Post on 21-Apr-2015
Neutropenia Febril
Dr. Clóvis Arns da Cunha
Professor de Infectologia da UFPRInfectologista da Unidade de Transplante de Medula Óssea do HC–UFPRChefe do Serviço de Infectologia do H.N.Sra. das Graças e do HC-UFPR
Neutropenia Febril
Caso Clínico• Masc, 30 anos, apresentando febre após QT para
LMA (3o ciclo). • Nos 2 ciclos anteriores apresentou 2-3 semanas
de neutropenia. Sem ”foco” clinicamente evidente; colhidas 2 hemoculturas (1 central e 1 periférica)
• “ANC” (CAN = Contagem absoluta de neutrófilos): 200/mm 3 . Neutropênico há 2 semanas.
• O QUE FAZER ?
Neutropenia Febril
O que sabemos de infecção como causa da febre em neutropênico ?
• Em cerca de 40-50% dos casos há evidência de infecção como causa da febre. A outra metade é “FOI” (febre de origem indeterminada).
• Infecção pode ser “microbiologicamente” documentada (hemocultura +, por exemplo) ou “clinicamente” documentada (pneumonia, sem diagnóstico microbiológico)
• Particularmente a infecção bacteriana pode ser rapidamente fatal (24-48h). Logo:
neutropenia febril = Emergência Médica
Neutropenia Febril
O que sabemos de infecção como causa da febre em neutropênico ?
• A maioria das infecções “microbiologicamente” documentadas são de origem bacteriana. Em 2o lugar, vêm as infecções fúngicas.
• Consenso de conduta neste caso: Iniciar imediatamente antibacteriano com cobertura para Pseudomonas
Etiologia das Infecções em Neutropênicos
0
5
10
15
20
25
30
35
Bacteria Fungi Viruses
Picazo JJ. Int J Hematol 1998;68 (Suppl 1):S535-538.
Neutropenia Febril
Conduta• O que não é consenso, é qual esquema
antibacteriano iniciar. A escolha depende da realidade epidemiológica de cada hospital.
• Discussão: Monoterapia X duoterapia (com ou sem vanco)
Etiologia das Infecções em Neutropênicos
• Gram-positivos: são isolados em 60% Mais indolentes:
• Estafilococo coagulase-negativo (+ freqüente);• Corynebacterium
Mais agressivos: • S. aureus;• Estreptococos viridans;• Pneumococo
• Gram-negativos: 40% Escherichia coli; Klebsiella pneumoniae; Pseudomonas aeruginosa ESBL, “SPICE BUGS / CESP”
Neutropenia Febril
Evolução• 5 dias depois do início da cefepima,
paciente persistia febril, sem “foco” clinicamente evidente, hemoculturas ( 5 ao todo) negativas, CAN = 300/mm3.
RX de tórax PA/PE: normal
• Qual conduta tomar ? Justifique sua resposta (opção)!
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
a) Aguardar (=manter cefepima), já que o paciente está clinicamente estável e há expectativa de recuperação da neutropenia em breve.
Tomografia de tórax (pensando em aspergilose) é uma conduta prudente (tendência atual: mais diagnóstico e menos tratamento empírico !)
Tomografia de abdome e/ou crânio-encefálica sem manifestação clínica é questionável (já a aspergilose pulmonar pode ser inicialmente “silenciosa”)
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
a) Aguardar (=manter cefepima)
Princípio: Resolvendo a neutropenia, deve resolver a febre.
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
b) Ampliar o espectro do esquema antibacteriano: imipenem/cilastatina ou meropenem +/- vancomicina.
”BGNs ESBL” (2/3 BGNs + freqüentes em neutropenia febril: E. coli e Klebsiella) e Pseudomonas (muitas X só S a imip ou meropenem).
Vanco vai depender da epidemiologia de MRSA.
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
b) Ampliar o espectro do esquema antibacteriano: imipenem/cilastatina ou meropenem +/- vancomicina.
Como regra geral, acrescentar vancomicina, sem
ter isolado estafilococo resistente à oxacilina ou infecção relacionada a CVC, é de pouca utilidade (CID 37:382, 2003)
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
c) Iniciar antifúngico, já que:
> 2 semanas de neutropenia;
períodos recentes de neutropenia;
se for infecção fúngica, o início precoce tem impacto na mortalidade.
Neutropenia Febril
Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas
c) Iniciar antifúngico, já que:
Princípio: A maioria dos “guidelines” de neutropenia febril recomenda iniciar antifúngico empírico quando paciente permanece febril por 5 dias ou mais apesar de antibacteriano “aprovado” (ceftazidima, cefepima, imipenem-cilastatina e meropenem)
Qual a diferença entre o tratamento do paciente
neutropênico e o imunocompetente quando se
conhece o patógeno ?
Manter cobertura para gram- negativos, mesmo quando
estafilococo oxa-R é isolado.
Exemplo: isolado ENPC em 2 hemoculturas, acrescentamos vancomicina, mas não
suspendemos cobertura para BGN
Tratamento empírico - Antifúngicos
• Fungemia por Candida: neutropenia > 1 semana
• Aspergilose invasiva: neutropenia >2-3 semanas
• Infecção fúngica não costuma ocorrer em neutropenia de curta duração (<1 semana)
Antifúngico EmpíricoPor que usar ?
PRÓS
• Infecções fúngicas estão relacionadas com alta mortalidade
• Diagnóstico difícil
• Menor sucesso se início do tratamento é postergado (“início atrasado”)
Antifúngico EmpíricoPor que não usar ?
CONTRAS
• Possibilidade de toxicidade adicional em paciente de alto risco
• Mais confiança e menos desempenho na busca do diagnóstico etiológico
• Dados mais “emocionais” que científicos ?
• Risco de subdose por indicação questionável e paciente de alto risco
Marc A. Boogaerts. Advances in Empirical Antifungal Therapy in Patients with Febrile Neutropenia.
ATB empírico
Adiciona novo ATB empírico
Adiciona G-CSF
Pensa em acrescentar antifúngico
Adiciona antifúngico
empírico
Atividade emocional do
médico
Duração da febre e neutropenia
24 h 72 h 96 h
Marc A. Boogaerts. Advances in Empirical Antifungal Therapy in Patients with Febrile Neutropenia.
Plano de saúde questiona o
custo da estratégia
estabelecida
Fungos em Neutropênicos
• “Clássicos” Candida albicans Candida não-
albicans• C. krusei• C. parapsilosis• C. glabrata• C. lusitaneae• C. tropicalis
Aspergillus fumigatus
• Emergentes Não-fumigatus
Aspergillus spp. Fusarium spp. Trichosporon spp. Scedosporium spp. Acremonium spp. Zygomycetes spp.
Alvo: terapia pré-emptiva
Candida Aspergillus
SNC raro ++Sinais/sintomas respiratórios - +++
Lesões de pele ++ +
Lesões hepáticas ++ raras
Sintomas/sinais seios da face - ++
Azotemia ++ -
Febre ++++ ++++
Poliartralgia ++ -Wingard, JR. CID 39, SS38-43, 2004.
Alvo: terapia pré-emptiva
Sinal do Halo
Sinal do Crescente
Diagnóstico 96% 0
D3 68% 8%
D7 22% 28%
D14 19% 63%
Caillot D et al. J Clin Oncol 2001; 19:253-9.
Necessidade de novos métodos diagnósticos!!!
IN GODWE TRUST .
FROM ALL OTHERSWE NEED HARD
DATA !
Marc A. Boogaerts. Advances in Empirical Antifungal Therapy in Patients with Febrile Neutropenia.
Antifúngico profilático em TMO
• Randomizado, controlado com placebo
• Fluconazol ou placebo no condicionamento até recuperar 1000 neutrófilos, toxicidade suspeita ou confirmação de infecção fúngica sistêmica
• Infecção fúngica invasiva em 21 (116) grupo placebo vs 1 (101) = 18% vs 1% p<.001
Goodman JL et al. N Engl J Med, 1992; 236:845-51.
Antifúngico empírico:Estudos clínicos prospectivos,
randomizados• Pizzo et al, 1982
Neutropênicos com febre > 7 dias com ATB 3 braços:
• Parar ATB, manter ATB, associar anfo-B Melhor evolução no braço antifúngico
• EORTC Intern Antimicrobial Therapy Cooperative group Anfo B vs sem antifúngico Ausência de óbito por doença fúngica no grupo anfo Melhor usar em quem não estava com profilaxia
(fluco), >15 anos, neutropenia severa ou infecção documentada
Pizzo PA et al. Am J Med 1982; 72:101-11.EORTC International Antimicrobial Therapy Cooperative Group. Am J Med 1989; 86:668-72.
Anfo B deoxicolato
• Diminuição da frequência de infecções fúngicas
• Diminuição da morbi-mortalidade por infecções fúngicas
• Eventos adversos relacionados com infusão e nefrotoxicidade
Exigência de estudos testando novos antifúngicos
Wingard, JR. CID 39, SS, 2004.
Anfo B vs Anfo B Lipossomal
• Walsh et al, 1999.• 687 pacientes, duplo-cego, randomizado
• FUO: febre sem resposta a 4 dias de ATB de amplo espectro
• Neutropenia : neutrófilos < 500• Anfo B lipossomal 171/343 (50%)• Anfo B convencional 169/344 (49%)• Menos eventos adversos relacionados com infusão e
menos nefrotoxicidade no grupo anfo B lipossomal
anfo B 0.8mg/kgRandomizado
anfo B lipossomal 3 mg/kg
Walsh TJ et al. N Engl J Med 1999.
Anfo B lipossomal vs Voriconazol
• Estudo prospectivo, randomizado, aberto.
• 849 pacientes >96 horas de febre em uso de ATB amplo espectro
• Randomização 1:1
• Sucesso 26% voriconazol X 30.6% anfo lipossomal (CI
-10.6% a 1.6%, >-10%) = não provou ausência de inferioridade
Walsh TJ et al. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Marr KA. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Voriconazol AnfoB lipos
Nº pacientes 415 422
Sucesso 23.7% 30.1%
Diferença entre braços -6.1% (-12%, -0.1%)
Anfo B lipossomal vs Voriconazol
Walsh TJ et al. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Marr KA. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Voriconazol falhou no seu primary endpoint
Voriconazol AnfoLipos
No Breakthrough infection
98.1% 95.0% +3.1%
Sobrevida 92.0% 94.1% -2.1%
Ausência de descontinuação
90.1% 93.4% -3.3%
Defervescência 33.0% 36.0% -3.0%
Resposta à infecção do baseline
46.0% 67.0% -20.5%
Anfo B lipossomal vs Voriconazol
Walsh TJ et al. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Marr KA. N Engl J Med 2002, Jan 24.
Anfotericina B lipossomal versus Caspofungina no tratamento empírico de
neutropênicos febris
Walsh, TJ et al. N Engl J Med 2004, Sep 30.www.cancidas.com
Anfo B lipossomal vs caspofungina
• Comparar os pacientes com febre persistente e neutropenia que atingem uma resposta favorável com tratamento com caspofungina, comparado com tratamento com anfotericina B lipossomal
Objetivo
Anfo B lipossomal vs caspofungina
• Duplo-cego, multicêntrico, randomizado
• Caspofungina 50 mg qd (após 70 mg dia 1) versus L-AMB 3 mg/kg qd
• Data Safety and Monitoring Board monitored accumulating data
• Blinded Adjudication Committee assessed baseline and breakthrough fungal infections
Desenho do Estudo
Anfo B lipossomal vs caspofungina
• Critérios de inclusão: Idade >16 anos Qt para leucemia,linfoma, outras neoplasias OU
transplante de MO ou células tronco. Neutropenia (neutrófilos <500) por 4 dias >4 dias de terapia antibacteriana prévia Febre (>38.0ºC)
População
Anfo B lipossomal vs caspofungina
Sucesso no tratamento da infecção de base Ausência de “breakthrough infection” during
treatment or within 7 days post-therapy Sobrevida até 7 dias após tratamento Ausência de descontinuação da droga do estudo
precocemente (por toxicidade ou falência) Resolução da febre por 48 horas durante o
período de neutropenia.
“Endpoints” primários
Anfo B lipossomal vs caspofunginaSucesso no tratamento da infecção do
baseline – Candida e Aspergillus
Caspofungina (n=12)
0 80
42
67
L-AMB (n=12)
20 40 60
Candida
10 30 50 70
Caspofungina (n=12)
0 45
8
42
L-AMB (n=12)
10 20 30 40
Aspergillus
5 15 25 35
% de pacientes
Anfo B lipossomal vs caspofunginaSobrevida
Sobr
evid
a %
Caspofungina (n=556)L-AMB (n=539)
Dia do Estudo
p=0.044
21 28 35 637 14 5649420
40
90
100
80
70
60
50
10
20
30
Caspofungin n= 556 547 412 192 82 37 18 13 8 6L-AMB n= 539 523 362 185 80 38 20 10 8 6
Anfo B lipossomal vs caspofunginaMortalidade
Número (%) de mortes Caspofungina L-AMB em pacientes com (n=556) (n=539)
Infecção no baseline 3/27 12/27(11.1%) (44.4%)
Breakthrough infections 10/29 9/23(34.5%) (39.1%)
Anfo B lipossomal vs caspofunginaEventos Adversos
Nefrotoxicidade
EAs relacionados à infusão
EAs relacionados com adroga*
Descontinuação devido a EAs relacionados com a droga*
–30 –20 –10 0 10
Diferença em %
A favor Caspofungina A favorL-AMB
*Considerados possível, provável ou definitivamente relacionados com a droga do estudo na opinião
do investigador.
• Caspofungina foi tão efetiva quanto L-AMB como terapia empírica na suspeita de infecção fúngica em pacientes neutropênicos febris.
• Caspofungina apresenta benefícios quando comparada com L-AMB: Resposta ao tratamento das infecções fúngicas do baseline Ausência de descontinuação precoce
• Caspofungina influenciou favoravelmente a sobrevida Sobrevida em 7 dias Sobrevida por Kaplan-Meier (p=0.044) Sobrevida após infecção fúngica do baseline (p<0.01)
Anfo B lipossomal vs caspofunginaResumo e Conclusões (Eficácia)
• Caspofungina e L-AMB foram semelhantes para: Breakthrough infection Resolução da febre
• Caspofungina foi melhor tolerada que L-AMB com relação a: Nefrotoxicidade Eventos relacionados a infusão EAs relacionados com a droga Descontinuação devido a EAs
Anfo B lipossomal vs caspofunginaResumo e Conclusões