orgânica e de baixa coesão.
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Sobre esta superfície pouco ondulada cuja rede de drenagem é comprometida pelo
baixo nível de angulação das vertentes, dificultando assim o escoamento superficial e
ampliando a percolação verticalizada da água para o subsolo, surge assim um solo cujo
horizonte A é rico em areias quartzosas e baixo teor de matéria orgânica e com baixa
coesão, solo pobre às atividades edáficas, no entanto há aí uma população vegetal instalada e
que se restaura diante das condições atípicas (ação antrópica) do lugar. Essa vegetação
estabelece uma dupla relação. a) enquanto resultado da intersecção dos conjuntos:
climáticos, hídrico e lítico (rocha), ela aparece como elemento menor da estrutura da
paisagem, no entanto b) essa vegetação é o elemento de articulação entre esses mesmos
conjuntos, pois sua relação é aérea, de superfície e de subsuperfície, ou seja acima da
superfície do relevo, na superfície e no subsolo. A vegetação acaba por ser um elemento
fundamental que auxilia na resistência do relevo aos ataques dos outros elementos
pertinentes aos outros conjuntos e subconjuntos. E no tocante à população vegetal
pertencente a área de ruptura do baixo planalto, no topo da falésia, está profundamente
comprometida, pois tamando por base paramétrica uma área bem povoada do interior do
altiplano podemos constatar que as condições de: censo, altura e densidade, num processo
comparativo há ali no topo da falésia uma situação crítica, pois há sim um vazio em termos
populacionais, ou seja, uma área desmatada.
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Essa vegetação é fruto de condições, possivelmente, acidentais, pois haja visto que
todo o litoral já vem sendo alterado a centena de anos. No entanto as condições peculiares
no tocante ao clima, de um modo mais amplo, não foram alteradas, tomando por base o
ATLAS Geográfico da Paraíba em que define a direção e velocidade dos ventos, a
precipitação atmosférica.
Estando com a referência geral proposta no ATLAS foi feita ainda uma série de
coletas de dados por época do evento (deslizamento) sobre:
- direção do vento – SE/NO- velocidade do vento – em média, pois há uma variação denotando uma turbulência, o que
indica que as médias entre as velocidades mínima e máxima variamde 1.3 m/s a 9.1 m/s.
Esses dados passam a ser elementos importantes para análise do movimento do mar:
ondas.
O vento é o elemento fundamental para a movimentação da superfície do mar,
dando-lhe rugosidade, gerando assim as ondas e essas passam a ser agentes de ação erosiva
na linha da costa: tanto na planície (áreas praieiras) como na falésia (área em
decomposição).
A ação oceânica conta com três agentes erosivos de valor importante para esculpir e
modelar as feições costeiras: a maré, as ondas e as correntes costeiras, como já foi ressaltado
apesar desta ser uma análise elementar mesmo assim observa-se alguns rigores na leitura
da paisagem, daí então a preocupação de se tomar apontamentos combinados com outras
referências. A leitura do movimento da maré teve como referência a tábua de marés e a
preocupação com o movimento de translação da terra.
A leitura da translação nos permitiu combinar a data de maior maré 2.60 m no dia
dezoito de março de 1999 onde a lua em conjunção – lua nova, contribuiu para essa altura da
maré lembrando ainda que esse momento, MARÇO, é significativo pois a terra está próximo
ao seu momento equinocial, ou seja a perpendicularidade da radiação luminosa está próximo
sobre a linha equatorial, o que isso quer dizer: que a radiação perpendicular ao paralelo 7º
(João Pessoa) foi por época do dia 23 de fevereiro/março, havendo assim um ataque direto
de insolação perpendicular a está região, contribuindo assim para maior transpiração e
evapotranspiração dos elementos sob este fenômeno, ou seja, havendo probabilidade de
desidratação por subordinação a elevada exposição.
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Essa maré muito alta, maré de sizígia, denominada vulgarmente de maré viva,
atingindo o sopé da falésia abaixo do farol do Cabo Branco, indicando que esta é uma
falésia viva, pois há ainda o trabalho intenso de sua retrogadação.
A retrogradação4 é na realidade ação efetivada pelas ondas, pelo resultado do seu
impacto sobre a falésia e há, ao longo da falésia, áreas atingidas pela maré e
consequentemente pelas ondas, mas a área em que houve o deslizamento na realidade, não é
atingida efetivamente pela maré mas sim pelo resultado final de ondas, em marés muito altas
(acima de 2.5m) onde estas trabalham solapando o sopé da falésia.
Fazendo uma pequena contabilidade sobre a tábua de marés é possível verificar que
ocorrerão ainda mais quatro marés deste nível este ano, época da lua nova de 16 e 17 de
abril e na lua cheia 01 e 02 de maio.
Esse agente maré aponta um outro agente que são as ondas, que combinado com os
ventos e horário, no caso do dia 17 de março de 1999 às 15 horas 5 o vento soprava em
direção ao continente numa velocidade média6 de 3 m/s, a partir dessas combinações maré
4 Retrogradação: termo que indica, no caso, recuo do litoral por ação erosiva5 As coletas foram realizadas também no dia 19 e 20/março/996 Medição feita com anemômetro e coletado dados amostrais em quatro pontos, sendo dois no sopé da falésia edois no topo da falésia.
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alta e vento, se procurou ler a rugosidade da superfície marinha, ou seja os elementos
componentes das ondas: altura, comprimento e direção.
As coletas foram realizadas em pontos bem frontais a barreira abatida. A altura e
comprimento foram mensuradas por balizamento transversal, numa secção amostral de
grupos de onze ondas consecutivas, na ante-zona de arrebentação
- altura: 45 cm em média;- comprimento médio: 30 m
A velocidade das ondas chegou a 5 m/s. Na direção leste/oeste ou seja quase frontal
a barreira. No entanto a coluna da onda tocava primeiro no sentido sul da barreira e
posteriormente, ao norte, o que produz uma corrente na direção Norte.
O trabalho de desbarrancamento é aparentemente elevado e, o material desagregado
é conduzido pela corrente em direção norte, ou seja em direção a praia do Cabo Branco,
sendo alí depositado.
É conveniente aqui se descrever, mesmo que de forma elementar, a composição
estrutural da barreira na falésia do Cabo Branco. Como já foi realçado por diversos autores
estudiosos do grupo litológico Barreiras, este grupo não contém em sua composição rochas
graníticas, sendo sim uma constituição sedimentar ainda em consolidação. A diversidade de
jjjvjhv
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material estruturante é bem considerável, vamos nos ater então apenas na área em que o
bloco foi abatido e, os exames feitos foram sem precisão, apenas exames empíricos,
sensíveis ao toque e a diferenciação ótica em relação a cor.
Procurou-se dar destaque a composição dos estratos do bloco abatido e é bem nítida,
fisiograficamente, que o material argiloso está em faixas compactadas horizontalmente, com
maior coesão e espessura variando em aproximadamente 20 a 70cm, já o material sob e
sobre essa faixa é grosseiro, ou seja, material arenoso e de baixa coesão sensível ao toque
manual. No exame de toque manual, o material mais compactado é argiloso e de maior
resistência em relação ao material areno/argiloso, sendo este bem frágil, visto que, quando
do trabalho erosivo das ondas o material frágil se decompõe facilmente.
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A Região da Falésia Vista a Distância
As feições que se apresentam no litoral impõe uma tipologia de formas e, no caso em
destaque na ruptura dos baixos planaltos costeiros, surge a falésia, seguida pelas planícies
costeiras que são áreas de deposição praieira - praias. Há ainda como formas litorâneas as
enseadas e restingas.
Quando se fala ver a falésia de um ponto distante, isso quer dizer olhá-la de longe:
no espaço e no tempo. A visão espacial é de forma: aérea, horizontal e oblícua tendo vista
panorâmica a partir da enseada do Cabo Branco em direção a barreira e, no caso temporal
através de fotos postais e aerofotos antigas. Assim como entrevistas a moradores locais,
como foi o caso da entrevista ao Sr. Gilson, residente na av. Cabo Branco, proprietário e no
local a 35 anos.
O olhar para a barreira caída no sentido contrário norte/sul se deu pelas condições
impostas pela direção norte da corrente, onde estas conduziram o material abatido pelas
ondas no sentido da enseada da praia do Cabo Branco. As manchas de turbidez
permaneceram na zona de arrebentação das ondas, aproximadamente três a quatro dias e
distante da área inicial entorno de um quilômetro.
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Até onde a turbidez da água do mar era bem nítida, mais ou menos um quilômetro de
distância (rumo
norte), coincide com
a residência do Sr.
Gilson e, bem em
frente à sua
residência há um
fator de elevado
interesse, há
indícios de que o
mar já havia
encostado bem
próximo a rua, pois
há aí um muro de
arrimo, cujo
material interno é de
rocha calcária e a
poucos centímetros
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foi construido outro muro de arrimo de rocha granitica e uma tela de arame galvanizado.
Segundo informações do Sr, Gilson, confirmando nossas hipóteses, o mar já havia
chegado até na área em que hoje é a av. litorânea. Informou ainda que a área em que hoje se
encontram os restaurantes Bargaços e Marinas, a falésia já foi viva, e por ocasião do
governo do prefeito Hermano Almeida a via litorânea foi construída empurrando o mar para
fora da falésia. Este fato pode ser confirmado analisando as aerofotos de l969 (anexo I), que
visto em estereoscopia, realça bem a questão do mar encontrando-se com a falésia. Observa-
se que na época em que foi feita a aerofoto não havia ainda avenida, pois havia sim uma
estrada que terminava no sopé da barreira do Cabo Branco.
Ainda olhando a falésia/barreira a partir de uma distância significativa,
aproximadamente um Km, surgem novas observações e estas trazem, talvez, a chave para
explicar a causa do deslizamento.
Como já foi visto e mostrado a barreira sofre um ataque constante de agentes
degradantes de ordem natural, mas surge o componente antrópico (sócio-econômico) que é
bem marcado na superfície da área pela ausência de vegetação. Olhando ainda à distância há
um sulco na vegetação, sendo uma lacuna vegetacional e preenchida pela estrada do farol e,
o que é mais drástico exatamente sobre o bloco abatido onde há o desflorestamento. A
ausência de vegetação é neste caso, um indicador de que o ataque do intemperismo e da
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da erosão, na base e no “front” da falésia são complementados também pela superfície
desnuda. É, nesse momento, interessante que se observe e ressalte não o interior da
superfície tabular, mas sim o rebordo do tabuleiro, sendo este sensível e sua fragilidade
aumenta em função também de inclinação da encosta (mais de 70º), aumentando assim a
responsabilidade da coroa vegetal que sobrepõe.
Fazendo uma leitura por dentro da paisagem vegetal que está imediatamente acima
do bloco abatido é bem nítido o desflorestamento e, o que é mais grave, há indícios de
pequenas áreas de blocos fraturados, onde uma vibração provocada por ondas de trepidação
(exemplos: veículos na estrada) podem contribuir para abatê-lo. A faixa de superfície com
solo exposto entre a calçada, rua e a rebordo do penhasco é de dezenove metros, haja visto
que é um solo com cobertura de material artificial (presença de metralha7) e, mesmo na área
coberta de vegetação o solo é de baixa qualidade edáfica, dificultando a plantio.
7 Metralha, na linguagem vulgar é o resíduo de obra de construção civil.
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Considerações finais
O elenco de elementos atuantes sobre a área do deslizamento da barreira na falésia
do Cabo Branco é de considerável volume tensionando amplamente aquela paisagem.
Mesmo com uma amostragem de pequeno monte, fica nítido e clareada a situação sensível e
frágil daquela paisagem. Não resta dúvida que todos os conjuntos e subconjuntos de
elementos e fatores atuantes sobre aquela paisagem age ininterruptamente forçando qualquer
zona de fraqueza, sendo esta, creio, o somatório dos componentes estruturais (material
lítico), acoplado a inclinação acentuada do penhasco, que varia de 70 a 90º e a ausência de
vegetação como elemento/elo de força e resistência do rebordo da superfície.
A sugestão para contenção de novos deslizamentos deve ser acompanhada por
trabalhos técnicos vinculados a mecânica de solos e, não se desconsiderar que o material que
é/está sendo retirado do sopé da falésia está sendo depositado, tanto no banco de areia na
frente da barreira, quanto na própria enseada do Cabo Branco possivelmente é elemento de
depósito em que hoje está o muro de arrimo abandonado, que ainda conota caso haja o
rompimento de deposição nesta área, poderá haver a inversão ou seja, a retirada de material
será da enseada não mais da falésia. Há ainda necessidade de trabalhos técnicos de
reflorestamento, assim como reavaliação de parcelamento do solo urbano no entorno.
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E para concluir estas considerações se recomenda uma atenção ampliada, pois toda
extensão da barreira está suscetível ao desabamento, logo é u ma á r e a d e a l t o r i s c o
tanto para quem está embaixo como para quem está acima, destarte que há avanços na
erosão regressiva, ou seja, a borda da falésia recua a partir de cada deslizamento em direção
a estrada.
Como sugestão emergencial
Convocar peritos em mecânica de solos do Grupamento de Engenharia do Exercito,
da UFPB – CT e da Escola Técnica Federal da Paraiba, para caracterizar a estrutura da
barreira assim como testar a capacidade de rsistência relacionada a vibração de origem
diversa
Convocar peritos em botânica e florestamento da UFPB, do IBAMA e da SUDEMA
para definir melhor os individuos que deverão ser instalados para colonizar a área.
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Este Laudo Pericial contou com a parceria dos estudantes estagiários ecolaboradores do LABEMA (Laboratório de Estudo, Metodologia e
Aplicação) – Geociências – CCEN – UFPB.
Prof. Paulo Roberto de O. RosaGeociências/CCEN/UFPB