Post on 22-Mar-2016
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Minha pesquisa em arte está voltada para a escrita. E para sua transposição em outros suportes plásticos, a palavra dentro do espaço aberto a inscrições, a extravios da própria escrita, à sua natureza.
Um dos suportes que encontrei para abrigar o alimento da minha escrita são os livros. eles me são guias de atuação quando desejo desdobrar uma ideia no papel: meus espaços de ficção. O livro coloca em linguagem uma teoria de artista. O livro é uma forma de pronunciar o mundo, o cavalete que carrega as visões de mundo, os conteúdos da vida. E é por meio das reflexões estruturais do próprio livro que o artista brinca com as convenções e expande o sentido da leitura para além do fosso da imagem escrita. Isto porque o trabalho do artista é esse: desregular a natureza das coisas.
Lucenne Cruz
"meus datiloscritos são cartas. Correspondências pessoais trocadas e reescritas e enviadas a diversas partes do mundo tecendo assim uma rede de comunhão de bens. O tecido é a linguagem e o registro é o livro alguns.”
chaos II, 200818x17cm
tiragem de 7 livrosR$ 1500,00
"cinco placas de ferro costuradas – faz parte de uma série de livros onde a escrita (a ferrugem) se inscreve em uma das ideias de tempo: o caos."
dias escritos, início maio de 2009
"são cadernos costurados de jornais de outras partes do mundo e, em cada um, busco mudar o estado impermanente do jornal e indagar o que é o ato de escrever e de que forma ele se apresenta como uma paisagem plástica. O suporte é a própria escrita do jornal e sobre ela recoloco a minha linguagem, os caracteres de uma outra imagem escrita. conservar, criar, sinônimos."
personne, 2009
"ganhei este livro de um amigo. era um objeto-escrito sobre alguém. seu estado era de quase novo: não havia nenhuma rasura ou apontamento, nem dedicatória. pareceu-me de ninguém, de personne. [encontrei essa palavra na página 111] apaguei-o por inteiro para que lhe sobrasse, das ruínas, uma paisagem escrita, um chão onde eu depositei aguadas de nanquim que desenham o papel até sangrar pelas bordas. outra vez apaguei-o. não com uma borracha como Rauschenberg fez desaparecer o desenho de De Kooning, mas com uma lixa para parede que pôs a perder os registros sobre o papel. em algumas páginas, procurei iluminar não-apagando uma ou outra palavra que se aproximasse da nossa língua. Em sentido e sabor. tais palavras costumam ser reiniciações. de tanto eu lixar, romperam-se as fibras do papel – frente e verso – da folha 117 | 118 , e nela fiz uma cerzidura."
desejos, 200917 x 10 cm
"um missal para São Jorge, escrito sobre cinco placas de ferro cobertas de manchas de pigmento mineral com goma arábica. As preces são composições de várias crenças dirigidas ao santo guerreiro."