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31/10/13 Márcio Pochmann critica conceito de 'nova classe média' | GGN
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Márcio Pochmann critica conceito de 'novaclasse média'
qui, 31/10/2013 - 07:45
Sugerido por Assis Ribeiro
Do Brasil Econômico
Aumento de renda não significa elevação social
Patrycia Monteiro Rizzotto
O economista Márcio Pochmann, que está à frente da Fundação Perseu Abramo, fala sobre o
combate à desigualdade social no país
São Paulo - Após deixar a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para
concorrer à Prefeitura de Campinas (SP) em 2012, o economista Márcio Pochmann está agora
à frente da Fundação Perseu Abramo, entidade do Partido dos Trabalhadores (PT), para
desenvolver pesquisas e promover debates.
Autor dos livros "A Década dos Mitos" (ganhador do Prêmio Jabuti de Economia) e da série
"Atlas da Exclusão do Brasil", nesta entrevista ao Brasil Econômico Pochmann fala sobre o
combate à desigualdade social - "Lula inverteu a lógica dos economistas, que diziam que a
economia tinha de crescer para depois distribuir". Diz que o Bolsa Família veio para ficar,
impedindo que "o filho do pobre continue pobre porque o pai era pobre" e é crítico ao conceito
da "nova classe média" e da falta de politização desse grupo ascendente: "20 milhões de
trabalhadores conseguiram emprego no mercado formal, mas não foram para o sindicato".
No IDH de 2013, percebemos que o Brasil atingiu uma média alta de desenvolvimento,
puxadas pelas regiões Sul e Sudeste. As políticas públicas para redução das desigualdades
regionais não foram eficientes?
A desigualdade é uma marca de nosso país. Inclusive a literatura internacional usa o termo
"abrasileirar" como característica de um processo de desenvolvimento com profunda
desigualdade. Esse termo está perdendo sentido, os resultados mais recentes do Brasil vêm
inclusive de forma contraditória ao que está ocorrendo no mundo. Estamos caminhando no
sentido da redução da desigualdade, da pobreza e do desemprego, um fenômeno que não se
observa nos outros países, principalmente nos países ricos. Mas a desigualdade é uma marca
do desenvolvimento capitalista brasileiro.
Isso se deve às opções que o Brasil fez em função dos acordos políticos. A revolução de 30 e
a contra-revolução de 32 na verdade representaram um acerto entre as elites, que terminou
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fundamentando a concentração geográfica do projeto urbano e industrial que criamos. Essa é
uma marca estrutural que praticamente não foi enfrentada.
Por outro lado, temos observado sinais de descentralização do gasto público feito pela
Constituição de 1988 e nos investimentos na década passada. Alguns especialistas identificam
inclusive a construção de um novo regionalismo.
Desde 1870, onde São Paulo ia, o Brasil ia no mesmo sentido. Até os anos 70, foi o principal
estado em produção industrial. Então, havia uma conexão muito forte entre a expansão
econômica de São Paulo e a do Brasil. No entanto, a partir dos anos 80, sobretudo nos anos
90, há uma certa desconexão de São Paulo em relação ao Brasil, seja pelo processo de
desindustrialização que o estado vive, seja pelos resultados que tem apresentado, porque é
um estado que não consegue crescer tanto quanto o Brasil. Então há uma perspectiva de um
novo regionalismo.
As regiões que mais vêm crescendo são o Nordeste e o Centro Oeste. O Norte tem tido um
dinamismo maior e seus dados sociais também são significativos. Esse esforço que vem sendo
feito reverte a trajetória de aprofundamento da desigualdade, mas ainda estamos muito longe
de uma situação adequada.
Mas tivemos uma melhora, não?
O Brasil nos anos 80 era considerado a oitava economia do mundo, mas a cada dois
brasileiros, um estava na condição de pobre. Era um país que crescia sem distribuir. Tivemos,
na década passada, pela primeira vez, a combinação da democracia com crescimento mais
robusto e com melhor distribuição da renda. Estamos vivendo um contexto muito distinto
atualmente, que é a constituição das chamadas cadeias produtivas globais, controladas por
500 grandes corporações transnacionais, que fazem com que não haja mais uma fronteira
nítida entre capital externo e capital nacional, mas sim qual é a participação de cada país
nessas cadeias produtivas. Há um questionamento sobre para onde vai o Brasil. Se o Brasil vai
se aprofundar como exportador de produtos primários, ou será um país com capacidade de
participar de uma cadeia com produtos de maior valor agregado.
O que o Brasil precisa fazer para diminuir as desigualdades?
As principais mudanças estão associadas à retomada do crescimento da economia brasileira e
ao progressismo no aumento nos gastos das políticas sociais. Em 1985, os gastos sociais
representavam algo em torno de 13,5% do PIB. Hoje, giram em 23% do PIB. E ao mesmo
tempo fizemos com que esse investimento fosse mais progressivo, chegou a quem mais
precisa. Esse é o resultado que começamos a colher agora. Agora temos um desafio que é o
de reconstituir uma estrutura tributária mais progressiva, porque se de um lado estamos
conseguindo levar mais recursos para quem mais precisa, temos ainda uma arrecadação que
onera os mais pobres em relação aos mais ricos. Veja que aqui em São Paulo há uma tentativa
de dar progressividade ao IPTU e há tensão. A prefeita Marta Suplicy também viveu essa
tensão. As camadas ricas da população não aceitam pagar impostos, os que menos impostos
pagam são os que mais reclamam. O povo pobre, que mais imposto paga proporcionalmente,
quase não reclama.
Como equilibrar a arrecadação?
Temos um capitalismo selvagem que não passou por reformas civilizatórias. Países
desenvolvidos, como EUA, Inglaterra e França, tiveram alguma reforma agrária. Nós não
fizemos a reforma e isso fez com que a pobreza que estava no campo se transferisse para as
cidades. Temos essa herança das pessoas que moram nas periferias, sem condições
adequadas.
A outra reforma que não fizemos foi a tributária. O Imposto de Renda, por exemplo, nós já
tivemos uma alíquota de até 50% sobre a renda na época do regime militar; hoje temos uma
de 27%. Se olharmos os países desenvolvidos, as alíquotas chegam a 50%, 60% da renda.
Aqui, a resistência a isso não é pequena. E não fizemos uma reforma de bem-estar social, não
construímos um Estado que viabilizasse, com qualidade, e universalizasse a educação e a
saúde, por exemplo. Tivemos uma trajetória longa, mas sem experiências democráticas. O
país tem 50 anos de experiência democrática, em mais de 500 anos de história. A ausência de
democracia impediu de certa maneira a não realização dessas reformas e a construção de um
país para todos.
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31/10/13 Márcio Pochmann critica conceito de 'nova classe média' | GGN
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Esse é o desafio hoje, como construir uma infraestrutura na qual caibam todos os brasileiros.
Talvez um dos principais qualitativos do governo Lula foi o de inverter uma lógica dos
economistas, que diziam que a economia tinha de crescer para depois distribuir. Ele disse
"não, vamos distribuir crescendo". Essa inversão de prioridades deu condições de mais
pessoas terem renda, mas a infraestrutura era inadequada para atender a todo mundo.
E o Bolsa Família?
Os maiores programas de transferências de renda do mundo estão justamente nos países
ricos, porque há um entendimento de que parcela da população não tem condições de
sobreviver a uma economia de mercado. O Bolsa Família vai na direção desses programas
internacionais. Dadas as suas condicionalidades, o programa está voltado às crianças na
tentativa de romper a pobreza intergeracional, que faz com o filho do pobre continue sendo
pobre, porque o pai era pobre. É um programa que veio para ficar. O êxito do Bolsa Família
está justamente em estabelecer um conjunto articulado de políticas, porque antes cada setor
do governo cuidava de parte da pessoa. O Bolsa Família é uma tentativa de dar matricialidade
à política pública.
Os programas de inclusão levarão a classe E à extinção?
Eu não gosto desse conceito de classe A, B, C, D, e E. Eu entendo que é um critério que
normalmente as empresas adotam, analisando o nível de renda dos consumidores. Sou uma
pessoa que vem da universidade, portanto tenho compromisso coma ciência, e para mim esse
critério não diz nada. Eu não observo a sociedade através do critério renda. Eu gosto muito
dos critérios weberiano e marxista para observar a estrutura de classes numa sociedade. O
que define a divisão de classes é a maneira como cada uma interage como seu trabalho. É
quem detém a capacidade de empregar pessoas, enquanto outros não têm outra alternativa a
não ser a de ser empregados ou exercer sua atividade como autônomos. Evidentemente que à
medida que se vai elevando o nível de renda, determinados segmentos vão tendo uma menor
presença em termos absolutos e relativos, mas isso não quer dizer que reduziu a hierarquia
social. A miséria tende a desaparecer como desapareceu aquela pobreza sem renda.
A ascensão da classe C veio junto com sua conscientização?
É um equívoco entender a elevação de renda como mudança de classe social. Quem olhar os
EUA e a Europa do pós-guerra perceberá que houve uma elevação de renda que permitiu às
pessoas avançar no consumo. Nos anos 40, de cada dez operários franceses somente um
tinha automóvel; na década de 70, nove em cada dez já tinham carro. Eles continuaram sendo
operários, mas passaram a ter acesso a um padrão de consumo antes restrito aos ricos. Mas
isso não permitiu que eles mudassem de classe. Olha, identificar um trabalhador doméstico
como classe média é um atentado à literatura. 54% de chefes de famílias dessa nova classe
média são analfabetos... Weber percebe que a ideia da classe média tem valores, status. Eu
posso ter um mestre de obras que ganha R$ 5 mil, mas ele não ouve música, é
semianalfabeto, não conhece cinema, não tem acesso à educação. Esse cidadão representa o
extrato intermediário entre muito ricos e muito pobres? Não.
O que é classe média conceitualmente, então?
Classe média é um segmento que poupa; o trabalhador gasta tudo o que ganha. O miserável
planeja o dia, não sabe se vai ver o amanhã. O trabalhador é aquele que vive o mês. A classe
média é a que planeja o ano. E o rico planeja décadas. Eu não sou contra a classe média, essa
é classe trabalhadora que está em formação. Agora, nós tivemos uma inserção social sem
politização. Os 1,1 milhão de jovens que ingressaram no ensino superior, por causa do Prouni,
não necessariamente estão nas entidades estudantis. Nós tivemos 20 milhões de
trabalhadores que conseguiram emprego no mercado formal de trabalho, mas não foram para
o sindicato, a taxa de sindicalização está estabilizada. Há milhões de brasileiros que adquiriram
imóveis pelo Minha Casa Minha Vida, mas nem por isso cresceu o número de associações de
moradores. Por isso, tivemos manifestações de rua sem a participação de entidades
representativas.
Que tipo de mudanças essa nova classe pode promover?
Ela emergiu no seguinte contexto: 78% dos empregos gerados foi no setor de serviços, 95%
foi de até dois salários mínimos. No fundo, essa discussão vai desembocar na questão de que
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31/10/13 Márcio Pochmann critica conceito de 'nova classe média' | GGN
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Motta Araujo
ArthurTaguti
3 comentário(s)
tipo de estado eu quero ter. Se eu sou trabalhador, meu dinheiro não dá para eu viver direito,
então eu quero melhorias na educação e na saúde pública. Se eu sou classe média, eu quero
todos esses serviços da iniciativa privada.
O governo já tem o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Fies... ainda há necessidade
de outros programas para promover a inclusão social?
Devemos pensar em programas que levem em conta a mudança demográfica. Há um processo
de envelhecimento da população, o que nos coloca questões que nunca tínhamos pensado,
como o isolamento das pessoas mais velhas. A quantidade de pessoas que moram sozinhas
também tem crescido e as famílias estão tendo filhos com mais idade. Precisaremos criar
novos apoios familiares. Talvez tenhamos de ter mais políticas públicas com cortes sociais.
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desigualdade social inclusão nova classe média Márcio Pochmann
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Comentários
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Classe media é um conceito
qui, 31/10/2013 - 10:26
Classe media é um conceito muito mais amplo que apenas economico. Significa valores, atitudes,
cultura.
Uma pessoa de classe media pode ganhar 8 mil por mês e um feirante pode ganhar 12 mil mas não
será classe media se não tiver os valores dessa classe, atitudes, postura. Apenas o dinheiro não
faz a classe, embora seja um de seus elementos.
Uma pessoa de classe media pode temporariamente perder o emprego e a renda mas não deixa de
ser classe media. Um trabalhador analfabeto pode ganhar na loteria mas não deixa de ser
trabalhador analfabeto..
O conceito de classe media vem da socilogia, especialmente a francesa e não da economia.
responder Link permanente
Não é por nada não.. Mas
qui, 31/10/2013 - 12:15
Não é por nada não..
Mas falam da Espanha como se fosse o apocalipse na Terra, e como se o jovem espanhol
com ótima formação, diplomado, com domínio de várias línguas e temporariamente
desempregado estivesse numa situação pior que o "Classe C" daqui, que se empregou nos
últimos 10 anos, em um emprego de baixíssima especialização e acessou o mercado de
consumo via financiamento de longo prazo.
Formação educacional, informação e cultura é poder, e não vai ser surpresa nenhuma se
Gosto 24
31/10/13 Márcio Pochmann critica conceito de 'nova classe média' | GGN
jornalggn.com.br/noticia/marcio-pochmann-critica-conceito-de-nova-classe-media 5/6
ArthurTaguti
[...] ver mais
Assis Ribeiro
[...] ver mais
daqui há alguns anos estes países europeus em crise se reerguerem, como ocorreu várias
vezes já.
responder Link permanente
O conceito que separa classes
qui, 31/10/2013 - 10:02
O conceito que separa classes usado por Pochmann é universal: "Classe média é um segmento que
poupa; o trabalhador gasta tudo o que ganha. O miserável planeja o dia, não sabe se vai ver o
amanhã. O trabalhador é aquele que vive o mês. A classe média é a que planeja o ano. E o rico
planeja décadas."
Não é a toa que somos um país considerado "emergente" pelos ricos. Claro que os critérios oficiais
são outros (industrialização tardia, tamanho do mercado consumidor, etcétera) mas basicamente
poderíamos dizer que país rico é o país que planeja.
E que planeja por décadas. Este tipo de planejamento que Pochmann fala requer um tanto de
resiliência, abnegação.
Muitas vezes abdicar do que seria mais prazeroso momentaneamente para fazer poupança, juntar
um dinheiro visando planos de
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"A desigualdade é uma marca de nosso país."
qui, 31/10/2013 - 08:16
O problema da nossa classe média é que quando ela foi urdida o conceito de meritocracia
começava a surgir como forma de diminuir o exercício de cidadania, que aqui no Brasil sequer
chegamos a conquistar.
O homem máquina baseado na excelência e produtividade surgia em substituição ao homem
cidadão .
Forma-se a sociedade do cada um por si.
Essa é a raiz dos grandes problemas brasileiros; a falta de exercício de cidadania, o homem
prostrado pensando apenas no seu umbigo enquanto as varejeiras se alimentam do imobilismo da
sociedade.
Pelas condições de sua formação a classe média no Brasil é individualista e excludente, e neste
sentido conservadora.
Como diz Orson Camargo:
"A compreensão e ampliação da cidadania substantiva ocorrem a partir do estudo clássico de
T.H. Marshall – Cidadania e
http://assisprocura.blogspot.com.br/
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