O monstro no armário

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O Monstrono Armário

Lucas Zanella

1. Pesadelo

Nataniel chegou em casa após um longo dia de

trabalho e não aguentava mais ficar em pé.

Como se não bastasse, precisou ouvir a

mulher falar sobre seu dia, reclamar sobre clientes e

outras coisas que simplesmente não conseguiu

prestar atenção porque suas pupilas se fechavam

lentamente. E foi acordado dois segundos depois,

por algo que pensou ser um grito.

Era apenas uma risada fina e alta da mulher.

Sua consciência o traía, fazendo ouvir coisas que

não eram ditas. Sons que não eram emitidos.

O cabelo era castanho claro e sua franja era

um pouco comprida, ele gostava dessa maneira.

Após nove horas agarrando o cabelo e puxando-o

porque seus alunos não calavam a boca, não gostava

mais dele.

Chegava em casa e a primeira coisa que

pensava era preciso cortar o cabelo . Mas no outro“ ”

dia tudo voltava ao normal, então o cabelo crescia e

crescia, até que chegava a um ponto em que a

mulher não aguentava mais.

Karine, eu não aguento mais essa vida – –

reclamou e esparramou-se na cama, a mulher vestia

sua camisola branca de seda enquanto observava-se

no espelho.

Qual o problema, Nat?–

Eu simplesmente não consigo. É coisa–

demais, preciso pedir demissão.

E vai fazer o que? Ganhar na loteria?–

Porque essa é a única opção.

Ah... mas é... tão difícil. Hoje um dos meus–

alunos me perguntou se a gravidade era a causa do

aquecimento global! Eu não fiz física pra isso, não.

Karine deitou-se ao seu lado, observando-o

com o olhar de quem já passou por aquela situação

diversas outras vezes e já decorou como deve

proceder.

Mas você adora dar aulas. E mais...–

precisamos do dinheiro.

Foi uma olhada sutil, mas Nataniel percebeu

que ela olhou para o outro lado do corredor, para o

quarto da filha.

Dormiram em poucos minutos, o sono ainda

não era profundo, mas viera em boa hora. Nataniel

possuía um sorriso no rosto por conta da felicidade

de suas pálpebras, que finalmente se fecharam.

A casa estava em silêncio absoluto, nem

mesmo os mosquitos podiam ser ouvidos. A calada

da noite trazia uma surpresa para a família que

dormia em paz, ou, ao menos, para o casal que

repousava despreocupado.

Papai. Papai a voz fina e assustada vinha– –

do quarto da filha.

Nataniel acordou num susto. A voz da filha o

acordava sempre, em qualquer circunstância, e era

assim desde que a garota possuía um dia de vida.

O que foi, Violeta? entrou no quarto e– –

sentou na cama, ao lado da filha, enquanto

esfregava os olhos para não acabar dormindo sobre

a garota.

- Eu tô com medo, papai ela disse e–

abraçou-o, com seus braços lutando para abraçá-lo

direito, mas eram pequenos demais. Se sentia

desconfortável, mas mais calma.

Tudo bem, Violeta, tudo bem! O que foi–

que aconteceu? ele fazia um cafuné no cabelo–

louro e um pouco comprido da garota.

A menina se pôs para trás, saindo dos braços

do pai e apontou para o outro lado do quarto.

O quarto era branco e cheio de brinquedos,

com todos em perfeito estado. Estante para livros

futuros, por enquanto cheia de algumas lembranças

dadas por amigos dos pais ou madrinhas e

padrinhos.

Um escrivaninha, também vazia, esperava

alguém que fosse até ela para escrever uma bela

história.

Do outro lado do quarto, após o meio com

algumas roupas jogadas no chão não recolhidas–

pela empregada por ordem da própria mãe , uma–

porta branca com pequenos desenhos de flores

rosas.

Flores que, segundo a mãe, seriam facilmente

cobertas por tinta branca caso esse fosse o desejo da

filha quando ficasse mais velha. Ela sabia que a

garota não gostaria de ter flores rosas em tudo para

sempre.

A porta dava para dentro de um pequeno

armário, quase que um closet.

O que foi? o pai sussurrou enquanto– –

observava a porta junto da filha.

Eu não quero ele lá! Não consigo dormir – –

uma lágrima desceu pelo olho de Violeta, o pai a

tirou do rosto com o dedão, levemente, para não

machucar a mocinha.

Tudo bem, Violeta. Vai dormir, eu vou–

dizer para ele sair de lá!

Ela assentiu e encolheu-se nas cobertas

novamente. A noite estava fria, e ela voltou a

dormir rapidamente.

Nataniel passou a mão pelo cabelo da filha e

voltou para seu quarto, já sonhando com a cama

que o esperava.

O que aconteceu? Karine perguntou sem– –

abrir os olhos enquanto ele se deitava.

Ela teve um pesadelo, só isso.–

2. O Armário

A casa da família Queiroz era bonita, embora não

muito grande. Era toda branca, uma cor pacífica. O

jardim era grande o suficiente para que Violeta

brincasse nele nos dias quentes.

Nenhuma flor ou planta, apenas grama

pontiaguda, porém fofa. Assim como uma pista de

pedra clara para o carro entrar no pátio e ser

estacionado sobre uma proteção do sol que ficava ao

lado da casa.

À noite, tudo ficava escuro, mas isso era

óbvio. O que não era óbvio é que, de dia, tudo

ficava vulnerável para que as mais medonhas pessoas

entrassem na casa. Mas aquela não era uma pessoa.

Se muito, um demônio vestido de humanoide.

Papai Violeta chamou novamente, e o pai– –

foi até o quarto, apenas porque não queria acordar

Karine e dizer é sua vez . Ela dormia tão“ ”

pacificamente, como um anjo que repousa no

paraíso.

Que foi, Violeta? fez o mesmo ritual de– –

antes, mas sem perceber ele.

Tira ele daqui, pai implorou a filha.– –

Violeta, não tem nada lá! olhou de relance– –

para o armário, agora com a porta entreaberta.

Mas ele me dá medo sussurrou a garota– –

enquanto encarava um canto do quarto.

O pai lentamente virou o pescoço, olhando

para trás e vendo-o. O homem era alto, o cabelo era

longo, mas os fios eram poucos. O olho brilhava

num tom vermelho e ele o olhava com a cabeça

inclinada e sorrindo ameaçadoramente.

Não piscava, o que o deixava ainda mais

assustador. Nem mesmo pupilas possuía. Seus olhos

eram secos como o deserto. Usava um macacão de

fazendeiro, azul e surrado, sujo também.

O coração de Nataniel deu um salto e ele saiu

da cama, pondo-se em frente a filha. Se o homem a

quisesse, já a teria matado, se estava realmente em

seu armário, pensou.

Quem... a voz saiu como um sussurro– –

alto, e falhou na metade da sentença. Não sabia

direito o que perguntar, não sabia nem mesmo se

conseguiria perguntar.

Tira ele daqui pediu a filha novamente.– –

Tudo bem, filha conseguiu dizer sem– –

expressar tanto pavor, mas foi difícil.

O homem alto continuava a observá-los, e

apenas isso. Era como se esperasse para atacar,

aguardasse pelo momento ideal. Isso deixava o pai

em um pânico interminável.

O quarto estava no completo escuro, sendo

iluminado apenas pela tênue luz que vinha do

corredor que ligava os dois quartos e a escada, e

também pela luz vermelha que brilhava no olho do

homem.

Agarrou a filha pela mão sem tomar o

cuidado de ser delicado, empurrou-a para seu lado e

foi andando devagar. Pretendia sair do quarto antes

de ser atacado, ao menos levar a filha para um lugar

seguro.

Lembrou-se de Karine, que dormia como um

anjo no quarto que podia, a qualquer momento, ser

invadido por um demônio. O homem de macacão

de fazendeiro não mudou de lugar, apenas os

acompanhou com o olhar. Sua pele era de velho, e

seu olhar era petrificante. Nataniel estava indeciso.

Não teria como levar a filha junto para o quarto

sem botá-la no risco de bater em algo, pois entraria

lá encarando o homem, e a filha, atrás dele, seria

guiada nas cegas. Não podia deixar Karine lá

porque havia o perigo de ele chegar até ela e a

matar, se é que faria isso.

Gritar para ela? E se isso ativasse o demônio?

Até agora, os seguia com o olhar esquisito, mas e se

gritar fosse o fazer atacar? Se atacasse, Nataniel não

saberia como reagir. Provavelmente seria o

primeiro a morrer, seguido da filha e então esposa.

Não, gritar não era uma opção. Agora o demônio

começara a soltar um grunhido agudo e pavoroso.

Nataniel? Karine chamou seu nome, o– –

demônio parou sua respiração e olhou-o enquanto

inclinava a cabeça ainda mais, aproximando-se.

Agora ele andava.

Shhh tentou falar para a esposa, pois não– –

poderia gritar para que calasse a boca porque ele

estava cara a cara com um homem esquisito que

andava lentamente, em passos pesados como o da

criatura do dr. Frankenstein.

Nat? agora a mulher sussurrou, e– –

levantou-se da cama enquanto segurava a camisola

de seda com as mãos, era curta demais para andar

com ela no frio da noite, mas não sabia o que

acontecia fora de seu quarto. O cabelo de Karine

era louro escuro e cacheado. Ela estava, como Nat

mesmo disse antes de dormirem: Sensual demais“

para que se pudesse acreditar . Ele a beijou, se virou”

e tentou atingir o sono REM. Fora acordado pouco

tempo depois pela filha, e foi quando tudo

começou.

Ela andava em passadas leves, como de

bailarina. Chegou na porta e viu o que Nataniel via.

O homem parado passara a encará-la rapidamente, e

agora avançava mais rapidamente.

Segure ela! Nataniel disse e a mulher– –

obedeceu, pegando a filha e preparando-se para

fazer algo, qualquer coisa que o marido fizesse. Ele

era o físico, o que ele esperava que ela fizesse?

Com muita relutância e pouca força de vontade,

Nataniel empurrou o homem e o deixou preso

contra a parede, prendendo o pescoço com o braço

direito, e segurando seus braços com a mão

esquerda.

VAI! gritou com raiva, a mulher estava– –

petrificada ao seu lado. Acordou num instante e

desceu as escadas correndo, enquanto segurava

Violeta, que começara a chorar de leve.

O homem começou a rir enquanto era quase

estrangulado pelo braço fraco, porém fortemente

pressionado contra seu pescoço. A risada era

profunda e aterrorizante, parecia vir direto de sua

alma. Se é que tivesse uma.

A boca completamente aberta, ele gargalhava

como se estivesse numa peça de stand-up, seus

dentes eram podres e com respingos de sangue

escuro neles. Pouco tempo depois, uma fina linha

vermelha escura desceu pelo canto direito da boca.

Nataniel a notou e viu as outras acompanharem a

primeira. Ele sangrava, como se tivesse antes sido

esfaqueado até a morte.

O macacão azul era encharcado de vermelho,

mas seu sangue não parecia comum. Não parecia...

humano.

Nataniel o empurrou forte uma vez, para

desnorteá-lo e desceu as escadas também, para achar

a mulher e a filha.

Tudo bem, querida, tudo bem! Karine– –

esfregava o cabelo de Violeta e balançava-a como se

fosse um bebê que se assustou com o barulho de um

trovão. Violeta soluçava e fazia uma careta de

choro, embora ele não pudesse ser ouvido.

Que merda vocês ainda tão fazendo aqui?–

Era para terem saído! gritou com elas quando–

desceu, seu rosto estava vermelho de raiva e ele

olhava para cima, querendo ver se o homem os

seguia.

Tudo vazio, o que era pior. A parede branca,

embora manchada com o sangue do maldito, estava

sozinha. Parecia ter desaparecido para ir atormentar

outra casa, ou então apenas tomara um tempo para

decidir quando voltar a atormentar aquela.

3. A Porta

Como você queria que a gente saísse se você tava–

lá em cima dando uma de herói? Karine gritou de–

volta. Nataniel pareceu bravo com a situação, mas

calou-se.

Saiam. Agora! gritou e apontou para a– –

porta, Karine segurou a filha mais forte nos braços e

correu até a porta branca.

Estavam na sala de estar, e ela parecia ter sido

assaltada. O sofá fora rasgado com uma faca e toda a

espuma interior estava para fora. As cadeiras puffs

também estavam espalhadas pela sala, como se

jogadas do andar superior.

Nataniel olhou para cima e viu-o. Estava

apoiado no vidro de proteção manchando-o com–

aquele sangue sujo e sorrindo com os dentes–

podres. Em sua mão direita, uma grande faca cutelo.

Nataniel já viu até mesmo o anúncio:

Cutelo. Ideal para cortar ossos . Não fora algo“ ”

parecido que fizera ele comprar uma parecida com

aquela? Não se lembrava, comerciais mexiam

demais com sua mente, e era impossível se lembrar

de todos.

Aquilo é... meu! ele notou, por fim, que o– –

homem segurava sua própria faca.

Correu até a cozinha que era separada da–

sala apenas por alguns balcões brancos. Sim, a faca

era sim dele. A parte superior do balcão branco que

comportava gavetas com talheres e toalhas estava

suja, não apenas de sangue, mas também de terra.

Era como se aquele demônio tivesse subido

até a Terra diretamente do inferno, escavando seu

caminho por meio da sujeira que estava na terra.

Abriu a gaveta e pegou outra faca era uma–

simples faca trinchante de cabo preto. Não era nada

comparada a cutelo ou faca de açougueiro ,– “ ”

como Karine a chamava , mas serviria para se–

proteger e proteger as duas amadas.

Conseguia ouvir o grunhido de Karine

enquanto incansavelmente tentava abrir a porta,

com a mão já vermelha pois não aguentava mais.

Começou a bater nela tentando pedir por ajuda,

mas as pessoas das outras casas já deveriam estar

dormindo.

Socorro! gritou com força diversas vezes,– –

a voz chegou a falhar no último grito. Respirou

fundo e sentiu uma pontada no coração. Nataniel se

aproximou segurando a faca na mão direita, ela o

viu Tá trancada!–

Então destranca, ora! gritou e quase– –

perdeu a paciência.

Você acha que eu não tentei isso, já? ela– –

levantou a mão para mostrar o que segurava, a

chave da porta estava quebrada, como se tivesse sido

colocada numa fechadura errada e girada

fortemente. E ela já tava assim, antes que resolva–

me culpar!

Ouviram a respiração bufante do homem que

não conheciam e nem desejavam conhecer. Não

estava perto deles, mas era como se estivesse.

Pareciam sentir seu bafo e o ar quente de sua

respiração, parecia estar juntinho deles. Nataniel

sentiu um calafrio.

Fique aqui! ordenou para a mulher e– –

começou a andar sorrateiramente até o salão de

festas da casa. A parede de lá era de vidro, com uma

porta também de vidro que dava para o jardim

grande e de grama verde no meio.

A porta do lado deles era de correr e opaca.

Estava entreaberta.

A respiração pareceu se intensificar. O salão

estava com as luzes desligadas, assim como a sala,

mas nela era mais claro por conta da luz da lua. No

salão, apesar da parede de vidro, tudo estava escuro.

Ele entrou no salão e estava no centro dele,

olhando para todos os lados ao mesmo tempo, sua

cabeça girando. A respiração permanecia constante,

e ele sempre com o sentimento de que o homem

estava ao seu lado.

O pior é que até mesmo poderia estar, mas ele

não teria como saber. O homem poderia estar ao

seu lado, e Nataniel nem mesmo o veria. O escuro

escondia um ser inexplicável ou um maluco

improvável.

Mas muitas coisas eram improváveis naquela

noite, então como poderia ter certeza do que era

aquele homem? Humano ou demônio?

E mesmo se fosse humano, o que teria

acontecido com o coitado para ficar daquela

maneira?

Nataniel sentiu o homem o observando com

seus olhos sem pálpebras, que não piscavam nunca,

encarando-o com a cabeça inclinada e um sorriso

irônico no rosto.

Olhou para trás e viu a mulher balançar a

filha nos braços, dizendo-lhe palavras de conforto.

Aproximou-se da parede e apertou o interruptor de

luz.

A luz era tênue, como se estivesse falhando,

também bruxuleava e não iluminava quase nada.

Parecia estar em meia fase .“ ”

Foi o suficiente para fazer um esboço do rosto

do homem. Nataniel voltou o olhar para frente e lá

estava o monstro, tal como imaginara, porém quase

colado a ele. A boca ainda derramando uma fina

linha de sangue. Ele parecia querer mostrar a faca

cutelo que segurava, mas não era isso o que queria

fazer.

Aproximou-se ainda mais de Nataniel e fez

com que o pai de Violeta se afastasse, tropicando

enquanto andava às cegas para trás. Levantou a faca

e estava preparado para cortar Nataniel. Mas o pai

se jogou para o lado e caiu sobre alguns sofás do

salão de festas.

O homem desconhecido, ficando sem

equilíbrio, acabou batendo com o corpo num

batente de mármore de uma prateleira do salão. Ele

grunhiu novamente, e agora parecia ainda mais

disposto a matar Nataniel e a família que morava lá.

Quem... – diabos é você? Nataniel–

perguntou, mas não obteve nenhuma resposta a não

ser o grunhido que não parava mais.

Agora começara a rir, a voz saindo um pouco

rouca e parecendo estar prestes a se engasgar com o

próprio sangue que inundava a boca.

Nataniel, caído sobre os sofás, era observado

pelo homem que continuava em pé. Sua cabeça

novamente inclinada num sorriso irônico deu ao

pai uma sensação de raiva.

Me responda! gritou.– –

Levantou-se abruptamente e golpeou-o, a

facada mais o fez cambalear para trás do que o

cortou.

Seu monstro! parecia ter raiva, e sua raiva– –

alimentava sua malvadeza, como faz com todos.

Golpeou a faca no estômago do monstro e ele

com certeza a sentiu. Gemeu de dor, mas conseguiu

retirar a faca e jogá-la no chão. Pegou o cutelo que

deixara cair e voltou a tentar golpear Nataniel.

Nataniel levou cortes no rosto e no braço,

logo começou a sangrar tanto quanto o monstro,

mas ainda tentava matá-lo. O cutelo muitas vezes

passava raspando por seu rosto ou pescoço. O

maldito tentou também cortar seu braço ou, pelo

menos, a mão fora.

Nataniel desviou bravamente de praticamente

todos, com exceção de alguns grandes cortes no

abdome. Caiu ao chão e arrastou-se até sua faca,

manchada de sangue e caída ao chão a alguns

metros de distância. Em volta dela, uma pequena

poça de sangue, mas grande demais para ter saído

diretamente da faca. A não ser que o sangue se

multiplicasse.

Agarrou-a e levantou o torço, parando um

ataque fatal do monstro. Pôs-se de pé num pulo e,

como um mestre, cravou a faca no crânio macio,

provavelmente podre, do monstro.

Ele caiu aos seus pés e o pai segurava na mão

direita a faca que pingava sangue no chão. Nataniel

olhava para Karine e Violeta com olhos esquisitos, a

cabeça levemente inclinada.

Caminhou até elas rapidamente, que gritaram

como se pedissem por misericórdia, mesmo ele

sendo o pai e o marido delas. Então encarou uma

escuridão.

Respirava esquisito, soltando um grunhido. A

escuridão deixava-o desconfortável, e queria

acender a luz.

Apalpou sua frente e algo se moveu, um leve

rangido ele ouviu. Por uma fresta, viu um quarto de

uma garota jovem, que não conseguia dormir

porque o encarava.

Mas a garota não encarava ele, ela encarava

seu armário.

- Papai! Papai! gritou baixinho, o pai–

chegou logo em seguida para confortar a filha.

O círculo vicioso reiniciara.

Nataniel sentiu vontade de matar.