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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O FRACASSO ESCOLAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA: REALIDADE E DESAFIOS DE UM COLÉGIO PÚBLICO ESTADUAL DA ZONA
NORTE DE LONDRINA
ANDRADE, Noemia do Nascimento de1
MORAES, Dirce Aparecida Foletto de2
Resumo: Dentre as diversas fragilidades presentes no espaço educativo, selecionamos o fracasso escolar como tema de pesquisa e estudo. Para tanto, o presente artigo tem como objetivo geral identificar e analisar as causas do fracasso escolar, bem como desenvolver um trabalho didático pedagógico, coletivo junto aos professores da Educação Básica, visando contribuir para a diminuição do fracasso escolar e colaborar com o desenvolvimento humano. A proposta do trabalho foi promover ao grupo de professores, equipe pedagógica, direção e agentes educacionais momentos de estudos, debates, discussões e reflexões a respeito das práticas pedagógicas existentes no cotidiano escolar com vistas a repensar e encontrar alternativas para enfrentar o fracasso escolar. Para tanto, utilizou-se como fundamentação teórica os pressupostos da teoria histórico-cultural, juntamente com a concepção do materialismo histórico e dialético, que possibilitou uma discussão acerca dos referenciais teóricos para uma prática educativa transformadora. O encaminhamento metodológico pauta-se em uma pesquisa bibliográfica e de campo, e, para coletar os dados, utilizou-se de questionário e entrevista. Os resultados indicam que são diversas as causalidades do fracasso escolar, mas, para mudar esta realidade há a necessidade de diversas mudanças, entre elas, destacam-se as ações e práticas pedagógicas dos sujeitos envolvidos e de políticas públicas efetivas.
Palavras-chave: Fracasso escolar. Práticas pedagógicas. Desenvolvimento humano.
1 Possui graduação em Pedagogia (FAFIJAN), Especialização em Educação Especial (ESAP),
Educação de Jovens e Adultos (UTFPR), integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2013/2014, atua como pedagoga no Colégio Estadual Professora Roseli Piotto Roehrig. no_nasc@yahoo.com.br 2 Professora do departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Doutoranda em
Educação pela Faculdade de Educação de Presidente Prudente (UNESP). Email: dircemoraes2007@gmail.com.
Introdução
No mundo globalizado, numa época de avanços científicos e tecnológicos que
contribuem no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, a realidade escolar
ainda surge como desafio para o alcance de uma educação de qualidade. No
contexto da realidade da escola, o fracasso escolar destaca-se como uma das
principais fragilidades.
Diariamente, a escola busca caminhos para desenvolver um trabalho que
contribua na formação acadêmica dos alunos, mas, muitas vezes, os profissionais se
veem despreparados diante do contexto social, que traz desafios como, por
exemplo, a violência, o uso de drogas, a gravidez na adolescência, a evasão escolar
e outros fatores que influenciam e afetam diretamente na vida do aluno que “vem ou
não” para a escola em busca do aprendizado e do conhecimento científico, ou seja,
ele pode estar presente fisicamente, mas ausente para o ato de aprendizagem.
Verifica-se que tais problemas vão além das possibilidades da escola e que,
mesmo com o estabelecimento de algumas parcerias, como a firmada com a Rede
de Proteção à Criança e ao Adolescente, os problemas trazidos para o espaço
escolar continuam sem solução. Desta forma, o conhecimento científico, função
primeira da escola, acaba sendo secundarizado por diferentes situações que
adentram o espaço escolar.
A presente pesquisa foi desenvolvida em um colégio estadual da zona norte
da cidade de Londrina. O espaço foi escolhido como objeto de pesquisa por possuir
em sua composição uma variedade expressiva de sujeitos, seja em sua formação
social, cultural, racial ou econômica, além do fácil acesso aos dados necessários
para composição da pesquisa, possibilitado pela Equipe Diretiva da Escola.
O CENSO/INEP (2014) apresenta as taxas de aprovação, reprovação e
abandono da escola, objeto deste estudo, dos anos de 2007 a 2013. Nos dados
expostos no quadro abaixo, pode-se verificar a variação dos índices escolares de
um ano para o outro.
Quadro I – Rendimento escolar do colégio pesquisado: 2007-2013
Rendimento Escolar
Indicadores 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Aprovação
Ensino Fundamental - Anos Finais 63,9% 60,5% 72,4% 60,9% 63,5% 72,8% 61,4%
Ensino Médio 56,2% 72,1% 64% 54,5% 61,7% 60,7% 60,1%
Reprovação
Ensino Fundamental - Anos Finais 23,3% 33,5% 27,6% 33,7% 26,8% 27,2% 38,6%
Ensino Médio 16,5% 15,3% 35,1% 31,5% 11,9% 39,3% 39,9%
Abandono
Ensino Fundamental - Anos Finais 12,8% 6% 0% 5,4% 9,7% 0% 0%
Ensino Médio 27,3% 12,6% 0,9% 14% 26,4% 0% 0% Fonte: CENSO/INEP
No Quadro I, é possível observar que, nos anos de 2012 e 2013, houve uma
diminuição no índice de abandono escolar, porém, o aumento da taxa de reprovação
nestes anos manteve em alta o fracasso escolar.
Esta situação de fracasso escolar é comum a muitas escolas brasileiras e, na
escola estudada acaba refletindo diretamente no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB), conforme pode ser aferido no Quadro II.
Quadro II – IDEB do colégio pesquisado – 2005-2013
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
Anos 2005 2007 2009 2011 2013
Projeções ....... 3,0 3,2 3,6 4,1
Alcançado 2,9 3,0 3,1 3,0 2,3 Fonte: INEP
Analisando o quadro II, que apresenta os Índices de Desenvolvimento da
Educação Básica do Colégio estudado, concluiu-se que apenas no ano de 2007 a
meta projetada foi alcançada. Nos anos seguintes, os resultados impetrados foram
se distanciando cada vez mais do esperado, ficando um ponto abaixo do idealizado
no ano de 2009, seis pontos a menos em relação ao projetado no ano de 2011 e, no
ano de 2013, com o pior resultado obtido pela escola, a distância para a meta
programada foi de dezoito pontos.
Tendo em vista que o IDEB é um índice originado da multiplicação do
resultado obtido na Prova Brasil3 pela taxa de aprovação do Ensino Fundamental do
ano em que a prova foi aplicada, pode-se afirmar que, os indicadores de
desempenho da escola estão negativos, o que reforça a ideia de que o fracasso
escolar tem sido comum à entidade estudada. Neste contexto, surge a seguinte
questão: quais são as causas do fracasso escolar no colégio pesquisado e como os
profissionais da educação podem alterar este resultado?
Para responder estes questionamentos objetivou-se identificar e analisar as
causas do fracasso escolar, bem como desenvolver um trabalho didático-pedagógico
coletivo junto aos professores da Educação Básica, visando contribuir para a
diminuição deste e colaborar com o desenvolvimento humano dos alunos.
3 De acordo com a Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná, disponibilizado em seu
site oficial é “... uma avaliação em larga escala aplicada aos alunos de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental, nas redes estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana.
Com o objetivo geral de identificar quais são as causas do fracasso escolar
no colégio pesquisado e como os profissionais da educação podem alterar este
resultado, definiu-se como objetivos específicos a identificação das possíveis causas
que levam os alunos ao fracasso escolar anualmente; a análise dos índices anuais
de evasão, reprovação e IDEB da escola pesquisada; a reflexão sobre as práticas
pedagógicas desenvolvidas nos processos pedagógicos que interferem positiva ou
negativamente no fracasso escolar; e a realização de grupos de estudo que
contribuam para “um novo pensar” pedagógico, envolvendo direção, equipe
pedagógica, professores e agentes educacionais I e II.
1. O fracasso no contexto escolar
Das diversas fragilidades existentes na escola, o fracasso escolar é um fator
presente e tem sido motivo de uma série de estudos, pesquisas e discussões,
embora ainda não apresentem grandes perspectivas para compreensão e resolução
desta problemática.
De acordo com Arroyo (2000), o fracasso escolar não é um assunto novo,
entretanto, ainda não foi resolvido e esta situação perdura ano a ano na realidade
das escolas, trazendo grandes preocupações a professores, alunos, pais, gestores e
governos. Esta realidade é vivenciada pela instituição em estudo, e, apesar do
trabalho que se vem realizando, também não apresenta avanços significativos. O
autor explica que,
[...] há problemas em nossas escolas que nos perseguem como um pesadelo. Não há como ignorá-los, nem fugir deles. Entre os pesadelos constantes está o fracasso escolar. Alguém dirá, mas está quantificado: altas porcentagens de repetentes, reprovados, defasados. O pesadelo é mais do que quantificamos. Podem cair as porcentagens, que ele nos persegue. O fracasso escolar passou a ser um fantasma, medo e obsessão pedagógica e social. Um pretexto. Uma peneira que encobre realidades mais sérias. Por ser um pesadelo nunca nos abandonou, atrapalha nossos sonhos e questiona ou derruba nossas melhores propostas reformistas. Quanto se tem escrito sobre o fracasso ou sobre o sucesso e a qualidade, seus contrapontos, e continuamos girando no mesmo lugar (ARROYO, 2000, p.33).
A escola é um espaço que sofre influências positivas e também negativas da
sociedade à qual está inserida. É um ambiente de conhecimento, mas também de
socialização e inclusão dos diversos grupos sociais.
Rotineiramente, debate-se que a educação no Brasil precisa melhorar, até
observa-se campanhas nacionais, estaduais e municipais com o objetivo de informar
ou alertar a população a respeito das metas a serem alcançadas na educação.
Sobre isso, pode-se citar como exemplo, a campanha nacional do IDEB, lançada
pelo Ministério da Educação - MEC, na qual existem algumas políticas públicas que
objetivam a qualidade na educação. Contudo, há frequentes obstáculos a superar,
haja vista que o fracasso escolar observado é grande, o qual é demonstrado por
meio da evasão e da repetência e comprovado por meio dos resultados.
Mesmo sendo um espaço de conhecimento, que tem como função contribuir
na formação do indivíduo, ampliar conhecimentos, dar condições ao sujeito de
tornar-se capaz de intervir na sua realidade, infelizmente, a escola ainda reproduz a
cultura do fracasso escolar.
Ao iniciar os estudos, ainda na educação infantil, os alunos o fazem com
entusiasmo, entretanto, no decorrer dos anos escolares, deparam-se com as
diversas formas de ensino, variadas práticas pedagógicas, conteúdos sem
significado e as adversidades da realidade social em que vivem, as quais, muitas
vezes, não oferecem possibilidades de avançar e de perspectivas futuras. Em
alguns casos, o aluno que chegou à escola animado, vai passando por dificuldades
escolares, frustações, conflitos diários e começa então a vivenciar diferentes
experiências negativas, as quais tem como consequência o fracasso escolar, muitas
vezes por meio da reprovação, ou pela desistência, que em alguns casos é maior
que a própria reprovação escolar.
Segundo Patto (1996, p. 90):
[...] a educação e sua eficácia é marcada por uma ambiguidade: de um lado, afirma a inadequação do ensino no Brasil e sua impossibilidade, na maioria dos casos, de motivar os alunos; de outro, cobra do aluno o interesse por uma escola qualificada como desinteressante, atribuindo seu desinteresse à inferioridade cultural do grupo social de onde provém. Estas interpretações do fracasso da escola são, a nosso ver, inconciliáveis. Da maneira como estão enunciadas, não é possível nem mesmo afirmar que uma escola desinteressante vem se somar um aluno desinteressado; é uma simples questão de lógica: enquanto a primeira não melhorar, não se pode afirmar a falta de motivação como inerente ao segundo.
Ao se analisar o interior da escola, logo percebe-se que ela reflete a
sociedade, ou seja, a sua vulnerabilidade, e, como exemplo pode-se citar: o uso de
drogas, que faz com que muitos menores envolvam-se em pequenos delitos; a
violência doméstica ou de rua; as condições sociais, as quais podem referir-se à
condição de moradia, o subemprego ou o desemprego; a necessidade de trabalho
dos adolescentes e jovens para o sustento próprio e da família; a gravidez na
adolescência, quando é comum se deparar com jovens, que após engravidar, tomam
como prioridade na sua vida o cuidado do bebê, abandonando a escola para
trabalhar, além de muitos outros. Estes fatores contribuem para tornar os estudos ou
a escola menos importantes nas suas vidas.
Apesar da extensão da escola às massas populares desfavorecidas, essa escola não sofreu mudanças significativas em suas atribuições na reprodução das desigualdades sociais. No passado, a exclusão atingia os que não ingressavam na escola; hoje atinge os que nela chegam, operando, portanto, de forma menos transparente. (PATTO, 1996, p. 119)
No contexto econômico, o fracasso escolar surge quando a condição
econômica do aluno não lhe permite somente estudar, em muitos casos, desde
muito cedo, há uma preocupação em como sobreviver, assim, o estudante abandona
a escola porque necessita trabalhar, e quando está trabalhando não consegue
conciliar o trabalho e o estudo, pois entende que estudar e trabalhar é uma ação
complicada. Quando estas duas necessidades são colocadas lado a lado, o estudo
não é prioridade, ficando sempre em segundo plano. Neste sentido, identifica-se o
grande número de alunos que evadem da escola durante o ano letivo. Inclusive,
percebe-se que, quando o aluno tem conhecimento de sua frequência, abandona a
escola já no meio do ano letivo.
Outro fator complicado é o retorno de alunos que abandonaram a escola, que,
ao regressarem, deparam-se na condição de estranhos em sala de aula, por parte
de colegas ou até mesmo dos profissionais da escola.
[...] refinamos tanto a seletividade do sistema escolar que os índices de fracasso e defasagem foram mantidos e até aumentados, estando entre os mais altos do mundo. Obrigamos milhares de crianças, adolescentes e jovens a repetir, a se distanciar de seus pares de convívio por falta de uns pontinhos em uma única disciplina, sobretudo naquelas que mais assumiram o papel credencialista. Um caos. Os repetentes e defasados são o produto dessa concepção de escolarização. Reeducar a sensibilidade educativa das famílias, das comunidades e dos(as) professores(as) é um dos processos centrais das propostas que acompanhamos. Reeducar para ver o evidente, o que a cultura da reprovação e exclusão nos tem impedido de ver por décadas. (ARROYO, 2000, p.37)
Outro exemplo que contribui para o aumento do fracasso escolar é o contexto
político, pois, muitas vezes, não se tem políticas públicas efetivas e sérias, dispostas
a atender as necessidades reais da escola, fator que dificulta o alcance de suas
metas e necessidades. Como exemplo desta realidade, pode-se citar o caso de
alunos faltosos que necessitam de atenção especial, com número de profissionais
habilitados suficientes para acompanhar e tomar providências efetivas quanto à
frequência do aluno na escola, necessidade esta que inúmeras vezes está longe de
ser atendida, como é o caso da instituição analisada. Em alguns casos, até a própria
infraestrutura física da escola se faz um condicionante para o fracasso escolar.
No contexto familiar, o fracasso escolar aparece quando a família, um
segmento essencial na formação do sujeito, abre mão de acompanhar a vida escolar
do aluno. Os responsáveis não se envolvem no cotidiano do aluno, alguns acham
que fazendo a matrícula é o suficiente, esquecem-se que há a necessidade de um
acompanhamento contínuo na vida escolar do filho/aluno. Em muitos dos casos de
alunos que abandonam as aulas, quando os responsáveis são procurados, para que
juntamente com a escola, colaborem no retorno da criança, adolescente ou jovem às
aulas, não assumem uma postura de cooperação e compromisso pelos menores,
eximindo-se de suas responsabilidades no acompanhamento escolar. Esta situação
é acentuada em certas realidades do contexto familiar, principalmente naquelas em
que os filhos advêm de famílias pouco ou não escolarizadas, pois, em muitos dos
casos, as famílias não demonstram grande preocupação com a escolaridade do
filho, o que é uma das realidades enfrentada pela escola pesquisada.
A própria escola é outro elemento que pode favorecer o aumento do fracasso
escolar. Sobre isso, Palma (2007) salienta que a exclusão escolar não está apenas
na repetência, mas é expressa nas relações e nas práticas pedagógicas que
acontecem no cotidiano escolar, visto que a forma mais eficiente de exclusão
efetiva-se quando a escola é esvaziada em sua função de ensinar a pensar e a ler
criticamente a si e ao mundo.
No contexto escolar, o fracasso aparece quando o aluno ingressa na escola,
mas não permanece, evadindo-se das aulas. Souza (1999), diz que "[…] não basta
que os conteúdos sejam significativos [...] As relações estabelecidas em sala de
aula, entre professores e alunos, também precisam fazer sentido.” Muitos são os
motivos da evasão, pois, às vezes, o aluno que chega na escola vindo de uma
realidade social frágil, não encontra a escola preparada para atendê-lo em suas
necessidades. Para Garcia (2014, p. 279), é importante “[…] promover nos alunos
uma reflexão sobre as causas do desempenho escolar e estimulá-los ao
desenvolvimento de características individuais que facilitem à superação das
adversidades [...]”, sendo que, neste sentido o papel do professor é essencial.
Para que haja a superação do fracasso escolar, se faz necessário uma
reorganização curricular, o comprometimento do aluno, família e escola, revisão das
práticas e ações pedagógicas e formação específica dos profissionais da escola.
Nesta busca pela superação, o envolvimento de todos os segmentos da escola é
fundamental. Eles necessitam refletir para além da sua individualidade e devem
considerar a coletividade e o rompimento de conceitos pré-concebidos, que não tem
relação com aceitar a realidade como está posta, mas sim contribuir para uma
educação de qualidade, que proporcione condições ao aluno de permanência na
escola, formação cidadã e melhoria no desenvolvimento humano, na tentativa de
ajudar na concepção de um sujeito capaz de intervir no meio em que vive, rompendo
com a cultura do fracasso escolar.
Assim, diante do que foi apresentado, entende-se que não há somente um
fator ou causa que justifique o fracasso escolar, mas sim a junção de diferentes
fatores que acontecem nos diversos contextos: social, econômico, político, escolar e
familiar. Segundo Mattos (2012, p.221), “[...] a exclusão perpassa uma multiplicidade
de trajetórias pessoais e coletivas de desvinculação […]”, na escola observa-se fatos
em que o aluno sente-se diferente, fora do contexto habitual, fator que contribui
ainda mais, no processo de exclusão.
2. O sujeito no espaço escolar
A escola se configura num espaço que, muitas vezes, não atende as
necessidades daqueles que dela precisam, os alunos. Estes, que chegam à escola
com ou sem interesse de aprender, trazem para o interior da escola e da sala de
aula toda a fragilidade vivenciada no seu dia a dia, mas, com muitas expectativas de
que esse espaço escolar possa lhe oferecer o conhecimento necessário à sua
formação. Quando suas expectativas não são atendidas, mostram-se desmotivados,
e esta falta de motivação apresenta-se por meio de suas ações, evidenciando
também a fragilidade social da sociedade em que vivem.
Para Saviani e Duarte (2012, p. 31), “[...] a educação não é outra coisa senão
o processo por meio do qual se constitui em cada indivíduo a universalidade própria
do gênero humano”. A escola, como espaço da cultura elaborada, contribuirá na
emancipação do sujeito, o qual terá possibilidade de interferir no meio em que vive.
Atualmente, apesar da escola objetivar ser um espaço de difusão do
conhecimento científico, torna-se um espaço de fragmentação de conhecimentos, de
classificação e de exclusão, e, com isso, pouco sobra para os alunos que nela
adentram, pois, ela não atende às suas necessidades básicas nos processos de
aprendizagem.
Deste modo, diversos aspectos necessitam ser repensados na escola: o
cotidiano, o espaço, o fazer pedagógico, o significado dos conteúdos, a formação
integral do aluno, a formação continuada dos professores e demais profissionais que
trabalham na escola, enfim, o currículo escolar. Acredita-se que tais aspectos
necessitam ser repensados, pois, são estes que tornam a escola um ambiente de
conhecimento, com condições de contribuir na formação do aluno.
Assim, ao entender que a escola é um espaço de construção de
conhecimento e formação humana, não se pode desprezar a bagagem construída
historicamente pelos alunos. Por isso, o papel da escola é tornar esse indivíduo um
sujeito capaz de atuar na sociedade, com condições de interferir na sua realidade e
criar situações melhores de vida, para si mesmo e para os outros.
No dia-a-dia escolar, depara-se com situações reais, como é vivenciado na
sociedade, onde as pessoas estão preocupadas com o seu cotidiano, ou seja, a sua
sobrevivência. Desta forma, as pessoas utilizam-se de diversas maneiras para
adquirir seus bens, e, às vezes, a educação, o conhecimento científico, não tem
grande importância, torna-se secundário. Sobre isso, Duarte (2012, p. 41) expressa
que “[...] no início do processo histórico de humanização do homem pelo trabalho, a
educação realizava-se como decorrência imediata da produção material e da
apropriação coletiva dos meios de existência humana”.
Todas essas situações que afligem os sujeitos que compõem a educação,
fazem com que se tornem pessoas não menos preocupadas, mas, infelizmente,
mais ansiosos em resolver todos os desafios e fragilidades vivenciadas no cotidiano
escolar, e, devido a isto, não param para refletir práticas pedagógicas, até porque
fazem parte de um sistema educacional em que se tem metas estabelecidas e
quando não são atingidas, a educação torna-se ainda mais frágil.
É neste contexto, que são procurados “os culpados” do fracasso escolar.
Seriam eles: os alunos, os pais, os professores, os gestores, os governos?
Segundo Padilha (2002), o cotidiano escolar está preocupado em como
utilizar os recursos tecnológicos, em melhorar a estrutura física da escola, em
realizar atividades nas datas comemorativas, enfim, com um fim em si mesmo e no
“fazer pedagógico”, esquecendo-se de um ensino de qualidade, em que não se tem
definido o que realmente se quer ensinar e como será o aprendizado dos alunos.
Dentre os vários aspectos do fazer pedagógico, Padilha (2002, p. 6) destaca o
conteúdo como um dos elementos a ser discutido e repensado.
[...] o conteúdo escolar que se encontra nos livros, nos manuais, nos
módulos descritos de maneira linear, anistórica e descontextualizada, promove o processo ensino-aprendizagem centrado na reprodução [...]. Nesta tendência, o exercício escolar é um trabalho do aluno para a escola, para conseguir nota, para passar de ano. É como escrever a fala do outro, já que a cópia é o princípio didático.
A escola, no seu “fazer pedagógico” rotineiro, na vontade de cumprir suas
metas e ações previstas e, na pretensão de resolver as fragilidades apresentadas,
não busca, com seus pares, alternativas para rever as ações pedagógicas. Obstina-
se em continuar fazendo do mesmo jeito, na esperança de que o fazer por fazer irá
resolver as situações que se apresentam. No entanto, isto é uma falsa ilusão, pois,
as dificuldades do cotidiano escolar trazem frustrações quando os objetivos não são
atingidos. Para Padilha (2002, p.6), “[...] este trabalho pedagógico permeado pela
alienação caracterizada pela ausência total da reflexão em torno da prática docente
que não forma consciência crítica em torno da prática educativa [...]”.
Diante disso, se faz necessário repensar e modificar nossas práticas
pedagógicas, e, segundo o mesmo autor, tal tarefa consiste no entendimento de que
“[...] a prática pedagógica faz parte de um processo que pressupõe o estudo e a
compreensão da totalidade da realidade social, [...] definir o que estudar, quem
estudar” (PADILHA, 2002, p. 13).
Definir o que estudar, quais conteúdos são necessários e que contribuirão na
formação do aluno, talvez seja óbvio ao se pensar que faz parte da ação escolar:
planejar a sua proposta pedagógica curricular e rever sempre que necessário,
porém, nem sempre é o que ocorre. É importante ressaltar que o que se irá ensinar
deve ter significado para a formação do aluno, ou seja, para a vida do aluno, que ao
sair da escola necessita ter condições de viver em sociedade e ter capacidade de
interferir na sua realidade.
É claro que, o conteúdo por si só, não dá conta sozinho da formação
esperada, mas, a maneira com que o mesmo é apresentado e desenvolvido é
fundamental, e, neste sentido, a prática pedagógica consciente é importante para
que os conteúdos tenham significado na vida dos que estão na escola para estudar
e aprender.
Sobre isto, pode-se exemplificar com casos de alunos que dão continuidade
nos estudos, porque dentro da escola identificou-se com conteúdos e disciplinas que
foram significativos na sua vida escolar. Para isto, o trabalho realizado no interior da
escola deve ser pensado, refletido e planejado. Para Padilha (2002, p.14), devemos
“[...] encaminhar estudos que favoreçam uma reformulação de nossa prática
pedagógica no sentido de buscar um novo método de trabalho, com novos
conteúdos e novas abordagens dentro das matérias escolares [...]”.
A formação continuada dos professores não se dá apenas com um curso, ou
em função de interesses de um grupo; ela, como o próprio nome sugere, deve ser
contínua e com qualidade. Isso significa atender as necessidades do professor e dar
a ele condições para que possa intervir na sua realidade escolar de maneira
consciente e reflexiva, além da efetivação dos profissionais na escola, pois, a
rotatividade também é um dos aspectos que influenciam nos resultados. Os
professores que permanecem na escola conseguem conhecer a realidade dos
alunos com que trabalham, fazem um acompanhamento ao longo de suas vidas
escolares e conseguem desenvolver ações que irão contribuir no sucesso escolar
destes discentes.
Neste sentido, a educação deve proporcionar ao indivíduo conhecimento para
que seja capaz de conhecer e entender o processo histórico da humanidade e, desta
forma, criar meios de intervir na sua realidade e no meio em que vive.
3. Material e método
O período de implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na
Escola teve como tema: “O Fracasso Escolar e a Prática Pedagógica: realidade e
Desafios de um Colégio Público da Zona Norte de Londrina” e constituiu-se como
um dos requisitos necessários na participação do PDE. Deu-se no período entre
2013 e 2014, envolvendo professores, direção e agentes educacionais do ensino
fundamental e médio.
O projeto foi organizado em oito encontros, com duração de quatro horas
cada, ocorrendo aos sábados e perfazendo trinta e duas horas de estudos. Durante
este período ocorreram momentos de estudos, discussões, debates e reflexões, que
tinham como objetivo contribuir para um repensar sobre a prática pedagógica,
visando a superação do fracasso escolar.
A princípio, o grupo era composto por quatorze participantes, com uma
desistência no decorrer dos encontros. Dos treze participantes que permaneceram,
onze eram professores das disciplinas de: Educação Física, Física, Geografia,
História, Língua Portuguesa, dos quais, um desempenha também a função de diretor
auxiliar e dois agentes educacionais com formação acadêmica em Pedagogia.
Para a realização deste trabalho, foi elaborado um caderno pedagógico que
teve como finalidade subsidiar o Projeto de Intervenção Pedagógica na escola. Este,
composto de textos escritos e imagéticos, tinha como propósito a leitura, a reflexão,
o debate e a interação, com o material e com o outro, e ainda possibilitar aos
participantes condições de fazer uma análise crítica sobre a sua prática pedagógica,
no tocante ao objeto de estudo desta pesquisa.
Assim, a primeira unidade consistiu-se num breve estudo sobre a teoria que
fundamentou o trabalho desenvolvido durante os encontros, pautado na concepção
do materialismo histórico e dialético, que objetivava que cada participante
conhecesse por meio da leitura, o referencial teórico que embasava o projeto. A
segunda unidade propôs um breve estudo das tendências educacionais, baseada
nos estudos de Demerval Saviani (2000) e Roberto Vatan dos Santos (2005), com o
objetivo de levar os participantes a identificar o papel do professor e aluno em cada
tendência estudada. A terceira unidade sugeriu uma reflexão frente à realidade do
sistema educacional brasileiro, procurando fazer um paralelo com a realidade da
escola vivenciada, e, para esse encontro foi selecionado o Documentário "Pro dia
nascer feliz (2007)". Na quarta unidade, discutiu-se a evasão escolar, com a
apresentação de dados relevantes do IDEB, Prova Brasil, Taxas de Rendimento e
Distorção Idade-Série da escola em estudo. Na ocasião, objetivou-se um momento
de análise, reflexão e encaminhamentos sobre a evasão escolar, dados que sempre
provocam discussões na comunidade escolar. A quinta unidade indicou a leitura e
reflexão da obra de Gasparin (2002): Uma Didática para a Pedagogia Histórico-
Crítica, e tinha como proposta a elaboração de um Plano de Unidade baseado na
Pedagogia Histórico-Crítica.
Este estudo é de abordagem qualitativa, sendo que a pesquisa bibliográfica e
de campo se constituíram na metodologia de pesquisa. Para coletar os dados
necessários, os procedimentos eleitos foram: o questionário com questões abertas e
fechadas, relatos expressos nas atividades coletivas realizadas nos encontros e
entrevistas.
4. Discussão e análise dos dados
As questões que os participantes responderam no decorrer dos encontros
serão apresentadas e analisadas na sequência.
No primeiro encontro, os professores debateram a seguinte pergunta: Seria
possível ações transformadoras na escola? Esta tinha como objetivo saber dos
professores o que pensavam, naquele momento, sobre o sujeito/aluno que
recebemos na escola e se a ação docente é uma maneira de contribuir para mudar
esta realidade. Os participantes apontaram, de forma unânime, que um dos maiores
problemas se referia ao interesse do aluno em vir para escola e estudar.
Este é um aspecto importante que precisa ser melhor discutido e repensado
no seio das instituições escolares, pois, certamente, torna-se um agravante no que
se refere à evasão e, consequentemente, ao fracasso. Segundo Gasparin (2002), a
escola, como instituição, é sempre uma expressão e uma resposta aos desafios da
estrutura social como um todo, e ela existe para cumprir uma função social na
sociedade. O mesmo autor afirma que, redescobrir hoje a função da escola, nesse
cenário, é o primeiro passo fundamental para definir seu novo papel, bem como a
importância da ação docente. Neste sentido, se faz necessário um repensar das
práticas pedagógicas no interior da escola.
O segundo encontro analisou e debateu sobre o Documentário "Pro dia
nascer feliz (2007)". Nele, os participantes descreveram que os maiores problemas e
dificuldades são: o desinteresse dos alunos; a indisciplina; a repetência; a evasão; a
afetividade; o meio social em risco; a violência; alunos fora da idade/série; a falta de
perspectiva dos alunos quanto aos estudos; distância dos conteúdos com sua
realidade; precariedade das escolas; falta de estrutura, segurança e recursos; a
desvalorização da profissão; as condições de trabalho; a falta de professores e
professor que não acredita na escola.
Quando questionados se é possível fazer um paralelo entre a realidade
mostrada no documentário e a realidade vivenciada na escola em estudo, os
participantes apontaram que há muito em comum entre o que foi mostrado no
documentário e a realidade da escola em estudo. Percebe-se que são muitos os
desafios a serem enfrentados e também que o aluno é, de certa forma, considerado
um sujeito que não estabelece uma relação com o processo de ensino e
aprendizagem, como expressa o professor 2 ao dizer: "[...] verifico que, os alunos
não conseguem perceber a importância da escola e dos conteúdos que ela veicula
para suas vidas, o que desmotiva e também causa o desinteresse”.
Ao considerar a análise dos professores sobre o documentário e a realidade
vivenciada, observou-se muitas questões em comum. Diante disso, pode-se concluir
que um dos grandes desafios é trabalhar em escolas que apresentam uma realidade
com todas as fragilidades sociais, pois, o que ocorre na sociedade reflete
diretamente dentro do espaço escolar, sendo esta uma situação real, não tendo
como ocultá-la. Mas, há de se considerar que para a obtenção de melhores
resultados, antes de tudo, é necessário acreditar no trabalho desenvolvido e
conhecer a realidade dos sujeitos envolvidos.
Segundo Gómez (1998), o desafio educativo da escola contemporânea é
atenuar, em parte, os efeitos da desigualdade e preparar cada indivíduo para lutar e
se defender, nas melhores condições possíveis, no cenário social. Neste sentido, é
necessário planejar ações pedagógicas que contribuam muito na permanência e
êxito do aluno na escola, ao longo de sua vida escolar.
A reflexão do encontro seguinte tinha como proposta pensar estratégias que
pudessem contribuir para melhorar os índices apresentados pelo IDEB da escola.
Diante disso, as respostas foram: retomada de conteúdo; um olhar diferente para
alunos que precisam de um tempo maior para apropriar-se de alguns conteúdos;
recuperação paralela; conscientização da família para a importância de acompanhar
a vida escolar dos filhos; produção de atividades motivadoras extraclasse; obtenção
de um conhecimento prévio do que o aluno já sabe; conhecimento do contexto social
dos alunos; planejamento de ações estratégicas; demonstração da significação
frente ao acesso e permanência do aluno na escola; atendimento especializado e
motivação quanto ao despertar no aluno o gosto de aprender sempre.
As respostas dos professores evidenciam que é possível desenvolver ações
que contribuam para a melhoria da educação escolar dos alunos, que irão refletir em
melhores índices do IDEB da escola, no entanto, há a necessidade do envolvimento
dos diversos segmentos da escola.
A escola não deve esperar que alguém faça o que ela, enquanto instituição
pode realizar com seus profissionais. Para Gómez (1998), é ingênuo esperar que
organizações políticas, sindicais ou religiosas ofereçam condições de autonomia ao
futuro cidadão. É preciso que a escola repense as suas ações e relações com o
sujeito que vem para a escola, reconheça o seu papel na vida daqueles que a
procuram. Em relação ao planejamento das aulas, os resultados da pesquisa
revelam que os professores têm consciência da importância de planejar as aulas,
conforme o quadro a seguir:
Quadro III – O que os professores entendem por planejamento
Categoria % Evidências
Preparação das aulas 45%
Trazer práticas novas. (Prof.1)
Antecipar a forma de trabalho do professor (Prof.3)
Recurso que auxilia e direciona o professor, ferramenta que facilita por vezes o trabalho do professor (Prof.5)
Organização da ação docente 55%
Organizar como o conteúdo será ministrado, ponto norteador do professor (P9)
Momento em que elaboro as minhas aulas adequando ao meu aluno os conteúdos propostos (P10);
Sistematizar aquilo que se pretende trabalhar para podermos alcançar o objetivo proposto (P11).
Fonte: Dados da Pesquisa
As respostas da questão 1 (Quadro III) revelam que os professores
reconhecem a importância do planejamento, que é intencional, ação sistematizada e
norteadora, forma de organizar e atingir objetivos propostos e que contribui
significativamente na prática pedagógica.
Quadro IV – A frequência com que planejam as aulas
Categoria % Quantidade
A frequência com que planejam as aulas
18% Diariamente
36% Semanalmente
18% Duas ou três vezes por semana
18% Planeja as aulas sempre
10% Planeja todas as aulas Fonte: Dados da Pesquisa
O Quadro IV apresenta a frequência com que as aulas são planejadas,
Observa-se que a maioria dos professores planeja suas aulas semanalmente. Isso é
positivo, ao se entender a necessidade de organização e revisão das atividades.
QUADRO V – Dificuldades de colocar o planejamento em prática
Categoria % Evidências
Desinteresse 28%
Indisciplina em sala de aula, indisposição em aprender (Prof. 1)
Conversas paralelas, comodismo (Prof. 6)
Falta de atenção dos alunos (Prof. 8)
Frequência 9% Ausência dos alunos (Prof. 3)
Níveis de conhecimento
18% Adequar o trabalho com a realidade da escola e da turma (Prof. 7)
Diversidade de níveis de conhecimento dos alunos (Prof. 10)
Falta de recursos 18% As vezes falta de recursos e materiais disponíveis (Prof. 9)
Estrutura física da escola (Prof. 11)
Metodologia 9% Metodologias diferenciadas (Prof. 5)
Número de aulas 18% Pouco tempo para realizar os trabalhos (Prof. 2)
Número de aulas insuficientes (Prof. 4) Fonte: Dados da Pesquisa
Ao analisar as respostas dos professores, no que se refere à prática do que é
planejado, foi possível observar que as ações do aluno implicam diretamente no
trabalho do professor, sendo que o desinteresse dos alunos aparece como a maior
das dificuldades identificadas para tal concretização. Portanto, ao se entender que o
planejamento é um item importante no que se refere a colaborar na diminuição do
fracasso escolar, este precisa ser entendido para além dos conteúdos curriculares
selecionados, pois necessita ter sentido na vida do aluno que está num processo de
formação. Os conhecimentos necessitam intencionar a formação de um ser integral,
com condições de intervir na sua realidade. Para Bernardes (2009, p. 237), “[...] a
educação escolar [...] promove a transformação e o desenvolvimento atual e real dos
indivíduos”.
De uma maneira geral, os professores têm consciência que planejar é uma
ação inerente a qualquer atitude. Planejar as aulas é um ato necessário e essencial,
no que se refere ao papel da escola na redução dos índices referentes ao fracasso
escolar.
Ao final do projeto foi realizada uma entrevista com os participantes, na
tentativa de identificar os resultados alcançados na aplicação do plano de unidade
de conteúdo. Os dados da entrevista revelam que para este grupo de professores o
planejamento é muito importante no encaminhamento das aulas e dos objetivos que
se pretende atingir, pois planejar significa: “[...] uma aula planejada com objetivo
norteia a aula [...]” (Prof. 1); “[...] o planejamento quando elaborado utilizando as
dimensões é um pouco mais complicado, porque tem que trabalhar com outras
áreas [...] é um pouco mais trabalhosa, mas é bem compensador [...]” (Prof. 2); “[...]
trabalhar com as dimensões [...] traz mais conhecimento [...]” (Prof. 3); “[...] quando
planeja a aula nesta perspectiva consegue trabalhar de forma interdisciplinar [...]”
(Prof. 4).
Considerações Finais
Com base nos dados coletados e analisados e do estudo presentes neste
trabalho, é possível constatar a importância de se refletir sobre as causas do
fracasso escolar, conhecer o sujeito envolvido e a partir disso, repensar a escola
como um espaço de conhecimento, com condições de atender o aluno que chega
até a escola com todas as suas fragilidades, sejam elas, sociais, econômicas e/ou
culturais.
A partir da realização deste trabalho, acredita-se que é essencial a promoção
de momentos de estudos, reflexão, discussão e debates na escola, envolvendo os
diversos segmentos, pois, estes momentos tendem a contribuir para um novo pensar
pedagógico, objetivando que a escola contribua, exerça um papel significativo no
que se refere à diminuição do fracasso escolar e entenda que seu papel é
fundamental neste aspecto, ou seja, vai além da transmissão de conteúdos, do
planejamento de exercícios, aplicação de provas e distribuição de notas. A escola
precisa olhar e entender este aluno que adentra o espaço escolar, e, para isso, o
planejamento é um elemento fundamental nas ações e atividades propostas aos
alunos. Refletir para além do cotidiano da escola, repensar o planejamento das aulas
com conteúdo significativo à vida do aluno, com ações que contribuam, antes de
tudo, para a permanência do aluno na escola.
Associado a isso, são necessárias políticas públicas efetivas, voltadas para
essa problemática, bem como o incentivo aos profissionais que queiram permanecer
e desenvolver um trabalho significativo na vida escolar dos alunos da instituição.
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