O mundo de Alice - Vovó Mima Badan

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ESTÓRIAS ESTÓRIAS

da da

VOVÓ MIMAVOVÓ MIMA

O MUNDO O MUNDO

de de

ALICEALICE

Alice tem dez anos e sua vida sempre foi muito boa. Nada faltava para que

fosse uma menina realmente feliz: um quarto cheio de brinquedos, casa de

boneca no quintal, um cachorrinho de estimação e ela era o xodó da família.

E Alice era feliz mesmo. Brincava, ia ao colégio, à aula de balé, viajava e passeava, como passeava! Fazenda, shopping, parques, shows, teatro... Nada faltava pra que ela se divertisse.

No colégio era boa aluna, estimada pelos professores e querida pelos colegas de classe.

Esse era seu mundo – um mundo feliz, onde todos comiam nas horas certas, dormiam em camas aconchegantes; quando fazia frio se agasalhavam e quando fazia calor tomavam banho de piscina. Problemas? Não havia...

Alice sempre ia ao colégio de carro com a mãe e, certo dia pediu que gostaria de ir à pé,

afinal, nunca tinha feito isso.

Sabia que outras meninas da escola iam todos os dias caminhando e tinha tanta vontade!

Tanto fez que a mãe, de mãos dadas, a levou para o colégio.

No caminho Alice foi observando que as ruas pareciam diferentes e o movimento dos carros, das motos a perturbou um pouco, até ficou com um pouco de medo.

Passaram defronte a um restaurante que ela costumava freqüentar com a família e logo o reconheceu.

Cumprimentou o segurança que estava na porta e seguiram seu caminho.

Mas, o que chamou a atenção de Alice foi uma garotinha que estava na calçada do restaurante – era linda, cabelos cacheados um pouco despenteados, a carinha rosada um tanto lambuzada de alguma coisa que ela comeu. Nos braços uma cesta cheia de flores.

Alice olhou para a menina e pensou nas flores que tinha no seu jardim e,

prestando bem atenção, achou que as flores da menina eram bem mais

bonitas.

Chegando ao colégio acabou por se esquecer da pequena menina na

calçada do restaurante.

Nos outros dias, quando ia pra escola, Alice notou que a garota estava sempre na frente do tal restaurante e com sua cesta de flores. Quando chovia, nem sempre ela estava por lá e, se estivesse, estava toda encharcada.

Sem saber seu nome, sem saber de onde ela vinha, Alice já sentia por aquela menina muita curiosidade, e resolveu ir conhecê-la. Sua mãe achou uma tremenda bobagem – a menina podia até ser uma pequena ladra...

Uma ladra? pensou Alice. Impossível! Ela tem um rosto tão meigo, um olhar tão bondoso! E suas Flores? Tão lindas!

Os meses foram passando, passando, Alice indo ao colégio e a pequena na porta do restaurante.

Alice resolveu que ia ao encontro da menina, afinal, sua casa ficava perto do restaurante e ela já não era mais um bebezinho que

precisava viver pendurada na saia da mãe...

Pensado e feito. Na distração das pessoas da casa, Alice saiu e foi para a rua – para ela uma verdadeira proeza, já que nunca havia

saído assim sozinha.

Ao aproximar-se da menina ficou tímida.

Ao ver seu sorriso tomou coragem e contou que sempre que

passava por lá a via e que gostaria de conhecê-la.

Meu nome é Alice, e o seu? perguntou.

- Meu nome é Dorinha.

- Muito prazer, Dorinha. Eu moro aqui perto, e você?

-- Moro muito longe e venho aqui pra trabalhar. Vendo flores.

Você trabalha? Por quê? É tão nova... Eu não trabalho...

- É que preciso ajudar na minha casa, meus pais são muito pobres.

- Você não sabe que é proibido criança trabalhar? pergunta Alice.

-Não, eu não sabia. Você acha que vão me prender porque trabalho? (Dorinha ficou meio assustada...) Mas, eu estudo também...

- Acho que não, você tem cara de gente do bem... E estuda...

-Você quer comprar flores? perguntou Dorinha.

-Não, vim só conhecê-la, respondeu Alice. E, gostei muito de você – vamos ser amigas?

Vou adorar ter uma amiga assim tão educada como você. Não vai ficar com vergonha de mim, sempre suja e descabelada? perguntou Dorinha.

- Claro que não! Agora vou indo e qualquer hora apareço, respondeu Alice.

Daquele dia em diante, cada vez que Alice passava em frente ao restaurante pedia para que sua mãe diminuísse a velocidade para que ela acenasse pra sua amiga que, toda feliz retribuía seu aceno.

Alice perguntou ao segurança do restaurante qual era a hora em que Dorinha chegava – queria lhe fazer uma surpresa.

E, quando descobriu, foi a uma floricultura, comprou as flores mais lindas e foi ao local de trabalho de Dorinha.

Quando ela chegou e viu a amiga com aquele buquê de flores estranhou e perguntou sorrindo:

-Não, minha amiga, estou aqui esperando e trouxe essas flores pra você, como um presente por nossa amizade.

-Flores pra mim? Eu nunca ganhei um presente sequer, muito menos flores! falou Dorinha emocionada e com os olhos querendo derramar algumas lágrimas.

- Cada uma dessas flores, Dorinha, representa um encontro feliz que tive com você, e espero ser sua amiga pra sempre,

respondeu Alice também emocionada.

Então, Alice, quero que você vá à minha casa ver como essas flores ficarão lindas enfeitando

a vida de minha família.

Combinaram e no dia marcado Alice e sua mãe foram se encontrar com Dorinha e, de carro foram até sua casa. Dorinha estava muito feliz em poder mostrar à amiga sua casa e sua família.

A casa era um pequeno casebre na periferia da cidade. Seus pais pessoas que tinham no rosto marcas de sofrimento mas, eram só sorrisos. Seus irmãos, lindas crianças brincando com uma bola que um dia foi colorida e com uma velha boneca.

E as flores?

Estavam no centro de uma mesa feita de caixotes de

madeira, dentro de um vaso lascado.

Alice pensou em sua casa, no seu jardim, na sala sempre cheia de flores (que ninguém mais notava), no seu quarto cheio de roupas e brinquedos.

Comparou a felicidade de Dorinha com a sua felicidade e percebeu que ela, Dorinha, parecia muito mais feliz com sua vida, com sua família, com sua casa e sentiu-se envergonhada e um pouco triste.

Um suco foi servido às visitas e, foi o melhor suco que Alice já havia tomado.

Na volta pra casa a mãe de Alice estava silenciosa e com os olhos marejados – ela também tinha tirado uma grande lição daquela visita.

Alice e Dorinha continuaram se encontrando e, na volta de umas férias, Alice procurou por Dorinha e teve a informação de que ela não mais apareceu na porta do restaurante. Alice procurou-a na sua casinha, mas ela havia se mudado e ninguém sabia o endereço...

Alice ficou desolada!

Por onde andaria sua grande amiga???

Por quê desapareceu sem avisar???

Por quê ela, Alice, nunca havia dado seu endereço a Dorinha???

Como viver sem sua companhia, seu sorriso, suas flores???

Os anos foram passando...

Alice já era uma pediatra, trabalhava num grande hospital da cidade, tinha novas amigas, mas, sem nunca se esquecer da pequena

Dorinha.

Certa manhã, chegou pra cumprimentá-la uma nova enfermeira – era linda, cabelos cacheados, rosto rosado, olhar meigo e um

sorriso encantador!

Muito prazer. Meu nome é Alice, e o seu?

-Meu nome é Dora, mas pode me chamar de Dorinha...

- Dorinha, será você??? perguntou Alice.

- Alice, será você??? perguntou também a enfermeira.

As duas se reconheceram e entre abraços e lágrimas reataram a amizade, falaram do tempo em que estiveram separadas, e juntas cuidavam de tantas crianças, ricas e pobres, que as procuravam.

A amizade, que começou com a curiosidade de Alice, fez com que ela saísse um pouco de seu mundo e conhecesse um outro mundo,

também alegre e feliz.

E, nesse novo mundo encontrou Dorinha...

Estória criada e formatada por

Mima (Wilma) Badan, a Vovó Mima

vovomima.badan@yahoo.com.br

Música: Ballerina – Ernesto Cortazar

Imagens:da Net

(Repasse com os devidos créditos)

Para minhas netas com muito amor e carinho.