Matemática - · PDF filenicação matemática de suas...

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Matemática

D

Ana Maria Carneiro Abrahão

esde a Antigüidade, aconstituição do conhecimento

advém da necessidade do homem emresolver problemas do mundo real.Muitos conhecimentos construídos naAntigüidade são até hoje reconstruídospelo homem moderno, que incorporaalguns conceitos e desenvolve outros.Cada professor cria e utiliza, além domaterial impresso, diferentes recursospara facilitar a compreensão e a difusãodo conhecimento matemático. Assim, aose apropriar de uma simples máquina decalcular, descobre que ela serve nãosomente para fazer cálculos com rapidez,mas também para ensinar e compreenderdiversos conceitos matemáticos. Percebeque vídeos e materiais concretosestruturados, como os Blocos Lógicos,o Material Dourado e as Réguas deCuisenaire, podem ajudar a dinamizaras aulas e auxiliar os alunos acompreenderem conceitos matemáticosfundamentais e a organizarem seupensamento lógico.

Entretanto, apesar de tantos avançose de tantos recursos disponíveis, aaprendizagem da matemática escolar temsido motivo de queixas por parte deprofessores, pais e dos próprios alunos.Todos reconhecem sua importância naestruturação lógica do pensamento, naformação da capacidade intelectual do serhumano e na agilização do seu raciocíniodedutivo. Muitas de suas aplicações sãoferramentas fundamentais para as demaisciências. Entretanto, nem todas essasvantagens têm tirado da matemática o

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O professor cada vez mais se perguntao que ele pode fazer para seus alunosaprenderem matemática. Como traba-lhar matemática com alunos em defa-sagem idade-série? Que conteúdos emetodologias devem ser empregados?Qual deve ser o papel do professor? E aavaliação, como deve se estabelecer?Como desenvolver as habilidades deoralidade, leitura e escrita por meio dapesquisa matemática?

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estigma de “matéria difícil” e a causade tantas reprovações desde o 1o

segmento até a universidade.Os educadores, em contínua

reflexão crítica, aceitam, acolhemo aluno como ele é, trabalham paramelhorar suas relações pessoais,despertam nele o querer aprender,despertam nele o gostar e o quereraprender matemática e ensinam essealuno a estudar matemática.Os conteúdos estarão inseridos nessecontexto e irão avançando noprocesso de relacionamentoinstituído entre professor e aluno,entre aluno e aluno, entre estes e osgestores. O desempenho e a avaliaçãoserão conseqüências desse processo.

Ao receber o professor para umanova aula, a criança, produto de ummeio social, entra num processointerativo de aprendizagem, quedepende, como diz Vygotsky, decondições internas e externas.A construção da estrutura cognitivada criança, é influenciada, duranteum longo período de experiênciase aprendizados, por condiçõesexternas, tais quais os padrões sociaisdados pela cultura e tradição local, ospadrões matemáticos, o currículo, olivro texto e demais recursosdidáticos, a abordagemmetodológica, o preparo e aexperiência do professor, entreoutros. Por condições internasmediando as condições externas,

há de se considerar a emoção, amotivação, o conteúdo erepresentações de conceitosmatemáticos, as relações com osconceitos criados anteriormente, asestratégias intuitivas da criança e asestratégias de resolução deproblemas. Para orientar todo esseprocesso, está o professor, queproverá o estabelecimento de diálogosem sala de aula, de forma tal que acriança possa fazer comunicação, verbale não-verbal, de seus pensamentos.

Essa mediação tem sido motivode estudos de muitos pesquisadores etambém de educadores matemáticos.Há preocupação crescente em sedescobrir não só maneiras de utilizarrecursos pedagógicos que facilitem aconstituição de conceitosmatemáticos e o processo dedesenvolvimento da criança, comotambém de apontar caminhos,instruções, dar pistas e prestarassistências que possam favorecer acriança a partir das etapas jáestabelecidas (concretas, informaisou não tão elaboradas) a alcançarnovas etapas mais formais, maiscomplexas e mais abstratas. Uma dasestratégias utilizadas pelosprofessores tem sido partir desituações do cotidiano do aluno,contextualizadas no mundo real eque para eles se apresentamsignificativas, para aplicaçõessistematizadas, que tanto podem

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instrumentalizar a pessoa para avida, quanto colaborar para odesenvolvimento do raciocínio.

A alta potencialidade doconhecimento matemático podefavorecer na criança a capacidade depensar logicamente e abstrair, prevere criar estratégias, criticar,conjecturar e argumentar, justificar ecomprovar, além de favorecer acriatividade e a autonomia. Umaformação básica dessa natureza podeencaminhar a criança na construçãode sua cidadania, inseri-la no mundocultural e ajudá-la na inserção aomundo social.

As atuais tendências indicamque, no ensino da matemática,deve-se aproveitar a bagagem deconhecimentos informais que acriança traz sobre números eoperações, grandezas e medidas,espaço e forma e, nas séries maisavançadas, também os conhecimentosque traz sobre álgebra e tratamentoda informação. A cada ano escolar, acriança apresenta concepções certas eerradas que foram incorporadas porela nos anos anteriores de vivênciaintra e extra-escolar. Elas precisamser respeitadas nos seus diferentesritmos de aprendizagem, para que(re)adquiram a confiança em suacapacidade de aprender. Partindo dasnecessidades da turma, o professororganiza seu planejamentoprocurando criar situações quegradativamente levem os alunos aconstruírem os significados dosconjuntos numéricos e das operações;desenvolvam procedimentos decálculo mental, escrito, exato eaproximado; aprendam a medir, pormeio de instrumentos de medidas,convencionais ou não; interpretem eforneçam instruções deposicionamento e deslocamento noespaço e utilizem tabelas e gráficospara tratar informações. O professorperceberá como a geometria, osnúmeros e as medidas se completam.Uma área ajuda e complementa aoutra e o conhecimento acontece de

A postura metodológica de partirde situações-problema extraídasdo contexto social do aluno, medi-ando a fala da criança na passagemdo pensamento para a escrita erelacionando a língua materna àlinguagem matemática, tem sidobastante gratificante no processode ensino e aprendizagem.

forma natural. Estar alfabetizadoimplica em saber ler e interpretardados, construir representações,formular e resolver problemasindividualmente e de formacooperativa, solidária e respeitosacom seus pares. Fortalecendo aauto-estima, perseverança e confiançadas crianças na própria capacidade decriação de estratégias e de argumentaçõesna construção e utilização de algunsconhecimentos matemáticos, oprofessor favorece a busca coletiva desoluções para problemas oriundosdas relações socioambientais eculturais da sua comunidade.

A matemática abordada dentrode uma perspectiva de colaboraçãocom as demais áreas do conhecimento,voltada para práticas integrativas deplanejamento e desenvolvimentocurricular, pode gerar alicerces para a

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Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro - Cesar MaiaSecretaria Municipal de Educação - Sonia MograbiMULTIRIO - Presidência - Regina de AssisDiretoria de Publicações - Maria Inês DelormeDireção de Arte - Antônio CastroEquipe de Produção - Cristina Campos (edição), Ana Cristina Lemos (projetográfico e diagramação), Alberto Jacob Filho (fotografia), Eduardo Felipe(ilustração), Carla Helal (revisão), Nancy A. Soares (revisão).Empresa Municipal de Multimeios Ltda. - ouvidoriamultirio@pcrj.rj.gov.brLargo dos Leões, 15 - 9º andar - Humaitá - Rio de Janeiro - RJ - CEP 22260-210

construção de conceitos matemáticos,promover habilidades básicasespecíficas do conhecimentomatemático, integrar as diversasdisciplinas e estabelecer relações deparcerias entre professores e alunos.O conteúdo matemático do ensinofundamental é extremamente extenso,principalmente se pensarmos em umensino compartimentalizado, ondequeremos ensinar tudo separadamente.Entretanto, se procurarmos articularos conteúdos entre si, o ensino podese tornar mais fácil, mais natural eportanto mais compreensível para oaluno. O papel do professor deve sero de orientador e companheiro nabusca de conquistas e descobertas.

Não é necessário elaboraratividades próprias para trabalharcom o raciocínio lógico, bastarealizar atividades de observação,comparação, análise, ordenaçãode idéias e conclusão (dedução).É importante identificar estashabilidades na matemática intuitiva einformal presente em todas as outrasáreas do conhecimento. À medidaque as crianças vão apresentandoprogresso nestes aspectos intuitivosde percepção, o professor devepropor atividades mais voltadaspara a formalização da matemática,com o objetivo de aprimorar aconstrução mais elaborada deconceitos matemáticos.Se a própria realidade do dia-a-diadas crianças não oferecesituações-problema que podem serutilizadas como ponto de partida

ReferênciasBibliográficas:• FREIRE, P. Pedagogia

da autonomia. Saberesnecessários à práticaeducativa. 24. ed. SãoPaulo: Paz e Terra,2002

• SEMT99. Anais do“InternationalSymposium ofElementary MathsTeaching”. Praga:República Checa. 1999.

• MIORIM, M.A.Introdução à história daeducação matemática.São Paulo: Atual,1998.

• CHACÓN, I.M.G.Matemática emocional:os afetos naaprendizagemmatemática. PortoAlegre: ArtMed, 2003.

e referência para o trabalho comos conteúdos pertinentes aoplanejamento do professor, éindicado elaborar atividadesque estejam ligadas ao ProjetoPolítico-Pedagógico da escola.É dever da escola orientar a criançapara que ela fale (não é qualquerconversa) e que tenha oportunidadesde produção e de expressão críticade representações sobre referências,relações e conexões que consegueestabelecer entre o mundo real.As relações entre essas representaçõese princípios, conceitos e conhecimentoscurriculares, na busca de soluçõespara situações-problema, permiteo desenvolvimento da argumentação,uma forma mais elaborada deorganização de idéias e que deve sero objetivo final do trabalho como raciocínio lógico.

A matemática pode servir muitís-simo para a competência da escri-ta. A produção e registro de re-presentações espaciais, pictóricas,simbólicas ou mesmo de textos ex-pressos na língua materna, oriun-dos das observações, cálculos, re-flexões e conclusões sobre as re-ferências estabelecidas na inter-pretação de problemas e na comu-nicação matemática de suas estra-tégias e resoluções, são formas defazer da escrita uma ferramentade comunicação lógica local e mui-tas vezes universal.