Post on 31-Jan-2016
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Princípios biomecânicos dos preparos dentários
Há três princípios fundamentais para um preparo adequado de um dente com finalidade protética:
mecânicos, biológicos e estéticos.
Os princípios mecânicos envolvem retenção, rigidez estrutural e resistência. A retenção é tida como
a qualidade que uma prótese apresenta de atuar contra as forças de deslocamento ao longo de sua
via de inserção. Uma forma eficaz de retenção nas próteses fixas é a retenção friccional. Esta
depende basicamente do contato existente entre as superfícies internas da restauração e as
superfícies externas do dente preparado, assim dito, quanto mais paralelas forem as paredes axiais
do dente preparado, maior será a retenção friccional, uma vez que as superfícies estarão em mais
contato. No entanto, o paralelismo excessivo pode dificultar a cimentação da restauração, causando
desajuste. Dessa forma, o ideal é que sejam feitas inclinações nas paredes dos preparos, que
permitam o escoamento do cimento e uma adaptação adequada da restauração.
Outro ponto importante, é que quanto maior for a coroa clínica, maior será a superfície de contato,
e assim a retenção final. No caso em que haja coroas curtas é importante que se faça inclinação
próxima ao paralelismo assim como retenções adicionais, como compensação.
A rugosidade superficial também influencia na retenção da prótese. Para tanto deve-se haver um
bom acabamento, obtendo-se micro retenções das quais permitirão uma retenção adequada do
cimento, sem causar prejuízos na adaptação. Por essa razão, o preparo deve ser bem acabado, mas
não é recomendado que este seja polido.
Em relação à rigidez estrutural deve-se executar o preparo de forma que a restauração apresente
espessura suficiente para resistir as forças mastigatórias sem comprometer a estética e os tecidos
periodontais.
A estabilidade ou resistência previne o deslocamento da prótese quando submetida a forças
oblíquas, sendo assim, previne a rotação da prótese. Dentre os fatores diretamente relacionados
com a forma de resistência da prótese estão a magnitude e direção da força aplicada, em que forças
mais intensas ou direcionadas lateralmente causam mais facilmente o deslocamento da prótese;
Relação de altura e largura do preparo, em que quanto maior a altura das paredes, maior será a área
de resistência e menor será a probabilidade da prótese sofrer deslocamento quando submetida a
forças laterais. É importante que a altura do preparo seja maior que sua largura, ou no mínimo igual
a ela. Nos casos em que isso é impossível, como coroas curtas, a confecção de canaletas axiais e
diminuição da inclinação das paredes axiais oferecem novas formas de resistência ao deslocamento;
Integridade do dente preparado, quanto mais integra a porção coronal, mas resistência terá o
preparo.
Os princípios biológicos envolvem preservação do órgão pulpar, preservação do periodonto e
preservação do tecido dental.
Uma constante preocupação profissional durante os preparos para prótese fixa deve ser a
preservação da vitalidade pulpar. Diversos fatores durante esse procedimento podem ser
considerados potencialmente deletérios ao órgão pulpar, como por exemplo o calor gerado durante
a técnica de preparo, a qualidade das pontas diamantadas, a refrigeração adequada da caneta de
alta rotação, a quantidade de tecido dental remanescente assim como a permeabilidade dentinária e
o grau de infiltração marginal. Técnicas adequadas devem ser empregadas para se evitar o dano a
polpa, como desgastes seletivos, utilizadas de acordo com as necessidades estéticas e funcionais da
prótese a ser preparada. Quando possível, deve se dar escolha a preservação do tecido pulpar.
Há um inter-relação entre a saúde periodontal e a prótese confeccionada, onde existe a
necessidade de uma harmonia entre a prótese e os tecidos periodontais. A preservação do
periodonto abrange fatores como o limite do término-cervical, o tipo de material empregado, a
adaptação e o contorno correto assim como a capacidade de higienização do próprio paciente.
Quanto ao limite cervical, o ideal seria que não houvesse contato entre as margens protéticas e os
tecidos gengivais, ou seja, que esse término fosse supragengival. Isso facilita a paciente a higiene e o
controle da placa, assim como impede a invasão do espaço biológico (essencial para a preservação
da saúde periodontal, idealmente deve haver 3mm de estrutura dental sadia coronalmente a crista
alveolar nos preparos para que haja essa preservação) e uma manutenção da própria prótese.
Porém, em certas situações, principalmente envolvendo dentes anteriores e estética esse término
pode ser colocado subgengivalmente. Nestes casos há uma dificuldade maior de higienização,
podendo levar a inflamação gengival, placa bacteriana e formação de bolsas, assim como recessões.
O ideal é que haja uma manutenção da saúde periodontal antes da reabilitação protética (realização
de tratamento periodontal básico e/ou cirúrgico quando necessário), e também após essa
reabilitação, para se evitar injúrias a esses tecidos, comprometendo o sucesso do tratamento.
Dentre os fatores que envolvem os princípios estéticos estão as margens do preparo, a espessura da
porcelana e a anatomia oclusal. Como dito anteriormente as margens do preparo são mais
esteticamente aceitáveis quando encontram-se a nível subgengival. Quanto a espessura da coroa, há
uma variação de acordo com o material utilizado, como ligas metálicas, cerâmicas e
metalocerâmicas, aonde deve-se levar em consideração estética e função, como por exemplo, a
quantidade de material em zonas de maior ou menor esforço, evitando assim, por exemplo,
deslocamento da restauração ou fratura. Em relação à anatomia oclusal, o preparo deve respeitar a
anatomia do dente a ser restaurado, com as corretas inclinações das cúspides. Um fator importante
não mencionado é o respeito da forma e simetria facial, uma vez que a coroa do dente deve ser
harmônico com as estruturas faciais, para se ter um resultado esteticamente agradável.