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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
Departamento de Administrao
Programa de Ps-graduao em Administrao Doutorado em Administrao
Modelos de Gesto Estratgica de Cadeias de
Organizaes:um estudo exploratrio
Celio Mauro Placer Rodrigues de Almeida
* 2006 *
2
UNIVERSIDADE DE SO PAULO Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
Departamento de Administrao Programa de Ps-graduao em Administrao
Doutorado em Administrao
Modelos de Gesto Estratgica de Cadeia de Organizaes:
um estudo exploratrio
Tese apresentada ao Departamento de Administrao da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Doutor em Administrao.
Doutorando: Mestre Celio Mauro Placer Rodrigues de
Almeida
Orientador: Prof. Dr. Fauze Najib Mattar
3
4
Agradecimentos.
A DEUS por todas as coisas e pela vida,
Aos meus pais pela boa mo com que me conduziram nesta vida,
minha esposa e filhos, meus companheiros, minha vida,
Aos meus professores, que se tornaram meus amigos dividindo seu saber, suas
vidas,
Aos meus amigos que se tornaram meus professores, vidas,
todo o povo desta terra brasileira, pela Universidade de So Paulo, em vida.
Muito obrigado!
E especialmente:
Aos meus pais Clio e Miriam, pelo exemplo de amor, retido, dedicao e
perseverana, transmitidos com carinho ao longo da minha vida.
Alcinia, minha esposa e companheira, pelo apoio, compreenso, pacincia e
incentivo, que durante esses anos em que me dediquei a este Doutorado esteve sempre
ao meu lado.
Aos meus filhos Stefania, Davi e Gabriel, em quem me inspirei para a conquista de um
futuro melhor.
Ao Prof. Fauze N. Mattar, pela orientao e incentivo recebido nestes ltimos anos
junto ao curso de ps-graduao. Pelos seus valiosos ensinamentos, conhecimentos e
experincia transmitidos ao longo de nosso convvio e pela inestimvel orientao.
todos os professores da FEA-USP, pois souberam transmitir a paixo pelo
desconhecido e a busca por novos caminhos do conhecimento, e em quem seguramente
me inspiro para seguir minha carreira de docente.
Ao pessoal da seo de ps graduao, particularmente Valria Loureno e Maria
Aparecida J Salles pelo apoio, amizade e estmulo.
5
Aos Profs. Dagoberto H. Lorenzetti Dilson e G. dos Santos pela honrosa avaliao, que
na qualificao dessa tese contriburam com suas valiosas crticas e sugestes para o seu
aprimoramento.
A Prof. Carlos T. Akamine pelo valioso auxilio na construo do modelo algbrico.
Ao pessoal da Natura Cosmticos S.A.: Rodolfo Guttilla, Angel M. L. Rodriguez de
Medeiros, Cristiane Moraes e Flvia Motta que tornaram esse estudo de caso possvel. E
ainda ao Marco Carmini da Cognis Brasil Ltda, Dionsio Ferenc e Cristiane Medeiros da
IFF Essncias e Fragrncias Ltda, Wagner Croce do Grupo Wheaton Brasil, Sergio
Fernandes da Croda do Brasil Ltda., Paula Fres da Rexam Beauty Packaging do Brasil
e Helen Augusto da Givaudan do Brasil Ltda.
Aos amigos Prof Dr Geraldo LucianoToledo, Prof. Dr. Milton de Abreu Campanrio,
Prof. Dr. Leonel C. Rodrigues, Prof. Dr. Ricardo L. Rovai, Prof. Dr. Antonio Amar
Maximiano, Prof. Dr J A. Giesbrecht da Silveira, Prof. Dr. Abraham S. Yu, Prof. Dr
Adalberto Fischman e Prof Dr Luis C. Di Serio pelas sugestes e a todos que de alguma
forma contriburam para que eu chegasse at aqui.
Celio Mauro Placer Rodrigues de Almeida
Fevereiro de 2006
6
SUMRIO
I. INTRODUO 1
II. O PROBLEMA DE PESQUISA 6
2.1. Formulao da situao-problema 6
2.2. Questes de pesquisa 10
2.3. Pressupostos conceituais 11
2.4. Objetivo, delimitao e importncia do estudo 15
III. FUNDAMENTAO TERICA 20
3.1. A evoluo das artes e das cincias e a administrao atual 20
3.2. Caracterizao da organizao empresarial 23
3.2.1. Definies de organizao empresarial 27
3.2.2. A organizao como uma clula 30
3.2.2.1. A funo marketing 44
3.2.2.2. A Logstica e a funo produo 53
3.2.2.3. A logstica e a estratgia 66
3.2.2.4. O modelo de estratgia logstica revisto 74
3.2.2.5. A Morfologia das Clulas e das Organizaes 89
3.3. Caracterizao de Cadeias de Organizaes 91
3.3.1. A evoluo do conceito de cadeias de organizaes 98
3.3.2. Definies de Gesto de Cadeias de Organizaes 103
3.3.3. A Cadeia de Organizaes Como um Tecido 115
7
3.3.4 A dinmica sistmica e as cadeias de organizaes 120
3.3.5. Modelos Organizacionais e a Cadeia de Organizaes: morfologia, processos e fluxos 128
3.4. A organizao sistmica da firma, o mercado e as leis: a teoria dos custos de transao e a realidade operacional 165
3.4.1. Classificao dos Custos de Transao 176
3.5. Modelagem, estratgia e planejamento em gesto de cadeias de organizaes 183
3.5.1. Definies e Conceitos Bsicos de Sistemas 186
3.5.2. Caractersticas e Requisitos para se Elaborar Modelos e a Teoria de Sistemas 190
3.5.3. Desenvolvendo um Modelo Estratgico de Cadeias de Organizaes 193
3.5.4. Modelos e modelagem 206
3.6. Um modelo de planejamento estratgico e gesto de cadeias de organizaes: gerenciar hoje e planejar o futuro 211
3.6.1. Definies taxonmicas conceituais 214
3.6.2. Propondo um novo paradigma: Princpios de Cadeias de Organizaes 217
3.7. Proposio de um modelo anlise de eficincia e eficcia em cadeia de organizaes: Modelo de Eficincia da Cadeia de Organizaes 227
3.7.1. O desempenho interno da cadeia de organizaes: a busca da eficincia 239
3.7.1.1. A importncia da gesto dos estoques 245
3.7.1.2. A importncia da gesto da movimentao 248
3.7.1.3. A importncia da gesto da informao 251
3.7.2. O desempenho externo da cadeia de organizaes: a eficcia confirma a eficincia 261
3.7.2.1. Nvel de satisfao dos consumidores 271
8
3.7.2.2. Tamanho do mercado atendido pela cadeia de organizaes (participao de mercado) 273
3.7.2.3. Taxa de inovao 275
3.7.3. Retroalimentao e aprendizagem 277
3.7.4. Desenvolvendo uma estratgia de implantao do Modelo de anlise de Eficincia e Eficcia em cadeias de organizaes 284
3.7.5. Concluses 293
IV. METODOLOGIA DE PESQUISA 296
4.1. Definio do problema de pesquisa 298
4.2. Pesquisa Qualitativa 300
4.2.1. Reviso Bibliogrfica 301
4.2.2. Estudo de Caso Mltiplo 303
V. APRESENTAO DOS RESULTADOS E CONCLUSO 307
5.1. A indstria de cosmticos no Mundo e no Brasil 308
5.2. A organizao-foco: NATURA COSMTICOS S.A. 333
5.3. As organizaes-chave na cadeia de organizaes estudada 351
5.3.1. Croda do Brasil Ltda. 352
5.3.2. IFF Essncias e Fragrncias Ltda. 366
5.3.3. Cognis Brasil Ltda. 376
5.3.4. Givaudan do Brasil Ltda. 388
5.3.5. Grupo Wheaton Brasil. 401
5.3.6. Rexam Beauty Packaging do Brasil. 411
5.4. Resultados do estudo de caso e sugestes 418
9
VI. CONCLUSES E SUGESTES 434
VII. ANEXOS 440
VIII. BIBLIOGRAFIA 445
NDICE DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1. Modelo de clula vegetal e suas organelas 35
Figura 2. A organizao empresarial como uma clula orgnica 38
Figura 3. Os departamentos como as organelas em movimento nas clulas 39
Figura 4. Os departamentos como as organelas em movimento nas clulas 40
Figura 5. A construo da funo marketing 45
Figura 6: Desenvolvimento simultneo de marketing e logstica 48
Figura 7: As fases da logstica na estratgia da funo produo 55
Figura 8. As tarefas da logstica na organizao empresarial 62
Figura 9. O papel da logstica da estratgia competitiva 67
Figura 10. Os componentes chave da estratgia logstica 71
Figura 11.O modelo de estratgia logstica revisto: os 4 nveis da
logstica estratgica 74
Figura 12. O modelo de estratgia logstica revisto em detalhes 75
Figura 13. Atividades funcionais e fundamentais da logstica 81
Figura 14. Definies de Supply Chain Management 100
10
Figura 15. A formao do tecido (cadeia de organizaes) a partir da
interao celular 117
Figura 16. Gerenciamento da cadeia de organizaes: integrando e gerenciando
os processos de negcios atravs da cadeia de organizaes 129
Figura 17. A estrutura de rede na cadeia de organizaes 130
Figura 18. Combinando todos os processos gerenciados e integrados
da cadeia de organizaes 131
Figura 19. Mapas de fluxos de diferentes processos na cadeia de
organizaes 132
Figura 20. Elementos estruturais das redes de organizaes 133
Figura 21. Biblioteca da estrutura da cadeia de organizaes 134
Figura 22. Rede de cadeia de organizaes 135
Figura 23. Canais genricos de distribuio 136
Figura 24. Uma cadeia complexa de distribuio de alimentos nos E.U.A. 137
Figura 25. Modelo da rede natural da cadeia de organizaes 138
Figura 26. Padro da cadeia de organizaes do setor de computadores 146
Figura 27. Elementos chave em cadeias de organizaes na sia 149
Figura 28. Modelo de mapas de decomposio da cadeia de organizaes
da empresa: uma arquitetura de distribuio da soluo
de problemas 151
Figura 29. Representao grfica detalhada da anlise da hierarquia
de rede para seleo de um fornecedor estratgico 160
Figura 30. Estabelecendo relacionamentos apropriados na cadeia de organizaes 199
Figura 31. Ciclo de vida das cadeias de organizaes (cadeia A e B) 218
Figura 32. Ligaes e fluxos de bens entre organizaes em uma cadeia de
organizaes ampla 219
11
Figura 33. Ligaes e fluxos entre organizaes complexas (aglomerados,
conglomerados e holdings) 219
Figura 34. Organizao adquire capital acionrio de fornecedor e
distribuidor imediatos 221
Figura 35. Organizao foco exerce seu poder sobre toda a cadeia
de organizaes 222
Figura 36. Conglomerado avana vertical e horizontalmente adquirindo
participao acionria 222
Figura 37. Uma cadeia de organizaes com alinhamento nico 223
Figura 38. Uma cadeia de organizaes com alinhamento mltiplo 223
Figura 39. A transferncia de uma organizao A da cadeia de
organizaes 2 para a cadeia de organizaes 1. Se a cadeia
de organizaes 2 expeliu a empresa A, houve uma exogenia
e se a cadeia de organizaes 1 atraiu a empresa A,
houve endogenia 224
Figura 40. Modelo de estratgia logstica revisto, com ajustes nos nveis
funcionais e de implementao 229
Figura 41. Fluxos nas cadeias de organizaes e suas direes (vetoriais) 230
Figura 42. Fluxos relevantes para estabelecimento de um modelo de eficincia
da gesto de cadeias de organizaes 231
Figura 43. Integrao e alinhamento das organizaes num fluxo
orientado pela estratgia 233
Figura 44. A gesto estratgica de cadeias de organizaes 234
Figura 45. Participao de cada nvel e organizao-chave nos resultados
totais (em porcentagem %) 235
Figura 46. Participao de cada organizao nos nmeros (porcentagem
de lucro ou faturamento) na cadeia de organizao 236
Figura 47. A relao tridimensional do gerenciamento estratgico 238
12
Figura 48: Indicadores dos servios de Qualidade Total 265
Figura 49 Captando a aprendizagem a partir do desenvolvimento
de projetos 279
Figura 50: Sistema de Inovao da Natura S/A 283
Figura 51. Modelo de Regras de Maturidade 291
Figura 52. O Modelo de Eficincia da Cadeia de Organizaes e o
relacionamento entre as variveis internas de avaliao da eficincia
da cadeia de organizaes e seus resultados de eficcia no mercado 294
Figura 53. Faturamento lquido da industria brasileira de cosmticos 326
Figura 54. Desempenho financeiro da Natura Cosmticos S.A. 336
Figura 55. Cadeia de Organizaes da NATURA COSMTICOS S.A. 350
Figura 56. Cadeia de Organizaes da Croda do Brasil Ltda. 365
Figura 57. Cadeia de Organizaes da IFF - Essncias e Fragrncias Ltda. 375
Figura 58. Cadeia de Organizaes da Cognis Brasil Ltda. 387
Figura 59. Cadeia de Organizaes da Givaudan do Brasil Ltda. 400
Figura 60. Cadeia de Organizaes do Grupo WHEATON Brasil. 410
Figura 61. Cadeia de Organizaes da Rexam Beauty Packaging do Brasil. 417
Tabela 1. Medidas do SCOR Nvel 1 272
Tabela 2. Participao da indstria de cosmticos, higiene e limpeza na
produo da indstria qumica mundial (dados de 1996) 309
Tabela 3. Faturamento do setor de cosmticos no mundo e por regio
US$ milhes - 1990 e 1998 310
Tabela 4. Principais mercados nacionais de produtos de higiene pessoal,
perfumaria e cosmticos US$ bilhes 2000 311
Tabela 5 Principais exportadores mundiais de produtos de perfumaria,
cosmticos e higiene pessoal bens finais US$ milhes 312
Tabela 6 Principais importadores mundiais de produtos de perfumaria
cosmticos e higiene pessoal bens finais US$ milhes 313
13
Tabela 7 Principais pases participantes do comrcio mundial de produtos de
perfumaria, cosmticos e higiene pessoal bens finais exportaes,
importaes e saldo comercial em US$ milhes 2000 314
Tabela 8 Principais exportadores mundiais de insumos para a
indstria de perfumaria, cosmticos e higiene pessoal US$ milhes 315
Tabela 9 Principais importadores mundiais de insumos para a
indstria de perfumaria, cosmticos e higiene pessoal US$ milhes 316
Tabela 10 Principais pases participantes do comrcio mundial de
insumos para a indstria de perfumaria, cosmticos e
higiene pessoal exportaes, importaes e saldo comercial
em US$ milhes 2000 317
Tabela 11. Evoluo do Produto Interno Bruto e da Indstria de
Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos 327
Tabela 12. Variao anual dos ndices de preos 328
Tabela 13. Balana Comercial Brasileira 329
Tabela 14. Balana comercial de higiene pessoal, perfumaria e cosmticos 329
Tabela 15. Grupo de produtos de higiene pessoal, perfumaria e
cosmticos nas exportaes brasileiras 330
Tabela 16. Organizaes-chave apontadas pela Natura S.A. 420
Tabela 17. Respostas Pergunta: Quem a organizao-foco na sua
cadeia de organizaes? 424
Tabela 18. Respostas questo: Voc utiliza a percepo de seu papel
em suas negociaes com outras organizaes-chave ou com a
organizao-foco? 425
Tabela 19. Respostas da questo: Ocorre o gerenciamento formal,
utilizando mtodos cientficos, da cadeia de organizaes
como um todo? 426
Tabela 20. Respostas questo: Na sua opinio quais so os pontos fortes
em sua cadeia de organizaes? 427
14
Tabela 21. Respostas questo: Na sua opinio quais so os pontos fracos
em sua cadeia de organizaes? 427
Tabela 22. resposta questo: Na sua opinio quais so as oportunidades
em sua cadeia de organizaes? 428
Tabela 23. Resposta questo: Na sua opinio quais so as ameaas
em sua cadeia de organizaes? 429
Tabela 24. Resposta questo: O seu relacionamento com seus fornecedores
poderia ser considerado: a. colaborativo b. concorrente c. neutro 430
Tabela 25. Respostas questo: A sua posio em relao aos seus fornecedores
poderia ser considerada: Sou dominado por eles / Exero o domnio
sobre eles / No ocorre dominncia, h paridade entre ns 430
Tabela 26. Respostas questo: Adota mtodos para otimizar os
relacionamentos com seus fornecedores tais como CPFR, VMI.
EDI etc? Cite os mtodos adotados pela sua organizao 431
Tabela 27. Respostas questo: O seu relacionamento com seus distribuidores
poderia ser considerado: a. colaborativo / b. concorrente / c. neutro 431
Tabela 28. Respostas questo: A sua posio em relao aos seus distribuidores
poderia ser considerada: Sou dominado por eles. / Exero o domnio
sobre eles. / No ocorre dominncia, h paridade entre ns 432
Tabela 29. Resposta questo: Adota mtodos para otimizar os
relacionamentos com seus distribuidores tais como CPFR, VMI. EDI etc?
Cite os mtodos adotados pela sua organizao 433
15
NDICE DE ABREVIAES
ABIHPEC Associao Brasileira da Indstria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmticos
ABVD Associao Brasileira de Vendas Diretas
ANP - Analytical Network Process
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
B2B Business to Business
CD Centro de Distribuio
CDs Centros de Distribuio
CLM Council of Logistics Management
CNA Companhia Nacional de lcalis
CPFR Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment
CSN Companhia Siderrgica Nacional
CT Custos de Transao
DNA cido Desoxirribonuclico
EDI Electronic Data Interchange
ERP Enterprise Resource Planning
EUA Estados Unidos da Amrica
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FMS Flexible Manufacturing System
IFF International Flavors and Fragrances
i. e. isto
JIT Just in Time
KPI - Key Performance Indicators
LIS Logistics Information System
LOC Lote timos de Consumo
16
LOP Lote timo de Produo
Mercosul Mercado Comum do Cone Sul
MKT Marketing
MRP Material Resource Planning
NAFTA - North American Free Trade Alliance
NEI Nova Economia Institucional
NTIC - Novas tecnologias de informao e comunicao
NY New York
ONG Organizao No Governamental
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PMI - Project Management Institute
QLICAR Qualidade, Logstica, Inovao, Custo/Contrato, Atendimento,
Rastreabilidade
RNA cido Ribonuclico
SAC Sistema de Atendimento ao Consumidor
SCM Supply Chain Management
SCOR Supply Chain Operations Reference Model
SIPATESP Sindicato da Indstria de Perfumaria e Artigos de Toucador no Estado de So Paulo
SQI - Service Quality Indicator
SQT Servios de Qualidade Total
TCT Teoria dos Custos de Transao
TQM Total Quality Management
UCLA University of California, Los Angeles
UE - Unio Europia
VMI Vendor Managed Inventory
WMS Warehouse Management System
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RESUMO
ALMEIDA, CELIO M. P. R. Modelos de Gesto Estratgica de Cadeias de
Organizaes: um estudo exploratrio. 2006. 463 pp. Tese de Doutorado Faculdade de
Economia, Administrao e Contabilidade, Universidade de So Paulo.
Com o crescimento do comrcio global e a ampliao das relaes de trocas em todo o
mundo industrializado, muitas organizaes estabeleceram relaes com fornecedores e
distribuidores globais, constituindo grupos de negcios denominados cadeias
produtivas. Assim, o gerenciamento dessas cadeias torna-se essencial e pode propiciar
ganhos de escala e aumento da capacidade em atender diferentes mercados e segmentos,
tornando-as como um todo mais gil e flexvel, promovendo a reduo dos estoques e
aumento dos fatores de produo em todas as organizaes-chave das cadeias de
organizaes que delas participem. Existem muitas oportunidades de ampliao da
qualidade e de reduo de custos na cadeia de organizaes e que pode aumentar
substancialmente sua receita ou diminuir seus custos pelo gerenciamento eficaz.
Acompanhar a evoluo de cada organizao no contexto da sua cadeia de organizaes
e dos seus detentores de interesses oferece uma viso muito mais completa, uma
imagem holstica das atividades, uma cadeia de capacidades e de know-how, de si
prpria e das aliadas. Como o ambiente circundante, essas capacidades e
relacionamentos recprocos se encontram em constante mutao e evoluo. Por
conseguinte, a empresa deve monitorar e gerenciar todo o conjunto que compe a sua
cadeia de organizaes, incluso os seus fluxos em processos e sistemas.
Utilizando modelos de estratgia logstica e de gesto de cadeias de distribuio, teoria
de sistemas, teoria dos custos de transao, modelos e modelagem foram propostos os
Princpios de Cadeias de Organizaes e foi desenvolvido um Modelo de Eficincia em
Cadeias de Organizaes. Um estudo de caso mltiplo na cadeia de negcios da Natura
Cosmticos foi realizado para conhecer como est o conceito de cadeias de
organizaes nessa indstria e seis fornecedores.
PALAVRAS CHAVE: Cadeias de Organizaes; Gesto de Cadeias de Suprimentos;
Estratgia Organizacional; Teoria de Sistemas; Logstica Integrada; Marketing.
18
ABSTRACT
ALMEIDA, CELIO M. P. R. Strategic Organization Chains Model: an exploratory study.
2006. 463 pp. Tese de Doutorado Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade,
Universidade de So Paulo.
Global trade growth and exchange relations enlargement in the industrialized world
contributed to make many organizations establish links with suppliers and global
distributors, building up business groups called productive chains.
Therefore, managing those chains becomes essential in order to provide gains of scale
and increasing capacity to accommodating different markets and segments in a more
flexible and fast way, providing inventory reduction and increasing production factors in
all key organizations of organizations chains that take part in them.
There are many opportunities of enlarging the quality and the reduction of costs in the
organizations chains that may substantially increase their revenue or decrease their costs
through effective management. Acquiring a complete view and a holistic image of the
activities for a chain of capacities and know-how of itself and its allies means following
up the evolution of every organization in the context of its organizations chain and its
interests owners. As the surrounding environment, those reciprocal capacities and
relationships find themselves in constant change and evolution. Hence, enterprises
should monitor and manage all the ensemble that determines their organizations chain,
including their flows in processes and systems.
With the use of logistic strategy and distribution chains management models, the systems
theory, the transaction costs theory, models and modeling, the Organizations Chains
Principles were proposed and Organizations Chains Efficiency Model was developed. A
multiple case study at Natura Cosmetics business chain was held in order to getting to
know how this industry and its suppliers deal with the concept of organizations chains.
KEY WORDS: Organizations Chains; Supply Chain Management; Organizational
Strategy; Systems Theory; Integrated Logistics; Marketing.
19
I. INTRODUO
Com o crescimento do comrcio global e a ampliao das relaes de trocas em todo o
mundo industrializado, muitas organizaes estabelecem relaes com fornecedores e
distribuidores globais, constituindo grupos de negcios denominados cadeias
produtivas. Assim, o gerenciamento dessas cadeias torna-se essencial e pode propiciar
ganhos de escala e aumento da capacidade em atender diferentes mercados e segmentos,
tornando-as como um todo mais gil e flexvel, promovendo a reduo dos estoques e
aumento dos fatores de produo em todas as organizaes-chave das cadeias de
organizaes que delas participem. Existem muitas oportunidades de ampliao da
qualidade e de reduo de custos na cadeia de organizaes e que pode aumentar
substancialmente sua receita ou diminuir seus custos pelo gerenciamento eficaz.
Acompanhar a evoluo de cada organizao no contexto da sua cadeia de organizaes
e dos seus detentores de interesses oferece uma viso muito mais completa, uma
imagem holstica das atividades, uma cadeia de capacidades e de know-how, de si
prpria e das aliadas. Como o ambiente circundante, essas capacidades e
relacionamentos recprocos se encontram em constante mutao e evoluo. Por
conseguinte, a empresa deve monitorar e gerenciar todo o conjunto que compe a sua
cadeia de organizaes, incluso os seus fluxos em processos e sistemas.
A Cadeia de Organizaes, por premissa, define-se como sendo um conjunto de
organizaes encadeadas que trocam ativos entre si, sejam eles tangveis ou intangveis,
relacionam-se e interagem umas com as outras a fim de atingirem seus objetivos de
conquista de mercado, lucro, crescimento e perpetuao. Essas organizaes tornam-se
partes de um processo de transformao de bens tangveis e intangveis que respeitam
um fluxo direcionado desde os produtores de matrias-primas bsicas at os segmentos
20
de consumidores finais e seus retornos (retroalimentadores). Este fluxo se processa
numa linha uni, bi ou multidirecional.
O termo cadeia de organizaes aqui adotado tem sido tratado, ao longo da histria
recente da administrao, por diversas denominaes para um mesmo conceito
correlacionado; por exemplo, como gesto da cadeia de suprimentos, do ingls, supply
chain management - SCM ou, distribuio fsica, cadeia de distribuio, cadeia de
negcios, canais de distribuio, canais de marketing, cadeias de abastecimento, cadeias
de suprimentos, cluster etc. Lambert & Stock (1992: 4), Gaither & Frazier (2001: 429),
Slack et al (2002: 416) afirmam que durante os ltimos anos, tanto nos negcios como
no meio acadmico, diversos nomes tm sido dados gesto da cadeia de organizaes,
entre eles:
Distribuio fsica, Distribuio, Engenharia de distribuio, Gerenciamento da cadeia de suprimentos, Gerenciamento de materiais, Gerenciamento logstico de materiais, Logstica, Logstica de distribuio, Logstica do marketing, Logstica de negcios, Logstica industrial, Sistemas de resposta rpida.
O termo Gesto de Cadeias de Organizaes, conceitualmente, se refere basicamente ao
processo de planejar, implementar e controlar um conjunto de organizaes encadeadas
num processo produtivo com vetores orientados bem como o fluxo e armazenamento
eficiente e eficaz de matrias-primas, estoque em processo, produtos acabados e
informaes, desde o ponto de origem at o ponto de consumo, utilizando-se de
movimentao e estocagem, com o propsito de satisfazer s necessidades e desejos do
21
cliente final. Este processo envolve todas as organizaes participantes dos processos
produtivos e seus fornecedores, envolvendo organizaes to diferentes quanto uma
extratora de minrios at uma prestadora de servios de tecnologia de ponta.
A capacidade de estabelecimento da gesto estratgica da cadeia de organizaes no
ambiente organizacional assume importncia significativa em mbito mundial. A
estratgia, o marketing, a logstica e a anlise de sistemas e processos assumem um
papel relevante na gesto de cadeias de organizaes, j que uma gesto eficiente das
mesmas est diretamente ligada ao sistema de marketing e logstica integrada
envolvidos em todas as etapas do processo produtivo. Elas podem atuar de forma
primordial no gerenciamento do cumprimento das tarefas de criao, produo e
comercializao de produtos e de servios, tornando-os disponveis para o consumo.
A gesto estratgica assume importncia, pois o gerenciamento de uma cadeia de
organizaes envolve diferentes organizaes, com suas idiossincrasias e
especificidades, com as suas culturas organizacionais construdas ao longo de sua
histria e suas descobertas e inovaes, com seus objetivos de mdio e longo prazos,
com suas capacidades e fraquezas que podem ser ampliadas e reduzidas ou melhoradas
e pioradas quando esto em relacionamento e passam a exercer influncias de umas
sobre as outras, gerando aprendizagem e criando um conjunto relacionado que se torna
complexo e amplo; em suma, uma cadeia de organizaes.
A estratgia, o marketing, a logstica e a anlise de sistemas e processos no so apenas
funes ou reas independentes de uma organizao que faz parte de um mundo isolado.
Pode-se defini-las como disciplinas cientficas que ensinam como organizar e gerenciar
22
uma cadeia de organizaes e, ao mesmo tempo, tornam-se um conjunto de atividades
que abraa completamente e acompanha cada fase do ciclo ao longo de todas as
organizaes: desde o abastecimento da matria-prima do produto (ou servio) at o
cliente final e todo o processo de servios ps-venda (de forma sistmica). Entende-se
que qualquer organizao, de qualquer tamanho, que esteja operando no mercado
formal ou informal, faz parte, pelo menos, de uma cadeia de organizaes. As
atividades funcionais envolvidas no funcionamento e relacionamento entre uma
organizao e seus interlocutores podem ser influenciadas fortemente pelas condies
econmicas, tecnolgicas, geogrficas, pelo clima do ambiente natural e pela cultura e
organizao scio-poltica do territrio de ao (entre outros fatores). Assim sendo,
conhecer como se administra estrategicamente os fluxos entre todas as organizaes-
chave1 envolvidas em uma cadeia de organizaes e suas interaes sob influncia das
variveis incontrolveis, pode auxiliar a gesto estratgica a atingir os objetivos de
conquista de mercados, perpetuao, lucro e crescimento com aumento da eficincia nos
processos organizacionais.
1 Organizaes-chave: So aquelas organizaes que apresentam papel crucial no funcionamento da cadeia de organizaes. Seu papel como participante da cadeia de organizaes pode ser crucial por possuir os seguintes diferenciais: monoplio do conhecimento, domnio tecnolgico, capacidade de produo em escala, monoplio ou parcela significativa do mercado, grande capital (intelectual e financeiro). As organizaes-chave geram fortes entradas de bens no sistema da cadeia de organizaes que geram a possibilidade de seu funcionamento ocorrer. Organizaes-chave so aquelas sem as quais o sistema de cadeias de organizaes no pode funcionar.
23
Na realidade atual, em que a globalizao e as relaes inter e intra-organizaes se
tornam viveis pela evoluo das tecnologias de informtica e comunicao, estabelecer
um programa de gesto estratgica de cadeias de organizaes torna-se estrategicamente
relevante e a possibilidade de se estabelecer um modelo de implementao e conduo
desta gesto pode se tornar uma ferramenta estratgica importante de diferenciao.
Assim, estudar seus processos, mecanismos e funcionalidades torna-se uma tarefa
pioneira de grande atualidade e utilidade.
24
II. O PROBLEMA DE PESQUISA
2.1. Formulao da situao-problema
Nestas ltimas dcadas, muito tem sido escrito sobre a Gesto de Cadeias de
Suprimentos, termo cunhado originalmente em ingls - supply chain management -
SCM, ou para este trabalho, Gesto de Cadeias de Organizaes. Existem relatos de
utilizao do gerenciamento de cadeias de suprimento em forma de livros, artigos e
estudos de casos. A preocupao com fluxos eficientes e administrao cientfica j
havia sido formulada por Charles Babbage em seu livro On the economy of machinery
and manufactures, em 1832, onde apresentou as idias sobre administrao
consideradas de extrema atualidade como: estudos de tempos e movimentos para definir
o modo mais eficiente de trabalho, comparao entre as prticas de administrao de
diferentes organizaes e localizao industrial (Maximiano, 2002: 95).
Desde a dcada de 60, diversos artigos escritos por autores em diversos pases e
continentes tm tratado da gesto da cadeia de organizaes. Jay Forrester (1961)
utilizava fluxos de produtos entre organizaes para exemplificar seus modelos
sistmicos que fundamentavam sua dinmica industrial. No final da dcada de 80,
algumas organizaes comerciais norte-americanas passaram a se preocupar com a
gesto da cadeia de suprimentos. Entretanto, a preocupao era conceitual, tratando
sobre o que poderia ser definido como gesto da cadeia de suprimentos, sem nfase
clara na situao real que ocorre nas sociedades estruturadas, nem como poderia ser
implantada a referida gesto, ou muitas vezes tratando erroneamente da logstica como
sendo a SCM. Os estudos sobre a sua importncia estratgica no abordavam
25
claramente como implantar uma gesto da cadeia de suprimentos ao longo de toda a
sua extenso - desde os produtores de matria-prima at o consumidor final, a maioria
dos trabalhos tratava, de forma restrita, apenas do relacionamento entre dois ou no
mximo trs elos (ou nveis) da cadeia. Esses trabalhos podem ser vistos como uma
abordagem inicial para a elaborao do entendimento do funcionamento de uma cadeia
de organizaes por inteira, j que em sntese, as funes de logstica, compras e
marketing podem funcionar como elos de ligao entre duas organizaes, e seus
mecanismos e processos quando multiplicados por toda a cadeia de organizaes podem
ser utilitrios. Procura-se especificamente apresentar aqui que a Gesto de Cadeias de
Organizaes transcende os estudos sobre gesto da logstica. Cooper et alli (1997a: 9-
15) assim procederam em seu artigo: Supply Chain Management More Than a New
Name for Logstics, publicado em 1997, onde demonstram claramente a diferena entre
logstica e SCM.
Estudos sobre o relacionamento e parcerias na cadeia de organizaes e a melhoria dos
sistemas de informao se intensificaram na dcada de 90. Entretanto, somente com o
advento da Internet e a franca utilizao de sistemas amplos e rpidos de informao e
comunicao que se tornou possvel iniciar as conjecturas e reflexes sobre as
possibilidades de integrao das organizaes relacionadas numa determinada cadeia de
organizaes. No Brasil, as publicaes sobre este tema so ainda escassas e estudos
morfolgicos e analticos so ainda, aparentemente, novidades nas organizaes aqui
instaladas.
Assim, identificar os mecanismos, processos, possibilidades, problemas e solues que
possam ser observados junto realidade atual das cadeias de organizaes como um
26
todo e as organizaes com elas ou nelas envolvidas, pode permitir que se realize um
tratamento com maior acuidade quando das ocorrncias nas organizaes. Desta forma,
os problemas mais comuns relacionados com o planejamento e a implantao de uma
gesto cientfica da cadeia de organizaes precisam ser identificados e a verificao de
sua ocorrncia potencial num processo de implementao em organizaes brasileiras
tambm, para que possam gerar uma base de conhecimentos que permita a
minimizao ou eliminao de seus problemas e a maximizao de seus resultados
estratgicos.
A reviso da literatura demonstra que existem fatores crticos no processo de
implementao do processo estratgico na gesto de cadeias de organizaes, ou seja,
fatores importantes para sua implantao, que devem ser cuidadosamente considerados
neste processo. O modelo definido por Porter (1992) para estratgia competitiva
demonstra que fornecedores, manufaturas e distribuidores exercem aes em seu
relacionamento que podem levar concorrncia pelos lucros vigentes, como
decorrncia de seu poder de barganha. Os relacionamentos entre elos de uma mesma
cadeia podem ser concorrentes e assim, por decorrncia ou substituio, tambm podem
ser neutros ou colaborativos.
Fine (1999: 114-5) apresenta um modelo estratgico que utiliza o mapeamento da
cadeia de suprimentos de forma a se conhecer suas foras e fraquezas, bem como as
ameaas e oportunidades que podem vir a incidir sobre essa cadeia de organizaes.
Assim, este trabalho buscou encontrar uma compreenso mais clara de como se poderia
planejar, implementar e controlar toda a Gesto Estratgica da Cadeia de Organizaes,
a partir do conhecimento de modelos naturais encontrados na natureza e o estudo de
27
sistemas e processos em modelos sociais. Fine (1999: 115) apresenta trs nveis de
mapeamento da cadeia de fornecimento: o primeiro mapeia as organizaes da cadeia
de fornecimento, o segundo mapeia as tecnologias da cadeia de fornecimento e o
terceiro mapeia a cadeia de capacidades das organizaes. Segundo este autor:
Adotando-se uma viso da empresa a partir dos seus produtos ou
processos, inicia-se coma enumerao dos fornecedores de matrias-
primas ou componentes (certifique-se de incluir o item fornecido) que
a empresa utiliza nos seus produtos ou servios.
Simchi-Levi et al (2003: 42) afirmam que um problema tpico de configurao de rede
envolve uma grande quantidade de dados, incluindo informaes sobre localizao dos
clientes, varejistas, depsitos e centros de distribuio, instalaes fabris e fornecedores
e todos os produtos, incluindo volumes e modos de transporte especial entre outros
itens, e que o objetivo ao projetar ou reconfigurar a cadeia de organizaes minimizar
os custos anuais do sistema, incluindo custos de produo e de compras, de manuteno
de estoques, de operao das instalaes (custos fixos, de armazenamento e de
manipulao) e os custos de transporte, sujeitos a uma variedade de exigncias quanto
ao nvel de servio.
Simchi-Levi et al (2003: 139-42) demonstram que organizaes que empreenderam uma
gesto estratgica das cadeias de suprimentos concentrando-se em alianas estratgicas
e utilizando depsitos centralizados entre outros aspectos, tornam-se especialmente
diferenciadas, pois para a grande maioria das organizaes a sua cadeia uma rede
complexa de instalaes e estruturas com objetivos distintos e conflitantes. Isto significa
que, encontrar a melhor estratgia para a cadeia e para uma organizao em particular,
implica desafios significativos.
28
2.2. Questes de pesquisa
1. possvel se conhecer como est estruturada a cadeia de organizaes e
quais so as organizaes-chave da cadeia de organizaes?
2. possvel se conhecer como se comportam os fluxos de bens tangveis e
intangveis que trafegam pela cadeia de organizaes?
3. possvel se conhecer e realizar o gerenciamento da cadeia de organizaes
como um todo? As organizaes pesquisadas j realizam sua operao dessa
forma?
4. As organizaes enxergam a cadeia de organizaes como um todo e o seu
papel nela ao elaborar suas estratgias?
Ao fim das pesquisas exploratrias, foi possvel se obter subsdios para apontar indcios
sobre a possibilidade de se elaborar um modelo de estratgia sistmica para uma
determinada cadeia de organizaes e as organizaes nela envolvidas. Harrison e van
Hoek (2003: 276) afirmam que a estratgia da cadeia de organizaes no s
imprescindvel para o sucesso como tambm oferece um quadro contextual para definir
e priorizar a iniciativa para o reprojeto dos processos de negcios, melhorias dos
sistemas e reestruturao organizacional.
29
2.3. Pressupostos conceituais
Neste trabalho, organizao empresarial assume conceitualmente o papel de clula de
produo de ativos de valor que podem ser oferecidos ao mercado para aquisio ou
consumo. Esta clula est organizada, de alguma forma, racionalmente. Ela se apropria
de recursos de diversas naturezas, tais como: inteligncia, conhecimento, pessoas,
equipamentos, tempo, instalaes, informao, capital financeiro etc. As organizaes
empresariais assumem um papel comercial na sociedade, mas tambm um papel social,
na medida em que criam empregos e geram tecnologias que podem ser influenciadas ou
podem trazer modificaes nos hbitos e comportamentos pessoais e coletivos.
Estudos realizados sobre as organizaes pertencentes a partes das cadeias de
organizaes, ao longo da histria, assumiram diferentes denominaes e conceitos, tais
como: cadeia de negcios, cadeia de distribuio, distribuio fsica, canais de
distribuio, canais de marketing, cadeias de abastecimento, supply chain
management (SCM), cadeias de suprimentos, cluster etc; aparentemente todos estes
termos so tautolgicos2 e esto relacionados s interaes entre dois ou mais nveis das
cadeias de organizaes, e todos eles, por pressuposto, so considerados neste trabalho
como um conjunto de organizaes encadeadas que trocam ativos de valor entre si,
tangveis e intangveis, relacionando-se e interagindo umas com as outras a fim de
atingirem seus objetivos de conquista de mercados, lucro, perpetuao e crescimento de
seus negcios, sendo assumido aqui, por premissa, como sinnimos do termo cadeia de
organizaes.
2 Tautolgicos. Relativo tautologia. 1. Gram: Uso de palavras diferentes para expressar uma mesma idia, redundncia, pleonasmo. 3. Etim. Gr. Repetio (de forma ou significado), o que diz a mesma coisa j dita. Houaiss, Antnio & Villar, Mauro S. Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2001, p. 2679.
30
Nvel na cadeia de organizaes o elo, ou os estgios, pelos quais, sucessivamente, os
bens tangveis vo sendo transformados. Pode-se citar, como exemplo, a indstria
automobilstica com seus diversos nveis: inicialmente, a mineradora de ferro e outros
metais; o nvel seguinte o da siderurgia que transforma o minrio de ferro em lminas
de ao; em seguida o das estamparias, que cortam e moldam as lminas para
assumirem a conformao de uma pea funcional, e assim por diante at chegar ao
consumidor final no nvel de varejo.
A gesto da cadeia de suprimentos ou gesto da distribuio fsica, aqui denominada
gesto da cadeia de organizaes, trata desde os produtos primrios (que se encontram
na terra, na gua ou ar) at a venda do produto final para o consumidor final. Deve ser
encarada como uma rede. A gesto da cadeia de organizaes o gerenciamento da rede
como um todo, de ponta a ponta, dos seus fluxos e dos relacionamentos entre os nveis
que a compem.
Pressupe-se que, como todas as coisas existentes no universo, as cadeias de
organizaes nascem, crescem, declinam e perecem. Processo assumido aqui como
sendo um sistema de operaes que produz alguma coisa, uma srie de aes, mudanas
ou funes que atinge um fim ou resultado.
Por premissa, optou-se, neste trabalho, considerar que cada evento provocador de
ineficincia, num nvel qualquer de uma cadeia de organizaes, pode tambm provocar
um efeito deletrio pelo menos em todos os outros nveis posteriores em que haja
correlao para aquela ineficincia.
31
Organizao empresarial assume, neste trabalho, o conceito definido por Maximiano
(2002: 130), a saber: um sistema de recursos que procura realizar objetivos ou
conjuntos de objetivos. Apresenta-se como um todo complexo e organizado, formado
de partes ou elementos que interagem para realizar um objetivo especfico.
Conforme demonstrado na bibliografia consultada, a anlise das cadeias de
organizaes permite que se estabelea uma srie de concepes que podem ser teis
sua gesto; desta forma, pode-se partir de algumas premissas bsicas:
1. Existe um conjunto de regras que regem as cadeias de organizaes e
suas interaes caracterizando-as como um conjunto coeso passvel de
tratamento e estudo.
2. Essas regras podem ser identificadas e testadas.
3. As variveis controlveis e incontrolveis (ambientais), tanto diretas
como indiretas que incidem sobre as organizaes, igualmente incidem
sobre as cadeias de organizaes.
4. O comportamento das organizaes participantes afeta a cadeia de
organizaes como um todo e a situao da cadeia de organizaes como
um todo afeta as organizaes participantes.
O Planejamento das Necessidades Materiais (do ingls Material Resource Planning
MRP), segundo Gaithier e Frazier (2001: 272), um sistema computadorizado que toma
o Programa Mestre de Produo como um dado de entrada e o expande detalhando a
quantidade exigida de matrias-primas, peas, submontagens e montagens necessrias
em cada semana do horizonte de planejamento; reduz essas necessidades de materiais
para considerar os materiais que esto em estoque ou sob encomenda; desenvolve um
programa de pedidos de materiais comprados e peas produzidas durante o horizonte de
32
planejamento. uma tcnica de gesto racional para os materiais que apresentam uma
demanda dependente, ou seja, aqueles que consistem em itens cuja demanda depende
das demandas de outros itens tambm mantidos como estoque em processo, para apoiar
a produo. Desta forma, no h necessidade de se realizar a previso da demanda por
matrias-primas e produtos parcialmente concludos, porque so conhecidos de antemo
quais produtos devem ser produzidas num determinado horizonte de trabalho. Assim, as
quantidades de material necessrio para produzir estes produtos acabados podem ser
exatamente calculadas.
Just In Time - (JIT), segundo Slack et al (2002: 482-4), uma abordagem disciplinada
que visa aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdcios. Possibilita a
produo eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade
correta, no momento e locais corretos, utilizando o mnimo de instalaes,
equipamentos, materiais e recursos humanos.
Neste trabalho assume-se modelo como sendo uma representao externa e explcita de
parte da realidade, para ser usado para compreender, mudar, e para controlar essa parte
da realidade de alguma maneira. Modelo aqui concebido como uma estrutura de
smbolos interpretados e a representao do objeto especificado pela interpretao.
Presume-se que as relaes entre os smbolos traduzam relaes correspondentes entre
os elementos do objeto.
33
2.4. Objetivo, delimitao e importncia do estudo.
O objetivo central deste trabalho foi, atravs da pesquisa exploratria junto literatura,
atravs dos trabalhos desenvolvidos com foco em cadeias de organizaes, e atravs de
um estudo de caso mltiplo numa cadeia de organizaes escolhida (Natura Cosmticos
S.A.), conhecer as arquiteturas e modelos funcionais, analisar e conhecer os
mecanismos e componentes que atuam de forma sistmica e dinmica relacionados
gesto e ao funcionamento das Cadeias de Organizaes e seu comportamento.
Desta forma, buscou-se desenvolver um estudo sobre a dinmica sistmica e a
morfologia dos processos, fluxos e do funcionamento das cadeias de organizaes.
Analisando-se os diversos modelos e seu instrumental para a gesto estratgica de
cadeias de organizaes atravs do mtodo de pesquisa exploratria. Para a elaborao
de questes de pesquisa buscou-se identificar os mecanismos, processos, possibilidades,
problemas e solues que possam ser observados junto realidade atual das cadeias de
organizaes como um todo, nas principais organizaes com elas ou nelas envolvidas;
a partir da, procurou-se elementos que permitam avaliar seu envolvimento,
desempenho e a possibilidade de se realizar uma gesto estratgica de cadeias de
organizaes. Os problemas mais comuns relacionados com o planejamento e a
implantao de uma gesto cientfica da cadeia de organizaes foram identificados e
gerou-se uma base de conhecimentos que permitiu o levantamento de seus problemas e
a possibilidade de melhoramento de seus resultados estratgicos.
Assim, buscou-se compreender se os participantes da cadeia de organizaes tm
conscincia do seu papel no sistema auferido, se tomam decises com foco em gesto
da cadeia de organizaes como um todo, se elaboram seu planejamento estratgico
34
levando em conta toda a cadeia de organizaes e como consideram seu papel funcional
diante de toda a sua cadeia de organizaes. A partir do conhecimento originado nessas
duas pesquisas, foram apontados pontos relevantes inerentes gesto estratgica de
cadeias de organizaes e um modelo de gesto foi proposto.
Neste trabalho, ficou evidente a dificuldade citada por Shank e Govindarajan (1995: 77-
8) e Fine (1999: 115) de se analisar pragmaticamente a cadeia de negcios como um
todo, pois no nvel primrio pode ser relativamente fcil de se mapear conceitualmente,
mas difcil logisticamente, pelo grande nmero de entidades que participam das cadeias
de muitas organizaes. Nos outros dois nveis, que ele denominou mapeamento das
tecnologias da cadeia de fornecimento e da cadeia de capacidades da empresa, os
desafios so maiores, tanto em termos conceituais quanto logsticos. A maioria dos
dados necessrios sua elaborao no se encontra nos bancos de dados de qualquer
organizao, devendo ser levantados por pessoas com ntima participao nos processos
tecnolgicos e empresariais da organizao. Assim, optou-se, neste trabalho, em se
analisar apenas as organizaes-chave que compem uma determinada cadeia de
organizaes.
Este trabalho buscou, dentre as organizaes, aquelas que aparentavam ter grande
controle ou influncia sobre os outros participantes dessa cadeia de organizaes. Foram
consideradas apenas as organizaes principais e os outros participantes, considerados
organizaes-chave na cadeia de organizaes. A importncia deste estudo pode ser
avaliada a partir das declaraes formuladas por diversos autores, desde Forrester
(1961) a Porter (1996), que demonstraram a importncia de se alinhar os processos ao
35
longo da cadeia de organizaes com vistas a encontrar melhor desempenho e
diferenciao competitiva.
O processo de globalizao iniciado desde as conquistas de Alexandre na Grcia
Antiga, dos Csares da Roma Imperial at o momento atual, com a formao de blocos
poltico-comerciais de interesse geo-econmico como a Unio Europia - UE, o North
American Free Trade Alliance NAFTA, o Mercosul entre outros, justificam por si s a
ampliao do conhecimento dos processos vigentes nas cadeias de organizaes, que
transcendem as fronteiras geogrficas e os governos, e apresentam fluxos que podem
ampliar a capacidade e o valor daquelas organizaes, alm de constiturem um
planejamento estratgico a partir do amplo conhecimento de seu mecanismo de
funcionamento.
possvel identificar a importncia da gesto de cadeias de organizaes a partir das
afirmaes feitas por Chopra e Meindl (2003: 3-5), que definem como sendo um fluxo
dinmico e constante de informaes, produtos e dinheiro entre diferentes estgios.
Cada estgio da cadeia de suprimento executa diferentes processos e interage com
outros estgios da cadeia. O objetivo de toda a cadeia de suprimentos maximizar o
valor global gerado. O valor gerado por uma cadeia de organizaes a diferena entre
o valor do produto final para o cliente e o esforo realizado pelos seus participantes para
atender seu pedido. A Cadeia de organizaes pode ento ser objetivamente definida
como sendo composta por vrias organizaes vinculadas com o propsito de fornecer
bens ou servios que os clientes finais demandam. Para Cooper et alli (1997: 2), a
cadeia de organizaes responsvel pela integrao de processos-chave desde os
36
consumidores finais at os fornecedores e que disponibilizam produtos, servios e
informaes que agregam valor aos consumidores e a outros interessados.
A importncia da gesto de cadeias de organizaes fica evidente quando a rede de
suprimento tambm vista como um sistema. Todos os processos dentro da rede
precisam ser compreendidos em termos de como eles interagem com outros processos.
Nas organizaes, as entradas e sadas so afetadas pelo comportamento de outros
participantes da rede. Para Simchi-Levi et al (2003: 6365), a gesto da cadeia de
organizaes ou rede logstica torna-se importante, pois formada por fornecedores e
fabricantes que transformam matrias-primas em produtos acabados, e por centros de
distribuio e depsitos, a partir dos quais os produtos acabados fluem entre as
instalaes e so distribudos para o cliente. A configurao dessa rede pode envolver
aspectos relacionados com a localizao das plantas produtivas, dos depsitos, que em
grande quantidade podem melhorar o nvel de servio, gerar um acrscimo nos custos
de estocagem, custos de transporte de entrada e nas despesas em geral, uma reduo nos
custos de transporte de sada, e ainda envolver aspectos relacionados aos varejistas cujas
decises estratgicas tm efeitos de longo prazo sobre a organizao.
Cooper et alli (1997a: 8-14) consideram a gesto da cadeia de organizaes como uma
filosofia integradora e necessria ao gerenciamento extensivo do fluxo total de produtos
e informaes no canal de distribuio de um grupo de organizaes, desde o primeiro
fornecedor localizado no incio da rede de negcios at o ltimo cliente dessa cadeia de
valor. Nesta perspectiva de integrao, a gesto da cadeia de organizaes responde
pela coordenao das atividades e processos dentro e entre as organizaes, e representa
algo mais amplo que o conceito clssico da logstica industrial. Kobayashi (2000:
37
232) apresenta a sua importncia ao afirmar que a logstica no est limitada a uma
funo empresarial independente que atua de forma isolada. uma disciplina cientfica
que ensina como organizar a cadeia logstica e, ao mesmo tempo, um conjunto de
atividades que abraa completamente e acompanha cada fase do ciclo da organizao:
do abastecimento de insumos e da matria-prima para se transformar em produto, at
o cliente final e todo o processo de servios ps-venda.
Em concluso, pode-se afirmar que pela sua relevncia, carncia de pesquisas,
inovatividade e atualidade, o estudo de cadeias de organizaes torna-se necessrio e
pode permitir que seus resultados tragam maior conhecimento sobre a dinmica e os
mecanismos que regem seu comportamento, possibilitando assim que se efetue o
gerenciamento de seus fatores com vistas a alcanar os seus objetivos estratgicos.
38
III. FUNDAMENTAO TERICA
3.1. A evoluo das artes e das cincias e a administrao atual
As evolues da reflexo humana e da cincia atravs da histria revelam como os
primitivos seres humanos das cavernas, que desenhavam suas pinturas rupestres
grosseiramente, sem a perspectiva de que poderiam reproduzir com mais realidade a
viso tridimensional, avanaram e conseguiram saltar extraordinariamente at seu pice
no sculo XV, com o advento do movimento renascentista, quando no apenas a
perspectiva tridimensional ganhava destaque, mas tambm a reproduo exata da
natureza e do ambiente dos palcios e figuras humanas alcanavam uma beleza e
excelncia muito grande com os famosos artistas Leonardo Da Vinci, Michelangelo,
Rafael e Tintoretto, entre outros mestres da arte, que brindaram a raa humana com
obras de arte at hoje admiradas pela sua perfeio multidimensional.
Na administrao, tambm possvel se observar desde os construtores venezianos de
navios at os primeiros ensaios de Taylor, Fayol e Gantt, no fim do sculo XIX, como
evoluram as reflexes e a capacidade de vislumbrar os verdadeiros movimentos de
anlise de processos com mltiplas variveis atuando concomitantemente e interagindo
em sistemas complexos. Ao se observar a construo de modelos e grficos do incio do
sculo XX, em que a maioria deles utilizava apenas duas dimenses (os eixos x e y),
com os atuais (virtuais) que podem processar em segundos, centenas, milhares de
variveis (em mltiplos eixos) atuando simultaneamente e de forma interagente,
percebe-se claramente como o computador e seus programas tornaram a vida chapada
39
dos grficos e modelos bidimensionais, em uma rica viso tridimensional e at,
multidimensional.
Assim, a telemtica, aliada s modernas tecnologias de gesto, propiciou uma viso
mais clara da funo multidimensional da administrao organizacional estratgica que
pode permitir que se agregue mltiplas variveis interagentes com suas variabilidades
dinmicas a um modelo de anlise sistmica. At 1960, os clculos deveriam ser
realizados praticamente mo, e o tempo exigido apenas permitia que se chegasse a
resultados conclusivos depois de dias e dias executando os clculos necessrios, muitas
vezes ultrapassando o tempo necessrio implantao e aplicao de seus achados.
A utilizao dos sistemas grficos era o suporte maior e estava na maioria das vezes
restrita ao cruzamento de duas, quando muito, trs variveis, numa viso grfica. At os
anos 80, a capacidade de elaborao de clculos mais complexos estava limitada aos
grandes e caros computadores (mainframes), mas sua expanso j era claramente
perceptvel e sua influncia nas artes militares, administrao, agronomia, medicina,
engenharia e pesquisas em geral foi significativa. Ela propiciou a possibilidade de se
efetuar clculos e anlises em variveis multidimensionais adotadas empiricamente pela
pesquisa operacional j nos anos 50.
A partir da evoluo da eletrnica digital e do recente mundo virtual, a possibilidade de
gerar resultados tridimensionais e multidimensionais levou a estudos em diversas
direes e disciplinas. Nos anos 90, a abstrao da tridimensionalidade se tornava algo
comum no cotidiano das grandes metrpoles. Contribuiu para isso, fortemente, o
advento da Internet, o crescimento do cinema, da propaganda, dos jogos eletrnicos, as
40
simulaes computacionais, mecatrnica e, mais recentemente, o telefone celular e
todos os sistemas de comunicao sem fio. O pensamento tem se adaptado lentamente a
lidar, cotidianamente, com mltiplas variveis mutantes, utilizando-se informaes de
mltiplas origens para direcionar estrategicamente os objetivos e resultados pretendidos,
com as informaes necessrias sendo transmitidas em tempo real, com extrema
fidelidade, a qualquer regio do planeta.
Desde meados da dcada de 80, a introduo dos computadores pessoais permitiu um
avano extraordinrio nas possibilidades de clculos com modelos de mltiplas
variveis atuando dinmica e concomitantemente, interagindo entre si, e produzindo um
resultado satisfatrio. Assim, a capacidade de abstrao e a utilizao dos modernos
sistemas informacionais possibilitam que o raciocnio e a cognio decorrentes das
teorias de sistemas e da dinmica social apresentem uma grande interao das
informaes sobre as variveis e seus comportamentos, e possibilitam que sejam mais
rapidamente processados e reprocessados.
Assim, as novas tecnologias de informtica e telecomunicaes tornaram vivel a
possibilidade de se ampliar o relacionamento e a capacidade de trocas de informaes
(dados, imagens e voz), em tempo real e com preciso, tornando a integrao da cadeia
de organizaes factvel em sistemas ligados em tempo real e com portabilidade e
flexibilidade total, sendo a cada dia acessveis e acessveis nos mais diferentes sistemas
eletrnicos e digitais.
41
3.2. Caracterizao da organizao empresarial
Por princpio, uma organizao empresarial se constitui numa clula de produo de
ativos de valor que podem ser oferecidos ao mercado para aquisio ou consumo. Esta
clula est organizada, de alguma forma, racionalmente. Ela se apropria de recursos de
diversas naturezas, tais como: inteligncia, conhecimento, pessoas, equipamentos,
tempo, instalaes, informao, capital financeiro etc.
Para Coase (1988: 5), a firma, na teoria econmica moderna, uma organizao que
transforma entradas (inputs) em sadas (outputs). Coase apontou a existncia de custos
para realizar as transaes, o que no elimina a possibilidade da sua conduo via
mercado; portanto, o sistema de preos continua sendo relevante, podendo funcionar
como mecanismo alocador eficiente de recursos em casos particulares. Entretanto,
Coase procura demonstrar que basta um olhar ao nosso redor para se perceber que
pragmaticamente o mecanismo de regulao do mercado exceo, e o mecanismo
contratual, a regra para alocao dos recursos na sociedade.
Coase (1988: 3-9) apresentou crticas viso restritiva pela economia tradicional da
firma como funo de produo, sugerindo ser um estereotipo que no tem aderncia ao
mundo real e nem tem vigor analtico que sugira a sua adoo. Em seu artigo de 1937,
apresentou a viso da firma como um nexo de contratos e deu incio possibilidade
de estudo das organizaes como arranjos institucionais que regem as transaes, seja
42
por meio de contratos formais ou de acordos informais. As instituies foram re-
introduzidas na teoria microeconmica e passou-se a considerar a firma como um nexo
de contratos cuja estrutura forma de governana - varia de modo previsvel de acordo
com variveis passveis de anlise, pautadas pelas regras institucionais.
Zylbersztajn (2005: 3-5), afirma que o trabalho pioneiro de H. D. Coase discutiu as
razes explicativas para a existncia da firma com base nos custos comparativos da
organizao interna e de produo via mercado, e lanou as bases para o estudo das
formas alternativas de organizao das firmas contratuais. Reconheceu que os mercados
no funcionavam a custo zero, tampouco a organizao interna da firma era desprovida
de custos. A sua preocupao foi, continuamente, de chamar a ateno dos economistas
para os fenmenos do mundo real e para o rico laboratrio vivo do mundo das
organizaes, que estavam espera de estudo cuidadoso. E que teorias da firma de base
contratual avanaram a partir de mltiplas razes? A Economia dos Custos de Transao
(Williamson, 1985 e 2005), Teoria dos Custos de Mensurao (Barzel, 2002), ambas
ancoradas em Coase, Teoria dos Contratos Incompletos (Hart, 1995), Teoria com Base
nos Recursos (Langlois, 1998), a Teoria das Redes (Thorelli, 1986), a Teoria de
Agncia (Pratt e Zeckhauser, 1985), entre outras. A reconstruo de pontes entre a
Teoria Econmica e a Sociologia e, mais recentemente, com as cincias cognitivas e
com o questionamento a respeito do pressuposto de racionalidade, resultaram na quebra
de paradigma.
As organizaes empresariais criam especializaes e relacionamentos entre si, e
assumem diferentes funes e papis na cadeia produtiva, j que para uma mesma
organizao, individualmente, elaborar todo o processo produtivo desde a retirada de
43
petrleo ou ferro bruto de uma mina, at a montagem de um equipamento
eletrodomstico, eletroeletrnico ou um avio e sua comercializao e manuteno,
passando por diferentes etapas de transformao, at hoje no foi constatado. Henry
Ford, que tentou eliminar completamente a dependncia e a necessidade de firmas
fornecedoras criando as suas prprias, fracassou e foi por muitos considerado um
megalomanaco. Sobre isto relatam Womack et al (1992: 26-7):
Inclusive, chegou ele a agregar matrias-primas e transporte mo invisvel: uma plantao de borracha totalmente prpria no Brasil, minas de ferro em Minnesota, navios prprios para transportarem minrio de ferro e carvo pelos Grandes lagos at Rouge... ...Por fim, essas iniciativas alm de Highland Park no deram em nada... Porque o prprio Ford no tinha a menor idia de como organizar um empreendimento global, a no ser centralizando todas as decises numa s pessoa no topo: ele prprio.
Desta forma, organizaes assumem especificidades peculiares e se voltam para
determinadas especialidades; procuram se tornar boas em fazer algo especfico ou
alguma coisa em particular, e passam a participar do processo produtivo seguindo os
mesmos preceitos da diviso do trabalho conceituada pioneiramente em 1760 por Adam
Smith (1993: 80-100), que desenvolveu a apologia da diviso do trabalho como
evoluo social, em que a grande multiplicao das produes de todas as artes e ofcios
conseqncia da diviso do trabalho, que origina, numa sociedade bem administrada,
a opulncia generalizada que se estende s camadas inferiores da populao. Afirmava
ainda que a diviso do trabalho ocasiona em todas as reas, na medida em que
possvel introduzi-la, um acrscimo proporcional dos poderes produtivos do trabalho. A
distino entre os diversos ofcios e profisses parece ter-se realizado em conseqncia
desta vantagem e que tal como essa propenso que origina esta diferena de talentos
to notvel entre homens de diferentes profisses, tambm ela que torna til a
44
diferena, ilustrando assim a importncia e a utilidade da diviso do trabalho ou funes
em diferentes organizaes e sua inter-relao:
Observe-se o suprimento do mais vulgar artfice ou jornaleiro num pas civilizado e prspero, e verificar-se- que o nmero de pessoas cuja atividade, ainda que s numa pequena parte, foi necessrio empregar para lhe proporcionar esse suprimento, excede todas as possibilidades de clculo. Por exemplo, o casaco de l que cobre um jornaleiro, por mais grosseiro e tosco que possa parecer, o produto do labor combinado de grande nmero de trabalhadores. O pastor, o classificador da l, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelo, o pisoeiro, o curtidor, e muitos outros, tm de reunir as suas diferentes artes para que seja possvel obter-se mesmo este produto comezinho. E quantos mercadores e carreteiros ho de, alm disso, ter sido empregados no transporte dos materiais de uns desses trabalhadores para os outros, que, muitas vezes, vivem em regies do pas muito distantes! Quanto comrcio e quanta navegao, especialmente quantos construtores navais, marinheiros, fabricantes de velas e de cordas tero sido precisos para reunir as diferentes drogas usadas pelo tintureiro, que muitas vezes provm dos mais remotos cantos do mundo! E que variedade de trabalho ainda necessrio para produzir ferramentas do mais nfimo desses trabalhadores! Para j no falar de mquinas to complicadas como o navio do marinheiro, a prensa do pisoeiro, ou mesmo o tear do tecelo, consideremos to-somente a variedade de trabalho requerida para originar essa mquina to simples, a tesoura com que o pastor tosquia os carneiros.
Assim, a constituio de uma organizao que busca com sua especializao, ampliao
de seus conhecimentos e o desempenho de suas tarefas em desenvolver, fabricar e
fornecer bens aos seus mercados tornou-se importante fator econmico nos ltimos
sculos. A interao e o relacionamento, mesmo que estritamente comercial, entre
organizaes que participam de uma cadeia produtiva, tornam-se necessrios e seu
gerenciamento pode determinar ganhos ou perdas. A compreenso do funcionamento da
organizao empresarial e das inter-relaes entre as organizaes empresariais
pertencentes a uma mesma cadeia produtiva pode propiciar um aumento da eficincia da
gesto estratgica da cadeia de organizaes e na eficcia de seus resultados.
45
3.2.1. Definies de organizao empresarial
Houaiss (2002: 2079) descreve organizao como sendo uma entidade que serve
realizao de aes de interesse social, poltico, administrativo etc., e como sendo um
grupo de pessoas que se unem para um objetivo, interesse ou trabalho comum. O
mesmo autor, na pgina 1128, define o termo empresa como uma organizao
econmica, civil ou comercial, constituda para explorar determinado ramo de negcio e
oferecer ao mercado bens e/ou servios.
A organizao se apropria de recursos de diversas naturezas, tais como: pessoas,
equipamentos, tempo, instalaes, informao, inteligncia, conhecimento, capital
financeiro etc. As organizaes empresariais detm um papel social, j que criam
empregos e geram tecnologias que podem ser influenciadas ou trazer modificaes nos
hbitos e comportamentos pessoais e coletivos, veja-se, recentemente, o efeito das
viagens areas, da inseminao artificial, da transgenia, da Internet ou do telefone
celular e seus efeitos no comportamento individual e coletivo das pessoas.
Maximiano (2002: 130) define a organizao empresarial como sendo um sistema de
recursos que procura realizar objetivos ou conjuntos de objetivos. Apresenta-se como
um todo complexo e organizado, formado de partes ou elementos que interagem para
realizar um objetivo especfico.
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Drucker (1999: 33-5) define a organizao como sendo um agrupamento humano
composto por especialistas que trabalham em conjunto em uma tarefa comum. Uma
organizao sempre especializada e definida por sua tarefa. Ele afirma ainda que o
termo organizao somente se tornou usual aps a dcada de 1960. Segundo este autor,
a organizao ignorada em livros mais recentes sobre cincias sociais, e explica que
isto acontece precisamente porque ela afeta profundamente tanto o Estado como a
sociedade:
A organizao incompatvel com aquilo que tanto os polticos como os cientistas sociais ainda assumem como sendo a norma. Eles ainda assumem que uma sociedade normal unitria, em vez de pluralista....Ela no comunidade nem sociedade, classe ou famlia, os modernos integradores conhecidos pelos cientistas sociais. Mas ela tambm no um cl, uma tribo ou um grupo de afinidade, nem nenhum dos outros integradores da sociedade tradicional. A organizao uma coisa nova e distinta.
Assim, para Drucker (1999: 38-9), a funo das organizaes tornar produtivos os
conhecimentos. As organizaes so o meio ambiente feito pelo homem, a ecologia
social da sociedade ps-capitalista. A organizao uma entidade distinta e separada.
As organizaes so instituies com fins especiais. Assim como Taylor, ele acredita
que elas so eficazes porque se concentram em uma tarefa especializada. A organizao
uma ferramenta e, como tal, quanto mais especializada for a sua tarefa, maior ser a
capacidade de desempenho. Tambm necessrio que uma organizao avalie e julgue
a si mesma, bem como o seu desempenho em relao a objetivos e metas claros,
conhecidos e impessoais.
Chandler (1992: 483) define a organizao como sendo uma entidade legal que
estabelece contratos com fornecedores, distribuidores, empregados e, freqentemente,
com clientes. Para ele, tambm uma entidade administrativa, j que havendo diviso
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do trabalho em seu interior, ou desenvolvendo mais de uma atividade, uma equipe de
administradores se faz necessria para coordenar e monitorar as diversas atividades.
Uma vez estabelecida, a organizao se torna um conjunto articulado de qualificaes,
instalaes e capital lquido. E finalmente, diz que em nome de lucros, organizaes tm
sido e so instrumentos de economias capitalistas para a produo de bens e servios e
para o planejamento e a alocao para produo e distribuio futuras.
Levitt (1990: 26-8) afirma que a idia de que o propsito de uma organizao restringe-
se a gerar lucros uma idia vazia, e que a mais poderosa de todas a idia e a viso de
que o verdadeiro propsito de uma organizao criar e manter clientes. Segundo ele,
no pode haver estratgia empresarial que no seja fundamentalmente uma estratgia de
marketing, nem objetivo que no responda de algum modo ao que as pessoas esto
desejando comprar por um preo determinado.
Para este estudo assume-se que a organizao empresarial um sistema de recursos
que procura realizar objetivos ou conjuntos de objetivos com vistas perpetuidade,
crescimento e lucro. Apresenta-se como um todo complexo e organizado, formado de
partes ou elementos que interagem para realizar um objetivo especfico.
48
3.2.2. A organizao como uma clula
Comparaes com estruturas reais do meio ambiente e da natureza no so recentes nem
raras. Desde os primeiros relatos de pensadores e estudiosos, sistemas ldicos ou
imagticos so comparados com sistemas reais e vice-versa, a fim de se compreender
melhor seu funcionamento. Desta forma, a comparao da organizao empresarial
com uma clula biolgica pode permitir que se realizem algumas reflexes com relao
ao seu funcionamento sistmico.
Bertalanffy (1977: 54-6), demonstrando a relao entre leis que regem as diferentes
disciplinas da cincia afirmava categoricamente que h um paralelismo dos princpios
cognoscitivos gerais em diferentes campos da cincia. Postulava que existem modelos,
princpios e leis que se aplicam a sistemas generalizados ou suas subclasses, qualquer
que seja seu tipo particular, a natureza dos elementos que os compem e as relaes ou
foras que atuam entre eles. Destacou que existem princpios que podem ser aplicados
aos sistemas em geral e que a existncia de propriedades gerais dos sistemas gera, como
conseqncia, o aparecimento de semelhanas estruturais ou isomorfismos em
diferentes campos.
Nada obriga a por um termo aos sistemas tratados em fsica. Ao contrrio, podemos aspirar a princpios aplicveis aos sistemas em geral, quer sejam de natureza fsica, biolgica, quer de natureza sociolgica. Se estabelecermos esta questo e definirmos de modo conveniente o conceito de sistema, verificaremos que existem modelos, princpios e leis que se aplicam aos sistemas generalizados qualquer que seja seu tipo particular e os elementos e foras implicadas.
No pretenso deste trabalho estabelecer analogias vagas e sofismas estreis, mas
como postulou Bertalanffy (1977: 57), uma teoria geral dos sistemas poderia se tornar
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num instrumento til capaz de fornecer modelos a serem usados em diferentes campos e
transferidos de uns para outros. O isomorfismo que ele postula uma conseqncia do
fato de, sob certos aspectos, poder ser possvel se aplicar abstraes correspondentes e
modelos conceituais a fenmenos diferentes. Assim, a possibilidade de se abstrair
comportamentos eventuais dos fenmenos biolgicos existentes numa clula ou tecido
podem trazer lies comparativas de grande utilidade s organizaes sociais (por
exemplo: uma organizao comercial) e aos seus relacionamentos.
Ackoff (1981: 27) demonstrou que a corporao passou a ser vista como um organismo
vivo depois da primeira Guerra Mundial e que este novo conceito de corporao como
um organismo emergiu gradualmente. Assim conceitualizado, a corporao tem uma
vida e propsitos prprios. Seus propsitos principais se assemelham a qualquer
organismo, como a sobrevivncia e o crescimento. O lucro to necessrio para a
organizao como o oxignio para um organismo vivo. A administrao foi
caracterizada como o crebro que dirige a firma e os empregados, como seus rgos.
Gareth Morgan, em seu livro Imagens da Organizao, de 1996, afirma que todas as
pessoas constroem imagens mentais das organizaes em que trabalham, e que estas
podem ser vistas de formas diferentes por diferentes pessoas e que, uma mesma pessoa
pode criar diferentes imagens sobre cada uma destas organizaes. Assim, conhecer as
imagens criadas e entender seu significado pode propiciar uma compreenso maior da
administrao e permitir uma gesto mais eficiente. Nesta linha de estudo, o autor
prope oito imagens possveis das organizaes (mquina, organismo vivo, crebro,
cultura, sistema poltico, priso psquica, sistema em fluxo e transformao, instrumento
de dominao). O autor aponta que, na imagem do organismo vivo como uma metfora
50
biolgica das organizaes, a nfase est na capacidade de adaptao e no no arranjo
ordenado das coisas. Assim, as tarefas e as linhas de autoridade podem ser mudadas
continuamente, a fim de possibilitar o alinhamento da organizao com seu ambiente.
Os pontos fortes deste tipo de funcionamento organizacional incluem a flexibilidade e a
nfase no desenvolvimento de competncias humanas, o que segundo ele,
particularmente apropriado para tratar com ambientes turbulentos e competitivos, tal
qual nossas sociedades capitalistas.
Os ingleses Burns e Stalker, em seu livro The Management of Innovation, de 1961,
estudaram a transio de organizaes industriais convencionais para o mercado de alta
tecnologia, bem mais dinmico e turbulento, e chegaram concluso que dividia as
organizaes em dois tipos: o mecanicista e o orgnico. O tipo de organizao
mecanicista est mais adequado s condies ambientais relativamente estveis. As
tarefas so especializadas e precisas; a hierarquia de controle est bem delineada; a alta
administrao responsvel pela coordenao e pela viso de conjunto; a obedincia e a
lealdade so valorizadas, e a comunicao vertical enfatizada. J o tipo orgnico de
organizao est mais adaptado a condies instveis, a ambientes com os quais a
organizao no tem familiaridade e oferecem complexidades demasiadas que no se
podem resolver apenas com funes especializadas. Desta forma, no sistema orgnico
h contnua redefinio de tarefas, todos so generalistas e a natureza cooperativa do
conhecimento juntamente com a interao nas comunicaes informativas so
enfatizadas, o que favorece um alto nvel de comprometimento com as metas da
organizao. Como concluso de seus estudos, manifestaram dvidas quanto
capacidade de organizaes atuando sob o tipo mecanicista de organizao se tornarem
51
orgnicas, pois as alteraes de cultura envolveriam fortes quebras de paradigmas e
objetivos pessoais.
Amabis e Martho (1997: 82-4) relatam que, a partir da dcada de 1940, entraram em
operao os primeiros microscpios eletrnicos de transmisso, e algum tempo depois o
microscpio eletrnico de varredura, em que um feixe eletrnico, finssimo, projetado
sobre a superfcie metalizada do material, permitindo se obter uma imagem
tridimensional do microorganismo estudado. At esse tempo, as clulas que deveriam
ser examinadas o eram de forma bem mais simples: era feita uma raspagem da
superfcie de onde se queria analisar; em seguida, este material (raspas) contendo as
clulas era homogeneizado e colocado numa plaqueta de vidro transparente, que era
prensado em outra plaqueta e colocado sob a lente de um microscpio mecnico-ptico.
Esta forma de observao permitia apenas uma viso bidimensional das clulas e seus
contedos, e pior ainda, as clulas, alm de chapadas, estavam paralisadas, estticas.
Com o advento da microscopia eletrnica, foi possvel estudar as clulas de forma
tridimensional e, mais recentemente, ao vivo, o que permitiu conhecer no apenas suas
organelas internas (componentes celulares), mas qual seriam as reaes e os processos
dinmicos ali ocorrentes, bem como suas produes e funcionalidades. Da mesma
forma, a anlise das organizaes, desde Gantt e Fayol (Crainer, 1999: 299 e 60) at
recentemente, era feita de forma esttica e na maioria das vezes bidimensional
(chapadas). Atualmente, com o advento da informtica e da telemtica, tornou-se
possvel observar os processos de forma mais ampla, desde o tridimensional at o
multidimensional e, ao vivo.
52
Assim, a possibilidade de se utilizar modelos da natureza (biolgicos) na otimizao dos
processos organizacionais j tem sido largamente reafirmada desde a primeira metade
do sculo XX {Bertalanffy, 1972; Mintezberg, 2000; Fine et al, 2002, entre outros}.
neste contexto que se pode observar uma estrutura celular simples e correlacion-la a
uma organizao empresarial para se observar seu funcionamento e aperfeioamento.
Adotou-se neste estudo a possibilidade de comparao tridimensional, sem considerar
invlida a possibilidade de se fazer anlises em um nmero maior de dimenses ou
variveis de impacto na organizao empresarial.
No exemplo a seguir, importante notar que a viso da organizao, assim como a de
uma clula, est contida por uma membrana. No caso da clula, uma membrana celular
(celulsica) que filtra e controla as substncias (produtos e subprodutos) que entram e
que saem dela mesma. Da mesma forma, a organizao est contida por uma membrana
tangvel traduzida pelos muros, paredes, portas, cercas, sua segurana, e por uma
membrana intangvel que poderia ser no apenas seus limites fsicos, mas sua histria,
sua cultura, poltica e seus limites de atuao. Os processos internos, caracterizados por
departamentos ou reas funcionais, poderiam ser comparados aos processos celulares e
suas estruturas. Cada um deles tem uma funo fundamental para o funcionamento
eficiente da clula (Fig. 1).
atravs dessa membrana que entram as molculas alimentares na clula biolgica, na
organizao ocorre a entrada de matrias primas, componentes e insumos. Pela
membrana celular so expelidos substncias e produtos celulares como hormnios que
promovem aes em outras clulas alm das excrees, da mesma forma na clula
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organizacional so expelidos produtos acabados e informaes ao mercado ou a outras
clulas organizacionais.
Assim como nas clulas biolgicas, a organizao comercial tambm sofre os efeitos e
influncias do meio ambiente. O frio ou o calor, situaes de estresse e outras
incidncias das variveis incontrolveis, exercem influncia significativa tanto sobre o
funcionamento das clulas, quanto sobre o funcionamento das organizaes
empresariais, restringindo e interferindo em seus processos.
Figura 1. Modelo de clula vegetal e suas organelas.
Fonte: http://www.geocities.com/celuled/serv03.htm, Acesso em 14/10/2004.
Yourdon (1992: 15-17), citando a obra de Miller (1978), descreve uma analogia por ele
encontrada, elaborada no agrupamento em categorias dos 19 principais subsistemas
existentes que sempre esto presentes nos sistemas viventes, em nvel de clula, de
rgo, de organismo, de grupo, de organizao, de sociedade ou de sistemas
internacionais, todos eles contendo os seguintes subsistemas:
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- O reprodutor, que capaz de dar origem a outros sistemas semelhantes ao sistema ao qual ele pertence. Em uma organizao comercial, pode ser a diviso de planejamento, que faz novas plantas e constri novos escritrios regionais. - O delimitador, que mantm coesos os componentes do sistema que os protege dos problemas ambientais e que impede ou permite a entrada de vrios tipos de matria-energia e informaes. Em uma organizao comercial, poderia consistir nas instalaes fsicas (prdio do escritrio, fbrica etc.), nos guardas e outros elementos da segurana que impedem intruses no desejadas. - O ingestor, que introduz matria-energia atravs dos limites do sistema a partir do seu ambiente. Em uma organizao comercial, pode ser representado pelo departamento de recebimentos ou de compras, que traz produtos in natura, material de escritrio e coisas afins. Pode ser constitudo tambm pelo departamento de entrada de pedidos, que recebe pedidos verbais e escritos para os produtos e servios da organizao. - O distribuidor, que transporta entradas de fora do sistema ou sadas dos subsistemas em torno do sistema para cada componente. Em uma organizao comercial, podem ser as linhas telefnicas, o correio eletrnico, os mensageiros, transportadoras e vrios outros mecanismos. - O conversor, que modifica certas entradas do sistema em formas mais adequadas para os processos desse sistema em particular. Numa organizao comercial poderia ser a alterao das unidades de volume e peso para atender a operao de produo. - O produtor, que forma associaes estveis que garantem, durante significativos perodos entre entradas de matria-energia no sistema ou entre as sadas do conversor, o material sintetizado para o crescimento, reparo dos danos ou substituio dos componentes do sistema, ou destinado ao fornecimento de energia para movimentar ou compor as sadas de produtos ou informaes de mercado para seu sistema de nvel superior. - O subsistema de armazenamento de matria-energia, que conserva no sistema, por diferentes perodos de tempo, depsitos de vrios tipos de matria-energia. - O extravasor, que envia matria-energia para fora do sistema sob a forma de produtos e resduos. - O motor, que move o sistema ou setores dele em relao a uma parte do ambiente ou todo ele ou move componentes relativamente um ao outro. - O suportador, que mantm o correto relacionamento espacial entre os componentes do sistema, de modo que eles possam interagir sem vantagens uns sobre os outros ou sem interferncias fsicas. - O transdutor de entrada, que traz marcadores com informaes para o sistema, modificando-os para outras formas de matria-energia adequadas para transmisso em seu interior. - O transdutor interno, que recebe, de outros subsistemas ou componentes do sistema, marcadores com informaes sobre alteraes importantes nesses subsistemas ou componentes,
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modificando-os para outras formas de matria-energia que possam ser transmitidas em seu interior. - O canal e a rede, que se compem de uma nica via no espao fsico ou de mltiplas vias interligadas, pelas quais os marcadores com informaes so transmitidos para todas as partes do sistema. - O decodificador, que modifica o cdigo de entrada de informaes para ele, por intermdio do transdutor de entrada ou do transdutor interno, em cdigo privativo que pode ser utilizado internamente pelo sistema. - O associador, que executa o primeiro estgio do processo de aprendizado, formando associaes durveis entre os itens de informao no sistema. - A memria, que executa o segundo estgio do processo de aprendizado, armazenando