Post on 15-Feb-2015
Nome: Ronaldo Alves Ribeiro dos Santos Data: 01/10/2012
LITERATURA COMO MISSÃO – NICOLAU SEVCENKO
Iniciamos o projeto de Iniciação Cientifica – financiado pelo CNPq com a leitura de
dois livros de Nicolau Sevcenko, Literatura como Missão. Nesse livro Sevcenko apresenta um
quadro da nossa Bella époque, centrando sua análise critica em duas figuras importantes, mas
que se tornaram marginalizadas tanto politica quanto intelectualmente, Lima Barreto e
Euclides da Cunha.
A Bella Époque Brasileira, também conhecida como Belle Époque Tropical, foi um
período artístico, cultural e político do Brasil, que começou com a derrocada do Império e a
proclamação da República em seguida. Esta “Belle Époque” teve início no mandado do
primeiro presidente do país, naquela época, Deodoro da Fonseca, no final de 1889, e acabou
em 1922.
Com a queda da Monarquia e a ascensão da República, desejou-se inaugurar no Brasil
uma nova era, por isso, procurou-se minimizar tudo o que podia reportá-los o Imperialismo e
a colonização portuguesa. Como a Europa era vista como grande civilização1, o Brasil tentou
aproximar sua cultura da cultura francesa e italiana. Nessa época tivemos no Brasil a fundação
de Belo Horizonte, cidade planejada, e as grandes reformas urbanísticas empregadas no Rio
de Janeiro, então Capital Federal, por Pereira Passos e Rodrigues Alves.
Este período foi caracteriza por forte moralismo e também pela repressão sexual,
ideias de comportamento típico da era vitoriana. A unidade monetária no Brasil ainda era os
réis, um padrão instituído pelos portugueses na época colonial.
Nicolau Sevcenko escolheu Euclides da Cunha e Lima Barreto, porque ambos
possuíam a consciência de que alguma coisa por partes dos escritores literários tinha que ser
feita pelo povo brasileiro para retirá-los da situação de miséria e da ignorância que vivia,
abandonado pelos governos, consequência da própria organização social e política do país,
quer sob o Império, quer sob a República.
Lima Barreto optou por uma literatura militante. Euclides da Cunha embora não tenha
assumido uma Literatura Militante engajou-se em uma literatura de base política e social. Ele
1 Entenda Civilização como o estágio mais avançado de uma sociedade.
afirmava o seguinte: “Um homem de letras devia ser o contrário de um beletrista ou afeito
exclusivamente ao belo, isto é, apenas interessado pelo papel da literatura, sem qualquer base
política ou social”.
O estudo da literatura conduzido no interior de uma pesquisa
historiográfica, todavia, preenchem-se de significados muitos
peculiares. Se a literatura moderna é uma fronteira extrema do
discurso e o proscênio dos desajustados, mais do que o
testemunho da sociedade, ela deve trazer em si a revelação dos
seus focos mais candentes de anseio de mudança do que os
mecanismos da permanência. Sendo um produto do desejo, seu
compromisso é maior que poderia ou deveria ser a ordem das
coisas, mais do que com seu estado real.2
Nesse sentido, enquanto a historiografia procura o ser das estruturas sociais, a
literatura fornece uma expectativa do seu vira-se. Utilizo as palavras da Poética de Aristóteles
para expressar esse contraste:
“Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem
verso ou prosa (pois que bem poderiam ser postas em verso as
obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história, se
fosse em verso o que eram em prosa) – diferem, sim, em que diz
um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder”.3
Portanto, afirmo que ocupa-se o historiador da realidade, enquanto o escritor é atraído
pela possibilidade.
Sevcenko reflete em sua obra o momento político que o Brasil estava vivendo e quais
foram suas principais heranças deixadas na cultura brasileira. Um dos elementos que o autor
não perde de vista, é de demonstrar a todo o momento como o Rio de Janeiro, abriu o século
XX. Utilizo as palavras do autor para recompor meu pensamento:
Aproveitando de seu papel privilegiado na intermediação dos
recursos da economia cafeeira e de sua condição de centro
político do país, a sociedade carioca viu acumular-se em seu
2 3
interior vastos recursos enraizados principalmente no comércio e
nas finanças, mas derivando já também para as aplicações
industriais.4
O Rio de Janeiro neste momento era “o mais amplo mercado nacional de consumo e
mão de obra”5, o que proporcionou mais facilidade na expansão de suas vendas e lucros. Mas
a decadência da produção cafeeira do vale do Paraíba e o envio da produção para o Oeste
Paulista para o porto de Santos se tendiam a diminuir a atividade de exportação do Rio de
Janeiro, foram, entretanto muito pelo contrário o que aconteceu, houve o aumento das
importações e do comércio de cabotagem, que fizeram crescer em mais de um terço o
movimento portuário carioca no período de 1888 a 1906.6
A experiência de “democratização” do crédito levada a efeito pela política do
Encilhamento levou essa aproximação latente ao auge do paroxismo Pesquisando sobre o
Encilhamento encontrei uma artigo e resumirei um pouco acerca..
Aumento de trabalho assalariado, grandes leva de imigrantes estrangeiros, forte
crescimento industrial, e aceleração do dinamismo das atividades econômicas. Este era o
cenário exuberante vivenciado no Brasil após a proclamação da República, em 1889. O
reverso destas mudanças, entretanto, foi a crise que se abateu sobre o país nos anos de 1890 e
1891, particularmente nas praças comerciais do Rio de Janeiro e São Paulo. A turbulência
economia ficou conhecida como “Encilhamento”, expressão extraída do vocabulário utilizado
em hipódromo, e que designava o clima de confusão, desordem das corridas onde os jóqueis
encilhavam seus cavalos.
A mudança que aparentava colocar fim as atividades de lucros do Rio de Janeiro deu-
se totalmente ao contrário, o Rio passou a ser o maior centro cosmopolita da nação. Mas a
República pedia a remodelação dos hábitos sociais e dos cuidados pessoais.
Era preciso ajustar a ampliação local dos recursos pecuniários
com a expansão geral do comércio europeu, sintonizando o
tradicional descompasso entre as sociedades em conformidade
com a rapidez dos mais modernos transatlânticos7.
4 5 6 7
Nessa afirmação de Sevcenko fica evidente a preocupação em modernizar a cidade
carioca para que estivesse em condições e acompanhasse o desenvolvimento acelerado, pois
estavam lucrando muito dinheiro e havia necessidade de investir-se para que houvesse
condições de continuarem com a expansão dos lucros. A velha estrutura do Rio de Janeiro
precisava ser mudada, pois já não estava suportando as demandas dos novos tempos. O antigo
cais era pequeno, dificultava o trafego de navios e tornava-os lentos. As ruas eram estreitas e
declives precisavam passar por manutenção, pois dificultava o acesso ao comércio de atacado
e varejo da cidade. As áreas pantanosas eram focos de doenças transmitidas por mosquitos,
tais como: febre tifoide, varíola e febre amarela. Portanto, precisava acompanhar o progresso,
e, naquele caso, para haver progresso tinha que alinhar-se aos padrões e ritmo de
desdobramento da economia européia.
O centro do Rio de Janeiro colonial estava tomado por imensos pardieiros8 tomado por
pessoas pobres. Essa população foi mandada para os subúrbios ou para os morros que cercam
a cidade e, no lugar daquele casario ergueram-se prédios rigorosamente copiados das grandes
capitais europeias, inaugurando-se em 1904 a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco,
para dizer ao mundo que nos trópicos havia uma civilização. Sevcenko escreve que havia
vários princípios básicos que deveriam ser realizados a qualquer custo:
Assistia-se à transformação do espaço público, do modo de vida
e mentalidade carioca, segundo padrões totalmente originais; e
não havia quem pudesse se opor a ela. Quatro princípios
fundamentais regeram o transcurso dessa metamorfose (...): a
condenação dos hábitos e costumes ligados a sociedade
tradicional; a negação de todo e qualquer elemento de cultura
popular que pudesse macular a imagem civilizada da sociedade
dominante; uma política rigorosa de expulsão dos grupos
populares da área central da cidade, que será praticamente
isolado para o desfrute exclusivo das camadas aburguesadas; e
um cosmopolitismo agressivo, profundamente identificado com
a vida parisiense.9
8 Casa ou edifício velho9
Podemos notar atualmente que tal modificação não deixa quase nada de resquícios do
Rio de Janeiro colonial no centro da cidade. O mesmo aconteceu com São Paula, na qual os
burgueses optaram por apagar essas lembranças da história de São Paulo.
Preocupados em acompanhar o desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro, inicia-
se os projetos de modernização tendo em vista à Europa. Preocupados com a minimização da
cultura do Brasil no período colonial, reafirmam a necessidade de incluir no Brasil a cultura
européia.
Dessa forma, Sevcenko, procura demonstrar esse projeto de modernização e inclusão
do Rio de Janeiro, na Belle Époque, através da literatura de Euclides da Cunha e de Lima
Barreto. Os textos que foram escritos naquele momento estão repletos de informações
históricas. Podemos recuperar a historicidade contida nas obras literárias levando em
consideração as recomendações de Antônio Cândido em Literatura e Sociedade: “fundir texto
e contexto numa relação dialeticamente íntegra10”, torna-se possível recuperar através da
literatura a historicidade de determinados períodos.
Portanto, a fundamentação do livro ocorre em dois autores: Lima Barreto e Euclides
da Cunha, principalmente em usar os textos literários produzidos por eles para evidenciar as
marcas da Belle Époque, no Brasil. Afirmo que, a leitura do texto possibilitou além da
compreensão acerca da Belle Époque, no Brasil, também a forma como posso utilizar a
literatura como fonte histórica para determinados estudos, porque posso dos textos literários
retirar além dos conteúdos políticos, como fez Nicolau Sevcenko, elementos que se refiram as
questões sociais, econômicos e culturais. No meu caso, também a respeito da modernidade, no
entanto em uma obra poética de Manoel de Barros.
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