Post on 17-May-2018
Patologia do fígado Adriano de Carvalho Nascimento
Anatomia e fisiologia
Centro metabólico do organismo.
Retém aminoácidos, lipídios, carboidratos e substâncias tóxicas, metaboliza, e joga
novamente nos sinusoides.
Lóbulo hepático (unidade microarquitetural) Região delimitada pelos espaços porta e
centrado pela veia centrolobular.
1. Recebe diretamente o sangue do tubo digestivo pelo sistema porta.
2. Recebe sangue oxigenado pela artéria hepática.
3. Mistura de sangue venoso com arterial nos capilares sinusoides.
4. Capilares sinusoides fazem a troca metabólica . Relação direta com os hepatócitos.
5. Drenagem pela veia centrolobular (drena na veia cava).
Divisão funcional: Ácino hepático ou lóbulo metabólico
Espaço entre 2 espaços porta e a veia centro lobular. Dividido em 3 zonas:
Zona 1 (região centroacinar): próximo à tríade portal. Altíssimo
metabolismo
(está recebendo elementos novos o tempo todo).
Zona 2 (região intermediária ou médio zonal).
Zona 3 (região periacinar): próxima à veia centro lobular. Área mais
hipóxica.
Principais células do fígado:
Hepatócito (célula funcional do fígado).
Remoção da amônia do sangue.
Detoxicação da maioria das drogas e toxinas.
Produção dos fatores da coagulação a exceção do fator de Von
Willebrand (produzido pelo endotélio).
Produção de albumina (falência cronica do fígado tem
hipoalbuminemia).
Síntese dos ácidos biliares.
Síntese de colesterol.
Glicogênese, lipogênese e gliconeogênese.
Células de Kupffer (macrófagos residentes do fígado, ficam dentro do sinusoide,
aderidos ao endotélio).
Células de Ito ou células estelares (acumulam gorduras e vitamina A, estão localizadas
no espaço de Disse, entre o endotélio e os cordões de hepatócitos). Participa dos
processos de fibrose portal.
Células endoteliais (fenestradas para permitir a passagem de substâncias).
Lesão hepática (padrões de resposta)
1. Degeneração e acúmulo intracelular:
• Degeneração em balão:
• Lesão por insulto tóxico e metabólico.
• Citoplasma tumefato e irregularmente compactado com espaços
claros.
• Degeneração espumosa:
• Material biliar retido dá um aspecto espumoso difuso ao hepatócito.
• Esteatose microvesicular:
• Acúmulo de múltiplas gotículas de gordura que não deslocam o
núcleo.
• Ocorre na doença hepática alcoólica e esteatose hepática aguda da
gravidez.
• Esteatose macrovesicular:
• Gotícula de gordura única e grande que desloca o núcleo.
• Ocorre na doença hepática alcoólica, obesidade e diabetes.
• Acúmulos de substâncias como ferro e cobre
2. Necrose e apoptose:
• Necrose isquêmica por coagulação (danos hipóxico-isquêmicos
significativos).
• Necrose lítica (hepatócitos isolados sofrem tumefação osmótica e
ruptura).
• Apoptose (dano tóxico ou imunomediado). Os corpos apoptóticos do
fígado são chamados corpúsculos de Councilman. Hepatócitos
isolados se tornam arredondados, picnóticos, intensamente
eosinofílicos e com núcleos fragmentados.
3. Inflamação:
• Portal (tratos portais)
• Interface entre o parênquima periportal e o espaço porta (hepatite de
interface)
• Parenquimatosa.
4. Regeneração: Ocorre em todas as doenças exceto nas fulminantes.
• Mitoses.
• Espessamento dos cordões de hepatócitos.
• Desorganização da estrutura do parênquima (leve ou acetuada).
5. Fibrose: irreversível, formada em resposta à inflamação.
OBS. A necrose frequentemente exibe distribuição zonal:
• Necrose centrolobular: isquemias, reações medicamentosas e tóxicas.
• Necrose mediozonal e periportal: a forma pura é rara (a forma periportal pode ser
encontrada na eclâmpsia).
Icterícia e colestase
Icterícia: coloração amarelada da pele e esclera.
Colestase: retenção dos solutos da bile entre eles a bilirrubina.
Formação da bile:
Absorção de lipídios (ação detergente dos sais biliares).
Eliminação dos produtos residuais (bilirrubina, colesterol e xenobióticos).
A formação da bile é uma das funções mais sofisticadas do fígado.
É uma das primeiras funções comprometidas na doença hepática.
Icterícias:
Pré hepática: produção excessiva de bilirrubina antes da metabolização hepática.
Anemias hemolíticas
Reabsorção de sangue de uma hemorragia interna.
Síndromes da eritropoiese ineficaz (anemia perniciosa, talassemia).
Hepática:
Redução da captação (interferência de medicamentos, síndrome de Gilbert).
Comprometimento da conjugação:
▪ Icterícia fisiológica do recém nato (deficiência de glicuronil
transferase).
▪ Sd. de Gilbert (deficiência de glicuronil transferase) doença benigna.
▪ Sd. de Crigler Najjar (deficiência da atividade da glicuronil transferase)
grave.
▪ Disfunção hepatocelular (hepatites) .
Deficiência de transporte na membrana canalicular (S. de Dubin Johnson )
Redução da excreção hepática (colestase por disfunção hepatocelular).
Pós hepática
Obstrução biliar (intra e extra hepática).
Colestase
Causas:
Disfunção hepatocelular (hepatócito tem dificuldade de excreção).
Obstrução (intra ou extra hepática).
Retenção de todos os componentes da bile (ácidos biliares depositam na pele
causando prurido).
Elevação da ALP, GGT e 5’nucleotidase.
Má absorção intestinal (vitaminas lipossolúveis).
Morfologia:
Acúmulo de pigmento biliar no parênquima hepático.
Degeneração espumosa dos hepatócitos.
Ruptura de canalículos e fagocitose pelas células de Kupffer.
Distensão dos ductos biliares.
Proliferação dos ductos biliares (lentificação do fluxo e formação de
concreções).
Lagos biliares.
Fibrose do trato portal (obstrução persistente).
Cirrose biliar (fígado cirrótico terminal)
Insuficiência hepática e cirrose
Insuficiência hepática:
O fígado não funciona mais. Consequência clínica mais grave das doenças hepáticas.
No entanto, 80 a 90% da capacidade funcional devem ser comprometidos para haver
insuficiência hepática.
Causas:
Destruição hepática súbita e maciça (necrose hepática maciça)..
Hepatite viral fulminante.
Drogas e substâncias químicas.
Lesão progressiva (destruição insidiosa de hepatócitos ou ondas repetitivas de
lesão).
Doença hepática crônica (hepatite crônica, doença hepática alcoólica).
Disfunção hepática sem necrose franca.
Hepatócitos viáveis mas sem condições de executar suas funções metabólicas
(esteatose hepática da gravidez, toxicidade medicamentosa).
Cirrose hepática:
Patogenia:
Fibrose progressiva:
Fígado normal
▪ Colágeno tipo I e III nos tratos portais e ao redor das veias
centrolobulares.
▪ Colágeno tipo IV (reticulina) segue ao longo das laterais dos
hepatócitos no espaço de Disse.
Cirrose
▪ Colágeno tipo I e III depositam no lóbulo criando septos ou cicatrizes
largas. Participação das células estelares.
Nódulos parenquimatosos (regeneração dos hepatócitos).
Micronódulos (menor que 3mm). Fase inicial da doença alcoólica.
Macronódulos (vários centímetros).
Arquitetura vascular reorganizada (novos canais vasculares conectam a região portal
com as veias centrolobulares).Sinusoide perde as fenestrações e passa a se
assemelhar a um capilar normal.
Ruptura da arquitetura de todo o fígado (a cirrose é uma lesão de todo o fígado, áreas
focais cicatriciais não são cirrose).
Causas:
Doença hepática alcoólica (60-70%).
Hepatite viral (10%).
Doenças biliares (5-10%).
Hemocromatose primária (5%).
Doença de Wilson (rara).
Deficiência de α1-antitripsina (rara).
Cirrose criptogênica (10-15%).
Consequências:
Insuficiência hepática.
Hipertensão portal
Ascite.
Derivações porto sistêmicas
▪ Shunts onde a circulação sistêmica e portal compartilham leitos
capilares (reto, junção esôfago gástrica, retroperitônio e ligamento
falciforme e suas colaterais periumbilicais .
▪ Varizes e hemorragias
▪ Encefalopatia hepática.
Esplenomegalia.
Carcinoma hepatocelular.
Hepatites (aspectos gerais):
Vários insultos podem agredir o fígado.
As manifestações clínicas se relacionam ao grau do dano hepatocelular e à etiologia da
lesão.
Propedêutica complementar do fígado:
1. Hepatograma:
Provas de lesão hepática:
TGO ou AST
TGP ou ALT
Provas de função hepática:
Albumina
PT (tempo de protrombina)
Amônia
Provas de colestase:
GGT (gama-glutamil transferase)
ALP (fosfatase alcalina)
5’-nucleotidase
Bilirrubinas e ácidos biliares
2. Biópsia hepática (principais indicações):
Diagnóstico:
Doenças infiltrativas do fígado (amiloidose, hemocromatose)
Cirrose biliar primária
Colangite esclerosante primária
Hepatites
Nódulos hepáticos.
Avaliação da gravidade da hepatite crônica antes e após o tratamento.
Transplantes
Inflamação (hepatites)
Hepatites virais (progressão da doença):
Hepatite aguda
Qualquer um dos vírus hepatotrópicos pode causar hepatite aguda.
1. Período de incubação.
2. Fase prodrômica (sintomas inespecíficos).
3. Fase ictérica (os sintomas começam a desaparecer):
▪ Icterícia (principalmente por bilirrubina conjugada, padrão
colestásico).
▪ Colúria (urina de cor escura).
▪ Acolia fecal.
▪ Retenção de sais biliares (prurido)
4. Convalescença (pode ocorrer em semanas ou meses).
Hepatite crônica (hepatite viral que não reverter em 6 meses):
Evidências sintomáticas, bioquímicas ou sorológicas.
Necrose e inflamação histologicamente documentadas.
Progressão para cirrose depende da etiologia (hepatite crônica progressiva).
Hepatite fulminante (necrose hepática acentuada difusa).
Rara (principalmente A e B).
Morte por encefalopatia hepática (evolução em 2 ou 3 semanas).
Doença hepática induzida por drogas e toxinas
Doença Hepática alcoólica:
Principal causa de doença hepática na maioria dos países ocidentais.
Formas da doença hepática alcoólica:
1. Esteatose hepática.
2. Hepatite alcoólica.
3. Cirrose.
Morfologia:
1. Esteatose hepática:
▪ Macrovesicular
▪ Órgão aumentado (4 a 6 Kg).
▪ Amolecido.
▪ Amarelado.
▪ Facilmente fraturado.
2. Hepatite alcoólica:
▪ Tumefação e necrose dos hepatócitos.
▪ Corpúsculos de Mallory (não é específico).
▪ Reação neutrofílica (neutrófilos acumulam em torno dos hepatócitos
em degeneração).
▪ Fibrose
3. Cirrose alcoólica
Doenças do metabolismo
Hemocromatose
Acúmulo de ferro corporal que se deposita em órgãos parenquimatosos (fígado e pâncreas)
além de miocárdio, hipófise, supra-renal, tireoide, paratireoides, articulações e pele.
Primária (genética): mutação no gene que controla a absorção de ferro com
absorção excessiva de ferro no intestino.
Secundária:
▪ Sobrecarga de ferro parenteral (transfusões, injeções de ferro).
▪ Eritropoiese ineficaz (aumento da atividade eritroide com destruição
das células anormais ).
▪ Aumento da ingestão oral de ferro.
▪ Atransferritinemia congênita.
▪ Doença hepática crônica
Morfologia:
Depósitos de hemossiderina:
Amarelo-dourado HE (A).
Azuis, azul da Prússia ou Pearls (B).
Cirrose hepática.
Fibrose pancreática (diabetes)
Doença de Wilson
Acúmulo de níveis tóxicos de cobre em muitos tecidos principalmente fígado, cérebro e
córnea.
Ocorre por diminuição da excreção de cobre que é principalmente eliminado
pela bile, se acumulando no hepatócito. Deficiência da formação de
ceruloplasmina, responsável por carrear o cobre no plasma e excreção pela
bile.
Morfologia:
▪ Degeneração gordurosa com núcleos vacuolizados (glicogênio ou
água).
▪ Necrose focal de hepatócitos.
▪ Hepatite aguda ou crônica.
▪ Corpúsculos de Mallory.
▪ Colorações especiais (demonstração do depósito de cobre).
▪ Anel de Kayser-Fleisher (depósitos castanho-esverdeados de cobre
na membrana de Desçemet no limbo da córnea).
Deficiência de α1-antitripsina.
Níveis séricos baixos de α1-antitripsina.
A principal função da α1-antitripsina é a inibição das proteases, principalmente da
elastase neutrofílica, liberada nos locais de inflamação.
▪ Distúrbio autossômico recessivo
▪ Vários genótipos.
▪ A via metabólica de secreção é interrompida causando acúmulo de
α1-antitripsina no retículo endoplasmático dos hepatócitos
(inclusões globulares PAS positivas resistentes à diastase).
Consequências:
Hepatite neonatal
Fibrose.
Cirrose infantil.
Hepatite crônica arrastada.
Desenvolvimento de enfisema pulmonar.
Esteatose hepática não alcoólica
Conjunto de doenças que tem em comum esteatose hepática em indivíduos que não
consomem álcool ou consomem em quantidades mínimas, menos de 20g/semana.
Esteatose hepática simples (assintomático).
Sem inflamação, necrose ou fibrose, apesar de elevação de
transaminases.
Esteatose acompanhada de inflamação mínima inespecífica (condição
estável, sem consequências clínicas).
Esteatohepatite não alcoólica (a injúria hepatocelular progride para cirrose
em 10 a 20% dos casos).
Esteatose.
Inflamação multifocal do parênquima com neutrófilos..
Morte hepatocitária (degeneração balonosa e apoptose).
Fibrose sinusoidal.
Afeta homens e mulheres em igual proporção e está associada a obesidade e síndrome
metabólica
Doenças do trato biliar intra hepático
Cirrose biliar primária
Cirrose biliar secundária
Colangite esclerosante primária
Anomalias da árvore biliar
Cirrose biliar primária
Doença hepática colestática crônica progressiva muitas vezes fatal.
Destruição granulomatosa não supurativa dos ductos biliares intra hepáticos de
tamanho médio.
Mais frequente em mulheres de meia idade.
Presença de auto anticorpos séricos (principalmente os antimitocondriais).
Morfologia:
▪ Destruição granulomatosa dos ductos biliares intra hepáticos.
▪ Inflamação.
▪ Cicatrizes portais.
▪ Cirrose (depois de muitos anos).
Insuficiência hepática
Cirrose biliar secundária
Ocorre por obstrução prolongada da árvore biliar extra hepática com alteração no
fígado.
A inflamação secundária à obstrução desencadeia fibrose periportalque acarreta a
formação de cicatrizes e nódulos.
Causas:
Adulto:
▪ Colelitíase extra hepática (mais comum)
▪ Neoplasias da árvore biliar e cabeça de pâncreas.
▪ Procedimentos cirúrgicos prévios.
Crianças:
▪ Atresia da árvore biliar.
▪ Cistos de colédoco.
▪ Fibrose cística.
▪ Síndrome de Alagille (escassez de ductos biliares).
Colangite esclerosante primária
Inflamação, fibrose obliterativa, e constricção segmentar dos ductos biliares intra e
extra hepáticos.
Estenoses irregulares e dilatações secundárias dos ductos (aparência em contas na
radiografia contrastada).
Causa desconhecida, maior prevalência em homens na 3ª ou 5ª décadas de vida.
Comumente associada a doença inflamatória intestinal (principalmente retocolite
ulcerativa).
Morfologia:
▪ Fibrose periductal concêntrica dos ductos afetados (fibrose em bulbo
de cebola).
▪ Infiltrado linfocítico.
▪ Atrofia progressiva do epitélio afetado até seu desaparecimento.
Ectasia a jusante.
Anomalias da árvore biliar
Complexos de von Meyenburg:
Pequenos grupamentos de ductos biliares dilatados, incrustados em
um estroma fibroso às vezes hialinizado.
Ocorrem próximo ou dentro dos tratos portais.
Microhamartomas.
Doença hepática policística:
Fígado com múltiplas lesões císticas difusas.
Revestidos por epitélio biliar cubóide.
Fibrose hepática congênita:
Tratos portais aumentados por faixas largas e concêntricas de tecido
fibroso
Formam septos que dividem o fígado em ilhas.
Ductos biliares anormais incrustados nesse tecido fibroso.
Doença de Caroli:
Dilatação segmentar dos ductos maiores da árvore biliar.
Contém bile espessada.
Síndrome de Alagille:
Ausência ou escassez de ductos biliares nos espaços portais.
Os pacientes podem sobreviver com risco de falência hepática