Livro de poesia

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livro de poesia

Cláudio Schuster

livro de poesia reúne poemas dos livros crime perfeito (edição do autor, 1994), risco (edição do autor,1997) e bluz (Editora Bloccos, 1999), além de alguns feitos posteriormente.

Cláudio Schuster é jornalista. Nasceu em 1962, em Pelotas (RS). Mora em Florianópolis desde 1986.

agosto de 2013

para Juliana, Theo e Pedro.

pensar nos diferenciaamar nos poesia

de medo do escuromorro de altura entãonem se fala de tudome assusta um sussurroe gelo todo silênciome arrepia a alma penadaque salta pela janela do quarto do pânico que entro com um simples beijo

se você vempara pouco poucofaz sentidoa um loucovarrido

crime perfeito

venha com violência traga desordemponha tudo a perderdestrua minha vidamate-mee esconda meu corpoentre tuas pernas

diga apenas uma frase incomum dessas que mordem e fazem rir

mal te vejobemteviassovioviropássaro

leveao fogoà chamalevequeimeaos poucoscomo o diabome carregue

quando ela descasca o sole come seu calorderrete um cáliceem chuvas cortantescomo dentes de cristalque cravam em colinas de sanguetemporais de sorrisosque afundam de rirarcas lotadasde mim

dentro de mim dormem teus dentes sobre um sol mordido

corro o risco que rabisco

giro 360 graus de febre suo vinho me enrolo nos fios de alta tensão e ilumino um sabor com a cabeça nos pés que dançam descalços na calçada de cacos de vidro que brilham na noite como pequenos dias derramados sobre o solo de uma guitarra que explode minhas veias em meteoros que grito sob o riso que me bebe

ilusãoazul intocável a tarde passoua noite partiuo diaem pedaços

a obviedadeobviamente chutando a poesiaprocurou-me na seção de achadosoratenha paciência!perdidos não se encontramna seção de achadostalvez na sessão de cinemanunca na de achadosque achar é fugaze um tremendo azarpara quem quer apenasestar perdido

jogou-se fruta a dentroda minha boca

ela me fodeuloucae estraçalhadamentee tantoque sobraram peçasquando tentei remontaro que restouna manhã embaralhada

será que por issosaí flutuando?

não me tragame leveme sigame partaem um só

lá vem um poemase aproximandodesajeitadotropeçandocambaleando danças

acho que esse poema bebeu

se abraça em mime de repentesaímos pela ruadançandotropeçandonas margens sóbriasdas calçadas

e ziguee zaguedescalçosrindo à toade nossos passoshumorísticos

acho que bebium poemabêbado

das alturasjogou-me um azuldas profundezasmandei-lhe lavas vermelhas

corrocom milhares de coelhossobre os olhosfechadosdas colinasque se banham de sol que come sorridente uma cenoura

rianoturnaestreladasobremim

toque meu coraçãocomo quem toca uma cançãocomo quem toca um violãoviole minha razão

a vidatantomelhorficaquantomaisda fantasiase aproximadisse a formiguinhabeijando tua bocano guardanapode papel

duelo à sam peckinpah

o desejo tem o saborde uma nudez esvoaçantemontada na bala de um beijoveloz como quemnum duelo com deussaca antes da dúvida

o copo giracom meus olhos dentro

o blues de buddy guyé uma trepadanuma noite loucade raios nas minhas veias

o mundo é uma besteiradita por alguémque nunca beijaria esta noiteno meio das pernas

hoje eu não saioeu bebo meus olhosque te olhambêbados de música

hoje dá pra rirdo mundo

depoisnão seie nem quero saber

era uma vezuma saudadede vivercomo se só a vidaexistisse

jogo as palavras pro arem bandovoampoesias

um poemaprecisa ter inícioe um meiode não ter fim

nada que refletearremessaameaçaestremece

a minha pressanão permitever o vistosem ver o vasto

o que não remetenão me interessanão me atiça

o que não existeé relativose num dia me matamno outroestou vivo

dia de mais nadadormingare choversobre você

as palavras não me fogempois não as prendonão me faltamporque são livresestão aquinestes poemasapenaspara se divertir

toquedo toqueque me loqueum lancenum piquede molequee o queéqueeu façoem chequemateme?

não sei direitocomovirartudopelo avesso

e entãotodo o mundo paroupra trepar de diana hora do trabalhoe à noiteo mundo dormiuexaustofelize não era maiso mundoquando acordouera uma porra loucavoando no espaçopra fecundar o solque nasciada minha garganta

a vítima se aproximaapunhalando o chãocomo se apenas caminhassecomo se somente fossem sapatos doces

a vítima assalta meus olhosapontando mísseis nuclearescomo se apenas olhassecomo se somente fossem olhos os seus

a vítima esquarteja meu corpodeslizando uma serra elétricacomo se apenas tocassecomo se somente fosse uma boca a sua

a vítima partesorrindocomo se apenas houvessecometido um avesso

walking the blues

com um pouco de silêncioo mundo poderia ouviro compasso de teus saltos finossobre a rua deserta

um pouco mais de silêncioe se ouviria nítidocomo um absurdoo blues que pensei

depois da meia-noiteé outro diaé outra noitedepois do meio-diaé outroé meioé coisa nenhumadepoisquem sabemais tardese não for tardedemais

dói tantoque nem seidói tantoque esqueci

as palavras bocejamestá na hora de dormirbom dia

você me comeentro em comavocê me bebecoca-coma

as farsas estão cansadasde ser repetidasreprisadasem sessões contínuasde torturade tonturada história

acabounão há maiso que escrevero dito não foi vividoa poesia não cortouo sangue não correunão sacioua boca secacalada

as luzes dançamcom o planetasob meus sapatosque reclamam que bebi demaise ouvem"mas não o suficientenão o suficientemeus carospra ver tudo duplocomo ée não parece ser"

para onde me virolá está elereale estupidamente desenhadoo mundo

não caibonas palavrasnas frasesna poesiae não consigoinventar nadatudo já existeou não

beije-medesafogueminha línguade tudoo que já foidito

erranteou errei o mundoou errei a hora

a chuva não simboliza nadaa chuvaé água que entrae saie caisobre uma dorrealque inventamos

o homem acordoucom o som nos olhose os olhos no tetode seu pequeno mundo

a mulher resmungoupedaços de palavras

o homem riuporque pensouter ouvido o terçode trás para frenteriu maisporque pensouque não tinha diferençado terço dito na ordem

o som aumentouo teto abaixouo terço no quarto

o homem empurrou seu corpopara fora da camacalçou sua bola de ferropois estava frioe saiu pelo corredorpara reclamar da invasãoa seu pequeno mundo

a mulher que abriu a portadisse que estranhava sua demorapara vir escutar músicaescrever qualquer coisanas paredese usar a bocapara coisas mais interessantesdo que dizer o terçona ordem ou ao revés

enquanto ouviaatingiu sete pontosna escala richter

a mulher pegou a bola de ferroe colocou no cabidepois pensou que fosse a causa do frioe da tremedeiraque derrubou os diasdo calendárioem que cristo olha o tetode um mundo pequenono apartamento do homem

o resto da noitepoderia levar richtera repensar sua escala

pela manhãcabelos atirando para todos os ladosatravessou o corredorna contramãodas galinhaspatos porcos e saposmatinais

a mulher preparava o cafée tudo o que o homem faloufoi assistido em silênciopelos dias do calendárioespalhados pelo chãopela mulherque cobria os ouvidoscom algodões amarelose pelo próprio homementorpecido com o ecodas implosões simultâneasque vinham das noites seguintes

os diasdesde entãonão mais existiramvarridos pela mulherpara debaixo do tapeteem que o homem voou

e cristonem se deu contadistraídocom as moscas no teto

um instanteludibriouos ponteiroscordeiros de deus

na distração do tempoum momento fugiucom um corte no olharfazendo jorrarrios ameaçadores

e o mundovirou um pontoincapaz de deter frases embriagadaspelos cachos de vinhoque colhi de tuas veias

lenda

consta que deusantes de ditar os mandamentosfez um teste com as aves

proibiu rasantesestabeleceu um tetolimitou distânciascensurou cançõescondenou timbrescobriu de culpa os cortejos

por issoenquanto pardais trepam na ruaáguias perdem-se nas distânciasandorinhas veraneiam manobras ousadase sabiás cantam à sombratemos medo das alturaso que é uma sensaçãoque demonstra a utilidadedo teste divinopois deus percebeuque não era um publicitárioe contratou profissionais de primeiracapazes de nos convencerda anomalia de nossas asasque cresciam por dentro e das vantagens de pedirmos perdãopor comprarmos um produto mais caromas quedizemlava mais brancoas roupas que usaremosno céu

o meninopensava seriamente em atirar-senum abismo imensopara assistir seu funerale ver o quanto chorariam por elee dele sentiriam falta

quando cresceuviu que o lugarnão tinha mais que doisou três metros de altura

achou graçae para zombar-sepulou

quebrou uma pernarecebeu visitasatenções maternaisassinaturas no gesso

mas nada comparávelao desejo infantilde querer jogar-se de uma ilusão

ela sussurrouao meu ouvidoque era uma serial killerque meu número era 17que sentia muitopois eu dançava bem

eu danço bemdissepois sou um tirade filme preto & branco

nos afastamos para o duelomas rapidamentevoltamos ao beijo mortal

são engraçadas as coisas que às vezesvêm à cabeça da gente quando estamosdentro de alguém

por enganoachoela comeu minha poesiae começou a rircomo uma panelacheia de milho pipocae trocou o garfopelo tridentea faca pelo punhale saiumatando todas as saudadesdos pratosque nunca havia comidopois nunca estão nestes cardápiosmal humorados

um dia longocusta-se a passar

um dia curtoveste-se amarrotado

o reflexo de uma mulherna poça d’águaengole a madrugadacomo espadas

como elefantesque saltam da cartolade um bêbadolevito sobre a calçadae desapareçonoite a dentro

pensavanos estoque de poesiaque ainda restase ainda restainsanidade suficiente aos músicosimagens nos filmesque garimpem lágrimase sorrisos infantis

fazia sole adormecisob a sombra da interrogação

bebeu meu coraçãodeixando só a razãosólidada solidão

a luta começacom meu nocaute

depoisvêm os roundse eu nu

do último segundoaté o primeironão sou Tysonsou Chaplin

na lonaao soar do gongodanço com porradas

na pesagemmais leve do que nuncasolto gargalhadas

esgano o mundocomo um lobo famintoe alimentoo gritocom palavrasque soltoda prisão perpétuados dicionários

tangomilongabluestrenbalaroletarussa

às vezesescrevo coisasque não entendo

tanta vezesvocê lê essas coisase não entende

mas nossosnãoentenderesjuntam-sebeijam-see riempor razõesque não sabemose que talveznem razõessejam

musa ligeirapassageira paixãoventonteceumeucoração

roça minhas costasuma pétalaque sai da tua bocacomo uma palavrarouca

drama

atiro a pedrasou a pedrae o vidroestilhaçadotambém sousendo aindao corteo sanguea lágrimae o salpra pipoca

razão dos amantesrazantes

convidei o marpara dançar descalçosobre meus pés estelaresa canção lunáticaque guarda escondidasob o atlântico disfarcede um aparente vaivém

frioe no lixoo sol passapelos furosde um velho guarda-chuvacaindoem gotas de luzsobre palavrasque comem bergamotae se esquentamcomo lagartos

eu bem que gostariade ser normalse o normalfosse sercomo este gritoque solto de ti

por tuas cordas vocaisdesçorodopiorodogritoe amorreçono calordo teu cantoflambado

os guizosde um poemacintilam cheirosque te fazem dançarsobre meu beijosecularsob meu tempocircularescultorde seixosno ar

talvez tudonão dê em nadanão dê um diaos pedaçosque juntotodos os diaspor via das dúvidas

o solse espanholapelas peleslentas violetassonolentosviolõesletais

se você viessenum dia de sole friocom este jeitode bolocom caféai que preguiçade morrer

acendo o fogoestouroe comopop-poesia

deusse escrevecom dêmaiúsculodisse o homemvestindoseu inútilagáminúsculo

abstrairos trilhostransarcom o tremazar de quemnão descarrila

vim vida da águasou líquido e amomeu deus meus dedos nos teusminha língua me deixa brincarsorrio sou rio que corre e já sou marviro chuva e orvalho na pelesuor e lágrimas à flor da pétalaque cobre meu corpo copo de vinhovenha me beba bêbada me tenhavenha me tenha bêbado de você

a interrogação torturamas não entregominhas camaradasdúvidas

ser sãosei nãoque horas são?

ordemque legaltudo no lugar

será que consigo me achar?

vaso vaziobrinco com as palavrassejam o que sousejam o que flor

palavras desesperadasformam um dia na palma da mãoum dia que recebe outro nome aquique nome você daria a um outro dia?

o resto resta lá foraindescritívelcom qualquer coisa real

só o que não hádeve ser descritopara ser visto

escrevo para chegar ao poema que não há

talvez chegue a elesem chegar a ninguém

minha poesiaminhas palavrasdedesordemminha ilusão em vocêo vício de imaginar que posso viciar você com inquietude crônicailusão em minhas palavrastão desesperadas que são minha única esperançade ver o pássaro verde ver o pássaro verdesaudar a grande orgia do mundo num diaque nasce na palma da mão

movido pela poesiaexisto pela inexistência

a luva despe a mãona uva leva à bocaa lua fruta o gestoveste o rosto vistodo ponto de vistadeste ritmo livrea poesia vivee eu de persegui-la

um poemame faz carinhodiz que a pedravirou caminho

o pássarohumorista e morto em minhas mãosme falou de amores ventanias verões pedradas de garotoscontou piadas e achou graçaquando disse que ia contar nosso encontro numa poesia

só você me vê e ouve assime isso tudo não faz qualquer sentido não existe é impossível

que é do que me interessa falarfaleivoousorrindoe morto

só preciso de um poema malcriadopara dizer foda-se essa porra todadou vivas ao palavrãobem-vindo ao meu poemaque eu quero mais é mandar deus à puta quem nem o pariu

tomava café e ele veio falar sobre a poesia das pequenas coisastalvez fosse apenas uma desculpa de um solitáriotalvez estivesse atraído apenas pelo cheiro de cafémas tudo bembebemos juntosestava friosorrimos como meninos para mulheres bonitassoltamos baforadas sobre as mãos geladascomentei que do ponto de vista daquele instanteo andar decidido das pessoas parecia absolutamente sem sentidoainda mais quando o cachorro curtia um facho de solpor onde todos passavam como ponteirospara ele ainda faltava alguma coisa na cenaalgo que ninguém visseque só pudesse ser escritofoi quando o cachorro sorriudepois falamos besteiras sem direçãotão deliciosas como baforadas sobre mãos friase por fimdepois do último goleantes de sair em busca de algum facho de soldisse-lhe que se fosse um dia como eleum poemanum dia como aquelenão pensaria duas vezesaliás nem pensariaantes de sentar com alguém numa mesa de barpara bebermos poesia expressaque encanta o ar com seu perfume de café

deixei o mundoque se fodavou ser um poemanão direi coisa com coisanão darei o endereçoquem quiser me acharque se perca

ninguém cabe no mundonem em siou num poema

a gente simplesmentenão tem cabimento

beber vinhouvas no lugar de estrelasnum céu verdetão verdeimensa infinita parreirapara nunca saberse dormimos ou estamos acordadosquem está dentro de quemem pé ou deitadogirando só estaremos girandoluminosos pássaros em bandocagando sobre a bolsa de nova iorque

futebol no barrobanho de chuvauva com melancianão faz malo que mata mesmoé perder pro tempo

tudo ruído

cinzasda luzdos olhoscaemchuva secalágrimas caladas

nenhum ruído

os presos estão rebeladose sobre o telhado sem telhas onde estãohá um homem morto

o helicóptero da políciaiça o homem mortoo homem morto que gordo flutua no arcom sua bala no corpo do helicóptero da polícia

o corpo pousa num campo de futebol de várzeano meio do campo onde começam os jogos e o plantão da Tv terminapois não é a transmissão de um jogo decisivo

entra a programação normal os comerciais as liquidações

fora de cena longe do que existepousa um quero-quero ao lado do homem mortoe sobre seu corpo gordo o canário que fugiu de uma gaiolae teve mais sorte que seu camarada que só voou mortoinforma o plantão de inutilidade públicada poesia que flutua crivada de ilusão e mortedireto do campo de futebol sem futebol do homem mortoque flutuou com sua balasobre a cidade que não viu nada pois via tudo pela TV

tire os sapatosdescalçosinta a terrase mover

água de poçopoço sem fundoestou cheiosem tudo

domingo acordosem mais nem menos choro

domingo outono e solas lágrimas saem pra passear

passava e não viafosse a vida uma cobramordia

não entronão empurrovou ficar na ruase chover me molhome seco quando vier o solna rua é que ficonão entronão empurroque negócio é esse de porta me dar ordens?

no fundoando à to(n)a

silêncioouço o delírioos elefantes tocam bluescalo as horaslincho os diaslancho as notasela canta como lágrimassinto-me vivochamem seus amorespor favoré uma emergênciaos elefantes tocam bluesé preciso ouvirLinch dirige seu carroo vento contra o rosto de meus delíriosela canta e é sua carícia lenta na imagem impossívelestou aqui a ouvir-meleia-me ao sabor do impossível sabordescrevo minha loucura com a língua na suapor favor é uma emergênciaisso aqui é um gritopois os elefantes tocam bluesela canta como quem embala a morte delicadamente em suas mãose se ninguém vierdançarei sozinho

se tenho sedevou com sede ao potetudo acabameu bem

também sou potetambém tem sedea morte

regras retas réguas nada afere exata mente desmedida

jogo os olhos pra fora do corpoque liberdade há no rosto?de cima da loucura vem teu beijoe corro e corro que não paroque é preciso dizer que no fim há o fimque liberdade virá depois?a sanidade cansade cima de teu beijo mais loucura vejoe corro e corro que não paroque liberdade haveráantes de te alcançar?

na minha bocaexplode tua vidajuntando os pedaços da minha

a essas alturas vejo tudo pequeno na palma da mão

no copo tristezas afogadas e nós boiando embriagados dizendo bobagens contando piadas ao limão

dogmadogdoberman

dogmapra mimmorde

corro e beijo pedrasbrilho pois tem sole peixes pulando em mim

que me importa o quanto já se falou de amorcomo pode ser lugar comum o incomum da gente?

estou a fim de te falar uma longa frase de amorpra que você chegue ao fim cansada e durma sobre mim

mesmo que eu acorde de uma longa frase de amorcansado com tua falta dormindo sobre mimque me importa?estou a fim de te falar uma longa frase de amordo amor que me faz humano e mesmo sem amor amante

me faça bemcomo o soldesta manhãde agosto

o cachorro o gato o galo e a ruatodos latemcantam vantagem de ter o some eu só o sono

lágrimas com gosto de álcoolescorrem para a bocado bêbado eterno

meu bem maybe baby talvez rime em inglês

não sei quem sabe em que língua calar depois de se deixar dentro de alguém?

dá vontade de dormir sem dormir

palavras sonâmbulasdançam com óvulose fazem filhase lágrimas correm como crianças

lágrima

que outra palavra assimtão linda em minha línguapoderia trazer tal gosto de sal?

moondo da luavenha me visitar

aprendeu com o sol a me esquentarvirei lagarto

se alguém olhar atravessadoe estiver preocupadoque prenda os versos

motim

fuga em massa

cubro você com cobertores que incendeiam a rebeliãodurma assim como se fosse acordar criançasonhe como se nunca fosse acordar

off

ondescansar é bom

entre demências e dormênciasflutuam minhas mil cabeças

moderno dilema eternoarder ou não arderno fogo do inferno?

temperado pro banquetelevo comigo um bilheteao diabo bom apetite

pianocobrasjoaninhas verdesgritoslábiostirosé cedo para dormir

é tarde para dormir

afinala noite acordaou dorme de manhã?

ou éa noiteo caféda manhãe somossonhosservidosquentes?

giro como a terraem torno de uma só(l) poesia

há um bluesno fim do túnel

poemas não são escritossão pintadossão imagens que vêm do exíliopara criar a breve ilusãode que não somos cegos

gostava das imagensque os delírios exibiamnas febres de 40dos cinco anos

gosto de sonhargosto de cinemanão gosto de AAS

eu saí correndoe aquele amor loucocomo um brócolis bom para o coraçãome perseguiae ria da minha carade fósforo apavorado

aquele louco amorme amavaloucamente

e dançavacomo uma pitanga piradaque nem sabia dançar

e ria muitodeslizandocomo uma bola de ferrosobre uma janela de vidro de febrefazendo voltasem minha respiraçãoe em minhas pernascom uma corda da guitarrado Jimi Hendrix

e sorriucomo quem lambe o solquando caí como chuvae rolei como um morango com chantillypara sua boca

vou beijar ameixas na bocae ver se viro uma gueixa loucapara que você me tenhacomo uma lenda

cheguei ao barsentei ao balcãoe pedi uma dose de batom vermelhopurosem gelo nacional ou estrangeirodei de ombrosjá havia bebido tantos vestidos pretosnaquela madrugadapor outros baresque nem sentiria maiso gosto de um bom batom vermelho

era o que achavaaté perceber que a temperaturasubiu logo aos 40 grausassim que o garçom colocouo termômetro no copi

meus caninos crescerampela primeira vezem séculose eu bebi aquela páginavermelhanum gole sócom todos me olhandonum inglês em rotação alteradapelo tempo

de repentetudo ficou em silêncioe todos tiveram que ouviraqueles beijosdescendorubrospelo meu pescoçopelo meu peito

ninguém respiravaqualquer outra core o batomvermelho

desceu ainda maisme lambendoe sugandopor dentroenquanto eu cravava os dentesno coposem notarque todos saíamem câmera lentadeixando seus vestidos de noivaseus pijamase dentadurasnos copossobre as mesastrêmulas

seus olhoscortaram minha lâminae você me serviu aos pedaçosa vocêe seus desejosmusicaisme perfurarame cortaramcomo talheres sem fim

então eu dissefodam-see nenhum dos pingos nos is entendeu

e os pingosforam fazer queixaao bispo dos pingos

e eu dissefoda-se o bispo

os pingos disseramque iriam me processarpor desacatoao bispo dos pingos

porra do caralhofilhos da putafodam-se todosos pingosnos is

primeiro só o baixodepoiso beijocontornandocom os outros instrumentosos limitesque não existemdo perfumedas cerejasque me embalamcomo anjos endiabradosna rede movediçaque me enterra no céudo teu bluescomo num estágio para a morte

uma pipaerguia o meninoque ria da vidalá embaixo

descer?só quando o temporomper o fiopara ele cairlevedançantecomo uma folha de outono

que lei explicaa gravidade desse nosso caso?

ao se juntaremnossos corpos mais pesados que esse ar pesadosobem

não vivo sem vocêmeu clichênão vivo sem vocêmeu cachênão vivo sem vocêmeu sakênão vivo sem vocêe já esqueci porquê

escrevo para mudar então mudo de linha

ali encontrouma ilusão sorrindozombando do mundo imenso globo ocular de um olhar perdido 

escrevo para mudarentão mudo de linhaassim mudo de mundo

que nadaé a preguiçaque encurtameus versos

as palavrasque se virempoesia

dia de sol e ventovelhos papéis voam para o aléme outros vêm ao acaso da almaao sabor das horassinto o gostoque ainda nem sei

minha vaidadenão é ter um poema lidoé ter um um poema rido

não me leve a lugar algumnem me falealgo incomumdiga boa noiteacorde comigosimples assimcomo um solnasce todo dianos horizontesmarese folhasde desenhos infantis

simples assimcomo um soldentro de mim

procura-se um sorrisolargo fácil purode brinquedo desejado(novo ou usado)

um escritor que não amaescreve um lindo poema de amore sem entender de onde vemchorae adormece sósem respostassem versem beijarseu amorsorrindodormindoprofundamenteao seu lado

nem o doce mais docerepõe meus níveisde você

para Leonard Cohen

velhos poetascaem sobre o mundoenvelhecidode novidades sufocantes

chovem suas cançõescortam meu coraçãosufocado por sonhos envelhecidos

e aos prantoslavo minha almapara o casode chegar alguém

rime qualquer coisacom coisa algumamas arrume um jeitode me fazer feliz

bata todos os recordestome anabolizanteschegue antes me faça feliz

na contramão e embriagada na velocidade da luzme jogue pra fora da estradame faça feliz

politicamente incorretaa meta justifica os meioscorrompa meus medosme faça feliz

cometa pecadosme mate e me engula me come com gulame faça feliz

não meça as palavrasnão seja educadame mande a merdasó me faça feliz

doenças verdadeirasdoenças inventadastudo matatristezas verdadeirasalegrias inventadastudo arrasaverdades absolutasmentiras relativastudo acabacrimes passionaisguerras venaistudo ou nadanotícias vendidasnotícias compradastudo calaesperanças perdidasteu olhar que me achatudo é pouconada basta

bebeu como se fosse águaque um cara sem nada para dartrouxe em sua jarra vazia

saciou-se com a miragem que um cara sem nada para dizerdisse em sua poesia

provou do mundo que um cara sem nada para fazerfez em apenas um dia

e descansaram domingos a fio

um chocolatee por um triznão sou feliz

aonde você vaitão depressaque não possacair na desgraçadessa noite lentaque me abraça?

e eu que perdi meus dentes de sabrevagueio até o dia em que tudo se acabe

eu só queria um café à tardee que o sol me tomassetambéme o açúcar do fimnão fosse um doce fimdos sonhosque mal provei

como viveum viventea beber como águaa aguardentedo amor?

cambaleantesdançam nas calçadasembriagadasas verdades do amor

dançam e mentem e creioe rezo

como viveum viventesem beber como águaa aguardentedo amor?

embriagadocambaleanteescrevo tortoe atordoadamente

a dúvidaé para os sóbriospara os sábioslábios ardenteslínguas incandescentes palavras delirantesloucase impossíveisroucase improváveistantase tão poucaslentase insanas

a sussurrarsorrindoque o amornão passade um velhoe solitáriopoeta bêbadoteimandoinfinitae aguardentementeem embriagar verdadese rimar agente