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Modernismo e sustentabilidade: uma reflexão sobre a arquitetura norte mineira de Antônio Augusto Barbosa
Moura. Julho 2014
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 7ª Edição nº 007 Vol.01/2014 Julho/2014
Modernismo e sustentabilidade: uma reflexão sobre a arquitetura
norte mineira de Antônio Augusto Barbosa Moura.
Dayodara Teixeira Reis – dayodara@hotmail.com
Master em Arquitetura
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Belo Horizonte, MG, 01/06/2013
Resumo
A arquitetura modernista brasileira contemplou características bioclimáticas na sua
produção. O trabalho apresenta algumas dessas características presentes em obras
específicas de um período, produção do arquiteto nortemineiro Antônio Augusto Barbosa
Moura. O conceito de sustentabilidade veio sendo desenvolvido desde a década de 70 após as
críticas partindo dos movimentos ecológicos ao modelo de desenvolvimento com foco
exclusivo no crescimento econômico. O objetivo desse trabalho foi levantar características
“modernistas” bioclimáticas adotadas na arquitetura brasileira, com enfoque para a
produção do arquiteto citado na cidade de Montes Claros/MG em sua produção pós 70,
analisando e verificando o uso para minimizar as cargas de iluminação e condicionamento
de ar através do melhor aproveitamento da luz natural e ventilação. A metodologia utilizada
para a realização deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa,
avaliação in loco das edificações trabalhadas e entrevistas com moradores. O resultado
dessa pesquisa comprova que as residências modernistas estudadas na cidade de Montes/MG
sugerem, em primeiro lugar, não serem incompatíveis com critérios contemporâneos de
desenho urbano sustentável. Pelo contrário, a adoção de formas urbanas mais
“sustentáveis”, quando não acompanhadas de uma necessidade exigida pelo mercado bem
como uma provisão de equipamentos e serviços de proximidade, pode não ser suficiente para
evitar situações de exclusão social e territorial.
Palavras-chave: Modernismo. Sustentabilidade. Retrofit.
1. Introdução
O conceito de sustentabilidade veio sendo desenvolvido desde a década de 70 após as críticas
partindo dos movimentos ecológicos ao modelo de desenvolvimento com foco exclusivo no
crescimento econômico (ZANONI e JANSSENS, 2009:18). Apesar de se tratar de um
conceito integral, o que poderia ser motivo de consenso para esta definição, a sustentabilidade
é alvo de diferentes medidas e avaliações. Apesar disso, existe um consenso internacional
(CRAVEIRO, 2002:468) sobre a definição proposta pelo Relatório Brudtland, elaborado pela
Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento em 1987, apresentado à Assembleia
Geral das Nações Unidas com o título “Our Common Future”:
Humanity has the ability to make development sustainable – to ensure that it meets
the needs of the presente without compromising the ability of future generations to
meet their own needs [...] Sustainable development requires meeting the basic needs
of all and extending to all the opportunity to fulfill their aspirations for a better life.
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(ZANONI e JANSSENS,2009:19).
A parte mais conhecida e divulgada dessa definição de desenvolvimento sustentável se refere
à igualdade entre as gerações no acesso aos recursos ambientais e naturais. O restante da
definição não amplamente divulgado relaciona-se com a dimensão socioeconômica do
desenvolvimento na forma de satisfazer as necessidades básicas e garantir uma melhor
qualidade de vida.
No entender de Gonçalves e Duarte (2006:52) as questões de sustentabilidade chegaram à
agenda da arquitetura e do urbanismo internacional de forma forte, no final da década de 80 e
início da década de 90, trazendo novos padrões para o contexto europeu. Com ênfase para
uma vertente ambiental, em decorrência das discursões internacionais, as atenções estavam
voltadas tanto para o impacto gerado pelo consumo de energia de base fóssil como para uma
crise energética de dimensões mundiais. Atentos ainda a um alerta para o crescimento
populacional e o inevitável crescimento das cidades e suas necessidades por todos os tipos de
recursos.
Com tudo isso, o conforto ambiental teve um destaque para o projeto de arquitetura, tanto
acadêmico como na prática. “É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da
qualidade de vida do ser humano no ambiente construído, [...] consumindo a menor
quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos
poluído para as próximas gerações” afirma Corbella e Yannas (2003:17).
A arquitetura modernista brasileira contemplou características bioclimáticas na sua produção
principalmente durante o período de 1930 e 1960, destacando-se o uso de brises solares e
cobogós. Na produção nacional destacou-se o arquiteto Lúcio Costa, que cumpriu um papel
exemplar na educação e prática arquitetônica, ressaltando a compreensão das condições
climáticas e geometria solar para a criação de projetos.
O objetivo desse trabalho foi levantar características “modernistas” bioclimáticas adotadas na
arquitetura brasileira, com enfoque para a produção do arquiteto Antônio Augusto Barbosa
Moura na cidade de Montes Claros/MG em sua produção pós 70, analisando e verificando o
uso para minimizar as cargas de iluminação e condicionamento de ar através do melhor
aproveitamento da luz natural e ventilação.
A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica de
abordagem qualitativa, avaliação in loco das edificações trabalhadas e entrevistas com
moradores.
O trabalho realizado está estrutura em quatro seções. Nesta primeira seção tem-se a
introdução, relacionando os conceitos da construção sustentável a edificações modernistas. Na
segunda seção há um breve histórico da construção sustentável aplicada a arquitetura
moderna. A terceira seção apresenta a arquitetura “modernista” interiorana em Minas Gerais,
com a produção de Antônio Augusto Barbosa Moura, e por fim no quarto e último capítulo
são apresentadas as conclusões finais deste trabalho.
2. A in(sustentabilidade) moderna
A cidade moderna, pensada numa era de certezas relativas ao crescimento econômico, o
progresso técnico e urbanismo, contemplava diversos aspectos não ligados à sustentabilidade.
(BENÉVOLO, 2009:47-80). “O desrespeito sistemático pelos sítios, pré-existências e
identidades locais, as grandes terraplanagens, o zoneamento funcional e social estritos, a
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excessiva dependência face ao automóvel nas deslocações diárias ou a obsessão pelos
edifícios isolados” [...] de acordo com Fernandes (2012:100-101), foram características
ligadas ao Urbanismo moderno. O que não necessariamente gerou uma melhor qualidade de
vida para os cidadãos.
A cidade, partindo de outra visão pelos modernistas, tinha uma ideia de focar não mais nas
ruas ou na vida social, mas sim na natureza em geral. A visão contemplativa e introspectiva,
como afirma Fernandes (2012:202) da cidade moderna é percebida também nas origens de Le
Corbusier, quando, por exemplo, em viagens na juventude a Itália - 1907 conhece o mosteiro
cartuxo de Galluzo, arredores de Florença. Notou, impressionado a ligação entre vida privada
e vida comunitária, e a organização desse espaço, destacando as células dos monges com dois
pisos e os jardins individuais.
Esse pensamento foi refletido nas grandes unidades de habitação, a primeira em Marselha
datada de 1946-52. A ideia se baseava em uma espécie de navio com capacidade para 1.200
pessoas, sendo formado por apartamentos duplex, onde nenhum vizinho avistava o outro, total
privacidade e conforto. Tinha também isolamento acústico, mobiliário de design prático e
barato. As árvores e o céu podiam ser admirados com acesso pelas pelos corredores e ruas que
ligavam ainda aos serviços comunitários como, piscinas, creches e comércios.
O acesso a esse conforto moderno estava diretamente ligado a contemplação da natureza e da
paisagem, bem como a preservação do solo e infraestrutura dado o desenvolvimento de uma
cidade-jardim, (FERNANDES, 2012:103)
Dentre os cinco pontos da arquitetura, o terraço jardim descrito pela unidade de habitação do
mais influente arquiteto urbanista do Movimento Moderno, resume uma questão de
sustentabilidade nem sempre lida na literatura. “Juntamente com a fachada livre, a planta
livre, o recurso a janela em fita e a elevação dos edifícios através de pilotis, sistematicamente
utilizado na sua obra arquitetônica (nomeadamente, da fase purista) e que constitui um espaço
de reflexão e encontro do Homem com a Natureza” Sbriglio (1996:62 in: FERNANDES,
2012:13).
O alojamento como célula base na organização da cidade se justifica na atualidade por
questões que vão além da carência de espaço e salubridade, mas pela realidade das novas
formas de trabalho e lazer associados a tecnologia de informação e comunicação. Como
propõe Manuel Castells (2002:493,514,519):
Tanto o espaço como o tempo estão a ser modificados sob o efeito combinado do
paradigma da tecnologia de informação e das formas e processos sociais induzidos
pelo actual processo de mudança histórica. [...] O desenvolvimento da comunicação
electrónica e dos sistemas de informação propicia uma crescente dissociação entre a
proximidade espacial e o desenvolvimento de funções rotineiras: trabalho, compras,
entretenimento, assistência à saúde, educação, serviços públicos, governo e assim
por diante. Por isso, os futurólogos predizem frequentemente o fim da cidade como
as conhecemos até agora, visto que ficarão destruídas da sua necessidade funcional.
Como mostra a história, os processos de transformação espacial são, é claro, muito
complicados. [...] O que resulta de observações diversas é um quadro similar de
dispersão e concentração espacial simultâneas, via tecnologias de informação. [...] A
centralidade em casa é uma tendência importante da nova sociedade. Não significa o
fim das cidades, pois os locais de trabalho, as escolas, os complexos médicos dentre
outros ainda existem e continuarão a existir. ( Castells,2002 in:Fernandes,2002:104-
105).
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A rua tem sido percebida como um espaço inseguro e não socializado, o que afirma a verdade
da vida no alojamento privado, e também a crescente busca por espaços privados de acesso
coletivo, como os centros comerciais (shopping centers). Fernandes (2012:105).
“Não é um exagero dizer que o Brasil foi atingido por uma “epidemia moderna” que cobriu
as periferias dos grandes centros urbanos e alguns locais recônditos, como o sertão
nordestino” (afirma Lago e Cavalcanti, 2005:1). A arquitetura moderna brasileira,
diferentemente da recepção europeia à sua produção modernista, foi aceita e adotada pelas
diversas camadas sociais como uma linguagem. (REIS E BERTONI, 2010). Um modernismo
em movimento. “Sem ilusões ou desejo de recuperar um passado glorioso, sua releitura serve,
apenas, de base inicial para explorar novos contextos e experimentar novas combinações
tecnológicas”. (LAGO E CAVALCANTI,2005:1).
Desde a década de 20, obras como as do arquiteto Gregori Warchavchik, formado na Itália e
radicado em São Paulo em 1923, podem ser contempladas. Com essa produção, difundi as
ideias de Le Corbusier provocando uma mudança na tradição, um novo vínculo com as
correntes vivas da arquitetura internacional. (SILVA, BEZERRA, PINTO, BEZERRA, 2009).
Fazendo uma ligação entre a arquitetura moderna e a sustentabilidade, ou arquitetura de baixo
impacto ambiental, conclui-se que, conforme afirma Duarte e Gonlçaves (2006), a mesma não
pressupõe um estilo ou um movimento arquitetônico, foi encontrada tanto na arquitetura
vernacular das mais variadas culturas como em muitos exemplos do modernismo e, ainda, na
arquitetura mais recente.
A arquitetura sustentável é, em uma abordagem mais ampla, mais do que conforto ambiental e
energia. Pode-se listar diversos outros fatores sociais, ambientais, econômicos e até urbanos.
Portanto, afirma Gonçalves e Duarte (2006:54) “a sustentabilidade de um projeto
arquitetônico começa na leitura e no entendimento do contexto no qual o edifício se insere e
nas decisões iniciais de projeto”.
Outra alternativa é a reabilitação tecnológica (ou retrofit) de edifícios, uma alternativa que
aliada as características já existente nesse caso das residências modernistas, acaba sendo uma
alternativa à demolição e à construção de novos edifícios, nos quais algum impacto ambiental
é inerente.
Os objetivos dessa prática (retrofit) em edifícios são: “adaptar o edifício a novos usos,
melhorar a qualidade ambiental dos ambientes internos, otimizar o consumo de energia no
médio e longo prazo, aumentar o valor arquitetônico e econômico de um edifício existente, ou
mesmo restaurar o seu valor inicial”. (GONÇALVES E DUARTE, 2006:55).
Metodologicamente pensando, para isso, o retrofit deve incluir de uma maneira conjunta o
tratamento das estruturas, da envoltória, dos espaços internos e sistemas prediais.
A utopia da cidade moderna, portanto, encerrava também aspectos de sustentabilidade. A
própria disposição livre dos edifícios no terreno, afirma Fernandes (2012:102), que passa a
não mais depender da sua posição na estrutura urbana, e sim da orientação solar, tem vindo a
ser recuperada por práticas urbanísticas e arquitetônicas, favorecendo o conforto térmico e a
eficiência energética dos edifícios, numa visão sustentável.
2. Arquitetura “modernista” interiorana em Minas Gerias
A cidade de Montes Claros norte de Minas Gerais é hoje centro econômico e político regional
do Estado, a sua expansão e desenvolvimento deram-se principalmente após a implantação da
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SUDENE (Superintendência do desenvolvimento do nordeste), em meados do século 60, o
que fez a cidade torna-se também atração de grandes investimentos. Oliveira (1996).
A primeira indústria implantada foi a Fábrica de Cedro em 1879, iniciando suas atividades em
1882. Ainda segundo Sindeaux (2012) in: Oliveira (2000), no ano de 1980, apenas 51,30%
das pessoas com 10 anos ou mais possuía rendimento. Dessas, 23,31% ganhavam até 01
salário mínimo, sendo que 11,15% ganhavam até 0,5 salários mínimos.
Foi, portanto, aliado aos incentivos fiscais oferecidos pela SUDENE com o baixo custo de
mão-de-obra um atrativo para as empresas, embora a qualificação e a escolaridade dessa mão-
de-obra fossem baixas. Sindeaux (2012).
Nesse contexto, conforme afirma Lara (2005), observou-se uma busca das classes média e
alta por um comportamento mais atualizado em relação às capitais, buscando status através de
uma linguagem moderna.
A pesquisa das obras do arquiteto Antônio Augusto Barbosa Moura demonstra um clima de
descontração, não apenas uma regressão simples e pura, mas um estudo consciente e uma
correção dos defeitos de uma arquitetura de combate. Arquiteto recém-formado pela UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerias) aonde o repertório formal da capital brasileira era
hegemônico.
Via-se uma grande transformação ocorrida pela influência das criações do grande mestre
Oscar Niemeyer, exaltado mas também bastante criticado.
Dessa nova concepção, surge uma arquitetura simbólica e escultural, cuja força
resulta de uma simplificação radical do número de elementos participantes e do
papel a estes atribuídos: agora existe um motivo arquitetônico preponderante,
correspondente à expressão procurada, em torno do qual ordena-se toda a
composição; todo vocabulário que não é capaz de integrar-se ao conjunto
determinado dessa maneira é rigorosamente eliminado, o que leva nitidamente a um
partido estético de economia de meios (BRUAND, 1981,:216).
A produção de Antônio A. B. Moura afirma essa linguagem bem humorada, otimista e pouco
compromissada com discursos fechados e completos para a cidade de Montes Claros/MG.
“Suas obras, seu estado de conservação, seu uso e desuso atual validam a sua importância
perante a sociedade” Reis (2011:4).
Dessa O arquiteto apresenta em seus projetos novos conceitos e formas ainda pouco
exploradas na região e consegue aliar uma nova linguagem e um novo repertório de
formas às peculiaridades locais. Suas experiências e trabalhos se desenvolvem num
processo contínuo de evolução que confere uma unidade no seu trabalho e permite a
identificação de fases e momentos. Explora uma linguagem arquitetônica rica, cheia
de recursos formais articuladas à pesquisa e o uso de materiais diversos como vidro,
concreto, cerâmica e madeira conseguindo resultados racionais práticos que
demonstram uma preocupação estética aliada à criatividade e a inovações para a
região. (BRUAND, 1981:216).
Os objetos analisados neste trabalho são os projetos arquitetônicos de duas casas
unifamiliares, entendidas através de um conjunto de representações ortogonais e em
perspectiva de cada edifício. Suas características foram exploradas sob os critérios do uso do
espaço construído, da atenção ao clima e da adequação tecnológica da arquitetura feita por
Antônio A. B. Moura.
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As características da fachada e volumetria para as residências foram obtidas de maneira
simples, pela observação de fotografias, análise in loco e simulações tridimensionais em
computador.
As casas reunidas nesse estudo, construídas das décadas de 60 e 70, apresentam
características da arquitetura modernista da segunda metade do século, apropriando-se do
vocabulário formal do estilo e adaptando-se as circunstâncias. Por se tratar de uma arquitetura
residencial, alguns dos possíveis motivos dessa apropriação e difusão das características
modernas são: a negação a tudo que fosse tradicional ou passado, traduzido como uma
imitação ou repetição, o que pode ainda permitir a disseminação dos modelos das casas
“modernosas”.
Sob essa arquitetura interiorana, observamos a presença de muitas características descritas
pelo movimento moderno em sua composição, principalmente no que se refere a
predominância da geometria na formalização estética geral e nos detalhes, também nos
materiais, como revestimento cerâmico, pedras naturais e panos de vidro. Conforme afirma
Viviane Marques (MOURA,2007:15) sobre a produção de Antônio A.B. Moura “em seu
trabalho, o sentido da forma marca a arquitetura em que as relações internas e externas
condicionam a estrutura e a identidade”.
Dentre os elementos modernistas de composição de fachada incorporados as casas estão:
- As platibandas passam ao leitor uma ilusão a laje com cobertura plana. Uma composição
cúbica proposta por Le Corbusier. Escondem o telhado tradicional.
A platibanda reta é a mais frequente, o que destaca a linha horizontal. Conforme mostra um
croquis de clientes não identificados, figura 01 e figura 02.
Figura 1 – Croquis do Arquiteto – Estudo de Residência – Cliente não identificado
Fonte: MOURA (2007)
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Figura 2 – Croquis do Arquiteto – Estudo de Residência – Cliente não identificado
Fonte: MOURA (2007)
- A marquise passa a desempenhar a função da antiga varanda, uma transição entre o privado
e o público, o dentro e o fora. Além disso, ampliam o espaço interno, alargando a proporção
da composição e evidenciando a linha horizontal, e consequentemente, a regularidade do
conjunto. (DELMONICO e REGO, 2003:182).
- A horizontalidade é uma característica evidente da produção moderna, ressaltada pela
diferenciação do material nas platibandas e grandes planos de vidro, conforme Figura 06,
fachada da residência Antônio Carlos Amaral.
- A textura também foi adotada como uma estratégia estética para valorizar a horizontalidade,
presente nas residências estudadas. Como exemplo a residência José dos Santos Almeida
(figura 03). Utilizadas na decoração, garantem uma aparência rústica, reduzindo a imagem da
composição geométrica, cúbica e abstrata. (DELMONICO e REGO, 2003).
- A cerâmica, observado na Residência Délio Bernadino (figura 04), como revestimento
garante uma identidade às residências analisadas, segundo Lara: As casinhas modernistas adotaram a cerâmica como material preferido de
revestimento externo. Empregados extensivamente na arquitetura portuguesa e
redescobertos pelos arquitetos modernistas, azulejos e pastilhas foram usados em
profusão. Impulsionadas pela indústria de materiais de construção (o que se revela
também nas inúmeras propagandas na mídia impressa), cerâmicas de revestimentos
estavam disponíveis em forma de pastilhas (2x2cm) ou azulejos decorados (12x12
ou 15x15 cm). Combinados na composição das fachadas, pastilhas e azulejos
tornaram-se marca registrada desse período na arquitetura brasileira (LARA,
2005:176).
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Figura 3 – Residência José dos Santos Almeida .
Fonte: MOURA (2007)
Figura 4 – Residência Délio Bernadino.
Fonte: MOURA (2007)
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- As esquadrias encontradas são, em sua maioria, venezianas em alumínio, adaptadas ao clima
local permitindo a ventilação interna dos ambientes. Formada por três folhas, sendo uma
veneziana fixa e outras duas móveis, das quais uma de vidro transparente.
- Os brises e cobogós são outros elementos que contribuíram juntamente com as esquadrias
para o conforto térmico da edificação. Conforme afirma Delmonico e Rego (2003) o cobogó
seria um novo estágio do “muxarabi”, natural da nossa arquitetura colonial que os portugueses
assimilaram da arquitetura moura. Garante a iluminação natural e a ventilação, sendo também
utilizados como elementos decorativos.
- O pátio interno ou jardim de inverno, um recurso bastante usado para amenizar a
temperatura e integrar os espaços. Conforme figura 5 , onde destaca-se o jardim de inverno e
uma varanda.
Figura 5 – Residência Valdemiro Fagundes
Fonte: MOURA (2007)
- A volumetria é predominantemente simples, evidenciam-se características do movimento
moderno através das platibandas, varandas e volumes que invertidos ou seccionados garantem
um jogo volumétrico, diferindo das antigas fachadas ecléticas e coloniais.
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As fachadas informam sobre a permeabilidade do edifício aos ventos e a insolação direta, a
partir da proporção entre cheios e vazios. A importância do estudo das características
geométricas e à forma da planta foram descritas por Almeida (2003), em um estudo cujo
método fornece elementos para as análises específicas sobre a utilização do edifício, sua
viabilidade em relação a custo e benefício e seu desempenho ambiental.
A residência Antônio Carlos Amaral (figura 06) e residência Geraldo Ruas Abreu (figura 07)
localizam-se respectivamente em um bairro residencial e no centro da cidade de Montes
Claros, ambas caracterizam-se por um rigor e simplicidade formal resultante do trabalho com
prismas geométricos. Conforme afirma Reis e Silva (2010:5):
Há uma nítida separação visual de estrutura e vedação através da caracterização feita
por cores e materiais em seu estado bruto como concreto e pedra. Também é notada
a presença de vigas em balanço explorando algumas possibilidades estruturais do
concreto armado e, no caso da residência Antônio Carlos Amaral, as mesmas
resultando em espaços avarandados. É possível perceber ainda o uso padronizado de
caixilharia e o traçado regulado compondo das fachadas em geral.
Figura 6 – Residência Antônio Carlos Amaral
Fonte: MOURA (2007)
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Figura 7 – Residência Geraldo Ruas Abreu
Fonte: MOURA (2007)
Em termos de setorização das residências algumas variações foram observadas, de acordo
com Moura (2007), os condicionantes como o terreno (plano ou inclinado), a orientação,
localização (de esquina ou central) são balizadores para se chegar a uma solução mais
adequada. Na que se considera uma segunda fase do arquiteto percebe-se uma transição
influenciada por fatores regionais e por uma preferência por residências com
coberturas em telhas cerâmicas, o popularmente conhecido como estilo colonial. Já
se caminha para o final da década de 1970 e o então “estilo moderno” já não mais
apresenta o mesmo encantamento de pouco tempo atrás. O arquiteto passa a projetar
residências dentro dessa nova linha, mas usando dos recursos do seu repertório
inicial. Mantém em grande parte dos seus projetos o uso do telhado oculto pela
platibanda ou a laje plana impermeabilizada. (Moura, 2007:75-75)
A residência nessa fase do arquiteto volta-se para si mesma, ainda com a presença dos jardins,
mas, não mais com uma preocupação em interagir com o exterior. O equilíbrio e a simetria
são percebidos segundo o jogo volumétrico das formas, afirma Moura (2007:75).
6. Conclusão
A importância do estudo e aplicação da sustentabilidade, com destaque para as questões
ambientais, tem um valor certamente crescente e determinante para a concepção da
arquitetura e do ambiente construído como um todo, que vem ganhando espaço no contexto
global. Uma sérias de perguntas, no entanto, vem sendo discutidas sobre o futuro da
arquitetura sustentável, suas definições, possibilidades, métodos e metas.
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Debatem-se sobre os indicadores que pontuam a classificação de um edifício quanto a sua
sustentabilidade, os mesmo que nem sempre conseguem ser contemplados se quer na
concepção de um novo projeto.
A arquitetura moderna brasileira como apresentada, em sua tipologia interiorana, produziu
com base nos preceitos Corbusianos, um vasto repertório tipológico, aceito pelas diversas
camadas sociais como uma linguagem.
No Brasil é relevante abordar a transformação do modernismo em paradigma dominante, suas
formas e adaptações, fazendo da arquitetura presença indispensável na construção permanente
da identidade nacional. A importância dos elementos do modernismo arquitetônico para com
a edificação residencial urbana, enriquecendo o repertório construtivo da cidade.
Um movimento moderno significativo que nos cabe entender, criticar e cuidar para por meio
dele dizermos quem somos em termos de arquitetura.
As residências modernistas estudadas nesse trabalho na cidade de Montes/MG sugerem, em
primeiro lugar, não serem incompatíveis com critérios contemporâneos de desenho urbano
sustentável. Pelo contrário, a adoção de formas urbanas mais “sustentáveis”, quando não
acompanhadas de uma necessidade exigida pelo mercado bem como uma provisão de
equipamentos e serviços de proximidade, pode não ser suficiente para evitar situações de
exclusão social e territorial.
A importância dada a esse trabalho se faz justamente na investigação dessas obras dentro do
contexto moderno, viabilizando o reconhecimento de técnicas e soluções adotadas dentro de
práticas atuais sustentáveis. No entanto os casos analisados, tornam-se insuficientes para
generalizar, em maior escala, a complexa relação entre formas modernas de cidade e
sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Referências
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CRAVEIRO, M. T. Lisboa a caminho da Sustentabilidade: do Plano Estratégico à Agenda 21
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