Post on 16-Dec-2018
LEITURA E ANÁLISE DE CONTO POR MEIO DO DIALOGISMO
Autor: Luiz Francisco da Silva*
Orientador: Bruno B. A. Dallari*
RESUMO
O presente artigo refere-se à implementação do projeto PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional da SEED, Secretaria da Educação do Paraná, turma 2012 a 2013, intitulado Leitura e análise de conto por meio do dialogismo que foi desenvolvido no Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, na cidade de Pinhais, Pr. Todo o trabalho foi organizado após o reconhecimento das dificuldades de trabalhar a leitura e a produção de texto com os alunos do Ensino Fundamental. As atividades foram desenvolvidas com uma turma de 6º ano; foram iniciadas com a leitura de um conto que foi explorado a partir de perguntas sobre o mesmo, bem como de suas características enquanto gênero literário. Na sequência os alunos analisaram diálogos extraídos de um blog, fazendo comparações entre as falas dos internautas e a fala dos personagens de um novo conto. Depois desses primeiros contatos com os diálogos apresentados no blog e nos contos, os alunos leram e comentaram novos contos postados no blog; comentários esses que foram feitos a partir de questões norteadoras. Em sala de aula houve conversas dirigidas pelo professor a respeito da importância do diálogo e da internet enquanto espaço público. Ao lerem novos contos foram retomados os elementos da narrativa que depois de serem reconhecidos nos contos lidos, foram trabalhados diretamente em textos produzidos pelos próprios alunos. Os textos escritos e reescritos pelos alunos foram postados no blog, onde puderam ser acessados por colegas, pais e professores que lá deixaram seus comentários sobre os textos produzidos pelos alunos envolvidos neste projeto de implementação pedagógica.
Palavras-chave: Leitura, conto, blog, produção de texto.
*Luiz Francisco da Silva – Graduação em Letras, Faculdade “Tuiuti”, Brasil. Especialização em Magistério de 1º e 2º graus, IBPEX, Brasil.
*Bruno B. A. Dallari – Graduação em Linguística, Unicamp, Brasil. Especialização em Artificial Inteligente Natural Language Processing, University Of Edinburgh. Mestrado em Linguística, Unicamp, Brasil. Doutorado em Linguística, Unicamp Brasil.
1. INTRODUÇÃO
Com as novas tecnologias digitais foram surgindo novos espaços públicos, novos
gêneros textuais, onde o diálogo é um fazer contínuo e democrático que permite a
participação de todos, de diferentes classes e categorias, da abordagem de um
determinado tema. Entre os gêneros escritos advindos da internet, o blog é um dos
gêneros que mais se aproximam da oralidade. É no blog que autores e participantes
expressam livremente suas opiniões a respeito de assuntos em destaque na mídia,
podendo, a seu critério, retomar ou não o diálogo, visto ser este um espaço de
conversas registradas. Sendo o blog também considerado um espaço público
midiático, de interesse comum a todos, foi então justificável buscar nos diálogos que
nele circulam um referencial de leitura e análise da multiplicidade de pontos de vista
para que em face disso pudesse inserir no universo do aluno os diálogos
apresentados em outro gênero, sendo este de grande valor literário. É então no
panorama literário que encontramos o conto, gênero que nos remete aos tempos
remotos, onde as famílias e seus agregados se juntavam para ouvir e contar
histórias. Ao longo do tempo essa atividade puramente oral passou da oralidade à
escrita e, pela sua natureza e especificidade, foi se firmando como um gênero
escrito. Por ser o um gênero narrativo com um único evento e com um desfecho
aligeirado e surpreendente, é um gênero que apresentado aos alunos, uma vez
familiarizados com este ritmo ágil e acelerado que predomina nos ambientes virtuais,
será sempre bem recebido no interior da escola. Tendo em vista a boa aceitação do
conto e o frequente uso da internet pela maioria dos alunos, o projeto teve a
intenção de abarcar os dois gêneros, blog e conto, usando de uma mesma temática
de relevância significativa à faixa etária de seu público-alvo, crianças de 10 a 12
anos, e assim trabalhá-los num perspectiva interacionista e dialógica.
1.1. O blog
O blog surgiu em meados dos anos 90 como um recurso onde as pessoas poderiam
comentar sobre fatos e situações que julgassem importante para o momento. No
início, este recurso recebeu o nome de weblog, mas já nos primeiros anos tornou-se
conhecido apenas como blog, palavra mais curta e de fácil pronúncia. Sendo ele um
gênero ou suporte gratuito para outros gêneros, muitas pessoas começaram a
utilizar-se do mesmo simplesmente para divulgar links de sites ou de outros blogs,
cujo assunto tratado poderia ser de interesse comum a todos. Com o aprimoramento
do sistema e a facilidade de se criar um blog, os usuários passaram a publicar seus
próprios textos, atrelados, muitas vezes, a uma imagem, e que, devido às novas
configurações do sistema, começou a permitir comentários daqueles que deles
participavam. O blog, além ser considerado um suporte midiático, é também um
gênero textual que pode ser definido como um diário virtual ou eletrônico no qual
veiculam geralmente textos de pouca extensão e de abrangência bastante
diversificada. É comum encontrar textos escritos e postados pelos próprios autores
dos blogs, no entanto há blogueiros que preferem postar textos de outros autores,
inclusive textos literários, permitindo que os participantes interajam entre si,
contribuindo e estimulando a reflexão do sobre o texto postado. O blog, bem como o
Facebook, são atualmente utilizados por quase todas as camadas sociais, em
especial, pelos jovens que se encontram em fase escolar.
1.2 . O conto
O conto por sua vez é um gênero de tradição oral que nos remete aos tempos
remotos, onde as famílias e seus agregados se juntavam para ouvir e contar
histórias. Era um momento em que todos se faziam iguais, contando cada qual, a
seu modo, a sua história. Ao longo do tempo essa atividade puramente oral passou
da oralidade à escrita e, pela sua natureza e especificidade, foi se firmando ao longo
do tempo como um gênero escrito, sendo reconhecido pelo nome de conto. Com a
generalização da alfabetização e expansão da imprensa no século XIX, grandes
contistas surgiram pelo mundo afora. Enquanto nos Estados Unidos Edgar Alan Poe
se destacava como um dos grandes contistas, no Brasil o conto escrito conquistava
seu espaço pelas mãos de Machado de Assis que abria caminho para outros
grandes nomes como Monteiro Lobato e Clarice Lispector. Como toda obra ficcional,
o conto apresenta um universo de seres e acontecimentos que, muitas vezes,
dependendo do estilo do contista distancia-se da realidade, beirando o fantástico, o
maravilhoso. O conto tem uma estrutura fechada, apresentando apenas um evento,
um acontecimento significativo, porém, como em outras obras de ficção, ele também
apresenta os elementos comuns à narrativa: narrador, personagem, tempo, espaço
e enredo. O conto por ser um texto de pequena extensão, é mais conciso, mais
aligeirado e mais denso. Devido sua brevidade, densidade e a presença eventual de
elementos fantásticos, o conto, mesmo com sua complexidade, se faz mais
envolvente que muitos outros gêneros literários, possibilitando sua inserção no
universo escolar e propiciando aos alunos uma experiência de leitura com este
gênero de grande valor literário.
2. JUSTIFICATIVA E ABORDAGEM TEÓRICA
De acordo com pesquisas e observações de professores das diversas áreas do
conhecimento um dos maiores problemas da educação atual é a falta de leitura
entre os alunos que, como consequência, apresentam uma grande dificuldade de
compreender e produzir textos. Com a falta de estímulo dos pais e, diante das
tecnologias do mundo moderno, o desafio de estimular o hábito da leitura se mostra
ainda muito maior. No entanto quando nos voltamos a essas tecnologias e
reconhecemos que com elas surgem novos gêneros textuais, vemo-nos diante de
um advento que aliado a nossa necessidade de comunicação torna-se um elemento
extremamente motivador para a prática da leitura e da produção textual. A proposta
de trabalhar o conto por meio do dialogismo recorrendo ao blog é de fato uma forma
de interação da literatura com o espaço público. É construir uma verdadeira interface
entre a vida e a literatura, propiciando com isso o reconhecimento da mídia como um
espaço de concentração dos discursos que circulam na sociedade que, de acordo
com Dallari (2010) “Para o bem ou para o mal, a mídia intermedia a circulação
linguística da sociedade, do mesmo modo que os bancos intermediam a circulação
financeira”. Como o público-alvo deste projeto foram alunos de 6º ano é preciso
considerar bastante pertinente a escolha do tema infância, situações vividas por uma
criança, para ser abordado tanto no blog como no conto, recuperando assim os
diálogos, ainda que implícitos, nas diferentes instâncias, pois o tema se aproxima,
de um modo ou de outro, do universo do aluno, que se vê representado na figura
dos personagens, identificando-se com suas aventuras, com seus sonhos e seus
desejos. O envolvimento do aluno com textos orais ou escritos, impressos ou digitais
deve desprendê-lo, como leitor e ouvinte, de suas amarras e inseri-lo em um novo
contexto onde a possibilidade renovar sua percepção de mundo é indiscutível, onde
o diálogo torna-se um fazer constante.
O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido mais amplo, isto é, não apenas como comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. (Bakhtin, M. Marxismo e filosofia da linguagem, 2010, p. 127).
A escola, tendo a função de formar sujeitos ativos, capazes de aceitar ou não as
ideias apresentadas a eles para que desse modo possam garantir seu espaço na
sociedade que se ratifica pela busca de informações e conhecimento, a prática de
leitura se faz urgente, pois é a partir da prática da leitura contínua que o homem se
define com sujeito autônomo que se reconhece e se posiciona perante o contexto no
qual está inserido.
Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso. (SEED. DCE, 2008, p. 57)
3. O USO DO BLOG E DO CONTO NO PROCESSO DE ESTÍMULO Á
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
Ao expor a proposta de trabalhar a leitura recorrendo ao blog notou-se que a
maioria dos alunos fazia uso somente do Facebook, pois ao serem questionados
sobre o uso ou não de e-mail, os alunos mostraram desconhecer tal recurso, já
que não souberam dizer o que era e nem para que servia, neste instante foi
necessário esclarecer o que é e-mail e qual sua função e assim sucessivamente
a função de cada um destes espaços virtuais (ou novos gêneros textuais) mais
utilizados e orientá-los quanto à exposição demasiada, neste caso, no Facebook,
exposição que faziam ingenuamente, sem pensar nas possíveis consequências,
como assim foi dito por uma aluna “Ah, professor! Todo mundo tem. Se fosse
assim minha mãe não teria”. Enquanto outro colega da sala disse de modo
zombeteiro “O blog é muito paia, professor. É muito sem graça. A gente não
conversa com ninguém. Não faz amizade.” Esse talvez tenha sido o único aluno
a ter tido anteriormente contato com o blog já que a primeira vista parece mesmo
que o blog não é capaz de suprir as necessidades dos internautas mais
apressados. Depois de toda a explicação sobre o uso do blog, explicação
detalhada da função específica de cada um e, consequentemente o porquê da
diferença entre ambos, os alunos tornaram-se mais dispostos a conhecer o blog,
mas como sendo ele uma grande novidade e, sendo assim, a fala do professor
quanto à exposição demasiada no Facebook passou a fazer mais sentido. Depois
de tudo esclarecido, foi entregue a turma para que lessem alguns diálogos
impressos extraídos de um blog, cujo assunto era o desempenho de uma atriz
mirim em uma telenovela. Lendo os comentários foi possível perceber que muitos
dos participantes de tal blog não conseguiram estabelecer o limite entre a
realidade e a ficção, o que foi percebido imediatamente pelos alunos que
apontaram certas incoerências entre as falas dos internautas. A participação de
um internauta que entra na discussão escrevendo coisas aleatórias, coisas
totalmente fora do contexto, dando a impressão de que não estava inteirado do
assunto proposto e nem queria estar, pois somente queria, de uma forma ou de
outra, participar, interferir, mostrar que existia, e isso levou a turma toda a um
momento de descontração e muito riso, e com isso puderam fazer muitas
observações em relação a eles mesmos que, muitas vezes ao término de uma
explicação, quando o professor diz que se houver alguma dúvida que perguntem
e então vem aquele aluno desatento, perguntando “Professor, quantos anos você
tem?” Pergunta essa que nada tem a ver com o conteúdo abordado, pergunta
que parece ter sido feita apenas para dizer “Olhe, estou aqui e faço perguntas”.
Quanto à explanação e inserção do gênero conto na sala de aula, não houve
nenhuma dificuldade, visto ser esse um gênero bastante comum, quase sempre
encontrado em livros didáticos, além de que o conto Negócio de menino com
menina, da autoria de Ivan Ângelo, selecionado para esse momento foi
bastante apropriado à faixa etária da turma envolvida, crianças de 10 a 12 anos.
O conto fez-se apropriado por apresentar as características mais marcantes
desse gênero, bem como por seu tema, que de um modo ou de outro muito se
aproxima do universo do aluno, da criança, inclusive teve um aluno que disse
após a leitura do conto “Já passei por uma situação bem parecida com essa, mas
no final da conversa acabei ganhando um cachorrinho, e não um passarinho, de
uma senhora, que também não era nenhuma menina”. Para refletir e discutir a
importância da literatura enquanto representação da realidade foi lido o conto
Lavínia, de Moacir Scliar, cujo personagem central foge da realidade usando da
presença fictícia de outro personagem, mantendo com ele um monólogo
constante. Para trabalhar os contos por meio da leitura postado em blog o
professor criou o blog Contos & Comentários, apesar das dificuldades e pouca
prática do professor, o mesmo pode ser criado seguindo as orientações
encontradas em sites que mostram passo a passo como construir um blog e
organizá-los de forma atraente. Para encontrar esses sites de orientação de
construção de blog, basta digitar na página inicial de busca: como criar um blog.
Um bom número deles orienta por escritos, porém há outros que orientam
através de vídeo-aula. No desenvolvimento das atividades alguns entraves foram
encontrados, o que exigiu do professor uma ligeira mudança nas atividades, mas
que em nada prejudicou o desenvolvimento das mesmas. O blog quando foi
visitado pela primeira vez, grande parte dos alunos precisou de auxilio para
acessá-lo, pois nem todos mostraram ter de fato uma intimidade com a internet,
com tais recursos ou espaço midiáticos, a intimidade ou familiaridade estava
apenas no acesso ao Facebook. Depois de já estarem na página do blog
fizeram a leitura do conto Os Cavalinhos de Platiplantos, de José J. Veiga, o
qual foi comentado oralmente a partir de questões previamente preparadas pelo
professor. No entanto, quando o blog deveria ser revisitado para a leitura e
comentários escritos de um novo conto lá postado, o Laboratório de Informática
ficou sem internet, não sendo possível desenvolver a atividade planejada: a
leitura virtual, isto é, a leitura do conto Felicidade Clandestina, de autoria de
Clarice Lispector. O laboratório ficou sem acesso a internet por mais de uma
semana e com isso foi possível ouvir de alguns alunos falas mais ou menos
assim: “Logo agora que ia ficar legal, que a gente ia poder escrever, teve que cair
a internet.” Por outro lado, os alunos, como já haviam acessado o blog em
momento anterior a esse, tomaram a liberdade de acessá-los de suas casas ou
de alguma lan house, agilizando com isso o trabalho de leitura e compreensão do
texto. Então, quando voltaram, em uma aula posterior, ao laboratório para a
leitura digital do conto acima citado, restou ao professor fazer somente o
questionamento, usando de questões norteadoras previamente preparadas, que
conduziu os alunos à reflexão e construção de breves comentários sobre o conto
e a postagem dos mesmos no blog em questão. No desenvolvimento dessa
atividade ficou claro que boa parte dos alunos, salvo algumas exceções, julgava
que pelo fato de estar em um espaço da internet, espaço público virtual, teria de
escrever usando de abreviações e símbolos, tais como são feitos em sala de
bate-papo ou chat, não podendo nesse espaço usar da escrita convencional de
um texto impresso que segue, até certa medida, a linguagem padrão ou a
linguagem convencional de um livro, bem como foi dito por um aluno no momento
da escrita dos comentários “Professor, meu colega está dizendo que tudo tem de
ser abreviado. Não é verdade que não precisa? As pessoas que fazem isso,
fazem porque querem. O que faço?” Com essa situação apresentada foi
necessário interromper a elaboração dos comentários, bem como de suas
postagens para que houvesse um esclarecimento quanto à escrita e a linguagem
a serem utilizadas nos diferentes espaços e contextos, não somente na internet.
O blog que foi criado a princípio apenas para o trabalho proposto pelo projeto de
intervenção pedagógica, com uma turma selecionada foi, depois da divulgação
do mesmo em outras salas de 6º ano, acessado então por alunos não
participantes do projeto que após a leitura dos contos abertos a comentários,
também lá deixaram os seus. Com essa participação espontânea de outros
alunos, não preparados pelas atividades, não conduzidos pelas questões
norteadoras, foi possível reconhecer a diferença entre os comentários desses e
daqueles. Os alunos envolvidos com as atividades desde o início da
implementação do projeto mostraram-se mais concisos e coerentes em suas
observações sobre o conto Felicidade Clandestina, de autoria de Clarice
Lispector, postado no blog, eis dois comentários, o primeiro feito por um aluno
envolvido com o projeto: “Eu achei esse texto maravilhoso! A menina tomou por
amante o livro que ela queria tanto ler. Quando eu leio um texto ou um livro
geralmente eu me apaixono e quero ler e saber mais sobre o assunto... Muito
boa a história, amei!” E o segundo postado por um aluno não envolvido com o
projeto “Gostei. O do J. J. Veiga é mais legal.” Os comentários feitos evidenciou
claramente que houve compreensão, pois assim puderam inclusive usar da
inferência ao comentá-lo. Para maior entendimento dos elementos da narrativa, o
conto Negócio de menina com menino, de Ivan Ângelo, foi retomado e usado
para treino de leitura dramática, deixando bem marcada a distinção e
aproximação entre os dois elementos essenciais de um texto narrativo:
personagem e narrador. Depois de duas aulas feitas somente de treino, a leitura
dramática deveria ser feita em sala de aula, porém, somente por grupos
voluntários, mas que, no entanto, acabou sendo apresentadas por todos os
grupos, que para finalizar decidiram escolher entre a turma o melhor grupo e o
melhor leitor e, para surpresa do professor, elegeram um aluno de Sala de
Recurso, com grande dificuldade de leitura, justificando inclusive o porquê da
escolha. A escolha, segundo eles, foi baseada no avanço, no progresso do
colega enquanto leitor de texto em voz alta. No decorrer na implementação do
projeto os alunos, além da leitura e análise de contos impressos e virtuais foram
construindo seus próprios textos que, em razão das dificuldades na produção
textual, devido a grande defasagem de conteúdo desde as séries iniciais, foi
necessário trabalhar sistematicamente a estrutura de um texto narrativo, bem
como do todo o léxico que envolve cada texto e seu contexto, incluindo
pontuação e paragrafação. Após exaustivo trabalho com esses alunos, os
mesmos começaram a produzir seus textos que se mostraram coerentes,
concisos e maduros, o que já foi possível perceber comparando os comentários
deixados por aqueles alunos que acessaram livremente o blog. Além dos textos
dos alunos e dos autores consagrados da literatura brasileira, selecionado pelo
professor para desenvolver durante o processo de implementação do projeto,
foram também postadas sugestões de leitura de outros contistas não
selecionadas para este trabalho, mas que também são de grande importância
quanto esses. Tais sugestões tornaram o gênero em questão um dos mais
procurados, segunda uma das funcionárias da biblioteca do colégio, durante o
período de implementação do projeto. Após a leitura e análise de diversos contos
impressos ou virtuais, os alunos começaram então definitivamente construir seus
próprios textos, tomando como referência os contos lidos ou escolhidos no
próprio livro didático que foi trabalhado paralelamente ao projeto. Depois dos
textos escritos, lidos, comentados em sala e corrigidos pelo professor, foram
reescritos e postados pelo professor no blog Contos & Comentários, infelizmente
não foi possível expor todos os textos, pois alguns pais não permitiram a
postagem dos textos de seus filhos, nem mesmo quiseram compreender a
importância disso, apenas deixaram de assinar a autorização para publicação
dos mesmos no blog. Entre os textos autorizados pelos pais e postados no blog,
vale destacar o texto da aluna Larissa de Toledo e do aluno Bruno Pordecte nos
quais fica visível a influência dos contos trabalhados durante o desenvolvimento
das atividades, pois todos os contos selecionados para esse fim, pois ambos têm
como protagonista uma criança, cujo desejo de ter, de possuir, de pertencer se
revela do mesmo modo que se revela o desejo da personagem protagonista de A
Boneca de Juliana, bem como no texto O Presente, do aluno Bruno Pordecte,
cujo narrador-personagem, após tantos anos, ainda guarda com todo cuidado o
carrinho que ganhou na infância.
A Boneca de Juliana
Juliana caminhava pelo seu bairro quando viu uma boneca jogada no meio da rua. Ao pegá-la notou que era muito semelhante a uma que ela sempre quis quando criança. Vendo-a com uma perna rasgada, tratou logo de consertar.
Carmem, a dona da bonequinha de pano, achou que a malvada estava estragando sua boneca, por isso, com muito medo, saiu correndo sem dizer nada. Logo depois Juliana viu Carmem chorando e foi ver o que estava acontecendo. A menina estava tão nervosa que nem reconheceu Juliana e com isso contou que estava triste porque havia perdido sua boneca de pano. Juliana disse que estava com ela e devolveu-a, mas seus olhos continuaram brilhando quando olhava para a boneca. Carmem, mais calma, notou o brilho nos olhos da menina quando se dirigia à boneca.
No dia seguinte, bem cedinho, Carmem foi à casa de Juliana e deu-lhe uma outra boneca igualzinha a dela, só um pouco mais nova. Hoje, quase setenta anos depois, a tão desejada boneca está no quarto da neta de Juliana que diz sempre que vê sua avó: - Vó, essa boneca, se depender de mim, vai ser daquela que passam de geração a geração.
LARISSA DE TOLEDO
O Presente
Um dia eu estava saindo do mercado com algumas compras e na esquina de casa de casa encontrei minha tia. Ele me deu um pacote, um presente, mas como minha mãe sempre dizia que não se deve abrir coisas na rua, esperei chegar em casa. Quando cheguei, já do portão gritei: - Mamãe, mamãe, vem ver o que eu ganhei da minha tia! - Já vou, meu amor. Já vou. Quando abri o pacote vi que era um carrinho, o Relâmpago Maquim. Os anos se passaram. Hoje estou com trinta e dois anos, casado e com seis filhos e no meu quarto, na prateleira está o carinho, uma coisa muito especial que de lá nunca sairá.
BRUNO PORDECTE
Depois da postagem dos textos dos alunos, o blog foi revisitado pelos próprios
alunos e visitado pelos pais dos alunos e professores, entre outros que registraram
seus comentários, conforme os exemplos a seguir: “Nossa! Professor Luiz
Francisco, fiquei muito feliz quando meu filho comentou que seu texto estava no
blog, e depois que li, fiquei ainda mais orgulhosa do filho que tenho. Valeu a pena
seu esforço, gostei também dos textos dos outros alunos, por isso digo: obrigada por
valorizar e se preocupar com eles.” “Luiz, quanta alegria você me proporcionou a
este meu coração de escritora que se vê motivado e esperançoso de dias melhores
para a literatura brasileira. Parabéns a você e aos alunos pelo belo trabalho!”
“Professor, todos os textos ficaram muito legais. O que eu mais gostei foi o do Josué
Moraes porque ele contou sua história real e nela não se deu de coitadinho, apenas
mostrou que foi capaz de enfrentar tudo que aconteceu na vida dele”.
4. Considerações finais
A formação de leitores e produtores de textos é, com toda certeza, um dos objetivos
da disciplina de Língua Portuguesa, senão da maioria das disciplinas que compõem
a grade curricular do Estado do Paraná. No entanto, visando à leitura ampla de
diferentes gêneros, inclusive daqueles de grande circulação nos espaços midiáticos,
faz-se necessário o aprimoramento do professor em relação às novas tecnologias,
bem como o estímulo da leitura constante, pois o professor também precisa ser leitor
e produtor de textos, já que o resultado de seu trabalho é consequência de seu
desprendimento e atitude frente à leitura em sentido amplo. O trabalho desenvolvido
com os alunos mostrou o quão importante é utilizar-se dessas novas ferramentas,
visto a maioria dos alunos terem acesso a essas ferramentas, mas não usá-las de
forma indiscriminada, de forma irresponsável e ingênua. O fato de trabalhar um
gênero clássico como o conto recorrendo ao blog, notou-se que as novas
tecnologias quando bem exploradas são extremamente úteis ao processo de ensino
e aprendizagem. A leitura e a compreensão de um conto que antes poderia ser uma
atividade maçante, sendo ela ainda selecionada pelo professor, passou a receber
um novo olhar. Os alunos mostraram-se mais interessados na leitura e produção de
seus textos, tendo sempre o cuidado de escrever procurando utilizar de novas
palavras, de uma linguagem mais clara, mas harmônica, assim como não poderia
deixar de ser, tornaram-se mais atento ao uso das regras gramáticas até para
aqueles que só faziam uso das mesmas apenas em momento de avaliação
sistemática. O aumenta no número de alunos procurando por contos junto à
biblioteca do colégio é mais uma prova de que a leitura pode ser ainda muito
explorada no interior da escola, isso não vale somente para o conto, vale para todos
os outros gêneros, sejam os gêneros textuais impressos ou virtuais.
5. Referências
ANTUNES, Irandé. Aula de Português. 7ª ed. São Paulo: Parábola, 2009. BAKHTIN, Michael (Volochínov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 14ª ed. São Paulo: Hucitec, 2010. DALLARI, Bruno B. A. Mídia, Cidadania e as práticas de letramento. 2010. FIORIN, José L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008. Lispector, C. Felicidade Clandestina. 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Scliar, M. Os Melhores Contos. 3ª ed. São Paulo: Global, 1998. SEED. Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental. Paraná. 2008. SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma perspectiva social. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1992. Veiga, J. J. Os Cavalinhos de Platiplanto. Rio de Janeiro: Bertrand, 2008. Angelo, I. De conto em conto. São Paulo. Ática. 2001. Endereços eletrônicos:
Já estou ficando emocionada com tanto carinho. tv.yahoo.com... http://www.youtube.com/watch?v=VD4rnGbIvIE http://litcom2013.blogspot.com.br/