Post on 18-Jan-2017
Há sempre aqueles presentes de última hora,
não por esquecimento, mas por dúvida ou falta de
tempo.
As chuvas desse final de ano atrapalharam.
Sábado fui comprá-los, assim como algo mais para
enfeitar a mesa já tão enfeitada.
Lá estavam alguns garotos, mas o que me chamou atenção, foi um
quase adolescente sorridente que tentava
com o dedo do pé, fazer o desenho de uma casa na
terra úmida.
Percebi que ele queria puxar conversa, então eu
me antecipei e perguntei o nome dele.
- Pode me chamar de miúdo, é assim que todos me chamam, pois falam
que eu esqueci de crescer.
- Você mora onde?
- Ali, apontou de modo vago.
Entendi que aquele ali poderia ser aqui, ou lá.
Um menino de rua.
Ele me perguntou de repente.
- Por que enfeitam tanto a cidade nesta época?
- Para que todos sintam o clima natalino.
- O que você sente?
- Sinto que é um momento de alegria, comemoração,
mas também sinto saudades de minha
infância, de meu tempo de escola, das pessoas que não estão mais entre nós
ou das pessoas que por um motivo ou outro
simplesmente sumiram.
E você?
- Não sinto muito estas coisas, faço amigos a cada
dia, depois não mais os vejo.
Minha mãe morreu, ficou doente e nós a levamos
para o hospital, mas lá não tinha nenhuma vaga, então ela morreu na
calçada. Meu pai logo depois se casou de novo e não me
quis mais.
Lembro só de mamãe, um pouco antes de morrer, me avisar para eu seguir sem
matar ou morrer na calçada.
Não sei direito o que é isso que vocês chamam de
saudades.
Só sei do que espero para frente.
Lamentamos pelo que tivemos, talvez até em
excesso.
Procurei nas sacolas algo para oferecer para ele.
Um CD de Jazz importado de nada adiantaria,
carrinho à pilha também não.
Achei um livro com desenhos, mais um para
meu sobrinho-neto.
Eu dei para ele, como se isso colocasse um Omo total na minha alma.
Miúdo ficou radiante, rasgou o papel ali mesmo,
me deu um abraço e já pronto para partir parou, tirou uma laranja do bolso
e me deu.
- Só tenho isso para lhe dar, mas pode pegar, não
roubei, ganhei ainda agora de um senhor em frente ao
supermercado.
Voltei para casa com aquela laranja, que me
parecia um troféu de bom comportamento.
Não queria chupá-la.
Mas o que eu faria com ela?
- Meu pensamento voltou para aquele guri que não
aprendeu e nem aprenderá a sentir saudades da
infância, da juventude.
Descasque-a, como e plante a semente, diria o outro menino que está para
renascer.
Acho que Ele gostaria que fosse assim.
Descascar o que vier pela frente, saborear os
momentos de prazer e plantar um futuro onde os miúdos tenham mais que
uma calçada.
Composição de imagens: Google Texto: O que é saudade? (Rosa Pena)
Música: E. Cortazar – Thanks to lives Formatação:
adsrcatyb@terra.com.br Site: www.momentos-pps.com.br
Respeite os direitos autorais e de quem formatou este
trabalho.