Olinho e a água

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Ao passoque eu, coitadinha, Aqui vivo desprezada; Não invejes minha sorte, Não a queiras nem por nada! O linho dizia à água, Muito baixo, num lamento: - Quisera ser como tu, Ter asas como as do vento; Que torna os campos tão belos E o prado tão vicejante? Não dás de beber às flores E ao cansado caminhante? Correr montes, correr vales, Batido nas penedias, Ir contando minhas dores, Num rosário de agonias…

Transcript of Olinho e a água

O linho e a águaO linho dizia à água,

Muito baixo, num lamento:- Quisera ser como tu,

Ter asas como as do vento;

Correr montes, correr vales,Batido nas penedias,

Ir contando minhas dores,Num rosário de agonias…

Diz-lhe a água, num sussurro:- Vais ser feliz, vou jurar,Branca toalha de mesa,

Rica toalha de altar!

Ao passo que eu, coitadinha,Aqui vivo desprezada;

Não invejes minha sorte,Não a queiras nem por nada!

Mas o linho lhe responde:- Ah! Não estejas descontente,

Ó água tão cristalina,Pois não é tua a corrente.

Que torna os campos tão belosE o prado tão vicejante?

Não dás de beber às floresE ao cansado caminhante?

Que sina tão bela a tua!Que missão te destinaram!Não te esqueças de correr:Olha, as árvores secaram!

Agora, que estão amigos,Fartinhos de conversar,Tiram o linho da água

E o linho vem a chorar…Henrique de Sousa