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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR
FLÁVIO BAGATIN
O ARTEFATO PETECA COMO MATERIAL DE APOIO PEDAGÓGICO PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CURITIBA2014
O ARTEFATO PETECA COMO MATERIAL DE APOIO PEDAGÓGICO PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Autor: Flávio Bagatin1
Orientador: Profº Dr. Sérgio Roberto Abrahão2
RESUMO
O presente artigo foca na importância da valorização do artefato peteca enquanto material de apoio didático e pedagógico para as aulas de Educação Física e outras disciplinas curriculares. Visa ainda apresentar aos professores uma alternativa significativa na exploração deste elemento, de forma a minimizar a falta de material, para o enriquecimento de sua prática em sala de aula e para o aprimoramento das intervenções nas suas ações docentes. O trabalho apresentado capacitou os professores de Educação física, Matemática, Ciências, Sala de Recursos, Arte, História para a utilização do artefato peteca em suas aulas, com uma abordagem partindo do histórico e origem da peteca, passo a passo para sua construção artesanal, a evolução de jogo recreativo à sistematização, estruturação e organização das regras até tornar-se esporte. No início do trabalho, o não reconhecimento do artefato peteca como material pedagógico foi geral, o que nos instigou a buscar, fomentar e apresentar todas as possibilidades de exploração desta alternativa de forma interdisciplinar, facilitando os trabalhos diários docentes. Esta ação resultou no reconhecimento do artefato, após sua aplicação, como material de apoio didático e pedagógico por todos os professores. Como rsultado, foi proposta a implementação do projeto no Programa de Atividades Complementares Curriculares em Contra turno do Colégio.
Palavras-chave: Educação Física. Peteca. Jogo. Esporte.
1 Professor de Educação Física graduado pela Faculdade de Educação Física de Jacarezinho com Especialização em Educação Física Escolar. É professor PDE 2013-2014 e efetivo da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.E-mail: flaviobagatin@seed.pr.gov.br
2 Professor Doutor da Universidade Federal do Paraná. Possui mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2004) e doutorado em Atividade Física, Educação Física e Esporte pela Universidade de Barcelona (2011). Experiência na área de educação. Atuando nos seguintes temas: Educação Física. Atividades Circenses. Formação do Professor. E-mail: sergioabrahao@ufpr.br
1 Introdução
O artefato peteca é um material alternativo apresentado para os professores
em decorrência das experiências vividas pelo autor em sala de aula e outros
espaços específicos para sua prática. Trabalhar com o artefato peteca enquanto
material de apoio didático e pedagógico, objetivo principal do material intitulado de
Cartilha, é apresentar novas possibilidades ao conjunto de professores de Educação
Física e outras disciplinas em âmbito escolar.
Como os jogos e os esportes estão presentes no currículo escolar, este
material enfatiza a importância do ser criativo e do saber fazer em Educação Física,
de forma consciente, a fim de garantir uma ação efetiva com garantia de uma prática
vinculada à teorização do jogo e do esporte peteca.
Este artigo busca levar os professores capacitados à reflexão de sua prática
no cotidiano escolar, pois é nesse ambiente que as ações são desenvolvidas, e
apresentar aos mesmos um trabalho diferenciado, acreditando que a Educação
Física, como componente curricular, necessita de encaminhamentos para uma
prática pedagógica mais elaborada. Dessa forma é possível que, após esse
trabalho, os professores possibilitem a seus alunos aprofundar, articular e ampliar o
universo do movimento humano, reelaborando sua prática.
Nesta perspectiva, pensou-se objetivar a interiorização do jogo e do esporte
peteca, oportunizando a integração entre os praticantes – professores e alunos,
onde todos possam respeitar o ritmo individual e coletivo, além de compartilhar
saberes e de valorizar a expressividade, por meio da confecção e utilização do
artefato peteca no jogo e no esporte, garantindo a experimentação de novas formas
de movimento.
Constatando ainda, que existem professores com dificuldades para
adquirirem materiais de apoio para suas aulas, pensou-se na confecção do próprio
artefato, onde qualquer pessoa pode confeccioná-lo, entendê-lo e passar a praticar o
jogo e o esporte peteca em diferentes segmentos sociais.
Estamos certos de que a utilização do artefato peteca nas aulas de Educação
Física contribui de forma positiva e decisiva para que um maior número de alunos e
pessoas possam vivenciar as emoções que esta prática proporciona.
De acordo com o proposto no momento de intervenção pedagógica no
colégio, garantimos a igualdade de oportunidades e buscamos proporcionar a todos
os professores envolvidos o desenvolvimento de suas potencialidades, enquanto
seres criativos, de forma não seletiva e, ainda, subsidiamos estes à um bom trabalho
docente, proporcionando junto ao grupo e à comunidade escolar a vivência prática
de aplicação de regras simples e oficiais durante o jogo e o esporte peteca, de forma
prazerosa.
2 O professor e os materiais para suas aulas
É comum encontrar professores reclamando da falta de materiais para o
enriquecimento da sua intervenção e contribuição na sua ação docente. Isso
interfere no processo ensino aprendizagem, onde esses professores deixam de
desenvolver um trabalho significativo, atrativo e envolvente com seus alunos de
forma contextualizada, o que caracteriza ainda a falta de motivação e criatividade,
que por sua vez, interferem na qualidade de suas aulas. Segundo FREIRE (2009,
p.61), “ o que falta nas escolas, na maioria das vezes, não é material, é criatividade.
Ou melhor, falta o material mais importante. Essa tal de criatividade nunca é
ensinada nas escolas de formação profissional”.
O desenvolvimento do projeto fundamentou-se essencialmente no
desconhecimento por parte dos professores do uso e reconhecimento do artefato
peteca como material de apoio didático e pedagógico para suas aulas, bem como da
exploração de suas possibilidades na escola.
Estimulado pelo desafio, o autor focou o trabalho na capacitação dos
docentes do colégio de implementação, especificamente habilitados em Educação
Física, Arte, Matemática, Ciências, Biologia e Sala de Recursos, motivando os
professores a conhecer, com propriedade, as possibilidades que a confecção do
artefato de jogo e de esporte chamado de peteca traz aos alunos da Rede Pública
Estadual de Ensino. Considera-se aqui o fácil acesso e os benefícios que essa
prática traz para o desenvolvimento de habilidades e ainda sua oferta na modalidade
do Programa de Atividades Complementares Curriculares.
Nessa perspectiva, o projeto tornou-se uma estratégia significante para
viabilizar e envolver toda a comunidade escolar.
Historicamente, o jogo de peteca teve uma significante evolução, o que o
transformou de uma simples recreação, após passar por uma sistematização,
estruturação e organização, em esporte. Informações como essas foram repassadas
aos professores, passando da origem até sua confecção artesanal.
É tarefa dos professores encarar o desafio de uma prática onde jogo e
esporte podem ser trabalhados com a utilização de um artefato de fácil confecção e
custo baixo. Superar a falta de materiais didático-pedagógicos é praticar a
criatividade, e sendo assim, fica evidente a necessidade da capacitação dos
professores quanto ao tema em questão, para ampliação da compreensão do jogo e
do esporte enquanto conteúdos estruturantes da Educação Física na Rede Pública
de Ensino do Paraná, conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais.
Durante o GTR – Grupo de Trabalho em Rede, os dezessete professores
participantes e os oito professores do colégio de implementação foram questionados
se conheciam o jogo e reconheciam o artefato peteca como material de apoio
didático pedagógico para suas aulas, sendo unânime a negativa para a questão.
Sendo assim, o desafio em motivá-los foi maior, pois tratava-se de convencer e
estabelecer relações entre teoria e prática, principalmente no que se referia à
criação e construção de materiais que pudessem contextualizar conteúdos a serem
ministrados, com foco na criatividade e motivação.
Diante do exposto, cabe salientar que todos os professores questionados
utilizavam somente materiais adquiridos pela direção do colégio diretamente em
lojas esportivas, como bolas, cones, cordas, etc.
No desenvolver do projeto, após apresentar o artefato confeccionado de
forma artesanal e industrial, iniciou-se um estudo sobre a peteca, sua origem e
regras. Depois, discutiu-se com os professores sua utilização para o
desenvolvimento do jogo e do esporte peteca, conteúdos estes implícitos na cartilha.
Daí se deu a necessidade da aplicação do passo a passo para a confecção da
peteca e exploração de todo o processo de construção deste artefato artesanal,
especificamente com E.V.A.
Na medida em que os encontros foram ocorrendo, diversas possibilidades
foram surgindo e sendo exploradas pelos professores em sala de aula com seus
alunos. O trabalho interdisciplinar aconteceu o tempo todo, tendo em vista que os
professores possuíam formação em diversas disciplinas.
3 Considerações sobre o jogo de peteca e seleção de conteúdos
O jogo tem caráter lúdico, sem normas específicas ou regras obrigatórias de
execução, pois estas não possuem caráter definitivo e podem sofrer mudanças a
qualquer momento, de acordo com a preferência de seus participantes. Isto torna o
jogo importante, pois além do desenvolvimento integral do educando, contribui nos
aspectos sociais, afetivos, cognitivos e motores.
Assim como o jogo e o esporte, a Educação Física é dinâmica, portanto os
professores devem sempre se preocupar com a forma de ensinar e como utilizar as
diferentes possibilidades de linguagens que estão ao seu alcance. Com isto,
entende-se, segundo SCHIMIDT (2004, P.31) que “a sala de aula não é apenas o
espaço onde se transmite informações, mas o espaço onde se estabelece uma
relação em que interlocutores constroem significações e sentidos”.
Neste sentido, entende-se ser o ensino do jogo de peteca uma forma de
estabelecer importante reflexão e discussão entre o jogo e o esporte na Educação
Física escolar, vez que há necessidade de adaptação ao entendimento e
cumprimento de regras dos esportes institucionalizados antes de tudo.
Segundo REVERDITO (2010, p.201) “antes de o jogos esportivo coletivo ser
unicamente uma modalidade esportiva institucionalizada, é, sobretudo, jogo jogado”.
O Autor relata ainda que:
O jogo e o esporte se confundem um com outro, pois ambos possuem a mesma natureza, o sentido literal e dinâmico do jogar. Assim, o princípio sobre qualquer forma de abordagem aos jogos coletivos deverá começar na sua forma primária de jogo.
No entanto, o jogo de peteca deve ser introduzido de forma original, lúdica,
com ênfase na cooperação e no rendimento próprio de cada participante para, a
partir daí, iniciar o processo de criação de novas regras e inclusão das regras oficiais
do esporte peteca, sua história e como foi introduzido na sociedade. Aprender sobre
a peteca e aprender a jogar peteca são possibilidades de ampliação do repertório
esportivo do educando.
Em termos de cultura corporal, podemos afirmar que o jogo de peteca
proporciona e garante ao aluno oportunidades de expressar-se corporalmente. Leva-
os ainda a refletir sobre o processo de construção histórico-cultural dos jogos e de si
mesmo. Daí a importância da seleção dos conteúdos pelos professores e da
adequação desses às capacidades cognitivas e sociais dos educandos. Segundo
Lino Castellani, Carmem Lúcia Soares, Celi Nelza Zülke Taffarel, Elizabeth Varjal,
Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht (2009, p33), o professor deve, em relação ao
conteúdo,
organizá-lo e sistematizá-lo fundamentado em alguns princípios metodológicos, vinculados à forma como serão tratados no currículo, bem como à lógica com que serão apresentados aos alunos. Inicialmente se ressalta o princípio do confronto e contraposição de saberes, ou seja, compartilhar significados construídos no pensamento do aluno através de diferentes referências: o conhecimento científico ou saber escolar é o saber construído enquanto resposta às exigências do seu meio cultural informado pelo senso comum. O confronto do saber popular (senso comum) com o conhecimento científico universal selecionado pela escola, o saber da escola, é, do ponto de vista metodológico, fundamenta para a reflexão pedagógica. Isso porque instiga o aluno, ao longo de sua escolarização, a ultrapassar o senso comum e construir formas mais elaboradas de pensamento.
Nessa perspectiva, a Educação Física Escolar, segundo Brandl (2005),
objetiva possibilitar o desenvolvimento do potencial humano. Para Kunz (2001,
p.15),
Não se trata de formar pessoas que se conheçam melhor, apenas, mas de formar gente consciente de que jamais conhecerá tudo de si, por isso consiste em conhecer a humanidade e o mundo. É imprescindível que a educação desencadeie um processo de conhecimento de si através dos valores humanos encontrados em cada indivíduo, possibilitando condições para que cada aluno e aluna encontrem, por suas referências internas e não apenas do mundo exterior e dos outros, o que ele ou ela de fato são em relação ao mundo, aos outros e a si próprio.
4 A importância na motivação dos professores na aplicação do projeto
Ao se deparar com a realidade implícita nas salas de aula, o educador deve
considerar e não deixar de valorizar a diversidade social, objetivando garantir o zelo
à aprendizagem dos alunos.
O projeto explicita e assegura ao professor a capacitação. Garante com
objetividade as proposições do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.
Estar aberto a novas metodologias e utilizar novos recursos didáticos e
pedagógicos, como o material apresentado na implementação, requer superar a
escassez de bibliografias referentes ao tema proposto, privilegiando as experiências
vividas e a construção histórica do momento em questão.
Para tanto, os professores devem ser e estar motivados a fim de superar a
defasagem de materiais, seja ele qual for. Isto possibilita a troca de experiência e
amplia o convívio social.
Ao se propor a capacitação dos professores, devemos considerar que a
aplicabilidade do projeto se dá com o envolvimento dos professores e alunos, sendo
fundamental assegurar que esse projeto, segundo VASCONCELOS (2002, p.57)
“deve possibilitar o confronto de conhecimento entre o sujeito e o objeto, onde o
educando possa penetrar no objeto, compreendê-lo em suas relações internas e
externas, captar-lhe a essência”.
Ao propormos o desenvolvimento da aprendizagem, devemos valorizar a
importância motivacional do profissional, pois é este que apresentará o conteúdo
aos alunos, e sendo a motivação intrínseca, esta deve ser estimulada para seu
afloramento.
Outros fatores devem considerados, como os externos, por exemplo, que
influenciam diretamente na vontade do querer fazer. Daí a importância das
motivações intrínseca e extrínseca, pois um professor motivado gera alunos
motivados também, visando garantir a harmonia entre a motivação e a
aprendizagem. Cabe salientar também que um aluno ou professor motivado
desempenha sua função com mais responsabilidade e de forma mais prazerosa.
Quanto a isto, de acordo com VIGOTSKY (1993, p. 102):
A construção da motivação é um dos pilares para um bom clima da sala de aula. O professor tem que conhecer como o aluno aprende e usar de estratégias de ensino que lhe deem a sensação de estar conquistando algo importante no ato simples de cumprir tarefas que estão de acordo com a sua zona proximal de desenvolvimento.
Em se tratando de professores, a capacitação necessita de atitudes
motivacionais no desenvolvimento pedagógico do projeto, pois as posturas beiram a
dos alunos em sala de aula, daí a importância da motivação no desenvolvimento da
aprendizagem. No entanto, segundo RUFINI; BORUCHOVITCH, 2004 apud
CAETANO e JANUÁRIO (2009, p.4)
Um aluno motivado mostra-se ativamente envolvido no processo de aprendizagem, engajando-o e persistindo em tarefas desafiadoras, despendendo de esforços, usando estratégias adequadas e buscando desenvolver novas habilidades de compreensão e domínio.
5 A exploração do artefato peteca por outras disciplinas
Durante o desenvolvimento da implementação do projeto no colégio, além dos
professores de Educação Física, Arte, Ciências e Matemática também foram
envolvidos e motivados a participar. Com contribuições significativas de suas áreas
de atuação, o projeto foi desenvolvido proporcionando uma integração entre as
disciplinas com a participação de todos.
De acordo com a proposta, o artefato peteca foi explorado pelos professores
na apresentação dos conteúdos de suas disciplinas, e as atividades desenvolvidas
durante as aulas levaram os alunos a perceberem e valorizarem suas produções
artesanais, conforme instruções contidas na cartilha apresentada no material
pedagógico.
Vale ressaltar que, para confecção das petecas utilizando como material
folhas de E.V.A., o professor de Matemática, ao propor para seus alunos que
recortassem pares de círculos, explorou os conteúdos básicos de medidas de área e
comprimento com foco nos conteúdos estruturantes de grandezas e medidas. Após
o recorte dos círculos, solicitou que seus alunos calculassem o comprimento da
circunferência, bem como comprimento e área de círculos.
O professor de Ciências explorou com seus alunos as relações entre os
materiais utilizados, em substituição a outros de natureza animal. Trabalhou
conceitos de biodiversidade, classificação dos seres vivos, cadeia alimentar, reino
animal – artrópodes, extinção de espécies e sua classificação.
Já na disciplina de Arte, o professor, além da construção do artefato peteca,
explorou com seus alunos as cores primárias e secundárias, ponto, linha, textura,
formas, modelagem, figuras bidimensionais e tridimensionais, semelhanças, e
volume.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008, p. 29):
“... as disciplinas são pressuposto para a interdisciplinaridade. A partir das disciplinas, as relações interdisciplinares se estabelecem quando: conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à discussão e auxiliam a compreensão de um recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina; ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos quadros conceituais de outras disciplinas referenciais teóricos que possibilitem uma abordagem mais abrangente desse objeto”.
Nesta perspectiva, a metodologia utilizada no desenvolver do projeto, o
artefato peteca, considerado aqui como objeto a ser reconhecido e utilizado como
material didático e pedagógico, proporcionou abordagens diversificadas nas
disciplinas dos professores envolvidos, consoante as Diretrizes Curriculares
Estaduais (2008, p. 29).
A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão desse conteúdo.
Após a aplicação do projeto, percebemos que os vinte e sete professores que
participaram da capacitação, aceitaram o artefato peteca como material didático e
pedagógico para suas aulas. Destes, dezenove eram professores de Educação
Física. Conforme a tabela 1, percebemos que dezessete professores de Educação
Física do Grupo de Trabalho em Rede e mais os dois envolvidos no Colégio de
Implantação do projeto, nunca trabalharam e nem utilizaram o artefato peteca em
suas aulas, porém, após o Grupo de Trabalho em Rede e a Implantação do Projeto
no Estabelecimento de Ensino, todos passaram a reconhecer o artefato peteca
como mais um material de apoio didático e pedagógico a ser explorado durante o
desenvolvimento de suas aulas como enriquecimento do processo ensino
aprendizagem. Da mesma forma, os professores das demais áreas também
puderam explorar o artefato peteca durante suas aulas, utilizando-o como recurso
para a apresentação e mesmo para o ensino de novos conteúdos.
Tabela 1 – Professores que passaram a reconhecer o artefato peteca após a capacitação
Disciplinas Total de participantes no GTR
Total de participantes no Colégio
Total
Educação Física 17 2 19
Arte 0 2 2
Ciências 0 2 2
Matemática 0 3 3
Sala de Recursos 0 1 1
Total 17 10 27
Fonte: Dados dos registros da capacitação no GTR e implementação no colégio.
6 Possibilidades de inserção do jogo de peteca no colégio
Com relação às possibilidades que o professor da Rede Estadual de Ensino
Público do Paraná tem de desenvolver o potencial humano de seus alunos, por meio
da aplicabilidade do jogo de peteca, referida atividade está assegurada na Instrução
nº 007/2012 – SEED/SUED, que dispõe sobre as Atividades Complementares
Curriculares em Contraturno que integram as atividades educativas ao Currículo
Escolar, desde que vinculadas ao Projeto Político Pedagógico, e que podem
funcionar permanente ou periodicamente no Macrocampo Esporte e Lazer.
Outra forma de garantia está na Instrução nº 001/2013 – SEED/SUED, onde
trata das Aulas Especializadas de Treinamento Esportivo, que possibilita o acesso à
prática esportiva aos alunos. Outra forma ainda, desde que organizada
didaticamente no Projeto Político Pedagógico, são as Atividades de Ampliação de
Jornada Escolar que garante a expansão do tempo escolar, seja através do
Programa Mais Educação, do Programa de Atividades Complementares Curriculares
ou do Programa Ensino Médio Inovador, que contempla o jogo de peteca no
Macrocampo Cultura Corporal, assegurado na Instrução nº 021/2012 – SEED/SUED.
Outra possibilidade é garantida também por meio da Instrução nº 022/2012 –
SEED/SUED, que trata da Educação de Tempo Integral e garante ainda, ao
professor de Educação Física, expor seus conhecimentos sobre Vivência Corporal
na parte diversificada (disciplina vinculada à Educação Física) e, se for o caso, sobre
os aspectos teóricos e práticos, bem como aplicar seus conhecimentos e
fundamentos acerca de jogos em diferentes contextos sociais.
É certo afirmar que a possibilidade de contemplar o conteúdo jogo de peteca
nas aulas de Educação Física é grande. Grande também é o envolvimento dos
alunos quando propomos desafios, onde o saber próprio é valorizado e a ele é
oportunizado vivenciar diferentes formas de movimento.
Considerações finais
Perceberam-se, após a capacitação, mudanças nas atitudes de professores
referentes à utilização de materiais alternativos e ao aumento da criatividade dos
mesmos ao planejarem suas aulas, tornando-as mais atrativas e envolventes.
Os dezessete professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede e
os dez professores do colégio de implementação do projeto, como citado
anteriormente, não reconheciam o artefato peteca como material didático e
pedagógico. Porém, durante e após a participação na capacitação, dos vinte e sete
professores, cem por cento deles perceberam a importância da exploração e
apresentação de materiais alternativos para sua prática, principalmente
reconhecendo na proposta do projeto sua eficácia.
Como percebemos, a capacitação dos professores foi extremamente
importante para o estímulo e busca de novos caminhos e estratégias para
apresentação, fundamentação e aprofundamento dos conteúdos em sala de aula.
Com isto, concluímos que o projeto proporcionou, aos professores envolvidos, maior
interação entre as disciplinas, onde se trabalharam conteúdos das variadas áreas,
de forma não fragmentada.
O jogo ou o esporte peteca, com a exploração do próprio artefato, possibilitou
maior ampliação e proporcionou a reflexão de que novos materiais podem ser
utilizados e que a ousadia poderá, sim, contribuir no processo ensino-aprendizagem.
Diante de tantos “entretantos” que vislumbramos na Educação, cabe uma
nova visão do ensinar, buscando-se inclusive novas formas de jogo e a
possibilidades de outros materiais serem utilizados conjuntamente pelas disciplinas
curriculares, a fim de evitar a fragmentação do ensino. Desta forma, o educador
cumpre com sua função , adaptando atividades docentes à sua realidade e à de
seus alunos.
Referências
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CAETANO, Angélica; JANUÁRIO, Carlos. Motivação, teoria das metas discentes e competência percebida. Pensar a prática, v.12, n.12, maio/ago, 2009.
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FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física. São Paulo, Scipione, 2009.
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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Instrução nº 007/2012. Curitiba, 2012.
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REVERDITO, R.S.; SCAGLIA, A. J.. Pedagogia do esporte: jogos coletivos de invasão. São Paulo: Phorte, 2009.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo, Scipione, 2004.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. 13ª edição. São Paulo: Libertad, 2002.
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