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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
(PUC-SP)
Rosana Cristina Januário do Nascimento
Rupturas conjugais motivadas pelo alcoolismo:
Uma aproximação às ações de apoio à família do alcoolista
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
(PUC-SP)
Rosana Cristina Januário do Nascimento
Rupturas conjugais motivadas pelo alcoolismo:
Uma aproximação às ações de apoio à família do alcoolista
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação da professora doutora Regina Maria Giffoni Marsiglia
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2014
A todas as mulheres, esposas ou companheiras
de alcoolistas, com o desejo sincero de
que possam viver a verdadeira serenidade.
AGRADECIMENTOS
A Deus, porque “[...] tudo o que tenho, tudo o que sou, e o que vier a ser vem de ti
Senhor”. (Trecho da canção Vem de Ti Senhor – Diante do Trono).
À minha mãe, querida amiga, companheira, cuidadora, que sempre acreditou em
mim, me encorajando e incentivando para que eu não desistisse. Seu exemplo de fé,
garra e determinação me ajudaram a chegar até aqui.
Ao meu pai, por amar meus filhos, se fazendo presente quando eu não podia estar
por perto.
À minha filha, que nos momentos mais difíceis da realização deste trabalho suportou
minha ausência e a falta de respostas às suas perguntas: “Mamãe, quando você era
criança, brincava com massinha de modelar?” “Você sabe fazer biscoitos?”. E
também por cantar em meus ouvidos, enquanto estava debruçada nas análises de
conteúdo: “Neném sem chupeta, Romeu sem Julieta, sou eu, assim, sem você...”.
Ao meu filho, que também esperou o meu retorno e por todas as vezes em que
interrompeu suas aventuras no Playstation 3 para me socorrer nos afazeres
domésticos, nos assuntos de informática e até para ouvir meus desabafos e, do seu
jeito adolescente de ser, dizer: “Relaxa mãe”.
Ao meu marido, pela oportunidade de recomeço de uma vida sóbria, ainda que “só
por hoje”.
Aos meus irmãos, por me proporcionarem momentos tão alegres, e por suas
palavras de encorajamento. É sempre muito bom tê-los por perto.
À minha cunhada, que me emocionava sempre com a forma vibrante como recebia
minhas notícias sobre meu progresso no mestrado.
À minha amiga Elisangela Mazuelos, pelo incentivo, apoio e pela compreensão
dessa etapa da minha vida.
Aos colegas que conheci durante esta caminhada que, de alguma maneira,
colaboraram, ora com conhecimento, ora dando força e apoio. Muitas pessoas
passaram por meu caminho, durante esse tempo, e agradeço a todas elas.
Aos professores que, durante o curso, tive o prazer e a honra de conhecer, e que
ajudaram a ampliar meus conhecimentos, abrindo-me novos horizontes, que me
possibilitaram realizar esta pesquisa.
À professora Dra. Regina Marsiglia, minha orientadora, que me privilegiou com seu
conhecimento, sua experiência e amizade, por acreditar que esse trabalho daria
certo, me animando e encorajando a fazer “mergulhos mais profundos”.
Aos entrevistados que abrilhantaram a pesquisa com seus depoimentos, suas ricas
histórias de vida, da maneira mais gentil e solícita.
Oração da Serenidade
Deus, concedei-me a Serenidade
para aceitar as coisas
que não posso modificar, Coragem
para modificar aquelas
que posso, e Sabedoria para
perceber a diferença.
RESUMO
A presente dissertação de mestrado tem o objetivo de analisar os programas de
atenção à família do alcoolista existentes no distrito de São Miguel, bem como
identificar a abrangência da cobertura dos atendimentos, sua eficácia e
acessibilidade. Os primeiros passos investigativos da pesquisa se deram no Núcleo
de Prática Jurídica (NPJ) da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), em São Paulo,
a partir da observação da demanda cotidiana nos atendimentos do Serviço Social,
quando diariamente mulheres de alcoolistas procuram o espaço sociojurídico para
ingressarem com ações de divórcio, indicando como um dos motivadores da ruptura
conjugal o alcoolismo. A metodologia utilizada foi a Pesquisa Ação feita com os
seguintes instrumentos: Pesquisa bibliográfica sobre a temática; pesquisa
documental sobre a política antidrogas da Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas (Senad); revisão sistemática de artigos na base de dados do Scielo;
levantamento de recursos socioassistenciais; entrevista semiestruturada com os
responsáveis pelos recursos locais; formação de grupo focal; e depoimentos de
mulheres atendidas pelo Serviço Social no NPJ, com demanda por assessoria para
divórcio de seus parceiros alcoolistas. A pesquisa documental indicou, através da
legislação sobre álcool e drogas, a importância do desenvolvimento de ações de
atenção à família do alcoolista. Com a revisão sistemática identificou-se a ausência
de produções na área do Serviço Social sobre a temática família e alcoolismo. O
levantamento de recursos socioassistenciais permitiu identificar os serviços no
território objeto da pesquisa e as entrevistas semiestruturadas ampliaram a
compreensão acerca do cotidiano desses serviços. O grupo focal e os atendimentos
individuais proporcionaram contato com a vivência das mulheres de alcoolistas,
revelando um universo muito contraditório. A pesquisa nos conduziu a aprofundar o
conhecimento sobre o alcoolismo e sua repercussão na família.
Palavras-chave: Atenção; Família; Alcoolista.
ABSTRACT
This dissertation has the objective of analyzing the Program of Attention to the
Family of an Alcoholic which is located in São Miguel township and indentify its
comprisement of coverage of care, its efficiency and accessibility as well. The firsts
investigation steps of this research occurred in the “Núcleo de Prática Jurídica
(NPJ)” of the University Cruzeiro do Sul in São Paulo (Unicsul), from the observation
of daily demand service of Social Service, when daily wives of alcoholics men seek
social legal space to join with divorce actions , one of the reasons for marriage
rupture: the alcolism. The methodology used in the research was “Action Research’’.
It was also utilized the following research tools: bibliographic research on thematic,
documental research about anti drugs politics of National Secretary for Alcohol and
Drugs (Senad), systematic review of articles in the database of Scielo, raising social
assistance resources, semi-structured interview with the local resources responsible,
Group Focus and woman attended testimony by Social Service on NPJ, with demand
for advice to divorce of their alcoholic partner. The documental research presents
through the legislation about alcohol and drugs, the importance about developing
actions of alcoholic family attention. With the systematic review we identified the
absence of productions in the area of social services about the thematic “family and
alcoholism’’. The social fundraising assistance allowed us to identify the services in
the area where the research has been done and the semi-structured interview
expanded our comprehension about the daily life of these services. The focus group
and individual assistance approached us from experiences of alcoholics wives,
revealing us a very contradictory universe. The research conducted us to deep our
knowledge about alcoholism and its repercussion in the family.
Keywords: Attention; Family; Alcoholic.
SIGLAS E ABREVIATURAS
AA Alcoólicos Anônimos
AL-Anon Grupo de Apoio aos Familiares e Amigos do Alcoolista
BPE Beber Pesado Episódico
BP Beber Pesado
Caps-AD Centro de Assistência Psicossocial, Especializado no Atendimento de Dependentes de Álcool e Drogas
Cebrid Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
CF Constituição Federal
CID Classificação Internacional de Doenças
Coda Codependentes Anônimos
Cras Centro de referência da assistência Social
Cratod Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas
DSM -IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
GF Grupo Focal
Grea Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Álcool e Drogas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Mada Mulheres que Amam Demais
NOB/Suas Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
NPJ Núcleo de Prática Jurídica
Proad Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes
Smads Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social
Senad Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Uniad Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
Unicsu Universidade Cruzeiro do Sul
Unifesp Universidade Federal de São Paulo
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Figura 1 – Mapa do IPVS dos distritos da subprefeitura de São ....................... 47
Figura 2 – Mapa da rede de serviços socioassistenciais no município de
São Paulo .......................................................................................... 48
Figura 3 – Organograma do NPJ ....................................................................... 53
Quadro 1 – Impactos da codependência na família. São Paulo, 2014 .............. 31
Quadro 2 – Abordagem dos estudos por área técnica (SCIELO, 2013) ............ 37
Quadro 3 – Principais descritores e palavras-chaves listados nos estudos
(SCIELO, 2013) ............................................................................... 39
Quadro 4 – Títulos analisados (SCIELO, 2013) ................................................ 40
Quadro 5 – Ano de publicação dos artigos (SCIELO, 2013) ............................. 40
Quadro 6 – Local dos estudos (SCIELO, 2013) ................................................ 42
Quadro 7 – Objetivos dos estudos (SCIELO, 2013) .......................................... 42
Quadro 8 – Características do distrito de São Miguel/SP, 2013 ........................ 45
Quadro 9 – Serviço socioassistenciais no território. São Miguel/SP, 2013........ 49
Quadro 10 – Presença de idosos no território.São Miguel/SP, 2013 .................. 49
Quadro 11 – Rendimento pessoal. São Miguel/SP, 2013 ................................... 50
Quadro 12 – Média de renda mensal.São Miguel/SP, 2013 ............................... 50
Quadro 13 – Serviços de atenção ao alcoolista e à família na cidade de São
Paulo, 2013 .................................................................................... 55
Quadro 14 – Recursos no Distrito de São Miguel/SP, 2013 ............................... 55
Quadro 15 – Objetivo dos serviços I ................................................................... 56
Quadro 16 – Objetivo dos serviços II .................................................................. 57
Quadro 17 – Resultados da entrevista – Pastoral da Sobriedade ...................... 58
Quadro 18 – Resultados da entrevista – Al-Anon ............................................... 59
Quadro 19 – Caracterização do grupo focal ....................................................... 61
Quadro 20 – Eixo 1 – Divórcio ............................................................................ 62
Quadro 21 – Eixo 2 – Alcoolismo ........................................................................ 64
Quadro 22 – Eixo 3 – Família de origem I ........................................................... 65
Quadro 23 – Eixo 3 – Família de origem II .......................................................... 66
Quadro 24 – Eixo 3 – Ajuda / Tratamento ........................................................... 66
Quadro 25 – Eixo 5 – Tempo de permanência no casamento ............................ 67
Quadro 26 – Eixo 6 – Novo relacionamento I ..................................................... 68
Quadro 27 – Eixo 6 – Novo relacionamento II .................................................... 69
Quadro 28 – Filhos advindos do casamento com o alcoolista ............................ 70
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
OBJETIVOS ....................................................................................................... 18
METODOLOGIA ................................................................................................ 19
CAPÍTULO I
FAMÍLIA, ALCOOLISMO E POLÍTICAS PÚBLICAS: REVISÃO SISTEMÁTICA
NA BASE DO SCIELO....................................................................................... 27
1.1 Família, Alcoolismo e Codependência ..................................................... 27
1.1.1 De que família estamos falando? .................................................. 27
1.1.2 Família e alcoolismo ....................................................................... 29
1.1.3 A codependência ............................................................................ 29
1.2 Política Nacional Sobre Drogas e Álcool – Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas (Senad) ................................................................ 32
1.2.1 Atenção às famílias dos dependentes .......................................... 34
1.2.2 Alcoolismo e padrões de consumo ............................................... 35
1.2.2.1 Padrões de Consumo do Álcool .................................................... 36
1.3 Apoio à Família do Alcoolista - Revisão Sistemática de Artigos
no Scielo ..................................................................................................... 37
1.3.1 Mapeamento dos dados ................................................................. 37
1.3.2 Alcoolismo: foco na atenção à família .......................................... 39
1.3.3 Local de produção dos artigos ...................................................... 41
1.3.4 Objetivos dos estudos .................................................................... 42
CAPÍTULO II
RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO ..................................................... 44
2.1 Cenário da Pesquisa: Distrito de São Miguel - São Paulo/SP ................ 44
2.1.1 Área geográfica ............................................................................... 44
2.1.2 Breve histórico de São Miguel ....................................................... 45
2.1.3 O território na contemporaneidade ............................................... 46
2.1.4 Serviços e entidades socioassistenciais do Distrito
de São Miguel .................................................................................. 49
2.2 A Universidade Cruzeiro do Sul no Território .......................................... 50
2.3 Assistência Jurídica e Serviço Social ...................................................... 51
2.3.1 O núcleo de prática jurídica da universidade Cruzeiro do Sul ... 53
2.3.2 Características da demanda .......................................................... 54
2.4 Objetivos dos Serviços Socioassistenciais ............................................. 56
2.5 Resultados das Entrevistas Semiestruturadas com Responsáveis por
Serviços e Entidades da Sociedade Civil, no Distrito de São Miguel/SP .... 57
2.6 Grupo Focal com Mulheres de Alcoolistas .............................................. 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ......................................... 71
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 76
ANEXOS ............................................................................................................ 79
14
INTRODUÇÃO
Profissionalmente, como assistentes sociais, somos colocados muito
próximos daquilo que é essencial na nossa vida, que é a possibilidade de
construção coletiva e da intervenção no próprio tecido social.
(MARTINELLI, 2005)
O interesse por pesquisar os programas de atenção à família do alcoolista1
decorreu de minha própria história de vida e inserção profissional.
O primeiro contato com o alcoolismo se deu há muito tempo... Durante a
infância, convivi com algumas crianças, filhas de pais alcoolistas, e lembro-me bem
de algumas expressões de tensão, medo, apreensão, com a expectativa da chegada
do pai em casa, ocasião que poderia trazer agressão física, ou verbal, humilhação e
vergonha. Mães incompletas, frustradas, algumas bebiam com seus companheiros;
outras sofriam.
Não posso negar, e não quero negar que eu era uma daquelas crianças.
[...] lembro-me de minha infância e de momentos em que meu pai bebia muito e chegava em casa bem alterado pelo álcool. (Margarida, Grupo Focal, setembro de 2013).
Relatos de várias mulheres de alcoolistas mostram que elas já vivenciaram o
drama do alcoolismo, em suas famílias de origem, quando os dependentes eram
seus genitores.
Sempre me chamaram a atenção o papel e o posicionamento das mulheres,
em relação ao alcoolismo de seus companheiros: viviam submersas em sentimentos
de vergonha, estresse, raiva, frustração, decepção, e, porque não dizer, de amor e
afeto, que, por vezes, se confundem com pena e dó.
A aproximação profissional com as questões relacionadas aos efeitos do
alcoolismo nas famílias ocorreu a partir de 2000. Em 1996, prestei vestibular para o
1 A expressão alcoolista foi proposta por alguns pesquisadores, como forma menos rotuladora e
estigmatizante de referir-se à pessoa dependente do álcool, uma vez que o termo o coloca como alguém que apresenta afinidade com o álcool. Tal questão será retomada no capítulo I desta dissertação.
15
curso de Serviço Social2, na Universidade Cruzeiro do Sul3 (Unicsul), e em 1999
concluí o curso de graduação e me formei bacharel em Serviço Social. Em 2000,
recebi convite para participar de seleção para a vaga de assistente social do Núcleo
de Prática Jurídica (NPJ) da Unicsul e fui aprovada para o cargo, que ocupo até a
presente data.
Desde então, os atendimentos no NPJ tornavam possível apreender as
inúmeras e complexas expressões da questão social. Situações vividas em meu
passado familiar passaram a fazer parte do cotidiano profissional. Entrevistando e
acompanhando mulheres que procuram o NPJ para ingressar com ações de
divórcio, foi possível identificar que, quase um terço dessas, eram motivadas pelo
alcoolismo de seus companheiros.
Dessas experiências pessoais e profissionais, nasceu o interesse por
aprofundar o conhecimento, para melhorar a qualidade da atenção prestada pelo
NPJ, o que me levou a apresentar um projeto de pesquisa no processo seletivo para
o mestrado em Serviço Social, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), e iniciado as atividades de pós-graduanda no primeiro semestre de 2012.
Neste trabalho, pensado e construído em conjunto com a orientadora
professora Dra. Regina Maria Giffoni Marsiglia, a proposta é estudar os programas
de apoio às famílias de alcoolistas, com ênfase na figura da mulher como mediadora
dessa relação quase sempre conflituosa, considerando as múltiplas determinantes
da situação, as políticas públicas existentes, os contextos social e local, vivido no
cotidiano por um grupo de mulheres, com companheiros dependentes do álcool.
Durante o atendimento às mulheres que procuram o NPJ para ingressar com
ações de divórcio, motivadas pelo alcoolismo4 de seus maridos, percebemos que
muitas foram as tentativas para preservar o casamento, porém, quase todos os
2 A pesquisadora é graduada em Serviço Social desde 1999, pela Universidade Cruzeiro do Sul
(Unicsul), e especialista em Serviço Social Sociojurídico, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) desde 2006. 3 A Unicsul situa-se no Distrito de Vila Jacuí, em São Miguel, São Paulo/SP.
4 A procura pelo serviço sociojurídico da Unicsul ocorre de forma espontânea, ou por
encaminhamento do Poder Judiciário, ou outros serviços, como o Centro de Referência da Assistência Social (Cras), ou Conselho Tutelar. Durante a primeira semana de cada mês, as pessoas se inscrevem para a triagem, que é realizada pelo Serviço Social; desse modo, todas, sem exceção, são atendidas pela assistente social, o que permite ter uma prévia do assunto a ser tratado, bem como de seus agravantes, e dar os encaminhamentos devidos ao caso. Desse modo, percebe-se que, de cada dez mulheres que buscam o NPJ para ingressar com ações de divórcio, três trazem a queixa do alcoolismo.
16
esforços ocorreram de forma solitária, isolada e unilateral, sem respaldo, ou
incentivo, de qualquer instituição, ora pela falta de informação, ou pela escassez de
recursos existentes, ou mesmo pelo não reconhecimento da necessidade de ajuda;
e essas mulheres acabaram buscando, no rompimento da união, uma saída para
seus males.
No caso do meu ex-marido, eu não consegui interná-lo, primeiro pela
falta de dinheiro, mas, principalmente, porque ele não quis, até
procuramos tratamento, mas, além dos horários que não eram
compatíveis, o tempo de espera era muito grande. (Orquídea, Grupo
Focal, setembro de 2013).
Relatos mostram que as mulheres optam pelo divórcio somente após terem
esgotado todas as possibilidades de permanecer com seus cônjuges e parceiros
alcoolistas. Tentativas como mudanças de comportamento, de hábitos, deixar de
fazer coisas ou ir a determinados lugares, assumir papeis ou responsabilidades de
seus companheiros, são atitudes frequentes entre as diferentes mulheres.
Uma das propostas deste trabalho é captar o movimento real desse objeto,
indo além da aparência imediata e empírica, compreendendo sua estrutura e
dinâmica. Outro desafio é a aproximação do cotidiano vivido pelas famílias e,
especialmente, pelas mulheres, e construir um novo campo de possíveis mediações,
que permitam tratar o indivíduo na sua historicidade e totalidade.
Inicialmente, pensamos se tratar de um tema bastante discutido, e que
pesquisar o alcoolismo, sob qualquer ângulo, pouco acrescentaria ao conhecimento
já acumulado. Mas a aproximação com a produção existente demonstrou que ainda
é insuficiente para abranger a demanda que chega ao NPJ. Ao mesmo tempo, a
observação, na prática profissional, mostrou que se trata de um assunto inesgotável,
atual e muito presente em nossa sociedade.
Desde a antiguidade, o consumo de bebidas alcoólicas5 está ligado ao status
social, como um suporte às relações sociais. Trata-se de um fenômeno histórico e
5 É considerada bebida alcoólica aquela que contiver 0,5 grau Gay-Lussac (Gayl-Lussac (oGL=%v). É
a quantidade em milímetros de álcool absoluto contida em 100 milímetros de mistura hidrocólica), ou mais, de concentração, incluindo aí bebidas destiladas, fermentadas e/ou preparações, com a mistura de refrigerantes e destilados, além de preparações farmacêuticas que contenham teor alcoólico igual ou acima de 0,5 grau Gay-Lussac. (Política Nacional sobre o Álcool, aprovada pelo Decreto Presidencial 6.117, de 22 de maio de 2007).
17
cultural encontrado em todas as sociedades e que perpassa todas as camadas
sociais. O consumo excessivo de álcool por alguns indivíduos ocorre entre pessoas
jovens, evoluindo até a idade adulta e o envelhecimento, tornando dependentes
homens e mulheres.
No ano de 2005, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad),
ligada à Presidência da República, em parceria com o Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas (Cebrid) e a Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), realizou pesquisa, no Brasil, a fim de identificar os padrões de consumo
de álcool. Os resultados apontaram que 12,3% das pessoas pesquisadas, com
idades entre 12 e 65 anos, apresentaram características para a dependência do
álcool e aproximadamente 75% já haviam ingerido bebida alcoólica, pelo menos
uma vez na vida. Os dados também apontaram para o consumo de álcool em faixas
etárias cada vez mais jovens, e chamaram a atenção para a necessidade de rever
as medidas de controle, prevenção e tratamento.
Como droga lícita, o álcool é consumido livremente em nossa sociedade, quer
seja em casa, entre amigos e reuniões sociais, associado à ideia do prazer e
diversão sem prejuízo. Porém, os prejuízos são reais e muito se tem falado sobre os
danos causados à saúde, entre eles, acidentes automobilísticos, quedas,
afogamentos, queimaduras, suicídios, infarto, hipertensão, gastrite, e tantos outros.
O alcoolismo tem causado também outro problema, pouco mencionado e
dificilmente tratado, cujo dano é, na maioria dos casos, irreversível. Trata-se da
ruptura que acontece nas famílias em virtude do beber excessivo, afetando todos os
seus membros, e levando ao adoecimento familiar, visto que todos se tornam
codependentes6 do álcool.
6 Os codependentes são pessoas que apresentam baixa autoestima, profundo sentimento de culpa e
não conseguem se desvencilhar da dependência do outro.
18
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Aprofundar o conhecimento sobre o alcoolismo e suas repercussões na família
Objetivos Específicos
1. Aprofundar o conhecimento da literatura existente no Brasil sobre a questão
do alcoolismo;
2. Apresentar as políticas definidas pela Senad;
3. Conhecer como a literatura e a política de saúde abordam a questão da
família, e, em particular, a mulher do alcoolista;
4. Levantar os serviços públicos e as entidades da sociedade civil que tratam da
questão do alcoolismo e que tipo de apoio oferecem às famílias e,
especialmente, às mulheres dos alcoolistas;
5. Percepções, expectativas e atitudes das mulheres relacionadas ao consumo
de álcool por seus companheiros;
6. Obter subsídios para melhorar a qualidade da atenção às mulheres de
alcoolistas por meio da articulação entre as atividades do NPJ e os demais
serviços e entidades da sociedade civil existentes no território.
19
METODOLOGIA
Pesquisa-Ação
Instrumentos utilizados:
1. Pesquisa bibliográfica e documental sobre alcoolismo, política pública, e
repercussões na família e nas mulheres.
2. Revisão sistemática de artigos recentes na base de dados do Scientific
Electronic Library Online (Scielo) sobre as repercussões do alcoolismo nas
companheiras de alcoolistas.
3. Breve caracterização histórica, demográfica e socioeconômica do Distrito
de São Miguel, São Paulo/SP.
4. Levantamento dos serviços públicos, das entidades e instituições
existentes no Distrito de São Miguel, tendo em vista futura atuação
conjunta com o NPJ da Unicsul para o enfrentamento das repercussões do
alcoolismo entre as mulheres de dependentes do álcool: características,
objetivos, atividades desenvolvidas, público a que se destinam.
5. Formação de um Grupo Focal (GF) com mulheres que buscam o NPJ para
solicitar ações de divórcio, motivadas pelo alcoolismo de seus maridos.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi utilizada a metodologia da
pesquisa-ação, visto que, ao pensar no trabalho com famílias em processos de
rupturas conjugais, cujo motivador principal de tal demanda é o alcoolismo, bem
como nos serviços de atenção a essas famílias, demonstrou ser uma forma e técnica
que possibilitou a aproximação a esse universo, de modo que a pesquisadora pôde
propor, aos pesquisados, intervenções e mediações dialéticas, durante o processo
de pesquisa.
Além do mais, ao reunir a pesquisa e ação prática nos mesmos momento e
contexto, permitiu desenvolver o conhecimento e a compreensão, como parte da
prática profissional.
20
O pesquisador não precisa viver ou ter vivido os mesmos problemas,
conflitos, doenças, habitar no mesmo local, ou “experimentar na pele” os mesmos
dilemas que os sujeitos de sua pesquisa, para que se caracterize o método da
pesquisa-ação, porém, segundo Marsiglia (2012)7, quando o pesquisador
desenvolve seu trabalho, experiência, deve considerar o conhecimento acumulado
sobre o assunto e relacioná-lo com sua própria vivência. Nessa perspectiva, a
trajetória pessoal e inserção profissional da pesquisadora contribuíram para os
resultados deste trabalho, quando se coloca, de certo modo, na condição de
sujeito/pesquisador.
Segundo Thiollent (2004, p. 20), inserir a pesquisa-ação, na perspectiva de
investigação científica, consiste em desafio, porque os objetivos práticos dessa
metodologia não devem afastar os objetivos de produzir conhecimento, principal
finalidade da atividade científica.
A pesquisa-ação compreende um movimento circular de compartilhamento,
subjetivação e participação coletiva e, em função disso, tende a ser cada vez mais
utilizada na área social, e, particularmente, no Serviço Social, na perspectiva de
promover mudanças, por meio da pesquisa.
A pesquisa-ação permitiu conhecer essas famílias, suas vivências e suas
dinâmicas, levantar dados do território, identificar as políticas de atenção à família e
à questão do alcoolismo, bem como as ações preventivas já vigentes. “[...] através
dela se procura intervir na prática de modo inovador já no decorrer do próprio
processo de pesquisa e não apenas como possível consequência de uma
recomendação na etapa final do projeto.” (ENGEL, 2000, p. 182).
Compreendemos que a pesquisa-ação se realiza em conjunto com uma ação
ou com a resolução de um problema, no qual os pesquisadores e pesquisados estão
envolvidos pela vivência da experiência.
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2004, p.14).
Desse modo, trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida com um
7 Aula ministrada pela professora Regina Marsiglia, na PUC-SP, em 3 de setembro de 2012.
21
método crítico dialético, em duas etapas.
Etapa 1
Pesquisa bibliográfica sobre família, alcoolismo e pesquisa documental sobre
políticas públicas, definidas pelo Ministério da Saúde. Revisão sistemática em bases
de dados do Scielo, buscando artigos recentes sobre influência do alcoolismo na
vida familiar e, especialmente, na vida das mulheres de alcoolistas.
Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 174) a pesquisa documental
caracteriza-se quando a fonte de dados está restrita a documentos escritos ou não,
constituindo as denominadas fontes primárias. Já a pesquisa bibliográfica, ou de
fontes secundárias (Id., p. 183), abrange toda a bibliografia já tornada pública, de
forma escrita e audiovisual, em relação ao tema estudado.
As revisões sistemáticas são úteis para complementar as informações de um
conjunto de estudos realizados separadamente sobre temática específica e podem
ser propostas a partir de uma perspectiva qualitativa, ou quantitativa, e os métodos
utilizados minimizam as distorções e imprimem confiabilidade aos resultados, porém,
suas etapas são basicamente as mesmas de qualquer outro tipo de pesquisa
(formulação de hipóteses, coleta e análise de dados, apresentação dos resultados).
Assim, a revisão sistemática diferencia-se da revisão tradicional, pois busca
superar possíveis lacunas nas etapas de investigação, orientadas por um rigoroso
método de busca e seleção de pesquisas, com avaliação de relevância e validade
dos dados encontrados.
A revisão sistemática permitiu investigar se há produção mais recente e de
novos autores sobre o tema em estudo, particularmente sobre “apoio à família do
alcoolista”, pontuando e compreendendo as possíveis lacunas. A pergunta que
norteou essa busca foi: O que se tem produzido a respeito da atenção à família do
alcoolista?
Para atingir esse objetivo, a busca de evidências foi feita por meio da base de
dados eletrônicos Scielo (http://www.scielo.org/cgi-bin/wxis.exe/applications/scielo-
22
org/iah/), por se tratar de um banco de dados seguro e muito utilizado por
pesquisadores de diversas áreas.
Em junho de 2013, foi realizada uma busca piloto, utilizando a palavra-chave
Alcoolismo e foram obtidos 513 estudos, mas, dentre esses, apenas 12 discutiam a
relação Família e Alcoolismo. Nova análise dos títulos pretendeu identificar
pesquisas que discutem o alcoolismo com foco na atenção à família, com base nos
seguintes critérios: Aparecimento da palavra família no título; Títulos que sugerem
proposta de trabalho com família de alcoolista; Títulos que apresentam estratégias
de intervenção na família ou por meio da família.
Os títulos foram revistos e encontradas cinco pesquisas que se enquadraram
nos critérios preestabelecidos para a análise. Os cinco artigos foram lidos na
íntegra, um em espanhol, e os dados mapeados8 foram inseridos em um Formulário
de Mapeamento de Dados, construído a partir de tabelas, para possibilitar a
transcrição dos dados extraídos das fontes analisadas.
Alguns campos do formulário foram empregados para inserir informações
gerais sobre o estudo, enquanto outros utilizados para as informações mais
específicas, relativas ao estudo.
Etapa 2: Pesquisa de Campo
a) Obtenção de dados estatísticos do território da pesquisa
Recorremos à agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), situada no Distrito de São Miguel , no prédio da subprefeitura, a fim de obter
dados estatísticos sobre o território da pesquisa, caracterizando-o quanto aos seus
aspectos históricos, socioeconômicos e demográficos.
b) Levantamento de recursos socioassistenciais do Distrito de São Miguel,
São Paulo/SP
8 Segundo Viana (2012), mapear descreve uma técnica para sistematizar e interpretar dados
qualitativos por triagem, mapeamento e classificação do material, de acordo com as principais questões e temas abordados.
23
A busca por recursos e serviços de proteção à família do alcoolista deu-se
inicialmente através da Internet. Com a ferramenta de busca do Google, foi
identificada a rede de proteção disponível na cidade de São Paulo para esse
segmento da população. Para tanto, utilizamos as seguintes expressões: Rede de
atenção à família do alcoolista; Serviços de proteção à família do alcoólatra; Atenção
à família do dependente de álcool. Essa busca resultou na localização de alguns
sites de serviços oferecidos na cidade.
A partir dos resultados do primeiro levantamento da Rede de Atenção à
Família do Alcoolista, algumas ações foram realizadas, conforme descrito a seguir:
Consulta nos sites: o acesso permitiu conhecer o objetivo dos serviços,
público-alvo, a área e os endereços de atuação.
Atualização de cadastros: contatos telefônicos e eletrônicos foram
atualizados.
Contatos telefônicos: mantidos contatos telefônicos com os recursos, com o
objetivo de confirmar a proposta de atenção às famílias de alcoolistas, e com os
núcleos de atendimento no Distrito de São Miguel .
Quanto aos serviços públicos existentes no território, foi mantido contato com
o Centro de Assistência Psicossocial Especializado no Atendimento de Dependentes
de Álcool e Drogas (Caps-AD), e procurados os representantes ou membros de
entidades da sociedade civil, especificamente a Alcoólicos Anônimos (AL-Anon),
ligada à Igreja Católica, mais propriamente à Pastoral da Sobriedade.
Para essa etapa da pesquisa, ao final, foi agendada entrevista com os
representantes dessas organizações, de forma a conhecer as propostas que esses
serviços têm ou não oferecido às mulheres de alcoolistas que os procuram.
Na ocasião, foi utilizada a entrevista semiestruturada, instrumento que,
segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 197), se desenvolve a partir de um roteiro de
perguntas básicas preestabelecidas, porém, sua aplicação não é rígida, o que
permite ao entrevistador manter certa flexibilidade e fazer as adaptações
necessárias a cada ação. Desse modo, um conjunto de questões permitiu
caracterizar a instituição/serviço e as atividades que desenvolve (Anexo C).
24
c) Criação do Grupo Focal
Para operacionalizar a pesquisa, e dar sequência à coleta dos dados,
selecionamos, como instrumento, a técnica do GF, muito utilizado em pesquisas
qualitativas. Difere das entrevistas em grupo, mas se assemelha a discussões em
grupo, com assuntos preestabelecidos. Possibilita a interação entre os integrantes,
que, no decorrer das discussões, podem rever suas opiniões acerca de determinada
temática, permitindo a reflexão e reelaboração de pontos de vista.
O grupo tem uma sinergia própria, que faz emergir ideias diferentes das
opiniões particulares... Há uma reelaboração de questões que é própria do
trabalho particular do grupo mediante as trocas, os reasseguramentos mútuos,
os consensos, os dissensos, e que trazem luz sobre aspectos não detectáveis
ou ainda não reveláveis em outras condições. (GATTI, 2012, p. 14).
O GF9 com as mulheres dos alcoolistas atendidas pelo NPJ foi realizado em
setembro de 2013 e promoveu o compartilhamento de suas vivências e
experiências, e a possibilidade de ampliar nossa compreensão sobre os processos
de construção da realidade, por essas mulheres. Foi organizado e realizado
conforme orientações de Gatti (2012).
Antes do início do grupo, as participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Na apresentação dos resultados, seus
nomes foram substituídos, para preservar suas identidades, e atribuídos nomes de
flores a cada uma, sugerindo sua feminilidade, fragilidade e possibilidades de
existência.
A composição do grupo deu-se de modo a alcançar os objetivos propostos
pelo estudo e considerou algumas características que o homogeneizasse, mas, ao
mesmo tempo, preservando algumas variações importantes.
A escolha dos sujeitos ocorreu de modo intencional e segundo alguns pré-
requisitos: deveria ser um grupo de mulheres que morasse na região de São Miguel,
9 Segundo Powell e Single (1996, p. 449, apud Gatti, 2012, p. 7), um grupo focal “é um conjunto de
pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal”.
25
com idades na faixa etária de 35 a 60 anos e tivesse filhos10.
A escolha da variável faixa etária objetivou permitir a análise da forma como
as mulheres em diferentes idades foram influenciadas pelo alcoolismo de seus
parceiros, e como e onde procuraram auxílio para o enfrentamento dessa questão.
Com a variável filhos, pretende-se trazer respostas para a seguinte hipótese: Muitas
mulheres de alcoolistas permanecem na relação por causa dos filhos.
As fichas das participantes foram selecionadas a partir de pré-requisitos
definidos e delimitados pela pesquisa. Assim, foram escolhidas 20 fichas do arquivo,
e enviadas cartas convites (Anexo B), via correio, para as mulheres, e cinco
aceitaram participar.
Gatti (2012, p. 36) orienta sobre a possibilidade de realizar atendimento
individual, aos que queiram, depois do término da sessão grupal, e, assim, duas
participantes puderam conversar particularmente, trazendo contribuições muito
significativas, que complementaram as discussões do grupo.
O roteiro foi elaborado e estruturado a partir de seis eixos e cinco temas, a
saber:
Eixo 1: Divórcio.
o Tema1: Por que optaram pelo divórcio.
Eixo 2: O que é alcoolismo.
Eixo 3: Família de origem.
o Tema 2: Seus pais tinham problemas com o álcool.
o Tema 3: Os pais dele tinham problemas com o álcool.
Eixo 4: Ajuda/Tratamento.
o Tema 4: Ele procurou ajuda/tratamento.
o Tema 5: Você procurou ajuda/tratamento.
Eixo 5: Tempo de permanência no casamento.
Eixo 6: Estabelecimento de novo relacionamento pós-divórcio.
10
É válido mencionar que, dentre os sujeitos escolhidos, há uma exceção. Uma das integrantes declara não ter filhos, porém esclarece que não estão sob seus cuidados, atualmente, pois já são maiores e independentes.
26
Organização da Dissertação
Capítulo I - Família, Alcoolismo, Políticas Públicas. Revisão Sistemática na
Base de Dados do Scielo
É constituído pelos resultados das pesquisas bibliográfica, documental e
pela revisão sistemática de artigos inseridos recentemente no banco de
dados do Scielo, sobre apoio à família do alcoolista.
Capítulo II - Resultados da Pesquisa de Campo
a) Cenário da pesquisa: Distrito de São Miguel;
b) Serviços e instituições locais para atenção aos dependentes de álcool e
suas famílias, incluindo o próprio NPJ;
c) GF com mulheres de alcoolistas que buscaram o NPJ.
Conclusões e Recomendações
27
CAPÍTULO I
FAMÍLIA, ALCOOLISMO E POLÍTICAS PÚBLICAS: REVISÃO SISTEMÁTICA NA BASE DE DADOS DO SCIELO
1.1 Família, Alcoolismo e Codependência
1.1.1 De que família estamos falando?
Antes de falarmos de família, é importante identificar e compreender seus
novos conceitos e arranjos e ter claro que família é essa.
A família ultrapassa as relações consanguíneas e se afirma na afetividade
estabelecida pelos vínculos que cria. A família é considerada, hoje, como o grupo de
pessoas com quem se pode contar, ou seja, a família não se define apenas pelas
relações consanguíneas, existem pessoas que estão nessa relação, porém não
mantém vínculo; não se pode contar com elas; não compõem a rede familiar.
Ser família implica afetividade, afeto, é com quem se pode contar para todos
os assuntos, em todos os momentos. O que constitui realmente a família são essas
relações de mutualidade e reciprocidade, das quais decorrem os mencionados
direitos e obrigações, conforme Campos (2004, p. 13), “A família é um todo
articulado em que há definidas relações de gênero e geração, que implica hierarquia
e poder”.
Ao longo dos anos, a família vem passando por muitas mudanças, conceituais
e estruturais, que redefiniram sua formatação interna, e muitas vezes tais mudanças
são resultantes de importantes interferências externas, segundo Marondi (1997, p.
10) “(...) a família é um sistema vivo e aberto que recebe influência de fatores
externos e internos em constante transformação”.
Tais mudanças não acontecem de forma simples, pois, se realizarmos uma
leitura crítica da realidade, concluímos que as mudanças são processuais e a
sociedade se articula e luta por elas, segundo padrões preestabelecidos, como os
28
culturais, que se referem à transição, das mulheres, de donas de casa a
trabalhadoras.
Quanto às mudanças, referimo-nos a padrões de relacionamentos,
reordenamento de papeis, idealizações e concretude de modelos e arranjos
familiares.
Embora a família continue sendo objeto de profundas idealizações, a realidade das mudanças em curso abala de tal maneira o modelo idealizado que se torna difícil sustentar a ideia de um modelo adequado. Não se sabe mais de antemão o que é adequado ou inadequado, relativamente à família. No que se refere às relações conjugais, quem são os parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as relações entre pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo conjugal? Como se dão as relações entre irmãos, filhos de casamento, divórcio, recasamentos de casais em situações tão diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma enorme elasticidade. (SARTI, 2003, p. 25).
O tradicional modelo da família nuclear intacta, aquela constituída pelos laços
do matrimônio, cuja união de marido e mulher resulta na concepção de filhos
naturais, vem sendo substituído por diversos outros modelos, ou arranjos de família.
Porém, é importante ter cuidado, ao afirmar que a família nuclear perdeu sua
força, seu lugar na sociedade, ou deixou de existir. Segundo Romanelli (2003), é
preciso ter cautela ao proclamar o fim da família nuclear, pois a sua importância não
reside apenas no fato de manter o arranjo doméstico estaticamente, mas,
principalmente, no significado simbólico que lhe foi atribuído.
Na contemporaneidade, a família não é formada exclusivamente pelo
casamento; a formalização da família se amplia e engloba os núcleos domésticos
estabelecidos por união estável, recasamentos, reconstituições, união de
homossexuais e, ainda, famílias chefiadas por idosos.
A dissolução do casamento a partir do divórcio marcou de forma significativa
a família, propiciando o surgimento e/ou o aumento das famílias monoparentais
femininas, aquelas em cuja formação não há a figura do homem como chefe de
família, ou vice-versa, sem a presença da mulher, embora em menor frequência.
29
1.1.2 Família e alcoolismo
A família assume novos formatos, arranjos ou modelos e vivencia as mais
diversas situações cotidianas, classificadas como complexas: como casamento,
nascimento, morte, recasamento, mudanças, separações diversas, trabalho, falta de
trabalho, saúde, doença, violência, dependências, vícios, falta de acesso a bens e
serviços e carências das mais diversas ordens. E muitas famílias acabam se
deparando com problemas que tem chamado a atenção de governantes,
legisladores e da sociedade civil, de modo geral, como é o caso do alcoolismo.
[...] no início do casamento ele bebia pouco, intensificando as doses
gradativamente [...] (Girassol, depoimento colhido em janeiro de 2014).
O alcoolista, além de prejudicar a si próprio, também envolve sua família,
muitas vezes, privando-a da satisfação de necessidades básicas, causando-lhe
grande sofrimento e, por isso, muitos relacionamentos familiares acabam sendo
minados pelo alcoolismo e consumo de outras drogas, que desencadeiam uma série
de problemas. Não é apenas a ingestão da substância química que ocasiona todos
os males nas famílias, mas sim o enfraquecimento que isso causa no seu papel de
proteção, com deficiências relacionais e comportamentais, prejuízos de ordens
emocional e sexual, perdas financeiras, entre outras.
A partir dos novos estudos sobre a família e do avanço da Política Antidrogas, o dependente químico passou a ser compreendido como sujeito com vínculos particulares de pertencimento familiar. Estes vínculos começaram a ser entendidos como primordiais, tanto para o fortalecimento das barreiras de prevenção como de recuperação. (MIOTO, SILVA e SILVA, 2007, p. 4).
1.1.3 A codependência
Neste momento, eu não tenho que controlar ninguém, inclusive eu. Se me sinto desconfortável com o que outra pessoa está fazendo ou não, posso me lembrar que eu sou impotente perante essa pessoa e sou impotente perante a minha compulsão por agir de modo inadequado. (Oração dos Passos de CoDA - Passo Um).
30
Sequela deixada na família, pelo alcoolismo, é a codependência, que pode
atingir um ou mais de seus membros, adultos ou crianças. Segundo Ballone11, é
[...] um transtorno emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionado aos familiares dos dependentes químicos, e atualmente estendido também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e outros problemas sérios da personalidade.
Desse modo, codependentes são pessoas da família, e em sua maioria
cônjuges, companheiras(os), pais e filhos que vivem em função do dependente, de
forma tutelar, tentando controlar seu comportamento, na esperança de ajudá-lo.
Como resultado dessa busca, nem sempre bem-sucedida, de controle das atitudes
do outro, a pessoa acaba perdendo o domínio sobre suas atitudes e de seu próprio
comportamento:
[...] eu passei a minha vida tentando fazer o meu pai parar de beber,
carreguei até ele no colo, para ver se ele parava..., painho nunca parou [...]
(Lírio, depoimento colhido em fevereiro de 2014).
O familiar deixa de viver sua vida para assumir a vida do seu dependente e,
no caso específico desta pesquisa, vimos quanto as mulheres são afetadas pelo
relacionamento com seus companheiros alcoolistas. Os codependentes, além de
enfrentarem problemas de toda ordem, como física, psicológica, social, financeira,
etc. tem também um papel importante tanto na manutenção da dependência como
na terapia do dependente.
Os impactos que a família sofre com o alcoolismo de um de seus membros
correspondem às situações que vão ocorrendo com o alcoolista e esses impactos.
segundo Ballone (2008), podem ser descritos em quatro estágios, pelos quais a
família passa progressivamente. O Quadro 1 foi elaborado a partir da compreensão
do autor e correlacionados às falas de alguns sujeitos da pesquisa
11
José Geral Ballone é médico psiquiatra e escritor. Fonte: Ballone, J. G. Codependência. In. PsiqWeb, Internet. Disponível em: < www.psiqweb.med.br>, revisto em 2008. Acesso em: 13 fev. 2014.
31
Quadro 1 - Impactos da codependência na família. São Paulo, 2014
Impactos na Família, segundo Ballone Depoimentos Colhidos
1. Na primeira etapa, é preponderantemente o Mecanismo de Negação. Ocorre tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e sentem.
Algumas vezes reajo como se estivesse dormente, ou anestesiada, é como se eu estivesse vendo cenas de um filme, alheias à minha realidade e não me importasse com aquela situação, ou seja, como se eu estivesse submersa em minha impotência. (Flor do Campo, depoimento colhido em janeiro de 2014).
2. Em um segundo momento, a família demonstra muita preocupação com essa questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas consequências físicas, emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão causando problemas na família.
Geralmente quando você tem um problema desse, na família, começa a negação, você tem vergonha de falar que tem um pai, ou um marido que é alcoólatra, que quebra tudo, que te xinga, que faz aquele barraco na sua casa. (Lírio, depoimento colhido em fevereiro de 2014).
3. Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a oportunidade de perceber as consequências do abuso de álcool e drogas. É comum ocorrer uma inversão de papéis e funções, como, por exemplo, a esposa que passa a assumir todas as responsabilidades de casa em decorrência do alcoolismo do marido, ou a filha mais velha que passa a cuidar dos irmãos em consequência do uso de drogas da mãe.
[...] ele bebia “socialmente” e eu me tornei a cabeça da casa [...] (Margarida, GF, setembro de 2013)
4. O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves distúrbios de comportamento e de saúde em todos os membros. A situação fica insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando desestruturação familiar (Grifos do autor).
[...] em outras vezes, reajo com fúria e vigor físico e verbal, cuja expressão e reação tem o objetivo de impactar meu marido.Como se meu nível de tolerância tivesse chegado a um limite e esse precisasse ser recarregado. Nesse momento falo minhas verdades sobre o meu marido (o que ele faz, o que não faz, o que deixa de fazer), sempre realçando seus defeitos agravados pela bebida, ele também fala de suas insatisfações e frustrações de forma comiserável. Essa manifestação em meio à crise pode surtir um efeito temporariamente positivo, ele se choca e se incomoda com tais acusações e suspende temporariamente o uso de álcool, ou pode ser simplesmente ignorado. (Flor do Campo, depoimento colhido em janeiro de 2014).
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento. Dissertação de Mestrado. PUC-SP, 2014.
32
A codependência pode desencadear outros transtornos, como doenças
psicossomáticas, depressão e suicídio. O tratamento pode consistir em terapia
individual, participação em grupos de familiares (Al-Anon, ou Codependentes
Anônimos) e, em alguns casos, em tratamento medicamentoso.
1.2 Política Nacional sobre Drogas e Álcool – Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas (Senad)
A questão das drogas ganhou prioridade na agenda governamental, na
década de 1990, resultando na elaboração da Política Nacional sobre Drogas
(Brasil, 2008). O documento arte do entendimento de que um dos aspectos
importantes para prevenir o uso excessivo de substâncias químicas é a valorização
das relações familiares, bem como a participação da família em ações de caráter
preventivo.
A seguir, são apresentados alguns artigos e tópicos importantes dessa
política.
Orientação Geral
1.1.3 As ações preventivas devem ser pautadas em princípios éticos e pluralidade cultural, orientando-se para a promoção de valores voltados à saúde física e mental, individual e coletiva, ao bem-estar, à integração socioeconômica e a valorização das relações familiares, considerando seus diferentes modelos.
1.1.4 As ações preventivas devem ser planejadas e direcionadas ao desenvolvimento humano, o incentivo à educação para a vida saudável, acesso aos bens culturais, incluindo a prática de esportes, cultura, lazer, a socialização do conhecimento sobre drogas, com embasamento científico, o fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da escola e da sociedade na multiplicação dessas ações.
1.2 Diretrizes
1.2.8 Priorizar ações interdisciplinares e contínuas, de caráter preventivo e educativo na elaboração de programas de saúde para o trabalhador e seus familiares, oportunizando a prevenção do uso indevido de drogas no ambiente de trabalho em todos os turnos, visando à melhoria da qualidade de vida, baseadas no processo da responsabilidade compartilhada, tanto do empregado como do empregador.
33
II - DA INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DA POPULAÇÃO QUANTO AO CONSUMO DO ÁLCOOL 3. Compete ao Governo, com a colaboração da sociedade, a proteção dos segmentos populacionais vulneráveis ao consumo prejudicial e ao desenvolvimento de hábito e dependência de álcool. 4. Compete ao Governo, com a colaboração da sociedade, a adoção de medidas discutidas democraticamente que atenuem e previnam os danos resultantes do consumo de álcool em situações específicas como transportes, ambientes de trabalho, eventos de massa e em contextos de maior vulnerabilidade. (SENAD. Política Nacional sobre Drogas, 2008. Grifos nossos).
O papel da família é ressaltado, na política, que, ao mesmo tempo, dá
destaque para a importância da intervenção do Estado e da sociedade civil, na
atenção e no cuidado aos usuários de álcool e drogas, e de seus familiares.
Orientação Geral : Tratamento Recuperação e Reinserção Social
2.1.1 O Estado deve estimular, garantir e promover ações para que a sociedade (incluindo os usuários, dependentes, familiares e populações específicas), possa assumir, com responsabilidade ética, o tratamento, a recuperação e a reinserção social, apoiada técnica e financeiramente, de forma descentralizada, pelos órgãos governamentais, nos níveis municipal,estadual e federal, pelas organizações não governamentais e entidades privadas.
2.1.2 O acesso às diferentes modalidades de tratamento e recuperação, reinserção social e ocupacional deve ser identificado, qualificado e garantido como um processo contínuo de esforços disponibilizados, de forma permanente, para os usuários dependentes e seus familiares, com investimento técnico e financeiro de forma descentralizada.
2.1.4 Na etapa da recuperação, deve-se destacar e promover ações de reinserção familiar, social e ocupacional, em razão de sua constituição como instrumento capaz de romper o ciclo consumo/tratamento, para grande parte dos envolvidos, por meio de parcerias e convênios com órgãos governamentais e organizações não governamentais, assegurando a distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros.
2.1.6 A capacitação continuada, avaliada e atualizada de todos os setores governamentais e não governamentais envolvidos com tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional dos usuários, dependentes e seus familiares deve ser garantida, inclusive com recursos financeiros, para multiplicar os conhecimentos na área. (Legislação e Política Pública sobre Drogas no Brasil, 2008, p. 19, 20 e 21. Grifos nossos).
34
1.2.1 Atenção às famílias dos dependentes
A família aparece como destinatária da atenção do Estado e fica clara, na
Política Nacional sobre Drogas, a necessidade de se desenvolver programas e
ações nas esferas governamentais e civis, que garantam, aos familiares dos
dependentes químicos, acesso a diferentes modalidades de tratamento,
recuperação e reinserção social.
Há orientações sobre a criação e efetivação de estratégias que visam à
redução dos danos causados às famílias, em decorrência do uso abusivo do álcool e
outras drogas. Dispõe sobre as medidas para reduzir o uso indevido de álcool e sua
associação com a violência e criminalidade, entre outras providências. Aponta, em
seus princípios fundamentais, para a manutenção de estratégias de enfrentamento
coletivo dos problemas relacionados ao consumo abusivo de álcool.
Na proposta da política, a família ora aparece como parte da sociedade, ora
como parceira no processo de prevenção e tratamento dos usuários e dependentes
de álcool, ora como destinatária das ações de proteção.
As contradições da sociedade capitalista atingem os grupos familiares, que,
em meio aos processos de concentração de renda que demarcam a desigualdade
social, aumentam a vulnerabilidade social. E no caso específico das famílias que
convivem com o uso abusivo do álcool, esse processo torna-se mais complexo.
Isso faz com que seus membros busquem novas estratégias para garantir o
suprimento de suas necessidades básicas, porém, a condição de cuidar ou não dos
seus, dependerá da qualidade e quantidade de proteção que receberão do Estado,
ou seja, da possibilidade de as famílias participarem do processo de prevenção,
tratamento e reinserção social dos usuários e dependentes de álcool: o que só
poderá ocorrer se, antes, as famílias forem elas próprias protegidas pela ação do
Estado, em colaboração com a sociedade civil.
35
1.2.2 Alcoolismo e padrões de consumo
A definição de alcoolismo nem sempre foi estabelecida pelos critérios de
diagnóstico da síndrome. Esses critérios foram sendo formulados no decorrer dos
anos, pela Classificação Internacional de Doenças (CID) e pelo Manual de
Diagnóstico Estatístico, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria.
O alcoolismo passou a ser compreendido como doença crônica, cuja
dependência pode acometer homens e mulheres de todas as classes sociais e de
todas as raças.
A expressão “alcoólatra” foi utilizada por muito tempo para identificar os
indivíduos que bebiam de forma abusiva e acabavam apresentando outros sintomas
decorrentes desse hábito. Alguns estudos vêm mostrando que o termo é
inadequado, pois relaciona o dependente com a idolatria ao álcool, ou seja, como se
o bebedor escolhesse continuar bebendo, independentemente dos problemas que
tal prática possa lhe acarretar, bem como aos familiares.
O termo ‘alcoólatra’, portanto, estigmatiza e rotula o bebedor como alguém que está fadado a uma condição de depreciação, fraqueza, e falta de escolhas, pois privilegia o álcool acima de todas as coisas. Essa condição não é verdadeira, porque, quando a dependência está instalada, em muitas ocasiões, o indivíduo bebe para minimizar os efeitos da abstinência e não para ter prazer. (SILVEIRA, 2012, p.153).
Por sua vez, a expressão “alcoolista”, foi proposta por alguns pesquisadores,
como uma forma menos rotuladora e estigmatizaste, uma vez que o termo coloca o
bebedor como alguém que apresenta uma afinidade pelo álcool.
O termo alcoolista foi utilizado em substituição ao termo ‘alcoólatra’ a fim de não responsabilizar unicamente o bebedor pelos problemas decorrentes do uso do álcool, mas sim reconhecer que o álcool é uma substância lícita, socialmente aceita e disponível, mas quando utilizado em grandes quantidades e frequências expõem o bebedor a muitos riscos. (SILVEIRA, 2012, p.153).
36
O alcoolismo não é identificado apenas pelo consumo abusivo, ou excessivo,
de bebida alcoólica, mas, também, pelos sintomas físicos desencadeados pela falta
de álcool no organismo, assim, o termo mais adequado para se referir ao indivíduo
bebedor, é “dependente de álcool”.
A dependência do álcool é uma condição clinica que ao ser identificada são conferidos ao indivíduo, um diagnóstico e um tratamento a fim de que ele possa se recuperar e voltar a ter uma vida dentro de um contexto social considerado normal. (SILVEIRA, 2012, p. 154).
1.2.2.1 Padrões de Consumo do Álcool
Os principais padrões de consumo de álcool, mencionados na literatura
científica, são o uso moderado, beber pesado (BP), e beber pesado episódico
(BPE).
O uso moderado de bebidas alcoólicas é um conceito de difícil definição, uma vez que é interpretado de maneiras diferentes, conforme a percepção de cada indivíduo. Comumente, essa definição é confundida com beber socialmente. No entanto, frequentemente a moderação é vista de maneira errônea, como uma forma adversa ao consumidor. (HECKMANN; SILVEIRA, 2009, p. 72).
A maioria das pessoas que bebe diz que o faz de forma moderada, porém,
percebe-se que o BP é frequente, tanto entre os homens como entre as mulheres,
por isso, é cada vez mais comum o aparecimento de problemas provenientes desse
padrão de consumo, o que pode resultar em inúmeras complicações, com
abrangência física, jurídica, profissional, social e familiar.
O National Instituteon Alcoholism12 define o BP como duas doses de bebida
alcoólica por dia para homens e de até uma dose por dia para mulheres, padrão que
12
O Instituto Nacional de Abuso do Álcool e Alcoolismo (NIAAA) é um dos 27 institutos e centros que compõem o National Institutes of Health (NIH). O NIAAA apoia e realiza pesquisas sobre o impacto do uso de álcool sobre a saúde humana e o bem-estar. É o maior financiador de pesquisa de álcool no mundo. Disponível em: <http://www.niaaa.nih.gov/about-niaaa>).
37
excede o uso moderado ou socialmente aceito. E define também como BPE13, o
consumo de cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas por homens, e em uma
única ocasião, e quatro por mulheres.
1.3 Apoio à Família do Alcoolista: Revisão Sistemática de Artigos no Scielo
Os resultados e as discussões da revisão sistemática são apresentados em
duas partes. A primeira contém os dados bibliométricos quantitativos sobre as
informações gerais dos artigos trabalhados na análise e a segunda é composta pela
unidade temática que emergiu da análise mais profunda das publicações.
1.3.1 Mapeamento dos dados
Nesta etapa da pesquisa, trata-se do mapeamento de elementos-chaves de
informações obtidas nos estudos escolhidos. Segundo Viana (2012), mapear é uma
técnica usada para sistematizar e interpretar dados qualitativos por triagem,
mapeamento e classificação do material, de acordo com as principais questões e
temas. Na revisão sistemática, esse processo é chamado de “extração de dados”.
Os títulos dos respectivos estudos foram analisados e identificada a interface
entre alcoolismo/família e área técnica em que a pesquisa foi desenvolvida. o
resultado da análise indica que, dos 513 estudos sobre alcoolismo, apenas 12
(Anexo A) discutem a relação família e alcoolismo, e foram abordados pelas áreas
apresentadas no Quadro 2.
13
Esse padrão foi criado com base em evidências científicas de que essas quantidades de consumo aumentam o risco de surgirem problemas relacionados ao uso de álcool.
38
Quadro 2 - Abordagem dos estudos por área técnica (SCIELO, 2013)
Alcoolismo/Família 12 Estudos
Área Técnica Números
Psiquiatria 2
Psicologia 1
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento, a partir dos artigos encontrados no Scielo. 2013.
O Quadro 2 aponta que há maior frequência de artigos da área de
enfermagem, seguidos de artigos da psiquiatria e saúde (sem maior especificação),
psicologia e educação. Também revela a falta de artigos originados na área de
Serviço Social, sobre a temática em questão.
Chama a atenção que o alcoolismo na família, como uma forma de expressão
da questão social, se apresenta, quase que diariamente, nos espaços sócio-
ocupacionais em que os assistentes sociais estão inseridos, os quais têm intervir,
mediar, encaminhar, e dar respostas às complexas situações enfrentadas no
cotidiano profissional.
Como, convivendo com o poder do capital sobre o trabalho, com as mais diversas manifestações da questão social, trabalhando nos limites da realidade, com suas complexas indagações e opressões, compreender, recusar, intervir? A que parâmetro recorrer? Como construir mediações e como desvendar as mediações do real? Como capturar esse homem comum que se apresenta diante de nós com fome, analfabeto, sem trabalho, ou na informalidade, alvo de violência, crianças, adolescentes, doente mental, portador de deficiência, mulher, velho, desamparado, consumidor de drogas, homem pobre de liberdade, de possibilidades, de oportunidades e de esperanças. Homem desqualificado por clichês (muitos criados por nós): “excluído”, “marginal”, “inadaptado”, “problematizado”, “portador de altos riscos”, alvos de pedagogias de reerguimento e promoções. (VERDÉS LEROUX, 1986, apud YAZBEK, 2004, p. 39).
Contudo, a rotina do trabalho, com toda a sua dinâmica, não possibilita a
produção intelectual e a acadêmica, a fim de dar visibilidade e notoriedade a um
fazer tão rico de significados e possibilidades de construção.
Enfermagem
Enfermagem
Saúde
6
Enfermagem
2
Educação/comunicação/saúde 1
39
[...] não há rupturas no cotidiano sem resistência, sem enfrentamento e se a
intervenção profissional do assistente social circunscreve um terreno de
disputa, é aí que está o desafio de sair de nossa lentidão, de construir,
reinventar mediações capazes de articular a vida social das classes
subalternas com o mundo público dos direitos e da cidadania. (YASBEK,
2004, p. 39).
1.3.2 Alcoolismo: foco na atenção à família
Nova análise dos títulos foi realizada, a partir dos 12 estudos, para identificar
as pesquisas que discutem o alcoolismo com foco na atenção à família, com base
nos seguintes critérios:
a) Aparecimento da palavra Família no título;
b) Títulos que sugerem proposta de trabalho com família de alcoolista;
c) Títulos que apresentam estratégias de intervenção na família ou por meio da
família.
Os títulos foram revistos e encontradas cinco pesquisas que se enquadraram
nos critérios preestabelecidos para a análise (Quadro 3). Após a leitura integral
desses artigos, observou-se que os estudos apresentavam conteúdo que
abordavam total ou parcialmente as questões norteadoras deste estudo, ou seja,
estavam diretamente relacionadas ao nosso objeto.
Quadro 3 - Principais descritores e palavras-chave listados nos estudos (SCIELO, 2013)
Ordem Palavras-Chave ou Descritores
1 alcoolismo, cultura, estresse psicológico
2
3 representação social; alcoolismo; alcoolistas em tratamento
4 alcoolismo; família; grupos de autoajuda
5 alcoolismo; família; cuidados; filosofia em enfermagem
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos dados do Levantamento no Scielo. 2013.
alcoolismo, medicina de família e comunidade, planejamento de assistência ao
paciente, enfermagem psiquiátrica
40
A busca por meio dos descritores pode levar o pesquisador a muitos
caminhos que resultam em novas buscas, ou provocam novas pesquisas. No caso,
os descritores nos sugeriram os artigos que deveríamos ler e analisar na íntegra
(Quadro 4).
Quadro 4 - Títulos analisados (SCIELO, 2013)
Ordem Títulos dos Artigos Analisados
1 O sofrimento da esposa que convive com o marido alcoólatra
2 Repercussões do alcoolismo nas relações familiares: estudo de caso
3 Alcoolismo: representações sociais elaboradas por alcoolistas em tratamento e por seus familiares
4 Alcoolismo e família: a vivência de mulheres participantes do grupo de autoajuda Al-Anon
5 Alcoolismo no contexto familiar: um olhar fenomenológico
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento, a partir dos artigos no Scielo, 2013.
Os trabalhos analisados a partir dos respectivos títulos, corroboram as
discussões sobre a importância do desenvolvimento de ações que visem à atenção
e ao cuidado da família do alcoolista, especificamente com o foco na mulher.
O artigo número 5, Alcoolismo no contexto familiar: um olhar
fenomenológico, veio ao encontro do nosso objeto e nos auxiliou na compreensão
de aspectos relevantes como, por exemplo, a questão da violência vivenciada pelas
mulheres em virtude do alcoolismo. Esse trabalho foi utilizado como parte de nossas
referências bibliográficas.
Os trabalhos produzidos são relativamente recentes, destacando-se em meio
às produções científicas e acadêmicas (Quadro 5). Porém, por outro lado, confirma-
se nossa afirmação sobre a escassez de pesquisas relacionadas ao alcoolismo com
foco na atenção à família do alcoolista.
41
Quadro 5 - Ano de publicação dos artigos (SCIELO, 2013)
Ordem Ano de Publicação
1 2005
2 2008
3 2008
4 2009
5 2011
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento, a partir dos dados do levantamento de produção.
1.3.3 Local de produção dos artigos
A partir dos estudos científicos e referenciais bibliográficos sobre o
alcoolismo, que consideram sua ocorrência um problema de saúde pública, que
acomete mundialmente a população e, consequentemente, atinge muitas famílias, a
revisão sistemática realizada a partir da base de dados do Scielo mostra e reafirma
a existência de lacunas sobre produções acerca da temática pesquisada (Quadro 6).
Quadro 6 - Local dos estudos (SCIELO, 2013)
Ordem Localidade dos Estudos
1 Colômbia / América Latina
2 Minas Gerais / Região Norte
3 Campina Grande/PB
4 São Carlos / SP
5 Bahia / Interior
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento, a partir de dados do levantamento de produção
Apenas um estudo foi realizado na cidade de São Paulo, em uma cidade do
interior, quando na capital, cuja população é de 10.886.518 habitantes, é expressiva
a ocorrência do alcoolismo. No território da pesquisa, o Distrito de São Miguel , uma
microrregião, os casos de alcoolismo tem nos chamado a atenção, levando-nos a
investigar suas implicações nas famílias. Contudo, não encontramos nenhum estudo
42
específico sobre a atenção à família do alcoolista, produzido nessa grande cidade,
constatação que nos leva a concluir que:
1) Mesmo o alcoolismo sendo um assunto polêmico e atual, as discussões sobre
essa temática não estão avançando, no sentido de alcançar outros patamares
de mediação;
2) Nesse contexto, a família continua sendo vista como coadjuvante no processo
de recuperação do alcoolista, mas não é considerada foco da ação, do
cuidado e da intervenção.
1.3.4 Objetivos dos estudos
Esta unidade temática trata do principal objetivo desta pesquisa relacionado
com a análise da expressão “atenção à família do alcoolista”. De modo geral, existe
um consenso entre os autores de que o alcoolismo não faz da família apenas
coadjuvante, mas a torna vulnerável ao adoecimento, e é necessária a criação ou a
efetivação de ações que visem ao cuidado e fortalecimento dessas famílias, ações
essas já preconizadas na Política Nacional sobre Drogas e Política Nacional sobre
Álcool, da Snad (Quadro 7).
Quadro 7 - Objetivos dos estudos (SCIELO, 2013)
Ordem Objetivos dos estudos
1 Conhecer e analisar a percepção da vida das esposas que convivem com maridos alcoólatras
2 Identificar as repercussões do alcoolismo nas relações familiares e, por meio do gerenciamento de casos, incentivar o resgate dessas relações
3 Comparar as representações sociais sobre o alcoolismo elaboradas por alcoolistas em tratamento no Centro de Recuperação Fazenda do Sol, Campina Grande/PB, com as de seus familiares
4 Compreender a vivência de familiares que frequentam o grupo de apoio Al-Anon diante da experiência do alcoolismo
5 Conhecer o significado da convivência diária com uma pessoa alcoolista
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos artigos do Scielo, 2013.
43
Partindo de levantamento bibliográfico sobre o tema família e alcoolismo,
realizado nas bases de dados Medline, Lilacs e Cinahl, Sena, Boery et al (2011)
apontaram que o cotidiano da maioria das famílias que convive com o alcoolismo
pode ser caótico, marcado por inconsistência e fragilidade nas relações afetivas, o
que causa distanciamento emocional entre seus membros. No mesmo
levantamento, um estudo destaca a noção de que a família é vista como
fragmentada, deteriorada, apresentando conflitos e crises existenciais frequentes,
convivendo com a infelicidade, a ansiedade, o sentimento de impotência diante da
situação vivenciada, além de seus membros terem a probabilidade constante de
sofrer com a violência doméstica:
Neste contexto, está posto que o cuidado deve estar voltado não somente para o alcoolista, mas para toda sua família, e para outros, inseridos no contexto cotidiano da pessoa. Porém, o que se observa, hoje, é que a família é vista apenas como coadjuvante no tratamento do membro alcoolista e não como entidade que necessita de cuidados, tanto quanto ele. (SENA, BOERY, CARVALHO, REIS,MARQUES, 2011)
14.
Com relação à mulher, também é consenso entre os autores que é a esposa,
ou a companheira, o canal condutor das cargas emocional, psíquica e espiritual que
perpassa as relações familiares, por isso a importância da promoção de ações para
as mulheres de alcoolista.
14
Artigo analisado durante o levantamento de produção por meio da revisão sistemática.
44
CAPÍTULO II
RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
2.1 Cenário da Pesquisa de Campo: Distrito de São Miguel, São Paulo/SP
[...] o território como chão concreto das políticas, a raiz dos números e a realidade da vida coletiva.
(KOGA, 2003, p. 33)
2.1.1 Área geográfica
Este tópico visa dar visibilidade ao território15 em que a pesquisa foi realizada,
a fim de demonstrar a importância da atenção das ações governamentais e não
governamentais nos diversos segmentos.
O território também representa o chão do exercício da cidadania, pois cidadania representa vida ativa no território, onde se concretizam as relações sociais, as relações de vizinhança e solidariedade, as relações de poder. É no território que as desigualdades sociais tornam-se evidentes entre os cidadãos, as condições de vida entre os moradores de uma mesma cidade mostram-se diferenciadas, a presença/ ausência dos serviços públicos se faz sentir e a qualidade destes mesmos serviços apresentam-se desiguais. (KOGA, 2003, p. 33).
O “chão concreto” em que a pesquisa se deu é o local em que as pessoas
vivem, se conhecem, se casam, constroem juntas, e também se divorciam; é onde
tudo acontece, trata-se da área administrada pela Subprefeitura de São Miguel,
composta por três distritos, São Miguel, Jardim Helen e Vila Jacuí, que, segundo
dados de 2010, do IBGE, somados, representam um total de 24,3 quilômetros
quadrados, habitados por aproximadamente 377 mil pessoas (Quadro 8).
15
Segundo Koga (2003, p. 34), “a noção de território hoje ultrapassa os limites do campo da geografia, sendo concebida e utilizada pelas ciências sociais, políticas e econômicas”.
45
Quadro 8 - Características do distrito de São Miguel, São Paulo, 2013
Distrito Total de
Habitantes Área
Geográfica (km2)
Vila Jacuí 141.900 7,8
Jardim Helena 134.158 9,20
São Miguel 91.238 7,70
Fonte: IBGE – Censo Demográfico de 2010
2.1.2 Breve histórico de São Miguel
O distrito de São Miguel é uma referência na região, rico por sua diversidade
cultural e histórica e, com seus 453 anos, também faz parte da história da cidade de
São Paulo. Historiadores e pesquisadores não conseguiram datar sua fundação,
contudo, estabelecem, em princípio, 25 de janeiro de 1554, mesma data da capital.
O início oficial de São Miguel, ou como era chamado inicialmente, Ururaí, está
registrado em 25 de setembro de 1622.
Migrantes vindos de diversas localidades brasileiras em busca de realizações
e melhores condições de vida encontraram, em São Miguel, a possibilidade de
permanecer com suas famílias:
São Miguel era conhecido como o bairro dos nordestinos, ou a segunda Bahia. Os donos da indústria mandavam caminhões pau-de-arara trazerem homens e mulheres do Nordeste para trabalhar na fábrica. As pessoas não tinham qualificação profissional, mas aceitaram trabalhar nas condições insalubres a que eram submetidas. (Sra. AM, 2001)
16.
16
A Sra. A.M é assistente social, ex- moradora da região de São Miguel , e viveu intensamente o processo de industrialização da região. Em um encontro de trabalho, falávamos a respeito do território quando ela mencionou sua experiência profissional na Cia. Nitro Química.
46
2.1.3 O território na contemporaneidade
O mapa contido na Figura 1 foi elaborado pelo Observatório de Políticas
Sociais e retrata o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), e permite
perceber a atual condição dos distritos da subprefeitura de São Miguel. A partir da
legenda, nota-se que a região apresenta algumas áreas de vulnerabilidade baixa,
porém, grande parte está marcada por índices de vulnerabilidade média e alta e,
ainda, uma parte importante, apresenta índices de vulnerabilidade muito alta.
O mapa seguinte (Figura 2) foi elaborado pela Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) e apresenta a Rede de Serviços
Socioassistenciais17 no Município de São Paulo.
17
Conforme a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/Suas) rede socioassistencial é um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, que oferecem e operam benefícios, serviços, programas e projetos, a fim de promover a proteção social, sob a hierarquia de básica e especial e, ainda, por níveis de complexidade.
47
Figura 1 – Mapa do IPVS dos distritos da subprefeitura de São Miguel/SP
Legenda
Vulnerabilidade baixa (grupo 3): Setores censitários que
se classificam nos níveis altos ou médios da dimensão
socioeconômica; seu perfil demográfico caracteriza-se pela
predominância de famílias jovens e adultas.
Vulnerabilidade média (Grupo 4): Nesses setores
censitários concentram-se famílias jovens, isto é, com forte
presença de chefes jovens (menos de 30 anos de idade) e
de crianças pequenas.
Vulnerabilidade alta (Grupo 5): Setores censitários que
possuem as piores condições na dimensão
socioeconômica (baixa). Este grupo, juntamente com o
grupo 6, apresenta os chefes de domicílio com os mais
baixos níveis de renda e escolaridade. Concentra famílias
mais velhas, com menor presença de crianças pequenas.
Vulnerabilidade muito alta (grupo 6): Como no grupo
anterior, esses setores censitários apresentam as piores
condições em termos da dimensão socioeconômica
(baixa), mas com a diferença de mostrarem grande
concentração de famílias jovens. A combinação entre
chefes jovens, com baixos níveis de renda e de
escolaridade e presença significativa de crianças
pequenas permite inferir ser este o grupo de maior
vulnerabilidade à pobreza. (OBSERVATÓRIO DE
POLÍTICAS SOCIAIS).
49
2.1.4 Serviços e entidades socioassistenciais do Distrito de São Miguel
Na região, foram encontrados os serviços socioassistenciais descritos no
Quadro 9.
Quadro 9 - Serviço socioassistenciais no território. São Miguel/SP, 2013
Serviço Socioassistencial Quantidade
Núcleo de Convivência para Idosos 7
Centro para Criança e Adolescente 8
Centro para Juventude 2
Programa Ação Família 1
Centro de Referência para Criança e Adolescente 1
Núcleo de Apoio para a Inclusão Social para Pessoa com Deficiência 1
Centro de Referência de Assistência Social (Cras) 1
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento, a partir dos dados do mapa da Smads, São Paulo, 2013
Há expressiva presença de idosos, no território, o que chama a atenção para
as questões de envelhecimento e suas implicações, bem como a importância de
atenção para esse segmento populacional (Quadro 10).
Quadro 10 - Presença de idosos no território. São Miguel/SP, 2013
Distrito Total de idosos
(60 a 80 anos) Homens Mulheres % da População
Jardim Helena 10.931 4.699 6.232 8,5%
São Miguel 11.245 4.654 6.591 8,1%
Jacuí 11.442 4.762 6.680 12,3%
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010
As variáveis trabalho e renda demonstram a situação do trabalho formal
ou informal e do não trabalho, a partir de atividades que se realizam no território e
em sua maioria fora dele, as quais garantem o rendimento dos habitantes, que varia
em média de meio a cinco salários-mínimos (Quadros 11 e 12).
50
Quadro 11- Rendimento pessoal. São Miguel/SP, 2013
Distrito Pessoas de 10 anos ou mais que
possuem rendimento
Homens com mais de 64 e mulheres com mais de 59 anos que possuem
rendimento (Não aposentadoria)
Jardim Helena 113.8113 9.120
São Miguel 79.920 9.760
Vila Jacuí 120.920 9.606
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010
Quadro 12 - Média de renda mensal. São Miguel/SP, 2013 (em salários-mínimos)
Pessoas de 10 anos ou mais, por classe de rendimento nominal mensal
Distrito Sem
renda Até ½ sm ½ a 1 sm 1 a 2 sm 2 a 5 sm
5 a 10 sm
1 a 20 sm
Jardim Helena
51.160 2.136 17.459 29.696 11.880 1.321 143
São Miguel
31.251 977 11.680 20.496 12.512 2.578 368
Vila Jacuí 48.882 2.062 17.542 32.646 16.172 3.057 416
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010
2.2 A Universidade Cruzeiro do Sul no Território
A Cruzeiro do Sul Educacional foi fundada em 1965 e, atualmente, é
composta pelo Colégio Cruzeiro do Sul, São Paulo/SP; Universidade Cruzeiro do
Sul, São Paulo/SP; Centro Universitário Módulo, Caraguatatuba/SP; Centro
Universitário do Distrito Federal, Brasília/DF; Universidade Cidade de São Paulo/SP
e pela Universidade de Franca/SP.
A Universidade Cruzeiro do Sul tem seus campi em São Miguel (Distrito de
Vila Jacuí), Anália franco e Liberdade e mantém forte relação com a comunidade,
que procura diariamente os serviços oferecidos pela Instituição, como os específicos
de saúde, das Clínicas de Odontologia, Fisioterapia, Enfermagem e Psicologia, bem
51
como os jurídicos, do Núcleo de Prática Jurídica. E é nesse universo de
possibilidades que a Universidade vem desenvolvendo suas ações no território.
[...] a noção de território se constrói a partir da relação entre o território e as pessoas que dele se utilizam. Essa indivisibilidade hoje se mostra com uma particularidade extremamente fecunda quando observamos a intensa dinâmica das populações no território. (KOGA, 2003, p. 35).
2.3 Assistência Jurídica e Serviço Social
Diariamente, recebemos pessoas que chegam ao NPJ à procura do acesso à
justiça, na maioria das vezes, sem saber que esse acesso decorre de um direito
previsto em lei18, que aponta a igualdade total entre os homens. São pessoas que
buscam socorro para as questões de seu cotidiano.
A Constituição Federal (CF) de 1988, no artigo 5o, traz que “Todos os homens
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”. Igualdade em
direitos e em deveres, porém, vivemos em um contexto de desigualdades sociais.
No mesmo artigo, inciso LXXIV, vemos consolidada essa garantia: “o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos”.
A assistência jurídica tenta proporcionar igualdade de direitos às pessoas,
bem como resgatar a cidadania perdida pelo empobrecimento material. No entanto,
é contraditório afirmar que todos são iguais perante a lei, visto que, para ter acesso
à justiça, sem mencionar a outros direitos, o cidadão proveniente das camadas
baixas, precisa apresentar inúmeras comprovações da sua necessidade.
Comprovar que não exercita outros direitos fundamentais, como trabalho e
salários dignos, condições de habitação mínimas para o bem-estar individual e
familiar, cultura e educação devidas para a valorização e promoção social e saúde
compatíveis com o mínimo necessário para a existência humana.
18
A Lei 1.060/1950 estabelece normas para a concessão de assistência jurídica gratuita aos que dela necessitam.
52
O agravamento das desigualdades sociais e da pobreza na sociedade brasileira, o desrespeito aos direitos dos homens leva cada vez mais à procura do serviço da assistência jurídica um contingente de pessoas em número muito superior à sua capacidade de atendimento. A solução para este problema está estreitamente vinculada a medidas de enfrentamento da pobreza e reformas estruturais na sociedade. (CHUAIRI, 2001, p. 132).
Em meio a essa realidade contraditória, diariamente, o NPJ recebe um
número significativo de pessoas à procura de atendimento jurídico na área do direito
de família para resolver ações de divórcio, pensão alimentícia, alvará judicial,
guarda, investigação de paternidade, interdição, tutela, curatela, entre outras.
O número crescente de pessoas interessadas em questões relacionadas à
justiça, em busca de resolução de seus conflitos não resolvidos em outras áreas,
aparece como expressão da questão social e isso faz com que a área do Direito
necessite do auxílio de outras especialidades, a fim de subsidiar suas ações.
Essa realidade contribui para alterar ou produzir ou alterar novas necessidades, levando a ciência do Direito a requerer o auxílio das ciências humanas e sociais, com o objetivo de assessorar e subsidiar as decisões e os procedimentos jurídicos em situações nas quais o conhecimento técnico-científico é necessário. (CHUAIRI, 2001, p. 136).
Ou seja, a necessidade do Serviço Social, como ciência social aplicada no
contexto sociojurídico, vai além da triagem, mas é uma via de acesso da população
aos direitos constituídos, e historicamente mantém interface com o Direito. A
intervenção profissional, no que se refere às lutas pela conquista e manutenção de
direitos, bem como sua propagação, é objeto do seu trabalho.
Entre essas áreas auxiliares destaca-se o Serviço Social, como parte integrante da equipe interdisciplinar, contribuindo com seu conhecimento específico para a construção de novas alternativas de ação no campo jurídico. (CHUAIRI, 2001, p. 137).
Atua, contudo, na consolidação da cidadania, garantindo os direitos civis e
políticos dos cidadãos, em especial, das camadas empobrecidas; promovendo a
equidade e a justiça social, de modo que a população tenha assegurado o acesso
aos bens e serviços, de forma qualificada, desburocratizada e não constrangedora,
dando vida e voz ao Projeto Ético-Político do Serviço Social.
53
2.3.1 O núcleo de prática jurídica da universidade Cruzeiro do Sul
Inaugurado em 11 de maio de 1998, o NPJ vem desenvolvendo ações
relacionadas ao Direito de Família e atendendo à população do Distrito de São
Miguel.
O Escritório de Assistência órgão do Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade cruzeiro do Sul, neste instrumento designado doravante Escritório, tem por finalidade proporcionar assistência jurídica gratuita à população carente da região de São Miguel, bem como o aprimoramento da formação dos alunos matriculados no curso de direito da mesma Universidade. (REGIMENTO INTERNO, 1998).
O Núcleo também serve de laboratório para o acadêmico do curso de Serviço
Social, que, no papel de estagiário, pode participar das atividades ali desenvolvidas,
contribuindo com seus conhecimentos adquiridos ao longo da graduação,
fundamentando, assim, com a prática, a construção de sua identidade profissional
correlacionada ao embasamento teórico-metodológico e ético-político.
Para operacionalizar os trabalhos, o NPJ conta com a equipe técnica
apresentada na Figura 3. Também conta com duas funcionárias administrativas.
Figura 3 - Organograma do NPJ
Fonte: Organograma elaborado por Rosana Nascimento – 2014.
coordenador-geral
(advogado)
advogado
orientador
10 estagiários
advogado
orientador
10 estagiários
advogado
orientador
10 estagiários
assistente social
54
Entre as várias atribuições do Serviço Social no NPJ destacam-se as seguintes:
Atender à demanda em seus serviços de plantão e triagem;
Oferecer orientação social e encaminhamentos diversos;
Realizar estudos sociais, relatórios e pareceres;
Supervisionar estagiários do curso de Serviço Social;
Planejar e executar ações destinadas a pessoas e/ou grupos relacionados a
questões sociojurídicas;
Realizar pesquisas que subsidiam ações profissionais e acadêmicas.
2.3.2 Características da demanda
No ano de 2006, realizamos uma pesquisa quantitativa, a fim de categorizar a
demanda reprimida do NPJ, que resultou no trabalho de conclusão do curso de
especialização em Serviço Social Sociojurídico, apresentado à PUC-SP, sob o título:
O significado da demanda reprimida do Escritório de Assistência Judiciária da
Universidade Cruzeiro do Sul: primeiras aproximações19. Um dos dados
importantes que a pesquisa revelou foi o tipo de ação mais solicitada no NPJ: do
total de pedidos, 20% eram ações de Divórcio e 26% ações de Separação20.
O dado continuou provocando novas inquietações, que apontaram para a
presente pesquisa.
Alcoolismo, são muitos casos, a gente vê por aí, aqui na esquina da igreja mesmo, eles bebem e ficam sentados por aí [...] (Agente da Pastoral da Sobriedade, depoimento colhido em janeiro de 2014).
19
Em março de 2005, o número de pessoas inscritas na lista de espera era superior a 5.900, e, dessas, quase 44,1% ainda aguardava contato para o primeiro atendimento. A partir dos dados cadastrados na lista de espera do NPJ, nos propusemos a quantificar e qualificar a demanda em questão. 20
Na ocasião da pesquisa, ainda se fazia necessário o transcurso de 2 anos entre o pedido de Separação e Divórcio, porém, em 2010, a Emenda Constitucional 66/2010, que altera o parágrafo 6º do artigo 226 da CF, dispõe sobre a medida de Divórcio Direto.
55
Quadro 13 - Serviços de atenção ao alcoolista e à família, na cidade de São Paulo (2013)
Ordem Recursos socioassistenciais
1 Pastoral da Sobriedade
2 Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad)
3 Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad)
4 Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod)
5 Mulheres que Amam Demais (Mada)
6 Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos e Álcool e Drogas (Grea)
7 Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD)
8 Grupo de Familiares de Alcoólicos Anônimos (AL-Alanon)
9 Amor Exigente
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos dados do levantamento de recursos socioassistenciais
Em contatos telefônicos mantidos com os respectivos representantes do
Mada e Amor Exigente, fomos informados que, embora a demanda principal dos
grupos não seja o alcoolismo, a dinâmica dos encontros permite que familiares de
alcoolista e até mesmo o próprio alcoolista possam participar e de certo modo ser
beneficiados pela oportunidade do espaço de troca e reflexões promovidas.
Quadro 14 - Recursos no Distrito de São Miguel. 2013
Ordem Serviços socioassistenciais
1 Pastoral da Sobriedade
2 Grupo de Alcoólicos Anônimos (Al-Anon)
3 Amor Exigente
4 Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD)
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos dados do levantamento de recursos socioassistenciais
56
2.4 Objetivos dos Serviços Socioassistenciais
Quadro 15 - Objetivos dos serviços I
Pastoral da Sobriedade Al-Anon
A Pastoral da Sobriedade é a ação concreta da Igreja na Prevenção e Recuperação da Dependência Química. É uma ação pastoral conjunta que busca a integração entre todas as Pastorais, Movimentos, Comunidades Terapêuticas, Casas de Recuperação para, através da pedagogia de Jesus libertador, resgatar e reinserir os excluídos, propondo uma mudança de vida através da conversão. Fonte: <http://www.sobriedade.org.br/>. Acesso em: 20 jul 2013.
É uma associação de homens e mulheres cujas vidas foram afetadas pela maneira de beber de um familiar, ou amigo, sendo este o único requisito para ser membro. É alheio a movimentos e controvérsias; não é profissional e não está ligada a nenhuma seita, movimento político, organização, clínica ou instituição. Não é uma organização religiosa, nem de assistência social; são grupos de autoajuda, cujos membros respeitam o anonimato uns dos outros. Nas reuniões, os membros compartilham experiências, força e esperança, a fim de solucionar os problemas que têm em comum. É um programa de vida que proporciona mudanças de atitudes que levam à conquista da autoestima e da serenidade. É por meio da troca de experiências baseada nos princípios do programa, que os membros adquirem conhecimentos sobre a doença do alcoolismo e de si mesmos, e aprendem a se desligar emocionalmente do problema. Destinado aos adolescentes, o Alateen, que integra o Al-Anon, realiza reuniões que seguem o mesmo programa e os mesmos princípios, com orientação de membros adultos do Al-Anon. Fonte: <http://www.al-anon.org.br/>. Acesso em: 20 jul. 2013.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos dados do levantamento de serviços socioassistenciais. São Miguel /SP, 2013
57
Quadro 16 - Objetivos dos serviços II
Amor Exigente Caps-AD
O Amor-Exigente é um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve preceitos para a organização da família, que são praticados por meio dos 12 Princípios Básicos e Éticos, da espiritualidade e dos grupos de auto e mútua ajuda que através de seus voluntários, sensibilizam as pessoas, levando-as a perceberem a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas. Há 29 anos, o Amor-Exigente (AE) atua como apoio e orientação aos familiares de dependentes químicos. e também para pessoas com comportamentos inadequados. O Programa estendeu-se também ao trabalho com Prevenção , passando a atuar como um movimento de proteção social já que o Amor Exigente, desestimula a experimentação, o uso ou abuso de tabaco, do álcool e de outras drogas, assim como luta contra tudo o que torna os jovens vulneráveis, expostos à violência, ao crime, aos acidentes de trânsito e à corrupção, em todas as suas formas. Atualmente, o movimento conta com 11 mil voluntários, que realizam, aproximadamente, 100 mil atendimentos mensais por meio de reuniões, cursos e palestras. São mais de 641 grupos, no Brasil; um na Argentina; e 14 no Uruguai, além de cerca de 259 Subgrupos, decorrentes da instituição. Fonte: (http://www.amorexigente.org.br/). Acesso em: 20 jul. 2013.
Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que está voltado à assistência de pessoas com problemas de saúde mental, individual e coletiva. O Serviço conta com profissionais das áreas de Psicologia, Psiquiatria, Serviço Social, Enfermagem, Educação. O projeto nasceu da inspiração de um espaço de intervenção e formação acadêmica, que possibilitasse o desenvolvimento da autonomia e cidadania do portador de sofrimento psíquico, favorecendo aos alunos e técnicos a vivência interdisciplinar e promover o intercâmbio do saber entre diversas áreas de conhecimento. A criação de serviços substitutivos está orientada pela Portaria 224 do Ministério da Saúde, caracterizando-se como um serviço extra-hospitalar que tem como principal objetivo a redução de internações psiquiátricas. Fonte: <http://www9.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/smpp/sites/saopaulomaisjovem/index.php?p=69>. Acesso em: 20 jul. 2013.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos dados do levantamento de serviços socioassistenciais. São Miguel /SP, 2013.
2.5 Resultados das Entrevistas Semiestruturadas com Responsáveis por
Serviços e Entidades da Sociedade Civil, no Distrito de São Miguel/SP
Entrevista realizada em: 17/1/2014
Serviço: Pastoral da Sobriedade
Segmento: Igreja
Público-Alvo: Usuários de álcool e outras drogas, familiares e amigos
Entrevista concedida por: Agente de Pastoral
58
Quadro 17 - Resultados da entrevista – Pastoral da Sobriedade
Tem
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6 anos 6
a, das 19h
às 21h Voluntário 1 psicóloga
Cursos oferecidos na Diocese
Não Não 0 a 20
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento. Entrevista com Agente da Pastoral, jan. 2014
A divulgação da Pastoral da Sobriedade é feita por folhetos entregues ao
término das missas e no boca a boca. Segundo o agente da Pastoral, a região
apresenta muitos problemas com o alcoolismo, porém, a procura por auxílio é
pouca.
[...] Se você andar por aqui, vai ver nas esquinas vários homens bebendo, alguns até ficam caídos por lá mesmo, mas eles não vêm para as reuniões [...] (Agente da Pastoral, entrevista em janeiro de 2014).
O entrevistado esclarece que as reuniões são abertas aos dependentes e
aos familiares, que encontram na equipe de agentes de pastoral apoio e respaldo
para suas questões, e contam, inclusive, com orientação psicológica. Contudo, os
familiares presentes, na sua maioria mães, esposas ou companheiras, acabam
buscando o serviço apenas para solucionar o problema do alcoolista ou dependente
de outras drogas.
[...] As esposas e companheiras que procuram a pastoral querem resolver o problema de seus maridos e nunca buscam ajuda para si [...] (Agente da Pastoral, entrevista em janeiro de 2014).
Entrevista realizada em: 7/2/2014
Serviço: Al-Anon
Segmento: Sociedade civil
Público-Alvo: Familiares e amigos de alcoolistas
Entrevista concedida por: Integrante do Al-Anon
59
Quadro 18 - Resultados da entrevista – Al-Anon
Tem
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Dia
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Mais de 30 anos
Sábado, 17h às 19h
Voluntário Não
Cursos oferecidos pela organização distrital e pela regional
Não
Não. Contribuição dos membros
0 a 15
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento. Entrevista em jan. 2014
A entrevistada conheceu o Al-Anon através do AA e frequenta suas
reuniões há quase 30 anos. Chegou a participar de até duas reuniões semanais,
atualmente tem participado apenas de uma. Já atuou como representante de grupo
em âmbitos regional e distrital.
[...] Quando eu fui buscar o Al-Anon eu já fui consciente de que alguma coisa estava errada comigo, já tinha 28 para 29 anos e eu precisa agir, fui conhecer como funcionava [...] (Integrante do Al-Anon, entrevista em fevereiro de 2014).
O público presente nas reuniões do Al-Anon é quase 100% feminino,
composto por esposas e companheiras de alcoolistas. A presença nas reuniões não
é obrigatória, e a adesão depende da identificação dos que o procuram e do
reconhecimento da sua necessidade.
[...] o primeiro passo para a minha recuperação foi o autoconhecimento, porque você se vê através das pessoas, Quando você não conhece o programa, fica até meio desconfiada. Será que alguém não falou de mim para essa mulher, ela está falando a minha história... Eu me via através das pessoas, era como se fosse um espelho. [...] (Integrante do Al-Anon, entrevista em fevereiro de 2014)
A fala da entrevistada nos leva a compreender que a proposta do programa
do Al-Anon aproxima as pessoas, proporcionando a identificação de histórias e
situações comumente vivenciadas, possibilitando as trocas de experiências e
promovendo um momento terapêutico pela oportunidade que o espaço de interação
grupal oferece.
60
O Al-Anon atua de forma a atenuar os efeitos causados nas famílias pelo
alcoolismo. De forma gradual e progressiva, por meio da reflexão, do
autoconhecimento, da informação sobre a doença do alcoolismo, visa auxiliar os
familiares que ainda convivem com um membro alcoolista a estabelecer uma relação
mais saudável para si, possibilitando, inclusive, sua participação no processo de
tratamento do doente, respaldando também aqueles que já não estão no convívio e
que ainda sofrem com as sequelas da doença:
[...] os 12 passos, a frequência no programa, estar sempre nas reuniões, no
mínimo 1 vez por semana, nos ajuda a fazer uma reflexão sobre nosso
comportamento e a pensar em mudanças de nós mesmo, porque nós não
conseguimos mudar o outro [...] (Integrante do Al-Anon, entrevista em
fevereiro de 2014).
Contatos realizados em: 2/2014
Serviço: Caps-AD
Segmento: Estado
Público-Alvo: Pacientes da saúde mental; usuários de álcool e outras drogas
Tentamos alguns contatos com a gerência e equipe técnica do Caps-AD,
situado no subdistrito da Vila Jacuí, porém, em virtude do tempo, não conseguimos
formalizar a entrevista, mas obtivemos algumas informações importantes sobre a
atenção à família do alcoolista oferecida nesse serviço.
O Caps-AD promove o Grupo de Familiares, cujo foco principal é o cuidado
da família. O grupo é coordenado por assistentes sociais e psicólogos e nesse
espaço as mulheres de alcoolistas recebem informações sobre a dependência
química e tem a oportunidade de falar sobre suas angústias e problemas do
cotidiano relacionadas ao alcoolismo ao não, ocorre que, na maioria das vezes, o
assunto trazido pelas mulheres não está relacionado a si e sim ao companheiro
alcoolista. O grupo chega a ter em média 30 participantes (não fixos) por encontro.
As famílias procuram o Caps-AD quando a situação já está insustentável, ou
seja, quando a doença já está instalada há muitos anos e os vínculos familiares já
61
foram rompidos. Desse modo, a adesão dos familiares é difícil, pois esperam
respostas emergentes.
Outros dois motivos relevantes para a não adesão dos familiares e, em
especial das mulheres, às propostas de apoio e cuidado, é a “negação do
problema”, pois não consideram que também precisam de tratamento; e a situação
socioeconômica, que inviabiliza o acesso ao Caps-AD, uma vez que não dispõem de
auxílio para o transporte.
2.6 Grupo Focal com Mulheres de Alcoolistas
As descrições empíricas obtidas durante o GF foram analisadas, permitindo-
nos apreender o significado da convivência diária da família, especialmente da
mulher, com um membro alcoolista.
Iniciamos um processo de compreensão do material que emergiu da reunião
do grupo (Quadro 19), partindo da perspectiva de que toda tentativa de objetivar
algo sobre a convivência da mulher com um companheiro alcoolista é insuficiente
para exprimir o significado da experiência por completo.
Quadro 19 - Caracterização do grupo focal
Idade Estado Civil Local de
Residência
Filhos
Maior Menor
Rosa 35 Casada21
São Miguel 0 2
Margarida 54 Casada São Miguel 1 0
Hortênsia 55 Casada São Miguel 0 0
Orquídea 36 Casada São Miguel 0 3
Girassol 60 Divorciada São Miguel 3 0
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013
21
As mulheres ainda declaram o estado civil casadas, pois aguardam a finalização da ação de divórcio.
62
Os resultados do GF estão apresentadas a partir dos eixos e temas
previamente estabelecidos na elaboração do roteiro do encontro, e algumas falas
das depoentes foram sendo trabalhadas ao longo da construção do texto (Quadro 20).
Quadro 20 - Eixo 1 - Divórcio
Tema 1. Por que optaram pelo divórcio
Rosa [...] ele passou a ser dependente de álcool.
Ideia-chave:
Dependência do álcool
Margarida [...] ele bebia socialmente e eu me tornei a cabeça da casa.
Hortênsia [...] quando eu fui morar com ele, já sabia que ele bebia, mas achei que ele fosse parar e não parou.
Orquídea [...] ele começou a usar drogas e a beber muito.
Girassol [...] ele começou a usar drogas e também bebia, chegou a me agredir.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de
2013
A dependência do álcool tem sido o fator principal para o término dos
relacionamentos e tomada de decisão pelo divórcio. Em alguns casos, foi citado o
uso de outras drogas, agravando a situação vivenciada pelas famílias.
Girassol relata um episódio de violência doméstica22, do tipo física – “chegou
a me agredir” – e fez questão de afirmar que essa foi a única vez, porém, sofreu
várias agressões verbais e psicológicas.
[...] vários estudiosos têm concluído que o álcool é a substância mais ligada às mudanças de comportamento provocadas por efeitos psicofarmacológicos que têm como resultante a violência. Isso, pelo menos provisoriamente, pode ser depreendido dos dados apresentados acima. Estudos experimentais (FAGAN, 1990, 1993) mostram que o abuso de álcool pode ser responsável pelo aumento da agressividade entre os usuários. (MINAYO; DESLANDES, 1998)
23.
22
Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). 23
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000100011&lang=pt>. Acesso em: 9 fev. 2014.
63
Ao atender as mulheres no NPJ, foi possível perceber que nem sempre os
casos de violência doméstica e familiar do tipo físico, são resultantes do alcoolismo,
as mulheres acabam sendo vítimas das outras formas de violência.
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra
a mulher, entre outras: I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; I V – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (LEI MARIA DA PENHA).
[...] após 10 anos de casada começaram as agressões verbais. (Girassol, depoimento colhido em janeiro de 2014).
As participantes do GF nos levaram a perceber que a convivência diária com
um parceiro alcoolista implica diversas formas de violência, desde as que já são
reconhecidas até as que estão veladas, resultando na permanência das mulheres
nessas relações de risco.
Segundo Sena, Boery et al. (2011, p. 3): “Para assegurar o casamento, vale
até silenciar a própria vontade, em nome da ética, do sentimento de satisfação por
cumprir o mandado social e continuar casada [...]”.
Nesse sentido a ausência de cuidados também se constitui em uma forma de
violência.
64
O Quadro 21 revela o nível de compreensão das mulheres sobre o
alcoolismo, bem como a forma de aceitação da condição de doença de seu parceiro.
Quadro 21 - Eixo 2 - Alcoolismo
O que É Alcoolismo
Rosa [...] ele passou a ser dependente de álcool... não se reconhecia como dependente ou viciado.
Ideia-chave: Beber muito
Margarida [...] ele bebia “socialmente”...
Hortênsia [...] já sabia da bebida, mas achei que ele fosse parar e não parou.
Orquídea [...] ele começou a usar drogas e a beber muito.
Girassol [...] ele se envolveu com drogas e também bebia,...
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos depoimentos colhidos em setembro de 2013
De acordo com National Councilon Alcoholismand Drug Dependece,
alcoolismo é uma doença primária, crônica, com fatores genéticos, psicossociais e
ambientais que influenciam seu desenvolvimento e manifestações.
A dependência do álcool é definida no IV Manual Diagnóstico Estatístico (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiatria como a repetição de problemas decorrentes do uso do álcool em, pelo menos, três das sete áreas de funcionamento, ocorrendo conjuntamente, em um período mínimo de 12 meses. (SILVEIRA, 2012, p.152).
Apenas a fala de Rosa traz as expressões “dependente” e “viciado”, o que
sugere que a maioria das mulheres não tem a compreensão total da dependência do
álcool como uma doença progressiva, ou ainda temem sua rotulação estigmatizante.
Para definir a dependência do álcool, cientistas tem usado quase que
indistintamente o termo “alcoólatra” e “alcoolista”, o que tem sido reproduzido pelo
público de modo geral.
[...] ele bebia “socialmente” e eu me tornei a cabeça da casa [...] (Margarida,
GF, setembro de 2013).
A fala de Margarida sugere as relações de gênero e os papeis socialmente
aceitos, quando o homem deve exercer a função de provedor do lar, e a entonação
que a participante deu a essa colocação nos leva a entender que, para ela, agregar
ao papel feminino o de chefia doméstica foi o que mais agravou sua relação.
65
Condição essa vivida por muitas mulheres de alcoolistas, que acabam por assumir a
responsabilidade de suas famílias, mesmo antes da separação de fato.
O período da negação do alcoolismo é uma longa fase, na qual nem o
alcoolista, nem a família reconhecem o uso abusivo do álcool, o que pode ser
notado na seguinte fala:
[...] já sabia da bebida, mas achei que ele fosse parar e não parou.
(Hortênsia, GF, setembro de 2013)
Como alertam os autores:
A princípio, a família percebe o uso de álcool como um fator de interação social; nega que os problemas enfrentados tenham ligação com o uso/abuso do álcool e vai buscando justificativas para os conflitos existentes no lar. (FILZOLA, TAGLIAFERRO, ANDRADE, PAVARINI, FERREIRA, 2009)
24
O alcoolismo, muitas vezes, está associado ao uso de outras drogas ilícitas
agravando ainda mais o diagnóstico da família.
Os relatos mostram que as mulheres já vivenciaram o drama do alcoolismo em
suas famílias de origem quando os dependentes eram seus genitores (Quadro 22).
Quadro 22 - Eixo 3 - Família de origem I
Seus Pais Tinham Problema com o Álcool?
Rosa Não declarou nada
Ideia-chave:
Repetição da história familiar
Margarida [...] lembro-me de minha infância e de momentos em que meu pai bebia muito.
Hortênsia [...] meu pai também bebia muito.
Orquídea [...] meu pai bebia.
Girassol [...] meu pai não bebia.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
A repetição do histórico de dependência aparece mais nas famílias de origem
das mulheres, do que nas famílias de origem dos alcoolistas. Há casos como o de
24
Artigo analisado a partir da revisão sistemática no Scielo, 2013.
66
Orquídea, cujo alcoolismo se fez presente em sua família de origem e se estendeu à
parentela do então cônjuge (Quadro 23).
Quadro 23 - Eixo 3 - Família de origem - II
Seus Pais Tinham Problema com o Álcool?
Rosa Não declarou nada
Ideia-chave:
Repetição da história familiar
Margarida [...] que eu me lembre, o pai dele não bebia
Hortênsia [...] o pai dele não tinha problema com a bebida.
Orquídea [...] o pai dele bebia.
Girassol [...] o pai dele bebia e várias pessoas da família dele têm problema com a bebida..
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
Os depoimentos de nossos sujeitos nos revelam algo importante sobre a
existência dos serviços de atenção as famílias dos alcoolistas no território (Quadro
24).
Quadro 24 - Eixo 3 - Ajuda/Tratamento
O Dependente e a Família Procuraram Ajuda
Rosa Não declarou nada. Ideia-chave:
Resistência à ajuda / negação do problema
Falta de informação
Margarida Não procurou ajuda.
Hortênsia Não procurou ajuda.
Orquídea [...] ele chegou a passar por duas casas de recuperação.
Girassol [...] Eu tentei ajudá-lo ele não aceitou, ele dizia: “Paro quando quiser”.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
Nas falas das participantes do Grupo Focal, percebe-se que a busca por
ajuda não acontece, na maioria dos casos, principalmente de recursos profissionais
(psicólogo, psiquiatra, médico), ou outros serviços que trabalham diretamente com
as questões do alcoolismo (AA, Al-Anon, etc) e quando a família reconhece a
necessidade e procura auxílio, o dependente não aceita. Por sua vez, a família não
recorre à ajuda para si e, para essa situação, levantamos algumas hipóteses:
1. Desconhecimento dos recursos existentes na região;
2. Dificuldade de acesso aos serviços;
67
3. Vergonha de sua condição enquanto familiar de alcoolista;
4. Negação, ou seja, a busca por ajuda pode caracterizar aceitação do
problema;
5. A família acredita que a ajuda/tratamento deve ser prestada apenas ao
dependente.
Alguns familiares recorrem a práticas religiosas e à espiritualidade, à procura
de alívio e forças para enfrentar seus problemas, outras, procuram apoio na própria
família.
[...] meu ex-marido nunca aceitou tratamento, e eu também acabei não procurando ajuda para mim, quando sentia a necessidade de desabafar, procurava minha mãe. (Girassol, depoimento colhido em janeiro de 2014).
As mulheres permaneceram casadas por mais de 10 anos, mesmo com o
agravante da condição de dependência do álcool, no que diz respeito aos motivos
considerados como necessidades de ordem pessoal (Quadro 25).
Quadro 25 - Eixo 5 - Tempo de permanência no casamento
O Dependente e a Família Procuraram Ajuda
Rosa 17 anos
Ideia-chave:
Resiliência
Margarida 22 anos
Hortênsia 10 anos
Orquídea 15 anos
Girassol 17 anos
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
A convivência com o outro, a interação com pessoas diferentes, favorece o compartilhamento de afeto, de experiências positivas e negativas, de ensinamentos, entre outros aspectos, que engrandece e fortalece o ser humano. Dessa forma, a ligação com o familiar alcoolista pode ser facilmente compreendida desde que se considere o viver com o outro como algo intrínseco à natureza humana. (SENA, BOERY, CARVALHO, REIS, MARQUES, 2011).
O estudo nos revelou que as mulheres optam por continuar em um
relacionamento abusivo e destrutivo, por diversos motivos, e dentre eles destacam-se:
Filhos menores;
Dependência econômica;
68
Dependência emocional;
Amor;
Esperança que o cônjuge pare de beber;
Esperança de mudança e melhora no relacionamento.
Ele passava noites fora de casa, e eu aceitava tudo, mulherada e irresponsabilidades, eu o flagrei em adultério e planejei a sua morte. Peguei uma faca, amolei bem e coloquei debaixo do meu travesseiro, me deitei e esperei ele chegar, mas aquela noite ele não veio para casa. (Girassol, depoimento colhido em janeiro de 2014).
O Quadro 26 nos revela que algumas mulheres que viveram a ruptura
conjugal em função do alcoolismo, estabelecerem novo relacionamento após a
realização do divórcio, restabelecendo-se assim, o modelo de família nuclear de
forma reconstituída.
Quadro 26 - Eixo 6 - Novo relacionamento I
Estabelecimento de Novo Relacionamento Pós-divórcio
Rosa [...] eu tenho outro companheiro.
Ideia-chave:
Oportunidade de recomeço
Margarida [...] minha separação é recente, por enquanto não tenho outro.
Hortênsia [...] Tenho um companheiro.
Orquídea [...] estou namorando.
Girassol [...] convivo em união estável há 11 anos.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
A família nuclear continua sendo referência como forma de vida doméstica e
idealizada por muitos. Ela remete aos ideais de estrutura, equilíbrio, segurança,
aceitação social. Modelo que, em virtude de inúmeras mudanças ocorridas na
sociedade, vem sendo substituído por outros modelos e arranjos.
Mudanças são particularmente difíceis, uma vez que as experiências vividas e simbolizadas na família tem como referência, a respeito desta, definições cristalizadas, socialmente instituídas pelos dispositivos disciplinares que existem em nossa sociedade, os quais têm nos meios de comunicação um vinculo fundamental, além de suas instituições específicas. (SARTI, 2003, p. 23).
69
Foi possível perceber que algumas mulheres, na segunda relação, mostram-
se mais criteriosas em suas escolhas, levando em consideração o critério do
companheiro não beber (Quadro 17).
Quadro 27 - Eixo 6 - Novo relacionamento II
O Atual Companheiro Tem Problemas com o Álcool
Rosa [...] ele não bebe.
Ideia-chave:
Reincidência
Margarida .
Hortênsia [...] ele bebia, mas foi para o AA e parou de beber.
Orquídea [...] ele não bebe.
Girassol [...] graças a Deus esse marido não tem vício nenhum.
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas. Setembro de 2013.
O depoimento de Hortênsia no entanto, revela que seu atual companheiro já
teve problemas com o álcool, resultando em mais uma repetição da história e das
experiências com companheiro alcoolista. Porém, ele procurou o auxílio do AA, o
que, segundo ela, trouxe um bom resultado.
O amor pelo companheiro e a satisfação por transmitir-lhe esse sentimento
também apareceu como um dos motivos para a manutenção do casamento.
[...] Eu era apaixonada por ele, foi meu primeiro homem em tudo, eu me casei com 17 anos de idade e estava grávida. (Girassol, GF, setembro de 2013).
Outro fato importante, considerado essencial para a não separação do
companheiro, é a constituição da família. Nessa perspectiva, a fala de Girassol
revelou preocupação com essa questão, corroborando o controle moral sobre a
mulher, na sociedade, o que tem a ver com as influências culturais, regionais e
religiosas, bem como com o contexto sócio-histórico.
[...] passei a suportar o casamento, porque uma mulher separada não era bem-vista [...] (Girassol, GF, setembro de 2013).
Destacamos, ainda ,mais um fator que colabora para a tentativa de preservar
o casamento com o cônjuge alcoolista: é a dependência financeira, que faz com que
70
algumas mulheres, fragilizadas e sem perspectivas de crescimento, se sujeitem e
permaneçam na condição de dependência.
Segundo Sena, Boery et.al. (2011, p 6. ): “[...] Diante dessa situação, a mulher
pode sentir-se presa à relação em decorrência da falta de perspectiva de vida e da
possibilidade de comprometimento da sobrevivência”.
Para algumas mulheres, o fato de ter filhos, fruto do relacionamento com o
alcoolista, foi um componente expressivo para o prolongamento do casamento,
alegando a necessidade de cuidado e segurança da prole, em face da dependência
financeira (Quadro 28).
[...] ele levava o meu filho para o bar, e fazia tudo ali na frente dele, eu ficava doida, até que, em 1993, eu acordei, decidi que não queria mais nada disso. [...] graças a Deus, o meu filho não tem vício nenhum, mesmo tendo visto o pai usar até drogas, ele não puxou ele nisso, pelo contrário [...] o pai bebe e usa drogas até hoje e é esse filho que o socorre. (Girassol, depoimento colhido em janeiro de 2014).
Quadro 28 - Filhos advindos do casamento com o alcoolista
Filhos
Maior Menor
Rosa 0 2
Margarida 1 0
Hortênsia 0 0
Orquídea 0 3
Girassol 3 0
Fonte: Elaborado por Rosana Nascimento a partir dos depoimentos colhidos em setembro de 2013.
Já para outras mulheres, a existência de filhos não foi a razão de
permanecerem no casamento: buscaram outras formas de garantir o bem-estar dos
filhos, ora apoiando-se em suas famílias de origem, ora encontrando alternativas de
emancipação.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
[...] fazer pesquisa é descobrir caminhos, é configurar e decifrar uma paisagem desconhecida na perspectiva do que se está pesquisando. Na verdade partimos do que já conhecemos com vistas a um conhecimento mais pleno da realidade em análise, sabendo que tal conhecimento se constrói ao longo da pesquisa e só se revela na trajetória. (MARTINELLI, 2005, p. 123).
Consideramos que, durante a materialização da pesquisa, os objetivos
propostos foram sendo atingidos, proporcionando, à pesquisadora, realização,
transformação intelectual e profissional.
Assim, finalizamos este exercício investigativo, porém, sem concluí-lo,
deixando o precedente para outras aproximações, buscas e considerações sobre a
questão que nos trouxe até aqui: Rupturas conjugais motivadas pelo alcoolismo:
Uma aproximação às ações de apoio à família do alcoolista.
Apresentamos algumas considerações que expressam desafios e
possibilidades no cotidiano institucional, na perspectiva de contribuir para a prática
dos profissionais do Serviço Social, diante das demandas que lhes são
apresentadas diariamente.
A realização da pesquisa nos permitiu aprofundar o conhecimento sobre o
alcoolismo, para além dos seus aspectos científicos e farmacológicos já
consolidados, ou seja, compreender a repercussão de seus efeitos na família, na
maioria dos casos, a principal responsável pelo sucesso ou fracasso do processo de
recuperação do alcoolista.
Durante a realização do Grupo Focal com mulheres de alcoolistas, nos
atendimentos individuais e depoimentos espontâneos, nos deparamos com
mulheres extremamente capazes, inteligentes e articuladas, porém, fragilizadas
pelas sequelas causadas pelo alcoolismo, mas que, se apoiadas na fase inicial do
processo, certamente o dano sofrido teria sido menor.
Tal constatação é, de certa forma, uma resposta á pergunta colocada pelos
docentes à candidata, na entrevista de seleção para o programa de pós-graduação
72
em Serviço Social: “Sua intenção com essa pesquisa é preservar as famílias?” Qual
o sentido da expressão “preservar a família”? Evitar rupturas e manter sua estrutura
e composição apesar das dificuldades? Ou facilitar rupturas, para a preservação de
parte de seus membros?
Considerando-se as atuais configurações da família, a preservação do núcleo
familiar e bem-estar de seus membros seriam resultados da atenção à família do
alcoolista, ainda que, para isso, se optasse por um novo arranjo decorrente de uma
ação de divórcio.
Com a revisão sistemática de artigos na base de dados do Scielo, verificamos
que a literatura existente sobre a questão pesquisada é recente e ainda insuficiente
para fomentar ações de atenção à família do alcoolista em caráter preventivo e/ou
curativo de forma mais expressiva, conforme preconizado nas políticas definidas
pela Senad.
Pudemos também constatar a ausência de produção na área do Serviço
Social sobre a temática Família e Alcoolismo, muito embora esteja frequentemente
em pauta nos espaços sócio-ocupacionais em que os assistentes sociais estão
inseridos, sendo, sua intervenção e mediação, de extrema importância para o
fortalecimento e emancipação das mulheres esposas e companheiras de alcoolistas.
É sempre importante reforçar que o diálogo entre o conhecimento e a prática
poderá ampliar e enriquecer tanto a produção acadêmica e científica quanto a
prática profissional, acerca da referida temática.
Ao nos aproximarmos do território cenário da pesquisa, o Distrito de São
Miguel, encontramos algumas instituições que desenvolvem ações voltadas às
famílias de alcoolistas, como o Al-Anon, a Pastoral da Sobriedade e serviços como o
Caps-AD. Contudo, constatamos também que, embora os serviços já estejam
funcionando na região há algum tempo, não são conhecidos por boa parte da
população.
Mesmo de forma tímida e limitada, essas ações têm se apresentado como
positivas, para as mulheres de alcoolistas que procuram as entidades e os serviços
locais. Entendemos que é necessário investir na divulgação mais qualificada e de
mais alcance desses trabalhos, a fim de dar visibilidade às possíveis alternativas de
apoio, suporte e cuidado oferecidas a essas mulheres.
73
É preciso integrar e articular as ações voltadas às famílias de alcoolistas,
tendo em vista o fortalecimento da rede existente no território, levando-se em
consideração o distanciamento e isolamento das ações desenvolvidas.
O NPJ está situado em um espaço territorial estratégico, mas também carece
de parceiros articulados em uma rede de serviços de atenção capaz de proporcionar
respostas mais eficazes a essa expressão da questão social. Ressaltamos a
importância de sua inserção no contexto dos debates sociojurídicos e das políticas
públicas locais e regionais, com participação nos fóruns já existentes e a criação de
outros espaços de discussão sobre os danos causados pelo alcoolismo às famílias.
“[...] não se pode repensar a questão da assistência jurídica, sem antes de mais
nada colocá-la no âmbito das políticas, relacionadas à efetividade de direitos dos
sujeitos, no complexo quadro da realidade brasileira.” (CHUAIRI, 2001, p. 42).
Nessa perspectiva, o levantamento de recursos socioassistenciais existentes
no distrito de São Miguel, bem como o contato com os responsáveis pelos serviços,
impulsionou o início dessa articulação em rede.
Cabe mencionar que, no final do primeiro semestre de 2013, o Serviço Social
do NPJ, em parceria com o AA, realizou um seminário, tendo como público-alvo
funcionários e alunos da Unicsul, membros do AA e técnicos da rede
socioassistencial local, cujo objetivo foi compreender e refletir sobre os impactos
prejudiciais causados pelo alcoolismo, nas diversas áreas da vida. O evento foi
avaliado pelo público como “muito bom” tendo em vista a importância do tema e a
abertura do espaço para a discussão.
A efetivação da presente dissertação nos impulsiona a propor algumas ações
no âmbito político e sociojurídico, que poderão ser desenvolvidas e aplicadas em
curto, médio e longo prazos:
Subsidiar a criação de ações e programas de informação e atenção à família
do alcoolista, a fim de viabilizar a materialização das orientações dispostas na
Política Nacional sobre Drogas e na Política Nacional sobre Álcool.
Ampliar o campo de ação dentro e fora do NPJ para garantir formas
compatíveis de atendimento na área sociojurídica às mulheres de alcoolistas.
74
Inserir o NPJ no contexto dos debates sobre o alcoolismo, a fim de promover
a capacitação e formação continuada, e a efetivação da rede de atenção à
família do alcoolista.
Propor ações interdisciplinares de caráter interventivo, direcionadas à
população, que visem à orientação preventiva sobre os impactos do
alcoolismo, objetivando minimizar os atendimentos em situação limite.
Ampliar estudos e pesquisas sobre a referida temática, em âmbitos local e
regional.
Finalizamos este processo investigativo com a capacidade crítica e
consciência social ampliadas, certa de que muitos serão os desafios a serem
enfrentados. E terminamos estas considerações com um texto intitulado:
Encerrando Ciclos
Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final… Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu…. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor a fazer é deixar que elas realmente possam ir embora… Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto, às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
75
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que, o que passou, jamais voltará! Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa – nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Esqueça quem você era, e passe a ser quem. (Paulo Coelho: “Não consegui comprovar o autor deste texto, que circula na internet como se eu o tivesse escrito – até o momento pelo menos dez pessoas clamam sua autoria. Resolvi transcrevê-lo aqui com modificações que fiz”.)
Fonte: <http://paulocoelhoblog.com/2012/12/28/encerrando-ciclos/>. Acesso
em: 19 fev. 2014.
76
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79
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80
ANEXOS
ANEXO A - Artigos - Revisão Sistemática no Scielo, 2013
1 - Revista Brasileira de Psiquiatria (versão impressa ISSN 1516-4446)
Resumo
SIMAO, Maria Odete; KERR-CORREA, Florence; DALBEN, Ivete e SMAIRA, Sumaia Inaty. Mulheres
e homens alcoolistas: um estudo comparativo de fatores sociais, familiares e de evolução. Rev.
Bras. Psiquiatr. [on-line]. 2002, vol. 24, n.3, pp. 121-129. ISSN 1516-4446.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462002000300005.
Objetivos: A proporção de ocorrência de alcoolismo em homens e mulheres tem uma variação de
14:1 até 2:1, mostrando a necessidade de estudos específicos para a população feminina. O objetivo
deste estudo foi analisar o perfil e a evolução de alcoolistas, segundo gênero e gravidade da
dependência. Métodos: Realizou-se um estudo longitudinal retrospectivo de 114 homens e 57
mulheres alcoolistas (CID-10), inscritos no ambulatório da Faculdade de Medicina de Botucatu, no
período de 1990-1994 e avaliados até julho de 1997. Utilizou-se um questionário semiestruturado, e,
para avaliação da gravidade do alcoolismo, o Short Alcohol Dependence Data.
Resultados/Conclusões: Os principais resultados mostraram que a estrutura familiar estava
comprometida com: relacionamento difícil para 55,6% das mulheres e 65,7% dos homens; violência
familiar em 74,1% das mulheres e 61,1% dos homens. As mulheres iniciaram a ingestão mais tarde
que os homens (p=0,01), em geral com seus cônjuges (p=0,00). Não houve diferença de evolução no
tratamento entre os gêneros. Os principais fatores associados à melhor resposta ao tratamento,
independentemente do sexo, foram: nível de gravidade de dependência do álcool (dependentes leves
e moderados apresentaram 5,59 vezes mais chances de melhorar do que os dependentes graves);
ser praticante de alguma religião (2,3 vezes mais chances de melhora do que os pacientes que não
eram praticantes); e tempo de seguimento no programa, negativamente correlacionado a chances de
melhora (0,68 vezes menos chances de melhora que aqueles que permaneceram por tempo menor
em tratamento).
Palavras-chave: Alcoolismo; Gênero; Resultado de tratamento; Terapêutica.
81
2 - Revista Latino-Americana de Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-1169)
Resumo
RUIZ, Martha Ramírez e ANDRADE, Denise de. A família e os fatores de risco associados ao
consumo de álcool e tabaco em crianças e adolescentes (Guayaquil-Equador). Rev. Latino-Am.
Enfermagem [online]. 2005, vol.13, n.spe, pp. 813-818. ISSN 0104-1169.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692005000700008.
A presente investigação teve como objetivo identificar no ambiente familiar os possíveis fatores de
risco associados ao alcoolismo e tabagismo em crianças e adolescentes. É importante enfatizar que
estudo desta natureza dentro de uma perspectiva sociocultural expressa a tentativa de entender os
fatores do risco para o uso do tabaco e de bebidas alcoólicas, bem como as influências ambientais de
maneira a impedir futuras dependências. Utilizou-se uma amostra de cem famílias e aplicou-se um
instrumento preestabelecido. Como resultado, obteve que 51% dos pais possuem nível educacional
baixo, 54% tem o salário inferior ao básico, 61% fazem uso de bebidas alcoólicas. Vale enfatizar que
inquestionavelmente a redução da casuística do alcoolismo e/ou tabagismo influencia
significativamente na qualidade da vida dos indivíduos.
Palavras-chave: Alcoolismo; Tabagismo; Fatores de risco; Criança; Adolescente.
3 - Revista Latino-Americana de Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-1169)
Resumo
VARGAS, Nohora Isabel Tobo e ZAGO, Márcia Maria Fontão. O sofrimento da esposa que convive
com o marido alcoólatra. Rev. Latino-Am. Enfermagem [on-line]. 2005, vol.13, n.spe, pp. 806-812.
ISSN 0104-1169. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692005000700007.
Este estudo teve o objetivo de conhecer e analisar a percepção da vida das esposas que convivem
com maridos alcoólatras. O enfoque metodológico foi qualitativo, do tipo descritivo e exploratório. A
coleta de dados foi realizada com seis mulheres colombianas, por meio da entrevista semiestruturada
e da observação. Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo qualitativo. O material
obtido foi classificado em categorias e por elas pode-se estabelecer que o significado dominante de
"sofrimento", atribuído pelas mulheres, está determinado pelo contexto sociocultural, refletindo seus
valores e comportamentos culturais.
Palavras-chave: Alcoolismo; Cultura; Estresse psicológico.
82
4 - Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (versão impressa ISSN 1519-3829)
Resumo
SOUZA, Marcos Augusto de Andrade; VIANNA, Maria Isabel Pereira e CANGUSSU, Maria Cristina
Teixeira. Disfunção familiar referida pela presença de depressão materna e/ou alcoolismo na
família e ocorrência de cárie dentária em crianças de dois e três anos de idade. Rev. Bras.
Saude Mater. Infant. [on-line]. 2006, vol. 6, n.3, pp. 309-317. ISSN 1519-3829.
http://dx.doi.org/10.1590/S1519-38292006000300007.
OBJETIVOS: identificar a associação entre disfunção familiar, referida pela presença de alcoolismo
na família e/ou presença de sintomas de depressão materna e a cárie dentária em crianças de dois e
três anos de idade. MÉTODOS: a população consistiu de 74 famílias de Salvador, Bahia. A coleta de
dados compreendeu o exame bucal das crianças e a entrevista com suas mães no domicílio. Foram
utilizados para o diagnóstico de cárie dentária os critérios adotados pela Organização Mundial de
Saúde, classificando posteriormente a prevalência da doença. Para a identificação de sintomas de
depressão materna e/ou caso de alcoolismo na família, foram utilizados o Self-Report Questionnaire
(SRQ-20) e a escala Cage adaptada, respectivamente. Procedeu-se à análise descritiva, e a razão de
prevalência ajustada para as variáveis de confusão estimada por meio de regressão logística não
condicional. RESULTADOS: a população revelou-se homogênea no perfil socioeconômico. A
prevalência de cárie em crianças foi de 20,2%. Observou-se uma associação positiva entre disfunção
familiar e cárie (RPbruta= 3,06; IC95%: 1,07-8,75). Quando este modelo foi ajustado pelas covariáveis
de confusão, chefia da família e situação de trabalho materno nos últimos dois anos, detectou-se
incremento da associação (RPajustada= 7,35; IC95%: 1,50-36,07). CONCLUSÕES: existe uma
associação entre disfunção familiar e ocorrência de cárie dentária em crianças de dois e três anos de
idade.
Palavras-chave: Cárie dentária; Ajustamento social; Epidemiologia; Criança
5 - Revista Latino-Americana de Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-1169)
Resumo
CASTILLO, Carlos Onorio e COSTA, Maria Cristina Silva. Significados do consumo de álcool em
famílias de uma comunidade pobre venezuelana. Rev. Latino-Am. Enfermagem [on-line]. 2008,
vol.16, n.spe, pp. 535-542. ISSN 0104-1169. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692008000700006.
Resultado de pesquisa etnográfica, sob a ótica da antropologia interpretativa. Este trabalho objetiva
interpretar significados do consumo de álcool em famílias de uma comunidade pobre venezuelana.
Seis famílias foram pesquisadas, totalizando 20 participantes. Os resultados mostram diferenças
83
entre pais, mães, e filhos, na atribuição dada aos significados do consumo de álcool, tendo uma visão
mais valorativa dos filhos, e menor aceitação entre as mães. As convergências de sentidos foram
mais frequentes que as diferenças, permitindo identificar as unidades de significado: consumo
excessivo, bebedeira e alegria. Na associação das bebidas alcoólicas com alegria e festa encontra-se
a principal motivação para beber, e a principal fonte de resistência para a modificação de condutas
perante o álcool. Os núcleos de significados identificados foram: existência de um contínuo entre o
beber normal e o patológico, sendo uma concepção de felicidade perante o consumo de álcool.
Palavras-chave: Alcoolismo; Família; Saúde pública; Etnografia; Enfermagem
6 - Revista Latino-Americana de Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-1169)
Resumo
REINALDO, Amanda Márcia dos Santos e PILLON, Sandra Cristina. Repercussões do alcoolismo
nas relações familiares: estudo de caso. Rev. Latino-Am. Enfermagem [on-line]. 2008, vol.16, n.spe,
pp. 529-534. ISSN 0104-1169. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692008000700005.
Os problemas relacionados ao uso do álcool têm sido associados a diversos fatores,
independentemente das causas atribuídas ao fenômeno em questão. Quando consideramos que o
consumo e a dependência do álcool aumentam o risco para problemas sociais, de trabalho,
familiares, físicos, legais e violência, podemos afirmar que o mesmo merece atenção e configura-se
como um problema de saúde pública. O objetivo deste estudo de caso foi identificar as repercussões
do alcoolismo nas relações familiares, e por meio do gerenciamento de casos, incentivar o resgate
dessas relações. Os resultados demonstram que os transtornos decorrentes do uso do álcool
penalizam enormemente os membros da família, contribuindo para altos níveis de conflito
interpessoal, violência doméstica, inadequação parental, abuso e negligência infantil, dificuldades
financeiras e legais, além de problemas clínicos relacionados ao uso do álcool.
Palavras-chave: Alcoolismo; Medicina de família e comunidade; Planejamento de assistência ao
paciente; Enfermagem psiquiátrica.
7 - Interface - Comunicação, Saúde, Educação (versão impressa ISSN 1414-3283)
Resumo
SANTOS, Muriella Sisa Dantas dos e VELOSO, Thelma Maria Grisi. Alcoolismo: representações
sociais elaboradas por alcoolistas em tratamento e por seus familiares. Interface (Botucatu) [on-line].
2008, vol. 12, n. 26, pp. 619-634. ISSN 1414-3283. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-
32832008000300013.
84
Apresentam-se e analisam-se os resultados de uma pesquisa qualitativa cujo objetivo principal foi
comparar as representações sociais sobre o alcoolismo elaboradas por alcoolistas em tratamento no
Centro de Recuperação Fazenda do Sol, Campina Grande/PB, com as de seus familiares. Foram
realizadas 12 entrevistas semiestruturadas; seis com alcoolistas e seis com familiares, as quais foram
submetidas à análise temática proposta por Bardin. De modo geral, os entrevistados representaram o
alcoolismo como uma doença e, para recuperar-se dela, o indivíduo necessita de ajuda. Ressaltam-
se, ainda, representações do alcoolismo como algo que provoca perdas; como o ato de beber em
excesso; como uma dependência hereditária; um castigo e algo do demônio. No que se refere aos
fatores que os levaram à dependência química, a maioria dos entrevistados atribui a dependência a
problemas vividos na família e às amizades.
Palavras-chave: Representação social; Alcoolismo; Alcoolistas em tratamento.
8 - Jornal Brasileiro de Psiquiatria (versão impressa ISSN 0047-2085)
Resumo
FILZOLA, Carmen Lúcia Alves et al. Alcoolismo e família: a vivência de mulheres participantes do
grupo de autoajuda Al-Anon. J. Bras. Psiquiatr. [on-line]. 2009, vol. 58, n. 3, pp. 181-186. ISSN 0047-
2085. http://dx.doi.org/10.1590/S0047-20852009000300007.
OBJETIVO: Compreender a vivência de familiares que frequentam o grupo de apoio Al-Anon diante
da experiência do alcoolismo. MÉTODO: A pesquisa foi realizada com seis mulheres, das dez
convidadas, que frequentam o grupo de autoajuda Al-Anon. A coleta de dados se deu através de
entrevistas semiestruturadas. Os referenciais teórico e metodológico que embasaram a análise
qualitativa foram o Interacionismo Simbólico e a Teoria Fundamentada nos Dados, em seus passos
iniciais. RESULTADOS: Os dados resultaram em três categorias conceituais: 1) Negando o
alcoolismo e sofrendo suas consequências; 2) Buscando ajuda, aprendendo com o grupo; e 3)
Esperando a cura, experimentando a sobriedade e enfrentando as recaídas. Além do apoio da própria
família e da religião, as mulheres apontaram a importância do grupo de autoajuda para ampará-las no
enfrentamento dos problemas decorrentes do alcoolismo. CONCLUSÃO: Esperamos que os
resultados desta pesquisa possam contribuir para a valorização do suporte oferecido pelo Al-Anon,
estimular novos estudos na área e fortalecer, entre os profissionais de saúde, o reconhecimento do
grupo como recurso importante de apoio efetivo às famílias.
Palavras-chave: Alcoolismo; Família; Grupos de autoajuda.
85
9 - Psicologia USP (versão impressa ISSN 0103-6564)
Resumo
CAVADAS, Cláudia Manuela Soares e FONTE, Carla Alexandra Martins. A construção narrativa da
família em crianças com familiares alcoólicos: contributos de um estudo qualitativo. Psicol. USP
[on-line]. 2009, vol. 20, n. 4, pp. 517-537. ISSN 0103-6564. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-
65642009000400003.
No presente artigo, descreve-se um estudo cujo objetivo se centra na identificação e compreensão
dos significados e sentidos, narrativamente construídos e organizados por crianças com e sem
familiares alcoólicos, relativamente à sua família. Esta investigação enquadra-se na necessidade
atual de aprofundar o estudo do consumo de álcool e do seu impacto a nível familiar, principalmente
no desenvolvimento das crianças. Foi utilizada uma metodologia qualitativa, recorrendo-se à
realização de entrevistas analisadas de acordo com a Grounded Analysis. As entrevistas decorreram
com 11 crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos de idade, inseridas nas
atividades lúdico-pedagógicas de um projeto social. Seis destas crianças possuem familiares que
sofrem de alcoolismo e cinco não. Os resultados apontam para a existência de diferenças entre os
discursos dos dois grupos de crianças que constituíram a amostra, sendo que as crianças com
familiares alcoólicos manifestaram uma concepção diferente da família, que envolve relações
conflituosas e problemas de vários tipos.
Palavras-chave: Família; Alcoolismo; Infância; Grounded analysis.
10 - Revista Latino-Americana de Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-1169)
Resumo
MIELES MOREIRA, Marìa e GALERA, Sueli Aparecida Frari. Avaliação do uso de álcool por
famílias moradoras da periferia de Guayaquil, Equador, por estudantes de enfermagem. Rev.
Latino-Am. Enfermagem [on-line]. 2010, vol. 18, n.spe, pp. 620-625. ISSN 0104-1169.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692010000700019.
Este trabalho teve como objetivo apresentar o perfil sociodemográfico e o uso de álcool por famílias
avaliadas em estágio da disciplina Enfermagem Familiar Comunitária. Trata-se de estudo de caso
que utilizou como fonte de dados o Formulário de Avaliação Familiar aplicado por estudantes. As
famílias foram selecionadas por conveniência segundo o indicador de risco pobreza, informada pelas
condições externas das moradias ou identificadas pelo serviço de saúde. Elaborou-se um formulário
para se obter as informações a partir do formulário aplicado pelas estudantes, o qual continha
informações sobre o perfil socioeconômico, características familiares e consumo de álcool. Para as
86
famílias que informaram o uso de álcool aplicou-se o The Alcohol Users Identification Desorder Test
(Audit). Das 128 famílias avaliadas, 47 informaram a presença de consumo de álcool, as quais foram
selecionadas para responderem ao Audit. A pontuação média obtida foi de 10.66 pontos, indicando
Zona 2 de risco, nível que é indicado para a aplicação de intervenção com aconselhamento simples
que podem ser realizados pelos profissionais da atenção primária, principalmente enfermeiros.
Palavras-chave: Alcoolismo; Características da família; Atenção primária à saúde.
11 - Texto & Contexto – Enfermagem (versão impressa ISSN 0104-0707)
Resumo
SENA, Edite Lago da Silva et al. Alcoolismo no contexto familiar: um olhar fenomenológico. Texto
contexto - enferm. [on-line]. 2011, vol. 20, n. 2, pp. 310-318. ISSN 0104-0707.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072011000200013.
Conhecer o significado da convivência diária com uma pessoa alcoolista foi o objetivo do estudo
fenomenológico realizado com dez familiares de alcoolistas, usuários de um Centro de Atenção
Psicossocial - Álcool e Drogas, e de uma Unidade de Saúde da Família, do interior da Bahia, no
primeiro semestre de 2009. As descrições vivenciais foram desveladas por meio de entrevista
semiestruturada e de grupos focais e, em seguida, submetidas à analítica da ambiguidade, a qual
permitiu objetivar os seguintes eixos temáticos: violência percebida e violência naturalizada;
convivência por necessidade pessoal e convivência pela necessidade do outro. O fenômeno da
convivência familiar com um membro alcoolista apareceu como vivência ambígua, percebido sempre
em perfil, trazendo consigo vários outros perfis. Os resultados evidenciaram a necessidade de uma
política de cuidado à família de pessoas alcoolistas, que seja capaz de incluí-la no planejamento da
assistência integral à saúde.
Palavras-chave: Alcoolismo; Família; Cuidados; Filosofia em enfermagem.
12 - Revista da Escola de Enfermagem da USP (versão impressa ISSN 0080-6234)
Resumo
SANTOS, Alessandro Marques dos e SILVA, Mara Regina Santos da. A experiência de cuidar da
mulher alcoolista na família. Rev. esc. enferm. USP [on-line]. 2012, vol. 46, n. 2, pp. 364-371. ISSN
0080-6234. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000200014.
Este estudo tem como objetivo investigar as práticas de cuidados desenvolvidas pela família à mulher
alcoolista e conhecer a percepção desta em relação aos cuidados que recebe. Trata-se de um estudo
87
de caso, desenvolvido com uma abordagem qualitativa, cujos dados foram coletados através de
entrevistas semiestruturadas, realizadas em 2008, no domicílio de uma família de classe média,
residente em um município no extremo sul do Brasil e, posteriormente, submetidos à análise de
conteúdo. Os resultados mostram que os cuidados desenvolvidos pela família são centrados nas
necessidades de alimentação, higiene, sono, repouso, encaminhamento aos serviços especializados
para a desintoxicação e que a mulher alcoolista interpreta esses esforços como sendo ações de
controle sobre sua vida e punição pela sua condição de dependência. Destaca-se que a maneira da
família cuidar modifica-se no mesmo compasso em que o alcoolismo evolui.
Palavras-chave: Mulheres; Alcoolismo; Família; Cuidados de enfermagem.
88
ANEXO B - Carta Convite
(Timbre)
São Paulo, ... de ... de ... .
Vimos, por meio desta, convidar Vossa Senhoria a comparecer ao Escritório de
Assistência Judiciária da Universidade Cruzeiro do Sul, na unidade abaixo indicada,
no dia ... às ... horas, a fim de tratar de assunto de seu interesse.
Obs.: _________________________________________________________________
( ) São Miguel – Rua Parioto, 402 – Vila Jacuí – CEP: 08060-030 – Tel.: (11)
2037-5709
( ) Anália Franco – Rua Av. Regente Feijó, 1.295 – Anália Franco – CEP: 03337-
020 – Tel.: (11) 2672-6200
( ) Liberdade – Rua Galvão Bueno, 868 – Liberdade – CEP: 01506-000 - Tel.:
(11) 3385-3000
Atenciosamente,
__________________________________________
Nome do Estagiário: ...
Advogado Orientador:...
Pasta n. .
..
89
ANEXO C - Entrevista Semiestruturada Serviço socioassistencial
___________________________________________________________________
Endereço: ___________________________________________________________________
Dia e horário das reuniões: ___________________________________________________________________
Responsável: ___________________________________________________________________
Tempo de funcionamento: ___________________________________________________________________
Governamental ( ) Não governamental ( ) Recebe verba ou auxílio: ___________________________________________________________________
Abrangência territorial: ___________________________________________________________________
Sexo da população atendida: ( ) Homens ( ) Mulheres
Média mensal de atendimentos: ___________________________________________________________________
Procedência de encaminhamentos: ___________________________________________________________________
Articulação da entidade e outros setores: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Atividades realizadas: ______________________________________________________________________________________________________________________________________
*Características do dirigente
Idade: ____________________
Sexo: _____________________
Escolaridade: ______________
Situação de remuneração: ________________________________
Atividade remunerada fora da instituição: ___________________
Total de horas dedicadas à instituição: _____________________
90
Motivação: _________________________________________________________________
Participação em conselhos: _________________________________________________________________
Capacitação continuada: _________________________________________________________________
*Como o(a) Sr. (a) percebe o problema do alcoolismo na região?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
As famílias de alcoolistas procuram a Pastoral com que intenção?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Esposas e companheiras, de modo geral, procuram a Pastoral?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Se não, por quê? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Qual é a atenção específica dada ao familiar do alcoolista?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________