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Tecnologias Digitais na Escola Pública:
a contribuição do pensamento político-pedagógico de
Paulo Freire para a formação docente.
Hélia Maria Barroso BRAGA 1
heliabr@yahoo.com.br
Resumo
Este artigo tem como tema a educação popular e o seu encontro com as tecnologias
digitais na escola pública. Inicialmente, busca analisar o papel da escola e dos
educadores no contexto da sociedade globalizada, complexa e em rede dos dias
atuais. Em seguida, apresenta as principais concepções de educação popular no
Brasil, refletindo sobre suas práticas educativas, perspectivas e dilemas. Tenta
ainda, compreender as ideologias subliminares que perpassam as tecnologias; e
verificar os processos pedagógicos mais eficazes para fazer frente às idéias de
exclusão, individualismo e competitividade do mundo moderno. Assim, procura-se
resgatar os conceitos político-pedagógicos de Paulo Freire para embasar a idéia de
formação do educador como agente da transformação educacional e social, capaz
de utilizar pedagogicamente as tecnologias da informação e comunicação na escola
pública de uma forma crítica e politizada.
Palavras-chave: Educação Popular, Escola Pública, Categorias Freireanas,
Formação de Professor, Tecnologias Digitais
1 Introdução
1 Mestranda da 25ª turma do PPGE / UFPB
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Com a globalização e a expansão das redes digitais de comunicação, o
mundo se tornou um caldeirão de culturas e a complexidade passou a imperar em
todos os setores da vida humana.
O que observamos nos dias atuais é o individualismo, o consumismo
desordenado, a competição, a degradação do meio ambiente, a exclusão social e o
embotamento de valores primordiais como solidariedade, senso de coletividade,
valorização das tradições e da cultura popular.
É imprescindível, portanto, resgatar a educação de qualidade e a escola como
um ambiente capaz de valorizar os saberes do povo e a cultura local.
Nesse contexto, a escola pública popular surge como uma alternativa de
espaço democrático, em que as classes menos favorecidas poderão receber à
preparação adequada para enfrentar e se contrapor às novas exigências e
paradigmas totalitários do modelo capitalista globalizado de sociedade.
Assim, faz-se urgente maior atenção do Estado para com a formação escolar
da população e dos educadores, integrando e harmonizando os saberes clássicos
(conteúdos historicamente construídos pela humanidade/educação formal), os
saberes provenientes do povo (expressões da cultura popular/educação não-formal)
e os “saberes socialmente úteis” (desenvolvimento e defesa do meio ambiente,
meios de luta contra o racismo e a segregação social, luta pela vida). (TOURAINE,
1996)
Baseando-nos no pensamento freireano, podemos afirmar que a educação
popular tem papel fundamental e emancipatório, porque apresenta um compromisso
com as causas sociais e com a formação do sujeito integral, consciente, crítico,
pensante, criativo e lutador, capaz de intervir no seu meio, através da ação política,
para transformar a realidade imposta pelos grupos de dominação.
As tecnologias digitais ou tecnologias da informação e comunicação são
vistas, por grande parte dos críticos, como um meio de veiculação e reprodução do
pensamento das elites dominantes e da cultura de massa transplantada, impositiva,
invasiva e alienante. Por isso, é imprescindível que haja, nessa época em que se
dissemina o multiculturalismo e da cibercultura2, o fortalecimento e o
2 O termo cibercultura é "conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atividades, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço". (LEVY, 1999 p. 17)
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amadurecimento da cultura local, para que possa conviver harmoniosamente com as
culturas externas e enfrentar/combater a antropofagia cultural dos grupos de
dominação.
Assim, observamos que essas tecnologias, nada mais são do que poderosos
instrumentos, que não devem ser negligenciados e deixados de lado pelos
educadores. Mas, pelo contrário, devem favorecer as classes populares em sua luta
contra a exclusão digital e social. Essa revolução estará em curso, a partir da
formação docente para utilização das tecnologias de forma humanizada e crítica,
dentro da escola pública que é o lugar por excelência para valorização e
fortalecimento da cultura local, da educação popular, dos movimentos comunitários
e da formação de um cidadão politizado.
2 Concepções de Educação e Cultura Popular
Para entendermos as relações que se processam na sociedade moderna é
necessário entender o conceito de Estado. Segundo Gruppi (1996), Estado é um
poder político que se exerce sobre um território e um conjunto demográfico. No
Estado estão presentes três elementos: poder político, povo e território.
Marx, em sua obra o Capital faz uma análise do Estado burguês e contribui
com suas idéias para a formação das sociedades comunistas e trata de uma nova
concepção história, capital x produto, mais-valia, meios de produção, burguesia x
operariado, alienação, materialismo histórico e dialético. Para Marx, o importante é
transformar, e não só, refletir sobre as relações sociais. (Naves, 2000)
Manfredi (1980) revisitando a obra de Gramsci observa que a educação
popular é vista como um processo que permitiria às classes subalternas elaborar e
divulgar uma concepção de mundo organicamente vinculada aos seus interesses e
não, simplesmente, como um instrumento ideológico empregado pelas classes
dominantes para a conquista e a manutenção de sua hegemonia. E que se constituir
a partir do embate ideológico-político travado entre os pólos antagônicos: classes
dominantes X classes subalternas. As categorias gramscianas na análise da
educação popular são: educação enquanto prática autônoma; educação que
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contribua para a construção de um saber instrumento; educação enquanto prática de
exercício da capacidade de direção.
A respeito das sociedades de classe de que nos falou Gramsci (Barreiro,
2000) apresenta-nos alguns pressupostos:
A estrutura da sociedade capitalista tem como característica básica a sua
divisão em classes antagônicas (dominantes/dominados;
opressores/oprimidos);
A ordem social é estabelecida de acordo com as institucionalizações da
classe dominante;
As legitimações sociais explicam e justificam a ordem imposta pelos
dominadores, para manutenção do sistema;
O conhecimento social disponível e produzido não proporciona o real
conhecimento da realidade;
A ideologia da classe dominante determina as relações sociais com
interesse da manutenção do poder da classe dominante;
O comportamento e conhecimentos do povo são controlados pelo sistema
produzido pelas classes opressoras.
Já a organização social tem como função o controle do comportamento e do
conhecimento. A institucionalização se preocupa em manter e otimizar um conjunto
de produção de bens que responde aos interesses dos que detêm o controle dos
meios de produção; garantir a ordem estabelecida pela imposição de idéias
produzidas e determinada pelos grupos dominantes; explicar e justificar para as
classes antagônicas as razões do estabelecimento desta ordem, mantendo assim a
dualidade entre ambas através do controle das situações sociais que possam vir a
ameaçar esta ordem.
Quanto à ideologia e a consciência popular, apresentam-se os níveis e os
modos de conhecimento social relacionados com o poder que envolve uma
complexa estrutura ideológica que são os sistemas de idéias (representações
sociais) e os sistemas de atitudes (comportamentos sociais).
Gadotti (1998, p. 2) explica que a concepção libertadora de educação:
[...] evidencia o papel da educação na construção de um novo projeto histórico, fundamenta-se numa teoria do conhecimento que parte da prática concreta na construção do saber, tem o educando como sujeito do conhecimento e compreende a alfabetização não apenas como um processo
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lógico, intelectual, mas também como um processo profundamente afetivo e social.
A cultura popular legítima apresenta potencial criador, é dinâmica, histórica,
dialética, transformadora, tem raízes histórica e se contrapõe a cultura erudita. É
uma prática de confronto sócio-político, de resistência contra a cultura burguesa.
Leite (1983, p.258) se remete a Carlos Estevam para dizer que cultura popular
passa eminentemente pela politização e pela conscientização do povo. Contudo,
Paulo Freire (Leite, 1983, p.261) alerta para a necessidade de se dar condições ao
povo para se transformar de objeto em sujeito da ação social.
Uma visão positivista da cultura popular é a de tem que ser feita pelo povo,
para o povo e sobre o povo. Há que se romper, também, com a visão estigmatizada
que prega a cultura popular como: não-crítica, não-politizada, não-consciente, não-
literária, não-sistematizada, não-teórica, alienada, ingênua.
Beisiegel (1988) nos traz a problemática de delimitar o que é cultura popular
(nascida no seio do povo), cultura de massa (ligada à indústria cultural e imposta de
cima para baixo) e educação popular (apresenta-se nas escolas, distorcida, mais
ligada à cultura de massa do que propriamente à cultura popular).
Beisiegel (1996, p. 68) observa a educação popular e diz que:
ela é eminentemente multidimensional, comportando análises sob as mais diversas focalizações: sob o ponto de seus resultados estritamente pedagógicos; de suas possíveis repercussões na economia, dos métodos adotados; e com mais pertinência, esclarecida no campo político.
Podemos observar que a educação popular deve estar comprometida com os
segmentos populares da sociedade cujo objetivo deve ser o de contribuir para a
elevação da sua consciência crítica, do reconhecimento de sua condição de classe e
das potencialidades transformadoras inerentes a essa condição. (VALE, 2001)
Sob o ponto de vista de Sales (1999, p.115) educação popular:
É a formação de pessoas mais sabidas e mais fortes para conseguir melhor retribuição à sua contribuição econômica, política e cultural; mais sabidas e mais fortes para serem reconhecidas como pessoas e trabalhadoras; mais sabidas e mais fortes para serem tranqüilas e felizes e para terem uma convivência construtiva e preservadora com o ambiente físico e humano”. Assim, concluímos que o domínio crítico e consciente dos diversos saberes, por parte do trabalhador das classes populares, configura-se como um instrumento de luta contra a exclusão social e a opressão.
Concluímos, portanto, que a educação pública de qualidade para todos deve
ser uma conquista da sociedade civil organizada, regida pelo Estado (sistematizado,
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responsável, integral), tendo como objetivo precípuo a transformação social e
educacional.
2 As Tecnologias Digitais na Escola Pública e Formação Docente
É freqüente entre os educadores progressistas a opinião de que uma escola
de qualidade é um instrumento essencial para emancipação das classes
trabalhadoras.
Nesse contexto, a escola pública deve exercer papel central na
democratização dos bens intelectuais e culturais construídos pela humanidade ao
longo da História.
Uma escola de qualidade se configura, portanto, em um ambiente em que não
deveria existir a reprodução dos mecanismos de dominação de classes na
sociedade, mas a promoção dos sujeitos e da coletividade.
Diz Vale (2001, p. 56): “A escola pública popular não é aquela a que todos
têm acesso apenas [...] A escola publica popular está ligada à luta desses
segmentos por uma mudança qualitativa da escola, conferindo-lhe uma nova função
social.”
A prática pedagógica adotada por essa escola deve ser um ato político e
emancipatório, os conteúdos (cidadania, ética e ciências elementares) devem seguir
uma abordagem crítica e dialógica e o conhecimento popular deve o ponto de
partida para se chegar ao conhecimento científico nos níveis mais avançados.
Remetendo-nos ao pensamento da educação como um ato eminentemente
político, levantamos a questão da utilização das tecnologias digitais na escola
pública.
Acreditamos que o sistema educacional não deve negligenciar essa questão,
negando a sua influência em todos os setores da vida humana e, principalmente, a
sua importância dentro da escola.
Freire (2001) nos fala da necessidade de uma formação humanista capaz de
se sobrepor à utilização mecânica das tecnologias, dizendo que não se pode mais
negar os avanços tecnológicos, deve-se buscar soluções objetivas para os
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problemas atuais e centrar esforços na “humanização do homem” e numa educação
para a responsabilidade social e política.
O papel do laboratório de informática dentro da escola pública, junto com
outros ambientes escolares, como biblioteca, videoteca, quadra de esportes, é
imprescindível para propiciar às classes trabalhadoras o acesso ao conhecimento
produzido pela humanidade ao longo do tempo. E, sobretudo, é um meio de
socializar as informações pertinentes à comunidade na qual a escola está inserida e
a transmissão para o mundo sobre sua cultura, sua forma de pensar, os seus
interesses, as suas reivindicações.
Fica evidente, então, a importância de se ter Internet dentro da escola, mas
muito mais urgente seria ter a escola “dentro” do ambiente virtual. Seria a escola se
estendendo para além dos seus muros, revelando um aprendizado sem fronteiras,
limites de idade, pré-requisitos burocráticos, traduzindo uma nova relação de
abertura com a comunidade e recorrendo aos novos espaços de conhecimentos
surgidos com a era digital.
Gostaríamos de salientar, ainda, que em comparação com a mídia impressa
(livros, jornais) que já existe há séculos, e é a mais pura expressão da exclusão
bibliográfica, a Internet vem avançando rapidamente nos últimos anos e se
apresenta como um “recurso” a mais para propiciar a inclusão digital e a inclusão
social.
A vertiginosa evolução e utilização das TICs vêm provocando transformações paradigmáticas e impulsionando as pessoas a conviverem com a concepção de aprendizagem sem fronteira e sem pré-requisito. Tudo isso implica novas idéias de conhecimento, de ensino e de aprendizagem, exigindo o repensar do currículo, da função da escola, do papel do professor e do aluno. (SANTOS; RADTKE, 2005. p. 327).
Assim, torna-se crucial a formação de docentes capazes de lidar com esses
novos recursos técnicos e comunicacionais de forma humanizada e, sobretudo
politizada.
Os Centros de Educação nas Universidades precisam tomar para si a
responsabilidade de formar esses educadores que, não só dominem os recursos
tecnológicos; mas, saibam analisar de forma crítica as ideologias que perpassam o
ambiente virtual e possam atuar como agentes de transformação social nesse
universo complexo.
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Almeida (2005) chama a atenção para a importância da formação docente e
para o fato de que a utilização das tecnologias da informação e comunicação precisa
se dá de forma crítica e não passiva:
Propiciar às pessoas a fluência tecnológica significa utilizar criticamente a tecnologia de informação e comunicação com os objetivos de alavancar a aprendizagem significativa, autônoma e contínua, mobilizar o exercício da cidadania, oportunizar a produção de conhecimentos necessários à melhoria das condições de vida das pessoas [...]
Os professores, utilizando-se dos instrumentos tecnológicos disponíveis como
suporte para construção coletiva do conhecimento, podem produzir e disseminar
novas formas de representação, utilizando a linguagem digital e do hipertexto.
Fazendo uso desses recursos, poderiam ter à sua disposição os subsídios
necessários para criar comunidades de interesse, trocar idéias sobre as suas
próprias “produções” e a dos alunos, lançar discussões acerca de temas de
interesse da comunidade na qual a escola está inserida.
Com isso, poder-se-ia combater a formação técnica alienada, adotada pelo
sistema capitalista e a globalização, que estimula o individualismo e a competição
exarcebados.
3 O pensamento político-pedagógico de Paulo Freire: uma contribuição para a
utilização humanizada das tecnologias
O pensamento pedagógico que Paulo Freire desenvolveu é eminentemente
político. Ele se preocupou com a necessidade da formação humanista, que pudesse
se sobrepor à utilização mecânica das tecnologias.
Freire (2001) diz que não se podem negar os avanços tecnológicos, devendo-
se buscar soluções objetivas para os problemas atuais, centrando esforços na
humanização do homem e numa educação para a responsabilidade social e política.
Em outra passagem de sua obra, Freire (1977) assinala que a educação
deve estar compreendida em sua perspectiva verdadeira, que não é senão de
humanizar o homem na ação consciente que este deve fazer para transformar o
mundo.
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Assim, refletimos: qual a contribuição que o pensamento de Freire pode dar
no sentido de formar docentes que sejam capazes de fazer educação popular
utilizando as tecnologias digitais na sociedade globalizada ou sociedade do
conhecimento?
Elegemos algumas categorias freireanas, que acreditamos, podem embasar a
formação docente para uma utilização das tecnologias digitais:
Dialogicidade – O diálogo entre educador e educando torna-se fator
decisivo no cotidiano escolar e na prática pedagógica. De acordo com o
paradigma emergente, o professor não é mais o detentor do saber, sua
missão é possibilitar a criação e a produção dos conhecimentos
coletivamente. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, os
homens se educam entre si, mediados pelo mundo. A utilização das
tecnologias da informação e comunicação requer a abertura ao diálogo e
contatos diversificados, não só com os que comungam do mesmo
pensamento, mas com aqueles sujeitos portadores de ideologias
contrárias. As leituras de mundo são diversas, mas nisso reside a riqueza
de nossa civilização;
Criticidade – A postura crítica da realidade deve inquietar o educando e
se contrapor à “educação bancária”, que aniquila a sua criatividade,
curiosidade e espírito investigador. A formação do ser crítico é ponto
crucial para a circulação no ambiente virtual. A crítica é o filtro de
condução de educadores e educandos;
Libertação – A educação libertadora fortalece o sujeito para estabelecer
relações com outros povos, situa sua presença no mundo de forma crítico-
reflexiva e torna-o capaz de reconhecer mecanismos de opressão e
massificação, impostas pelas forças hegemônicas de dominação. Os
sujeitos devem ser formados para se saberem livres e fortalecidos
culturalmente ao entrarem em contato com outros povos;
Historicidade/Conscientização – A vocação ontológica humana em que
o homem se situa como ser histórico e coletivo, capaz de produzir cultura,
a partir de sua própria realidade. O cidadão passa pelo processo de
formação da autonomia intelectual, que o torna capaz de interferir na
própria história para transformar o meio em que vive, quer seja ele real ou 11
virtual. Freire (1977, p.31) nos diz que “O homem é um ser de ação e
reflexão”. Barreiro (1980) diz que o homem precisa tomar consciência de
que é um sujeito histórico (consciência de si, do outro e do mundo) e esta
tomada de consciência traz inerente a descoberta de todas as dimensões
de pessoa, seus direitos e compromissos, tornando-o um ser social;
Inconclusão/Inacabamento – O sujeito contemporâneo traz em si a
consciência de ser “inacabado” e “inconcluso”, principalmente neste
contexto em que o ciberespaço disponibiliza uma quantidade inimaginável
de bytes em informações. À medida que se avolumam os dados
disponíveis na web, aumenta a consciência da inclusão da permanente
construção do saber;
Comunhão – O respeito às diferenças culturais (multiculturalidade) e o
fortalecimento da própria cultura para interagir com as demais sem ser por
elas absorvida, principalmente ao se adentrar a cibercultura. A vida
humana deve ser pensada como um ato de comunhão e não pela relação
de verticalização e dominação de um povo sobre o outro. É neste ponto
que reside mais fortemente à necessidade de se ter uma educação,
embasada no pensamento de freireano, que seja capaz de propiciar uma
formação docente e discente pautada nos princípios de comunhão entre as
nações do mundo, hoje completamente ligadas pelas tecnologias, como
em nenhum outro momento da História.
A educação progressista, adotada por Freire, leva a essa uma visão crítica da
realidade e da história na qual o sujeito está inserido. Os conteúdos ministrados
devem ser politizados e seguir uma abordagem crítica e dialógica, servindo como
instrumento para o educando se locomover no mundo moderno.
4 Considerações Finais
Este artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas apenas levantar
questões e inquietações que fazem parte do mundo contemporâneo, tomando como
ponto de partida o pensamento do eminente educador brasileiro Paulo Freire.
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A visão freireana nos forneceu indicativos para trazer à luz e fazer uma
reflexão sobre a formação docente para a utilização das tecnologias da informação e
comunicação de uma forma humanizada, crítica e politizada dentro da escola pública
popular inseridas nas comunidades carentes.
Vimos que essa escola deve tomar para si a responsabilidade de buscar
mecanismo para sair da posição alienada em que se encontra com relação às
tecnologias digitais.
É responsabilidade do Estado fornecer as condições materiais tecnológicas
necessárias, mas cabe a comunidade escolar utilizá-las de forma crítica, reflexiva e
emancipatória. A educação de qualidade passa pelo resgate da dignidade e da auto-
estima das classes menos favorecidas.
Nesse sentido, a educação popular na escola pública tem papel fundamental
no fortalecimento de expressões autênticas da cultura popular das classes
populares; cabendo-lhes contribuir na construção de uma nova cultura e de uma
nova concepção de mundo, identificando e combatendo as ideologias subliminares
que permeiam a chamada sociedade do conhecimento.
Como nos lembra Freire (1977, p.28): “Não há a possibilidade de dicotomizar
o homem do mundo, pois que não existe um sem o outro”. Não como se fazer
educação sem trazer o “mundo” para dentro da escola.
Acreditamos que a utilização consciente das tecnologias da informação e
comunicação se configura na atualidade como um grande instrumento de inclusão e
transformação social, desde que os sujeitos envolvidos no processo sejam capazes
de promover a integração entre culturas, ampliar os espaços de diálogo, trocar
informações científicas e construir coletivamente o conhecimento, visando o
progresso da humanidade.
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