Organizando o Conselho de Classe - cep.pr.gov.br · DOCENTES: Gisele Masson – UEPG Maria Madselva...

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DOCENTES:

Gisele Masson – UEPG

Maria Madselva F. Feiges - UFPR

Organizando o Conselho de Classe:

Algumas Reflexões

“Não adianta fingir: reprovar sempre será uma violência para

os educandos e para os educadores. É o atestado de

nosso fracasso. Isso sempre dói. A reprovação é uma tapa em nosso profissionalismo. É o

espelho onde nosso rosto docente se revela mais desfigurado”

(ARROYO, p. 176)

“Nunca é a escola que reprova, a escola que não ensina, a escola que falha; a ênfase é sempre no aluno que é reprovado, que não

aprende, que fracassa. As reprovações, assim, servem ao

duplo propósito de isentar a escola por sua incompetência em ensinar,

e de produzir pseudocidadãos inculpados pela usurpação de seu

acesso ao saber, de que em verdade são vítimas.”

(PARO, p. 47)

“Reprovar ou aprovar mexe com crenças mas, sobretudo, com

nossas auto-imagens negativas. Tentamos retoques, diminuir os

altos índices, ensaiar mecanismos de recuperação paralela, contínua,

turmas de aceleração, reintegração... É uma das áreas

onde mais inventivos somos. Apenas para retocar ou corrigir as rugas de nosso rosto profissional,

porque nos desfiguram” (ARROYO, p. 176)

A ameaça de reprovação é uma motivação negativa que, quando

muito, leva o aluno a “livrar-se” das obrigações de estudar (...)

O aluno deixa assim de exercer ativamente, prioritariamente,

essencialmente, sua condição de estudante, já que sua principal função não é a de alguém que estuda, mas de alguém que se desvencilha da ameaça de ser

reprovado.”(PARO, p. 111)

... alguns alunos rejeitam a escola, porque ela os rejeitou.

(PERRENOUD, p. 140)

“O aluno não dirá o que pensa, mas o que lhe parece útil para chegar a seus fins.”

(PERRENOUD, p. 141)

“A escola não se sentia responsável pelas aprendizagens, limitava-se a oferecer a todos a oportunidade

de aprender: cabia a cada um aproveitá-la!

(PARO, p. 14)

A noção de desigualdade das oportunidades não significou, até um período recente, nada além

disso: que cada um tenha acesso ao ensino, sem entraves

geográficos ou financeiros, sem inquietação com seu sexo ou sua

condição de origem.”(PARO, p. 14)

“Como é nas escolas públicas (...) que a aprendizagem é mais precária,

agrega-se a isto certa pieguice social: os alunos são tão desvalidos que deles nada se deveria exigir. Há ainda os que, a título de rejeitar as culturas próprias, tomam o saber

popular como ponto de partida e de chegada, prendendo tais alunos a

mundos culturais que os marginalizarão ainda mais.”

(DEMO, p. 28)

Assim, aparecem momentos difíceis para:

professor

humilhações, punições, chantagens, culpas, ameaças, gritos, voz sem timbre, seduções

aluno

tomado de raiva, medo, agressividade, mau humor incapacidade de realizar os processos de aprender

É indispensável vencer umobstáculo de peso

o individualismo de alguns professores, a vontade ciosa de se fazer o que se quer, uma vez fechada a porta de sua sala de aula ...

“A supressão da reprovação constitui, assim o locus

privilegiado porque, na medida em que não se pode, por meio da retenção escolar, responsabilizar o aluno pelo fracasso educativo, é

preciso procurar no funcionamento de toda a escola e do sistema de ensino as causas geradoras desse processo, bem

como as medidas estruturais que precisam ser tomadas.”

(PARO, p. 158)

“Insistir na reprovação como recurso pedagógico e abrir mão de toda riqueza humana e de toda força pedagógica e política que há na afirmação do outro,

não na sua negação, é desprezar toda a rica teoria pedagógica desenvolvida

historicamente por seus mais qualificados intelectuais. É o acervo

teórico e prático que a história põe à disposição dos educadores de hoje que

pode propiciar a realização dos objetivos educativos que consubstanciem a

efetividade administrativa da instituição escolar.”

(PARO, p. 158)

“Recuperação Paralela”

Como se situa neste contexto?

“Mas a recuperação paralela ou a posteriori, se for destacada do

processo escolar normal, parece constituir mais um remendo do que uma solução. Já que não

conseguiu fazer com que parte dos alunos alcançasse o desempenho

esperado, dá-se-lhe reforço e recuperação. Por que não tomar medidas que evitem o problema, tornando o ensino efetivamente

eficaz, em vez de só remediá-lo?” (PARO, 136)

“Se a recuperação surge como medida paralela – ou posterior – ao processo normal de ensino,

como elemento corretor ou “recuperador” desse processo, ela assume já uma conotação de certo modo negativa, ao reconhecer que

o processo “normal” de aprendizagem não se deu da forma com que se desejava.”

(PARO, p.136)

“A prescrição desse remédio já traz embutida uma reprovação ao mal

que ela pretende corrigir ou “recuperar”. Por melhor que seja esse processo, ele funciona no ato

de sua prescrição, ou seja, no momento em que ele é

recomendado ou imposto pela escola ao aluno que teve avaliação

negativa – como um prêmio de consolação”

(PARO, p. 137)

“O aluno que não aprende não pode ser empurrado, mas bem cuidado, de tal forma que possa resgatar suas oportunidades.”

(DEMO, p. 27)

“O professor precisa tirar a limpo todos os dias se seus alunos estão aprendendo, não só porque isto é de ofício, mas igualmente porque os dados disponíveis gritam que a aprendizagem é mínima. É para

distribuir este processo de cuidado da aprendizagem do aluno que a avaliação comparece como

procedimento essencial.”(DEMO, p. 24)

“Quando aplico a nota dois a um aluno, disto não segue outra coisa que não seja o compromisso tanto

mais urgente de cuidar dele religiosamente. Não reduzo o

aluno ao número dois, mas indico quantitativamente uma dinâmica

qualitativa, marcada pela baixíssima aprendizagem.”

(DEMO, p. 51)

“Para isso,basta que cada professor esteja presente e se interesse pelo

que faz o aluno para poder, em caso de fracasso, ajudá-lo,

orientá-lo para uma nova pista, propor-lhe uma hipótese ou um

instrumento de trabalho.”(PERRENOUD, p. 142)

“O professor que constata que uma noção não foi entendida, que suas instruções não são compreendidas ou que os métodos de trabalho e

as atitudes que exige estão ausentes, retomará o problema

em sua base, renunciará a certos objetivos de desenvolvimento

para retrabalhar os fundamentos, modificará seu planejamento

didático etc.”(PERRENOUD, p. 148)

Conselho de Classe

Por quê? Para quê?

Conselho de Classe

O Conselho de Classe é parte

integrante do processo de avaliação desenvolvido pela

escola. Constitui um momento de reflexão sobre as práticas

presentes no cotidiano escolar, com o objetivo de atingir a real

aprendizagem dos alunos:Deseja-se que todos os alunos

aprendam.

Conselho de Classe

“A avaliação deve acompanhar a aprendizagem do aluno e

diagnosticar as causas que interferem no processo de forma positiva ou negativa e, a partir do diagnóstico, reorientar as ações

que compõem o trabalho pedagógico”.

(CRUZ, p. 114)

Conselho de Classe

Os processos de reflexão/ação nos

tornam sujeitos através da tomada de consciência que nos

situa historicamente como agentes transformadores.

Um dos objetivos da educação é levar professores e discentes a

serem sujeitos da história.

Conselho de Classe

Neste contexto a avaliação (da qual o conselho é parte) deve auxiliar o

processo.

Não pode tornar-se apenas um instrumento para a promoção ou

retenção de um processo educativo fragmentado.

Conselho de Classe

Os processos de avaliação devem

passar necessariamente pelos discentes e não apenas pelo

julgamento do professor sobre os alunos.

Deve acompanhar a aprendizagem, diagnosticar causas que

interferem no processo educativo e reorientar ações dos docentes e

dos discentes.

O Conselho de Classe é um espaço educativo que pode qualificar ou desqualificar o trabalho da escola.

É uma instância que pode desenvolver um processo de luta pela democratização do saber, que exige reflexão, consciência, coragem e determinação.

Impõe um processo dialético de construção histórica que não se esgota, está sempre aberto a novos encaminhamentos.

Pode contribuir para uma organização do trabalho escolar através de uma proposta articulada com os interesses e necessidades dos alunos, com as questões evidenciadas no dia a dia da escola e com suas possibilidades e limitações.

Redefine as práticas pedagógicas na escola: o processo de ensino-aprendizagem e o processo de gestão, elucidando novos encaminhamentos.

Propicia debate permanente e geração de idéias, resgatando o valor das instâncias colegiadas na escola.

É o local que dá voz aos sujeitos, apesar de contraditoriamente existirem os que negam o seu papel e deslocam as questões para um processo fatalista, pessimista, buscando encontrar os culpados.

Conselho de Classe

Dificuldades encontradas

Reprodução de uma política de dominação;

Restrição do papel da escola ao simples cumprimento de regras, estilos de trabalho e prestação de serviços de natureza neutra e geral: pouco espaço encontrado pelos sujeitos para uma atitude reflexiva e criativa;

Ausência da figura do discente nas discussões sobre seus próprios resultados e sobre os meios pelos quais eles foram atingidos;

Reprodução da relação parcelar e fragmentária da organização escolar;

Debate constante sobre aquilo que emerge do cotidiano da prática coletiva;

Verbalização de fatos e notas muitas vezes desconexas: divergência entre nota, freqüência e desempenho do aluno nas atividades propostas;

Ênfase aos resultados quantitativos dos alunos;

Falta de clareza quanto aos critérios de avaliação que não são explicitados e discutidos conscientemente no Plano de Trabalho Docente;

A concepção positivista de ciência que fragmenta o conhecimento, caracteriza o isolamento do educador no âmbito da sua própria disciplina;

Desenvolvimento de uma rede interativa definida pela predisposição ao conflito e à luta pelo poder;

Pouco tempo para realização das reuniões de conselho de classe, deixando professores e pedagogos descontentes;

Dificuldade em reunir todos os professores (principalmente os que atuam em várias escolas);

Caráter classificatório, corporativismo.

Conselho de Classe

Por que fazê-lo?

Constitui espaço de geração de idéias;

Permite a superação da relação social fragmentada;

Propicia debate permanente e a geração de idéias numa produção social;

Administra conflitos e propõe alternativas interdisciplinares;

Reafirma o processo pedagógico como núcleo do trabalho da escola;

• Propicia uma dimensão de

totalidade presente na formação dos sujeitos históricos que se relacionam dialeticamente com o mundo;

• Possibilita novas perspectivas de formação humana e de relações efetivas de trabalho.

Conselho de Classe

Possibilidade transformadora

Apropriação do Projeto Político-Pedagógico colocando-o a serviço dos propósitos coletivos, na medida em que todos os membros da comunidade escolar se apoderarem conscientemente da força transformadora deste instrumento;

Debate permanente e geração de idéias numa produção social garantindo e fazendo ser garantido a aprendizagem de todos os aluno;

Análise das questões vividas cotidianamente pelos profissionais na sala de aula, para desenvolver um processo de reflexão e discussão contínua sobre o fazer da escola, na perspectiva da socialização do conhecimento;

Conselho de Classe

Qual o papel do professor?

Estrutura a prática docente, porque dispõe de uma competência e de um poder que o aluno não tem;

Tem o papel e a competência para intervir diretamente no processo de aprendizagem do aluno;

Cria condições favoráveis à aprendizagem do aluno, porque é um parceiro específico nesta lógica de otimizar a aprendizagem do aluno;

Organiza a classe de modo cooperativo para clarear as idéias e colocá-las em ordem, fazendo as intervenções necessárias para dar suporte às aprendizagens dos alunos;

Recorre a estratégias educativas que privilegiem a interação entre aluno-conhecimento, identificando os erros, as dificuldades, insistindo nas possibilidades de aprendizagem de cada aluno;

Cria condições de envolvimento do aluno nas tarefas, interagindo, estimulando, modificando e fazendo intervenções que produzem aprendizagem;

Preocupa-se com a disciplina, a atenção ao trabalho, a concentração e com o direito do aluno à aprendizagem;

Trata/ explica as diferenças e as desigualdades

Delimita as dificuldades de certos alunos para trabalhá-las

Regula a ação pedagógica: busca a compreensão da trajetória ao aluno ao nível das aprendizagens

Seleciona os instrumentos de avaliação que descrevem de modo analítico as aquisições dos alunos e seus processos intelectuais

• Utiliza o diagnóstico que gera uma ação apropriada: uma intervenção diferenciada que supõe novos meios de ensino,

• Reorganiza os horários e transforma radicalmente a estrutura da aula

AVALIAÇÃO

Ponto de Partidaheterogeneidade real

Ponto de Chegadahomogeneidade possível

Z. D. Real Z. D. Proximal Z. D. Potencial

O que já sabe fazer sozinho

Ocorre processo de Ensino-Aprendizagem

O quê tem possibilidade de aprender

O aluno fará com a ajuda do professor

Conselho de Classe

Qual o papel do diretor e do pedagogo?

Organização e realização do:

Pré-conselho, e

Conselho de Classe;

Comunicação dos resultados;

Acompanhamento das medidas propostas no Conselho de Classe.

Pré-Conselho de Classe

Argumentos Favoráveis

Utilização da Hora Atividade;

Tempo maior, para a investigação e análise dos problemas, que interferem no processo pedagógico;

Maior possibilidade de análise dos resultados de aprendizagem;

Possibilidades de levantamento antecipado de problemas a serem solucionados;

Maior possibilidade de interferência dos pedagogos e direção

Coleta antecipada de sugestões para o alcance de resultados;

Maior espontaneidade do professor nos relatos;

Tempo necessário para os pedagogos(as) relatarem as causas sociais dos problemas evidenciados;

Obtenção de informações antecipadas para os pedagogos se prepararem para o Conselho de Classe;

Preparação antecipada do aluno para o Conselho de Classe;

Identificação das dificuldades individuais e coletivas dos alunos- questões sociais;

Reflexão sobre o que se entende por sucessos e insucessos do processo pedagógico;

Reflexão rigorosa sobre a metodologia de ensino, os instrumentos de avaliação e formas de comunicação dos resultados aos alunos;

Pré-Conselho de Classe

Organização

Realizar na Hora-atividade dos professores;

Registrar os relatos em ficha própria;

Orientar e acompanhar o levantamento de dados e informações junto aos alunos

Ficha Professor

1. Nome do professor;2. Disciplina / série / turma;3. Nome dos alunos:

Descrever as dificuldades, Informar as medidas já tomadas, Apresentar sugestões, e Analisar o próprio Plano de

Trabalho Docente (teoria-prática)

Ficha Classe

1. Série / turma;2. Dificuldades de aprendizagem

(especificar)3.Solicitações 4.Sugestões

Preparação para o Conselho de

Classe

Tabulação e análises do dados do Pré-conselho dos professores e dos alunos;

Organização do material necessário ao conselho.

Realização do Conselho de Classe

Explicitação dos critérios a serem respeitados no decorrer do Conselho de Classe;Apresentação do relato construído pelas pedagogas, com os dados colhidos no Pré-conselho;Reflexão coletiva sobre o relato – problemas evidenciados no Pré-Conselho ou fora dele;

Realização do Conselho de Classe

Apresentação das sugestões de soluções para os problemas evidenciados no Pré-conselho;

Combinação coletiva das ações a serem colocadas em prática;

Quadro síntese do Conselho de Classe

Pré-Conselho Conselho de Classe

Problemas apresentados

Encaminhamentos (solução)

1.

2.

Referência Bibliográfica

ARROYO,M.G. Ofício de Mestre – Imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2004

CRUZ, C.H.C. Conselho de Classe e participação. In: Revista de Educação da AEC. Brasília, DF, nº 94, 1995, p. 111-136

DALBEN, A. I. L. de F. Dimensões subjetivas na prática dos Conselhos de Classe. In: DALBEN, A. I. L. de F. Trabalho escolar e conselho de classe. Campinas, SP: Papirus, 1995, p. 143-200

DEMO, P. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre, RS: Mediação, 2004.

Referência Bibliográfica

LIMA, Luciano Castro. Controle de qualidade e avaliação pedagógica. In: Avaliação novos paradigmas. Revista da AEC n.94, Brasília, DF, 1995, p.67-87

PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo, SP: Xamã, 2001.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 1999.