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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PELA MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: o Museu Mariano Procópio como espaço cultural e paisagístico em Juiz de Fora /M.G.
PORTES, R. (1); LIMA, F. (2); BARBOSA, A. (3) LEÃO, L. (4)
1. Universidade Federal de Juiz de Fora . Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal raquel.portes@ufjf.edu.br
2. Universidade Federal de Juiz de Fora . Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal fabio.lima@ufjf.edu.br
3. Universidade Federal de Juiz de Fora . Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal ana.barbosa@ufjf.edu.br
4. Universidade Federal de Juiz de Fora . Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal lauraleao.arq@hotmail.com
RESUMO
O trabalho aborda os resultados de estudos específicos da região que engloba o Museu Mariano Procópio e seus jardins, em Juiz de Fora, incluindo-se leituras sobre o estado de conservação deste conjunto urbano. A antiga “Quinta do Comendador Mariano Procópio”, hoje composta pelo conjunto da Villa Ferreira Lage, como um Jardim histórico e o edifício do Museu Mariano Procópio, que nos remetem ao final do Século XIX, se colocam como referência cultural para a cidade e a sua região, bem como para o Brasil. Tais estudos subsidiaram a elaboração do “Dossiê do Conjunto Histórico e Paisagístico Mariano Procópio”, como uma das atividades do Núcleo de Pesquisa e Extensão Urbanismo em Minas Gerais, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora – Urbanismo.mg/UFJF, em convênio estabelecido com a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. A elaboração deste dossiê constitui ação importante para ampliar a proteção do conjunto, com diretrizes específicas, que se somam às medidas para a salvaguarda, no âmbito da gestão do Jardim Histórico do Museu Mariano Procópio. O Museu e o seu entorno representam parte significativa da própria imagem do município de Juiz de Fora, no Estado de Minas Gerais, além de incluir aspectos relevantes da história da nação.
Palavras-chave: Museu Mariano Procópio; Juiz de Fora; Patrimônio Cultural; Jardins Históricos; Minas Gerais.
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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
INTRODUÇÃO
O Museu Mariano Procópio (MAPRO) localizado em Juiz de Fora, na região da Zona da Mata
Mineira, em Minas Gerais constitui referência cultural da cidade, compondo em sua formação
um rico acervo vinculado à história do município, bem como à história nacional. Desde a sua
construção até os dias atuais, o conjunto composto por edificações de diferentes épocas,
implantadas em um jardim de grande exuberância, passou por diferentes usos até se
consolidar como Museu, por desígnio de seu fundador, ainda no ano de 1936. Diante do
cenário de transformação contínua da cidade e consequentemente da perda de referenciais,
o MAPRO - antiga "Quinta da Lage", de certo modo, resiste às transformações. Neste arco
temporal, desde o final do Século XIX, muitas modificações interferiram na ambiência do
museu, desde a construção de edifícios altos, a abertura de vias, a demolição de edificações
e conjuntos fabris, dentre outros.
A necessidade de pensar a relevância do Museu de forma integrada, como um conjunto
urbano e paisagístico, com a consideração da questão da paisagem e a reintegração dos
jardins, motivou a cooperação entre a gestão atual do Museu e a Universidade. Assim, foi
definido o projeto intitulado "Pela Memória e Patrimônio em Juiz de Fora/MG: Apoio às
atividades de Conservação e Restauração do Museu Mariano Procópio”. O projeto foi
composto por ações integradas de pesquisa e extensão com levantamentos de campo e em
arquivos, além do estabelecimento de um ciclo de visitas guiadas às obras de restauração,
denominado "Restauro Visitável”.
Vale mencionar, em relação aos processos de gestão e planejamento urbano, que a proteção
do patrimônio cultural e a idéia de sustentabilidade estão intrinsecamente ligados, na
perspectiva de um desenvolvimento urbano que possibilite a reversão do quadro insustentável
inerente às nossas cidades. Assim, conforme diretriz estabelecida na Declaração de Salvador,
em 2007, é imprescindível “[…]Compreender os museus como ferramentas estratégicas para
propor políticas de desenvolvimento sustentável e equitativo entre os países e como
representações da diversidade e pluralidade em cada país ibero-americano; […]”
(DECLARAÇÃO DE SALVADOR, 2007) e, neste sentido, inserir o Museu Mariano Procópio
nas políticas públicas urbanas, visando a manutenção de sua integridade cultural e,
consequentemente, o desenvolvimento urbano qualificado da cidade de Juiz de Fora e região.
Os resultados das ações vinculadas ao projeto mencionado subsidiaram a elaboração do
“Dossiê do Conjunto Histórico e Paisagístico Mariano Procópio”, inicialmente, com abordagem
teórica sobre o conceito de paisagem e paisagem cultural. Em seguida, o entendimento da
memória da ocupação do município, com ênfase na abordagem sobre a história do conjunto
urbano Mariano Procópio e dos bens culturais compreendidos neste, o que se torna relevante
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para uma melhor compreensão da importância deste na formação urbana de Juiz de Fora e,
da importância nacional de seu acervo. Na continuação, analisamos o Conjunto Paisagístico
na atualidade, definindo o seu estado de conservação tendo em vista as modificações
implementadas sobre o mesmo e sobre o seu entorno. Após esta aproximação fundamental
sobre o objeto de estudo, foi elaborada a proposta de gestão do Jardim Histórico do Museu
Mariano Procópio com a delimitação de seus perímetros de abrangência, bem como a
interferência do mesmo em seu entorno imediato. Assim, esta área delimitada de relevante
valor cultural recebe por fim diretrizes gerais visando à manutenção dos seus bens e de sua
paisagem. Por fim, cabe dizer, que o dossiê foi encaminhado ao gestor do Museu e
permanece ainda como um trabalho em construção.
O LEGADO DE MARIANO PROCÓPIO FERREIRA LAGE
O Comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, engenheiro e político, natural de
Barbacena/MG, ficou conhecido na história urbana brasileira por construir a primeira estrada
pavimentada do país, a Estrada União e Indústria. Seu legado pode ser vislumbrado até hoje,
pela transmissão de sua rica propriedade e coleções aos seus herdeiros e, posteriormente,
para o município, como também extrapola os limites "patrimoniais", já que foi o responsável
por abrir os horizontes de Juiz de Fora e integrá-la ao comércio, transformando sua
paisgagem de maneira significativa.
No ano de 1853, posteriormente a concessão da implementação do percurso rodoviário da
estrada União Indústria, por D. Pedro II, Mariano Procópio seguiu em viagem durante seis
meses pelos Estados Unidos e pela Europa, onde passou por cidades como Londres, Paris,
Berlin, Rotterdam, Viena, Hannover e, outras; realizando pesquisas de técnicas e materiais
construtivos mais avançados daquele contexto, bem como buscou fixar contatos comerciais
para a Companhia. Cabe destacar que a rede de contato por ele estabelecida, tanto com a
Corte Imperial, como com outras influências europeias foram de grande relevância na
condução de seus negócios e escolhas – a saber, foi chefe da comissão da Delegação
Nacional do Brasil na Exposição Universal de 1867, em Paris, sendo agraciado com uma
medalha de honra. Nesta ocasião expôs no Pavilhão do Brasil a fotografia abaixo, que
retratava seu 'Chateau' às margens da nova estrada União e Indústria. Foi também Diretor
das Docas da Alfândega; Diretor da Estrada de Ferro Dom Pedro II; Presidente do Jóquei
Clube Brasileiro e, outros tantos cargos de expressão na sociedade brasileira da época.
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Vale dizer que, durante sua viagem, Mariano Procópio conheceu a técnica do Macadame
(Técnica criada pelo engenheiro escocês John Loudon McAdam) já empregada na construção
de estradas nos Estados Unidos; vivenciou a “Belle Époque” que se estendia mundialmente
nos avanços da indústria, dos transportes, das comunicações e, em especial, nas
transformações urbanas, decorrentes da Revolução Industrial, que traziam os ideários
urbanísticos de ordem, beleza e higiene. Através desses e de outros conhecimentos
adquiridos, Mariano se viu motivado e estimulado a empregá-los em sua terra natal, trazendo
as inspirações para a criação da estrada União Indústria e para a construção da “Quinta da
Lage” ou ‘Villa”, hoje conhecida como Conjunto Histórico e Paisagístico do Museu Mariano
Procópio.
A “Villa”, construída pelo Comendador para receber a família imperial de D. Pedro II durante
sua visita à região no contexto da inauguração da Estrada União Indústria, foi projetada pelo
arquiteto alemão Carlos Augusto Gambs, em linguagem renascentista, com implantação
dominante em relação às visadas do entorno. Podemos dizer que esta é rodeada por um
parque, formado por uma grande área verde inteiramente recriada conforme o ideário
paisagístico da época.
Em relação ao "Parque", composto por um lago que permeia os arredores da casa e um
paisagismo ricamente trabalhado, estima-se ter sido projetado pelo paisagista francês
Auguste Marie Franciscque Glaziou, quando na sua estadia na região na segunda metade do
século XIX. Dom Pedro II em sua visita ao 'chateau' de Mariano Procópio, encontrando-se
encantado pelo conjunto, escreve:
Figura 01: Fotografia exibida no Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1867, por Mariano
Procópio Ferreira Lage. Dizeres acima: "Chateau de Juiz de Fora Situé á l'extrémité de la route União
e Industria Proprieté de Ma. M. P. Ferreira Lage". Fonte: Acervo Documental da Fundação Museu
Mariano Procópio.
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“…É deste aprazível sítio que a arte converteu num brinco igual a qualquer lugar de banhos
da Alemanha, sob o céu recamado de estrelas que porfiam com as inumeráveis luzes, que
cintilam nos jardins e elegantes edifícios, ao som de uma harmoniosa banda de música de
colonos tiroleses que Eu principio a narrar a minha viagem enquanto a lua não sai e Eu
também, para percorrer estes jardins a inglesa, e subir ao alto de um outeiro, onde Lages
acaba a construção da mais “coquette” habitação. Eu estou em outra casa que também lhe
pertence e se acha no meio dos jardins e junto ao outeiro. Esta casa foi arranjada com apurado
gosto e nada lhe falta... Chamam-me para passear pois a lua já subiu (…) (BEDIAGA, 1999).
O relato do então Imperador do Brasil revela não só a beleza encontrada nos jardins, mas
também sua estrita relação estabelecida entre o palacete, construído por Frederico Ferreira
Lage, no qual Dom Pedro II hospedou-se na ocasião de sua visita. Com a estadia da família
imperial à Villa, as construções dos Ferreira Lage se tornaram ainda mais notória. Sua beleza
e imponência virou notícia nos jornais da região, como publicaria “O Jornal do Comércio”, na
edição de Junho de 1869, durante a visita da família imperial para a inauguração da Estrada
União Indústria:
“ (…)Suas Majestades e Alteza alojaram-se no castelo do Sr. Ferreira Lage, espécie de
habitação de fadas, que se ergue no cimo de uma ligeira colina cercada de extensos jardins,
ornados de arvoredos, plantas raras, flores, cascatas, repuxos tanques, cercas de parasitas,
assentos rústicos de caprichosas formas, animais curiosos e variedades de construção de
recreio (…) “ (JORNAL DO COMÉRCIO, 1869).
Outro registro importante foi feito pelo fotógrafo alemão R.H. Klumb, que elaborou um dos
primeiros guia de viagem produzidos no Brasil, em seu diário “Doze Horas em Diligência: Guia
do Viajante de Petrópolis a Juiz de Fora”, de 1872:
“ (…) Ha na eminencia á nossa direita um lindo casttelinho, propriedade do finado Sr. Lage,
gracyosa amostra do estylo – renaissance italiano –; este castelo e rodeado de um parque
desenhado, plantado e conservado com um gosto que nos dá ideia do que devia ser o
proprietário: tanques de água límpida, onde nadãobelloscysnes brancos e pretos, ilhas de
bambus, viveiros naturaes onde cantão e gorgeião milhares de pássaros, jardins cheios de
flores as mais curiosas e as mais raras plantas de interesse particular tornão este domínio um
pequeno paraiso terrestre (…) (KLUMB, 1872).
O conjunto herdado pelos filhos de Mariano Procópio abrange atualmente a área que compõe
a paisagem do museu e a área ocupada pela 4ª Região Militar, englobando a Villa, o edifício
construído para comportar o Museu, além da chácara onde a família morava antes da
construção da casa principal. Ao lado dos jardins, Frederico F. Lage construiu um outro
palacete, no entanto, com sua morte precoce aos 39 anos, a família adquiriu um grande
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acúmulo de dívidas, o que resultou na sua venda e, ao consequente desmembramento dos
jardins do atual Museu. A partir de então, em 1912, o palacete passou a pertencer a Estrada
de Ferro Central e, posteriormente, ao Ministério da Guerra que se instalou na 4ª Região
Militar.
Em 23 de Junho de 1921, já com os jardins desmembrados, Alfredo Ferreira Lage inaugurou
no “castelo” principal da Villa o Museu Mariano Procópio, em comemoração ao centenário de
nascimento de seu pai. Alfredo anexou em exposição todo o material que há décadas vinha
colecionando, tanto com suas próprias aquisições como também fruto de doações, contendo
materiais de geologia, mineralogia, paleontologia e zoologia, fazendo dele uma preciosidade
física e cultural.
Na data de 29 de fevereiro de 1936, Alfredo Ferreira Lage anunciou a doação de sua
propriedade e o acervo de peças ímpares em cultura e memória, para o município de Juiz de
Fora, que permanece sobre seu domínio até os dias atuais. Ao longo dos anos o Museu se
tornou um elemento chave na propagação da cultura na região, sendo ponto turístico
obrigatório aos visitantes da cidade e, lugar de encontro e lazer da comunidade local,
cumprindo o desígnio pelo qual Mariano Procópio e seu filho, Alfredo Ferreira Lage, tanto
almejavam.
Ao longo do tempo e após sucessivas gestões que não priorizaram sua boa conservação e,
a própria falta de conhecimento em relação aos procedimentos preconizados em relação à
Figura 02: Montagem de fotos panorâmicas da Villa - Entrada pela passarela que liga à Galeria e sua
Fachada posterior. Detalhe de ambas em processo de Restauração. Fonte: Raquel Portes
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ciência da restauração, observou-se o desenvolvimento de atividades que acabaram
cooperando para a degradação em diversas escalas do Museu Mariano Procópio.
Os jardins que a priori tinham uma função importantíssima e desenvolviam um papel de
protagonistas na história do Museu, com o tempo, passaram a ser vistos apenas como uma
“moldura” das edificações implantadas no topo do terreno. Sua conservação inadequada, sua
atuação como coadjuvante na formação paisagística e a pequena valorização dos mesmos
contribuíram para a perda da unidade, essa, vista como essencial pelo seu projetista, o
paisagista Auguste Marie Franciscque Glaziou. Por fim, cabe dizer que, desde a efetivação
deste conjunto como um bem público, nas primeiras décadas do século XX, tanto em relação
ao conjunto edificado, quanto ao seu entorno imediato composto pelos jardins, foram feitas
ações de restauração, mais ou menos criteriosas. A mais recente, em 2014, que permanece
em andamento, ainda sem previsão da sua conclusão, cujo dossiê aqui relatado contribui, no
sentido da reintegração das propriedades divididas. Vale ressaltar ainda que, esta
reintegração, recupera a intenção do proprietário, no caso o próprio herdeiro Alfredo Ferreira
Lage, de que o uso da propriedade, como um todo, tivesse fins culturais. O indevido uso militar
de uma das propriedades se coloca, assim, como um verdadeiro contra-senso para a cidade,
tendo em vista a singularidade deste conjunto e a sua condição de patrimônio cultural,
protegido no âmbito nacional.
O CONJUNTO HISTÓRICO E PAISAGÍSTICO NA ATUALIDADE
O Conjunto Paisagístico do Museu Mariano Procópio está inserido na malha urbana da cidade
de Juiz de Fora, em uma área de 78.240 metros quadrados, contrastando com o ambiente de
intensa urbanização que o cerca. Em seu entorno encontram-se unidades residenciais,
verticalizadas ou não, como a antiga Estação Ferroviária e o que restou do seu conjunto, a
fábrica Ferreira Guimarães, ou melhor, o que restou deste conjunto fabril, as praças Agassis
e Mariano Procópio e, ainda, a 4ª Brigada de Infantaria Motorizada instalada, nas edificações
e jardins, como continuidade e parte do próprio Museu. Além destas referências, em um dos
lados o Museu tem o curso do Rio Paraibuna, interrompido por via arterial, a Avenida Brasil.
Aberto à visitação pública em 1915, o Museu Mariano Procópio só foi oficialmente inaugurado
no dia 23 de junho de 1921, data coincidente à celebração do centenário de nascimento do
comendador Mariano Procópio Ferreira Lage (1821/1872), como mencionado, o idealizador e
empreendedor da primeira estrada de rodagem macadamizada do Brasil, a “Rodovia União e
Indústria”, ligando Petrópolis a Juiz de Fora.
A ampliação do acervo de Alfredo Ferreira Lage levou à construção de um anexo à “Villa”, o
Edifício Mariano Procópio, inaugurado em 13 de maio de 1922. Estima-se que este anexo
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seja a primeira edificação brasileira construída com finalidade de ser museu, possuindo dentre
suas peculiaridades um lanternim cujo esboço é de Rodolpho Bernardelli.
Outra importante edificação que compunha as propriedades dos Ferreira Lage, era o Palacete
construído por Frederido Lage, inserido em meio aos jardins cuidadosamente projetados,
componto a paisagem daquela gleba. Em 1912, passou a pertencer a Estrada de Ferro
Central e, posteriormente, ao Ministério da Guerra que se instalou na 4ª Região Militar.
O desejo de tornar o Museu patrimônio da comunidade, conforme Alfredo Ferreira Lage havia
anunciado em 1921, foi formalizado em 29 de fevereiro de 1936, com a doação do Museu,
seu acervo e seu parque ao Município. Para o fiel cumprimento da doação, criou-se o
Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio, o qual vem atuando como guardião da
instituição e, é responsável pela indicação do diretor, através de lista tríplice enviada para
escolha do Prefeito Municipal.
O parque do Museu possui, na atualidade, uma variedade de espécies que predominam em
seu ambiente como uma composição vegetal, além da fauna que encanta pelo seu aspecto
singular, desde diversos tipos de aves, insetos, aranhas, borboletas e mamíferos até as
espécies vegetativas, que contemplam rosas, lírios, jasmins do imperador, bambus,
orquídeas, palmeiras, sapucaias, jatobás, braúnas, jacarandás, cedro, jaqueiras, ipês,
jacarés, dentre outras tantas. Já em seu interior o espaço contempla diversos setores. Logo
Figuras 03 e 04: Fotos aéreas de diferentes épocas do Conjunto do Museu e seu entorno. A primeira da
esquerda para direita trata-se de um cartão postal do ano de 1939 e, a segunda, realizada já na década
de 1980. Fonte: Acervo Pessoal de Ramon Brandão e Acervo do Museu Mariano Procópio.
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na face frontal do parque encontra-se um espelho d’água, constituído por 5 ilhas, sendo a ilha
central composta por um bambuzal - que para o paisagista e botânico Auguste Marie
Francisque Glaziou, imitaria um vaso de flores saindo do lago - e habitado por diversas
espécies animais e vegetais.
O CONJUNTO URBANO E PAISAGÍSTICO E O SEU ENTORNO
A área de entorno ao conjunto do Museu é caracterizada por edificações de uso diversificado.
Como mencionado, em um dos lados do conjunto temos o curso do Rio Paraibuna. Do outro
lado, a Estação Ferroviária e os seus anexos, que ainda permanecem, tendo sido demolidos,
recentemente, parte do conjunto ferroviário. Nas outras divisas predomina o uso residencial
uni e multifamiliar, além de usos mistos, ou seja, comercio no pavimento térreo e residência
nos demais pavimentos, em sua grande maioria, como constatado nos mapeamentos de
gabarito e uso realizados. Percebeu-se que grande parte das edificações não possui
afastamento frontal e ressalta-se o equilíbrio entre os gabaritos das edificações, apresentando
entre 2 a 3 pavimentos, fato que contribui de maneira significativa para a preservação da
ambiência da área de estudo. De um dos lados do conjunto, no entanto, foi construída série
de edifícios altos residenciais que interferem na visibilidade do bem cultural.
As vias urbanas da área analisada apresentam uma hierarquia bem definida e de fluxos
intensos. O conjunto é recortado por avenidas de grande porte que alimentam o centro da
cidade e conectam aos bairros mais afastados. Os pedestres circulam em alguns trechos em
passeios acima de 2 metros, sendo em outros trechos larguras menores que 2 metros.
Constata-se também a ausência de passeios e faixas de pedestres, como na travessia da
linha férrea que corta a Avenida dos Andradas, ao lado da Estação Ferroviária Mariano
Procópio, que poderiam orientar e garantir a segurança dos pedestres no acesso ao conjunto
do Museu.
A área em estudo tem sua implantação no bairro de mesmo nome, Mariano Procópio,
homônimo do Museu em questão e a área levantada está inserida na Região de Planejamento
Centro, pela análise física e socioeconômica do Plano Diretor, Lei n° 09811 datada em 27 de
junho de 2000, atualmente em revisão. Essa Região de Planejamento situa-se no Vale do Rio
Paraibuna, em sua parte mais ampla, onde historicamente ocorreram as primeiras ocupações
da cidade.
No perímetro do bairro Mariano Procópio identificam-se 3 regiões de preservação ambiental
– A Mata do Krambeck, o Jardim Histórico tombado do Museu Mariano Procópio e a Mata do
Morro do Imperador - que são cruciais para toda a cidade de Juiz de Fora.
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A região de Planejamento Centro compõe-se de seis áreas de planejamento que englobam
vinte e quatro bairros, os quais são considerados o “coração” de Juiz de Fora. Apresenta
grandes concentrações de população e de atividades, e é marcada pela heterogeneidade
tanto em termos demográficos quanto sob a ótica do nível de renda e de funções.
Especificamente no perímetro do bairro Mariano Procópio, observa-se grandes eixos
estruturadores que cumprem função de corredor de comércio e de tráfego urbano,
apresentando uma ocupação predominantemente residencial com edificações de pequena
volumetria, sobressaindo no tecido urbano do bairro a grande mancha do perímetro
institucional do conjunto do Museu. Apresenta ainda padrões socioeconômicos médios, boa
infraestrutura básica, boa rede pública de ensino e conta com a presença de uso comercial e
industrial.
Um ponto abordado no Plano Diretor Municipal, diz respeito aos instrumentos de revitalização
do “Eixo Paraibuna” que cumpre o papel de estruturador original da ocupação urbana,
consagrada com a implantação histórica do “Caminho Novo” e da rede rodo-ferroviária que o
acompanha. Os estudos do “Eixo Paraibuna” demonstraram a existência de trechos
diferenciados, sendo destacados, de sudeste para noroeste distintos aspectos. Dentre tais
trechos, ressalta-se a importância do trecho 3, que compreende a Praça Agassis, no Bairro
Mariano Procópio até Corredor da Av. Rui Barbosa no bairro Santa Terezinha.
No que diz respeito as “Diretrizes referentes ao desenvolvimento, proteção e recuperação dos
patrimônios ambiental, paisagístico e cultural da cidade”, o Plano Diretor de Juiz de Fora
expõe diretrizes com o intuito de desenvolver, proteger e recuperar os elementos patrimoniais
do município. Em especial, sobre o patrimônio cultural e paisagístico o Plano institui o estímulo
de projetos, incentivos e atividades que visem preservar o patrimônio, como também apoia as
instalações de atividades comerciais e ou, de serviços que possibilitem a preservação do bem
tombado. Além disso, estabelece critérios para o uso dos bens tombados, promove a
desobstrução visual da paisagem e dos conjuntos de elementos de interesse histórico e
arquitetônico e, fomenta a conscientização da população quanto aos valores do patrimônio
cultural e/ou paisagístico do município, através de programas educacionais e de divulgação
nas escolas e pelos meios de comunicação.
O Perímetro em questão é composto por vias de valor ímpar na formação morfológica e
histórica do munícipio como a Avenida Brasil, a Avenida Rio Branco e a Rua Mariano
Procópio. Tratam-se de vias de fluxo intenso e médio, respectivamente. A Avenida Brasil por
exemplo, funciona como via arterial, expressa, para um tráfego rápido e de carga e um outro
lento em função de atividades lindeiras, sobrecarregado pela carência de vias coletoras.
Funciona também como corredor viário de tráfego proveniente da Zona da Mata com destino
ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Devido a essas características, são
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predominantes os usos comercial, de serviço e lazer ao longo da via, como revendedoras de
carros, lojas de peças e acessórios, materiais de construção, postos de abastecimento,
supermercados, oficinas mecânicas, clubes de recreação e equipamentos institucionais.
Apresentando-se duplicada neste setor, representa a principal via estruturante do Município,
razão da importância de resguardá-la de forma a cumprir, sem grandes conflitos, o papel que
lhe cabe.
A Rua Mariano Procópio é a via onde se insere o Museu Mariano Procópio, situada na zona
nordeste de Juiz de Fora a mesma desempenha uma função de via local, visto que seu fluxo
de veículos é menos intenso que as vias citadas acima. Desempenha o papel de
direcionadora de fluxo da região central para os bairros.
Os edifícios vinculados à linguagem Eclética ainda presentes no bairro Mariano Procópio, são
exemplares que restam desse momento arquitetônico vivenciado naquela região. Eles nos
fornecem indícios de proprietários de nacionalidade italiana e árabe numa área
predominantemente alemã, em suas origens. Além disso, estão construídos em áreas cujas
imediações passaram por reestruturação urbana, como aterros, seja aquele empreendido por
Carlos Barbosa Leite e Bertoldi, sejam as modificações pelas quais as áreas próximas ao rio
Paraibuna foram submetidas, para reorientação do seu leito.
A formação urbana no bairro, no tocante à sua organização espacial e tipológica, retrata o
momento de expansão econômica e corrida imobiliária vivenciada na época e representam,
portanto, exemplares únicos em Mariano Procópio, que já se fazia evidente no centro
comercial do município. Eles marcam uma nova fase ao coexistirem com as chácaras
remanescentes e as vilas operárias vinculadas à imigração alemã.
As ruas de Mariano Procópio abrigaram variedades étnicas, como as compreendidas no
entorno da Rua da Gratidão, hoje Avenida dos Andradas. Lá funcionaram, em 1898: o Colégio
Americano Granbery, Externato Alemão para o sexo masculino, Escola do Professor Antônio
Ministério, Sociedade Beneficente Brasileira‐Alemã, Prado Juiz de Fora, ponto de recreio,
Correeiro e seleiro, Casa Mineira, etc.
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Algumas ações e acontecimentos relatados aqui, fizeram do bairro Mariano Procópio um
pioneiro no desenvolvimento da então Manchester Mineira, com a construção da Villa Ferreira
Laje em 1861 que posteriormente em 1915 transformou‐se no Museu Mariano Procópio por
intermédio de seu filho Alfredo Ferreira Laje, da fábrica de tecidos dos ingleses ‐ Ferreira
Guimarães ‐, as cervejarias Palermo e José Weiss já mencionadas, o Laticínio Estrela Branca,
a estação da RFFSA, a sede da 4ª Região Militar, e mais fábricas de papel nesse contexto.
Figura 05: Mapa de identificação dos bens de interesse cultural em parte do entorno imediato do Museu
Mariano Procópio. Fonte: Urbanismo.mg/Dossiê Conjunto.
Figuras 06 e 07: Fotos do cruzamento da Rua Mariano Procópio com a Avenida dos Andradas e a
passagem de nível da via férrea; Conjunto Férreo e Estação Mariano Procópio, defronte à entrada do
Parque homônimo. Fonte: Urbanismo.mg/Dossiê Conjunto.
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O CONJUNTO URBANO E PAISAGÍSTICO : A IMPORTÂNCIA DA
PRESERVAÇÃO
O cenário urbano de Juiz de Fora, palco de intensa renovação e sobreposições de tempos
distintos, carece de um olhar voltado para a história e para a manutenção de seus diferentes
momentos desde sua origem até a atualidade, buscando a valorização das referências que
sustentem a autenticidade desta paisagem e de seus elementos constitutivos.
A intensa transformação da região, em especial as novas ocupações que desqualificam o
espaço urbano, fragilizam a sua integridade cultural, tornam vulneráveis as referências deste
espaço e, vêm comprometer o que ainda resta da história contada pelos vestígios materiais
existentes. Neste sentido, as iniciativas e ações para a proteção do patrimônio cultural não
são suficientes para a adequada permanência dos bens de interesse cultural.
Conforme mencionado, anteriormente, a antiga “Quinta do Comendador Mariano Procópio”,
hoje composta pelo complexo da Villa Ferreira Lage, o Jardim histórico do século XIX e o
edifício do Museu Mariano Procópio, representa um importante espaço cultural da cidade de
Juiz de Fora e símbolo da memória histórica e artística do Brasil. Este conjunto tem no seu
acervo, documentação singular que revela parte da cultura do século XIX e princípio do século
XX, selecionadas de modo criterioso por Alfredo Ferreira Lage. Vale dizer que tal acervo
compõe um dos principais registros do período imperial brasileiro, além de conteúdos
específicos da história da formação urbana da cidade de Juiz de Fora.
A dinâmica da transformação das cidades gera perdas de vestígios do passado, com a
substituição de importantes elementos tradicionais por novos referenciais que, muitas vezes,
não permitem o diálogo entre os vários tempos da cidade. Estas alterações não têm agregado
valor às cidades, com as mudanças pensadas mais em termos de quantidade do que de
qualidade em termos arquitetônicos e urbanísticos, aliado ao intenso uso do automóvel em
prejuízo dos pedestres. O que se coloca como desenvolvimento urbano para alguns
representa, na verdade, uma ameaça à integridade das áreas urbanas de interesse de
preservação. Tais áreas configuram-se como conjuntos históricos e paisagísticos e, devem
ser preservadas, conforme ressaltado em cartas patrimoniais e resoluções geradas a partir
de conferências da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultural
(UNESCO) pois, “fazem parte do ambiente cotidiano dos seres humanos em todos os países”,
“constituem a presença viva do passado” e “constituem através das idades os testemunhos
mais tangíveis da riqueza e da diversidade das criações culturais, religiosas e sociais da
humanidade” (CURY, 2000, p. 1). Assim, conforme a recomendação relativa à salvaguarda
dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea, redigida na Conferência Geral
da Unesco, em sua 19ª sessão em Nairóbi, no ano de 1976, considera-se conjunto histórico
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ou tradicional todo agrupamento de construções de espaços, inclusive os sítios arqueológicos
e paleontológicos, que constituam um assentamento humano, tanto no meio urbano quanto
no rural e cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista arqueológico, arquitetônico,
pré-histórico, histórico, estético ou sóciocultural. Entre esses “conjuntos”, que são muito
variados, podem-se distinguir especialmente os sítios pré-históricos, as cidades históricas, os
bairros urbanos antigos, as aldeias e lugarejos, assim como os conjuntos monumentais
homogêneos (CURY, 2000, p.3).
A gestão do Conjunto aqui abordado como bem de interesse cultural, revela-se como
importante ação referencial para o município de Juiz de Fora e região e, a conservação do
mesmo ao longo do tempo se coloca como parte essencial para uma adequada permanência
da memória e da identidade do município. Neste sentido, consideramos ainda a participação
da sociedade como fundamental uma vez que, conforme destaca Aloísio Magalhães, “… a
comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio” (MAGALHÃES, A.). Com esta premissa,
vale dizer, em termos de interesse social, “[…] do seio de cada comunidade pode e deve
surgir a voz de alarme e a ação vigilante e preventiva […]” (IPHAN, 1967, p. 9) para a
preservação do patrimônio cultural. Assim, em todo processo, deve ser considerada a
participação efetiva e a colaboração das comunidades como representantes da coletividade
na valorização deste patrimônio.
Finalmente, entendemos como aspecto relevante para a conservação de maneira contínua
do patrimônio elencado, a realização de ações de conhecimento sobre a política de patrimônio
cultural do município, bem como medidas para a educação patrimonial, voltadas para o
conhecimento do conjunto paisagístico, de seus elementos constitutivos e a importância do
mesmo, enquanto marco referencial para a história do município.
O CONJUNTO URBANO E PAISAGÍSTICO : JUSTIFICATIVAS PARA
A REINTEGRAÇÃO DO JARDIM HISTÓRICO
A significativa importância cultural desta área para o município de Juiz de Fora, bem como
para o estado de Minas Gerais foi constatada pelos estudos para a elaboração do dossiê aqui
mencionado. Neste sentido, se coloca a região que engloba o Museu Mariano Procópio e os
seus jardins pensados no contexto da formação da cidade e dos próprios bairros no entorno.
Este conjunto revela um importante papel social evidenciado pelo significado que assume na
paisagem da cidade, fundamental para a manutenção da memória e identidade de sua
população. As diretrizes urbanísticas que incluem a reintegração da área do Jardim Histórico
foram pensadas, considerando a necessidade de levar às gerações futuras esta referência
como suporte de ampla significação social, cultural e urbana.
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O Jardim Histórico do Museu Mariano Procópio engloba a propriedade original dos Ferreira
Lage, composta pelo Parque, pela antiga Villa, pelo edifício do Museu, incluindo a partir do
exposto aqui, o Palacete construído por Frederico Ferreira Lage e seus jardins (antiga
Chácara hoje ocupada pela 4a. Brigada), possibilitando a reintegração física dos jardins, que
apresentam ainda as feições originais. Ademais, o conjunto incide também sobre a Estação
Ferroviária Mariano Procópio, parte importante da história de seu fundador e de formação da
região, que hoje complementa a paisagem de forma consolidada.
De acordo com Berque (1997), a consciência da paisagem nasce na poesia e na pintura, da
observação e compreensão da própria natureza a qual conduz o modo de agir sobre ela.
Assim ao observar a beleza e a dinâmica da natureza e respeitá-la, há um reflexo na
paisagem, o que significa não haver paisagem sem o sentimento-paisagem. Cada paisagem
desvela uma cultura de conteúdo material e imaterial, de formas visíveis e invisíveis, a
dimensão cultural (FERRIOLO, 2007, p. 44). Esta dimensão caracteriza a paisagem, desde
as construções até o patrimônio intelectual ali mantido. Entre essas paisagens que retêm
valores culturais e patrimoniais e precisam ser protegidas em Juiz de Fora, estão os jardins
da Quinta do Comendador Ferreira Lage, hoje parte dos jardins pertence ao Museu Mariano
Procópio e outra ao exército Brasileiro.
Figura 08: Mapa com a proposta sobre os limites do Jardim Histórico do Museu Mariano Procópio Fonte:
Urbanismo.mg/Dossiê Conjunto.
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Conforme o Prototipus de Catàlog de Paisatge (2006) jardins são percebidos como unidades
de paisagem, o que representa uma porção do território que caracteriza combinações
específicas de componentes sociais e físicos constituídos ao longo da história com dinâmica
própria, atrelados, também, ao sentimento de pertencimento da população com o local. Esses
recortes significativos retêm atributos e valores a serem preservados porque perpetuaram, ao
longo , do tempo, as ações primitivas do homem na paisagem natural, no sítio, com
determinado tipo de constituição física. Segundo Torres (2003), espaços livres como estes
são ainda espaços urbanos ao ar livre, destinado a vários tipos de utilizações como
caminhadas, passeio, descanso, recreação e entretenimento. Um tipo especial desses
espaços são as áreas verdes, cujo diferencial fundamenta-se na introdução da vegetação e
na satisfação de três concepções fundamentais: ecológico-ambiental, estético e lazer
(CAVALHEIRO et al. 1999).
Em documentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, que disponibilizam orientações
como as constantes das Cartas Patrimoniais, que dentre outros, são utilizadas como
referenciais para a pesquisa e no direcionamento de ações de conservação sobre o
patrimônio cultural, a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, cultural e natural,
de 1976, que reúne elementos de proteção e preservação, na consideração sobre o
patrimônio cultural define como conjunto:
“… […] Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitetura,
unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da
história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse – Obras do homem, ou obras conjugadas
do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um
valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.”
(UNESCO, 1972, p. 2).
Assim sendo, e reconhecendo sua importância perante a cidade, o Conjunto Histórico e
Paisagístico Mariano Procópio, deve ter os olhares voltados para si, a fim de destacar sua
importância enquanto conjunto, possuidor de uma unidade arquitetônica e integração
paisagística, detentor de um significativo valor cultural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de conclusões, vale dizer que as diretrizes para a gestão do Jardim Histórico do
Museu Mariano Procópio baseiam-se em critérios para a intervenção em bens culturais
protegidos por tombamento, contidos em documentos e orientações nacionais e
internacionais, que norteiam as ações a serem adotadas. A partir das características da
paisagem urbana, sua relação com os referenciais construídos e as tipologias arquitetônicas
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identificadas no conjunto, as diretrizes têm o objetivo de proporcionar uma efetiva manutenção
da ambiência do patrimônio cultural e, por conseguinte, da memória e da identidade juiz-
forana, considerando também a sua repercussão em termos nacionais.
Em relação às áreas referentes ao Perímetro de Tombamento definido, deve-se preservar
tanto as características formais quanto a distribuição espacial do conjunto arquitetônico
Mariano Procópio, inclusive as relações entre os espaço edificados e livres, uso do solo e
espaço aéreo. Para tanto, as intervenções devem ter o caráter conservativo, e no caso do
conjunto protegido, a possibilidade da restauração, quando necessário, de acordo com os
princípios e critérios no âmbito das teorias, bem como nas normativas em escala municipal e
nacional.
Elencamos nos quadros de edificações de interesse cultural uma diversidade de bens imóveis
que exigem atenção especial quanto a possíveis intervenções e, destacamos aqui que,
grande parte destes devem ser protegidos individualmente, além daquela em conjunto, por
sua especial natureza arquitetônica e histórica para o bairro e município de Juiz de Fora.
Foram definidas diretrizes relativas aos limites do Jardim Historico considerando que as obras
do conjunto devem ter o caráter conservativo, e restaurativo quando de necessidade
administrativa, sendo indispensável a prospecção arqueológica histórica na área tombada
pelo IPHAN conforme portaria, e perímetro descrito para qualquer nova intervenção. No caso
de construção, a nova edificação ou anexo às existentes, deve buscar adequação com o
conjunto, de maneira a minimizar eventuais impactos, físico, ambiental e paisagístico sobre a
área e conjunto tombado.
Ainda, foram definidas diretrizes para a área relativa ao entorno imediato do Jardim Histórico
não sendo permitidas quaisquer intervenções que provoquem a alteração sem critérios do
patrimônio arquitetônico, urbano e paisagístico. Neste sentido, a integridade do sítio protegido
por tombamento dever ser preservada. E esta preservação envolve a ambiência do conjunto
para o qual se prevê a realização de um estudo de cone visual, a partir de diferentes pontos
do Jardim Histórico. Estas diretrizes de intervenção na área de entorno do Conjunto
Arquitetônico e Paisagístico do Museu Mariano Procópio protegido por tombamento pelo
IPHAN, foram definidas considerando os conceitos de vizinhança ou ambiência do bem
tombado.
A elaboração do dossiê se coloca como oportunidade sem igual para a aplicação das teorias
do restauro e da conservação, numa via de mão dupla, da sala de aula para os trabalhos de
campo. O contato direto com as obras de restauração em andamento, as visitas guiadas, os
visitantes internacionais e os eventos paralelos permitiram aproximações que se colocam
como um salto conceitual para o grupo. O trabalho, ainda em fase de revisão e de discussões
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para a sua implementação, segue, consolidado até aqui, neste difícil momento que
atravessamos no país. É o que nos cabe até aqui para a divulgação desta experiência, que
certamente, acreditamos, terá continuidade …
REFERÊNCIAS
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JUIZ DE FORA. Processo de Tombamento da Prefeitura de Juiz de Fora: 03650. Ano: 1982. Interessado: IPPLAN. Assunto: Comissão Técnico Cultural – LE I N 6108 de 13-01-82 -Tombamento do Museu e Parque Mariano Procópio.
JUIZ DE FORA. Processo de Tombamento da Prefeitura de Juiz de Fora: 005321. Interessado: IPPLAN. Assunto: CPTC – LEI Nº7282 – Imóvel à rua Mariano Procópio nº970 - 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, 1997.
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