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A474 Alves, Silvio Dutra Mensagens curtas./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 182.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Graça 3. Fé. I. Título. CDD 230
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Sumário
Boa Notícia de Alegria......................................
7
Consciência...........................................................
11
Buscar, Bater e Pedir.........................................
15
Como a Verdade de Deus é Autenticada? ........................................................
18
Quando o Clamor se Faz Mais
Necessário.............................................................
21
Quebrantou-me o Senhor e Fiquei
Aliviado....................................................................
24
A Quem Devemos Perdoar? ..........................
26
A Grande Prova do Amor................................
29
Casamento é Coisa Muito Séria..................
32
Ainda Bem que o Nosso Modelo é Deus..
34
Não se Cobre o Mal com o Bem...................
36
Conivência em Vez de Compreensão......
39
Como Pode Haver a Fé Verdadeira
Quando Não se Crê na Verdade?.................
41
4
Derramar de Coração....................................... 45
Resistindo a Tudo que Possa nos Afastar
de Deus....................................................................
48
Estamos Vivendo o Cumprimento de
Miquéias 7..............................................................
53
Deus Julgará a Impiedade das Nações.....
62
Continuamente Mau.......................................
66
Ai de nós que Vivemos numa Geração
Ímpia! .......................................................................
70
Porque Devemos Perdoar...............................
72
O Caráter da Bênção da Liberdade do
Cristão......................................................................
74
Não Podemos Medir Nossa Ira Pela de
Deus...........................................................................
80
A Obra de Deus É Dirigida por Ele...............
82
Guardando Todo o Coração..........................
85
Nosso Grande Trabalho é Guardar o
Coração...................................................................
87
O Modo de Concessão da Graça.................. 94
5
O Bom Efeito da Tribulação...........................
96
Uma Aliança Firmada em Graça.................
103
O Amor Verdadeiro é um Paradoxo
Aparente.................................................................
109
Uma Segurança Firme e Inabalável.........
111
Não Injuriemos Quem nos Injuria............
115
Socorro na Tribulação - SALMO 116.........
118
O Natural se Torna Anacrônico, Mas
Não o Espiritual...................................................
121
Uma Consagração Parcial Não Dá..............
123
Guardados do Maligno mas Não de Conflitos e Sofrimentos..................................
125
A Bênção Sacerdotal.........................................
129
A Bênção da Generosidade...........................
131
Uma Cura do Corpo e do Espírito................
134
Precisamos da Graça Para Andar na Verdade...................................................................
140
Por Que o Justo é Afligido?............................ 143
6
O Sacrifício de Jesus Não Dispensa a
Obediência aos Mandamentos....................
155
Uma Justiça Ofertada para Injustos...........
159
Sem Obediência a Deus e à Sua Palavra
Não Há Vitória......................................................
162
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Boa Notícia de Alegria
O evangelho é a boa nova de alegria para a nossa
salvação, mas ele não deixa de apontar para o
juízo eterno de Deus sobre o pecado, caso não sejamos justificados pela fé em Cristo. Assim, o evangelho é apenas boa nova para os
que se convertem por meio da graça e mediante
a fé, quando se arrependem do pecado. A graça evangélica que seria manifestada por
Jesus sempre está associada à fé e ao
arrependimento, e a um caminhar condigno
com a santidade de Deus.
Então é por isso que não vemos nenhuma das
epístolas escritas pelos apóstolos desobrigando
os crentes de um viver santo e piedoso, sob a alegação de não estarem mais debaixo da Lei e
sim da graça do evangelho; porque sabiam que a
graça é daqueles que amam a vontade de Deus,
que detestam o pecado e que amam a santidade. Foi para salvar estes que se arrependem que
Cristo se manifestou. Ele morreu por todos os
pecadores, mas apenas aqueles que creem nEle
e se arrependem podem ser beneficiados pela Sua morte e desfrutar das bênçãos prometidas
por Deus para o Seu povo.
Nós podemos ver estas verdades no capítulo 29 de Isaías, no qual Jerusalém é chamada pelo
codinome de Ariel. E o capitulo é introduzido
pela expressão interjetiva “Ah!” como um
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suspiro, porque é relativa à cidade onde Davi
acampou, isto é, onde ele estabeleceu a sua casa,
porque Jerusalém era chamada de a cidade de
Davi.
Mas eles não andaram nos caminhos de Davi. Não imitaram a sua devoção e piedade.
Então é proferido o que o Senhor lhe faria.
São proferidas as assolações que lhes
sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria
e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como
mortos que descem ao pó.
Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá, porque os babilônios viriam coligados a outros
povos contra Judá, como por exemplo os
moabitas e amonitas (v. 5).
E como todos os juízos do Senhor, isto viria
repentinamente, como o ladrão, tal como nos
dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como também será no tempo do fim, conforme Jesus
afirmou.
Não é afirmado, portanto, na profecia, como
também não é no evangelho, que Deus está
esperando bons frutos de árvores más. Antes é dito que estas árvores más serão
cortadas. Que as pérolas do evangelho não
devem ser lançadas a porcos. Que não se deve
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pregar a paz a uma sociedade corrompida, senão
que há um juízo aguardando por aqueles que
não temem a Deus.
Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que
amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a
mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa
os que resistem continuamente à Sua vontade, entregues ao próprio endurecimento deles. Ele
não lhes concede graça para que achem
arrependimento. E nem toca a trombeta de
alerta para eles para que despertem do sono de morte em que se encontram, como vemos
afirmado nos versos 10 a 12.
Eles eram religiosos só de aparência. Eram falsos piedosos em suas obras externas, mas não
tinham o poder da piedade operando pela graça
em seus corações. Então a devoção deles não era
em espírito e em verdade, mas uma adoração falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora,
mas não de fato e de verdade.
Com isso o Senhor prometeu que faria, portanto, uma obra maravilhosa com aquele
povo hipócrita, com aqueles judeus que eram
apenas no nome, mas não no coração, não que
consistisse em sinais e maravilhas externos, mas em fazer com que a sabedoria dos seus
sábios perecesse diante da glória sobre-
excelente do evangelho.
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O entendimento dos entendidos a seus próprios
olhos nos assuntos da religião ficaria
obscurecido pela grande luz do evangelho,
porque pelo Espírito Santo derramado no coração dos crentes, eles discerniriam que a
doutrina dos líderes de Israel não passava de
fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus não se revelaria, portanto, aos sábios e
entendidos a seus próprios olhos, mas aos
pequeninos, a saber, aos mansos (submissos à Sua vontade), aos pobres de espírito, e por isso
Jesus afirma que são estes os que são bem-
aventurados porque são aqueles a quem Deus se
dará a conhecer, como também a Sua vontade. Assim estes pequeninos que se converteriam ao
evangelho não se alegrariam e não se gloriariam
em si mesmos e no seu conhecimento, mas
unicamente no Senhor (v. 19).
Enquanto isto, os opressores, os arrogantes, seriam reduzidos a nada, e todos os
escarnecedores da verdade e todos os que se dão
à iniquidade, serão desarraigados, porque não
serão eles que herdarão a terra, senão somente aqueles que se deixam instruir por Deus, porque
são mansos e pobres de espírito (v. 20).
11
Consciência
A consciência é uma das faculdades do espírito humano – o tribunal instalado por Deus em
todas as pessoas de modo a aprovarem o que é
correto, e reprovarem o que é errado.
A consciência, entretanto, em razão do pecado original, foi corrompida como todas as demais
faculdades do espirito e da alma.
Em razão desta corrupção, em vez de ser naturalmente uma boa consciência, ela tende a ser má, por funcionar aprovando o mal e
reprovando o bem, e isto tanto mais, conforme a
influência do meio em que se vive, e dos valores
inculcados pela família, pela cultura e pela sociedade que são contrários à vontade divina.
Esta corrupção pode evoluir até o ponto de a consciência se tornar cauterizada, ou seja,
insensível ou inexistente naqueles que
perderam o sentido dos valores e padrões
morais e espirituais bíblicos.
Mas, uma consciência, segundo Deus, de modo geral, foi perdida por todos por causa do pecado, e somente pela restauração em Jesus Cristo
pode ser formada uma boa consciência que atue
em nós conforme o padrão da Palavra de Deus.
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Daí a importância da conversão e da meditação diária da Bíblia, e o progresso no conhecimento
de Jesus e da Palavra, porque quanto maior for
este progresso, mais condizente se tornará a nossa consciência com o caráter de Deus.
Literalmente, consciência significa conhecer juntamente, perceber juntamente, e no caso do
nosso assunto significa um conhecimento conjunto com Deus, ou seja, entender como
Deus entende, perceber como Deus percebe.
E o propósito da consciência se cumpre quando este conhecimento se reflete nos nossos
pensamentos e ações.
De nada vale ter uma boa consciência que reprove o mal, e aprove o bem, e que no entanto,
o seu possuidor não age de acordo com a própria
consciência, agindo em sentido contrário
daquilo que aprova ou reprova.
Agora, quando a Bíblia se refere a uma boa consciência o que está em foco é sobretudo a
firme certeza e convicção da fé que se possui em
Cristo, notadamente no fato de que já não há
mais nenhuma condenação para todo aquele que nEle crê, e também a plena certeza e
convicção da sua aceitação por Deus como filhos
amados.
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Daí a necessidade e importância de que o crente seja confirmado na fé e na Palavra imediata e
posteriormente à sua conversão, e esta era a
razão de o apóstolo Paulo revisitar as igrejas que fundara em suas viagens missionárias com o
citado propósito, quanto a nunca duvidarem do
cuidado e da provisão de Deus para com eles.
Um crente que esteja confirmado na fé e na Palavra também terá um viver vitorioso sobre o
pecado, o diabo e o mundo – o que é mais um fator concorrente para que se tenha uma boa
consciência.
Além de boa, tal consciência é tranquila e confiante porque os terrores da condenação
eterna e o medo de uma possível separação de
Deus são completamente extintos quando se possui uma firme confiança em Jesus Cristo e na
obra que realizou em nosso favor.
Mas, como permanecem em nós os resquícios da natureza pecaminosa, enquanto aqui
vivermos, convém que sempre façamos um
exame diário de nossa consciência, a saber, um
autoexame para que possamos saber se estamos sendo guiados na vereda da justiça divina ou
não. Paulo fala em I Coríntios sobre o dever de
cada crente examinar a si mesmo.
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Para tanto, necessitamos de uma consciência sensível ao Espírito Santo, de modo a evitarmos
o que é mau e a escolher o que é bom.
Uma consciência endurecida ou cauterizada não pode ser de qualquer ajuda para que
façamos progresso em crescimento espiritual, rumo ao amadurecimento que nos permitirá
frutificar para Deus.
Assim, bem-aventurado é aquele que é humilde de espírito, ou seja, que está consciente do seu
real estado – de ser possuidor de uma natureza decaída no pecado, e da sua completa
necessidade e dependência da graça de Cristo
para elevar-se do monturo de pó em que se
encontra para os montes elevados do conhecimento do que é espiritual, celestial e
divino.
Quanto maior fica a nossa consciência da eternidade maior se torna o nosso interesse
pelas coisas relacionadas ao reino de Deus e a
sua justiça; e o consequente desmame das coisas deste mundo que são visíveis e
passageiras.
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Buscar, Bater e Pedir
Em sentido bíblico geral estes três verbos equivalem a procurar por Deus com insistência
e fervor.
Deus não será achado se não for procurado.
Se não lhe pedirmos o Espírito Santo não o receberemos, nem tampouco veremos o crescimento de nossas graças se não as
buscarmos nele.
Pedir, bater, buscar são leis fixas do reino de Deus para serem cumpridas pelos crentes.
Deus e suas bênçãos devem ser buscados em conformidade com os motivos corretos que Ele
tem estabelecido em Sua Palavra.
Não seria de se esperar que fôssemos atendidos ao pedir-lhe ou procurar por coisas que sejam
condenadas por Ele ou que não estejam em
conformidade com a sua santa e justa vontade revelada na Bíblia.
Então ao dizer que encontraremos o que buscarmos, e que receberemos o que pedirmos com fé, subentende-se que isto seja feito com
uma fé pura e verdadeira, a saber, que seja
consoante o conteúdo e o tom das Escrituras.
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Deus jamais incentivará o nosso egoísmo e cobiça. Ele jamais atenderá aquilo que
buscamos por motivo caprichoso ou
interesseiro. Ele somente nos dará o que for útil para nós e para o progresso do evangelho.
Não somente nós pedimos a Deus, Ele também pede o nosso coração, a nossa consagração e
pede que sejamos responsáveis perante Ele
dando-lhe conta de tudo o que pensamos ou fazemos.
Esta é portanto uma via de mão dupla onde o que é solicitado e o que é recebido deve ser
inteiramente santo, justo e verdadeiro.
Daí o cuidado que deveríamos ter sobretudo nas petições de nossas orações, de forma que
estejam em conformidade com a mente do Senhor, pois nos será pedido conta se orarmos
negligente e irreverentemente, multiplicando
palavras que sejam uma abominação aos
ouvidos de Deus.
Mesmo conhecendo de antemão o que se encontra em nosso coração o que proferiremos
com os nosso lábios, Deus nos impõe o dever de
pedir-lhe o que desejamos para que seja
conhecido por nós mesmos que é voluntariamente que o fazemos, pois deve haver
um consentimento mútuo, uma concordância
entre a nossa vontade e a de Deus.
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Ele nunca arromba a porta do nosso coração, por isso bate suavemente para que a abramos
voluntariamente para que Ele possa entrar.
Buscar o reino de Deus prioritariamente é muito mais do que ter um simples intento ou desejo,
pois isto demanda de nós grande esforço e diligência em aprender e cumprir tudo o que
nos é ordenado na Palavra de Deus. Esta busca
deve ser manifestada por conseguinte em
atitudes bem definidas e em atos reais, e não somente em pensamento ou na imaginação.
Todavia, devemos buscar o próprio Senhor porque Ele nos criou para o propósito de ser
buscado e nos buscar para o estabelecimento de
uma união íntima em amor. Vemos assim que este é o grande motivo da busca, e não apenas
para sermos justificados do pecado, e para a
solução de problemas cotidianos.
Uma relação amistosa e duradoura não pode ser mantida quando uma das partes deixa de
procurar a outra. Da sua parte, Deus sempre está nos buscando – busca adoradores que o adorem
em espírito e em verdade, mas somos dados a
nos desgarrar e por isso deveríamos atentar
para a petição do salmista: “Desgarrei-me como a ovelha perdida; busca o teu servo, pois não me
esqueci dos teus mandamentos.” (Salmo
119.176)
18
Como a Verdade de Deus é Autenticada?
A verdade de Deus está revelada em Sua Palavra escrita, ou seja, na Bíblia.
A prova da sua autenticação é realizada na vida de todos aqueles que creem nesta verdade
revelada, uma vez que tudo o que nela se afirma
e se promete é cumprido e visto na vida dos que creem. E tal cumprimento, particularmente no
que se refere à santificação, se vê em maiores
graus naqueles que possuem um maior
conhecimento e fé na Palavra divina.
Isto sucede em razão do que foi afirmado pelo próprio Senhor Jesus Cristo: "As palavras que eu
vos disse são espírito e são vida, (João 6.63), o que
confirma que de fato a palavra de Cristo é primeiro espírito e, em seguida vida – vida em
abundância, a vida espiritual, celestial, divina e
eterna que procede dele mesmo para todo
aquele que nele crê.
Os que creem chegam a conhecer que sem que haja uma atração de Deus Pai que nos conduza a
ver com os olhos da fé a Jesus Cristo, jamais
poderiam ter dado a sua confiança e
assentimento no coração à aceitação da Palavra revelada como sendo verdadeira. Isto é feito,
portanto, por uma operação poderosa espiritual
realizada pelo Espírito Santo para que possamos
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crer e sermos tomados pela vida espiritual que
se encontra na pessoa de Jesus Cristo
Por saber que tal conhecimento espiritual somente seria possível por esta forma
retrocitada, nosso Senhor afirmou expressamente que sua doutrina (ensino) não
fora inventada por ele como sendo um mero
homem, conforme era visto pelos escribas e fariseus, mas que a mesma era de procedência
divina, e que esta somente poderia ser
conhecida quanto à sua procedência por
aqueles que efetivamente cressem nela como sendo verdadeira e procedente de Deus, porque
veriam o seu cumprimento em suas próprias
vidas.
E devemos destacar que a doutrina de nosso Senhor consiste principalmente na fé nele para a nossa justificação, regeneração, santificação e
glorificação, pela graça. E isto será visto na vida
dos que creem, confirmando a verdade da Sua
Palavra.
Daí nosso Senhor ter afirmado o seguinte:
“Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou
se eu falo de mim mesmo.” (João 7.17)
Concluímos, portanto, que Deus designou a Sua Palavra para ser o instrumento da nossa
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salvação, conquanto esta deve ser pela fé, e não
seria fé se não fosse simplesmente por se
confiar naquilo que se ouve relativamente ao
que não se vê, e conforme está escrito na Bíblia.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10.17)
21
Quando o Clamor se Faz Mais Necessário
Nós vemos o salmista clamando a Deus por
libertação das profundezas em que se
encontrava, no Salmo 130.
Tais profundezas eram certamente da alma, traduzidas em depressão, ansiedade, angústia,
inquietação, ou qualquer outra causa que
conduza a alma a uma condição de extremo
abatimento.
Caso ele não clamasse seria de se esperar que a sua situação se agravasse ainda mais, porque em questões relativas ao espírito, um abismo
chama outro abismo enquanto não recorremos
ao socorro divino.
Uma das principais razões para esta necessidade de se clamar a Deus prende-se ao fato de que Ele não pode operar nas situações que impliquem a
transformação de nosso caráter e conduta, a não
ser pelo nosso consentimento voluntário.
Se assim não fora, Deus poderia transformar todos os ímpios e pecadores em santos, independentemente do concurso da vontade
deles.
Além disso, a condição para a bênção do livramento e paz de nossas almas, consiste no
atendimento de pré-requisitos, notadamente
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aqueles que estão relacionados ao
cumprimento dos mandamentos de Deus – da
busca de se fazer a Sua vontade – e isto não nos
vem a não ser por uma operação direta do Espírito Santo em harmonia com o nosso
próprio espírito.
No campo de livramentos externos e físicos, Deus pode e tem agido em todo o tempo, até
mesmo no caso de ímpios, e de ausência de fé, e
independentemente da nossa vontade, porque,
neste caso, não há o concurso da necessidade de qualquer transformação interior.
Por exemplo, quando o apóstolo Pedro estava
afundando nas águas do mar revolto e clamou por socorro ao Senhor Jesus, cremos que ele
teria sido ajudado, no sentido de ser livrado do
afogamento, ainda que por qualquer razão não
tivesse podido clamar por socorro; pois se tratava, como já nos referimos antes, de um
livramento físico e não espiritual.
Agora, os temores, os pecados, a incredulidade e toda e qualquer fraqueza de caráter de Pedro,
somente poderiam ser tratados por uma busca
espiritual do apóstolo das graças espirituais que
nos curam dos nossos males interiores.
Agora, quer em se tratando de livramentos físicos ou espirituais, faremos bem em sempre
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clamar a Deus, como fizera o apóstolo Pedro
quando afundava no mar.
24
Quebrantou-me o Senhor e Fiquei
Aliviado
Quanto o nosso coração se dilata, e de lágrimas
aquecidas de amor se nos enchem os olhos, quando somos quebrantados pelo Espírito do
Senhor, que nos revela quanto amado somos
por Deus, ainda que cheios de pecados.
Sim, de fato ama os pecadores... pobres... enfermos... injustos, que se dobram diante da
Sua majestade e santidade, reconhecendo a
própria miséria e fraqueza.
Por isso, no anseio de alcançarmos a imagem do que é divino, jamais nos esqueçamos do quanto
somos humanos e imperfeitos, em nada diferentes do nosso próximo.
A mão divina está estendida e eu a beijo ainda quando por ela sou disciplinado.
Venha o Senhor e seja exaltado entre os pobres de espírito e que choram buscando ser consolados.
Choremos sempre a nossa grande insuficiência porque por maiores que sejam nossas obras elas são como nada e pequenas, e de fato o são, na
presença da Santa Majestade do céu que tudo
com perfeição governa.
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Assim como os braços de Cristo se estendem para acolher o ladrão e a prostituta
arrependidos, e que a nenhum pecador
condena nesta dispensação da graça, que assim também todos os Seus servos estejam com seus
corações abertos para receber a qualquer que
esteja debaixo da cruel servidão ao pecado.
Alegrias espirituais indescritíveis esperam por todos aqueles que usarem de misericórdia para
com o seu próximo, e que o conduza às veredas
de justiça do coração do próprio Cristo, onde achará paz, descanso, amor e bondade.
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A Quem Devemos Perdoar?
O exercício do perdão conforme ensinado e
demandado por nosso Senhor Jesus Cristo pode
parecer, por uma interpretação precipitada, algo que ultrapasse o racional e aceitável,
especialmente por ter dito que devemos
perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete.
Evidentemente, tal princípio não foi estabelecido por Ele para o caso de
transgressores contumazes e que se deleitam na
prática do mal. Até mesmo porque não haveria qualquer sentido lógico em se perdoar quem
pouco ou nada está interessado em ser
perdoado – e que, ao contrário... sua meta é
ofender, destruir, inquietar, matar, e achar nisto tudo um bom motivo de prazer sem que
nada lhe incomode a consciência má e
cauterizada.
Por isso, nosso Senhor interpôs a necessidade de arrependimento sincero para a concessão do
perdão.
Ele disse:
“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.
27
Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou
arrependido, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3,4)
Porque o “acautelai-vos”? Justamente para não
sermos achados em falta diante de Deus por não perdoarmos quem deveria ser perdoado.
Veja que, segundo o ensino de nosso Senhor, o faltoso deve ser repreendido. Ele deve sr
conscientizado do mal que praticou – se a nós ou a outros.
Caso manifeste sincero arrependimento, ou seja, se mudou o seu comportamento,
confessando-se arrependido, então temos o
dever de perdoá-lo, uma vez que nós mesmos necessitamos ser perdoados por outros e por
Deus, não poucas vezes, pelos erros que
cometemos.
Num mundo de pecadores, o perdão sincero e de coração é necessário, especialmente para uma boa continuidade do relacionamento em
amor entre aqueles que amam a justiça e não a
impiedade.
Portanto, perdoe seu irmão, seu filho, seu cônjuge, seu amigo, seu próximo, por algum mal que tenha praticado, quando se encontrava
sob circunstâncias de pressões internas
(sistema nervoso abalado etc) ou externas
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(ataque de demônios, provocações ímpias e
desagradáveis etc).
O caráter de uma pessoa não deve ser medido por estes atos falhos que nos acompanham - e
em uns mais do que em outros, variando na escala dos setenta vezes sete. Não importa o
nível da frequência. O que importa é a real
estrutura do caráter e o desejo de buscar a paz
que é filha da verdade e da justiça, e que tem em vista o amor não fingido.
29
A Grande Prova do Amor
Uma das grandes provas da existência de Deus e
do Seu grande amor e poder, é o fato de que
pessoas tão fracas, incapazes, que mal
conseguem se ocupar dos seus próprios problemas e necessidades, se dediquem de
modo tão diligente e incansável em buscar a
salvação das almas e o bem eterno de seus
semelhantes; empenhando nisto todo o seu tempo e vida.
Esquecidos de si mesmos são impulsionados pelo poder de Deus e pelo infinito amor que Ele
derrama nos seus corações pela presença e ação do Espírito Santo - gastam-se inteiramente
como velas que queimam para o único propósito
de servirem de luz, da luz de Jesus que neles brilha, para tirarem os seus semelhantes das
trevas e da escravidão ao pecado.
Bendito seja Deus pelo Seu inefável amor.
Bendito seja Deus que dá sentido às nossas pobres vidas, enriquecendo-as com a Sua graça
para que cumpramos o Seu propósito de amar a
humanidade através de instrumentos tão fracos
e imperfeitos como nós.
A maior prova desse amor nos foi dada por Jesus, ao derramar a Sua vida por nós na morte de cruz,
carregando sobre Si todos os nossos pecados, e
30
para que pudéssemos continuar recebendo esta
vida celestial e divina que alimenta e vivifica o
nosso espírito, para que possamos ter
comunhão em amor com Deus e com todos aqueles que o amam.
É de fato muito comprobatório da existência do Seu amor, o fato de que morreu por pecadores,
sem que houvesse um único justo - alguém que
fosse dotado de uma natureza que não o inclinasse continuamente para o mal e que não
fosse seduzido pelas paixões carnais que
guerreiam contra a alma.
Nisto se comprova o amor, pois morreu por nós, encontrando-nos na condição de pecadores, de modo que pudéssemos viver pela Sua própria
vida e graça santificadora.
Em nenhuma religião e em nenhum outro Nome será achada esta provisão de graça divina
que faz morrer a nossa velha natureza e que nos
dota de uma nova natureza, para que por esta possamos viver de maneira vitoriosa sobre o
pecado, o diabo e o mundo de trevas.
Quando me sinto enfraquecido e inclinado a viver segundo a carne e não segundo o Espírito,
eu clamo ao Senhor, pois sei que posso contar com a assistência da sua poderosa graça, de
modo que digo juntamente com o salmista ao
concluir o Salmo 119:
31
"Ando errante como ovelha desgarrada; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus
mandamentos." (Salmo 119.176)
32
Casamento é Coisa Muito Séria
O principal momento do chamado casamento religioso é quando os nubentes fazem o voto de
fidelidade sobretudo perante Deus, que é o
instituidor, protetor e condutor do matrimônio.
Como tudo o mais em nossa vida, o casamento é também para a exclusiva honra e glória de Deus.
Daí ser, primeiro e principalmente com o próprio Deus, o compromisso que temos como
cônjuges quanto à perseverança em permanecermos juntos até que a morte nos
separe, esforçando-nos para o cumprimento
adequado de todos os nossos deveres conjugais,
especialmente dos que se encontram na Bíblia.
Ser fiel na doença, na pobreza, nas dificuldades de toda ordem, servindo, amando e cuidando um do outro, preservando o vínculo do
matrimônio, na unidade requerida pelo Senhor,
para a honra do Seu nome, e para o próprio bem
dos cônjuges, dos filhos, e da sociedade.
Deus odeia o divórcio, porque ele é, antes de tudo, uma quebra do voto de fidelidade que fizemos para com Ele, de fazermos do
casamento um sinal da união indissolúvel que
há entre Cristo e a Igreja.
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Não importam os motivos alegados para a separação (exceto no caso de relações sexuais
ilícitas por parte de um dos cônjuges, que pode
quebrar o vínculo matrimonial)... o que deve prevalecer é manter a união por amor a Deus, ao
cônjuge, aos filhos.
Assim, o casamento é muito mais do que assumir responsabilidade civil na sociedade
perante os homens, porque, é antes de tudo uma
grande responsabilidade que temos para com
Deus, a quem teremos que prestar contas um dia, de todos os nossos pensamentos, ações e
omissões, no Tribunal de Cristo.
34
Ainda Bem que o Nosso Modelo é Deus
O apóstolo Paulo exorta os crentes em sua
epístola aos Efésios a serem imitadores de Deus como filhos amados.
Pois é somente Ele o modelo que nos é dado para que moldemos o nosso comportamento
segundo o Seu caráter justo, santo e amoroso.
Se fôssemos olhar para o exemplo dos líderes deste mundo, que com o passar do tempo mais se corrompem, quer nas esferas dos poderes
executivo, legislativo e judiciário, quer sejam os
pais, os professores, os policiais, enfim, em
todos aqueles que deveriam ser exemplo de liderança e autoridade, acharíamos algum
motivo para também nos corrompermos.
Todavia, como devemos nos comparar com Deus e com Ele somente, porque será a Ele que
prestaremos contas de tudo o que fomos e que fizemos enquanto no mundo, então somos
incentivados a melhorar sempre o nosso
testemunho de vida, embora tudo esteja ruindo
ao nosso redor em grande corrupção moral.
Lembremos que nosso Senhor Jesus Cristo profetizou que nos últimos dias o amor de
muitos esfriaria em razão da multiplicação da
iniquidade em todo a Terra.
35
Podemos ser tentados a permitir que o nosso amor esfrie em razão de não considerarmos
dignos de nossa afeição aqueles que vivem na
prática do mal. Entretanto, importa que não seja assim, porque é pela longanimidade e paciência
que muitos deles serão alcançados por Cristo,
pelo testemunho de amor e santidade que virem em nossas próprias vidas.
Que a graça de Jesus nos capacite a isto!
36
Não se Cobre o Mal com o Bem
Uma grande e importante verdade que poucos
conhecem é que a justiça de Deus exige de nós,
para que possamos ser aceitos por Ele e
participarmos da Sua vida, conformidade absoluta com a Sua perfeita santidade por todos
os dias e segundos de nossas vidas, desde o
nascimento até a morte.
O mal deve ser punido e o bem deve ser recompensado. Um não pode ser tomado pelo
outro. Um não pode apagar o outro.
Disto se depreende que a justiça divina não pode ser satisfeita, portanto, por nossas obras de
caridade, ou por quaisquer outros atos que
julguemos bons, para cobrir nossos erros e
falhas.
Deve ser lembrado também, na consideração do que é absolutamente justo, que Deus não leva
em conta somente nossas ações, mas também
nossas atitudes, intenções, pensamentos, palavras e omissões.
Vemos assim que se Jesus não nos fosse dado para ser a nossa JUSTIÇA, ao pagar a dívida de
todos os nossos pecados morrendo em nosso lugar na cruz, carregando sobre Si mesmo toda
a nossa culpa, estaríamos irremediavelmente
perdidos para sempre.
37
A justiça que pode agradar a Deus, segundo os homens, entende somente a retribuição do mal
com castigos, ou a compensação do mal com
boas obras; e a recompensa do bem – a propósito, é nisto que se funda a teoria da
reencarnação; mas Deus vê a justiça de outra
forma quanto a poder se relacionar conosco: Ele nos dá Jesus Cristo – pois pune todo o nosso
pecado nEle - para que recebamos dEle a graça
que nos justifica, somente mediante a fé, e para
que estejamos unidos a Ele em espírito, pois Ele fez tudo o que era necessário para que
pudéssemos ser aceitos por Deus apesar de
sermos pecadores – nisto, Deus não nos está
dando nenhuma compensação pelo mal que praticamos, mas exercendo o livre favor de Sua
soberania e bondade, perdoando-nos todas as
nossas dívidas e nos recebendo como filhos
amados para sempre – é justo que assim o faça porque castigou todos os nossos pecados em
Jesus, quando morreu em nosso lugar.
Glórias a Deus por Seu grande amor e Sua grande bondade e misericórdia, pelos quais preparou para nós um Caminho para que
pudéssemos voltar para Ele, sem precisarmos
contar com a nossa própria justiça, pois vivemos
pela Justiça de um outro, a saber, a de nosso Senhor Jesus Cristo.
E uma vez tendo entrado neste Caminho estreito, começamos a ter um real interesse por
38
um viver verdadeiramente justo e santo, e isto
nos é concedido pela santificação que é operada
pela Palavra de Deus sendo aplicada em nós pelo
poder do Espírito Santo.
39
Conivência em Vez de Compreensão
Nosso Senhor Jesus Cristo transitou livremente
sem qualquer preconceito entre prostitutas e
ladrões, mas não para exaltar a prostituição ou o furto, aos quais ele condenava como a qualquer
outro tipo de pecado ou comportamento imoral.
Não se deve confundir portanto, como é costumeiro ocorrer, amor e respeito ao
pecador, com consentimento com o pecado que
ele pratica.
Ao perdoar pecadores Jesus costumava lhes dizer que não se entregassem mais a um viver
pecaminoso dali por diante, para que não lhes
sucedesse coisas piores, especialmente no dia do grande juízo de Deus quando os homens
prestarão contas até mesmo de uma palavra
ociosa que tiverem proferido, quanto mais de
práticas pecaminosas que Deus abomina, conforme Ele se expressa em relação às mesmas
na Bíblia.
Não há nada portanto de falta de preconceito ou discriminação naqueles que não cometendo
determinados pecados, aprovam aqueles que os
praticam, e até mesmo se orgulham em fazê-lo,
pensando que são muito bondosos e compreensivos. Ao contrário, são coniventes
com o mal, e incentivam a continuidade e
aumento deste, para a própria condenação e
40
também a daqueles que encorajados pelo seu
apoio e aprovação, não se arrependem e não
procuram viver virtuosamente, conforme Deus
requer de todos nós.
“Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele,
não levarás sobre ti pecado.” (Levítico 19.17)
41
Como Pode Haver a Fé Verdadeira
Quando Não se Crê na Verdade?
Alguém quando criança, ou então até que
tivesse chegado à idade do entendimento, costumava ouvir, na igreja que costumava
frequentar, que o evangelho consistia em que os
homens não se dirigissem aos cultos sem usar
terno, e que as mulheres não usassem vestidos modernos ou usassem batom, maquiagem,
enfim, que não se adornassem, porque isto é um
grave pecado diante de Deus.
Dizemos, com apoio nas Escrituras que isto, e todo tipo de recomendação de igual teor, não é
pecado e nem mesmo Evangelho.
O grande problema é que muitos ficam escandalizados, como não poderia ser de modo
diferente, com tal tipo de ensino que nada tem a
ver com o ensino de Jesus e dos apóstolos, e acabam tendo aversão ao que não chegaram a
conhecer de fato, a saber, a genuína mensagem
do evangelho e em que consiste a verdadeira
vida cristã.
É preciso que cada um, de per si, faça um exame acurado, com espírito reverente, de tudo o que
está contido nas Escrituras, e especialmente no Novo Testamento, para que, por meio da
instrução do Espírito Santo, uma vez tendo
nascido de novo, obtendo uma nova natureza
42
celestial e divina, possa conhecer e viver o que é
de fato o Evangelho de Jesus Cristo.
Outro grande impedimento para o acesso à verdadeira fé por parte de muitos, é que deram
crédito à grande mentira de que a Bíblia foi
inventada pela imaginação dos homens, e que
portanto, sendo de autoria humana, está cheia de erros e não corresponde à verdade em
relação às coisas que são efetivamente de Deus.
A isto respondemos em primeiro lugar com o
próprio Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia (de Gênesis a Deuteronômio)
que foram escritos por Moisés, e cuja autoria foi
atestada pelo próprio Jesus Cristo, conforme
vemos no Evangelho. E quem era este Moisés? Ele foi o escolhido de Deus para conduzir a
nação de Israel do Egito para a terra de Canaã, e
foi o instrumento ao qual revelou a Sua vontade e a história da criação da humanidade desde o
primeiro homem, a queda no pecado, e a forma
pela qual o pecador seria resgatado da
condenação eterna decorrente do pecado.
Quando nos voltamos para o Novo Testamento, no qual o Velho tem o seu significado e razão,
encontramos o próprio Deus, na pessoa de Seu
Filho Jesus Cristo, revelando-nos que Ele viera a este mundo para que pudéssemos ser livrados
pela fé nEle, da condenação do pecado e do
diabo, bem como para sermos santificados pelo
43
Espírito Santo e pela Palavra revelada que seria
registrada no Novo Testamento, como o temos
ainda hoje há cerca de dois mil anos.
E o Novo Testamento foi escrito pelos apóstolos do Senhor, e estes registraram os Seus atos e palavras, e foram diretamente instruídos por Ele
acerca do significado do Evangelho que
deveriam pregar e ensinar para que os
pecadores fossem salvos.
Ora, se rejeitamos portanto, este único ensino que corresponde à exata revelação de Deus,
quer através de Moisés, dos profetas que
falaram das coisas que se cumpririam em
Cristo, e ainda, do próprio Deus Filho, em pessoa, quando esteve na Terra, encarnando a
Verdade e a Graça, que foram comunicadas aos
apóstolos por palavras e pelo ensino do Espírito
Santo, como poderemos ser salvos?
E ainda, que sentido Jesus faria para alguém que
não crê que Ele veio ao mundo para que sejamos justificados, regenerados e santificados, por
pensar que não há vida depois da morte, ou
mesmo que voltará a reencarnar em outra pessoa no futuro para continuar sendo
aperfeiçoado através de sucessivas
reencarnações?
Ele veio para remover a nossa culpa no aqui e agora e para sempre. Ele veio para que
44
comecemos a ser santificados desde o momento
em que nos convertemos a Ele. Por isso morreu
na cruz no nosso lugar e está se oferecendo a si
mesmo para ser a nossa JUSTIÇA, para que sejamos justificados diante da santidade
absoluta de Deus. É portanto, somente nEle que
podemos achar a remissão e o perdão de todos os nossos pecados, e sermos feitos filhos e
herdeiros de Deus.
Todos nós estaríamos em grandes trevas eternas, se o próprio Senhor Jesus não nos
atraísse a Si, e removesse o nosso
endurecimento e cegueira, para que possamos
ver e participar das coisas espirituais que são relativas ao Reino de Deus. Graças eternas
portanto, ao Seu grande Nome.
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Derramar de Coração
Ah Senhor amado de minha alma...
Que eu não tenha inveja dos homens malignos, nem queira estar com eles,
porque o seu coração maquina violência, e os seus lábios falam o mal.
Tenho aprendido contigo que mais poder tem o sábio do que o forte, e o homem de
conhecimento, mais do que o violento.
Sei que se me mostrar fraco no dia da angústia, a minha força será pequena, porque é preciso honrar-te mantendo firme a esperança de que
serás a minha força na minha fraqueza.
Livra Senhor... os que estão sendo levados para a morte e salva os que sequer sabem que estamos
todos mortos em espírito na tua presença,
quando não temos a vida de Jesus Cristo habitando em nós.
Como poderia esconder de ti as minhas faltas, pois pesas corações e tudo sabes, antes mesmo
que eu formule qualquer pensamento.
Dá-me pois sabedoria espiritual para que possa vigiar meu coração e mente, e confessar-te
46
todas as minhas transgressões, de modo que
não me sejam ocultas.
Confio inteiramente na tua graça e misericórdia
para com os pecadores, dos quais eu sou o principal.
Torna a alegrar-me com a tua alegria, para que te cante louvores de todo o meu coração.
Pois tenho andado em humildade na tua presença, e tenho perdoado a todos os meus
ofensores, e intercedo pelo bem dos que me
injuriam.
Tu sabes que não me alegro com a ruína de qualquer pessoa, e que o meu coração se
compadece dos que andam vencidos pelo
pecado.
Não busco coisas elevadas para mim, não me interesso por riquezas terrenas ou fama. Minha
alma abomina a lisonja, pois sei muito bem que
nada sou. Tu és o meu tudo, a minha única herança e esperança.
Fortalece-me então Senhor, para que eu glorifique o teu santo nome na Terra, pelo
testemunho da operação tua graça em minha vida.
Outro bem não espero a não ser que possa ser em tuas mãos uma bênção para o meu próximo.
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Faze prevalecer o amor e o bem em cada coração que nesta hora faz juntamente comigo esta
oração.
Abençoa nossas vidas, nossos lares, nossos amados e até mesmo os nossos inimigos, para
que se saiba que em ti há somente o bem, e
nenhuma treva ou mal.
48
Resistindo a Tudo que Possa nos Afastar
de Deus
Em dias de tantos falsos profetas, pastores, mestres e cristos que se apresentam com
propostas para “melhorarem” as condições de
vida da sociedade em que vivemos, devemos ter
muito bom senso e discernimento espiritual para não cairmos nas armadilhas destes
traficantes de promessas que oferecem
liberdade, paz e prosperidade, quando eles
próprios se encontram em completa prisão, tormenta e ruína espiritual diante de Deus.
Devemos vigiar e nos acautelar deles para que
não sejamos achados desviados da presença do Senhor e dos Seus mandamentos.
O que a sociedade pós-moderna chama de cultura e liberdade, Deus chama de abominação. Sexo livre, funk, uso abusivo de
drogas, adultérios, fornicações, baladas,
luxúrias, glutonarias, bebedeiras, jogatinas, e
coisas como estas podem ser classificadas de expressões de liberdade?
A Terra está cheia de violência, assassinatos, furtos, roubos, corrupção, desmando de autoridades, enganos, traições, rebeliões,
guerras, e poder-se-ia chamar a isto de dias de
prosperidade e de paz?
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Como pode a boca daquele que não conhece a paz de Cristo oferecer a paz? Como podem
aqueles cuja soberba lhes acusa abertamente,
serem humildes diante do Senhor?
Que os crentes não se deixem portanto,
enganar por estes que lhes acenam com promessas com o intuito de lhes afastar dos
caminhos do Senhor.
Estes apelos nos vêm de todas as formas, especialmente através de meios virtuais com
mensagens diretas ou subliminares. O encanto dos diversos sedutores que estão a serviço de
Satanás, conscientemente ou não, se apresenta
em todo o mundo para atrair almas
inconstantes e incautas. É tempo então de orar e vigiar em todo o tempo conforme o Senhor nos
ordena em Sua Palavra, para que sejamos
achados de pé perante Ele.
O sétimo capítulo do livro do profeta Oséias revela a grande influência que têm as capitais
das nações, e os centros onde se concentra o poder político, porque quando o Senhor se
dispunha a fazer uma cura em Israel,
especialmente no meio rural, este era
contaminado por toda a iniquidade da principal tribo de Israel onde se encontrava a capital de
Samaria, onde a falsidade e a maldade,
especialmente encontradas na corte junto aos
50
príncipes, fazia com que a iniquidade se
espalhasse por toda a nação.
Grandes centros chamados culturais são usados estrategicamente pelo diabo para contaminar
regiões e nações inteiras.
Quando a iniquidade se multiplica a este nível, Deus e a própria ideia sobre um Deus que julga
são lançados para longe do coração e mente das pessoas.
Elas passam a cogitar que Ele não se importa com a maldade delas, porque não se veem juízos
sendo aplicados imediatamente a cada falta
cometida.
A alegria carnal da corte de Samaria, regada a vinho, com a qual os príncipes e o rei se
alegravam constantemente, era uma inspiração para que praticassem a maldade, especialmente
para multiplicar os adultérios dos cortesãos; e
de igual modo o mau exemplo dado pelos
governantes de nossos dias é um incentivo para o desregramento da sociedade como um todo.
O vinho os aquecia em suas luxúrias carnais como alguém que acende um forno, e que atiça
as suas chamas até que o pão seja colocado nele
para assar.
Efraim havia se misturado a tal ponto aos costumes das nações pagãs, que não mais se
51
podia distinguir em Israel nada do que fosse
diferente delas.
Se guardavam algo do culto devido ao Senhor,
isto era apenas por uma parte, sendo que a outra de seus corações estava ligada aos costumes de
tais nações.
Então é dito deles que era como um bolo que não foi virado, ou seja, estava cozido apenas de um
dos lados, sendo impróprio para ser usado por
Deus.
Eles haviam misturado o culto do Senhor com o de Baal, dos sidônios.
E nunca mais foram livrados disto em seus corações, a par de todas as reformas que foram
tentadas para livrá-los desta idolatria.
Esta mistura com os costumes estrangeiros lhe havia roubado a força espiritual que tinham no
Senhor.
Estavam endurecidos em sua soberba carnal, e com isto se recusavam em reconhecer a
necessidade de voltarem para o Senhor, porque
estavam debaixo de uma aliança com Ele que
previa castigos em caso de desobediência, tanto quanto bênçãos em caso de obediência.
Em vez de colocarem sua confiança no Senhor, procuravam se fortalecer política e
52
militarmente fazendo alianças com nações
estrangeiras, como a Assíria e o Egito, mas eram
como uma pomba enganada, que não sabia
reconhecer qual era o seu verdadeiro lugar de repouso.
Todavia, o Senhor não lhes permitiria que consumassem o seu engano, porque lhes
apanharia com a sua rede, como se apanham as
aves do céu, e os faria descer para serem castigados por Ele, conforme os juízos que
proferiu contra eles através dos Seus profetas.
Como haviam voltado suas costas para Deus e fugido dEle e do cumprimento da Sua vontade,
se rebelando contra Ele, seriam destruídos,
porque se tivessem buscado ao Senhor seriam libertados por Ele, mas preferiram continuar
falando mentiras contra Deus.
Não Lhe clamavam de coração, mas davam uivos em suas camas, isto é, por causa de suas
aflições, somente para verem atendidas suas
necessidades imediatas e cobiças de seus corações carnais. Choravam por suas perdas e
não pelos seus pecados.
53
Estamos Vivendo o Cumprimento de
Miquéias 7
Nosso Senhor Jesus Cristo profetizou que nos
últimos dias, por se multiplicar a iniquidade na
Terra, o amor se esfriaria de quase todos (Mt
24.12).
A palavra iniquidade no referido texto de Mateus é no original grego anomia, ou seja, violação da lei de Deus – literalmente significa
“a (sem), nomos (lei)”. De modo que esta
multiplicação da iniquidade se refere ao
comportamento da sociedade que não condiz com os valores morais e espirituais da Palavra
de Deus, notadamente com os mandamentos de
Cristo.
Nós tivemos vários exemplos desta condição que temos vivido em nossos dias, na história da
nação de Israel no período do Velho Testamento, notadamente no período dos Juízes
e dos Reis. E mesmo quando o Senhor lhes
proveu de reis piedosos, justos e santos como
Ezequias e Josias, por exemplo, a iniquidade havia se espalhado de tal forma na nação, que
nenhuma das medidas por eles tomadas para
conduzir o povo a um proceder reto se mostrou
eficaz, porque o pecado e o desejo de transgredir os mandamentos de Deus estavam arraigados
em seus corações. Se homens de Deus que eram
verdadeiramente piedosos não puderam trazer
54
de volta o povo a um proceder justo, quanto mais
isto não nos virá da parte de governantes ímpios,
que é o caso presente em todas as nações do
mundo, inclusive em Israel.
O aumento da iniquidade dos israelitas chegou a tal ponto, especialmente nos dias dos últimos
reis, que não continuariam somente sendo
entregues pelo Senhor à opressão de nações inimigas, como também lhes expulsaria da terra
que lhes havia prometido por herança. Nisto
temos evidenciado o que ocorrerá ao mundo,
por causa desta multiplicação de iniquidade que temos testemunhado em nossos dias, pois Deus
desarraigará o ímpio da Terra por ocasião da
segunda vinda de Jesus.
O profeta Miquéias descreve no início do sétimo capítulo do seu livro, a que ponto cresceria a iniquidade em Israel e em Judá, quando fossem
levados para o cativeiro.
Toda a vontade de Deus seria subvertida, de modo que o que se veria em Israel e em Judá,
seria justamente o oposto de tudo aquilo que é ordenado em Seus mandamentos.
Não haveria homens piedosos e retos no povo do Senhor, senão somente a prática do mal,
especialmente pelos próprios líderes da nação.
55
A tal ponto chegaria a iniquidade, que ninguém poderia crer num amigo ou confiar num
companheiro, de forma que a prudência de se
manter a boca fechada, seria recomendada mesmo diante daqueles que fossem mais
íntimos, tal seria a predisposição deles para
serem dirigidos pelo mal.
Quando a iniquidade se multiplica Satanás governa os corações e os conduz conforme seu
próprio querer, independentemente do grau de
parentesco ou de amizade, produzindo infâmias, traições, maledicência, e até mesmo a
prática da violência, contra pessoas que antes
eram amadas e estimadas.
“2 Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para
derramarem sangue; cada um caça a seu irmão
com rede.
3 As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o
juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles
juntamente urdem a trama.
4 O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. É
chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o
dia do teu castigo; aí está a confusão deles.
56
5 Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda a porta de tua boca àquela
que reclina sobre o teu peito.
6 Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta
contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa.” (Miq 7.2-
6).
Veja se não é exatamente isto o que temos vivido presentemente?
O que fazer então? Dar de ombros? Fechar os olhos? Cruzar os braços? Não. De modo algum.
Entretanto não devemos nos iludir com a
melhora deste quadro nestes últimos dias da
grande apostasia que antecedem a manifestação do Anticristo. Os que são santos,
continuem a se santificar e sendo cidadãos
exemplares num real testemunho de vida reta e
honesta, sustentando a pregação do evangelho, pois aqueles que são injustos se tornarão cada
vez mais injustos (Apo 22.11).
Assim, o profeta Miquéias aponta o caminho para aqueles, que tal como Ele, perseverassem
em seguir ao Senhor.
Deveriam olhar para Ele e esperar no Deus da salvação deles, porque Ele os ouviria, e ainda
que viessem a cair, o Senhor não daria motivo
para que seus inimigos se alegrassem a respeito
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deles, pois o Senhor os levantaria, e os tiraria das
trevas para a Sua luz.
Desde que houvesse arrependimento sincero, com confissão do pecado a Deus, Ele julgaria a
causa destes que se voltassem para Ele, e executaria o seu direito, de modo que os tiraria
das trevas para a luz, para verem a Sua justiça.
Esta justiça graciosa e misericordiosa que está disponível no Senhor confunde os inimigos do Seu povo, que não podem entendê-la.
Eles permanecem debaixo dos seus pecados, porque não confiam na justiça de Deus com a
qual somos justificados, a saber, a justiça do
próprio Cristo.
É preciso ter muito cuidado na condição de ministros do evangelho, para não tentarmos
conduzir as pessoas que nos ouvem a uma
justificação que não seja a de Cristo, que é
somente por fé, e que é instantânea.
Ao contrário, não devemos conduzi-las a uma justificação falsa, que não ocorrerá, e que seja
decorrente de nossos discursos moralistas, que
apontam o pecado; não para efeito de produzir
arrependimento e a busca de Deus, mas somente a condenação dos outros para que nos
sintamos melhores e superiores a eles, julgando
possuir de nós mesmos uma justiça maior do
58
que a deles, quando na verdade não a
possuímos, ou então, que esteja sendo aplicada
contrariamente ao propósito de Deus de salvar
os pecadores.
Assim, quando a misericórdia de Deus fosse manifestada em toda a Sua plenitude, quando o
remanescente de Israel fosse achado reinando
em glória juntamente com o Messias no milênio, as nações ficariam ainda mais
estupefatas do que antes, porque na sua justiça
legalista, baseada no mérito humano, jamais
poderão compreender a justiça de Deus, que está baseada na Sua misericórdia, e
exclusivamente nos méritos de Cristo, e não nos
nossos.
Jerusalém de odiada que foi e será, especialmente nos dias do Anticristo, manifestará uma glória ainda maior do que a
que tivera antes.
Seus muros serão reedificados, e suas fronteiras aumentadas.
O mundo de pecado será julgado por causa de suas más obras, quando da vinda do Senhor, mas o Seu retorno, para Israel, significará
livramento e restauração (v. 11 a 13).
O Senhor apascentará o Seu povo, fazendo maravilhas para livrá-lo das assolações do
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Anticristo, tal como havia feito nos dias de
Moisés quando os livrou do Egito.
De fraco, perseguido e oprimido que era, Israel virá a ser forte no Seu Deus; e honrado por Ele,
será motivo de temor para as nações inimigas,
que ficarão caladas e pasmadas, em face de todo o bem e poder que o Senhor tiver concedido ao
Seu povo.
“7 Eu, porém, olharei para o SENHOR e esperarei no Deus da minha salvação; o meu
Deus me ouvirá.
8 Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-
ei; se morar nas trevas, o SENHOR será a minha luz.
9 Sofrerei a ira do SENHOR, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e
execute o meu direito; ele me tirará para a luz, e
eu verei a sua justiça.
10 A minha inimiga verá isso, e a ela cobrirá a vergonha, a ela que me diz: Onde está o
SENHOR, teu Deus? Os meus olhos a contemplarão; agora, será pisada aos pés como
a lama das ruas.
11 No dia da reedificação dos teus muros, nesse dia, serão os teus limites removidos para mais
longe.
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12 Nesse dia, virão a ti, desde a Assíria até às cidades do Egito, e do Egito até ao rio Eufrates, e
do mar até ao mar, e da montanha até à
montanha.
13 Todavia, a terra será posta em desolação, por causa dos seus moradores, por causa do fruto
das suas obras.
14 Apascenta o teu povo com o teu bordão, o rebanho da tua herança, que mora a sós no
bosque, no meio da terra fértil; apascentem-se
em Basã e Gileade, como nos dias de outrora.
15 Eu lhe mostrarei maravilhas, como nos dias
da tua saída da terra do Egito.
16 As nações verão isso e se envergonharão de todo o seu poder; porão a mão sobre a boca, e os
seus ouvidos ficarão surdos.
17 Lamberão o pó como serpentes; como répteis
da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos e, tremendo, virão ao SENHOR, nosso Deus; e
terão medo de ti.
18 Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O SENHOR não retém
a sua ira para sempre, porque tem prazer na
misericórdia.
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19 Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os
nossos pecados nas profundezas do mar.
20 Mostrarás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais,
desde os dias antigos.” (Miq 7.7-20)
62
Deus Julgará a Impiedade das Nações
Um só é o Juiz e Senhor de Toda a Terra.
Quando a medida da iniquidade das nações de
nossos dias estiver completa, o Senhor trará os
juízos que estão determinados por Ele em várias passagens da Bíblia, e dos quais, o que fora
profetizado e cumprido sobre a Assíria, através
do profeta Naum é um grande alerta para as
nações que se enriquecem à custa das suas pilhagens, enganos e violência, ainda que o
façam não tanto mais pela força das armas, mas
através de expedientes modernos de
manipulação financeira e política.
O Senhor tem um juízo contra essas nações, tal como tivera contra Nínive no passado.
Por isso tem determinado um dia em que as reunirá no vale de Megido, sob o Anticristo, para
que tanto ele, quanto elas, recebam a devida paga pelas suas iniquidades.
Está determinado pelo Senhor que o homem não prevalecerá pela força ou pelo engano, de
modo que todo povo ou nação que tiver buscado
se engrandecer por este caminho, virá a sucumbir perante Ele, tal como fizera no
passado em relação a muitas nações poderosas,
para que servissem de ilustração, do exemplo
63
que não deve ser seguido pelas nações que
desejem de fato prosperar e serem abençoadas.
Nós podemos ver no 3º capitulo de Naum que a iniquidade de Tebas era menor do que a de
Nínive, e no entanto, ela havia sido submetida a
um juízo do Senhor, quanto mais então a Assíria
não poderia dar como certo o dia da visitação da Sua iniquidade? Como poderia então o Senhor
deixar impune toda a impiedade que é praticada
por muitas nações de nossos dias?
Foi pronunciada uma aflição (ai!) contra a cidade ensanguentada de Nínive, isto é, que
havia se fortificado com o derramamento de
sangue de muitos povos conquistados.
Eles haviam feito montões de cadáveres e se regozijavam nisto, gloriando-se das enormes
pilhas de ossos daqueles que haviam sido assassinados por eles.
E estes que haviam sido mortos por eles, foram vendidos pelos oráculos de feiticeiras e meretrizes, que indicavam aos reis assírios,
sendo usadas pelo diabo, quais as nações que
deveriam ser subjugadas e a forma de crueldade
que deveriam usar contra elas, para rapiná-las, e tudo isto fizeram para aumentarem a própria
riqueza e prestígio delas junto aos príncipes de
Nínive.
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Então, a sentença do Senhor contra eles não
poderia ser outra senão a que lemos nos versos
5 a 7:
“5 Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos
exércitos; e levantarei as tuas fraldas sobre a tua
face; e às nações mostrarei a tua nudez, e seus
reinos a tua vergonha.
6 Lançarei sobre ti imundícias e te tratarei com desprezo, e te porei como espetáculo.
7 E há de ser todos os que te virem fugirão de ti,
e dirão: Nínive esta destruída; quem terá
compaixão dela? Donde te buscarei
consoladores?”
Nínive buscaria se refugiar do inimigo quando
este viesse contra ela, mas não poderia achá-lo,
porque seria sitiada, de maneira que é
aconselhada na profecia a juntar água no interior de suas portas para poder resistir ao
tempo do cerco que seria levantado contra ela.
Suas tropas ficariam atemorizadas e retidas no interior da cidade sem poderem resistir à
invasão de Babilônia, que queimaria todas as
portas de Nínive.
Os príncipes fugiriam para as campinas, bem como os assírios seriam espalhados pelos
montes, sem poderem se organizar em ordem
de batalha, porque os líderes procurariam, cada
65
um de per si, salvar a própria pele deles, ao
perceberem que seria vã qualquer tentativa de
resistência ao poder do inimigo.
A ferida que lhes seria feita, da parte do Senhor, seria incurável, de modo que todos os que
haviam sido oprimidos pelos assírios, ao
ouvirem o que lhes havia sucedido, se
regozijariam batendo palmas sobre a ruína deles, porque reconheceriam nisto um justo
castigo por toda a maldade que eles haviam
praticado.
66
Continuamente Mau
“Viu o Senhor que a maldade do homem se
havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu
coração;” (Gênesis 6.5)
Nossa natureza terrena corrompida pelo pecado
nos acompanhará até o dia da nossa morte – esta
natureza está sempre disposta e inclinada para o
mal – por isso não fazemos continuamente o bem que queremos, e fazemos continuamente o
mal que não queremos – continuamente, não
como sendo ininterrupto, mas como algo que sempre se manifestará de modo intermitente
em todas as pessoas, ainda que mais em alguns
do que em outros.
Esta continuidade é definida pela nossa incapacidade absoluta de permanecer na
prática do bem em todo o tempo, por todos os dias de nossas vidas, porque assim como a força
da gravidade puxa todas as coisas naturalmente
para baixo, nossa natureza corrompida pelo
pecado é dotada de hábitos, desejos, inclinações e disposições que sempre nos puxam para baixo,
e é impossível, portanto, permanecer
praticando, pensando, imaginando, sentindo e
desejando somente aquilo que esteja de acordo com a vontade de Deus e seus mandamentos. E
isto se aplica também a cristãos, que são
renascidos do Espírito Santo, e que são dotados
67
portanto de uma nova natureza espiritual,
celestial e divina.
É comum se pensar que as pessoas que são muito espirituais e que são notórias em sua
santificação cotidiana, estão livres dessa condição de miséria da natureza terrena da qual
todos somos dotados. Ao contrário, quanto mais
santificado alguém for, mais conhecerá a profundidade da malignidade da natureza
terrena, em seu próprio coração, e saberá o
quanto Jesus é o seu tudo para tudo, o único
salvador e libertador da condenação eterna, pois por mais santos que sejamos estamos
sempre carregados de pecados – pecados que
são até mesmo involuntários porque a natureza
terrena pulsa involuntariamente assim como o nosso coração de carne – não estando portanto
sujeita até mesmo ao exercício da nossa vontade
para não produzir o que seja pecaminoso, pois
tal natureza possui as suas peculiares e inerentes inclinações, disposições e hábitos,
que são sempre contrários à Lei de Deus e à sua
vontade – em suma, em nós mesmos estamos
perdidos, carregados de pecados diários e contínuos – esta é uma fonte amarga que pode
ser interrompida pela fonte da nova natureza
divina recebida na conversão, mas é impossível
parar de todo o seu fluxo, de modo que sempre se verá na nossa água cristalina da nova
natureza espiritual algo da insalubridade da
fonte da natureza terrena – enquanto na
68
comunhão com Cristo o coração está purificado
de todo pecado e injustiça – mas qualquer
brecha na comunhão e logo a velha natureza se
levanta e nos conduz àquele estado ruim de alma que nos incapacita a viver de modo
agradável a Deus – é fácil então concluir porque
é a Cristo que deve ser dada toda a glória, honra e louvor.
“20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que o
contamina.
21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios,
22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.20-23)
“Sem mim nada podeis fazer”, o Senhor Jesus
afirma de forma incisiva e clara a nossa
completa dependência dEle para sermos justificados, perdoados, regenerados,
santificados e por fim glorificados, pois não há
quem não peque, como temos demonstrado em
razão da natureza que carregamos e que nos leva a clamar juntamente com o apóstolo Paulo:
“miserável homem que sou, quem me livrará do
corpo dessa morte?”. E respondemos também
69
imediatamente com ele: “Graças a Deus por
nosso Senhor Jesus Cristo”.
À luz destas considerações somos levados a
concluir que quando nosso Senhor dizia a
algumas pessoas logo depois que as salvava por causa da fé nele – “vai e não peques mais” - o
significado deste “não peques mais”
corresponde a dizer em outras palavras: “tenha
por alvo não dar acolhida ao pecado e não ceder à tentação, daqui por diante. Mantenha-se em
guarda, seja vigilante e ore incessantemente”;
pois, mesmo depois de salvo, nenhum cristão
possui em si mesmo o poder de jamais voltar a pecar, e daí dizer o apóstolo João que se
dissermos que não temos pecado, mentimos.
Mas o mesmo apóstolo nos ordena, segundo é a vontade de Cristo, a não vivermos mais
pecando, ao contrário, devemos lutar contra os
nossos pecados e confessá-los a Deus para
sermos perdoados e purificados. Ou seja, não devemos ter uma atitude de impassibilidade
diante da fraqueza da nossa natureza terrena
(que Jesus chamou de carne fraca), mas
devemos mortificá-la por um constante andar no Espírito, sabendo que há em nós esta
inclinação natural que é continuamente má, e
que pode ser subjugada somente pela nova
inclinação espiritual recebida na conversão a Cristo.
70
Ai de nós que Vivemos numa Geração
Ímpia!
O homem é produto do meio em que ele vive.
Somos influenciados pelo chamado instinto gregário pela nossa condição de ser social. A sociedade em que vivemos exerce uma
influência poderosa sobre o nosso modo de
pensar e agir.
Nossas crenças, valores e comportamento são
moldados espontaneamente pelo que vemos,
ouvimos, e por aqueles com os quais
convivemos. Então, ai de nós!
Vivemos num mundo onde especialmente a música, os filmes e programação de TV, a
literatura, seja de livros, periódicos e jornais,
encontra-se eivada de toda forma de
comportamentos obscenos, violentos, impuros etc, em que é plenamente justificado o uso da
vingança, da traição, da “esperteza”, da
malandragem, e tudo o mais que é condenável
pela própria natureza.
Isto é tão sutil que tem penetrado até mesmo a
vida daqueles que se dizem religiosos, uma vez
que quando tal estado de coisas prevalece, até
mesmo o ensino religioso ou apoia estes procedimentos iníquos ou silencia acerca deles,
por ter a consciência ficado embotada a tal
ponto, que se desconhece o que é devido à
71
obediência verdadeira a Deus, notadamente
quanto ao que se refere à gentileza, ao perdão,
ao amor ao próximo, inclusive aos inimigos, à
paciência sob injúria e perseguição, na prática do bem a todos sem qualquer distinção. Quão difícil tem sido viver de modo piedoso e
reto, conforme profetizado na Bíblia quanto aos dias da multiplicação da iniquidade em todo o
mundo!
De quanta vigilância, oração e meditação na
Palavra de Deus necessitamos, para não sermos
participantes desta falta de amor santo e
piedoso que tem se espalhado por toda parte numa velocidade espantosa.
“1 Sabe, porém, isto: nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis,
2 pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores,
desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem
domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos
dos prazeres que amigos de Deus,
5 tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.” (II
Timóteo 3.1-5)
72
Porque Devemos Perdoar
Com a chamada parábola do credor
incompassivo Jesus ensinou que Ele perdoa
dívidas, ainda que sejam de dez mil talentos, e que não seremos abençoados por Deus, e na
verdade seremos sujeitados ao juízo de sermos
corrigidos e disciplinados até que nos
disponhamos a ser longânimos e perdoadores, ainda que a dívida que tenhamos
que perdoar de alguém seja pequena como a do
homem da parábola, que mandou prender
quem lhe devia apenas cem denários (18.23-35). Veja que não se fala de perdão barato na Bíblia,
apesar de ser sempre pela graça, porque
sempre está implícita a necessidade de
arrependimento do ofensor. Na falta deste arrependimento não há qualquer sentido
no perdão.
Jesus pagou por nós a nossa dívida de dez mil talentos, e é por isso que somos isentados por
Deus de pagá-la, se temos crido em Seu Filho
como sendo o nosso fiel Fiador.
Assim como fomos perdoados tão
extensamente, se exige de nós, em nossa
própria esfera limitada, perdoar as pequenas
dívidas e ofensas que alguns dos nossos semelhantes têm para conosco. Deus em Sua perfeita majestade e santidade é
ofendido por todos e por muitas vezes, e ainda
73
assim sempre se mostra perdoador e
misericordioso para com todos os que se
arrependem.
Assim, a sua esfera para o perdão não é limitada
como a nossa, ao contrário, é de dimensão
infinita. Todavia, se mostra sempre favorável ao exercício do perdão. Na condição de que
sejamos seus imitadores, se requer de nós que o
sejamos sobretudo nesta parte, pois se refere à
proposta principal do evangelho que está relacionada ao perdão dos pecadores para a sua
reconciliação com Deus. Assim, como
poderíamos anunciar o evangelho sem uma
completa disposição para perdoarmos os nossos ofensores?
74
O Caráter da Bênção da Liberdade do
Cristão
É somente pela permanência na vida espiritual
que é operada pela fé, e que cresce na provação
da fé, que se pode ser mais do que vencedor na
prática da vida cristã diária, e não apenas por mero conhecimento doutrinário.
A doutrina verdadeira deve ser praticada, senão
as graças que existem em nós, estão prestes a morrer (desaparecer), tal como havia ocorrido
com a Igreja de Sardes (Apo 3.1,2).
Contudo quem é suficiente para estas coisas?
Então eles perderam também de vista a necessidade de se estar debaixo da influência do
Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus
(andar no Espírito) para que então, estas coisas
ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne,
mas liberdade para a nova criatura. A carne deve ser mortificada, e por isso foi
crucificada juntamente com Cristo quando Ele
morreu na cruz do Calvário (v. 24).
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e
não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa. É a
75
semente da vida eterna que foi semeada no
coração do cristão.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e
que está destinada a crescer e a vencer a antiga
natureza, assim como a Nova Aliança revogou e substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está
colocando o seu vinho celestial da verdadeira
alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento progressivo da nova natureza, que os cristãos
são habilitados e capacitados a viverem em
unidade, sendo um só corpo em Cristo, unidos
pelo vinculo do amor.
Somente assim se cumpre o propósito de Deus em relação a eles.
Porém, quando se deixam governar pela carne,
e negligenciam os deveres que lhes são
ordenados na Palavra, quando deixam de ser
diligentes no hábito da santificação, esquecendo de purificar seus corações pela
Palavra, pelo poder do Espírito, e de
permanecerem continuamente nisto por todos
os dias das suas vidas, então o que se verá são todas as manifestações que são designadas por
obras da carne (dissensões, iras etc) e não o
fruto do EspÍrito, que é amor, paz etc.
76
Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei,
e se iludirão se pensarem que a estão
cumprindo.
Ora, se Deus sentenciou à morte a carne com
suas paixões e cobiças na cruz, como podem os
cristãos viverem, debaixo desta influência, em
vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a vontade de Deus é que este corpo de morte de
pecado não seja apenas morto, mas também
lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho
de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de
hospedarmos o velho homem que já foi morto
desde o dia que nos convertemos a Cristo e passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna
carnal mais ela estará sujeita à influência das falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior
facilidade, porque é somente sendo espirituais
que podemos discernir não somente estas coisas, porque o homem espiritual discerne
todas as coisas, principalmente as coisas que são
do Espírito, porque elas se discernem espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por
esta luta do Espírito contra a carne, para
77
apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e
destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não
somente dos gálatas, mas de todos os cristãos.
Se é por um andar no Espírito que se vence a
cobiça da carne, então devemos nos empenhar firmemente em não apenas aprender o
significado disto, como também o modo correto
de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não
é uma mera devoção mística, porque é possível
ser isto e estar completamente distante da verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida. É uma prática, é um hábito, é um constante
crescimento na graça e no conhecimento de
Jesus.
Por isso, para dissuadir os gálatas das suas falsas
convicções, Paulo argumentou fortemente com
eles dizendo que se é pelos pecados, que os
praticantes deles que os amam e não pretendem deixá-los, serão deixados do lado de fora do céu,
como podem os cristãos, que ganharam o céu
por Jesus Cristo, permanecerem na prática
destas mesmas obras pecaminosas?
É portanto, dever de todos eles purificarem seus
78
corações pela Palavra, mediante o poder do
Espírito.
É somente na Palavra revelada que os cristãos
podem portanto achar segurança para ficarem
livres dos erros satânicos, e de juízos errados relativos à verdade.
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que
existe permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao
outro, para que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito
se opõem mutuamente para que não façamos o que seja do nosso querer. O que ele quis dizer
com isto?
É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito
lutam contra a lei natural da nossa mente, e
contra as disposições da nossa alma. Isto é, tanto um quanto o outro, pretendem ter o domínio da
nossa vontade e de todo o nosso ser.
A carne pretende nos levar a pecar ainda que
não o queiramos; e o Espírito Santo pretende
79
nos santificar e levar-nos a viver não pelo que é
propriamente da nossa vontade, mas por aquilo
que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que
seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz
para que a carne possa ser crucificada com as
suas paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus diz que as Suas palavras são espírito e vida (João 6.63). Isto é, elas não são mera letra, e
não devem ser captadas, apenas pela mente
como tal, mas deve ser buscada a realidade para
a qual elas apontam.
80
Não Podemos Medir Nossa Ira Pela de
Deus
Não podemos medir a nossa ira pela ira de Deus, porque a ira do Senhor é perfeitamente justa e
santa, e é Ele que tem o poder de julgar
as consciências humanas e executar uma
sentença de condenação sobre elas. A nós, não foi dada tal autoridade, ao contrário, somos
ordenados a não passar este tipo de juízo
condenatório definitivo nos outros, para que
não sejamos julgados com a mesma medida que julgamos. E quão difícil e delicado é viver isto.
Por isso devemos examinar este assunto nas
Escrituras, para podermos aplicar em nossas
vidas a vontade de Deus quanto à diferença que há entre uma ira justificada e santa, e uma ira
não justificada e não santa.
Lembremos que Moisés não estava em rebelião
contra Deus, mas o povo de Israel sim, e murmuraram contra Ele. Mas quando
Moisés descarregou a sua ira contra eles em
Refidim, quem foi julgado por Deus naquela
ocasião foi o próprio Moisés, e não eles. A Moisés, o ter se irado contra eles e batido na
rocha, custou ser proibido de entrar em Canaã,
ainda que tivesse insistido com o Senhor para
entrar na terra prometida. Moisés não foi julgado pelo Senhor porque se irou contra o
pecado dos israelitas, porque a sua ira era
justificada e santa, mas porque não conteve a
81
sua ira, quando Deus não estava exercendo
nenhum juízo sobre eles, e portanto cabia-lhe
seguir o exemplo do Senhor naquela situação.
Se tivesse de passar algum juízo, ele deveria
passar o juízo determinado por Deus, e não agir pela própria conta. Há um grande ensino para
nós naquele incidente. O que faltou a Moisés foi
longanimidade. Veja que problema é isto quando ela falta aos líderes da Igreja de Cristo.
Se nós formos perder a nossa tranquilidade de
mente por causa do pecado de alguns crentes da
nossa Igreja ou de outras, nós nunca poderemos ter paz com Deus, porque o diabo sempre usará
isto contra nós. É preciso pois ser sempre
longânimos, porque sempre haverá o joio entre
nós.
É preciso pois aprender do mesmo exemplo de
longanimidade de Cristo e dos apóstolos,
especialmente os líderes do povo de Deus, para
que não venhamos a destruir a obra que Ele nos tem designado para dirigir, por causa de um
destemperamento que não nos permita sermos
longânimos para com todos, conforme é
necessário, para que em meio a todas as dificuldades que venhamos a encontrar no
caminho no nosso relacionamento com as
pessoas que Deus tem colocado debaixo do
nosso cuidado, especialmente para que aquelas dificuldades criadas por Satanás, não venham a
pôr a obra do Senhor a perder, por falta da
nossa longanimidade.
82
A Obra de Deus É Dirigida por Ele
Uma obra que é genuinamente de Deus será
conduzida e governada por Ele próprio, e nós
seremos apenas Seus instrumentos. Enquanto
fazemos muitos planos e procuramos prevalecer em muitas frentes que não foram
planejados e abertos pelo Senhor, ainda
estamos fazendo a nossa obra e não a dEle.
A obra de Deus é dirigida por Ele, e somente por
Ele. Josué é general mas deve se submeter ao Príncipe dos exércitos do Senhor. Ao
generalíssimo dos Seus exércitos tanto do céu,
quanto da terra. E Jericó deve ser subjugada
pelos planos de guerra que recebermos de Suas mãos em inteira submissão a Ele, tal como fizera
Josué.
Assim é todo aquele que guarda o seu coração
porque será diligente no trabalho de Deus,
porque o terá recebido dEle próprio. Não estará fazendo a sua própria obra, mas aquela da qual
foi encarregado pelo Senhor a fazer, tal como a
que Neemias fez em Judá.
Esta pessoa não será confundida pela falta de
pensamentos, e a sua língua não estará presa pela falta de palavras. Deus dará
abundantemente ministrações àqueles que
andam humildemente na Sua presença,
83
guardando o coração deles incontaminado do
mal.
O desejo desta pessoa nunca será pregar a si
mesmo, seu próprio conhecimento, suas
virtudes, senão somente a Cristo, pois sabe de
quantas corrupções o seu coração tem sido livrado e limpo por Ele. Sabe que não há nada
para gloriar-se em si mesmo, senão somente em
Cristo. E todo o desejo do seu coração é portanto
o de exaltá-lo, com a mais profunda gratidão.
Estes ministros brilham com a luz de Cristo, mas sabem que são estrelas seguras nas Suas mãos.
Que estão a serviço dEle e debaixo do Seu
domínio. E temem e tremem em falar e agir de
modo diferente do que Ele lhes tenha ensinado e revelado.
Guarde seu coração fielmente e você estará preparado para qualquer situação à qual você
for chamado. Você estará contente em Deus em
toda e qualquer circunstância. Seja na
prosperidade, seja na adversidade, porque o poder do Senhor e a Sua graça estarão com você
e isto lhe será mais do que suficiente para
mantê-lo completamente contente na Sua
presença, e até mesmo exultante e gloriando-se nas próprias tribulações, porque verá que em
vez de afastá-lo do Senhor elas o trouxeram para
mais perto dEle.
84
Quem tem experimentado isto já não está mais
preocupado com os seus próprios interesses, senão com os de Deus, e conhecerá que este
interesse divino é o de ganhar almas e edificá-
las na verdade, e assim, este será todo o negócio
das vidas daqueles que têm se separado para o Senhor nesta verdadeira santidade.
85
Guardando Todo o Coração
Muitos pensam erroneamente que é possível ser fiel a Deus sem se guardar cem por cento o
coração. E sem ter um coração dividido e
conquistado por afetos por muitas coisas dentre
as quais Deus é apenas mais um simples item a ser considerado.
Há quem pense que estabelecer prioridades
corretamente é dedicar uma terça parte do seu
tempo ao trabalho, uma outra terça parte à família, e a terça parte final a Deus.
Isto significa que não há na verdade nenhuma
adoração verdadeira e serviço a Deus neste caso,
porque Ele não deve ter uma terça parte do nosso tempo, atenção e devoção, mas todo o
nosso coração. Cem por cento ou nada. Em tudo
que fizermos Deus deve estar presente, e tudo
deve ser feito não como para homens ou para nós mesmos, senão pra Ele. Este é o modo
correto de se estabelecer as prioridades
conforme nos ensina a Bíblia, pois ela afirma
claramente que tudo deve ser feito para a glória de Deus e que Ele deve ser adorado com toda a
nossa força, mente, coração e alma. Toda é toda,
e não parte, muito menos terça parte. Toda é
cem por cento. E é cem por cento porque Ele não aceita um coração que lhe é devotado
parcialmente, senão que aceita somente a
oferta de todo o nosso coração.
86
Tente reservar partes de sua atenção para
outras coisas quando adora a Deus, e veja se
haverá alguma verdadeira adoração? Porque
Deus não nos enche com o espírito de louvor pelo Seu Espírito quando assim procedemos? A
resposta é fácil: é porque não lhe devotamos
todo o nosso coração e atenção.
87
Nosso Grande Trabalho é Guardar o
Coração
Guardar o coração é o grande trabalho de um crente porque a vida cristã não pode ser vivida
sem isto. E sem guardar o coração todos os
deveres são de nenhum valor à vista de Deus. Muitos serviços esplêndidos foram executados por homens que Deus rejeitará totalmente,
porque eles não deram qualquer atenção à
necessidade de guardarem seus corações em
Deus. Cristo será uma rocha de ofensa na qual muitos mestres da religião irão colidir e se
arruinarão eternamente. Estes mestres nunca
derramaram uma só lágrima pela dureza,
incredulidade e mundanismo de seus corações. Como poderão entrar no céu pela porta larga e
pelo caminho espaçoso em que viveram? Como
pessoas com tais corações poderão suportar a
vinda do Senhor e estarem de pé diante dEle? Como poderão afirmar ter amado a Cristo se os
seus corações nunca estiveram com Ele?
Lembremos que controvérsias infrutíferas
iniciadas por Satanás têm o propósito de nos afastar da piedade prática e a confundir nossas
cabeças quanto à verdade que devemos viver e
praticar.
E este afastamento da piedade será a realidade da vida por mais ativistas que sejamos em
nossas Igrejas, porque a carne sempre
prevalecerá sobre nossas atitudes exteriores.
88
Por mais duro que possa parecer a afirmação
que vamos fazer, ela é a pura expressão da
realidade, a saber, que as manifestações de
poder e consoladoras do Espírito não são para serem experimentadas ocasionalmente nas
nossas reuniões públicas de adoração (cultos),
enquanto se abriga no coração ódios, ressentimentos, mágoas, iras, impurezas,
ciúmes, invejas, de maneira que tudo isto seja o
fruto de uma aplicação diária e constante em se
guardar o coração puro de todas estas obras da carne.
O Espírito Santo quer abençoar com paz, com
amor, com alegria, longanimidade, unidade,
comunhão, mas como poderá fazê-lo num
coração que não busca pela Sua ajuda em oração de gemidos inexprimíveis que superam nossas
fraquezas e pecados? Mas como o teremos se
não o buscamos com toda a força e sinceridade
de nossa alma? Por isso é possível alguém acrescentar o seu amém a verdades ouvidas na
pregação, enquanto sente um grande fardo em
sua alma, que pode até mesmo estar sendo
produzido por espíritos opressores. Qual a razão disto senão a de se estar debaixo da pregação
sem se buscar um coração puro no Espírito?
Que possamos aprender então a conduzir
nossas congregações livres deste grande erro de tentar usar o Espírito como uma espécie de
pílula para resolver o problema de nossa dor de
cabeça, sem remover a sua verdadeira causa,
89
que é um coração que não é governado pela
santidade de Deus.
Pessoas podem experimentar bênçãos ocasionais do Espírito sem ter um estado de paz
de alma permanente, que tudo vence, tal qual os
crentes da Igreja Primitiva, porque andavam na
verdade, andavam no Espírito, e buscavam por isto em todos os momentos de suas vidas, e Deus
respondia esta fidelidade com paz na tribulação,
alegria na adversidade, força na fraqueza, e
autoridade para até mesmo serem duramente martirizados, sem que se visse neles qualquer
desespero.
É certo que cuidados mundanos e dificuldades
podem aumentar grandemente a negligência de nossos corações. As cabeças e corações das
multidões estão cheios de uma multidão de
barulhos de negócios mundanos que excluiu da vida deles o amor, o zelo, e o prazer que eles
tinham em Deus.
Quão miseravelmente somos propensos a nos
emaranharmos neste deserto de ninharias! Os brinquedinhos que Satanás apresenta para
nosso entretenimento são considerados por
muitos adultos em idade avançada como coisas
essenciais à vida, quando na verdade, não passam sequer de superfluidades, pois são
apenas objetos que têm o objetivo de distrair e
afastar nossa atenção de Deus e dos deveres que
90
Ele nos tem incumbido para a nossa felicidade e
daqueles que tem colocado debaixo da nossa
influência.
E quando nos tornamos imprestáveis para o uso
de Deus, para quem mais poderemos ser verdadeiramente úteis nas coisas relativas ao
Seu reino?
Quantas oportunidades preciosas perdemos por
causa disso? Quantas advertências do Espírito ignoramos voluntariamente?
Com que frequência chamamos a Deus quando
nossos pensamentos mundanos nos impediram
de ouvi-lO?
Se perdemos nossa visão dEle por causa de
nossos muitos cuidados, como esperaremos triunfar sobre todas as tribulações e ataques do
inimigo tendo nossos corações guardados na
paz e vencendo pela fé a todas as oposições da
carne, do diabo e do mundo?
Se guardar o coração é o grande trabalho de todo crente, quantos veremos então prevalecendo
realmente com Deus em oração, tendo prazer
em estar na Sua presença e servi-lo mesmo que
seja em circunstâncias adversas? Quantos serão como os crentes da Igreja Primitiva que tinham
prazer em sofrer por amor a Cristo porque eram
fortalecidos por Ele na fidelidade deles?
91
O real prazer espiritual diante de Deus é algo
contínuo e cada vez mais crescente. Não é um
fardo. Não é uma obrigação desgastante, senão
um grande prazer e alegria. Mas quem é que pode experimentar isto? Somente aquele que
tem guardado continuamente o seu coração do
mal. E não segundo os seus próprios critérios do que considere mal, mas segundo os critérios de
Deus revelados em Sua Palavra. Estes são bem-
aventurados porque os tais são os de coração
puro conforme afirmado por Jesus no Sermão do Monte. São estes que veem a Deus, tanto
neste mundo quanto no mundo por vir,
conforme a promessa de Jesus na mesma bem-
aventurança.
Até quando os crentes deixarão que o ciúme, a inveja e o orgulho, estas três serpentes
venenosas, sejam abrigados em seus corações
para impedimento da unidade, comunhão do
corpo de Cristo, e do progresso do Seu reino na terra? Até quando um justo não poderá se
regozijar na fidelidade de um outro justo, para
não ofender a consciência fraca e carnal,
ciumenta e invejosa de um outro crente que não permite ser santificado pelo Espírito, de modo a
ser livrado destes sentimentos que não somente
não fazem parte do amor, porque ele não é
invejoso, ciumento, orgulhoso e egoísta, como também impedem a manifestação do amor na
Igreja, sabendo nós, que ela não pode existir e
sobreviver sem isto?
92
Reconciliemo-nos depressa com nossos irmãos
antes de virmos entregar nossas ofertas de
louvor e adoração no altar de Deus. De outro
modo elas não serão recebidas. Não tentemos fazer fácil a vida cristã, ou então desconsiderar a
vontade revelada de Deus. Ele não muda e
jamais mudará. A Sua bênção está disponível mas há condição para ser recebida. E temos que
nos humilhar, renunciar ao nosso ego para fazer
a Sua vontade, aí então, teremos atendido as
condições de recebê-las.
Sem esta disposição prática de aplicar-se a
obedecer a Deus em tudo que nos tem ordenado, pouco vale ouvir belos sermões,
porque não teremos permitido a Deus a
transformação de nossas vidas, e é nisto que ele
está vivamente interessado. O grande alvo dEle não é tanto o de nos dar conforto e paz, mas
aquela condição de coração puro que traz tal
conforto e paz. O fim portanto não é a bênção,
mas o coração puro que Deus quer produzir em nós e que Lhe é agradável. As bênçãos são como
que uma recompensa pela nossa obediência. O
fim é a nossa obediência e não a alegria, poder,
unção ou seja o que for, que estivermos sentindo. O galardão será dado a quem for fiel.
Mas, o grande alvo de Deus não é o galardão
senão a nossa fidelidade, pela qual seremos recompensados com o galardão. Não devemos
assim errar o alvo, isto é, buscar o galardão em
vez da fidelidade. Na verdade, aqueles que não
93
são interesseiros, e que servem a Deus pelo puro
prazer de servi-Lo e amá-lo, estes receberão
uma maior recompensa, porque não visaram
aos bens do Seu Pai, senão ao próprio Pai.
94
O Modo de Concessão da Graça
Nenhum crente pode de si mesmo exercer o
princípio, ou poder, de uma vida espiritual, em qualquer instância, interna ou externa, em
relação a Deus ou aos homens, de modo que isto
deve ser um ato de santidade procedente do
Espírito Santo.
O crente não pode fazê-lo de si mesmo, em
virtude de qualquer poder habitualmente inerente a ele. Não é comunicada a nós neste
mundo qualquer capacidade espiritual que seja
independente da ação direta do Espírito Santo;
porque é ele o gerador de todos os atos santos de nossas mentes, vontades e afetos, na execução
dos deveres espirituais.
Acrescente-se que necessitamos de graças
renovadas pelo Espírito, todos os dias, ou seja,
não recebemos uma provisão de poder para ser
estocada. A graça é concedida pelo Espírito à medida que se faz necessária e no tempo
apropriado da sua necessidade.
É aplicado em nossa vida espiritual, quanto à
concessão da graça, o mesmo princípio que
regula a providência divina em nossas
necessidades naturais.
Como ramos da Videira Verdadeira
necessitamos receber a seiva (graça)
95
vivificadora diretamente da raiz, que é Cristo.
Assim, recebemos a graça, e não somos nós, de
maneira alguma, quem a produz e distribui.
Daí dizer o apóstolo:
“E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos,
sejamos capazes de pensar alguma coisa, como
se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,” (2 Cor 3.4,5).
De si mesmo, o crente nada pode realizar porque toda santidade ou qualquer coisa
espiritualmente boa é sempre efeito da graça e
é operado em nós pelo Espírito Santo que é o autor de todas as operações divinas.
96
O Bom Efeito da Tribulação
Antes de ter sido afligido, Jó era um bom
conselheiro, mas depois do seu sofrimento ele seria transformado por Deus não apenas num
conselheiro excelente, como também num
intercessor poderoso em favor dos que sofrem.
Ele já estava demonstrando as lições que estava
aprendendo nestas palavras de grande humildade que lemos no 16º capitulo. Via agora
quão fácil é consolar ineficazmente a outros
quando não se passou pelas provas que eles
estão experimentando.
Quão difícil é o caminho da consolação por mera palavras, porque viu que no seu próprio caso,
não seriam palavras que lhe trariam alívio, nem
mesmo o fato dele permanecer calado. Quando somos atribulados em grandes
angústias, pela permissão de Deus, do muito
que aprenderemos, talvez a lição mais
importante seja esta de que consolaremos a outros não com nossas palavras exortativas, mas
com o próprio testemunho de que passamos por
vales profundos tal como eles, e de que o Senhor
não nos desamparou ainda que parecesse estar distante enquanto caminhávamos
solitariamente tendo por companhia apenas a
nossa própria dor.
É a isto que Paulo se refere em II Cor 1.3-7:
97
“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de
toda a consolação,
4 que nos consola em toda a nossa tribulação,
para que também possamos consolar os que
estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos
consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo
transbordam para conosco, assim também por
meio de Cristo transborda a nossa consolação.
6 Mas, se somos atribulados, é para vossa
consolação e salvação; ou, se somos consolados,
para vossa consolação é a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições
que nós também padecemos;
7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das
aflições, assim o sereis também da consolação.”
Deus permitiu que Paulo chegasse ao extremo
do desespero, conforme afirma no verso 8:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a
tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das
nossas forças, de modo tal que até da vida
desesperamos;”
98
Todavia, o permitira para que aprendesse que
Ele nunca nos desampara, mesmo quando
parece que fomos desamparados por Ele, tal
como Jó estava se sentindo.
E é isto que temos para compartilhar com outros
que estão sofrendo as mesmas tribulações, tal
como nós, para que sejam consolados, ao
saberem, que por mais demorado que Deus possa parecer, Ele nos livrará de todas as nossas
tribulações, conforme nos tem prometido,
ainda que seja pela morte física, em paz, se isto
estiver no conselho da Sua santa vontade. Por isso o apóstolo afirma ainda nesta mesma
epístola o seguinte:
“9 portanto já em nós mesmos tínhamos a
sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;
10 o qual nos livrou de tão horrível morte, e
livrará; em quem esperamos que também ainda
nos livrará,”
E também em II Cor 4.8-11:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desesperados;
9 perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos;
99
10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus,
para que também a vida de Jesus se manifeste
em nossos corpos;
11 pois nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que
também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”
Aí está declarado de forma sucinta o propósito
divino nos sofrimentos de Jó, e que ele não podia
entender até que a perseverança tivesse a sua
obra completa, de maneira que pudesse aprender de Deus, como estava sendo
aperfeiçoado para consolar a outros e a
interceder por eles, conforme havia feito pelos
seus próprios amigos, para que fossem livrados da ira de Deus, conforme vemos no final do seu
livro.
Jó estava chegando no ponto que Deus desejava.
Até então ele estava lutando vigorosamente
contra as palavras injustas de seus amigos.
Mas agora, ele declara que Deus havia conseguido deixá-lo exausto, e que a penúria
física havia avançado de tal forma que ele ficou
muito magro, e isto testemunhava contra ele,
que havia sido enfraquecido pelo Senhor, então não haveria nenhum proveito em querer se
mostrar forte, quando o propósito de Deus era
justamente o de enfraquecê-lo.
100
Ele o faz porque enquanto somos fortes por nós
mesmos não podemos experimentar o poder da
Sua graça, que se mostra forte somente
naqueles que são enfraquecidos por Ele de tal forma, de maneira que vejam toda a sua
insuficiência, e que confiem somente na
suficiência que Ele supre, tal como Paulo havia aprendido e o declara no décimo segundo
capitulo de II aos Coríntios.
A ruína veio violentamente sobre Jó quando ele
se encontrava num ato de devoção oferecendo sacrifícios a Deus por cada um de seus filhos.
Quando ele estava com sua alma descansada e
em plena comunhão com o Senhor.
Não foi quando cometeu algum pecado que isto lhe sobreveio, mas quando estava santificado.
Deus o faz geralmente para que não associemos
o motivo de nossas aflições a algum castigo por
pecados que tenhamos praticado.
Ele o faz para que saibamos que é a hora da disciplina do Espírito. É a hora da provação da fé,
para que seja aumentada ainda mais.
O sentimento que temos é o mesmo de Jó,
porque da paz espiritual e alegria em que nos
encontrávamos somos sobressaltados como que se o Senhor nos agarrasse pelo pescoço e
nos quebrantasse, despedaçando-nos e
colocando-nos como um tipo de alvo no qual
101
ordenará que os seus flecheiros lancem sobre
nós as suas flechas (v. 12, 13).
Além disso, não nos sinaliza com nenhuma palavra consoladora ou de misericórdia. Deixa
que pensemos que o quadro se agravará ainda
mais, e que não seremos poupados.
E somos quebrantados em nosso espírito com golpe sobre golpe, como quem sofre o ataque da
parte de um guerreiro.
O resultado destes ataques é o de que toda exaltação e glória pessoal são reduzidas a pó.
Deixamos de nos ter até mesmo em pouca
estima. Nos sentimos como o pano com o qual se
limpa o chão. Perdemos a vergonha de chorar publicamente. De admitirmos que somos
menos do que nada a nossos próprios olhos.
Pode parecer estranho a muitos esta forma de tratamento usado por Deus. Não parece as ações
de um Pai bondoso, senão cruel. No entanto, não
há outro modo de sermos livrados de nossa
vaidade e endurecimento. Portanto, trata-se da mais elevada exibição da Sua misericórdia e
amor para com aqueles aos quais Ele ama.
Todo verdadeiro santo deve estar preparado em
seu espírito para receber este tratamento, ao menos num determinado período de sua vida,
se aspira de fato crescer na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, e tornar-se
102
alguém do qual se possa dizer o mesmo que o Pai
disse de nosso Senhor: “Este é meu filho amado
em quem me comprazo.”. Não há outro modo
para aprendermos humildade e mansidão, a submissão verdadeira que deve existir em todos
aqueles que têm sido tornados semelhantes a
Cristo.
É um erro portanto, dizer que as experiências de Jó foram exclusivas para ele, e que configuram
uma exceção à regra geral de Deus.
Jó estava aprendendo a chorar somente diante
de Deus, porque viu que os nossos amigos na verdade, zombam de nós, em nossas misérias, e
que somente Deus pode defender o direito que
o justo tem perante Ele (v. 20, 21)
Ele prosseguiria se defendendo das acusações injustas que estava recebendo da parte dos seus
amigos, como veremos adiante, mas já não
dando muita importância a elas, porque estava
aprendendo que não há verdadeiro consolo e sabedoria nos homens, se eles não os recebem
diretamente de Deus, por tê-lo aprendido numa
experiência real e prática com Ele.
103
Uma Aliança Firmada em Graça
Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os
que têm fome e sede de justiça.
A mesa do banquete está pronta e tudo o que de
nós se exige é apetite. É tudo de graça.
Por isso o convite da salvação é dirigido a todos
os que têm sede para que venham às águas da salvação, e que poderão adquirir (comprar) o
vinho espiritual da alegria, e o leite racional que
nos alimenta que é a graça de Cristo, que
acompanha o evangelho, para sermos alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço
(Is 55.1).
Diz-se portanto que todo esforço e gasto de
dinheiro para obter a salvação é vão, porque a salvação verdadeira que Deus está operando
pelo Filho, é completamente gratuita.
A boa comida espiritual, e o tutano divino são
achados somente na mesa de Cristo, e não nas
mãos dos que fazem da religião ocasião de comércio (Is 55.2).
A mensagem do evangelho deve ser ouvida
atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor,
através dos quais Cristo fala, para que pessoas se convertam a Ele, para entrarem na aliança
eterna, que Ele havia prometido como sendo
firmes beneficências a Davi (v. 3).
104
Estas firmes beneficências a Davi são citadas
também em passagens do Novo Testamento,
como em At 13.34.
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi,
e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis
misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que
Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e
nós aprendemos das Suas palavras pela boca de
Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu
caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de
Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em
todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às
imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará
progressivamente, para a glória de Deus, de
modo que se a obra não for completada na terra, ele o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um
Consolador para promover a santidade e o
conforto dos cristãos.
105
Está ordenado também QUE TODA
TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ
FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que na lançará fora de
modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do
Mediador.
E se diz que a aliança é segura porque está assim
bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo
aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra
de aperfeiçoamento será concluída no céu.
E uma das razões para que o aperfeiçoamento
não seja concluído na terra, é para que se saiba
que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo,
embora todos os aliançados sejam chamados
agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições
estabelecidas em relação à necessidade de
arrependimento e fé.
106
A aplicação particular destas misericórdias para
santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base
da salvação repousa na fidelidade de Deus em
cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa
da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é
Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende.
Muitos podem pensar que quando se conclama,
na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu
caminho e o homem maligno os seus pensamentos para se voltar para o Senhor, para
achar misericórdia e perdão, porque se diz que
Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique
às pessoas perversas.
No entanto, é um convite a todas as pessoas porque não há quem não peque, e Cristo veio
salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma
que aquele que se julgar justo e bom a seus
próprios olhos jamais poderá ser salvo por Cristo, porque Ele salva aqueles que se
reconhecem pecadores.
Para esclarecer este ponto, para que ninguém
fizesse uma avaliação errada relativa à sua real
107
condição diante de Deus, Ele declarou que os
seus pensamentos não são os nossos
pensamentos, nem os nossos caminhos os seus
caminhos (Is 55.8).
Se nos compararmos com outras pessoas é
possível que nos achemos bons e justos.
Mas se contemplarmos os que estão no céu, especialmente ao próprio Deus em sua perfeita
santidade e glória, nós veremos quão
imperfeitos somos.
E clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo
sexto, quando viu a santidade e glória com que
os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de
glória.
Por isso se ordena que olhemos para Cristo para
que sejamos salvos, porque somente quando
contemplamos a majestade da sua santidade, é que podemos enxergar qual é o nosso real
quadro de miséria e de necessidade que temos
de sermos salvos por Ele.
Então esta salvação não será achada em nós
mesmos. Porque ela nos vem inteiramente
destes caminhos e pensamentos elevados de
Deus que procedem do céu e não da terra. É do alto que a graça e o Espírito são
derramados, e por isso somos conclamados a
olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do
108
céu e não para o que é terreno, quando o assunto
se refere à nossa salvação.
Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que
salva foi revelada por Cristo na terra, e está não
apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e coração, para que façamos a confissão da fé no
Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.
Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua
Palavra. A palavra do evangelho é a semente que contém a vida eterna.
De maneira que todo o que crê na Palavra da
verdade será salvo, porque esta Palavra gerará
em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por
isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11. Estes que crerem no evangelho e forem salvos
sairiam dando testemunho por todas as partes
com a alegria e a paz com que seriam guiados
pelo Espírito Santo, e por onde passarem anunciando as boas novas, a maldição será
transformada em bênção porque se diz que em
vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e a murta que são plantas ornamentais. E isto
seria para o Senhor um nome e um sinal eterno
que nunca se apagará (v. 12, 13).
109
O Amor Verdadeiro é um Paradoxo
Aparente
Eis a razão de muitos não chegarem a
compreender qual seja a natureza do verdadeiro
amor.
Ele contém em si mesmo este aparente
paradoxo entre proteger e expor; entre
recompensar e castigar; entre louvar e repreender etc.
O amor verdadeiro sempre manterá tal caráter
que chamamos de paradoxal, ou antagônico.
Mas afirmamos que é aparente porque tudo
aquilo que parece contradizer o amor, é justamente o que o confirma na presente
condição em que nos encontramos.
Se não houvesse a entrada do pecado no mundo,
nenhuma correção por meios aflitivos seria
vista no mundo. Nenhuma catástrofe. Nenhuma
adversidade. Nada que pudesse abater o nosso corpo, alma e espírito.
Mas como carregamos conosco uma natureza
decaída e pecaminosa, Deus interpôs, pelo Seu
amor, estas coisas que consideramos
contrariedades, porque é por meio delas que o nosso ego carnal é conduzido à humildade que
abre todas as portas que se encontram no
coração de Deus.
110
A Terra foi amaldiçoada por Deus porque o
pecado se enraizou no coração humano, e dali
somente pode ser retirado por meio das
tribulações. Então, até mesmo este ato de maldição foi um ato de amor por nós, pois visa
ao nosso próprio bem, ou seja, para sermos
resgatados da condição que conduz à morte espiritual e eterna - esta de se encontrar em
escravidão ao pecado.
Todavia, sem o ato supremo do amor – Jesus
morrendo na cruz em nosso lugar – jamais poderíamos ser resgatados da referida
escravidão. Temos então o amor de Deus
manifestado em nos ter dado o Seu próprio Filho, para que fôssemos resgatados da morte, e
vivêssemos nEle e por meio dEle.
Assim, pais que corrigem seus filhos são
aqueles que os amam de fato, porque necessitam disto, uma vez que não vivemos em
nenhum mundo de perfeição moral e espiritual.
111
Uma Segurança Firme e Inabalável
“Porque nos temos tornado participantes de
Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos” (Heb
3.14)
Em nós mesmos somos inseguros em relação a muitas coisas, especialmente aquelas que nos
atemorizam e desafiam, e isto, desde a nossa
infância.
Entretanto, podemos estar certos de que a
confiança que depositamos em Jesus Cristo está
livre de qualquer tipo de insegurança.
Na comunhão com Ele não temos qualquer
temor que possa prevalecer sobre nós, porque o
Seu amor lança fora o medo, a incerteza, a dúvida, a desconfiança.
Jesus não nos chamou simplesmente para nos livrar da condenação eterna no fogo do inferno,
mas para efetuarmos conquistas sobre o reino
das trevas, sobretudo resgatando almas das garras do diabo.
Provamos para nós mesmos que somos de fato
pertencentes a Cristo e participantes da Sua natureza divina, por permanecermos
firmes na fé até ao fim da nossa jornada neste
mundo.
112
É por isso que se diz que confirmamos que
somos participantes da vida ressurrecta de
Cristo, pela ação do Seu poder e graça em nossas
vidas, todos os dias, até o fim, e desde o início da confiança que depositamos nEle desde o dia da
nossa conversão.
Se a justificação é a base e a causa da salvação, a
santificação é a evidência da mesma. É por isso que lemos em Hb 6.1-3, uma exortação
para a busca do amadurecimento espiritual,
rumo à perfeição, porque a tendência natural da maioria dos cristãos é a de se acomodarem,
depois de terem sido salvos.
Mas a vida cristã é uma caminhada, no caminho
da perseverança e da santificação.
A vida cristã é uma carreira, e não uma mera expectativa contemplativa do cumprimento da
promessa da glória do céu.
Não é suficiente, conforme a vontade de Deus,
sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por meio dEle fomos justificados, é necessário ter
permanente e vital união com Ele, conforme o
próprio Jesus nos ordenou dizendo que
deveríamos permanecer nEle e na Sua Palavra.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original grego à
palavra “parapipto”, que significa “desviar-se”
ou “apostatar”.
113
É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está
traduzido como “afastar-se”. E este afastamento
referido, é o afastamento de Deus.
A Palavra afirma em Pv 24.16, que “sete vezes
cairá o justo, e se levantará”.
A experiência tem revelado esta verdade; porque muitos são os que se desviam, mas se
reconciliam posteriormente com o Senhor,
porque a bondade e misericórdia do Senhor, vão
em busca da ovelha desgarrada e perdida, para trazê-la de volta ao aprisco.
Quando os ossos do cristão são quebrados, o
Senhor os restaura novamente.
Um cristão verdadeiro pode cair, mas não numa
queda definitiva, que seja para a perda da vida
eterna, que recebeu pela graça.
O próprio Noé, campeão da justiça, depois que
se embriagou, arrependeu-se certamente, e
permaneceu salvo pela soberana graça.
Noé caiu, mas não numa queda final para a morte eterna, que ocorrerá somente com
aqueles que não têm a Cristo, no dia do grande
juízo de Deus.
Daí o convite que seu autor faz aos hebreus para
se aproximarem, com confiança, do trono da
graça, para acharem misericórdia em ocasião
114
oportuna, e para entrarem no Santo dos Santos,
depois de terem se purificado de toda má
consciência. Ele os chama a se santificarem,
porque sem isto, não é possível estar efetivamente em comunhão com Deus no Santo
dos Santos celestial.
Desta forma, está claro que, se um cristão não
pode perder a salvação, no entanto, pode se
desviar do caminho da verdade.
O fato de Deus tolerar e suportar que o erro caminhe ao lado da verdade, que o joio cresça ao
lado do trigo, não significa de modo algum que
Ele seja indiferente ao erro. Muito ao contrário,
tem determinado um dia em que cada um dará contas de Si mesmo perante Ele.
115
Não Injuriemos Quem nos Injuria
Não devemos injuriar aqueles que nos injuriam,
tal como Cristo e os apóstolo fizeram no passado.
Não devemos tentar justificar a nossa própria
honra e dignidade perante aqueles que nos
caluniam, não somente porque não poderão
entender nossos argumentos, em face da carnalidade deles, como também por sermos
chamados a defender não a nossa honra mas a
do Senhor.
O coração deve ser guardado pelo consolo que o Espírito Santo nos dá quando nos armamos do
pensamento de suportar sofrimentos por amor
a Cristo. E que grandes consolações elas serão!
A causa do evangelho e não a nossa é que deve avançar. Muitas almas devem ser salvas para
Cristo e não para nós mesmos. E devem ser
edificadas no testemunho da verdade quanto ao
modo como devem caminhar neste mundo pelo exemplo que acharem em nossas próprias vidas,
de perdão, amor, misericórdia, bondade, paz e
todas as demais virtudes que estão em Cristo, e
que também serão achadas em nós à proporção da nossa submissão a Ele.
E guardemos também nossos corações por
saber que estes sofrimentos não podem ser
116
comparados com a gloria futura a ser revelada
em nós, quando recebermos do Senhor o louvor
pela nossa fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
Não somos chamados a vencer debates
teológicos, mas a vencer o pecado e o diabo. Não
somos chamados a impor nossa visão a outros,
mas conduzir as pessoas a Cristo e ao Seu evangelho. Não é a nossa importância que está
em questão, mas a glória e a honra do Senhor.
Quanto a nós, convém de fato que diminuamos cada vez mais, e que o nome do Senhor seja cada
vez mais elevado e exaltado através da nossa
própria humilhação perante Ele. Daí que estas
perseguições e injustiças não são contra nós, mas a nosso favor, porque nos ajudam a
estarmos sempre pequenos e humildes diante
de Deus, a quem de fato pertencem a grandeza,
a majestade e o poder.
Somos apenas vasos de barro que contém a
excelência do poder de Deus. Não é
propriamente nosso este poder, mas sempre
será dAquele, diante do qual convém estarmos sempre com nossos joelhos dobrados diante
dEle em humilde adoração.
Afinal todos não estarão diante dEle nAquele dia confessando que Ele é o Senhor para a glória de
Deus Pai? Como poderíamos andar então
inchados aqui neste mundo seja por causa do
117
nosso conhecimento ou do que for, se tudo o
que temos, é porque recebemos dEle!
118
Socorro na Tribulação - SALMO 116
O início deste salmo é muito parecido com o
Salmo 18, de maneira que é possível que seja
também de autoria de Davi.
O salmista declara o seu amor pelo Senhor
porque Ele ouve a sua voz e súplicas, inclinando
os Seus ouvidos para atendê-lo, motivo porque estava determinado a invocá-lO enquanto
vivesse.
Mesmo com os laços de morte que lhe haviam
cercado em grandes perigos, e as angústias do
inferno que se apoderaram da sua alma, fazendo-o cair em tribulação e tristeza.
Ele invocou o nome do Senhor pedindo-Lhe que
livrasse a sua alma.
Ele sabia que Deus é justo, mas também
compassivo e misericordioso, e por isso tinha sempre bom ânimo em Lhe dirigir clamores.
Sabia também que o Senhor vela pelos que são
pobres de espírito, como ele, o próprio salmista,
de modo que achando-se prostrado, foi salvo da sua angústia pelo Senhor.
Quando Deus opera na alma ela volta ao seu sossego, que é a condição em que deve se
encontrar, conforme o propósito de Deus na
criação do homem.
119
Assim, em sua confiança no Senhor, o salmista
foi livrado da morte que sentia em sua alma, das
suas lágrimas, e da queda na tentação e na ruína.
Como sua segurança estava em andar na presença do Senhor, então estava determinado
a fazê-lo durante todo o tempo da sua
peregrinação neste mundo.
Ele mantinha a fé, mesmo quando dizia que estava sobremodo aflito.
Enquanto esteve perturbado em sua paz de
mente e espírito, disse que todo homem é
mentiroso.
Todavia o Senhor quebrou todas as cadeias que
acorrentavam a sua alma, e o libertou completamente, de modo que se dispôs a ofertar
ao Senhor, pelos benefícios que havia recebido
dEle, e percebeu que não havia maior oferta do
que tomar o cálice da salvação e invocar o nome do Senhor.
Por isso cumpriria todos os seus votos feitos ao
Senhor na presença de todo o Seu povo, para que
lhes servisse de testemunho da sua
consagração.
A citação do verso 15 de que “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos.”,
merece uma reflexão especial quanto ao seu
significado, porque à vista do Senhor a morte
120
dos Seus santos é tão preciosa, que não satisfará
aos desejos ímpios de um Saul, de um Absalão,
nem de quaisquer inimigos de Davi, para que
triunfassem sobre ele, lhe tirando a vida. Davi sabia, pelo Espírito Santo, que morreria em
ditosa velhice, em seu leito, para que o nome do
Senhor fosse glorificado, por tê-lo poupado de tantos perigos de morte, revelando assim o Seu
poder para preservar os Seus santos.
Se a alguns deles permite saírem deste mundo
pelo martírio, é pelo mesmo motivo de ser glorificado neles, pela total falta de temor que
eles demonstram em face da morte, porque são
assistidos pelo Seu poder.
Mas nenhum santo, morrerá sem que isto seja
do desígnio de Deus.
Então esta citação de ser preciosa a morte dos santos aos olhos de Deus, deve ser entendida no
contexto bíblico em que se afirma que é preciosa
para Ele a vida deles (II Rs 1.13), bem como o seu
sangue (Sl 72.14).
121
O Natural se Torna Anacrônico, Mas Não
o Espiritual
Em relação à ciência natural, aquele que quiser
fazer avanços em seu conhecimento, deve se aplicar às descobertas recentes e mais
profundas de cada área pesquisada.
Agora, quanto à verdade espiritual faremos bem
em voltar aos antigos fundamentos porque esta
foi revelada de uma vez para sempre nas Escrituras.
Porventura, tornar-se-ia velho, anacrônico, o
texto do Novo Testamento, que foi escrito há
cerca de dois milênios atrás?
Por que razão também rejeitaríamos o testemunho dos antigos que se aplicaram à
verdade das Escrituras e rejeitaram toda forma
de modismo que pudesse adulterar a verdade revelada?
Seria sábio não ler um Lutero, um Calvino, um
John Owen, um George Whitefield, um Jônatas
Edwards, um Charles Haddon Spurgeon, por
terem sido homens que viveram entre os séculos XVI e XIX?
Seriam estes mais velhos do que aqueles que
nos deram as Escrituras?
122
O fato é que a verdade da Palavra de Deus não
envelhece, e é a única que permanecerá depois
que tiver passado todo este universo material e visível.
Temos um espírito imaterial e faríamos bem em alimentá-lo e preservá-lo com a verdade do
Evangelho.
Quando deixarmos este corpo pela morte, nada levaremos conosco juntamente com o nosso
espírito senão as verdades da Palavra que nele
foram implantadas pelo poder de Deus.
123
Uma Consagração Parcial Não Dá
Não dá para manter a nossa santificação e
comunhão com Deus com uma consagração parcial.
Meia consagração ou noventa por cento de
consagração não é suficiente para nos manter
de pé, sem que fiquemos enfraquecidos às tentações e prejudicados em nossa comunhão
com o Senhor, com um espírito reto.
Todos podemos falar por experiência própria
que caso não atendamos à ordem que Jesus nos deu para vigiarmos e orarmos em todo o tempo,
é certo que cairemos porque a carne, ou seja, a
nossa natureza terrena é fraca e dada a se
desviar com facilidade da presença de Deus.
Assim, em vez de culparmos as circunstâncias que nos cercam, ou ficarmos lamentando ou
murmurando pensando que a graça de Jesus
não é tão poderosa quanto deveria para nos
sustentar e preservar do mal, sejamos sinceros e digamos juntamente com o salmista: “isto é
fraqueza minha”, por não cuidarmos o tanto
quanto deveríamos da nossa real consagração
ao Senhor.
Permitamos uma pequena concessão ao
mundo, a qualquer tentação que desperte em
nós algum desejo pecaminoso, e a nossa queda
124
será consequência inevitável da nossa falta de
vigilância.
É assim que sucede, e ainda que não seja bem
conhecido por nós, é completamente conhecido por Deus e por isso usa de longanimidade e
misericórdia para nos levantar quantas vezes
sejam necessárias, sempre que nos
arrependermos e nos voltarmos para Ele em busca de socorro para as nossas almas.
125
Guardados do Maligno mas Não de
Conflitos e Sofrimentos
Jeremias mais uma vez havia se queixado ao
Senhor das tribulações que estava sofrendo por
causa das mensagens que Ele lhe estava dando
para serem proferidas contra Judá.
Acabara de ser preso num tronco e de ser
escarnecido pelos judeus.
O Senhor disse que o livraria dos seus adversários quando lhe chamou para ser Seu
profeta, e no entanto, estava se tornando não
somente objeto do escárnio deles, como até
mesmo Deus estava permitindo que ele fosse preso.
De fato Deus guarda os que estão a seu serviço, empenhados nas coisas concernentes ao Seu
Reino, mas isto não significa que serão livrados
de provações e angústias nas lutas que terão que
travar contra o mal.
Jeremias não estava ainda inteirado tanto quanto o apóstolo Paulo, por exemplo, sobre o
conselho eterno de Deus de que a Sua obra deve
avançar no mundo no meio de resistências e
perseguições, que são levantadas por Satanás, para tentar deter a perda de pessoas sob o seu
domínio, em razão da pregação da verdade do
evangelho.
126
Todavia, tal como Paulo, Jeremias, a par de todos
os sofrimentos e tribulações que estivesse
padecendo, não conseguia deixar de proclamar
a Palavra do Senhor, que apesar de fazer dele um objeto de escárnio e vergonha para os seus
perseguidores, era como um fogo que queimava
de forma ardente no seu coração, e como estivesse apegado aos seus ossos, e estava
cansado em contê-lo, de maneira que só acharia
descanso para a sua alma quando liberasse a
Palavra que lhe fosse dada por Deus.
Então, ele começou a amadurecer quanto ao
desígnio de Deus, e a aceitá-lo, porque apesar de
ouvir que muitos estavam conspirando contra a sua vida, podia afirmar agora que o Senhor
estava com ele como um guerreiro valente, e
por isso os seus perseguidores é que tropeçariam e não poderiam prevalecer contra
ele, porque ficariam confundidos, de forma que
não poderiam ter êxito, de modo que entregou a
sua causa nas mãos do Senhor, para que fosse o Seu vingador contra aqueles que intentavam o
mal contra a sua vida, quando estava buscando
somente o bem para eles.
Então pôde entoar no Espírito o seguinte cântico
de louvor e livramento, porque como o Senhor
lhe havia dito, caso fosse paciente na tribulação, e separasse o precioso do vil, se convertendo a
Ele, seria a Sua própria boca:
127
“Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor; pois livrou
a alma do necessitado da mão dos malfeitores.”
(v. 13)
Todavia ainda se achava muito desconfortado
pelas tribulações e angústias que estava sofrendo, e não conseguiu abafar a queixa que
havia no seu peito.
Só que agora não mais murmurava porque não
estava se queixando de Deus, mas a Deus,
considerando que maldito tinha sido o dia em que ele havia nascido, e que não fosse portanto,
bendito o dia em que sua mãe lho dera à luz.
E considerou também maldito quem havia dado
as novas do seu nascimento a seu pai, se
alegrando grandemente com isto, porque não sabia, todo o sofrimento que lhe estava
reservado para experimentar em sua vida como
profeta do Senhor.
Tal era a angústia do profeta quando proferiu
estas palavras que alegou preferir ter morrido
como um aborto no ventre de sua mãe.
O fato de ter sido dado à luz só serviu para que experimentasse trabalho e tristeza e para que se
consumissem na vergonha os seus dias.
Desta vez o Senhor não repreendeu Jeremias e
permaneceu em silêncio diante do desabafo de
128
sua alma, porque era a sinceridade daquilo que
estava realmente sentindo, e não atribuiu ao
Senhor nenhuma falta ou injustiça, por tudo o
que estava sofrendo. Ele estava sendo experimentado nos
sofrimentos que aperfeiçoam a fé.
E à medida que esta aumentasse ele aprenderia
tal como Paulo a se regozijar na tribulação.
Com isto aprendemos que experiências são intransferíveis, e cada um levará o seu próprio
fardo diante do Senhor, e aprenderá dEle, a seu
próprio tempo, o que for necessário ao seu
crescimento espiritual.
129
A Bênção Sacerdotal
Em Números 6.24 a 26 nós temos a fórmula com a qual os sacerdotes deveriam abençoar os
israelitas, conforme ordem dada pelo Senhor a
Moisés:
“O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça
resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha
misericórdia de ti; o Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te dê a paz.”
Os sacerdotes haviam sido separados por Deus
para também abençoarem o Seu povo em Seu
nome (Dt 21.5).
Esta bênção era um prenúncio da bênção que é
dada pelo Sumo Sacerdote da nossa fé, Jesus (At 3.26), pois é somente nEle e por meio dEle que
podemos ter paz com Deus, e viver de modo
abençoado.
O nome Jeová (traduzido por Senhor) é proferido três vezes na bênção sacerdotal.
O nome sagrado do Deus da aliança com Israel é
o que é usado aqui (YHWH), como forma de
demonstração que a bênção não seria
propriamente do sacerdote, mas do Senhor. Deus definiu o resultado de sua bênção em
nossas vidas como proteção (guardar), como
alegria e agrado relativos ao nosso viver, como
130
misericórdia para perdão dos nossos pecados e
livramento do mal, como aprovação dEle por
estarmos diante da Sua face e como paz
espiritual em nossas almas, e na relação com o nosso próximo.
Certamente, não se tratava de uma fórmula
mística que uma vez proferida pelo sacerdote de
Israel sobre o povo, lhes traria a bênção de Deus.
Mas, era algo para Israel lembrar que a bênção e o sermos guardar do mal, especialmente de
pecar, é algo que procede do Senhor, e quando
nos determinamos em viver de modo
abençoado, fazendo a Sua vontade, o resultado é que podemos contar com a Sua misericórdia,
agrado e concessão da Sua paz.
Não podemos esquecer que na atitude decidida
de obedecermos a Deus e os Seus mandamentos
deve ser considerada a Sua longanimidade, misericórdia e perdão para com as nossas faltas,
porque nossa obediência sempre será pontuada
por estas falhas, pois somos pecadores.
A obediência evangélica está condicionada
portanto, ao sacrifício de Jesus, pelo qual nossos pecados são perdoados e apagados, quando nós
os confessamos a Deus, na certeza de fé que Ele
é bom e misericordioso, e que o sangue de Jesus
é de fato eficaz para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
131
A Bênção da Generosidade
Nenhuma oferta deve ser feita com tristeza no
coração, ou por sentimento de obrigação, porque a oferta que é aceita e agradável a Deus é
aquela que é feita com alegria, porque será aos
tais que Ele demonstrará o Seu amor.
No entanto é o próprio Deus quem nos dispõe a
tal generosidade. Não habita na nossa natureza terrena decaída no pecado nenhum verdadeiro
altruísmo, uma vez que aquele que se vê no
mundo, não é desinteressado, mas por motivo
de orgulho, ainda quando se pretexta humildade, o motivo que os move é o orgulho de
se sentirem humildes e generosos, mas não o
amor que procede de Deus aos nossos corações
e que nos leva primeiro a nos doarmos a Ele, e depois ao atendimento das necessidades do
próximo.
Então é o próprio Senhor que nos faz ter
abundância em toda a graça, de modo que sempre tendo tudo e toda suficiência pela Sua
graça, possamos também ser abundantes em
toda a boa obra, que demandará de nós o uso em
favor de outrem dos recursos que Deus nos esteja concedendo para tal propósito.
Ninguém é enriquecido para entesourar para si
mesmo, senão para manifestar a glória do amor
de Deus contribuindo desinteressadamente
132
com aqueles que Ele mantém em algum tipo de
necessidade, exatamente para que haja esta
demonstração prática do amor de uns para com
os outros.
E aquele que é despojado, liberal no dar, e que dá
com alegria aos pobres, tem, conforme a
promessa de Deus, um reconhecimento eterno deste ato de justiça, para a justa recompensa que
Ele lhes dará no porvir, e mais do que isto, pelo
reconhecimento eterno dEle pela bondade e
amor que demonstraram para com seus irmãos necessitados; porque é próprio da natureza do
amor cristão, que permanece e é eterno, esta
atitude de se doar em favor dos outros.
Assim é o Senhor mesmo que nos dá a semente
que semeamos, e também nos dá o pão que nos
sustenta, e que multiplica a nossa sementeira,
de forma que possam ser aumentados os frutos da nossa prática da justiça (2 Cor 9.10); de modo
que em vez de sermos empobrecidos pelo gesto
de dar a outros, nós somos enriquecidos pelo
Senhor, exatamente para que usemos de toda a beneficência, para que por meio dela sejam
dadas graças a Deus tanto por aqueles que são
alvo dela, quanto pelos que doam pelo privilégio
e honra de fazê-lo, que lhes é concedido pelo Senhor (2 Cor 9.11, 12).
Os que recebem glorificam a Deus pelo
testemunho da submissão real à Sua vontade,
133
por parte dos que dão, porque é uma forma de
confissão prática e real quanto à obediência e
participação do evangelho de Cristo (v. 13).
É pelo dom de Deus, do amor, que são possíveis todas estas graças, de forma que aqueles que
recebem intercedem pelos que dão, tanto por
gratidão, quanto para que Deus continue abençoando as suas vidas.
E isto aproxima os corações, quando se vê a
excelência da graça de Deus operando nos Seus
filhos.
Portanto, é a Ele que se deve dar graças por tudo, porque tudo provém dEle, e sem o Seu amor
impulsionando os nossos corações, e suprindo
as necessidades tanto dos que dão, quanto dos
que recebem, nada disto seria possível. Lembramos que o profeta Elias foi enviado à
casa da viúva para ser assistido por ela, e no final
das contas quem abençoou quem? Ambos
foram abençoados pelo Senhor e se abençoaram mutuamente, por terem aberto
seus corações para cumprirem a Sua vontade.
134
Uma Cura do Corpo e do Espírito
“1 E entrando Jesus num barco, passou para o
outro lado, e chegou à sua própria cidade.
2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado
num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os
teus pecados.
3 E alguns dos escribas disseram consigo: Este
homem blasfema.
4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos,
disse: Por que pensais o mal em vossos corações?
5 Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os
teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?
6 Ora, para que saibais que o Filho do homem
tem sobre a terra autoridade para perdoar
pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa.
7 E este, levantando-se, foi para sua casa.
8 E as multidões, vendo isso, temeram, e
glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos
homens.” (Mateus 9.1-8)
Jesus retornou de Gadara, que ficava no lado
135
oriental do Jordão, e retornou para a cidade
onde fora residir depois de ter sido batizado por
João, a saber, em Cafarnaum, onde Pedro
também residia.
As passagens paralelas a esta narrativa se
encontram em Marcos 2.1-12, e em Lucas 5.17-
26. Nestes textos paralelos é informado que o
paralítico foi introduzido através do telhado, na casa em que Jesus se encontrava,
provavelmente a casa de Pedro, porque o
Senhor dissera que não tinha sequer onde
reclinar a cabeça, isto é, uma residência própria e fixa.
Todos os eventos narrados neste capítulo
aconteceram em Cafarnaum. E a primeira
ocorrência naquela cidade foi a salvação e a cura de um paralítico.
Era de tal ordem a paralisia deste homem que
teve que ser carregado em sua cama por alguns
amigos até a presença de Jesus. E nosso Senhor viu não somente a fé do paralítico como também
daqueles que lho haviam trazido até Ele, pois é
dito no verso 2: “Jesus, pois, vendo-lhes a fé...”
Deus opera de muitos modos para atrair as
pessoas a Cristo, para que sejam salvas. A uns pela busca de cura do corpo, a outros pela
busca de cura da alma, e pelos mais variados
motivos – tudo usa, todas as circunstâncias,
136
conforme o conhecimento perfeito que possui
do interior de cada pessoa, para conduzi-las à
salvação.
Até mesmo aqueles que não podem tomar
qualquer iniciativa para virem a Cristo, como foi por exemplo o caso dos dois endemoninhados
gadarenos, livrará dos laços do diabo, pelo Seu
próprio poder, àqueles que tem determinado manifestar a Sua misericórdia, para que sejam
salvos.
Não importa se podemos caminhar por nossos
próprios meios ou se outros têm que nos
conduzir ao Senhor, uma coisa é certa, Ele não perderá a nenhum daqueles que Lhe foram
dados pelo Pai.
Como aquela paralisia, naquele caso, foi o meio
usado para que houvesse a busca de nosso
Senhor pelo paralítico, Ele não concentrou Sua
atenção na enfermidade, mas na transformação do paralítico em filho de Deus, perdoando-lhe
todos os seus pecados (v. 2).
Ele poderia até mesmo permanecer com a
paralisia, como tantos outros em toda a história
da humanidade, porque aquilo que é realmente de importância, a única coisa que nos é
necessária, já havia sido feita em relação ao
destino eterno do seu espírito.
137
O que deu ocasião à cura da paralisia foi a
murmuração de alguns escribas, que disseram
consigo mesmos que Jesus estava blasfemando
ao dizer que os pecados do paralítico haviam sido perdoados.
Ninguém ao redor ouviu o que eles diziam em
seus corações, com exceção do Senhor, que tem o poder de conhecer os nossos pensamentos, e
por isso lhes disse: “Por que pensais o mal em
vossos corações?”.
Ele não precisaria fazer nenhuma outra coisa para provar-lhes a Sua divindade, quando lhes
demonstrou a Sua onisciência, e capacidade de
ler pensamentos.
Todavia, Deus não tem o dever de provar coisa nenhuma a qualquer pessoa, e por isso nosso
Senhor curaria o paralítico, não por ter sido
provocado por aqueles escribas, mas para
manifestar a Sua misericórdia, que é a causa de sermos perdoados por Ele, e não por qualquer
bondade própria ou mérito que haja em nós.
Quem pode mais pode menos. É mais fácil curar um enfermidade física do que justificar um pecador, perdoando todos os seus
pecados.
O trabalho de salvação de uma alma é muito
138
maior e de duração eterna, do que a cura do
corpo.
No entanto, para a percepção humana, limitada
e falha, incapaz de perceber os poderes que
operam salvando o espírito, justificando e dando
um novo nascimento espiritual ao salvo, e que considera portanto, ser uma evidência de poder
muito maior ver uma cura física sendo efetuada,
Jesus disse o que lemos no verso 5:
“Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os
teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Realmente, é mais fácil dizer perdoados são os
teus pecados, do que levanta-te e anda, segundo a avaliação humana, à qual nos referimos
anteriormente.
Por isso nosso Senhor disse que levantaria o
paralítico, para que os circunstantes soubessem
que Ele tem autoridade sobre a terra para
perdoar pecados (v. 6).
O efeito da cura foi que as multidões temeram e
glorificaram a Deus.
Quão cega é a natureza humana!
Tão incapaz de ver o mundo espiritual, e
necessitada de ver sinais para poder crer no
139
poder de Cristo, dando a devida honra à Sua
divindade.
Convém que seja diferente disso, ao menos
quanto aos que foram libertados da escravidão ao pecado. Convém crescer na fé, e ter os olhos
espirituais cada vez mais abertos, para discernir
o mundo espiritual, dando honra e glória ao Senhor, em espírito, sem que haja necessidade
de qualquer manifestação visível da Sua glória e
poder, porque somos chamados a caminhar por
fé e não por vista.
140
Precisamos da Graça Para Andar na
Verdade
"João 1:16 Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça.
João 1:17 Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de
Jesus Cristo”
Deus não nos enviou somente a verdade por
meio de Jesus Cristo, mas também a sua plenitude e graça sobre graça, porque se Deus
exigisse de nós um caminhar na verdade, sem o
auxílio da Sua graça, isto seria algo terrível e
brutal que jamais poderíamos cumprir.
Por natureza, somos fracos e imperfeitos, dados
a nos inclinar para o mal, e por isso
necessitamos do poder da graça para que
possamos viver de modo agradável a Deus. Assim, ao nos enviar Jesus para nos perdoar dos
nossos pecados, Deus enviou juntamente com
Ele a Sua graça para que pudéssemos vencer o
pecado.
Através de Moisés foi feita uma aliança, ou seja,
um pacto, onde a bênção divina estava
condicionada às obras, ou seja, ao que os homens pudessem cumprir da Lei que lhes fora
dada por Deus, por meio de Moisés.
Na graça, ou seja, na nova aliança que foi feita
141
através de Jesus Cristo, com aqueles que têm fé
nEle, tudo é feito por pura misericórdia, e
concedido por graça, exclusivamente por meio
da fé.
Deus então, aprovaria agora o pecado, ou não se
importa com o fato de pecarmos, já que a base
do novo pacto é graça e misericórdia?
Não.
Não é isto que significa a graça imerecida,
porque Ele sempre odiará o pecado, mas decidiu
usar neste período chamado de dispensação da
graça, de longanimidade para com todos.
Além disso, pode usar de misericórdia perdoadora para com todos os que crerem em
Jesus, porque Ele fez tudo o que era necessário
para que a dívida de seus pecados fosse paga, e
para que pudessem ser aceitos por Deus como Seus filhos amados, numa aliança de
graça que durará para sempre,
independentemente de qualquer transgressão que eles possam vir a cometer.
Deus os corrigirá como um Pai corrige a seus
filhos, mas jamais os lançara fora ou os
abandonará.
Assim, apesar de Deus continuar detestando qualquer pecado que seja praticado, no entanto,
Ele usa deste imenso favor imerecido, chamado
graça, que Ele nos dá, por causa de Jesus Cristo,
142
independentemente de sermos pecadores.
Porque a Sua morte na cruz carregando os
nossos pecados, satisfez completamente à
justiça divina, que determina a morte espiritual eterna para todo aquele que não tiver a sua
dívida de pecados quitada.
Como foi nosso Senhor Jesus Cristo que pagou completamente esta dívida, ninguém pode ser
absolvido da condenação, caso não esteja ligado
a Ele pela fé.
Ninguém poderá ser perdoado permanecendo na condição de inimigo de Jesus. E isto é algo
óbvio.
Por isso a graça é somente eficaz na vida daqueles que o amam e que guardam os seus
mandamentos.
E esta obediência se comprova por uma
verdadeira busca de santificação de nossas vidas.
Porque aquele que não quiser ser santo, jamais
se aproximará da luz de Jesus para ser purificado de todos os seus pecados.
143
Por Que o Justo é Afligido?
Esta é uma indagação que permeia a mente e o
coração de muitos, e não poucos chegam à conclusão temerária de que não vale a pena
viver de modo justo, porque afinal, tanto o justo
quanto o injusto são igualmente afligidos neste
mundo.
Meu pai se tornou alcoólatra quando viu, há
muitos anos atrás, um menino numa cadeira de
rodas.
Lembro-me como se ainda fosse hoje, quando chegou embriagado em casa, e muito revoltado
perguntava à minha mãe, que Deus era esse que
permitia algo como aquilo.
Ele não sabia, e eu também não sabia à época,
que a resposta para estas indagações da alma já haviam sido dadas por Deus há séculos, através
das Escrituras, especialmente, no primeiro livro
da Bíblia cuja escrita foi inspirada por Ele, a
saber o livro de Jó. Temos todas as respostas neste único livro, mas gostaria de focar neste
momento, apenas o que se pode aprender da
narrativa dos seus capítulos 3º e 4º.
Enquanto Jó permaneceu calado remoendo-se apenas de dores, e provavelmente delirando em
estado de semiconsciência, em razão da grande
febre que deveria ter-lhe acometido como
144
consequência da grave infecção que tomara
conta de todo o seu corpo, não pôde expressar o
seu lamento, como estava fazendo agora, depois
de ter permanecido calado juntamente com seus três amigos, por sete dias e noites
seguidos.
Todavia, tão logo expressou em termos veementes o seu grande lamento pela condição
em que se encontrava, aquilo foi forte demais
para os seus amigos tolerarem, porque Elifaz
passou a acusá-lo de ser precipitado em suas palavras, e de hipócrita, porque Jó havia sido o
conselheiro de muitos para que ficassem fortes
e firmes em suas aflições, no entanto, não estava
dando tal exemplo de fortaleza e ânimo, quando ele próprio foi atingido pelo sofrimento.
É deveras impressionante, como procuramos
tirar daqueles que estão afligidos, um direito que o próprio Deus não lhes tira, a saber, o de se
queixarem de suas dores. Jó não estava se
queixando contra Deus, mas queixando-se da
sua condição, e não há nada de pecaminoso nisto. O pecado de murmuração é mostrar
insatisfação para com Deus, mas não por si
mesmo, e pelas aflições que sofremos.
Deus as projetou para o grande propósito de nos preservar do mal, e do pior deles, que é o de dar
as costas para Ele, o nosso amado e bondoso
Criador.
145
Porque espera que recorramos a Ele em nossas
provações para a busca de auxílio em ocasião
oportuna, não meramente para sermos livrados
da tribulação, mas sobretudo para recebermos a força da Sua graça para poder suportá-las.
Seria antinatural, ou seja, algo contrário à
natureza normal, que não se lute pela
manutenção da nossa vida, em face do instinto de sobrevivência que o próprio Deus colocou em
nós para a nossa preservação; e de igual modo
que não se fuja de toda forma de mal que possa
nos causar algum tipo de sofrimento ou dano.
Na verdade, era isto o que as palavras do
lamento de Jó expressavam. Ele considerava que
seria melhor não existir do que estar passando
por tudo aquilo que lhe sobreviera repentinamente, e sem que houvesse qualquer
promessa ou sinal de esperança, de que aquele
quadro fosse revertido.
Não é exatamente isto que sentimos, caso não sejamos assistidos e fortalecidos pela graça de
Deus, a lhe dar glória em meio às aflições que
nos atingem?
Se a graça estiver presente e atuando, somos
fortalecidos e triunfamos sobre a dor. Nossa fé no Senhor é aperfeiçoada pelo recebimento da
Sua companhia e consolo, e também nosso
caráter é igualmente aperfeiçoado, porque ao
146
suportarmos dores e sofrimentos por amor a
Cristo, não apenas nos identificamos com Ele
em seus sofrimentos, como também, por este
meio, somos livrados do nosso egoísmo latente, que não pode ser vencido por outro meio senão
o da paciência em meio às tribulações.
Todavia, se para fins específicos, Deus nos deixa à mercê de nossas próprias forças e capacidades
limitadas, sucumbimos, e o quadro normal de
ser visto é o de que seremos achados
desalentados e deprimidos, ainda que não abandonemos nossa confiança no Senhor, não
Lhe voltemos as costas, e que continuemos nos
sujeitando quietamente à Sua vontade, debaixo
da Sua potente mão, tal como sucedera no caso de Jó.
Qual foi a reação do próprio Senhor Jesus Cristo,
quando em Sua agonia no Getsêmani?
Ele chegou a pedir ao Pai que se fosse possível,
que passasse dEle aquele cálice de sofrimentos.
Todavia, Ele permaneceu perfeitamente sujeito
à vontade do Pai em todo o tempo. Agora, seria de se esperar que alguém lhe
dissesse naquela hora de extrema aflição que
rejubilasse, saltando de alegria, a pretexto de que seria possível fazê-lo pelo fortalecimento da
graça que Lhe seria concedida pelo Pai?
Quando a alma está angustiada até a morte,
147
como se achava a de nosso Senhor no
Getsêmani, o que se manifestará é a tristeza e
não a alegria.
Se houvesse um sorriso na face de Jesus naquela
hora, poder-se-ia dizer que seria um sorriso falso. E como pode ter parte com a falsidade
Aquele que é em tudo verdadeiro?
O mundo gosta da dissimulação. Não pode
suportar expressões de abatimento e de tristeza, que fazem também parte desta vida.
Há uma falsa ideia de que a vida só tem sentido
quando não há provações, tribulações e aflições,
e crer desta forma, é portanto se agarrar a uma utopia.
Por isso o mundo procura disfarçar suas
tristezas debaixo de máscaras de uma suposta
alegria.
Para este propósito os homens se drogam, se
embebedam, e fazem um sem número de coisas para se mostrarem alegres, quando na verdade
estão angustiados ou entristecidos, bem lá no
fundo de suas almas.
Então não havia nada reprovável na atitude de
Jó, ao manifestar a sua tristeza. Ao contrário, ele estava sendo absolutamente sincero e
verdadeiro, e por isso continuava justo e
aprovado aos olhos do Senhor.
148
Jó pôs em contraste a alegria das novas do dia do
seu nascimento, com a intensa dor e tristeza que
estava sentindo naqueles dias de sofrimento,
que lhe pareciam que não teriam fim até o dia da sua morte.
Como ele não conhecia ainda de maneira plena o propósito de Deus nas aflições, pareceu-lhe
muito estranho tudo aquilo que estava
sofrendo.
O argumento lógico em sua mente era o
seguinte: “Por que Deus o trouxera à vida, e o inspirara a viver em completa retidão perante
Ele, se no final, seria colocado como um
opróbrio à vista de todos, não como um
testemunho de alguém que foi abençoado por Deus, mas ao contrário, que foi amaldiçoado por
Ele?”
E mais: “Quem se sentiria inspirado a
permanecer na prática da justiça, se o prêmio
que Deus tinha reservado para os justos era
aquele pelo qual ele estava passando?”.
Como qualquer outro, Jó era um refém de sua
própria época, em que se costumava avaliar o favor e o amor de Deus pelos homens, na
medida proporcional dos bens e saúde que eles
possuíam e desfrutavam.
À medida que a revelação de Deus, do Seu
149
caráter e vontade foi progredindo, à medida que
o tempo passava, até culminar com a revelação
final que nos foi feita por Seu Filho Jesus Cristo,
sabemos que há um bom propósito nas aflições que sofremos, e que sair deste mundo pelo
martírio, é um privilégio, e não uma desonra.
Mas, devemos considerar que este
conhecimento não estava disponível nos dias de
Jó, e este foi um dos motivos de Deus tê-lo provado de tal forma, para que começasse a
revelar ao mundo qual é o Seu propósito nas
tribulações.
Todavia, apesar de toda a revelação que temos
da parte de Deus na Sua Palavra, há ainda muitos
Elifazes por aí fazendo um diagnóstico incorreto relativo ao problema do mal que sofremos. Eles colocam tudo na avaliação comum de que
se há sofrimentos e aflições, é porque pecamos,
ou porque não temos exercido a nossa fé. Nem uma e nem outra coisa se aplicavam ao caso de
Jó.
Contudo, Elifaz diagnosticou a aflição de Jó
como sendo causa da iniquidade que ele havia
semeado. É verdade que há uma lei da colheita
segundo a semeadura, mas não era este o caso do sofrimento de Jó, porque não estava
colhendo algum fruto mau de uma semente má
que houvesse semeado.
150
O “doutor” de almas Elifaz havia portanto,
errado em seu diagnóstico.
E, não satisfeito, com isto, colocou em dúvida a sinceridade da confiança de Jó no temor do Seu
Deus, e a sua esperança na integridade dos seus
caminhos.
Segundo ele, se Jó fosse realmente sincero
nisto, não teria recebido todo aquele mal que lhe
sobreviera repentinamente.
Em sua teologia estreita não havia lugar para
sofrimento de justos.
É fato que a ira de Deus haverá de consumir o
ímpio, mas Elifaz não sabia que Deus também é longânimo, isto é, tardio em se irar, e que por
isso não executa logo o juízo, porque dá tempo
ao homem para que se arrependa de seus
pecados e viva, lançando todas as transgressões passadas no mar do esquecimento, além de
apagar toda e qualquer culpa.
Todavia, Elifaz considerava que Jó estava sendo atingido por uma rajada da ira de Deus para ser
consumido na sua iniquidade.
Quão errado e equivocado ele estava, apesar de ter dito certas verdades que se aplicam a muitos,
mas não eram aplicáveis ao caso de Jó, e de
tantos servos fiéis de Deus que sofreram, ou que
151
ainda sofrem por amor a Ele, neste mundo. Elifaz firmou a sua teologia sobre o sofrimento
do homem e o castigo divino, de uma visão que
lhe fora dada, e de uma voz que lhe dissera o seguinte:
“Pode o homem mortal ser justo diante de
Deus? Pode o varão ser puro diante do seu
Criador?”
Isto é uma verdade, porque não há nenhum justo, nenhum sequer, diante de Deus, pela sua
própria justiça, e todos os que são justos perante
Ele, o são, porque têm sido justificados pela fé
em Cristo, e por terem sido redimidos no Seu sangue.
Só que em vez de Elifaz, reconhecer que o
homem não pode de si mesmo ser justo diante
de Deus, no entanto há graça, misericórdia e poder no próprio Deus para torná-lo justo
perante Ele.
Então Elifaz se precipitou elaborando uma
teologia conclusiva, em cima desta visão que recebera, na qual atribuiu consequentemente
desconfiança da parte de Deus em todos os seus
servos no céu, e até mesmo o fato de atribuir
loucura a todos os seus anjos, inclusive aos eleitos, e segundo ele, de quão maior
desconfiança da parte de Deus não gozam todos
os homens que habitam na terra.
152
Que teologia desastrada foi esta a que Elifaz
elaborou em cima de uma visão relativa à
verdade que havia recebido! É assim que são
formadas grandes heresias. Elas partem geralmente de um entendimento ou
interpretação incorretos de uma verdade
bíblica.
É importante, pois, se não desejamos ser
achados como Elifaz, que confiramos verdades bíblicas com verdades bíblicas, coisas
espirituais com espirituais, e que não sejamos
precipitados em nossas conclusões sobre o
modo de agir de Deus, generalizando todas as suas ações a partir de uma única declaração
relativa ao Seu caráter ou atributos.
Satanás procura por todos os modos atacar o
caráter de Deus. Se não ataca o Senhor
diretamente perante os homens acusando-O de injustiça por permitir que sofram males, ele
procura sutilmente, distorcer as verdades
divinas, dando-lhes uma interpretação
diferente do seu verdadeiro significado, para que em vez de os homens serem justos em suas
avaliações relativas aos atos de Deus, lhe
atribuam juízos e castigos por ações, que não são
de Deus, mas que o próprio diabo usa para afligir os homens, tal como estava ocorrendo no caso
de Jó, e Elifaz estava atribuindo tudo aquilo a um
castigo de Deus porque, segundo Elifaz, Ele não
153
podia confiar em Jó, como em qualquer ser na
terra ou no céu.
Certamente Deus não se pode confiar à natureza
terrena do homem que é decaída no pecado,
mas daí, dizer que não pode confiar em nenhum dos Seus servos, vai uma distância muito
grande, porque estes não possuem neste
mundo apenas a natureza terrena, mas a própria natureza divina da qual foram feitos
coparticipantes por meio da fé em Jesus.
E cabe dizer que no céu, nenhum cristão que
para lá tenha ido, se encontra sob a influência da
natureza terrena, assim como os anjos eleitos,
de modo, que o Senhor pode confiar perfeita e plenamente neles, porque já não podem ser
vencidos por qualquer tipo de mal.
Devemos nos acautelar, portanto, para não
sermos achados como um tipo de Elizaz, que
procurando consolar alguém que está sofrendo, acabe lançando sal e vinagre sobre as feridas
que estiverem abertas, em nosso zelo pela
defesa da justiça e santidade de Deus,
condenando como malfeitor, quem está sofrendo por causa do Seu amor e fidelidade a
Deus.
É muito fácil dizer para alguém que está
sofrendo de modo terrível: “Você não terá
154
cometido algum pecado oculto ou não
confessado?”
No entanto, isto somente pode servir para
agravar ainda mais o sofrimento de uma
consciência fraca de alguém que esteja sofrendo por amor a Cristo e ao evangelho, e não
necessariamente por algum pecado que tenha
cometido.
É necessário ter cuidado na aplicação de
aconselhamentos em tais casos, e insinuações relativas a pecados devem ser feitas somente
por revelação do Espírito ao nosso espírito, e não
por uma ruim suspeita, ou por um princípio de
aconselhamento generalizante a que estejamos acostumados a usar.
Devemos ter cuidado para não vazar os olhos de
nossos irmãos quando nos dispomos a tirar o
pequeno cisco que há neles, quando temos a
nossa visão prejudicada por alguma trave em nossos próprios olhos, que nos impeça de
enxergar a verdade, tal como sucedera no caso
de Elifaz em relação a Jó.
155
O Sacrifício de Jesus Não Dispensa a
Obediência aos Mandamentos
Os primeiros vinte e nove versículos do 15º
capítulo de Números são repetições de leis
constantes especialmente de Levítico, relativas à apresentação de ofertas e sacrifícios.
Deus havia perdoado o povo de ser exterminado
pela Sua ira, mas Ele lhes recorda que deveriam
apresentar sacrifícios, porque era com base nestes que poderiam ser perdoados.
Todo e qualquer pecado que seja perdoado, no
sentido de sermos livrados dos juízos de Deus,
sempre o serão com base no sacrifício de Jesus pelos pecadores, do qual, aqueles sacrifícios de
animais eram apenas uma figura.
É pela exclusiva graça de Deus, que opera com
base no sacrifício, que somos perdoados, e não
por nenhum ato de penitência da nossa parte, por nenhuma boa obra que façamos para
compensar a má obra que tenhamos feito.
Nossas ofensas da santidade devida a Deus são
tão imensas que nada que fizéssemos por mais caro e trabalhoso que fosse, poderia apagá-las.
Somente o precioso sangue de Cristo pode fazê-
lo, quando nos apropriamos dos seus benefícios,
simplesmente pela fé, confiando que Deus determinou fazê-lo unicamente pela Sua graça.
Entendemos então, no 15º capítulo de Números,
que Deus não estava esperando perfeição
156
absoluta dos israelitas neste mundo, mas fé e
arrependimento.
Ele não esperava que eles se aperfeiçoassem em seus talentos naturais para a guerra, de modo
que se superassem, senão apenas confiança no
Seu poder e graça, e especialmente fé na Sua
fidelidade, em cumprir as Suas promessas. Se Ele havia prometido aos patriarcas, que daria
a terra de Canaã à sua descendência, não cabia
aos israelitas outra opção senão a de crerem na
fidelidade de Deus, pois Ele lhes havia dado inúmeros exemplos de quão fiel era em cumprir
todas as Suas promessas.
Todavia, a partir do trigésimo versículo do 15º capítulo, o Senhor declarou expressamente que
a cobertura do pecado, pelo sacrifício, não
anulava a responsabilidade de se guardar Seus
mandamentos; de modo que aqueles que pecassem deliberadamente, isto é, que
confrontassem abertamente a Sua autoridade,
estariam blasfemando o Seu santo nome, e
portanto, deveriam ser excluídos da comunidade de Israel, por terem desprezado a
Palavra de Deus, quebrando o seu mandamento,
e neste caso, responderiam pela sua iniquidade
(v. 30,31).
Isto é um princípio divino importantíssimo para
ser aprendido pelos crentes na Igreja de Cristo,
especialmente por aqueles que pensam
157
erroneamente que por estarem debaixo do
sangue do Sacrifício do Senhor, que por estarem
debaixo da graça, têm permissão para viver na
prática do pecado.
Para ilustrar como deveria então ser aplicada a
lei, é registrado logo em seguida ao verso 31, o
caso de um homem que apanhou lenha num dia de sábado, e sendo trazido a Moisés e a Arão, e a
toda a congregação, foi colocado na prisão, e o
Senhor disse a Moisés que tal homem deveria
ser morto por toda a congregação, através de apedrejamento fora do arraial (v. 32-36).
Para o propósito de os israelitas lembrarem do
seu dever de guardarem os mandamentos do
Senhor, e para que não se deixassem arrastar à infidelidade pelos afetos carnais de seus
corações, e pela cobiça de suas vistas, de modo
que fossem santos para com o Seu Deus, este
ordenou a Moisés que lhes dissesse que usassem em todas as suas gerações, franjas nas
borlas das suas vestes, e que nestas colocassem
um cordão azul, para tal propósito de se
lembrarem de todos os mandamentos. Mais uma vez o Senhor lhes lembrou que lhes
havia tirado do Egito, para ser o Deus deles (v. 37-
41).
Com o cumprimento deste mandamento,
através de suas vestes, eles testemunhariam
que eram diferentes das demais nações, e que
158
não estavam envergonhados do Seu Deus e da
Sua lei.
Os fariseus ampliavam estas franjas das vestes,
com a motivação errada, de modo a fazê-las
maiores do que as dos demais judeus, de forma
a mostrarem que eram mais santos do que eles (Mt 23.5).
Assim, não faziam um uso sincero e santo, senão
hipócrita e para se ostentarem.
159
Uma Justiça Ofertada para Injustos
A justiça de Deus que é revelada por meio do
evangelho foi testemunhada nas Escrituras do
Velho Testamento, antes que ela se manifestasse na pessoa do próprio Senhor Jesus
Cristo (Rom 3.21).
Foram inúmeros os registros cerimoniais e as profecias do Antigo Testamento acerca da
dispensação do evangelho, do ministério da
justiça e do Espírito (II Cor 3.8,9).
Cerca de setecentos anos do cumprimento das
profecias relativas à justiça do evangelho, Deus
falou acerca dessa justiça pela qual somos
salvos, através do profeta Isaías, como podemos ver por exemplo em Is 46.13.
“Faço chegar a minha justiça; e ela não está longe, e a minha salvação não tardará; mas
estabelecerei a salvação em Sião, e em Israel a
minha glória.”
Esta promessa foi feita para os que são duros de
coração e que estão longe da justiça, a saber a
todos os pecadores (Is 46.12).
Não é uma promessa para pessoas justas mas
para injustas, ou seja, para pecadores, que é a
160
condição de todo homem perante Deus.
Daí ter nosso Senhor Jesus Cristo declarado que
não veio a este mundo para justos, mas para
injustos, não para sãos, e sim para enfermos. Veio para injustos para torná-los justos, e para
enfermos, para curá-los.
Quanto a esta salvação pela graça, que é
mediante a justiça de Cristo, que nos é atribuída
na justificação, Deus disse que a levaria completamente a termo, porque Judá sairia do
cativeiro em Babilônia, sendo livrado por Ciro,
rei da Média, de modo que o Seu conselho
eterno se cumprisse no futuro conforme as boas promessas de salvação que foram feitas a Israel
(Is 46.10).
Por causa do que seria feito por Ciro é dito que
Babilônia seria encurvada e os seus ídolos
seriam colocados sobre animais de carga, para
serem levados para fora de Babilônia, e seriam um peso para estes animais assim como eram
para os babilônios, porque não somente não
poderiam lhes livrar, como também os
conduziriam àquela ruína.
Mas quanto a Israel, em vez de ser uma carga
para eles, Deus lhes vinha carregando no seu colo, desde que lhes havia formado no ventre, e
até a sua velhice continuaria sendo o mesmo
para eles, porque os levaria, carregaria e
161
livraria, porque era um pai para o Seu povo (Is
46.3, 4).
A quem então poderia Deus ser comparado?
Com os ídolos? Com estes que são uma carga
para os homens, em vez de carregá-los, para
acharem alívio e paz?
Que não podem responder e livrar alguém da
sua tribulação? (v. 7)
Os transgressores de Israel foram portanto
convocados por Deus a considerarem esta
verdade e trazê-la sempre à memória (v. 8).
A recordarem sempre as coisas passadas desde
a antiguidade, trazendo à memória os grandes feitos do Senhor em relação a Israel, e
certamente isto se referia ao que fizera com eles
desde os patriarcas até os seus dias; para que
reconhecessem que não há outro Deus, senão somente Ele, e que não há ninguém que possa
ser comparado com Ele (v. 9) - o único que pode
nos justificar e salvar da escravidão ao pecado.
162
Sem Obediência a Deus e à Sua Palavra
Não Há Vitória
O que havia ocorrido com o povo de Israel no
período dos Juízes é o mesmo que ocorre com a
Igreja dos nossos dias, que tem apostatado da fé genuína do evangelho, sobretudo em razão da
sua grande mistura com as práticas que são do
mundo (Tiago 4.4; I João 2.15).
Podemos aprender muito com a narrativa do 2º
capítulo de Juízes no qual se declara
expressamente que a ruína de Israel era devida à sua assimilação das práticas pagãs dos
habitantes da terra de Canaã.
Este capítulo segundo é uma síntese de tudo o que é narrado no livro de Juízes.
Ele é uma preparação para tudo o que será dito
dali em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos
posteriores, com exceção dos cinco últimos
capítulos que se referem a um período anterior
ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor repreendendo duramente os israelitas, pelo fato
de não terem conquistado os territórios que lhes
foram designados por sortes, nos dias de Josué,
163
e pelo fato de terem se acomodado e se
misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia ao Senhor, e fez
o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos
cananeus e fazendo as mesmas práticas
abomináveis deles.
A condição de todo o período coberto pela
narrativa do livro de Juízes, o qual durou
aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o
motivo de estarmos enfraquecidos diante de nossos inimigos espirituais e sujeitados a
sermos pisados pelos homens, como sal que
perdeu o sabor, está relacionado ao abandono
do Senhor, e da prática da Sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar
no Espírito Santo, fazendo aquilo que Ele nos
tem ordenado na Bíblia e em relação à Sua vontade específica, no que se relaciona ao viver
diário, especialmente o que diz respeito às
coisas pertinentes ao ministério, que
recebemos dEle para cumprir, é o modo de se ter uma vida verdadeiramente próspera e
sermos mais do que vencedores, por meio de
Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
164
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor
ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que
temos com Ele, por iniciativa e autoridade dEle
próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos nossos inimigos, para que seja produzido em
nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, Ele se
apressa em socorrer-nos, voltando a nos
conceder a Sua graça e poder, para sermos
fortalecidos e podermos voltar a andar na Sua presença.
Deus é santo, e sem a santidade que Ele mesmo
nos confere, por meio do Espírito Santo, é
impossível estar em comunhão com Ele. Por isso necessitamos da Sua graça, para que
operando em nós, de forma a nos conceder um
coração segundo o Seu coração, possamos retornar à comunhão.
Então nós vemos declarado na Palavra de Deus
que era Ele próprio que entregava Israel nas
mãos dos seus inimigos, e que também, por Sua própria deliberação, decidiu que não
desapossaria mais aquelas nações da presença
de Israel, para que por meio delas pudesse
provar a fidelidade do Seu povo, em não se deixar levar pelas suas práticas abomináveis, e
permanecerem fiéis, na guarda dos Seus
mandamentos.
165
Por meio da permanência de muitas daquelas
nações seria provado até que ponto Israel
buscaria uma vida autêntica de fé e obediência,
de modo que se pudesse provar através disso que estavam de fato fazendo a vontade de Deus,
pois não havia outra maneira de terem sucesso
sobre os seus inimigos.
Isto ensina claramente que não se vence o diabo
com religiosidade desprovida de verdadeira comunhão com Deus, porque é se sujeitando a
Ele e à Sua vontade, que vencemos o diabo e
todas as suas hostes.
Em outras palavras: a vitória sobre as forças do
inimigo decorre de um caminhar na presença do Senhor.
É sujeitando-se a Deus, mediante prática da Sua Palavra, que o diabo foge de nós.
Mas não era isto o que se via nas sucessivas
gerações de Israel.
Deus havia formado um povo exclusivamente
seu a partir de Abraão, para o propósito de preservar a vida do homem na Terra. Porque
pelo modo santo com que deveriam viver
revelariam que a prática da justiça divina
preserva e traz prosperidade, mas a prática do mal, não somente destrói pessoas e nações,
como também atrai os juízos condenatórios do
Senhor.
166
E isto estava sendo observado de modo prático
nos dias do Velho Testamento, através das
assolações que Deus estava trazendo sobre as
nações pagãs, como sobre o próprio povo de Israel, quando este também se encontrava
debaixo das mesmas práticas abomináveis
daquelas nações.
Em vez de serem distintos das nações de Canaã,
pelo cumprimento de tudo que lhes foi
ordenado na Lei de Moisés, se misturavam às
práticas daquelas nações, e perdiam a sua identidade distintiva de povo do Senhor, porque
quando se mistura água com vinho, o resultado
é uma mistura homogênea, e não dá mais para
se distinguir quem é a água e quem é o vinho. Mas quando se mistura água com azeite, o azeite
há de ficar por cima da água e não se misturará
a ela.
É pois somente estando cheios do azeite que
simboliza o Espírito Santo, e andando nEle, que
apesar de estarmos no mundo e termos que nos
relacionar com as pessoas que são dele, com vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por
nosso bom testemunho de vida, não nos
misturaremos jamais às coisas deste mundo e
ao pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál 5.16: “Andai no Espírito e jamais satisfareis aos
desejos da carne.”.
Assim, nós podemos concluir que a razão da
167
repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos
israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a
esta mistura com as práticas dos povos de
Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa em combater os cananeus, para se apossarem
das terras que lhes foram designadas por sortes.
O anjo do Senhor vinha lhes acompanhando desde a saída do Egito, e declara isto nas palavras
dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto
que haviam feito com Deus, de guardarem todos
os Seus mandamentos, pois lhes estava ajudando a cumprirem tudo que lhes havia sido
ordenado, especialmente no que se referia a
prevalecerem contra os seus inimigos, mas
manifestou o Seu desagrado diante do seu recuo em fazerem a vontade de Deus, com
as seguintes palavras:
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e
disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a
terra que, com juramento, prometi a vossos
pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis os
seus altares. Mas vós não obedecestes à minha
voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei
de diante de vós; antes estarão quais espinhos
168
nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão
por laço.”.
Nós lembramos nisto, das palavras de Paulo
dirigidas aos Gálatas:
“Estou admirado de que tão depressa estejais
desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda
em Gál 5.7: “Corríeis bem; quem vos impediu de
obedecer à verdade?”.
A síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes,
que é feita neste segundo capítulo, revela que o propósito principal da escrita deste livro foi o de
ensinar que a mistura do povo de Deus com as
práticas abomináveis do mundo o torna
impotente para conhecer e fazer a vontade do Senhor.
Ensina também que a falta de fé e determinação
para cumprir tudo aquilo que Deus nos tem
ordenado expressamente, como no caso dos
israelitas, a indiferença em realizar a conquista total de Canaã, acaba por conduzir o povo de
Deus a perder o seu caráter único e santo, e em
decorrência disto, não terá poder e autoridade
que procedem do Senhor para poder conhecer e fazer a Sua vontade, deixando portanto, de ser
bênção para as nações.
O mundo espiritual é discernido
espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este
169
jamais se moverá naqueles que não estiverem se
movendo em direção à obediência à Palavra de
Deus, pela busca de comunhão com Ele, em
vidas verdadeiramente santas.
Em linhas gerais, foi este o propósito principal do Espírito Santo ao ter inspirado a escrita do
livro de Juízes.
Aprendemos também neste livro de Juízes que
períodos de arrependimento e de retorno à
comunhão com o Senhor, podem ser seguidos por períodos de apostasia, se não cuidarmos
diligentemente em prosseguir adiante na
aplicação em nossos deveres para com Deus e
com o próximo.
Vitórias alcançadas jamais devem ser motivo
para descansarmos e não incentivarmos as gerações seguintes à mesma fidelidade com que
estivermos nos empenhando em agradar ao
Senhor.
O livro de Juízes dá um claro testemunho e
palavra de alerta à Igreja para que não descuide em avançar na comissão que lhe foi ordenada
por Jesus de ir por todo o mundo e pregar o
evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja
se desvia deste grande alvo, perdendo o ardor evangelístico e missionário, a consequência
será o apostatar dos caminhos do Senhor,
porque Ele não se deixará achar e não expulsará
170
o Inimigo para que almas sejam conquistadas à
fé, porque Ele faz isto, concedendo graça,
somente quando há uma verdadeira disposição
e empenho em se obedecer à Sua grande comissão.
A grande repreensão do anjo do Senhor aos
israelitas, exibida nas palavras do verso 2: “Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que
fizestes isso comigo?”, bem demonstra a grande
indignação que Jesus sente ao nos ver de braços
cruzados em relação à ordem que deu à Igreja de fazer discípulos em todas as nações.
Isto é um dever real que impôs à Igreja até que
Ele volte.
E nós sabemos, pelo testemunho da história, quantas derrotas o povo de Deus teve que
amargar em relação aos seus inimigos
espirituais, e o pouco ou quase nenhum avanço que fez em determinadas épocas da história,
pelo mesmo motivo que levou o anjo a se
indignar em relação aos israelitas no passado:
falta de empenho em cumprir a Sua ordem de avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que
Ele nos tem ordenado.
Os israelitas choraram por causa da repreensão
do anjo (v 4), mas isto não é suficiente. Não basta estarmos dispostos a mudar nossas
atitudes, e mesmo lamentar o nosso estado
espiritual, se isto não for acompanhado por
171
ações de fé reais na direção do cumprimento
daquilo que Jesus nos ordenou quanto à
evangelização mundial.
Planos, reuniões, congressos, concílios, e
quaisquer outras iniciativas serão de nenhum
valor se não forem acompanhados por ações
concretas visando à conversão de almas para Cristo.
Se o Espírito Santo não for conosco, assim como
o anjo acompanhava, dirigia, instruía e fazia as conquistas para os israelitas, de modo algum
poderemos pensar que estamos agradando a
Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho
direcionados à salvação dos perdidos. Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de
evangelização é uma das principais missões de
qualquer pastor, pois são chamados de anjos das
Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de Apocalipse.
Foi a eles que se dirigiu cobrando o seu
empenho em conduzir o rebanho segundo a Sua vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro
removido em caso de descumprimento daquilo
de que foram encarregados pelo Senhor da
Igreja.
Estes pastores, que são designados por anjos das
Igrejas, aparecem em Apocalipse como estrelas
nas mãos de Jesus.
172
Isto indica que assim como o Anjo da aliança
apareceu a Josué, como príncipe do exército de
Jeová, e conduziu tanto a Moisés, quanto a Josué,
e todos os líderes verdadeiros de Israel, que foram levantados por Deus para conduzir o seu
povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na
Nova Aliança, que tem toda a primazia sobre os pastores que Ele mesmo chama e constitui
sobre o Seu povo, para que façam toda a Sua
vontade.
O lugar onde o anjo falou aos israelitas ficou
sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5), porque no
hebraico, esta palavra significa chorões, porque que a palavra se encontra no plural, indicando
que foram muitos os que prantearam em razão
da repreensão do anjo do Senhor.
Quem dera, ao menos a Igreja chorasse a sua
atual condição de quase completo desinteresse
e imobilização quanto a buscar um real compromisso e consagração ao Senhor, para
que no poder do Espírito Santo se entregue à
obra de evangelização mundial, não somente
em palavras, mas no poder do Espírito Santo, através do testemunho pessoal de vidas
transformadas e santificadas.
Mas, quando tão poucos se interessam pela salvação da própria alma, como estarão
realmente interessados na salvação de outros?
Os israelitas ao menos lamentaram e choraram
173
pela condição de desobediência à ordem de
avançar e conquistar Canaã.
Sequer isto se vê na maior parte das Igrejas de nossos dias, apesar de haver, certamente, uma
repreensão do Senhor pelo fato de não terem
um maior empenho em prol da salvação dos
perdidos em todo o mundo.
Os países da Ásia e de grande parte do Oriente,
continuam com suas portas fechadas para o
evangelho, mas importa que este seja pregado
também a eles, para que Cristo volte. Quando a Igreja despertará do seu sono e
começará a trabalhar com todo o empenho na
direção do cumprimento do Ide de Jesus?
Jesus disse que o evangelho será pregado em todo o mundo antes da Sua vinda, e o que nós
estamos fazendo para que isto se cumpra?
O Senhor garantiu a posse de todo o território de Canaã aos israelitas, e o que eles fizeram em
relação a isto?
O livro de Juízes revela o quadro, e este não é
muito diferente do que tem ocorrido com a história da Igreja ao longo destes dois mil anos,
em que o evangelho tem sido pregado no
mundo.
Da parte do Senhor, a aliança que Ele fez conosco, nunca será quebrada, porque é fiel
àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o
mesmo em relação a nós.
174
Devemos portanto, ser diligentes em todo o
tempo e ter todo o cuidado necessário para que
não nos desviemos do alvo que devemos atingir.
Gostando ou não, querendo ou não, temendo ou não, devemos nos lançar de corpo e alma à
missão da qual fomos encarregados, e o Senhor
será conosco e nos fará prosperar em nossos empreendimentos, porque Ele fez a promessa
de não deixar e desamparar àqueles que Lhe
obedecem e Lhe são fiéis.
Deste modo, os israelitas foram repreendidos,
não somente por terem se desviado da missão
de conquistar Canaã, como também por terem se misturado aos cananeus, que deixaram na
terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar
as mesmas abominações que eles praticavam.
Não é de se estranhar portanto, que quando deixamos de ter este interesse em dar
testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos
também encontrados em disposições de
mundano proceder.
O pecado de Israel trouxe como consequência, o
fato de Deus ter determinado que não expulsaria mais os cananeus.
De igual modo, quando deixamos de cumprir o
Ide e passamos a nos misturar com as coisas que são do mundo, Deus também deixa de nos usar
para conquistar as almas que são preciosas para
Ele.
175
Outros o farão no nosso lugar, e teremos que
lamentar uma vida vazia e sem frutos, porque o
Senhor não dará jamais a honra de o indolente
se gloriar em ter sido usado eficazmente por Ele. Se não recebemos graça da parte de Deus, para
realizar o trabalho que Ele nos designou, não
teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos deu para fazer a Sua obra.
Aqueles que favorecem e são complacentes
com as suas luxúrias e corrupções, que
deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e esta é justamente retirada deles (ainda que não
percam a salvação caso sejam crentes genuínos
justificados e regenerados pelo Espírito Santo).
Se nós não resistirmos ao diabo, não devemos
esperar que Deus o coloque debaixo dos nossos
pés. O que se fará ao sal caso vier a perder o seu sabor e função de salgar este mundo de trevas,
para que a corrupção não prevaleça? Por isso, aos infiéis, em vez de promessas de
bênçãos, Deus promete dificuldades, assim como disse aos israelitas sobre o que deveriam
esperar da parte daqueles aos quais haviam se
associado em suas más obras.
Seriam como espinhos e laço para eles, e isto
indicava dificuldades e opressões.
Pois em vez de dominar as nações, Israel seria
dominado por elas.
Deus os entregaria nas mãos dos seus inimigos
por causa do seu pecado.
176
Ele afirmou que os venderia aos seus inimigos,
assim como quem é vendido por causa de uma
grande dívida que não pode liquidar.
A dívida dos israelitas seria cobrada na forma de opressões dos seus inimigos, que seriam
determinadas pelo próprio Deus.
Porém, sendo benigno e misericordioso, o
Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus
opressores caso se arrependessem dos seus pecados.
Ele suscitaria libertadores para este propósito, e
nós vemos esta promessa sendo cumprida em
diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes,
revelando-se assim o caráter fiel do Senhor, em cumprir as Suas promessas, e a sua infinita
misericórdia para conosco.
Entretanto, em razão do Seu atributo de justiça,
apesar de ser tardio em se irar, o Senhor não
pode ser, de modo algum, conivente com o
pecado e permanecer insensível às apostasias do Seu povo, e por isso sempre torna a exercer
os Seus juízos, a par de toda a misericórdia
exibida anteriormente.
Por causa de Sua longanimidade, pode até
suportar, tolerar por muito tempo todos os nossos pecados, mas certamente não nos
deixará sem a devida correção no tempo
apropriado.
177
Isto aprendemos não somente na revelação que
fez no livro de Juízes, como também em toda a
Bíblia.
A história da Igreja, tal como a narrada em
Juízes, tem revelado o modo como Deus tem
levantado pessoas que qualificou e capacitou extraordinariamente, pela Sua graça, para
redirecionar o Seu povo à prática da justiça e da
santidade, e isto nos faz lembrar de Lutero,
Calvino, Jonathan Edwards, Spurgeon, e muitos outros, que em suas próprias épocas, foram
instrumentos nas mãos do Senhor para o
referido propósito.
É notável também, que sempre segue a um
período de grande reforma e retorno à santidade, períodos de apostasias.
Tal como se deu com Israel, ocorre com a Igreja, e por isso, cada época testemunhará acerca
daqueles que Deus levantou e continuará
levantando para avivar o Seu povo.
Isto indica que o ideal seria que a Igreja permanecesse permanentemente avivada e fiel
à vontade de Deus.
Mas como o evangelho opera entre pecadores, e
por serem estes dados a se desviarem da
vontade do Senhor, sempre será necessário manter uma postura de reforma, de modo a não
se experimentar apostasias, que sempre virão,
sem falta, se deixamos esfriar este espírito de
178
manter as pessoas ocupadas em serem fiéis à
vontade de Deus.
Veja o caso de Israel, que enquanto vivia Josué e
os anciãos da sua geração, o povo andou obedientemente cumprindo a vontade do
Senhor, especialmente no que se refere à
ocupação e conquista de Canaã. Mas, quando uma nova liderança se levantou, e
que não tinha o mesmo empenho em conduzir o
povo nos caminhos de Deus, o resultado é o que
encontramos no livro de Juízes, que afirma o seguinte nos versos 16 a 19: “16 Mas o Senhor
suscitou juízes, que os livraram da mão dos que
os espojavam. 17 Contudo, não deram ouvidos
nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se
desviaram do caminho, por onde andaram seus
pais em obediência aos mandamentos do
Senhor; não fizeram como eles. 18 Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz,
e os livrava da mão dos seus inimigos todos os
dias daquele juiz; porquanto o Senhor se
compadecia deles em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam. 19 Mas
depois da morte do juiz, reincidiam e se
corrompiam mais do que seus pais, andando
após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas práticas,
nem a sua obstinação.”
E tal é esta obstinação da natureza terrena, do
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coração carnal, que se diz que o povo não deu
ouvido aos juízes e se prostituiu após outros
deuses (v. 17).
A advertência bíblica para que nos
empenhemos com toda diligência em confirmar a nossa vocação e eleição, não é de
pouca importância, porque se refere a uma luta
titânica contra um inimigo poderoso que é a
nossa natureza pecaminosa, que pode ser mortificada somente pelo Espírito Santo, mas
este trabalho não poderá ser realizado se não
cooperarmos com a Sua vontade, por não nos
tornarmos verdadeiramente submissos ao Senhor, e por não crermos e não nos dispormos
a colocar em prática, todas as coisas que nos tem
ordenado em Sua Palavra, e especificamente em
nossa caminhada diária.
Assim, os cananeus não seriam expulsos por Deus, para que por meio deles, provasse a
fidelidade de Israel.
De igual modo o diabo e todos os seus demônios
permanecem no mundo, não por que isto seja agradável ao Senhor, mas para que por meio
desta presença, a nossa fidelidade possa ser
provada, de maneira a permanecermos firmes
em fazer a vontade de Deus, em meio a todas as tentações que o inferno possa realizar.
E parece que a missão da Igreja de ser sal e luz
do mundo se deteriora cada vez mais,
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permitindo que a luz do evangelho não brilhe
em todo o seu fulgor e que o sal perca o seu
poder de salgar e preservar.
Isto decorre do pecado de os cristãos em serem
mundanos, ignorando a ordenança bíblica de serem um povo distinto e de não amarem o
mundo e não tomarem a forma dele, como nos
exortam especialmente os apóstolos João e
Paulo, respectivamente.
Muitos cristãos não querem ser diferentes do mundo. Ao contrário, querem trazer para suas
vidas e para dentro da Igreja aquilo que não é de
Cristo, mas do mundo.
Pensam erroneamente, que esta será a melhor
forma de trazer outros à conversão.
Estamos empenhados numa batalha espiritual de vida ou de morte. Na qual operam
principados e potestades com toda a fúria
inimaginável, para permanecerem na posse das
almas humanas, as quais, para serem resgatadas demandam que primeiro seja amarrado o
valente que as aprisiona, e este é um trabalho
único e exclusivo para o Senhor Jesus e o Espírito Santo de Deus, sob a atração exercida
por Deus Pai para trazer os pecadores em
submissão a Seu Filho.
E como isto poderá ocorrer quando os cristãos
se tornam mundanos?
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Deus usaria Israel caso eles evitassem o pecado
de se misturar com o pecado das nações pagãs.
E não é portanto para se admirar que tantas
exortações sejam feitas na Sua Palavra neste sentido.
E para o propósito de desencorajar o Seu povo à
mistura com as nações de Canaã, Deus acrescentou variadas e grandes ameaças de
maldições e castigos para os israelitas no caso
de serem desobedientes a tal ordenança
específica.
Muitas aflições viriam sobre eles, da parte do
próprio Deus, caso se misturassem com as
práticas abomináveis daquelas nações.
O que acontece com a Igreja de Cristo em nossos dias não é muito diferente disso.
Muitas bênçãos não são alcançadas, e muita
correção da parte do Senhor sobrevém à Igreja, exatamente por causa deste pecado de se
assumir a forma do mundo.
Se, conforme dizer do apóstolo é necessário não
se conformar ao mundo para que se possa
conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, então não é difícil de se entender que
quando se toma a forma do mundo não somente
ficamos impossibilitados de fazer a vontade de
Deus, como até mesmo de conhecê-la, conforme se afirma em Rom 12.2.
Deus quer um povo santo, puro e separado, e o
segundo capítulo de Juízes nos revela isto de
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forma muito direta e clara, e este povo, é
formado na dispensação da graça, por pessoas
que se convertem das trevas do mundo para a
luz de Jesus.
Tudo o que estiver misturado com o mundo, passará debaixo do juízo ou da correção do
Senhor, porque nada que provém do mundo
pode ser um canal apropriado para trazer a nós
a presença real e santa de Jesus. Assim, todo ministério mundano não
prevalecerá, e ficará destituído da graça de
Deus.
Os pastores mundanos não terão qualquer
mensagem recebida da parte de Deus para ser pregada com poder ao Seu povo. Porque o
Espírito Santo não se detém onde mora o
orgulho e disposições de mundano proceder.
Aquele que não separa o que é vil do que é precioso, não pode ser a boca de Deus.
Deste modo, todos os cristãos que se deixarem
seduzir pelos prazeres deste mundo estarão
áridos, vazios e confusos.
Serão como o povo de Israel, depois de ter fabricado o bezerro de ouro.
A presença da nuvem de glória entre eles se retirará e o Senhor não caminhará mais com
eles, até que se arrependam e voltem a viver em
verdadeira santidade.