Post on 02-Dec-2018
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
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Dom Dadeus Grings
Reitor Norberto Francisco Rauch
Vice-Reitor Joaquim Clotet
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Antonio Mario Pascual Bianchi Délcia Enricone
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Jussara Maria Rosa Mendes Luiz Antônio de Assis Brasil e Silva
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Urbano Zilles (presidente)
Diretor da EDIPUCRS: Antoninho Muza Naime
© EDIPUCRS 1ª. Edição: 2004
Capa: José Fernando Fagundes de Azevedo Preparação de originais:
Eurico Saldanha de Lemos Revisão de normas:
Anaí Zubik Camargo de Souza Revisão: do autor
Editoração e composição: Print Line Artes Gráficas Ltda.
Impressão e acabamento:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C626q Clemente, Elvo, Irmão Quando a crônica floresce / Ir. Elvo Clemente. – Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2004. 218 p.
ISBN 85–7430–497–2 1. Crônicas Rio-Grandenses. 2. Literatura Rio- Grandense I. Título. CDD 869.9987
Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da BC-PUCRS
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SUMÁRIO
TESTEMUNHO DE FÉ E HUMANISMO – Luiz Antônio de Assis Brasil ............. 9 CAMBIANTES DA CRÔNICA
O que é escrever bem?.................................................................................. 14 Crônica Versus Conto .................................................................................... 15 A crônica desafia o tempo.............................................................................. 16 O que é CRÔNICA ......................................................................................... 17 CRÔNICA RÓSEA (105 Anos)....................................................................... 18 A vida da Crônica ........................................................................................... 19 Literatura & Literacia ...................................................................................... 20 Professores de Espanhol? ............................................................................. 22 Falar espanhol por quê? ................................................................................ 23 Treze línguas na Itália? .................................................................................. 24 Língua Japonesa – 40 anos........................................................................... 25
CRÔNICA E CULTURA Quando floresce a cultura .............................................................................. 28 Como anda a cultura? .................................................................................... 29 O vaivém das culturas.................................................................................... 30 O Despertar da Cultura .................................................................................. 31 Rádio e Cultura .............................................................................................. 33 Por que o Conselho Estadual de Cultura?..................................................... 35 Mais cultura nos municípios! .......................................................................... 36 A Cultura nos municípios ............................................................................... 37 Os diálogos da Cultura................................................................................... 39 O Tempo e a Cultura...................................................................................... 40 Vocação dos jornais ....................................................................................... 42 Som potente e amigo ..................................................................................... 43 Lições dos velhos periódicos ......................................................................... 44 E a Escola Arte do Livro?............................................................................... 46 O elogio do livro ............................................................................................. 47 Florescem os Museus .................................................................................... 48 Instituto Histórico e Geográfico ...................................................................... 50
CULTURA E HUMANISMO LATINO Cultura e Nacionalidade ................................................................................. 53 Globalização e humanismo latino .................................................................. 54 Brasil Latino.................................................................................................... 57 Os Caminhos do Humanismo ........................................................................ 58 Humanismo Latino ......................................................................................... 59
PORTUGUÊS: ALÉM DOS MARES, ESCRITORES DE ÁFRICA Cultivo e culto da Língua................................................................................ 63
Preservar a Língua Portuguesa ..................................................................... 64 Língua precisa de Lei? ................................................................................... 65 Eça de Queirós e a língua portuguesa........................................................... 68 Domínio do Português.................................................................................... 70 Polêmicas da Língua...................................................................................... 71 Poesia Portuguesa ......................................................................................... 72 Andanças do Português ................................................................................. 74 Ibéria Luso-Brasileira ..................................................................................... 76 Escritores de África ........................................................................................ 78 Moçambique e Mia Couto .............................................................................. 80 José Craveirinha ............................................................................................ 82 Timor Leste – o que será? ............................................................................. 84
ACADEMIA E ESCRITORES DO RIO GRANDE DO SUL Academia ano 2000! ...................................................................................... 87 Academia prepara Antologia .......................................................................... 88 Vida da Academia .......................................................................................... 89 Três notáveis Centenários ............................................................................. 90 Ivo Caggiani.................................................................................................... 94 O Silêncio do Guerreiro.................................................................................. 95 O Poeta de Quaraí ......................................................................................... 97 Semana de Língua Portuguesa?.................................................................. 100 Santo Amaro – QG de Chico Pedro............................................................. 101 Carlos Dante de Moraes .............................................................................. 102 Lobo da Costa: 150 anos. ............................................................................ 103 Lobo da Costa: sesqüincentenário............................................................... 106 10º Concurso Literário Mansueto Bernardi .................................................. 107 90 Anos nas Letras ...................................................................................... 108 Quatro Centenários ...................................................................................... 109
UNIVERSIDADE, HISTÓRIA, MESTRES E IDÉIAS
Donde veio a PUCRS?................................................................................. 112 70 anos de Economia................................................................................... 113 60 Anos: Letras e Filosofia........................................................................... 114 São 30 anos de História ............................................................................... 115 30 Anos de Geriatria e Gerontologia............................................................ 117 Mestre e Magistrado..................................................................................... 119 Celso Pedro Luft........................................................................................... 120 Centenário do Mestre de gerações.............................................................. 122 Professores eméritos ................................................................................... 123 Vinte e cinco anos depois ............................................................................ 124 Egito Antigo .................................................................................................. 125 Editoras Universitárias ................................................................................. 127 Editora Universitária ..................................................................................... 128 Que universidade é esta? ............................................................................ 129
Universidade: Novos caminhos?.................................................................. 132 Universidade em mudança........................................................................... 134 Para onde vai a Educação? ......................................................................... 136 Universidade renovada ................................................................................ 138
NA TRILHA DE MARCELINO CHAMPAGNAT Champagnat – O Educador.......................................................................... 141 Champagnat: além do horizonte .................................................................. 142 Um coração sem fronteiras .......................................................................... 144 O que é ser humilde? ................................................................................... 146 Centenário Marista ....................................................................................... 147 Aqueles moços!............................................................................................ 148 A longa viagem centenária........................................................................... 150 Donde vieram os Irmãos Maristas ............................................................... 151 Maristas, III Século!?.................................................................................... 152 A grande reforma ......................................................................................... 154 A Vida do Irmão Pacômio............................................................................. 155 Irmão Faustino João..................................................................................... 157 Adeus ao Irmão Faustino João .................................................................... 159 Irmão Dionísio Fuertes Alvarez.................................................................... 163 O Misssionário Marista................................................................................. 164 Irmão Mainar Longhi .................................................................................... 165
CRÔNICA — VIDA E SENTIDO DO VIVER
Quem prepara o professor? ......................................................................... 168 “Queremos mais professores”...................................................................... 169 Flores, frutos, formaturas ............................................................................. 170 O lado positivo do idoso ............................................................................... 171 Como é belo o Rosário!................................................................................ 173 A vida é bela!................................................................................................ 174 O outro existe. E eu?.................................................................................... 175 Natal, Novo Milênio! ..................................................................................... 176 Natal, para quê?........................................................................................... 177 A coisa mais importante ............................................................................... 179 Novo Millennio ineunte ................................................................................. 181 L’osservatore Romano: 140 anos ................................................................ 182 A liberdade de servir .................................................................................... 184 Adesão a Jesus Cristo ................................................................................. 185 Como é belo viver! ....................................................................................... 187 O Tempo Voa... ............................................................................................ 188 A arte da oração........................................................................................... 189 MATEUS – Evangelista da Felicidade ......................................................... 190 Como são belos os pés................................................................................ 192 O Velho se faz Novo! ................................................................................... 193 Os 100 anos de Dom Vicente ...................................................................... 194
Meus mestres, meus alunos ........................................................................ 196 Paz para o século XXI.................................................................................. 197
TESTEMUNHO DE FÉ E HUMANISMO
Se é verdade — como queria Buffon — que o estilo é o homem, esse
mesmo homem se revela, em igual medida, pelos temas que escolhe.
O leitor agora tem em mãos um livro de crônicas, que trata de
diversos temas. É preciso levar em conta o conceito desse gênero: a palavra
vem de Kronos, tempo, mas não é apenas ao tempo que se refere. A crônica
dispersa-se por espaços, pessoas, circunstâncias, episódios, ideologias,
reflexões várias, significando a opinião de seu autor. E aí entramos na
questão temática.
O Irmão Elvo Clemente, professor, Doutor em Letras, pensador
educacional, escritor e religioso, só poderia escrever crônicas em
que pulsassem todas essas marcas pessoais que o distinguem entre
seus concidadãos.
Falemos do escritor. Elvo Clemente possui aquelas qualidades que
se esperam de um bom texto, mas uma dessas sobreleva. Refiro-me ao
rigor dos conceitos com que opera. Só a segurança conceitual é capaz de
dar articulação coerente às idéias. Idéias desarrazoadas determinam um
texto incompleto, contraditório, feito mais para confundir do que para
estabelecer um contato com seu leitor. Tal não é o caso deste livro. Em
nenhum momento você estará perdido. Operando com pensamentos nítidos,
as crônicas aqui reunidas primam pela solidez do que defendem ou atacam.
O Doutor em Letras e o professor estão presentes em textos que
tratam de dois aspectos que se completam: a linguagem e a reflexão
literária. Quanto à linguagem, temos em Elvo Clemente um defensor sem
tréguas do idioma de Camões. Não se deve pensar, contudo, em posições e
intocáveis. Como intelectual de nosso tempo, ele entende a língua pátria
como um ente em mutação, passível de ser enriquecida dia a dia,
eventualmente até com alguns estrangeirismos, de resto tão comuns em
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nossa época informatizada; essa mutação, contudo, não se processa de
modo anárquico. Há um padrão que, desrespeitado, pode colocar em
jogo a própria noção de identidade nacional; sabe-se: a língua é o primacial
veículo identitário.
Quanto à literatura, os interesses do autor são amplos, circulando
pelo mundo da lusofonia portuguesa, brasileira e africana. Discute autores e
suas contribuições à cultura; não apenas os antigos, mas os atualíssimos,
cujas obras estão, ainda, in fieri. Desses depoimentos se abebera para
reflexões que vão para além do estritamente literário. Há momentos em que
o autor estabelece uma fusão de pensamentos de diversas ordens, como a
política e a cultura, e assim acontece no belo texto referente ao Timor, essa
pátria longínqua e tão perto pela língua que ali e pratica. O homme de lèttres
está presente, também, em seu lado associativo. Desde muito pertencente à
Academia Rio-Grandense de Letras, nela ocupando os maiores e relevantes
encargos, é um repositório vivo da instituição que, com as naturais
dificuldades das instituições brasileiras, vem reunindo, desde o século
anterior, pessoas representativas da intelectualidade gaúcha.
Ainda vemos o professor ao encontrarmos vários textos em que nos
fala de seu gênero predileto, a crônica, sobre a qual, ainda que brevemente,
dissemos algo acima. Intenta, e com sucesso, conceituá-la, separá-la do
conto, estabelecendo seu estatuto ontológico. Vemos, aí, o autor em sua
melhor forma, e eu diria que essas crônicas sobre a crônica são modelos
definitórios que deveriam ser seguidos pelas escolas.
O pensador educacional revela-se nos tantos textos em que a
formação dos jovens é dominante. Isso o faz até um historiador, que
acompanha com carinho insuperável aquela Universidade que é sua vida: a
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; nela obteve seu título
de Doutor, nela desenvolve sua atividade, nela sente-se bem; está sempre
atento seus colegas de magistério e ministério, destacando as biografias de
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ilustres fundadores e mantenedores. Elvo Clemente e a PUCRS
estabelecem uma criativa simbiose, feita de produtivas trocas cotidianas. A
Universidade é, para ele — e também para nós — um solo sagrado, feito da
projeção de todas nossas esperanças e nosso saber.
Na base de todas essas reflexões e afetos, está o humanismo, que
Elvo Clemente traz entranhado na alma. Humanismo, para ele, não é uma
forma de ostentação e de apregoar as próprias virtudes; trata-se de um
sentimento que está presente nas linhas e entrelinhas deste livro, como uma
espécie de leitmotiv permanente e fundamentador dos seus argumentos.
Bem sabe ele que, em nosso mundo contemporâneo, os valores humanos
parecem sofrer uma espécie de irremediável atração pelo abismo, e não são
poucas as guerras e os martírios a comprová-lo. Para assumir a atitude
defensora do humanismo, é preciso ter coragem, pois é nadar contra a
correnteza e expor o rosto à injúria. Mas Elvo Clemente mostra que combate
o bom combate, lembrado do Apóstolo. E só o bom combate justifica uma
vida. Ao contrário de Paulo, porém, a carreira de Elvo Clemente está longe
de estar terminada. Sua luta irá muito mais à frente, para alegria de quem
tem o privilégio de com ele conviver.
A configuração do homem estaria incompleta se não falássemos no
ser religioso. Para ficar ainda nas palavras de Paulo, Elvo Clemente, em seu
combate, guardou a fé. É uma fé sem vacilações, sem instantes de dúvida,
aquela que pode, se quiser, remover as tantas montanhas que nos
aparecem a todo instante. Quase sempre suas crônicas terminam com uma
referência ao AMOR — que ele grafa assim, em maiúsculas, a evidenciar
esse sentimento que humaniza e dá finalidade à existência.
Tudo que dissemos acima são palavras que, em sua pobreza, não
conseguem dizer tudo sobre o Irmão Elvo Clemente que, nascido em sua
pequena e italiana Maróstica, escolheu o Brasil para dar um testemunho que
vai além daquele que se poderia esperar e desejar de um professor, de um
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escritor, de um pedagogo: é, por todos os títulos, um testemunho de ardente
fé e visceral humanismo, cujos frutos estão aí, visíveis a quem queira vê-los.
E se pelos frutos se conhece a árvore, esta é larga e generosa.
Boa leitura.
Luiz Antonio de Assis Brasil
Doutor em Letras. Escritor
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O que é escrever bem?
Em momentos de tranqüilidade recordam-se mestres da língua
Portuguesa recentemente falecidos tais como Gládstone Chaves Melo, em
7/12/2001. Recordo com saudade a sua vinda a Porto Alegre em julho de 1953,
homenageado pelos professores de nossa Universidade. Era vibrante a sua
palavra, agradável a sua maneira de dissertar sobre tema gramatical, histórico,
estilístico ou religioso. As palavras vinham-lhe com facilidade, as comparações
e as metáforas surgiam ao natural. Era mestre de bem escrever e de falar.
Alcançara essa habilidade graças a seus anos de diuturnos e perseverantes
leituras e estudos. Num belo texto em seu livro ENSAIO DE ESTILÍSTICA da
Língua Portuguesa se lê: “Falar ou escrever bem é escolher com justeza as
palavras, as construções, o ritmo. Para tanto, necessário é saber pensar e ter
gosto: esprit de géométrie e esprit de finesse, conforme dizia Blaise Pascal.
Trata-se de descobrir e exercitar, tomar consciência e formar o habitus, tarefa
da escola, da família, de cada um para si mesmo. Tarefa nobre e esquecida
hoje, quando já não se ensina a língua, não se forma o gosto e muito mais
grave se estimula a confusão mental e a subversão das hierarquias
nacionais”. Por isso mesmo é atualíssimo o estudo da Gramática e o estudo
da Estilística, como remédio a um mal crescente e avassalador.
Essas palavras eram publicadas em livro de 1975, o que se observa 28
anos depois? Onde está a leitura correta e gostosa em sala de aula e em casa?
Onde está a preparação da redação (descrição, narrativa ou dissertativa)?
Admiramo-nos de ver o Brasil entre os países de menor letramento em Língua
Portuguesa e em Matemática. As crianças, os adolescentes e os jovens não
são treinados a pensar, a refletir sobre pequenos textos, sobre pequenas
narrativas, pequenas fábulas. O pensar, o refletir não surgem espontaneamente
nos pequenos cérebros.
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Vem-me à mente a lamentação do profeta Jeremias: “A terra de meu
povo está desolada porque não há quem medite, quem saiba pensar..” Como é
que formaremos um povo pensante se ninguém se preocupa em formar os
pequenos? Prezados colegas, não desanimemos, juntemos forças, embora
pequenas, são sempre forças para salvar os adolescentes e jovens que estão
em salas de aula. Pelo bom exercício da fala e da escrita em língua vernácula
podemos formar as pessoas que falam e escrevem corretamente e assim
saibam conduzir seus passos no bem, na virtude da verdadeira cidadania.
Correio do Povo, 1°/04/2003, p. 4, Opinião.
Crônica Versus Conto
Como é belo escrever crônicas! Às vezes, a gente não percebe a
diferença entre a CRÔNICA e o CONTO. Para cada gênero há um estilo, além
do estilo peculiar do escrevente.
A crônica conforme a tradição vem de velhos tempos em que o escriba
anotava as ações do soberano ou do chefe de uma comunidade. As crônicas
ficaram célebres, até apareceram cronicões. A etimologia liga a crônica ao
KRONOS, deus do tempo, porque os relatos estavam jungidos à temporalidade.
Modernamente, na época romântica, a ligação com o tempo foi-se adelgaçando,
em certas circunstâncias, desaparecendo. Surgiu a crônica de fatos temporais ou
de circunstâncias espaciais e sociais. Fazer crônica tornou-se ação lúdica das
palavras, das figuras e dos tropos literários. Em todo o texto que se diz crônica
deve ter o sabor do belo, o jogo da novidade e o encanto da surpresa.
Conto é o relato de um acontecimento real ou fictício em que o
protagonista é o ser humano. Em todo conto há as peripécias, um conflito entre
as partes com o resultado feliz ou indesejado, sempre inesperado. O conflito
torna-se a característica do relato, que joga com atitudes ou soluções opostas.
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O sabor dos opostos dá ao conto o granum salis que lhe confere o sabor
palatável, prenúncio de prazer estético. Saber retratar a personagem ou
personagens, saber conduzir a narrativa com elegância e beleza, são medidas
para se obter um belo e agradável conto. A literatura espanhola mantém para o
conto a denominação de narrativa corta, para o romance narrativa larga.
Como é belo e inteligente iniciar os adolescentes desde o ensino
fundamental na arte da leitura, na arte de sentir, de usufruir o gozo literário
que faz pulsar o coração juvenil no ritmo das frases e na surpresa das
expressões, densas do belo que traduz o AMOR.
Correio do Povo especial, 8/12/2002, capa, VII Concurso CIPEL e A
Platéia., 1°/12/2002, Santana do Livramento, p. 6, Opinião.
A crônica desafia o tempo
A crônica nasceu naquela tarde maravilhosa em que o venerando
ancião, sentado ao lado do jovem cheio de esperanças e de porvir, começou a
relatar velhos fatos enrustidos em sua memória. Recordava as manhãs
ensolaradas cheias de primavera, lembrava os dias sombrios carregados de
nevascas e de tempestades, mostrava com as pupilas cansadas as tardes onde
tantos sóis haviam mergulhado no oceano escuro do olvido. Aquela mão
trêmula recolhia as últimas palavras para relançar a esperança de novas
manhãs e de dias promissores nos páramos das planícies de Hur da longínqua
Caldéia. Agora, atravessado o deserto, iluminado pelos sinais divinos do monte
Sinai, a terra prometida era a nova e risonha conquista. E a grande crônica dos
livros sagrados, sob o nome de Pentateuco, que se ilumina e cria vida eterna
com o Evangelho.
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É a crônica da caminhada do povo de Deus desde as planícies dos rios
Tigre e Eufrates até às escarpas alcantiladas das geografias hodiernas em
suores, lágrimas e cânticos de alegria.
A vida continua entre guerras e perseguições, entre Kosovo e Timor Leste,
entre reuniões dos sete potentados do mundo atual; entre as parlendas de Norte e
Sul; nos conluios da União Européia ou das divergências e convergências do
Mercosul. É a crônica das grandes e mesquinhas civilizações que se amarguram
no azáfama em busca do azinhavre que se amealha tinto de sangue de tantas
gerações sacrificadas. É a crônica entretecida pelo ouro da caridade e pelos fios
tênues e imorredouros da esperança.
A crônica atravessa os séculos vibrátil, fugaz, ora ingênua ou matreira,
sempre espelhando a face mais escondida que se tenciona revelar. É o jogo
ligeiro, sério ou brincalhão de quem deseja partilhar com outros o que lhe vai
inquieto no recôndito mais profundo do ser. Texto literário que jogou com todos
os recursos da linguagem sem jamais esgotar-lhe a profundeza.
Correio do Povo Especial, 05/12/1999, p. Central.
O que é CRÔNICA
Está sendo famoso e muito procurado o concurso de crônicas
CIPEL/CORREIO DO POVO como se pode notar nos últimos anos. O que é
Crônica? A crônica é um gênero literário menor que exige conhecimentos e
habilidades tais como: gosto de escrever, versatilidade, jogo no uso das figuras
de pensamento e de retórica. O tema pode estar ligado a tempo (KRONOS) ou
a alguma idéia, fato da existência ou circunstância histórica.
Escolhido o tema é pôr-se a escrever com o propósito de alcançar
determinado efeito nos possíveis leitores ou ouvintes (se a crônica for transmitida
pelo rádio). O objetivo não necessita ser de ordem moral ou educativa, importa
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que o jogo da escrita culmine num produto belo e agradável, pois a arte literária
procura realizar o belo pela palavra.
Sacudido o torpor do cansaço gera-se a vida da crônica. Deslizam-se
os dedos no teclado do computador ou a mão vai conduzindo a caneta Bic a
pulsar do coração e nos vôos minúsculos da imaginação. As linhas vão
crescendo no papel ou na telinha, são pulsações de vida, pequenos lampejos
de luz e suspiros de esperança. O tecido da crônica vai-se cerzindo na urdidura
das palavras buscadas e apropriadas ao segmento desejado. Uma
circunstância, uma palavra, um diálogo, um solilóquio tudo é possível acontecer
até que o tecido, texto inconsútil esteja pronto, mereça as flores das metáforas
ou dos adjetivos requeridos pelos vocábulos o entrevero de idéias e de
sentimentos. Construir uma crônica é um pequeno ensaio de vida, é ensaiar
novos caminhos do viver até o coroamento do derradeiro ponto ou suspiro.
Tudo pronto, tudo revisado, tudo revivendo aquelas vicissitudes ou
circunstâncias eis a bela crônica, retrato ou miniatura de uma existência que se
quer bela risonha e iluminada daquela luz que conheceu a grande Aurora e não
conhecerá jamais Tramonto.
Correio do Povo Especial, 05/12/2001, VI Concurso CIPEL.
CRÔNICA RÓSEA (105 Anos)
Já passaram 105 anos desdeo dia 1° de outubro de 1895... Há pouco
findavam as lutas fatricidas e o Rio Grande voltava a pensar suas feridas e a
chorar seus mortos.
Nova vida perpassava naquela primavera com o farfalhar de folhas
róseas do jornal de Caldas Júnior. O Correio do Povo assistiu os funerais do
discutido e monumental político Júlio de Castilhos. Transmitira em suas colunas
outras pugnas sangrentas de 1923, as aventuras da Coluna Prestes. O triunfo
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espetacular da Revolução de 1930 em que os populares partindo da Avenida
Independência dominaram os quartéis, tudo teve registro no Correio do Povo.
Outras revoltas e agitações tiveram a cobertura fidedigna pelos repórteres de
Caldas Júnior.
São 105 anos de memórias, relíquias de história, de vida social, de
artigos de grandes poetas e escritores, de ensaios de estudiosos, de crônicas,
de editoriais
Tudo pulsa e revive sob os olhares do investigador que abre uma
página do Correio do Povo. Quanta matéria primorosa a ser pesquisada sobre a
vida da Província, de Porto Alegre, do Brasil e do mundo nas páginas dormidas
sempre prontas a despertar para comunicar vida, entusiasmo e amor aos
devotados investigadores. Neste século de história e de documentação como
seria belo e apaixonante observar a evolução político-sócioeconômica de nossa
gente. Como seria instrutivo observar as mudanças de nossa língua
portuguesa, através dos artigos e textos dos escritores das décadas
pregressas. Tudo no Correio do Povo centenário e mais um lustro é merecedor
de estudo, de análise, tudo é objeto de amor e de admiração ao constatar como
é lindo e maravilhoso falar e escrever português.
Como é notável a sedução daquelas folhas róseas que atraíram tantos
curiosos amantes da poesia, da história e da vida...
Correio do Povo, 12/10/2000, p. 4, Opinião.
A vida da Crônica
O pequeno gênero literário — CRÔNICA — alimenta-se de pequenos
episódios do cotidiano da pessoa ou da sociedade em que vivemos. Qualquer
fato, idéia, encontro, desencontro, efeméride, pode ser embrião de uma crônica.
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Daquele primeiro momento em que uma luzinha mexeu no íntimo do escritor, a
crônica começa a desenvolver-se, a estruturar-se, a viver. De repente está
pronta na telinha do computador ou colorindo o branco do papel. Depois poderá
ser lida entre amigos, numa roda de chimarrão, na tertúlia ou em reunião
literária. Aí percebe-se a vida da crônica, às vezes, alegre, outras vezes,
solitária, ou relegada ao olvido. Simples, despretensiosa vive a sua vida até que
alguém a leia e a transforme em nova vida. A leitura dá ao texto literário a
verdadeira razão de existir. Aquelas frases que o escritor transformou em
colorido mosaico pela leitura adquirem brilho, tomam força e se energizam, se
expressam em mensagem, capaz de gerar alegria, fé, esperança e amor.
Como é bela a vocação da crônica, em sua humildade vive a vida
oculta do grão deitado ao solo que ao calor e com umidade vai germinando.
Morto adquire a vida para dar nova vida àquele que o recebe. Igual acontece
com a crônica silente e solitária, definha na dormência de papéis esquecidos
até que a luz de um olhar amigo e carinhoso a tome para si para dar-lhe
nova vida repleta de esperança e de amor.
Igaçaba, 11/12/2000, Mundo da Cultura.
Literatura & Literacia
O jornal de Letras de Lisboa (17 a 30 de abril) nos traz a proposta de
renovação da capacidade de desempenho do aluno-Literacia — para as letras,
para as ciências, para a matemática, pela prática da Literatura. A Literatura é a
resposta para a reintegração dos valores da Humanidade. É um eco que ressoa
através dos séculos. O grande tribuno romano Cícero já afirmara há dois mil
anos —Humaniores litterae (as letras nos fazem mais humanos).
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O projeto Literatura & Literacia é coordenado pela profª Maria do
Carmo Vieira, na Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa. Para
ela o texto literário é um dos grandes suportes a que se devem aliar outras
artes como a música ou a pintura, levando os alunos desde tenra idade, a
percorrer um caminho em que a afetividade e a convivência com a Arte
lhes possibilite o gesto criativo de bem viver consigo próprios e com os
outros. A Literatura é o caminho para tornar as crianças, os adolescentes e
jovens mais humanos para serem adultos responsáveis capazes de
preparar uma sociedade melhor, um mundo mais habitável, mas vivível
sem violências, O projeto Literatura e Literacia começou pelas mãos de
Conceição Rolo, professora que apostou no sistema pedagógico francês,
método Freinet. O método pretende fazer dos alunos pessoas conscientes
e responsáveis que lutarão por um mundo sem guerra, sem racismo ou
qualquer outra forma de discriminação ou exploração do homem. A Bíblia é
o grande livro presente nos primeiros e nos demais passos do método. As
figuras dos profetas, dos homens que conduziram o povo sob a inspiração
de Deus — Moisés e tantos outros. Tudo culminando para nós cristãos na
figura de Jesus Cristo.
Existem iniciativas entre nós, como o CELIN (Centro de referência
para o desenvolvimento da linguagem) na Faculdade de Letras da PUCRS.
Há professoras que preparam atividades lingüísticas e literárias para grupos
de alunos e de professores com o objetivo de realizar a educação plena no
ensino fundamental e secundário através da leitura de obras literárias.
Entusiasmam-se as crianças pelos contadores de histórias, passando a
novas fases da leitura criativa confirmando: a literatura é o caminho.
Correio do Povo, 26/04/2002, p. 4, Opinião e A Platéia, 12/05/2002,
p. 6 Opinião.
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Professores de Espanhol?
Estamos vivendo dias de grandes decisões no ensino superior do
Brasil. Os acontecimentos do MERCOSUL levam a pensar mais longe da linha
do horizonte. Existe o projeto de Lei, aprovado pela Câmara Federal, em
tramitação no Senado, que tornará o Espanhol, uma segunda língua obrigatória
no ensino médio. A revista VEJA, de 10/11/99, fala da necessidade de 200 mil
professores dentro de dez anos. A USP forma anualmente 50 professores de
Espanhol por ano. Nos cursos de Letras, em Porto Alegre, não chega a uma
centena de diplomados por ano. É tempo de despertar! Em muitos setores
dezenas e dezenas de pessoas conhecedoras da língua espanhola, sem a
formação adequada se improvisam de professores. Ainda bem quando sabem a
língua e trabalham honestamente. Por que é que os Cursos de Letras dormitam
em projetos tradicionais? O momento atual reclama currículos mais ágeis,
respostas mais objetivas às necessidades de emprego e de cultura.
Existem os cursos seqüenciais que vêm sendo implementados em tão
poucas universidades. Por que não faria uma experiência com o aprendizado de
língua e cultura espanhola na modalidade seqüencial? Formar-se-ia o
conhecedor de Espanhol, capaz de assumir vários empregos na vida de
empresas e em setores de administração pública, além de ser aproveitado para
o ensino da língua de Castela. A licenciatura em letras prepara para o exercício
do magistério quando o bacharelado tem um arco mais amplo de ofertas. Há
tantas possibilidades de melhores ofertas de estudo e de possíveis empregos
aos estudantes de Letras.
Por que não acontecem ofertas de oportunidades? O engessamento
dos currículos, o confinamento a uma interpretação estreita das normas
vigentes, acomodação ao modelo existente onde dominam os métodos e
definham conhecimentos. O editorial de “O Estado” de São Paulo de 2/11/99,
conclui: “E as universidades, sem descurar da qualidade do ensino tradicional,
22
podem adaptar-se às novas necessidades dos jovens e do mercado de
trabalho”. Urge escutar as vozes que clamam de situações novas, que exigem
que se repensem currículos, pré-requisitos e profissões, para que o novo
milênio possa sorrir na civilização do AMOR.
Correio do Povo, 10/11/1999, p. 4, Opinião.
Falar espanhol por quê?
Surpreendeu-me o amplo e primoroso artigo no JL/Educaçáo de 24 de
fevereiro, Lisboa 1999, escrito por Alexandra Veiga Pereira. O título
PORTUGAL — ESPANHA: APROXIMAÇÃO LINGUÍSTICA, subtítulo: Um
triunfo para o futuro. Há a descoberta mútua de Portugal e Espanha, colocando
no túmulo do passado a história de guerras, desavenças e temores.
O número de estudantes que assistem às aulas de espanhol, quer em
institutos particulares, quer em liceus, cresce de ano para ano. Em 1997/98
eram 1.000 matrículas, no ano letivo 1998/99, são 1.517. É preciso esclarecer
que o espanhol é disciplina optativa. Os alunos de espanhol já perceberam a
vantagem de saber falar a língua do país vizinho na Península Ibérica e a sua
força na Comunidade Européia...
O que acontece entre nós? Os estudantes da licenciatura em língua e
cultura espanholas são poucos, e pouco informados sobre o futuro próximo do
ensino do espanhol em todo o território nacional.
As escolas da Província de Buenos Aires, que somam a metade do
ensino secundário da Argentina ensinam Português por determinação de
uma lei provincial.
Dentro do MERCOSUL deve haver a paridade de currículos e de
idiomas ensinados. O fascínio do inglês não deve afastar a busca do estudo do
23
espanhol e da cultura hispano-americana. Algumas faculdades de letras do
interior do Rio Grande, a URI por exemplo, despertam para essa realidade.
Alguns meses atrás uma revista de âmbito nacional estimava a
necessidade imediata de 10 mil professores de espanhol para atenderem às
escolas do Brasil de maneira simples e modesta. A remuneração dos
professores das redes públicas de ensino será tão forte para inibir tantas e tão
excelentes vocações destinadas a ensinar a outra língua da Ibéria, realizando
com isso um grande passo na realização da verdadeira civilização do AMOR.
A Platéia, 13/04/1999, p. 4, Opinião.
Treze línguas na Itália?
Os 125 anos da imigração italiana no Rio Grande nos levam a pensar e
a escrever sobre coisas da Itália. Importância especial tem a língua do povo.
Surpreendeu-me o artigo na revista Trevisani nel mondo de março 2000: Doze
línguas reconhecidas pelo Estado, além do italiano. Sabíamos da existência de
500 dialetos, falados na Península, agora deparamos com 13 línguas: albanês,
falado por 100 mil; catalão, falado por 20 mil; o alemão, por 280 mil; o
grecânico, por 12 mil; o esloveno, por 100 mil; o croato, por 2 mil; o franco-
provençal, por 85 mil; o friulano, por 600 mil; o ladino, por 40 mil; o ocitano, por
50 mil; e o sardo por um milhão. São os idiomas de outras tantas comunidades
étnicas que, com a lei aprovada recentemente pelo Senado, terão a
oportunidade de usar quer na escola, quer nos atos públicos oficiais a língua da
respectiva comunidade étnica. Os pais poderão solicitar que os filhos sejam
instruídos na prática de sua língua. Nas aulas maternais, o sardo, o friulano, o
ocitano e o grecano, como outro idioma das minorias podem ser ensinados.
24
Nos cursos elementares ou secundários as referidas línguas podem ser
usadas como atividades educativas. Nas universidades o ensino dessas línguas
poderá ser parte dos currículos dos cursos de letras. Esta lei lingüística tão
liberal levará os municípios e regiões a tomarem outras decisões quanto aos
nomes de ruas ou de lugares que devem aparecer em língua italiana e na
língua da respectiva comunidade. Faltaria nesta sinfonia lingüística o dialeto
vêneto de grande abrangência e de grande variedade, por isso mesmo não foi
aprovado como língua das importantes e prósperas comunidades do Trivêneto.
De certo, dentro de pouco tempo, poderá ser aprovado o idioma desta região
como a 13ª língua além do italiano.
A Itália dá por esse gesto o exemplo ousado de multicultura. Os alunos
nessas regiões mantêm a ligação com as raízes culturais de um passado
longínquo e ao mesmo tempo vivem a força da modernidade na conquista de
uma terceira língua para dialogar com os países do mundo. Tudo é cultura, tudo
colabora para a civilização do amor.
Correio do Povo, 29/05/2000, p. 4, Opinião.
Língua Japonesa — 40 anos
A década de 1960 notabilizou-se por numerosos cursos livres de
línguas. O Ir. José Otão incentivava o surgimento de cursos de extensão. Era a
Universidade conquistando e sendo conquistada pela comunidade. No dia 2 de
abril de 1960, inaugurava-se o Curso Prático de Língua Russa, ministrado por
Sioma Breitman. Em 1961 o Dr. Sérgio Zukov continuava com sucesso o curso
de russo, a partir de 20 de março. No dia 13 de março de 1961 começava o
Curso de Português para estrangeiros ministrado pela Profª Mercedes
Marchand. No dia 4 de abril era instalado o Curso de Língua Hebraica,
25
conduzido pelo Rabino Dr. Eliahu R. Kandel. No dia 18 de abril abria-se, com
solenidade o curso de Japonês, ministrado por Alfredo Yamachita. Em 1962
continuou sob a direção do Frater Brand, missionário jesuíta no Oriente. No dia
14 de abril o Reitor Ir. José Otão assinou importante convênio com o Diretor do
Instituto de Cultura Hispânica de Madrid, Dr. Blas Piñar, para incentivar os
estudos de Língua e Cultura Espanholas.
O estudo das línguas teve grande incremento, até falou-se de curso
de chinês. O japonês atraiu numeroso alunado. Em 1965, Paulo Gick
formado na PUCRS, iniciou o Curso de Japonês na UFRGS. Depois vieram
os cursos na UNISINOS.
Criou-se, o Centro de Cultura japonesa amparado pela PUCRS pela
pessoa extraordinária do Irmão Liberato, com amplo espaço no prédio 8.
A força do cultivo da língua e da cultura do Japão está no união forte e
produtiva do Japão com a PUCRS nas grandes realizações do Instituto de
Geriatria e Gerontologia. O Investimento milenar realizado pela J.l.C.A no referido
programa para a saúde dos idosos, pelos excelentes serviços do Consulado
Geral e pela força irradiadora do espírito apostólico de Yukio Moriguchi.
Nessa conjugação de forças, de ideais e de espírito está o segredo da
continuidade dos cursos de língua e cultura e a parceria para as realizações
técnico-científicas para o bem da pessoa humana.
Correio do Povo, 30/07/2001, p. 4, Opinião e A Platéia, 02/08/2001, Opinião.
26
Quando floresce a cultura
Ao término do ano, é o momento de os semeadores contemplarem o
campo coberto de searas ondulantes, onde as paveias replenas sorriem
contemplando o azul do céu. Após dois anos de aplicação da Lei de Incentivos
à Cultura, em que houve, de início, dificuldades de compreensão e de aplicação
de alguns dispositivos, pode-se hoje contemplar a magnífica colheita de eventos
e de ações culturais.
O Rio Grande do Sul, antes da LIC, tinha manifestações tímidas,
embora constantes, nos diversos ângulos e âmbitos da cultura. A partir do
conhecimento da nova lei, aconteceu um estremecer de vida nos diversos
redutos onde a cultura era vivida como sangue da cidadania.
Houve grandes projetos: a I Bienal do Mercosul; a recuperação do
Correio antigo para transformá-lo em Memorial: e o projeto da construção da
sede da Fospa. Houve numerosos pequenos e médios projetos em grandes
cidades e cidades pequenas em todos os quadrantes do solo rio-grandense.
Os conselheiros, impelidos pela soma crescente de projetos, dobraram seu
trabalho e sua dedicação em prol da análise, do exame, da discussão e
votação de pareceres redigidos com prudência, com um olho no texto legal e
outro olho na importância da ação cultural.
Nos horários semanais dedicados ao CEC, os conselheiros foram
apreciando a soma de 600 projetos culturais, onde são contemplados eventos
de teatro, de cinema, de dança, de Carnaval, de campeirada, de orquestras
clássicas, de rock ou de autores tradicionais, de Natal, de confecção de livros,
de CDs, etc. Não houve manifestação artística que fosse esquecida pelos
empreendedores artísticos ou pela criteriosa análise dos conselheiros. Ao
contemplar a seara loira e madura da LIC, digo com o poeta:
28
Bendita a terra onde tudo cresce.
Onde mais cresce é o amor!
Correio do Povo, 31/12/1998 e 01.01.1999, p. 4, Opinião e A Platéia,
05/01/1999, p. 4, Opinião.
Como anda a cultura?
O Conselho Estadual de Cultura havia planejado recesso para o mês de
fevereiro, porém não aconteceu, a fim de sintonizar as atividades e as ações
com o governo eleito em outubro de 1998. Com a sabedoria que rege as
pessoas cultas, houve entendimento no aparar das possíveis arestas. O diálogo
respeitoso sempre esteve presente entre o secretário Luiz Pilla Vares e o
presidente do CEC, Roque Jacoby. Fez-se enorme progresso no
aperfeiçoamento do processo seletivo na apresentação dos projetos. O trabalho
foi realmente hercúleo, correspondido pela boa vontade dos 12 conselheiros
eleitos e dos seis nomeados pelo governador Olivio Dutra, em janeiro. No
esforço concentrado venceram-se as classificações e priorizações dos
projetos apresentados em 1998, ainda numerosos, mais de uma centena.
Durante o mês de maio, a Secretaria da Cultura encaminhou para a nova
modalidade de análise e classificação 160 projetos.
Em 40 dias de trabalho intensivo nas reuniões das câmaras técnicas e
no plenário, os projetos eram avaliados sob o nome de recomendados ou não à
avaliação coletiva. Todos os conselheiros, com boa vontade, abraçaram a árdua
tarefa. Nos últimos 15 dias de junho, eram três a quatro tardes dedicadas aos
projetos. No dia 30 de junho, realizou-se a grande reunião da seleção
coletiva. Durante horas, poliram-se orçamentos, aprovando ou reprovando
29
projetos. Em 1° de julho, foi entregue à Sedac o relatório dos 160 processos,
devidamente avaliados.
Ao descortinar o panorama de tantos projetos, vê-se como o Rio
Grande floresce em atividades culturais no campo da música clássica, moderna
ou tradicionalista; das artes plásticas; da produção de espetáculos de dança
com os coloridos das etnias que formam o nobre povo sul-riograndense; do
patrimônio físico e cultural preservado e recuperado; das letras com suas
manifestações em livros ou em recitais no campo e na cidade. Há esforços
humildes, cheios de fé e de poesia, como há feitos majestosos de grandes
apresentações. A variedade de projetos faz a beleza e a afirmação das
iniciativas de nossa gente, amparadas pela Lei de Incentivo à Cultura.
Correio do Povo, 09/07/1999, p. 4, Opinião.
O vaivém das culturas
Ao tecer loas a mais um 14 de julho, lembramos toda uma civilização
que vem se projetando há 210 anos. Desde o reinado dos Luíses de França, a
cultura das Gálias se espalhava por todos os quadrantes do globo: Graças à
intervenção de Luís XVI as 13 colônias inglesas adquiriram a Independência a
partir de 4 de julho de 1776 ... Tudo isso valeu a quebradeira dos cofres
franceses e o surgimento da Revolução de 1789 na França e no mundo. As
revoluções que espocaram por toda a parte na Europa: Espanha, Itália,
Alemanha e sobretudo na América todas tinham sotaque cultural francês. O
século XIX, século das luzes, filho do Iluminismo, tinha o domínio de Paris, na
língua, nos costumes e na cultura. A França pretendeu civilizar o mundo com a
língua, com a esplêndida literatura de Jean Jacques Rousseau a Zolá ou a
Flaubert. Os livros franceses, os poetas, os filósofos eram recitados, discutidos
30
nas cortes de Viena, de Berlim, de São Petersburgo, e nas capitais americanas:
Buenos Aires, Santiago, Rio de Janeiro, Assunção e Bogotá.
Quando encontramos, maravilhados, as bibliotecas de Theodemiro
Tostes, de Eloy José da Rocha, de Moysés Vellinho vemos a quantidade
dominadora de Literatura, de Filosofia, de Direito, de Medicina, tudo em Língua
Francesa. Foram três séculos do domínio da cultura de França que findariam na
alvorada sangrenta de 3 de agosto de 1914. A 1ª Grande Guerra mudou a face
cultural do mundo e começou o alastramento lingüístico anglo-saxônico. Os
U.S.A. ao entrarem no conflito europeu em 1916 jogavam uma cartada decisiva,
respondendo de maneira ingrata o gesto de Luís XVI no ocaso do século XVIII.
Os vencedores de 1918 e sobretudo de 1945 foram os Americanos do Norte. O
que mudou nestes 80 anos?! É inacreditável que tudo isso acontecesse em
apenas oito décadas. O século iniciara a sua caminhada na descoberta do
motor a explosão. Marinetti cantaria a conquista da velocidade, tudo iria tão
rápido, tão veloz até o avião a jato ou supersônico. Os três séculos de domínio
cultural da Língua Francesa em pouco mais de meio século seriam substituídos
pelo domínio da Língua Inglesa, rearticulada no sotaque ianque.
Oxalá possa toda essa força cultural se transformar em bem para a
pessoa, para a sociedade, em preparação da civilização do Amor, cujos albores
se prenunciam com a vinda do TERCEIRO MILÊNIO!...
Jornal Minuano, 07/08/1999, Bagé p. 5, Caderno de Cultura.
O Despertar da Cultura
Ao contemplar no mapa do Rio Grande do Sul os pontos que designam
cidades, vê-se a sinalização de ERECHIM, ainda há os que escrevem EREXIM.
Aqui a ortografia pouco importa. Vale o desenvolvimento cultural do povo e da
31
região. Entende-se por CULTURA o desenvolvimento harmônico das
potencialidades de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de uma cidade ou
região. É um crescimento pessoal, espiritual, intelectual, social e político.
Poderá, outrossim, traduzir-se em manifestações do folclore ou de outras ações
quer sociais, quer políticas ou científicas e literárias e filosóficas.
Erechim situada no planalto médio, em seus oitenta anos de existência
viveu muitas mudanças, atraiu etnias diferentes, adotou modelos vários, sabe
ser diferente para ser nova. O comércio local é aberto às novas idéias e a novos
modelos para servir melhor a população citadina e de toda a região.
Entre as pessoas líderes destaca-se Jaci José Delazeri, cujos antepassados
emigraram da Lombardia, de Mântua para Garibaldi, e daquele município para Paiol
Grande na década de 1920.
Jaci é um dos Quatro J que mais movimentam a indústria e comércio da
região. Começou muito pequeno, livraria, onde junto com livros havia papelaria
e outros objetos. Pequena tipografia. Mais adiante ampliou a gráfica, passou
para pequena editora para finalmente surgir a EDELBRA indústria gráfica e
editora Ltda. A visita àquelas instalações moderníssimas deixa a gente de
queixo caído. No interior do Estado tamanha indústria gráfica e editora com
projeção nacional e com projetos além fronteiras?! O parque gráfico é o que há
de mais moderno no Sul e na América Latina, ocupa amplos espaços no Distrito
Industrial. A EDELBRA edita obras encomendadas por grandes editoras do Rio
e São Paulo, de Buenos Aires e alhures. Jaci José sempre atento vai em busca
do que há de melhor entre as novidades dos Estados Unidos, da Alemanha, da
Itália, da França. Ultimamente realizou nova edição em 12 volumes dos
SERMÕES do P. ANTÔNIO VIEIRA, de acordo com a edição de 1679, revisada
e corrigida por Frederico Ozanam Pessoa de Barros, supervisão do P. Antônio
Charbel S.D.B, supervisão técnica do Prof.ª Della Nina e introdução geral do
prof. Luiz Felipe Baêta Neves. A obra monumental terá seu lançamento em
março na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
32
A Universidade de Erechim está desenvolvendo o Parque
Tecnológico de modo espetacular para as práticas, experiências e
pesquisas científicas, em vasto terreno perto da Capela São Carlos.
Outro trabalho, fruto da força de Delazeri o PÓLO CULTURAL,
monumental edifício dedicado à cultura das etnias que povoaram os 150
municípios da região. Além do palácio central do Pólo haverá quatro casas uma
para cada etnia, ou seja: alemã, italiana, polonesa e judaíca. O pólo cultural é
algo de fenomenal que incita a todos os municípios a desenvolver sua cultura.
Muita responsabilidade coube ao Conselho Estadual de Cultura na direção dos
trabalhos e na consecução das verbas através da Lei de Incentivo à Cultura. A
inauguração do PÓLO CULTURAL no dia 11 de novembro de 2001 é uma
página de glória e de motivação para novos e audaciosos lançamentos em prol
da cultura pessoal, social, espiritual, intelectual e artística do povo brasileiro que
aposta positivamente nos valores da iniciativa de pessoas e de grupos sociais,
como Jaci José Delazeri e da comunidade de Erechim.
Diário da Manhã, 9 e 10/02/2002, Erechim p. 7, Geral.
Rádio e Cultura
Falar em rádio torna-se sinônimo de cultura, entendida como
aperfeiçoamento pessoal ou social. Desde os experimentos de nosso
concidão Padre Roberto Landell de Moura, em fins do século XIX, e de
Guilherme Marconi, na Itália como evoluiu o rádio a serviço da cultura! O
invento, o aperfeiçoamento e a evolução do rádio foram e são frutos da
cultura para gerar mais cultura. Entre nós as experiências bem-sucedidas
estabeleceram as rádios Gaúcha, Farroupilha e centenas de outras.
33
Em 1957, o jornalista da Folha da Tarde, Arlindo Pasqualini, coadjuvado
por Breno Caldas, da Empresa Caldas Júnior, inaugurou moderna e potente
emissora no dia 30 de abril. Nestes 44 anos de constante e ininterrupta
irradiação cultural a Rádio Guaíba vem-se notabilizando nos céus do Rio
Grande e do universo. Pelos estúdios passaram figuras notáveis, paladinas do
bem e da cultura, pessoas que fizeram e fazem do jornalismo e do rádio os
veículos seguros que levam a cultura aos ouvidos e aos corações.
Os aumentos da força da emissora de centenas de quilovates
prolongam e jogam aos confins do planeta as mensagens, as vozes, as
músicas, as notícias densas de cultura e de esperanças. FM ou AM se
conjugam numa expressão redentora e de amor em suas músicas, nos
noticiosos, nas transmissões esportivas (especialmente do futebol), nos avisos
de utilidade pública. Tudo é vida, tudo é cultura. O rádio não desaparece com
os novos inventos eletrônicos e internets, mantém-se vivo, forte e atuante.
Veio para ficar, toma novas formas, mas está sempre presente, nas horas
festivas com suas músicas, nas entrevistas e debates, nas conferências...
Nas horas de solidão e de insônias a voz do rádio está presente para
distrair, para consolar o coração aflito ou amparar um grito que clama por
ajuda. A vida cultural de uma pessoa, de uma comunidade, de uma
sociedade se alimenta, se amplia graças às mensagens que as ondas
hertzianas lhe fazem chegar ao ouvido aflito ou ansioso. Bendito seja o rádio
que semeia a mãos cheias tanta cultura e notícias que fazem pulsar o
coração com mais calma, mais ordem, mais amor!
Correio do Povo, 30/04/2001, p. 4, Opinião.
34
Por que o Conselho Estadual de Cultura?
O Conselho Estadual de Cultura teve sua criação no Rio Grande do Sul
pelo Decreto n° 19.911 de agosto de 1968. Até 1989 teve diversas
modificações, alcançando a sua maioridade pelo artigo 225 da Constituição
Estadual. O CEC visando à gestão democrática da política cultural, tem as
funções de: I- estabelecer diretrizes e prioridades para o desenvolvimento
cultural do Estado; II- fiscalizar a execução dos projetos culturais e aplicação de
recursos; emitir pareceres sobre questões técnico-culturais.
Atualmente o CEC é regido pela Lei n° 11.289 de 23/12/1998 e pelo
Regimento Interno de 20/08/1998.
A Constituição estabelece a vida e as responsabilidades do CEC, com
12 membros eleitos pelos segmentos culturais e seis nomeados pelo
Governador do Estado. Nos últimos oito anos o CEC desenvolveu atividades
importantes, entre elas destaca-se a Lei de Incentivo à Cultura que tantos
benefícios trouxe à vida cultural do Rio Grande do Sul. Quem olhar como
funcionava a Cultura no início da década de 1990 e como funciona, hoje,
notará as diferenças em número e em qualidade dos eventos culturais. Mais
de mil projetos foram examinados e uma centena de eventos teve sua
realização graças à lei de incentivos culturais.
Aos poucos a sociedade rio-grandense vai compreendendo e
usufruindo os efeitos sadios das decisões e orientações do CEC.
O diploma legal vai-se aperfeiçoando graças aos estudos e reflexões
dos conselheiros procedentes dos segmentos culturais. Nos próximos dias
haverá eleições para dois representantes de cada um dos seis segmentos
culturais. É oportuno alertar para a escolha séria dos candidatos
representantes dos segmentos culturais. Acontecerá por força da legislação
vigente uma renovação de conselheiros para o novo quatriênio que iniciará
em janeiro de 2002 a 2005. A reforma da Lei apareceu na Assembléia com
35
atraso, não conseguindo vencer democraticamente o processo eleitoral
iniciado nos primeiros dias de novembro. Para que o novo CEC esteja de
conformidade com os anseios e com os objetivos culturais das associações,
das comunidades é necessária uma sábia conscientização dos componentes
dos segmentos culturais. Vale a pena pensar nos futuros orientadores da
política cultural de nosso Rio Grande para termos uma cultura mais digna e
mais de acordo com a alma gaúcha.
Jornal do Comércio, 10/12/2001, p. 4, Opinião.
Mais cultura nos municípios!
O que entendemos por cultura? É o desenvolvimento harmonioso de
todo o ser humano, de toda a pessoa, bem como de qualquer grupo social a
começar pela família, comunidade religiosa, civil, política, etc. Na cultura
humanista deve-se levar em conta os elementos de instrução, de religião, de
socialidade, de política.
A cultura da pessoa inicia na família, ou antes da família se constituir,
com os futuros pais da criança. Depois vem a ação cultural da Igreja, da escola
e do meio social em que vive.
Muito importante é formar a criança, adolescente, o futuro cidadão a
conviver culturalmente com os outros. Aí surge a prática das virtudes
cívicas. Na igreja, na assembléia dos fiéis nos dias dedicados ao Senhor e
em outras circunstâncias a criança, adolescente, jovem é educado na prática
das virtudes religiosas, a começar pelas virtudes teologais Fé, Esperança
e Caridade que proporcionam o relacionamento filial da criatura com o
Criador, Deus-Pai.
36
Na prática das virtudes humanas que preparam, que qualificam a
vida de relação com as outras pessoas, está a relação da pessoa, com os
conterrâneos com os munícipes, com os cidadãos.
Aí as autoridades constituídas devem zelar junto das diferentes
comunidades para o desenvolvimento cultural através das belas-artes: letras,
música, teatro, cinema e outros. A Secretaria de Educação e Cultura do
Município envidará esforços para criar o Conselho Municipal da Cultura que vai
cuidar da tradição e do desenvolvimento cultural da comuna. A SMEC por sua
vez cuidará dos projetos culturais do governo municipal, A cultura no município
andará bem se houver harmonia entre a SMEC e o Conselho Municipal de
Cultura: Uma força propulsora de um programa de governo, outra força
permanente de planejamento e de fiscalização para manter a lídima cultura de
um povo. Agindo assim haverá mais cultura nos municípios!
Jornal Igaçaba, 7/04/2001, Roque Gonzáles/RS, n° 47, No mundo
da Cultura.
A Cultura nos municípios
O trabalho do Conselho Estadual de Cultura é reconhecido por
muitos prefeitos, secretários de educação e cultura. A FAMURS, quarta-
feira, dia 21 de fevereiro, fez um contato oficial com a direção do Conselho
Estadual de Cultura, Foi muito interessante e importante o diálogo surgido
entre as mensageiras da Federação das Associações Municipais e a
Câmara diretiva do Conselho. Os municípios querem ter conselhos de
cultura, querem compreender melhor a Lei dos Incentivos, querem, numa
palavra, ser mais eficientes em seus movimentos e ações culturais. O
Conselho, desde 1992, vem-se firmando em sua missão de difundir e de
37
preservar os bens culturais do Rio Grande do Sul. Os conselhos municipais
de cultura terão uma função específica de estimular os movimentos e as
ações culturais, em especial, de estabelecer os programas culturais da
comuna. A FAMURS solicitou a colaboração do CEC e de seus membros na
implantação dos conselhos municipais. Significativo número de conselheiros
aderiu ao plano de colaboração CEC — FAMURS. Formou- se, de imediato,
uma comissão especial.
Nas próximas semanas começam a agir os conselheiros e os
representantes da FAMURS. Do esforço conjunto surgirão novos horizontes
para a Cultura no Rio Grande do Sul. Nunca é demais unir ações, idéias e
planos de todas as forças vivas do município e do estado. Ao se tratar da
cultura ninguém pode ficar do lado de fora, todos devem contribuir com a
sua boa vontade, com suas forças, com suas luzes. Tudo em harmonia em
amplo e sereno diálogo entre o Conselho municipal de cultura e a respectiva
Secretaria de Cultura e Educação, com o Conselho Estadual. Todos com o
grande objetivo: propiciar ao Estado um organismo válido, ágil e eficiente
nas ações culturais e desenvolvimento da cultura das pessoas e das
comunidades locais e regionais.
Os problemas da Cultura têm solução pelo diálogo franco, sincero e
objetivo entre os organismos constituídos por lei federal, estadual ou
municipal. Averdadeira democracia é feita de colaboração, de diálogo e de
mútua ajuda deixando de lado os interesses pessoais, partidários ou
ideológicos. Realizar a verdadeira cultura é elevar o cidadão em sua
dignidade, em sua vocação de filho predileto de Deus.
Correio do Povo, 14/03/2001, p. 4, Opinião.
38
Os diálogos da Cultura
Hoje, fala-se muito de diálogo em todos os setores da vida sociocultural
do país, do estado e do planeta. Diálogo é o espaço reservado a cada
interlocutor para expor a sua posição sobre o tema ou sobre o problema em
questão. No diálogo não há vencidos nem vencedores apesar da arrogância de
nossa civilização competitiva.
Existe diálogo constante entre a Secretaria do Estado e o Conselho
Estadual de Cultura. Ambos cuidam da Cultura dentro de suas
competências. A Secretaria procura aviar os atos culturais dos programas do
Governo do Estado, o Conselho estabelece, fiscaliza e orienta a Cultura no
âmbito do Estado, numa visão perene e mais abrangente. O diálogo propicia
a harmonia e no respeito das competências de cada organismo e de cada
pessoa responsável por algum setor. O Conselho Estadual de Cultura em
seu surgimento em 1968 e depois em sua reestruturação em 1991 até hoje
tem estimulado a verdadeira vocação cultural do Rio Grande.
Desde que entrou em vigor a Lei de Incentivo à Cultura, o Conselho não
teve mais sossego pela exigência de atendimento dos exames dos projetos,
culturais oriundos de todos os quadrantes do Estado. Nestes últimos cinco anos
aconteceu um despertar cultural maravilhoso em todos os segmentos culturais:
eventos musicais, teatros, exposições de artes plásticas, feiras de livros,
festivais campeiros. Todas as expressões da cultura têm a sua vez e voz no
Conselho Estadual de Cultura. Por vezes, as belas intenções de um projeto
relevante não têm sua melhor apresentação no Projeto objetivo e consistente. A
análise dos projetos é feita sobre papéis que, às vezes, escamoteiam os belos
propósitos. Há, sem dúvida, grande progresso na apresentação, na análise e na
discussão dos projetos quer pelos produtores culturais quer pelos componentes
das câmaras técnicas.
39
No último trimestre do ano 2000 foram aprovados projetos num total
prioritário de R$ 13.988.934,26; tendo havido a solicitação de R$ 43.368.623,94. Os
projetos destinados à Capital tiveram 28% e os do interior 72% da verba disponível.
Em todo o ano 2000 foi aprovado o total prioritário de R$ 34.411,58. Para
chegar a esse resultado final foi necessário realizar a análise de 836 projetos, lidos,
discutidos por 15 Conselheiros, pois, não foi completado, por razões várias, o
número de 18 conselheiros determinado pela lei.
Nota-se o trabalho denodado dos Conselheiros cada qual examinando na
média 56 projetos nos 12 meses.
A harmonia existente entre os membros do Conselho facilita a discussão e
a solução dos problemas que surgem no exame dos projetos dentro dos segmentos
culturais específicos. O que importa é o avanço da cultura.
O que vale é o diálogo dos estratos culturais e das pessoas envolvidas
para o progresso, expansão e otimização das expressões da cultura em todos os
pontos do Rio Grande do Sul, caleidoscópio de etnias e de culturas.
Jornal da Semana, 25/08/2001, p. 4, Artigos.
O Tempo e a Cultura
Frederico Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, autor do super-
homem, aos 26 anos iniciou suas aulas na Universidade de Basiléia, onde
lecionou por dez anos. Gostava muito de Filologia com o seu mestre
Frederico Ritschl. Entre os seus livros destacam-se: Aurora, A gaia ciência,
Assim falou Zarathustra, o Anticristo. Em janeiro de 1889 teve um ataque de
loucura que o manteve até a morte. O estranho filósofo tinha idéias
interessantes sobre o tempo e a cultura. Recomendava a leitura lenta,
meditada que produz cultura. Admirava a Filologia, chamada de arte
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venerável que exige de seu admirador antes de tudo uma coisa: afastar-se,
dar-se tempo, tornar-se silencioso, tornar-se lento, como um conhecimento
de ourives aplicado à palavra que tem de fazer seu trabalho fino e cuidadoso
e nada alcança se não alcança lentamente.
É precisamente nisso que ela é hoje mais necessária do que nunca, é
justamente nisso que ela nos atrai e nos encanta no mais alto grau, numa
época de pressa, de indecente e suada velocidade que quer acabar logo com
tudo e também com todos os livros velhos e novos.
Isso o filósofo escreveu em 1881, 120 anos atrás; ainda não
aparecera Marinetti com as loucuras futuristas... O que diria, hoje, o autor de
A gaia ciência?
Como vai a nossa pressa em ler, em passar por cima dos textos com
o dedo traçando diagonais? Em nossos dias de vertiginosa pressa em tudo o
que fazemos, nada se sedimenta, pouco ou nada contribui para nos cultivar.
Cultura é o fruto de leituras calmas, meditadas, tranqüilas... Onde fica a
cultura pessoal: crescimento na reflexão, na meditação e sobretudo na
contemplação? A nossa época marcada pelo frenesi não coopera para a
cultura intelectual, artística ou espiritual. A fugacidade do tempo não é
avaliada sob o olhar da eternidade. Joga-se o tempo, maior fortuna que
Deus nos dá em cada dia gota-a-gota, que jogamos fora de nós aos
baldes... Esquecemos que seremos julgados sobre o AMOR com que
aproveitamos o tempo para louvar a Deus, como a Virgem Maria fazia,
naquela morada de Nazaré, onde 30 anos preparavam os três de
Jesus Cristo!...
Correio do Povo, 25/10/2002, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/2002, Roque
Gonzáles/RS, p. 8, Cultura.
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Vocação dos jornais
Ao considerar a história da imprensa em Porto Alegre e no Rio
Grande vemos como os jornais presentes nos momentos de lutas, de
revolução, de novos empreendimentos e de manifestações de novos ideais.
O Jornal tem uma vocação insubstituível, nem o rádio, nem a televisão, nem
a lnternet podem superar.
Quantos escritores, poetas e filósofos começaram a apresentar suas
idéias, seus sonhos, seus poemas nas páginas dos jornais.
Os jornais mais procurados foram e são os que trazem a informação de
modo simples e conciso, sem detalhes óbvios ou conhecidos.
Julián Marías, em o Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1999, tem
uma assertiva lúcida: “A primeira condição de um jornal é a veracidade, não se
pode permitir a falsidade, a tergiversão, a distorção por meio de títulos
tendenciosos confiando em que, às vezes, essa é a única parte que se lê.”
A frase parece o eco àquela afirmação do Papa João XXIII, aos jornalistas,
em Roma, em 1961: “Mai Tradir La Verità”.
O problema sério dos jornais coloca-se na visão ética da empresa e na
consciência ética do jornalista diante da liberdade de expressão.
A liberdade que não respeita a verdade deteriora-se em libertinagem.
Outro elemento importante para escrever em jornal é preciso saber escrever. O
conhecimento da língua vernácula é imprescindível, é base de comunicação
clara e objetiva. Recordam-se jornalistas inquestionáveis e brilhantes pelo
usado correto, estilístico da língua.
Existe o lado literário do estilo jornalístico que se manifesta presente
nos artigos, nos editoriais, nos noticiosos e nas entrevistas.
Os jornais superam a força fugaz do rádio e da televisão pela força da
continuidade. Voltando a Julián Marías, o nonagenário filósofo espanhol, cita: “A
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formação da opinião, a possibilidade que as múltiplas opiniões particulares se
convertem em opinião pública, é conseqüência, em parte decisiva, dos jornais”.
A cultura dos povos e o destino político dos países depende em
altíssimo grau da existência dos jornais dignos de apreço, inteligentes,
decentes, atraentes.
Ao passar o olhar pelos jornais de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul,
vemos uma pleiade de jornais: diários, semanários, quinzenários, todos
procurando transmitir o seu modo de ver a cultura, a política e a economia do
Estado, da capital e do Brasil. Quantos desses jornais podem ser considerados
fiéis mensageiros da veracidade no relato dos fatos, na serenidade do
julgamento dos acontecimentos sociais e políticos, na avaliação condigna da
pessoa e dos grupos sociais no momento histórico que se vive?
A Platéia, 16/01/1999, p. 4, Opinião.
Som potente e amigo
No dia 30 de abril de 1957, na voz vibrante e decidida de Arlindo
Bortoluzzi Pasqualini, começou oficialmente a vibrar nas ondas hertzianas o
som potente e amigo da Rádio Guaíba. São 42 anos de ininterrupta ação
sonora através do Brasil e do mundo. Presente nos grandes momentos da
história humana, momentos de triunfos, de glórias ou em momentos de luta
e pranto: nas horas de lazer, de esporte, lá da Suécia ou do Japão ou das
cercanias de Porto Alegre, no mapa do Brasil e na geografia do Rio Grande
do Sul. O som potente e amigo levado em FM ou em AM chega aos ouvidos
de pessoas alegres, chega ao coração de gente aflita e desesperançada; a
todos a Rádio Guaíba leva a palavra, a voz que consola, colorida de um raio
de esperança... Prodígio extraordinário da mente do gaúcho padre Landell
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de Moura ou do cientista italiano Guilherme Marconi, o Rádio nos cem anos
de história muito realizou.
O ser humano tem em si mesmo, como dizia o Santo Cura d’Ars —
João Maria Vianney: “A voz do anjo e a voz da fera”. A Rádio Guaíba, em
seu dever de transmitir, de irradiar, de anunciar, carrega em suas ondas
notícias alegres, alvissareiras, promissoras, como também relatos de fatos
desagradáveis e nefandos. Quem se propõe a manter a fidedignidade e a
credibilidade dos fatos deve levar ao conhecimento dos ouvintes a
veracidade objetiva das circunstâncias e dos protagonistas das ações boas
ou más. A alegria e a suavidade das horas de lazer musical intercalam-se
com a audiência, relatos de crimes, de violências.
A realidade humana e social está em suas grandezas ou em suas
mesquinhezas. Os dias de sol amenos e revitalizantes se intercalam com horas
e noites de tormentas, de cataclismos e desventuras. A tudo a Rádio Guaíba é
fiel, transmitindo a verdade dos fatos em seus noticiosos, nas entrevistas, nas
mesas redondas com o público, nas discussões das situações locais,
regionais, nacionais e internacionais. A Guaíba sempre foi e é paladina do
“bem informar” a fim de formar gerações mais humanas, mais afinadas com a
civilização do amor.
Correio do Povo, 30/04/1999, p. 4, Opinião.
Lições dos velhos periódicos
Nos dias 20 e 21 reúnem-se pesquisadores de vários estados
brasileiros no 1º Encontro Nacional de Pesquisadores em periódicos
literários. As dezenas de estudiosos percorrerão as etapas e os espaços
ocupados nos últimos 150 anos pela imprensa divulgadora das letras. É belo
observar como aquelas folhas desbotadas pelo tempo e vitoriosas das
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intempéries criam nova vida pela leitura dos olhares investigadores. Antonio
Dimas, da USP apresentará, Periódicos em pesquisa: problemas e
perpectivas. As folhas amarelecidas criam vida nova como os ossos dos
esqueletos sobre os quais o profeta Ezequiel assoprava novo espírito.
Representantes universitários da Bahia mostrarão as revistas baianas
do início do século e na Revista Renascença. Maria Eunice Moreira,
coordenadora do Encontro apresentará uma história da literatura brasileira em
periódicos sul-rio-grandenses do século XIX. A Revista Niterói (1836) mostrará
sua modernidade pelas observações da Profª Maria Orlanda Pinassi, da
UNESP/Araraquara. Luiz Roberto Velloso Cairo da UNESP/ASSIS apresentará
memória e crítica literária nos periódicos brasileiros. Regina Zilberman, da
PUCRS discutirá no encerramento: periódicos literários e fontes primárias. Alice
T.C. Moreira mostrará a nova vida dos acervos literários.
Por que tanto empenho em retornar aos velhos jornais? Por que
retomar a leitura das páginas que são velhas no dia seguinte de sua
publicação? Os textos adormecidos durante anos, mesmo séculos falam muito
ao estudioso atual que vai perlustrando os caminhos de outrora para lançar
mais luz sobre as letras de hoje. A peregrinação do ser humano através das
gerações, apresenta aventuras, sobressaltos, avanços sempre, apesar de
aparecer sob as cores de derrotas. Que bela sabedoria surge lépida e faceira
das folhas guardadas em baús ou ataúdes prenhes de ressurreições. Os
esforços humanos, as mensagens artísticas, os ritmos de vetustos poemas,
brilham em luz inefável no pulsar constante da visão de forças redentoras. O
espírito não se aprisiona nas páginas dos periódicos, o espírito anseia para
vivificar outros destinos, para brilhar em outras manifestações de Beleza, de
Verdade e do Amor.
Correio do Povo, 22/08/2002 , p. 4, Opinião.
45
E a Escola Arte do Livro?
O nordestino Jayme Castro, professor de encadernação de livros, foi
bem acolhido pelo Instituto Parobé, instituição especializada em formar técnicos
em diversos misteres. O Professor Jayme tinha estilo artesanal bem particular
na formação de técnicos em encadernação. As suas aulas se desenvolveram
em técnicas e em número de alunos, por isso, adquiriu casa própria à rua da
República, criando então a Escola Arte do Livro. Em 15 de dezembro de 1955 o
governo do Estado adquiriu a Escola transformando-a em Escola Artesanal Arte
do Livro. Em 1968, aconteceu a compra do imóvel à rua Venâncio Aires, 559,
onde se encontra até hoje. Seria bonito percorrer todas as mudanças e os
benefícios da Escola neste meio século de existência. Quantas pessoas tiveram
a possibilidade de desenvolver suas habilidades artísticas na encadernação, na
douração, na recuperação de livros... Muitas bibliotecas públicas e particulares
tiveram seus livros encadernados, com capas artísticas, douradas e de variadas
cores. Aquilo que o prof. Jayme sonhara estava-se realizando: jovens, adultos e
gente de terceira idade, todos indo à escola para aprender e fazer
encadernação de livros e de documentos caros às famílias e úteis à sociedade.
A escola na direção da Profa Maria Terezinha Oliveira Santos, por mais de vinte
anos, desenvolvia os cursos: Iniciação à técnica; Encadernação comercial e
artística; Encadernação para excepcionais; Conservação de livros e bibliotecas;
Encadernação de livros, documentos, mapas e jornais; Douração de livros;
Aproveitamento de material de encadernação. Na reforma do ensino de 1970, a
Escola serviu para aulas práticas das primeiras séries do 1° grau. Era belo ver
aquelas crianças e adolescentes aprendendo encadernação, fazendo blocos,
realizando cadernetas artísticas. Nestes 30 anos a Escola despertou vocação
artística de alunos de escolas públicas da Capital. Como eram interessantes as
exposições em várias salas da Escola em que se podia apreciar os trabalhos de
alunos referentes à arte do livro, isto é, dar ao livro apresentação artística. Além
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dos alunos regulares vindos das escolas estaduais, havia os cursos livres em
que pessoas adultas ou provectas em idade buscavam o entretenimento de
sua vocação artística ainda que serôdia. As várias disciplinas do curso
enriqueciam as opções dos alunos: encadernação, desenho, decoração
(várias técnicas), douração, restauração de livros e documentos e pintura de
papéis. Toda essa programação tradicional e tão apreciada pela sociedade
hodierna está sendo ameaçada de fechar as portas, como contribuição do
Estado à população. Como é que modalidades de ensino que beneficiam a
cidadania de repente, sem maiores explicações são suspensas? O despertar
dos valores artísticos e sua prática constitui a base da cultura de um povo que
busca o BEM, o BELO e a VERDADE!
Correio do Povo, 10/04/2002, p. 4, Opinião, Igaçaba, 04/2002, Roque
Gonzáles/RS, p. 4, Cultura e A Platéia, 04/04/2002, p. 6 Opinião.
O elogio do livro
Relembrando 23 de abril — Dia Internacional do Livro, vale prestar-
lhe homenagem com elogio. O eminente filósofo italiano/alemão Romano
Guardini escreveu o Elogio del libro, em 1951, fruto de uma conferência
realizada em 1948 no Colégio de Leibniz da Universidade de Tubinga.
Iniciou a conferência deste modo: “Vois amais o livro? Pois falarei apenas
àqueles que amam o livro. Para os outros as minhas palavras terão sentido
vago ou supérfluo”. A seguir começou a explicar: “Quem ama o livro, toma-o
na mão com sentimento de tranqüila familiaridade. Considera-o uma criatura
que ele tem em muito honra e respeito”. O elogio continua de modo poético:
“O amor ao livro pode ser expresso de outra maneira: quando alguém está
sentado em seu escritório, em silêncio, os livros nas prateleiras... Naquele
47
âmbito de solidão aqueles livros aparecem como seres vivos, cada qual fala
de seu modo ao amante dos livros ...” Estabelece-se o diálogo misto de
alegria e de saudades, os livros recordando o passado, traçando os
caminhos do presente e do porvir.
Para aquele que ama os livros, todos são belos, todos são sementeiras
de cultura, todos são púlpitos donde se ouvem as palavras de vida e de amor...
Perlustra o mundo dos clássicos, dos filósofos, dos líricos, dos romancistas, da
ficção, da história e da realidade. Em todas as bibliotecas aquele que ama o
livro encontra o livro por excelência — a BÍBLIA. Ouve as vozes remotas que
falam línguas estranhas da Caldéia, do Egito, do Sinai, de Jericó, até a
conquista plena de Jerusalém. A Bíblia, história do povo de Deus, história de
cada ser humano que andeja pelo deserto da existência em busca da Terra
prometida. Encontra, então, Aquele que mais amou, que deu a VIDA por seus
amigos, Jesus de Nazaré.
Ouve aquelas palavras que são daquele que tanto amou e traçou e
orienta o livro da vida de cada um, Aquele que disse e nos diz: Eu sou o
CAMINHO, a VERDADE e a VIDA.
Tudo isso meus amigos, vós que amais o livro, o LIVRO por excelência
nos confidencia nesta hora de festa e de amor.
Correio do Povo, 12/05/2000, p. 4, Opinião.
Florescem os Museus
Acaba de ser lançado o livro MUSEUS do Rio Grande do Sul,
organização de Aroldo Medina e Gilnei Bueno respectivamente capitão e
cabo da briosa Brigada Militar. É uma terceira edição, toda reformada e
preciosamente guarnecida de substanciosas informações históricas,
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antropológicas, científicas e tecnológicas. O historiador Osório Santana
Figueiredo escreve: “O museu é o templo da história dos povos. Ele guarda
no seu repositório a gênese, as raízes e o simbolismo dos acontecimentos
memoráveis das civilizações mais conhecidas e estudadas”(Prefácio).
Museu ampliou seu âmbito alargando-se para as ciências, para as
tecnologias, para as ciências naturais, físicas, matemáticas e eletrônicas.
Na origem das primeiras edições está a força inteligente do Major Helio
Moro Mariante, o apaixonado da história, das letras e das artes do povo rio-
grandense. Quantas iniciativas culturais tiveram seu começo entre os dedos
hábeis e criativos de Moro Mariante, simbiose perfeita de duas culturas
penisulares. Hoje, curtindo a solidão e o cinzento dos dias numa casa geriátrica.
A retomada do trabalho pelo major Paulo Rubens Brochado Filho deu origem à
obra publicada pela primeira vez em 1990. O seu amor à cultura reestruturou o
Museu da Brigada Militar, abriu-lhe as portas para novos avanços culturais, em
especial pela parceria com a PUCRS. Em 1992, aconteceu a Segunda edição
com o apoio da Livraria do Globo, obteve grande aceitação junto dos museus,
bibliotecas, universidades e centros culturais.
Agora o Capitão Aroldo Medina empreendeu tarefa mais
abrangente procurando em cada cidade do Rio Grande do Sul: museus,
etnológicos, históricos, genealógicos, geológicos, institucionais, militares,
de mineralogia, de oceanografia, de paleontologia, de polícia, de
tecnologia, de costumes, do carvão, da comunicação, do trabalho, do
transporte, do trem, de telecomunicações, de tradições e folclore, de
Zoobotânica e museus interativos.
É realmente maravilhoso percorrer as páginas do livro de Aroldo Medina
e Gilnei Bueno e ver a situação de cada um dos centros em que se preservam a
memória, a história, os exemplares de seres vivos e de seres minerais. O museu
é um livro aberto em que se lêem a história, as transformações da vida e dos
povos em todos os quadrantes do solo rio-grandense.
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Os autores dão uma bela lição de democracia, de estudos e de
investigações sérios de todos os museus e memoriais do Rio Grande do
Sul. Ao peregrinar pelas 312 páginas transporta-se o espírito do leitor em
todas as regiões e cidades de nosso Rio Grande, onde encontra idéias,
visões de um passado presente, força de andar ainda mais nas
interrogações do porvir. O Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS tem
lugar especial por ser a grande novidade no gênero, na América Latina,
onde milhares de visitantes se abeberam no dia-a-dia das novidades que o
desenvolvimento lhe coloca diante dos olhos.
Por isso bem hajam os jovens promissores autores de MUSEUS no
Rio Grande do Sul, pelos caminhos que colocam diante do caminheiro
sedento de luz e de porvir.
Jornal do Comércio, 05/10/2000, p. 4, Opinião.
Instituto Histórico e Geográfico
No dia 5 de agosto transcorreu o 80° aniversário da fundação do
Instituto Histórico e Geográfico do R.S., efeméride celebrada no dia 7 de agosto
com sessão solene presidida por Luiz Alberto Cibils. Sérgio da Costa Franco leu
esplêndida e saborosa crônica sobre a vida e as atividades do IHGRS.
No ato da fundação estavam presentes os cidadãos: Souza Docca
(diretor da sessão), Dr. Florêncio de Abreu e Silva, (aclamado presidente);
Mons. Luiz Mariano da Rocha, Padre Carlos Teschauer S. J.; Aquiles Porto
Alegre, Dr. Francisco Leonardo Truda, Amaro Batista, Eduardo Duarte, Padre J.
B. Hafkemayer S.J, Adroaldo Mesquita da Costa, Padre Roberto Landeli de
Moura e outras personalidades. Outros estados haviam-se adiantado na criação
do Instituto ligado à preservação da História e do meio ambiente. O grupo dos
fundadores, pessoas estudiosas e pesquisadoras não descansaram, deixaram
50
após si acervos de livros, de invenções que muito contribuíram e contribuem
para a cultura histórico-social e política. O IHGRS situado no belo prédio doado
pelo Governo do Estado, em seus três pisos, é verdadeira e fabulosa fortuna de
livros, revistas, documentos vários, obras de arte. Tudo está à disposição dos
pesquisadores de nosso Estado e de outros lugares do Brasil e do mundo.
Atualmente o IHB está à disposição na Internet. A partir de 1940, quando do
surgimento das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, a investigação
histórica e geográfica mudou muito. Abriram-se outras fontes, marcaram-se
outros métodos, ampliaram-se os horizontes. A biblioteca e os acervos do
IHGRS continuam aumentando, oferecendo mais oportunidades aos
investigadores. É belo observar os estudiosos que se encontram ao lado das
preciosas cacimbas donde brotam correntes de luz. Os 80 anos do Instituto são
um marco de vida e lançamento de novos desafios para ampliar os espaços,
para dispor de mais funcionários. A atual estrutura administrativa é
extremamente enxuta. Poder-se-Ia ampliar-lhe as oportunidades para que
houvesse investigadores e orientadores de pesquisa à disposição dos que vêm
buscar mais alimento para a sua verdadeira curiosidade de ciência e cultura. Os
80 anos do IHGRS são uma clarinada para despertar para os verdadeiros
valores da Historiografia e Geografia de nossa terra e de nossa gente.
Correio do Povo, 12/08/2000, p. 4, Opinião.
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Cultura e Nacionalidade
A Semana da Pátria nos propicia saudáveis e positivas reflexões sobre
a Nacionalidade, sobre o cerne de nossa entidade nacional. Oportuno foi o
artigo de Sandra Cavalcanti, sob o título “A CNBB e a evangelização”. O que
aconteceu nestes cinco séculos no campo da cultura é algo de maravilhoso. As
quinas que tremulavam nos mastros das naves de Pedro Álvares Cabral
proclamavam a vontade daqueles navegadores intrépidos de “Dilatar a Fé e o
Império...”. Era de conquistar mais povos para o Reino de Cristo dentro do
modus vivendi da época.
A secretária especial da Secretaria da Prefeitura do Rio afirma:
“Infelizmente, ainda há grupos bastante atrasados, ignorantes mesmo, que se
empenham em julgar as façanhas dos descobridores pela ótica do mundo de
hoje, com países estruturados, com democracia e liberdade, com direitos
humanos definidos em lei e com relações internacionais cada dia mais claras.
Não se dão conta de que, por trás de toda aquela deslumbrante coragem, de
toda aquela louca audácia, existiam, além de grandes negócios lucrativos,
outros costumes e outras regras de conviver.”
A primeira missa realizada pelo franciscano Frei Henrique de Coimbra,
depois continuou vigorosa e fraterna a ação dos filhos de São Francisco. Em
1549, chegaram os jesuítas. Com os padres Nóbrega, Anchieta e outros,
implantaram vasto programa de cultura pela alfabetização, aprendizado da
língua tupi-guarani para catequizar o indígena. Através dessa inculturação,
como se diz hoje, os jesuítas e outros missionários transformaram aquelas
gentes nômades e dispersas em povos civilizados, fundamentos de nova
sociedade, da nova pátria que os lusitanos implementaram na Bahia, em São
Paulo e no Rio de Janeiro. A ação evangelizadora no sentido do século XVI ou
no século XXI não diverge muito: é lançar raios de luz ao viandante que se
esgueira entre sombras e escolhos na caminhada da existência. A Luz da
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evangelização que ilumina os olhos e desperta o coração para novas
caminhadas ao encontro de Deus, ao encontro da verdadeira Cultura de pessoa
e da sociedade.
O prof. Pedrinho Guareschi fez uma afirmação notável:
“Ideologia, a nova arma de dominação”. De fato, a meia-verdade
destilada pela ideologia vê todo esse esforço imenso de cultura e civilização como
simples e tirânico domínio da prepotência e da fúria das avarezas humanas que
destroçam vidas e nações. O Brasil que amanhecia em abril de 1500, que
proclamava-se independente, em 1822, o Brasil de quinhentos anos é a terra
maravilhosa, pátria amada de 160 milhões de almas que aspiram o bem, o belo e
o verdadeiro, vencendo as dificuldades e as arrogâncias dos imperialismos
egoístas dentro e fora das fronteiras pessoais, sociais, vislumbrando o amanhã do
novo milênio com mais esperança, com mais cultura, com mais amor.
Jornal do Comércio, 09/09/1999, p. 4, Opinião.
Globalização e humanismo latino
No mês de maio p.p. aconteceu em Nova lorque, importante Seminário
sobre o tema Globalização e humanismo latino, patrocinado pela Unione dei
Triveneti nel Mondo cuja sede é Treviso (Itália). Naquela reunião estiveram
presentes personalidades convidadas e especialistas do tema — HUMANISMO.
O Seminário concluiu longa série de reuniões acontecidas nos dois últimos
anos: em Treviso (Itália), São Paulo (Brasil), Tolosa (França), Constanta
(Romênia), Manila (Filipinas) e Cabo Verde África).
O objetivo desses seminários apoiados pela Fondazione Cassarnarca
de Treviso, é de estimular uma reflexão intercontinental sobre o papel e o
significado que o Humanismo latino, em suas manifestações de Romanidade,
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de Cristianismo, de Renascimento e de Latinidade Européia deve ter em
confronto objetivo e colaborativo com outras variedades de humanismos à
medida em que a sociedade vai-se globalizando.
O Seminário de Nova lorque, realizado na St John’s University, com a
participação de 150 pessoas de alta cultura e projeção em sua comunidade e
cem jovens, chamou a atenção sobre o fato que desde séculos o Humanismo
latino deu início e sustentação ao processo de globalização, sob forma diversa
e muito mais rica da contemporânea, baseada, sobretudo em princípios de
hegemonias políticas e de prioridades econômicas.
O Seminário pretendeu traçar a metodologia a seguir, onde iniciar o
processo de harmonização entre os diversos humanismos que hoje se
reclamam as culturas do mundo, do anglo-saxão ao islâmico, ao oriente
asiático, ao africano, ao eslavo, etc.
No encerramento do Seminário foi decisiva a intervenção do Prof. Rocco
Caporale, da St John’s University, culminando com as importantes conclusões do
Presidente da Fondazione Cassamarca, Dr. Senador Dino De Poli.
O grande filósofo tomista Octavio Nicolas Derisi, fundador da
Universidade Católica Argentina, conceitua o humanismo nestes termos:
“Desenvolvimento harmônico e hierárquico das diferentes partes do homem
culminando em sua vida espiritual — individual e social -, e como uma
modificação da natureza para melhor submetê-la ao serviço do homem, e
este, por sua vez submetido ao ser — verdade e bem — transcendente.
Semelhante humanismo ou aperfeiçoamento ontológico das coisas e do
homem está organizado pelo espírito humano, em escala hierárquica: das
coisas materiais e das partes inferiores do homem que servem à sua vida
espiritual e esta que por sua vez se submete e se nutre do ser — verdade,
bondade e beleza transcendente. Tal é o sentido ontocêntrico, de validade
absoluta deste humanismo.”
55
Modernamente ao lado de Derisi surgiram outros pensadores tomistas
tais como Emmanuel Mounier e Jacques Maritain, que serão o tema do próximo
seminário a ser celebrado nos dias 8, 9 e 10 de setembro em Bardolino
(Verona) perto do lago de Garda. O seminário destina-se especialmente aos
jovens, terá como participantes: Senador Dino De Poli, professora doutora
Eleonora Belluzzo que exporá o pensamento do personalismo comunitário de
Mounier; do Prof. Dr. Mario Gaetano Lombardo que apresentará o Humanismo
Integral de Jacques Maritain e do Prof. Padre Graziano Tesselo que
desenvolverá suas reflexões sobre as novas gerações de italianos fora da Itália.
O seminário de setembro dirigido especialmente aos jovens continuará
a desenvolver as grandes idéias sobre Globalização e Humanismo Latino.
Foram os jovens, participantes do Seminário de Nova lorque, que propuseram o
estudo dos grandes humanistas franceses da atualidade: Mounier e Maritain.
No centro de suas reflexões se encontra o homem e o seu papel na sociedade,
a pessoa “integral” e “comunitária”, numa visão que, diferente de ideologias
passadas e presentes concebe o homem, ou melhor, a pessoa na inegável
multiplicidade e complexidade de seus aspectos, excluindo conseqüências
prospectivas reducionistas e minimalistas. Vê-se a grande atualidade do
pensamento desses filósofos que pode prestar forte estímulo na solução dos
problemas que a globalização pode acarretar à comunidade internacional.
Propõe-se, portanto, o Humanismo latino como uma força antiga e sempre
renovada graças às constantes e grandes migrações em todo o mundo em que
italianos e descendentes de italianos procuram criar as novas gerações no
verdadeiro sentido humanístico e cristão.
Jornal do Comércio, 29/08/2000, p. 4, Opinião.
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Brasil Latino
Sucessivos estudos, reiteradas conferências, vários congressos sobre o
grande tema: A influência do humanismo latino na história e na cultura latino-
americana culminaram no Programa BRASIL LATINO. Nos anos de 1999 e
2000 aconteceram o Congresso Internacional sobre Globalização e Humanismo
Latino em Nova lorque; Humanismo e Cultura, em São Paulo. Os
pesquisadores presentes nos congressos sentiram a necessidade de dar maior
consistência cultural e científica aos temas e aos objetivos do Humanismo em
face da situação atual da humanidade, A Fundação Cassamarca sediada na
cidade de Treviso (Itália) sob a inteligente, perspicaz e humanística pessoa do
Onorevale Dino de Poli aprovou no dia 15 de novembro o financiamento das
atividades de pesquisa, ensino, tradução e edição de livros do Programa
BRASIL LATINO.
As atividades previstas sobre o humanismo Latino no Brasil
desenvolverse-ão nos âmbitos: Humanismo, cidadania e política; Migrações,
Humanismo latino e Territorialidade; o Humanismo latino para jovens
universitários e outras categorias sociais; Humanismo latino, globalização e os
sistemas de tributação; As fontes do pensamento humanista e o processo de
globalização; Humanismo latino na formação dos conglomerados produtivos;
Humanismo latino e cultura jurídica brasileira; O humanismo latino na produção
científica sobre imigração italiana; Globalização e humanismo na administração
da Saúde Pública; Humanismo latino, tempo livre e qualidade de vida;
Globalização, humanismo latino e estética. O Programa é colossal envolverá
direta e imediatamente 45 professores e 60 pesquisadores universitários de
instituições universitárias públicas e particulares nos Estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O magno Programa BRASIL
LATINO foi proposto e coordenado pelo Prof. Dr. Arno DaI Ri da Università
Luigi Bocconi de Milão, e pelo Prof. Dr. Jayme Paviani da Pontifícia
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Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Universidade de Caxias do
Sul. A Fondazione Cassamarca colocou à disposição do Programa 1.450.000
dólares. É um momento de alta significância para o estudo e a investigação
em nossa terra sob os influxos do Programa Brasil Latino.
Correio do Povo, 06/12/2000, p. 4, Opinião.
Os Caminhos do Humanismo
São longos tortuosos e sofridos os caminhos do Humanismo, dos
primeiros indícios na misteriosa Índia, aos albores da Suméria, ao longo das
curvas do Rio Nilo, até o esplendor da arte, das letras e da Filosofia na
Hélade, em Roma. Quantos pensadores, quantas tentativas para definir a
vocação humana sobre a terra? Quantas perguntas marcaram os séculos
até a vinda da Luz plena, daquele que “sabia e sabe o que há no homem”.
O Papa João Paulo II, nos primeiros dias de maio repetiu a bordo de
possante aeronave o périplo de São Paulo pelo Oriente Médio, a começar pela
Grécia. Recorda-se neste tempo a frase do filósofo J. Burkhardt: “Vemos com
os olhos dos gregos e ainda falamos com as suas palavras”. A viagem do Papa
teve o sentido profundo do Pontífice (fazedor de ponte) unir os povos, enlaçar
as doutrinas no humanismo cristão. Memorável foi o discurso de Paulo no
Areópago, inolvidável a mensagem do Papa junto do arcebispo ortodoxo de
Atenas Christodoulos Christos Paraskevaïdis: “Que o Senhor da paz vos
conceda a paz em todo o tempo e por todas as formas” (2T3,16). O lamentável
cisma do Oriente rompeu tantas pontes, interceptou os caminhos da luz e do
humanismo. Surgiram novas interpretações, novas ideologias, novos campos
em que o humanismo floresceu com flores e frutos diversos. Após dez séculos a
admirável ousadia de João Paulo II procura refazer as pontes, retomar sobre
58
novas iniciativas os caminhos do humanismo cristianizado, latinizado, com o
sabor moderno adaptado a todas as latitudes, pacificando as consciências que
buscam a verdadeira PAZ, que se encontra no coração Daquele que disse: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Em toda a sua peregrinação foi semeando
palavras e gestos que fazem brotar plantas que florescem e dão frutos de
paz e de alegria.
É o reverdecer do humanismo que floresceu na Roma dos Césares
regado pelo sangue de tantos mártires para que os povos fossem beneficiados
com as águas lustrais do novo humanismo nos ensinamentos de Agostinho
novo intérprete de Platão e Plotino e de Tomás de Aquino, tradutor de
Aristóteles para a linguagem hodierna.
Dentro da mensagem fecunda e vicejante do humanismo ressurge depois
de 700 anos a Universidade de Treviso com cursos reclamados pela modernidade:
Direito, Economia e Administração, Estatística e Informática, Tradução e
Interpretação, e Engenharia Informática. Outro sinal de nossos dias: dos 936 alunos
matriculados 59% são moças, a sede dos cursos é a reestruturação do ex-hospital
São Leonardo. Tudo isso aconteceu porque há um ideal de humanismo latino na
pessoa do administrador, deputado Dr. Dino Poli. As idéias redentoras não
envelhecem, em cada geração tomam novo ânimo, novo florescimento e os frutos
para o bem da humanidade são incontáveis e perenes.
Jornal do Comércio, 21/06/2001, p. 4, Opinião.
Humanismo Latino
A Unione Latini nel mondo e a Unione dei Triveneti nel Mondo
estimuladas pelo Senador Dino De Poli, Presidente da Fondazione
Cassamarca, de Treviso, desenvolveram importantes congressos e seminários.
Tiveram início na cidade de Treviso, novembro de 1970 — Congresso
59
Internacional de estudos sobre o tema — Humanismo latino no mundo, história,
valores e prospectivas. No ano seguinte acontecia o Congresso em Craiova, que foi a
primeira projeção concreta das teses apresentadas em Treviso — O Humanismo
latino na Romênia. Encontrou prosseguimento no Congresso de 26 de setembro de
1998 em Tolosa (França) com o sugestivo título — A Europa latina com contributo
cultural e civil para a unidade da Europa. Em 1999 o processo de conhecimento e de
aprofundamento da realidade do Humanismo Latino prosseguiu no Congresso de
Manila (Filipinas), em março de 1999 com o tema — O Humanismo Latino na área
asiático — pacífica, herança e prospectivas. No mês de maio do mesmo ano
acontecia o Congresso Geral Sul-americano, em São Paulo (Brasil) com o tema — O
Humanismo Latino na história e na cultura da América Latina.
Semelhante congresso aconteceu no mês de janeiro, nas ilhas de Cabo
Verde para avaliar a influência que humanismo Latino ainda conserva com novas
formas de liberdade na África.
Tudo isso foi realizado em preparação do Congresso Mundial de 1° de maio
de 2000, em Nova lorque, com o tema — Globalização e Humanismo Latino, em que
tomaram parte estudantes e docentes universitários de todo o mundo.
Nos dias 22 e 23 de setembro, realizou-se em Bucarest um congresso de
estudos sobre o ambicioso tema do Humanismo Latino nos países do Leste europeu
e em particular na Romênia. O congresso que se insere no número de muitos outros
organizados graças à louvável e pertinaz iniciativa do Senador Dino De Poli, um
pouco em toda a parte pela Fondazione Cassamarca, aconteceu nos salões do Hotel
Continental, com a presença de numerosos estudiosos, de representantes das
associações de emigrantes e de nutrido número de jovens, romenos e italianos.
Articulado entre sexta-feira e sábado, o congresso foi aberto pelo Senador
Dino De Poli que sublinhou a contigüidade entre a cultura latina da Europa ocidental e
aquela romena.
Os trabalhos prosseguiram com importantes comunicações sobre a
Cultura humanística latina e identidade cultural da nação romena pelo Prof.
60
Nicolae Luca em que se evidenciam no ponto de vista histórico e literário os
profundos traços da matriz latina e humanística na Romênia. A profª Amélia
Toader, da Universidade de Constança apresentou a figura de Dimitrie
Cantemir, precursor do humanismo em terras romenas, que viveu no século
XVII, escritor original e pensador da Romênia. Encerrou a apresentação dos
grandes temas o prof. Gheorge Stoica da Universidade de Bucarest sobre As
idéias da cultura humanística e a integração européia da Romênia.
Importantíssimas são estas iniciativas de repensar e de meditar os
inexauríveis mananciais do Humanismo Latino que recebeu a água lustral da cultura
que emana do Evangelho de Cristo.
É oportuno lembrar que a PUCRS acaba de lançar o livro organizado pelos
Cultura e Humanismo Latino
Professores Jayme Paviani e Arno Dal Ri Júnior com o título Globalização e
Humanismo com excelentes textos de autores que intervieram nos vários
Congressos nos vários países da Europa, Ásia, África e América.
Vale a pena pensar e reconquistar para os nossos dias, para nossas
vidas e nossa cultura os valores do Humanismo Latino, valores sem fronteiras.
O Nacional, 27/12/2000, Passo Fundo/RS.
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Cultivo e culto da Língua
A língua é o melhor instrumento da comunicação humana, daí decorre a
necessidade de seu cultivo e de seu culto. São dois atos: o estudo, o exercício
do idioma e admiração e o respeito prestados ao idioma. Miguel de Unamuno o
grande Reitor da Universidade de Salamanca, o contemporâneo de Fernando
Pessoa e correspondente de Teixeira de Pascoaes, afirmava: “La lengua es la
sangre de mi espírito”. E o autor de Mensagem exclamava: “A minha pátria é a
língua portuguesa”.
Por causa de certos vezos de nossa civilização não se tem hoje o
cuidado que se deveria ter no cultivo e na prática de nossa língua, elemento
fundamental da vida social, intelectual e espiritual da pessoa.
No extremo Oriente, o país do sol nascente mantém fidelidade no
cultivo da língua porque existe verdadeiro culto de veneração à tradição, ao
purismo e à beleza da expressão.
Em comemoração dos 40 anos de ensino da língua e da cultura
japonesa na PUCRS, aconteceu o 7° Concurso Nacional de Oratória da
Língua Japonesa. No sábado, dia 17, às 13h com a presença do cônsul do
Japão Kanji Tsushima, do Prof. Dr. Yukio Moriguchi, do Ir. Elvo Clemente,
representante do Reitor, iniciou solenemente o Concurso de Oratória. Houve
representantes de Fortaleza (CE), Manaus (AM), Curitiba (PR), São Paulo
(SP), Belém (PA), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS).
Os 20 candidatos formavam três categorias, conforme seu nível de
aprendizado. Cada candidato dissertou durante cinco minutos sobre o tema
indicado pelo Concurso. Os vencedores por categoria: Saori Maekawa, de
São Paulo; Aline Marie Teófilo de Moura, de Fortaleza; Rosiane Gonçalves
da Costa Santos, de Belém.
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O Consulado do Japão ofereceu aos participantes um jantar típico.
Notou-se no Concurso o cuidado pelo uso correto e estético da Língua
Japonesa. A Fundação Japão destinou verba especial para o 7º Concurso
Nacional. Pagou viagem e estada dos concorrentes vindos de outros Estados.
Tanto dinheiro, tanta dedicação no treinamento dos candidatos significa grande
veneração, expressivo culto pela Língua Japonesa.
Ao escutar aquelas falas, me perguntava: o que se faz no Brasil para
que a Língua Portuguesa seja correta, bela e expressiva de nossas vidas e
de nosso amor?
Hoje, 19/12/2001, p. 2, Opinião e Igaçaba, 01/2002 p. 3, Cultura.
Preservar a Língua Portuguesa
O Instituto Internacional de Língua Portuguesa, constituído em reunião da
comunidade dos países de Língua Portuguesa, em São Luís do Maranhão, no
governo Sarney, está dando sinais de vida e de vigorosa atividade. O objetivo da
dita organização é preservação, valorização da Língua Portuguesa no concerto de
outros idiomas no mundo globalizado. A CPLP é formada pelos países: Portugal,
Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé — Príncipe e
Timor Leste. A referida comunidade tem altos objetivos sociais, políticos e
sobretudo culturais irmanada pela Língua Portuguesa com seus múltiplos sotaques.
O mundo globalizado compõe-se de numerosos grupos lingüísticos tais como: o
anglo-saxônico, o francês, o italiano, a árabe, o chinês, etc. A língua se constitui em
elemento profundo de cultura entre os países. Na União Européia o choque dos
idiomas é algo de interessante e de intrigante graças à comunidade dos países de
língua portuguesa, Portugal pode apresentar-se entre os colegas com a língua de
Camões. Causou espécie o discurso do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da
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Silva, que usou a língua portuguesa com sotaque brasileiro, em Davos, na Suíça.
Mostrou a independência do Brasil e a beleza lingüística no panorama de outros
idiomas com sotaque dominador.
O IILP está sendo dirigido atualmente pela professora e escritora Ondina
Ferreira, com sede na cidade da Praia no Cabo Verde. A direção, de acordo com o
Estatuto do Instituto é rotativa vai passando de país para país na ordem alfabética
de seus nomes. Há muito a ser feito pela atual diretora executiva, Ondina Ferreira,
dependendo sempre das iniciativas dos oito estados - membro, no enriquecimento,
na difusão e na defesa da Língua Portuguesa. Cada um dos falantes do idioma tem
responsabilidade de manter e salvaguardar a integridade e unidade da língua que
vem vindo desde o século Xl. Preservar a língua dos solecismos e do desleixo no
falar e escrever; criar e fortificar o maravilhoso instrumento das comunicações, pelo
estudo, pela leitura e pela escrita. A língua revive em cada pessoa no uso cotidiano
realimentado pela leitura de textos em prosa e verso.
Jornal do Comércio, 28/02, 1 e 2/03/2003, p. 4, Opinião.
Língua precisa de Lei?
O deputado AIdo Rebelo, enviou à Câmara Federal Projeto de Lei
com a finalidade de proteger ou preservar a Língua Vernácula da invasão de
estrangeirismo. Jussara Cony, insiste junto da Assembléia Legislativa do Rio
Grande do Sul na criação de uma lei em defesa do Português ameaçado
pelos termos técnicos e anglicismos. A que pode levar a promulgação de
uma Lei, para defender a pureza do idioma nacional, implantado no solo
brasileiro há 500 anos?
A douta e clarividente França desde 1975 tem a sua lei em defesa do
Francês... Nestes 25 anos os estrangeirismos continuam a pulular na fala e na
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escrita dos franceses. Em meados de abril tivemos a visita de uma colega,
vinda de Paris, ao correr da conversa em francês, os vocábulos e expressões
anglo-saxônicas vinham ao natural. Pode ser que a lei valha ou possa coibir os
anglicismos nos documentos oficiais. Na língua corrente, na comunicação
hodierna, mergulhada nas teclas dos computadores ou no pulsar constante dos
(ratinhos) mouse, não há como ficar ileso ao avanço da terminologia que vem
do uso e operação da máquina. É um dito lingüístico irrefutável: “Junto com o
objeto vem o seu nome”, tanto do objeto como o das ações a ele restritas ... Aí
surge o deletar, da velha cepa latina — delere — para significar delir, apagar.
Para o deputado Aldo Rebello assiste-se a uma verdadeira
descaracterização da língua portuguesa; “por isso é necessário uma lei para
manter a estrutura do vernáculo”.
Abel Reis critica o projeto: “Considero os princípios equivocados ao
restringir a interação com outras culturas”. Estamos abertos ao mundo,
a civilização atual invade todos os setores da cultura pessoal, familiar,
escolar e social.
Lygia Fagundes Telles, em sua brilhante produção literária, no
campo da ficção, acredita no poder milagroso da lei: “Vamos poder contar
com uma extraordinária arma para impedir a colonização da
língua portuguesa”.
Há cem anos Eça de Queirós, o grande escritor da língua, em quem
tantos literatos lusos e brasileiros se abeberaram, escrevia suas obras
eivadas de expressões francesas. Todos acharam e achamos maravilhoso o
escritor, os galicismos não nos preocupam quando percorremos as páginas
daqueles romances.
O gramático Evanildo Bechara julga o processo desnecessário: “Ele é
bem intencionado mas terá pouco resultado prático”. A língua é um fenômeno
histórico-social e acrescenta: “Ela acompanha a história do homem que fala e,
por isso, está sujeita a todas as influências.” O mestre professor insiste: “O fato
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mais importante é o descaso que se faz das coisas nossas”: língua, cultura,
tradições. O mais importante é criar uma mentalidade de valorização de nossa
nacionalidade: língua, tradição, cultura, religião.
Miguel Reale em artigo recente, em o Estado de São Paulo, insistia
sobre o verdadeiro sentido do PATRIOTISMO, que não deve ser confundido
com nacionalismo. O verdadeiro patriota é a pessoa que conhece os bens de
sua terra e de sua gente e sabe defendê-los. O bem cultural, por excelência, é a
língua que aprendemos em nossa casa, aperfeiçoamos na escola, continuamos
a enriquecê-la e adaptá-la a nós e às nossas vivências pela vida a fora. A
aprendizagem da língua é constante pela leitura de bons autores, pela consulta
assídua ao bom dicionário e à boa gramática.
O embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Knopfli, em artigo, na
Folha de São Paulo escreve: “o desafio que o fenômeno da “globalização
lingüística” nos coloca pode e deve ser vencido”. Somos a terceira língua mais
falada no ocidente com cerca de 220 milhões de falantes. No último ano muito
se fez para que Timor Leste viesse a ser de fato e de fato é a oitava reptíblica
lusófona. Muito sangue derramado, muitas vidas sacrificadas para que a
civilização cristã e a língua portuguesa pudessem viver lá longe na Indonésia e
perto de nosso amor à humanidade, à liberdade.
Novamente somos mensageiros e missionários da paz e da
solidariedade para os nossos irmãos timorenses que falam ou querem aprender
a Língua Portuguesa, sob a lei potente do Amor. Portanto apliquemo-nos a
amar, a estudar sempre a nossa língua a fim de que ela represente sempre a
nossa maneira de falar, de agir, de conviver e de ser verdadeiro patriota da
língua portuguesa, que é a nossa pátria, no dizer de Fernando Pessoa.
Zero Hora, 06/06/2000, p. 25, Opinião.
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Eça de Queirós e a língua portuguesa
O dia 16 de agosto marcou o centenário da morte do escritorJosé
Maria Eça de Queirós, o estilo magistral da língua portuguesa. Nasceu em
Póvoa de Varzim a 25 de novembro de 1845, veio a falecer em Neuilly
(França). É conhecida a sua juventude de rebelde em Coimbra, na Questão
Coimbrã, as conferências do Casino Lisbonense. Em 1871, concorreu a um
posto na diplomacia. No ano seguinte assume o consulado em Havana
(Cuba). Depois vem a Inglaterra, Egito, China e França.
Começa, então, a contradição do diplomata com o escritor.
Apresentar o país bom, belo, progressista perante os estrangeiros;
descrever as mazelas administrativas, econômicas, culturais e morais nos
romances. A começar: O Primo Basílio, escrito em Bristol em 1874; O Crime
do Padre Amaro; 1875; Os Maias e o Mandarim, 1880; A Relíquia, 1884;
Correspondência de Fradique Mendes, (1889 — 90); A ilustre Casa de
Ramires, 1897; As cidades e as serras, 1900.
É o subversivo na abalizada crítica de Moysés Vellinho; é o estilista
magistral, na escrita de Carlos Felipe Moisés. Tudo isso mostra a realidade
de quem combatia o romantismo e não obedecia inteiramente aos cânones
do Realismo. Os seus livros quando apareciam nos jornais, nas livrarias
eram lidos com sofreguidão e curiosidade, pois mostravam postura moral,
política ou religiosa contrária aos preceitos e costumes da época. A
grandeza de Eça encontra-se na revolução estilística de escritores
brasileiros e portugueses. Revolucionou a língua literária, carregando-a de
sem-número de expressões francesas. O cientista e crítico galego Guerra da
Cal, em sua tese, perlustrou o Estilo de Eça de Queirós em dois grossos
volumes. Pouco se importava com os galicismos tão verberados pelos
mestres da gramaticalidade e da pureza da língua, em especial por Cândido
de Figueiredo. Eça não cuidava se a sua escrita era ou não obediente à
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gramática e à genuína expressão lusitana. Para ele o estilo era o mais
importante, mesmo se isso exigisse a expressão francesa, do mestre Flaubert.
Hoje, a ilustre Câmara dos Deputados, na Comissão de Justiça,
aprovou o texto de um projeto-lei oriundo de Aldo Rebelo. Um dos editoriais de
O Estado de São Paulo assinala: “A língua portuguesa dispensa proteções
nacionalistas ultrapassadas”. Se o leitor destas linhas recapitular a heróica história
do dialeto galego que se oficializa em língua portuguesa verá como o idioma se
manteve preservado das influências do castelhano, lindeiro na Serra da Estrela.
Mesmo nas décadas do Domínio Espanhol (1580 — 1640) a língua manteve-se
incólume em seu povo singelo dos montes, dos vales ou das planícies; das
cidades e das glebas rurais.
Não há lei que possa coibir influências da vida social, cultural ou
lingüística. Temos maus exemplos no passado. Haja vista a ordem de
Mussolini: “Usate il voi” em que ficou? O Estado Novo restringiu a divulgação de
músicas estrangeiras, impondo sanções aos infratores, sem que isso impedisse
a maré de músicas alienígenas. Um deputado gaulista conseguiu uma lei pelo
parlamento francês sobre os danos das expressões inglesas, sem contudo
alcançar seus objetivos.
É preciso ter o verdadeiro patriotismo que sabe cultuar e cultivar o
verdadeiro valor da língua pátria, evitando o nacionalismo chauvinista. O
escritor saberá usar a língua a exemplo de Eça de Queirós, o professor saberá
educar os discípulos nos verdadeiros valores culturais e tradicionais de nossa
bela e imortal língua portuguesa.
Zero Hora, 26/10/2000, p. 19, Opinião.
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Domínio do Português
Numa breve e substancial reportagem publicada em janeiro pelo
Correio do Povo, a Profª Florence Carbone, da UPF, mostrava como os dialetos
italianos e alemães desapareceram da fala dos jovens, em Carazinho/RS.
Trabalho importante para a etnolingüística de Helena Monfortin, da URICER,
Doutora pela USP, mostra a presença do bilingüismo nos municípios de
colonização italiana do Alto Uruguai. O fenômeno do apagamento lingüístico de
Carazinho pode ser notado em outros municípios. A fala é uma corrente
constante que une as pessoas, enlaça gerações e solidifica culturas. Uma é a
observação de Helena Monfortin, outra a de Florence Carbone usando
métodos diversos nas investigações lingüísticas. Ambos os trabalhos
colocam-nos diante de uma realidade inconfundível: a língua se mantém, se
diversifica ou se apaga segundo as atividades de seus falantes. Houve um
fato traumático: a 2ª Guerra Mundial, em 1942, em todo o Brasil e em especial
no Sul, foi proibido falar italiano, alemão e japonês. Em 1950, foi-se
retomando discretamente o uso dos dialetos. Ali surgiu outro elemento
decisivo para o apagamento das referidas falas o prestígio do usuário. Além
disso a política educacional brasileira exigia o uso do Português. Depois
vieram as forças o rádio e a televisão. As novelas radiofônicas ou
televisionadas iam imprimindo nas pessoas e nas populações a hegemonia da
língua lusitana. Houve reações interessantes em muitos municípios, na
organização de sociedades recreativas e culturais onde se praticavam os
vários dialetos. Apesar dos esforços ingentes dos cultivadores do TALIAN, o
Português domina a vida social e cultural dos municípios de formação
européia. Mantém-se hábitos interessantes de festas e canções. Os programas
de rádio sob a denominação de hora italiana ou vêneta ou alemã, na realidade,
as falas dos locutores em 90% dos vocábulos e frases são Português matizado
de formas dialetais. Os dialetos como tais desapareceram das cidades e das
70
zonas rurais. Os dialetos como tais em sua vida e aparência desapareceram.
Consolida-se o domínio do Português. Deve-se, conservar a cultura dos
ancestrais sempre renovada para se manter viva e ao mesmo tempo estudar o
Italiano ou o Alemão para ter mais de uma janela aberta para os novos tempos,
para não se limitar à língua franca da Albião.
Correio do Povo, 16/02/2001, p. 4, Opinião.
Polêmicas da Língua
No dia 26 de abril realizou-se em Lisboa o lançamento do Dicionário de
Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências. Foram 12 anos
de investigações e estudos no universo da lusofonia pelo Prof. Malaca
Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e sua
equipe. O resultado está aí: 2 volumes e 70 mil entradas, numa edição Verbo.
Com as propostas de mudança de grafia de várias palavras, em especial dos
estrangeirismos e dos neologismos. Todo o avanço cultural ou científico suscita
polêmicas, tais como: reforma ortográfica (já dura 25 anos), invasão de
anglicismos, questões referentes à necessidade de uma política da língua pelas
Academias de Lisboa e do Rio de Janeiro. É importante formar nos alunos
desde as classes elementares a consciência da língua portuguesa, quando se
lê o domínio do Português no mapa mundi: Portugal 10 milhões de falantes;
Brasil 179 milhões; Cabo Verde 369 mil; Guiné-Bissau 980 mil; Angola 10
milhões; Moçambique 16 Milhões; São Tomé e Príncipe 116 mil; Timor Leste,
900 mil. São aproximadamente 220 milhões de lusófones sem contar uns 200
mil nos Estados Unidos.
Vejam-se os números do Dicionário: 4.000 páginas; 70 mil entradas
lexicais; 1.000 estrangeirismos (750 aportuguesados); 85 mil sinônimos; 16 mil
antônimos; 14 mil locuções e expressões idiomáticas; 32 mil termos científicos e
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técnicos; 6 mil brasileirismos; mil africanisinos; 150 asiaticismos. A obra é
gigantesca, fruto de tantas horas de pesquisa, de indagações e de consultas a
outros dicionários existentes. No Brasil, Aurélio Buarque de Holanda e sua equipe
realizaram, a aventura do Dicionário mais consultado de nossa língua. A Academia
Brasileira de Letras também tem o dicionário, realizado pelo grande filólogo Antenor
Nascentes. As academias deveriam ser os cenáculos em que as polêmicas da
língua vigorassem e conseguissem resultados no aperfeiçoamento do vernáculo.
Conta-se, o poeta e cronista Carlos Drumond de Andrade era assíduo freqüentador
das páginas do léxico. De pouca valia são novos decretos e novas leis para
preservar a vernaculidade do falar e escrever luso-brasileiro. A respeito da
ortografia unificada na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, se posiciona
o prof. Malaca Casteleiro: “Considero o acordo ortográfico essencial para a
definição da política comum da língua”. Diante de tantos problemas que preocupam
os parlamentares, o assunto língua, ortografia, etc. ficam sempre para depois. É
urgente a unificação ortográfica na língua portuguesa, veículo, por excelência, da
fé, da esperança e do Amor para as pessoas e as nações do 3° milênio.
Correio do Povo, 28/05/2001, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/07/2001,
Roque Gonzales/RS.
Poesia Portuguesa
O Salão do Livro de Paris que encerrou em 21 de março teve belo
Pavilhão do Instituto Camões dedicado à exímia poetisa Sophia de Mello
Breyner Andresen, nome universal da poesia portuguesa. Aos 81 anos, nascida
no Porto, continua sua produção literária: poemas, contos e teatro. O COLAR
será levado à cena pela companhia independente CORNUCÓPIA. Sophia teve
excelente formação humanista na família e na Universidade com base cristã.
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Colaborou com as idéias e ações do bispo Dom Antônio Ferreira Gomes. Em
1991 foi-lhe outorgado o Prêmio Camões, máximo galardão dos artistas da
língua portuguesa nos países lusófonos. Em março, a França atribuiu-lhe o
Prêmio Max Jacob, que pela primeira vez contemplou escritor estrangeiro. A
antologia galardoada se intitula — Malgré les ruines et la Mort, publicada em
Paris, em 2000. “Num tempo cheio de frivolidades e de busca de efeitos
imediatos, Sophia é com a sua escrita e o seu exemplo, uma referência forte
que fica para além dos jogos de palavras e de circunstâncias.” (Guilherme
D’Oliveira Martins).
Em Arte Poética III, 1964: “Gomo Antígona a poesia de nosso tempo
não aprendeu a ceder aos desastres. Há um desejo de rigor e de verdade
que é intrínseco à íntima estrutura do poema e que não pode aceitar uma
ordem falsa”. Guilherme D’Oliveira Martins afirma: “Sophia é, podemos dizê-
lo com segurança, um caso maior da poesia européia do nosso tempo —
ombreando com Rilke.”
Nasceu no Porto em 1920. Neste 2001, Porto é a capital européia da
cultura. Exaltada a cidade, exaltada sobremaneira a poetisa ilustre! Os seus
poemas falam do mar, celebram a Grécia; os Contos exemplares sublimam o
dia-a-dia na busca ansiosa do infinito. Maria Alziro Seixo escreve: “É à natureza
que Sophia vai buscar a temática da nitidez pura e integral, uma espécie de
ordem primordial do mundo que só o reencontro com o divino consegue
representar”. Leia-se o poema A manhã: A manhã estática parada /Entre o Tejo
azul e a Torre branca/que branca e barroca sobe das águas/Manhã acesa de
silêncio e louvor/Na breve primavera violenta/Assim a minha vida era calma/De
repente se tornou ânsia e saudade/ Sophia, Prêmio Camões, Prêmio Max
Jacob, Sophia síntese, brilho e música da Poesia Portuguesa! Paladina do
amor, da liberdade e da Verdade.
Correio do Povo, 10/04/2001, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/5/2001,
Roque Gonzales/RS, p. 3, No Mundo da Cultura.
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Andanças do Português
O Jornal de Letras e Artes e Idéias, de Lisboa de 1° a 14 de maio,
apresenta uma rica entrevista com o jovem escritor José Eduardo Agualusa,
nascido em Humabo (ex-Nova Lisboa) há três décadas e meia. Ultimamente
viveu algum tempo em Olinda/Recife. Desfrutou de bolsa de estudos de 13
meses em Berlim, onde produziu o livro — O ANO EM QUE ZUMBI TOMOU O
RIO. O livro foi lançado em Lisboa neste mês de maio, em junho será a vez de
Luanda e agosto, Rio de Janeiro. São três edições do mesmo livro, uma em
cada continente.
O jovem escritor, tem viajado pelo mundo lusófono e daí trouxe
informações curiosas, sobre a Língua Portuguesa.
Em Goa, o português é falado por pouca gente, aliás nunca foi muito
falado, mesmo antes da posse indiana em 1961. Era famoso o carnaval, o
idioma vai sendo esquecido.
Caso estranho é Timor Leste, tornado Estado independente a partir de
1° de maio. Por lá nunca se falou muito português. O número de pessoas que o
tem como língua materna é insignificante. Para Agualusa no futuro falarão tetum
e outras línguas indígenas.
Os timorenses que se refugiaram em Portugal defendem o Português,
os que se refugiaram na Austrália, falam inglês. Aqueles que estudaram na
Indonésia falam o bahasa ou malaio mistura de dialetos. Agora observamos
grande afluxo de ajuda brasileira e portuguesa no campo cultural. A língua
oficial ordenada por Xanana é o Português. Qual Português? Do Brasil ou de
Portugal? Com as línguas e culturas de Timor poderá acontecer conflito
lingüístico-cultural.
Maior atenção de Agualusa é para o Português de Angola, sua pátria.
Na data da independência 1975, o Português tinha expressão significativa, um
quinto da população tinha-o como língua materna, hoje pelo menos 42% da
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população de 10 a 12 milhões de habitantes. O libertador de Angola, Agostinho
Neto era escritor e festejado poeta, compunha na língua de Camões. A
literatura em Angola é só em Português, mesmo tendo outra língua materna.
Manuel Rui Monteiro escreveu o livro — QUEM ME DERA SER
ONDA, teve a tradução em UMBUNDO, feita por um deputado da UNITA.
Alguns meses após a independência criou-se a União dos escritores
de Angola, com a língua oficial, o Português. Alguns sócios pleitearam uma
segunda língua de origem dialetal. Hoje entre a juventude das cidades
fala-se o Português.
Os adeptos da UNITA e da FNLA provinham de realidades rurais,
alfabetizados nas missões protestantes, sua língua materna era o Português.
Grande massa que se refugiara no Congo — Zaire, falava e fala o Francês.
Aumenta desse modo a disputa sociolingüística cultural. O crescimento do
Português abafa o surgimento das línguas nacionais, em particular o kimbundo
com tradição literária nos séculos XIX e XX. Alguns jornais no século XIX em
Luanda eram bilíngües. Realmente o “melting-pot” cultural angolano com o
Português transnacional e com as línguas regionais torna-se um desafio para as
próximas décadas, permeadas pela mundialização. É difícil prever como serão
as andanças do Português em África, na Ásia ou na Oceânia, até mesmo no
Brasil. É certo que os campos mais abertos a conflitos são os dois grandes
Estados Angola e Moçambique, por suas extensões territoriais e pela
multiplicidade de línguas e dialetos. Constituem grande programa de desafios
para o Português de Portugal e do Brasil.
O vaivém cultural é fonte de novos horizontes onde acena límpida e
bela a bandeira da PAZ e do AMOR.
Jornal do Comércio, 11/06/2002, p.4, Opinião.
75
Ibéria Luso-Brasileira
Dois fatos luso-brasileiros chamam a atenção, no corrente ano: 1) A
inauguração do Centro de Língua Portuguesa pelo Instituto Camões na
Universidade Autônoma de Barcelona, no dia 22 de março; 2) Criação do
Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Salamanca, no dia 28 de
março. Curiosa coincidência, os dois centros surgiram nas extremidades da
Espanha. Os objetivos das duas instituições são distintos, ambos coincidem no
desenvolvimento da Língua Portuguesa em seus dois estilos mais significativos.
O Centro de Barcelona visa, entre outros objetivos, aprofundar a cooperação na
área específica da tradução e interpretação português/espanhol e
português/catalão pela iniciativa conjunta-o primeiro curso de tradumática. O
Centro de Língua Portuguesa/Instituto Camões será o coordenador das
atividades de divulgação da Cultura portuguesa nas comunidades autônomas
de Catalunha, llhas Baleares e País Valenciano. Articulará, outrossim, as
iniciativas pedagógicas e culturais naquelas três regiões.
O Presidente do Instituto Camões, Jorge Couto, definiu outro objetivo
deste novo centro: “Pretendemos que a experiência acumulada no domínio da
tradução e interpretação português-espanhol, e vice-versa, seja associada às
universidades latino-americanas que possuem experiência neste domínio com
especial destaque para as de Santiago do Chile e Cidade do México”.
Em Barcelona, Jorge Couto manteve reuniões de trabalho com
responsáveis da Faculdade de Tradução e Interpretação tendo em vista o novo
estatuto do Português, bem como a diretoria das Ediciones del Bronce da
Editorial Planeta, uma das maiores editoras espanholas que pretende criar uma
coleção de autores portugueses e africanos da Língua Portuguesa.
A tradicional Universidade de Salamanca criou um Centro de Estudos
Brasileiros para formar especialistas em temas relacionados ao Brasil. O Centro
oferece ensino de graduação e pós-graduação nas áreas de Economia, História,
76
Ciências Sociais, Direito, Língua e Literatura. Os cursos serão ministrados por
professores brasileiros. O objetivo é formar espanhóis que dominem assuntos
relacionados com o Brasil para trabalhar em empresas, na imprensa e em
Português: Além dos mares, Escritores de África instituições de ensino.
Uma das razões dessa iniciativa é o grande interesse econômico que a
Espanha manifesta pelo território brasileiro, neste nosso tempo.
Em Salamanca foi empossado o conselho assessor do Centro de
Estudos com a presença dos ministros da Educação Paulo Renato Souza e
Pilar del Castillo. Fato a destacar: partícipe no Conselho assessor está a
professora Regina Zilberman, coordenadora do Curso de Pós-Graduação de
Letras da PUCRS.
Ao contemplar a realidade sociocultural e política da implantação
dos Centros de Cultura Portuguesa em Barcelona e brasileiro em
Salamanca, vem à mente a pergunta: que se pode esperar dessa iniciativa
luso-brasileira? No mundo globalizado formam-se núcleos culturais
destinados a preservar culturas, línguas, literaturas em benefício dos
humanos que atuam ou atuarão nas áreas de comércio, de indústria, para
propiciar melhores e maiores bens para humanidade. De ambos os lados da
Espanha os centros são vocacionados a produzir mais cultura, mais
fraternidade para o bem dos respectivos países e de toda a comunidade
luso-brasileira e hispânica para voltar com força renovada ao espírito da
ibéria, que dilatou os impérios na expansão cultural de novos horizontes de
fé e de amor em busca da Verdade e do Bem.
Jornal do Comércio, 12/03/2001, p. 4, Opinião.
77
Escritores de África
Jornal de Letras de Lisboa de 28 de junho de 2000, traz duas
reportagens sobre a Literatura na África, de expressão portuguesa.
Apresenta Albertino Bragança, da república São Tomé e Príncipe, e Mia
Couto, de Moçambique.
O primeiro tem uma história agitada desde os anos do Curso de
Engenharia na Faculdade de Ciências, de Coimbra, na república Kimbo dos
Sabos, onde se encontravam estudantes portugueses e africanos apoiantes da
luta contra a ditadura. Conseguiu ser jogador de futebol, com isso pode pagar e
concluir os estudos. Passou depois a trabalhar na divisão de estatística do
Ministério do Trabalho, ao mesmo tempo freqüentava o curso de Engenharia
em Lisboa. Foi membro militante da Associação Cívica, resto legal do
Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe. Assistiu feliz o 25 de abril de
1974, em que terminou a ditadura. Começa depois a luta de libertação das
colônias portuguesas. Lamenta a maneira em que aconteceu a libertação:
“Os movimentos libertários, hostilizados pelo ocidente, abraçaram os
modelos dos regimes comunistas do leste europeu e formaram governos
opressores das liberdades e adeptos de um sistema centralizado de
economia que veio atrasar o desenvolvimento dos respectivos países.”
Esteve ligado ao governo e à política nos anos conturbados por lutas
fratricidas, até a restauração das liberdades democráticas em 1991. O
partido da Convergência Democrática vence nas eleições e Albertino é
escolhido para exercer as atividades no Ministério de Educação e Cultura,
passou ao depois para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Hoje
continua nos misteres políticos como assessor do Ministério de Educação,
Cultura e Desporto. Encontra tempo para dedicar-se à arte literária.
Em 1997 escreveu o primeiro e único romance, Rosa do Riboque,
retrato de um momento de viagem que constituiu a sua vida entre a ilha africana
78
onde é desmesuradamente aberto o sorriso das crianças; onde se fala melhor o
português das ex-colônias portuguesas. Além dessa eufórica afirmação
Albertino apresenta as incertezas e dúvidas sobre a situação do país, afirma:
“Temos carências muito grandes, que nos cortam as possibilidades de nos
darmos a conhecer. Não existe parque gráfico capaz de suportar a nossa
literatura e os escritores sentem-se desencorajados a escrever”. Aguarda uma
colaboração mais decidida de Portugal e do Brasil.
O romance Rosa do Riboque retrata a vida do bairro do Riboque da
capital do pequeno e importante país ilhéu. Os planos de Albertino é escrever
ficção sobre a época colonial, em especial, do século XIX em que os bens de
sua família foram roubados. Os reencontros com a história da ilha cruzam-se
com a História de Portugal. E são os seus mistérios que Albertino Bragança
procura desvendar reconstituindo “um percurso marcado pelo encontro de
civilizações e culturas.”
As parábolas de Mia Couto vão continuando a revelar o ambiente e a
História de Moçambique. Agora é o novo livro- o último vôo do Flamingo que
continua o programa traçado nos livros anteriores: Terra sonâmbula, 1992, e a
Varanda do Frangipani; 1996. No romance de 1992 é a história da guerra, das
ferocidades, tudo pacificado pelo jovem Muindinga, Tanto lutar, tanta pobreza
em busca da liberdade...
A Varanda do Frangipani é a representação de uma ilha que resguarda
os valores do tempo dos mais velhos, cercada pela ignorância do tempo
presente, marcadamente urbano, no dizer de Ana Mafalda Leite.
Em quase todos os contos e romances faz uma crítica aos novos
poderes, ao desvio de bens, à corrupção, ao desrespeito pelos valores morais e
éticos, representados ali pela sobrevivência moribunda de um asilo, que ainda
se alimenta do conhecimento proverbial e das máximas formadoras e
orientadora dos velhos. Retrata-se, outrossim, o país fraccionado na
perplexidade dos novos tempos, em que a miséria se sustenta do ganho fácil e
79
da despersonalização cultural. Mas o Frangipani renascendo continuamente e
repassando a relação entre vivos e mortos, mantém, nesse romance a
esperança da terra e da nação, capaz de renovar e crescer das cinzas.
Nos livros de Mia Couto existe uma atenção especial às minórias do país:
os indianos, os mestiços, os brancos. E ainda os camponeses, os velhos que
vivem “muito oralmente esses que representam outro tempo, os sem-tempo e fora
dele e talvez, por isso, sem-espaço e sem-terra.
Tanto Albertino Bragança em sua pequena república ilhoa, como Mia
Couto no vasto e desolado Moçambique escrevem sentindo e traduzindo a
alma de um povo sofrido, estraçalhado pelas guerras, pela fome, que revive
sempre na esperança de dias melhores nesta África que há tantos séculos
sangra sem piedade!..
Como é belo ler estes textos que traduzem essa alma que sobrevive,
que se imortaliza na expressão da língua portuguesa.
A literatura das terras de África fala forte e profundamente na alma
brasileira, sedenta de paz, de vida e de amor.
Jornal do Comércio, 14,15 e 16/07/2000, p. 4, Opinião.
Moçambique e Mia Couto
Mia Couto é a expressão sociopolítico-cultural de Moçambique 2001.
Lançou ultimamente, em Lisboa, o livro MAR ME QUER que teve grande
repercussão em Portugal e no Brasil. O autor define o livro: “Mais que uma
história de amor é uma história de desencontros das pessoas com o seu
próprio destino. Passa-se em lugar nenhum. Ou nesse outro lugar onde
sonhamos os nossos amores”. O pensamento mágico é a força do africano,
modo de fugir do racionalismo.
Moçambique foi vítima há um ano de aluviões que arrasaram
cidades, lavouras, pontes, estradas. Durante o ano 2000 a solidariedade do
80
mundo olhou para Moçambique, ajudou com roupas, mantimentos, remédios
e voluntários. A reconstrução do país, das aldeias e cidades é um fato
marcante nos ideais daquele povo.
Houve durante o ano, o assassinato de Carlos Cardoso, jornalista,
diretor do Metical, branco de 48 anos, moçambicano, nascido na Beira. Era
muito prático e crítico do Governo, da Frelimo, da Renamo, sabia apontar
caminhos. A máfia o liquidou. O jornal circula por fax e por e-mail, numa
garagem está uma redação de quatro pessoas.
O fato mexeu com a opinião pública que é limitada entre os brancos e
alguns dirigentes de povos mais instruídos.
O uso do português pertence a 40% dos moçambicanos. A maioria se
comunica pela língua mãe, uma dentre as várias existentes de acordo com as
tribos de origem. Por isso é difícil falar da existência de uma moçambicanidade,
de um espírito de nação, de pátria.
A época colonial portuguesa respeitava o senso de justiça
tradicional dos povos colocando em paralelo a justiça de tradição cristã e
lusitana. Na situação atual há uma imposição de conceitos advindos do
marxismo e da renovação ideológica do atual governo.
O país ressente-se da falta de escolas onde se ensine a cidadania e o
modo de viver a civilização atual, com bons currículos de ciências e de
conhecimentos humanos.
O modelo ocidental é muito forte e vai-se impondo. O jovem, diz Mia
Couto, quer ser Michael Jackson, toda a gente quer água canalizada em casa.
Há um convite permanente à falta de auto-estima e de admiração pelo
americano e pelas tecnologias. Moçambique se orgulhou com a conquista da
medalha de ouro olímpico nos 800 metros por Maria de Lurdes Mutola.
Moçambique também se orgulha de ter o escritor Mia Couto conhecido nos
países de fala portuguesa e em outros países da Europa, da América e da Ásia.
81
O escritor conclui uma entrevista com as palavras: “Os meus filhos
terão que aprender a felicidade lutando contra um estado de coisas do
presente. O que não é mau. É melhor do que usufruir apenas o que é
oferecido. Eu fui feliz na minha vida lutando”.
Moçambique, território importante em sua cultura, em seu futuro,
tudo pode conquistar através de suas culturas regionais e tradicionais,
amalgamadas nas lições lusitanas através da força multissecular da Língua
Portuguesa e da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.
Jornal do Comércio, 9,10 e 11/2/2001, p. 4, Opinião.
José Craveirinha
No dia 6 de fevereiro silenciou a voz insubmissa de José Craveirinha,
poeta fundador da moderna literatura moçambicana.
Nasceu em 28 de maio de 1922, em Lourenço Marques, hoje, Maputo,
no bairro de Mafala. Era filho de um português e de uma africana. Sontinho foi o
primeiro nome que recebeu, diminutivo de Sonto, Domingo, em rongo, língua
materna, pois era domingo, o dia de seu nascimento. O pai, algarvio de Aljezur,
chamou-lhe José João Craveirinha, embora nunca o tivesse batizado, por ser
contra suas convicções maçônicas. Matriculou-o mais tarde na Escola 1°
de Janeiro, orientada pela maçonaria. Realizou curso de esperanto que
seria a língua dos pedreiros livres.
Viveu na casa paterna por exigências da madrasta com o
consentimento da mãe. Impedido de estudar no liceu, pela situação econômica
da família, valeu-lhe a determinação da professora primária que lhe deu aulas
particulares facilitando-lhe os livros sem lhe cobrar um centavo.
82
Passou a adolescência na casa de um tio. Aos 11 anos sentiu o gosto
pelas letras por influência do pai, lia Antero de Quental, Eça de Queirós, Zola e
outros. Recitava de cor estâncias de Os Lusíadas.
O lirismo juvenil expresso em sonetos, tranformar-se-ia mais tarde
no grito aflito de seu povo. Criava uma espécie de mestiçagem poética que
rompia com os cânones e abria clareiras nas expressões mescladas de
cores e sons das línguas faladas pelas diversas tribos. O Brado Africano,
nos anos 40, revelou a voz insubmissa de um povo que buscava a
liberdade. Atleta de corrida dos 1.500 metros e no futebol, jornalista e
amigo dos pobres. Foi militante da FRELIMO e amigo de Samora Machel,
primeiro presidente de Moçambique livre. Trabalhou em vários jornais da
Beira: Notícias e A Tribuna. Em 1964 publicou o primeiro livro de poemas
Shibugo. O segundo seria publicado traduzido na Itália — Cantico a un Dio
di Catrame, edição bilíngüe. Outros livros traduziam lembranças do
cárcere. Em 1974, pouco antes da independência, saiu da cadeia e
publicou Babalaze das hienas e Maria, dedicado à esposa, Maria de
Lourdes Nicolau, que, morreu em 1979. Publicou ainda coletânea de ficção
Hamina e outros contos, em 1997. A editora Caminho (Lisboa) publicou
num volume toda a Obra Poética. Craveirinha está presente em várias
antologias. Tive o prazer de encontrar Craveirinha no Congresso de
Lusitanistas, em 1996, em Oxford. Fez belas intervenções recebeu
expressivas homenagens dos congressistas de muitos países.
Presidiu a Associação dos Escritores de Moçambique até 1987, foi
distinguido por várias honrarias: Prêmio Camões, Prêmio Cidade de
Lourenço Marques, Prêmio nacional de poesia, em Itália. No ano 2002 o
presidente Joaquim Chissano promoveu-lhe homenagem nacional ao
completar 80 anos.
Na bela expressão de Maria Leonor Nunes, em Jornal das Letras
de Lisboa: “permaneceu a vida em Moçambique, desse lugar onde os
83
batuques ficam a ressoar remotamente como um rumor da terra José
Craveirinha fez ouvir para sempre a sua voz muito suave, por vezes irônica
e sempre insubmissa “mesmo depois/ eu quero que me escutem/ na razão
da minha voz insepulta” deixou escrito num verso.
Os seus restos mortais repousam no Panteão dos Heróis
Moçambicanos, em Maputo. Fica para sempre a sua palavra universal a pulsar
no coração da Língua Lusitana.
Jornal O Mundo das Letras, 05/2003, p.06, Academia Pelotense de Letras.
Timor Leste — o que será?
A ilha de Timor, descoberta pelos portugueses em 1512 teve a história
repartida entre os huguenotes e os católicos lusitanos. Em 1975, libertou-se do
domínio português sendo em seguida subjugada pelas forças do governo
ditatorial da Indonésia, os sequazes de Suharto. Após 25 anos de opressões
conquistou a sua independência, proclamada e reconhecida em 19 de maio
deste ano. Xanana Gusmão é o herói da independência junto com bispo de Dili.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tomou a si o encargo da proteção
daquela metade da ilha Timor com 14.873 km2 e cerca de 900 mil habitantes. O
trabalho da reconstrução física das cidades desmanteladas pelos opressores
indonésios começou a partir de 1999. Ao mesmo tempo começava a
remodelação política, cultural e humana. Verdadeiras cruzadas culturais e
religiosas se formaram em Portugal, no Brasil e em outros países. Precisava-se
de gente para reeducar o povo no sentido da democracia, no valor do ser
humano e de seu destino eterno. Para desenvolver cultura é necessária a
prática de uma língua. Está ali um problema e uma interrogação que se coloca
para o governo de Timor Leste e para os povos que enviam ajuda àquela gente.
O escritor Luís Cardoso, timorense que emigrou para Portugal aos 16 anos e
84
retorna agora aos 43 anos. Escreveu dois livros cuja matéria é o povo e a
situação da cultura: Crônica de uma travessia, (traduzido para o inglês, francês,
sueco, italiano e alemão), Olhos de gato bravo, livro sobre a presença
portuguesa. Numa entrevista o escritor declarou: “A colonização portuguesa em
Timor foi meramente administrativa. As professoras eram as esposas dos
militares que cumpriam tempo de serviço. Há forte tradição oral correspondente a
vários grupos etnolingüísticos. Além do drama humano, há o drama de
desenraizamento. Esperemos que a proximidade com a Indonésia venha a ser um
valor e não o contrário.” (JL de Lisboa, n°826, 29/10/2001). Qual será a língua dos
900 mil habitantes? Xanana Gusmão e o parlamento optaram pelo Português,
língua oficial. Os habitantes em maioria tem o TETUM, língua materna. Timor Leste
é um verdadeiro caldeirão onde se estrutura nova cultura, onde professores e
missionários portugueses e brasileiros, australianos e americanos, todos falam a
língua que sabem. Que língua dominará? Importante é que seja a língua do
entendimento e do AMOR.
Correio do Povo, 04/07/2002, p. 4, Opinião e Igaçaba, 07/2002, Roque
Gonzáles/RS, p. 4, Cultura.
85
Academia ano 2000!
A Academia Rio-Grandense de Letras reelegeu, no dia 2 de dezembro,
a diretoria para o ano 2000. Ao contemplar este número, fica-se perplexo ao
sentir o ecoar das sílabas dos vocábulos. Os números redondos têm força
mítica sobre as pessoas e sobre os grupos sociais em todos os povos que
medem o tempo a partir do nascimento de Jesus Cristo, quando “se
completaram os tempos”. As diversas civilizações com base em acontecimentos
religiosos ou políticos têm seus marcos milenares diferentes: a era hebraica, a
era budista, a era xintoista, a era islâmica e outras.
A Academia Rio-Grandense de Letras teve seu nascimento a 1º de
dezembro de 1901, sob a égide do ilustre médico e professor Olintho de
Oliveira. A pequena sociedade recebeu os nomes mais importantes da
literatura. Apeles Porto Alegre, Aquiles Porto Alegre, Apolinário Porto Alegre,
Paulino de Azurenha, Mario Tota, Caldas Júnior, Marcelo Gama, Zeferino
Brasil, Alcides Maia, Alfredo Ferreira Rodrigues e outros.
Os nomes da entidade foram-se modificando, continuando-lhe o
espírito: Academia de Letras do Rio Grande do Sul, em 1910; Academia Sul-
Rio-Grandense de Letras, em 1944; e, a partir de 6 de maio de 1963, sob a
presidência de Gevaldino Ferreira, retomou o nome de Academia Rio-
Grandense de Letras. Neste século de existência, as letras no Rio Grande
do Sul tiveram expoentes que ilustraram a literatura brasileira com projeção
no exterior. A diretoria reeleita para o biênio que se inicia em março e se
encerra em dezembro de 2001 tem junto com os sócios tarefas importantes
a realizar. Entre as atividades programadas: 8° Ciclo de Palestras,
estruturação da Secretaria Executiva, na sede na Rua dos Andradas, 1234,
conjunto 1.002; preparação e realização do Encontro Nacional das
Academias Academia e escritores do Rio Grande do Sul Estaduais e
Regionais; história e antologia dos patronos e ocupantes das academias
87
no arco dos cem anos; exposição de obras literárias dos acadêmicos; criação
do concurso literário Olintho de Oliveira para as produções nos diversos
gêneros literários. A Academia Rio-Grandense de Letras tem vasto e
consistente programa a realizar na aurora e no pleno dia do 1° Centenário.
Deo juvante, como diziam os antigos e hoje dizemos nós, tudo será realizado.
Igaçaba, 07/12/1999, Roque Gonzáles/RS, p. 3, No Mundo da Cultura.
Academia prepara Antologia
A Academia Rio-Grandense de Letras, fundada pelo ilustre médico,
catedrático e beletrista OLINTHO DE OLIVEIRA em 1° de dezembro de
1901, prepara a celebração de seu centenário de existência, de estudos, de
publicações, de lutas e vitórias. Entre as ações previstas e propostas está a
presente ANTOLOGIA, iniciativa do confrade Rui Cardoso Nunes e
aplaudida em sessão plenária. Antologia, em sua acepção etimológica,
relembra tratado de flores. Os poemas, os versos, são as flores que os
acadêmicos apresentam aos leitores, aos amigos que vêm celebrar o
Centenário da Academia.
Os poemas são flores de linguagem, que se enfeixam e se ofertam
de coração aberto. O poema é cintilação da palavra que se abriu no
entressono e sonho para o despertar com a beleza das cores das alvoradas.
O ritmo dos versos, na cadência das sílabas no tapete florido das estrofes, torna-se
música, torna-se vida, expressa AMOR.
Esta ANTOLOGIA é o barquinho florido que a Casa de Olintho de
Oliveira oferece ao Rio Grande e ao Brasil, no flutuar das ondas das horas
e dos dias até a madrugada de 1° de dezembro de 2001. O frágil batei
enfrentará adversidades, incompreensões, mas tem em si a força e o vigor
da POESIA, que é Esperança e Vida.
88
Lembro aquele poema sublime de Paulo Corrêa Lopes:
Largai as velas que o mar é largo!
Para longe, para o fim de tudo!
Largai as velas
e vereis como é mais bela a vida
entre relâmpagos e abismos!
Largai as velas que o mar é largo
e embala os corações
que não tremem diante do mistério.
(Obra poética, p.75)
Antologia vai singrando pelo Rio Grande a fora, levando a mensagem
de fraternidade e de amor a todos que lhe derem o porto seguro de seu carinho
e de sua leitura.
Jornal RS LETRAS, 02/2001, p. 2.
Vida da Academia
No biênio 2000 e 2001 a Academia Rio-Grandense de Letras teve vida
exuberante e profícua. Novos sócios fortaleceram o convívio beletrístico: José
Clemente Pozenato, Luís Coronel, Flávio Loureiro Chaves, José Francelino de
Araújo e Jaime Cimenti. O ciclo de palestras de 2001 reverenciou
centenários e virtudes de escritores e datas: Moysés Vellinho, enaltecido por
sua herança de crítica literária; Francisco Ricardo, lembrado em seus
poemas e biografia; Guilherme Shultz Filho, Poeta e jurista; Cecília Meireles,
poetisa da Inconfidência e da Ternura; Murilo Mendes, a poesia em pânico;
Felipe D’Oliveira, poeta e espadachim; Darcy Azambuja, contista do Galpão
89
e dos jogos; os 500 anos, o resgate que não aconteceu; Curt Nimuendaju,
morte misteriosa na Amazônia; Raul Bopp, estranhas invenções; Olintho de
Oliveira, iluminado fundador de nova Luz; do livro na formação de
consciência. O Solar dos Câmara, gentilmente cedido pela direção da
Assembléia Legislativa continua sendo o cenáculo de serões, de
conferências, de celebrações da cultura como acontecia nos anos em que o
Mestre Armando Pereira da Câmara criava e irradiava suas idéias.
A Academia chegou a milhares de famílias com os Concursos do
Escritor Universitário, promoção conjunta com o C.I.E.E. A clarinada de
vida nova nas letras e artes ressoa como nos dias de 1901, como em
1948, como nas jornadas e discussões do primeiro e de outros sodalícios
literários aparecidos e submersos nas ondas do tempo. Sempre acesa e
bela a chama da Verdade de Bondade e da Beleza, em todos os amantes
das Letras. O artista sabe trabalhar a argila da palavra, argila irrequieta
que se adapta ao pensamento, ao sonho, à imaginação para tornar-se
crônica, poema, discurso e finalmente POESIA, essência do Belo e do
AMOR. A Academia envia a mensagem de Beleza a todos os leitores
destas palavras. Os acadêmicos poetas, escritores, dramaturgos,
cronistas, ficcionistas, todos vivem e transmitem a experiência de criar e
recriar ilusões e realidades.
Correio do Povo, 19/12/2001, p. 4, Opinião.
Três notáveis Centenários
Como é belo e dignificante celebrar as vidas de pessoas que
passaram entre nós espalhando benesses, distribuindo gestos e ações
humanitários. Nesta reflexão lembro ações humanitárias. Nesta reflexão
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lembro três nomes: Moysés Vellinho, Darcy Azambuja e Ladislau Ruttkay.
Dois de nosso torrão gaúcho: Santa Maria e Encruzilhada e o terceiro de
Budapeste (Hungria). Unidos por terem nascido em 1901 e pelo amor que
deram à nossa gente. As letras e a arte de curar sempre estiveram irmanadas
desde a antiga Grécia. Nas artes há estudo de textos que são tecidos de
palavras e de formas distintas dos tecidos da Fisiologia.
Moysés Vellinho abre a tríade por ter aberto os olhos no dia 6 de
janeiro. Depois de sua formação primária e secundária, bacharelou-se iniciando
a carreira política e literária
Em 1922 ensaiava as primeiras refregas nas letras com um comentário
crítico sobre a obra de Monteiro Lobato, publicado pelo Correio do Povo, Ligado
à pessoa e aos ideais de Oswaldo Aranha, acompahou o grande líder no
governo do Estado e no Governo Provisório, pós-revolução de 1930. Volta a
Porto Alegre, onde constituiu família e se dedicou com mais freqüência às letras
com ensaios críticos, publicados em livro em 1944, sob o título Letras da
Província. De 1938 a 1964 foi ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em
1939, saudou com brilhante discurso o centenário de nascimento de
Machado de Assis. Dedicou-se às artes e à história com a criação da
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, com a publicação de Capitania d’el-Rei
e Fonteira. Erigiu-se em defensor da lusitanidade, responsável pela cultura e
desenvolvimento político-cultural da Província de São Pedro do Rio Grande
do Sul. Exerceu vice-presidência do Instituto História e Geográfico do Rio
Grande do Sul, por longos anos.
A Revista Província de São Pedro com os 21 fascículos, manteve altos
e brilhantes oculto e o cultivo das Letras de 1945 a 1957. Quantas revelações
literárias aconteceram naquelas imorredouras páginas da Revista! Velo a
falecer no dia 26 de agosto de 1980.
A Academia Rio-Grandense de Letras realizou no dia 19 de abril solene
celebração da vida e obra de Moysés Vellinho, no centenário de seu
91
nascimento, teve a presença de seleto público e de modo especial dos
familiares: filhas e filho, netos e sobrinhos.
Darcy Azambuja surgiu entre as brumas e geadas de 26 de agosto, em
Encruzilhada do Sul, Alfabetizado na cidade de Natal, veio a Porto Alegre onde
freqüentou o Colégio Militar, não prosseguiu na escola das armas, preferiu
trabalhar no comércio em 1922. Ingressou na Faculdade de Direito em 1923. O
terceiranista surpreendeu o Rio Grande com o livro de contos No galpão,
editado pela Livraria do Globo, 1925. Bacharelou-se em 1927, foi promotor
público e inspetor de ensino do Estado. Em 1933, concorreu à cátedra de
Direito Constitucional e de Teoria Geral do Estado, conquistando a vaga e o
título de Doutor. Professor da Faculdade de Direito especializou-se na Teoria
Geral do Estado, produzindo excelente tratado que ainda hoje, é compulsado
por mestres e alunos.
Por sua afeição à história do Rio Grande obteve um lugar de destaque
no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Continuou a produzir
boa literatura no gênero de contos: Contos Rio-Grandenses, 1928; Coxilhas,
1956; em 1940 apareceu Romance antigo. Darcy Azambuja empenhou sua
vida no magistério Universitário primeiramente na Faculdade de Direito de
Porto Alegre (1933) e a partir de 1947 na PUCRS com as cadeiras de Teoria
Geral do Estado (Direito) e Estética no curso de Filosofia. A sua habilidade na
ficção literária ombreava com a seriedade na investigação e transmissão da
ciência jurídica. O conhecimento da língua portuguesa propiciava efeitos
interessantes às aulas a discípulos atentos, aos textos às leituras dos contos
e dos casos da gente simples da Campanha. Em seus 69 anos Darcy
Azambuja foi o mestre das letras na estética e na dialética da jurisprudência.
Ladislau Ruttkay nasceu no dia 30 de março de 1901. Após os
estudos primários e secundários realizou a sua formação na Faculdade de
Medicina da Real Universidade Húngara Elisabetana em 1924. Especializou-
92
se em Ginecologia e Cirurgia Geral, em Paris, de 1926 a 28, no Serviço
do Prof. Brindeau.
Voltou a Budapeste para ser assistente do Prof. Alexandre Fekete na
Cátedra de Ginecologia e Obstetrícia.
Com o advento da socialização da medicina na Hungria, resolveu, em
1930, vir ao Rio Grande do Sul com a esposa Edith Ronai Ruttkay. Após a
revalidação de seu diploma exerceu atividades médicas em Santa Cruz do Sul,
Cruzeiro do Sul, Taquara e Santo Angelo, sendo muito estimado por sua
habilidade médica e por seus gestos humanitários. Em Porto Alegre fundou e
dirigiu o Hospital São Manoel, à Av. Independência de 1940 a 1950. O Dr.
Oscar Pereira o convidou para organizar o serviço de Ginecologia do Sanatório
Belém. Em 1953, organizou com o Dr. Tasso Vieira de Faria o serviço de
assistência, o SAMU, inaugurado em 1954.
Em 1962, convidado pelo Dr. Lauro Dornelles, diretor geral do SAMU,
do Rio de Janeiro, organizou postos médicos em todo o norte do país.
Em 1970, a convite do Prof. Dr. Manuel May Pereira, exerceu, na
década de 1970, docência no Departamento de Patologia da PUCRS, novel
Faculdade de Medicina. Teve reconhecidas homenagens por ocasião de seus
50 e 60 anos de formatura e pelo meio século de atividades médicas no Brasil.
Em tudo foi o bom samaritano em suavizar as dores, em curar as moléstias e
iluminar os caminhos tortuosos e escuros de tantas vidas. No dia 20 de julho de
1991, aos 90 anos entregava sua bela alma ao Criador.
Os três notáveis centenários recordam as gerações atuais como é belo
e dignificante ser útil aos outros em Serviços de Cultura e da Saúde quer
corporal, psíquica ou espiritual.
Jornal do Comércio, 02/05/2001, p. 4, Opinião.
93
Ivo Caggiani
No dia 19 de abril, de madrugada, encerrou a sua produtiva carreira de
homem devotado às letras, à história, à política, à investigação, o escritor e
historiador Ivo Caggiani. Pertinaz doença sacrificou-lhe os últimos anos quer no
hospital quer em sua residência. Poucos meses antes de seu último suspiro a
pena estava-lhe entre os dedos, produzindo naquela letrinha modelar textos
de história ou de cartas a seus amigos. Seu aspecto grande e volumoso
distinguia-o em qualquer grupo de pessoas, os amigos chamavam-no
carinhosamente Gordo.
A vida começou desde cedo com pequenos serviços de jornaleiro para
o jornal O REPUBLICANO, em sua Sant’Ana do Livramento, assim costumava
escrever-lhe o nome com o característico apóstrofe. O Republicano, de
propriedade do coronel Francisco Flores da Cunha, foi-lhe o currículo de
aprendizado de revisor, de repórter até de redator-chefe. Em 1955, um ano
após ter concluído o Curso Técnico de Contabilidade fez ressurgir a Folha
Popular. Labor intenso no jornal, professor de História no Ginásio de 1952 a
1958, teve tempo e dedicação de fundar o Museu Municipal David Canabarro,
em 1952. Sofreu perseguições da ditadura implantada em 1964, perdendo o
cargo de inspetor escolar do município.
Ardoroso defensor dos princípios trabalhistas de Getúlio Vargas e de
Alberto Pasqualini foi eleito vereador em 1976. Permaneceu em várias
legislaturas até que solicitou a demissão irrevogável em 1992.
Como historiador foi honrado e respeitado em todo o Estado e no Brasil.
Escreveu 25 livros, alguns breves outros volumosos sobre a história de
Sant’Ana do Livramento e de seus principais filhos: General Flores da Cunha,
Cabeda, Honório Lemes- um herói popular. Deixou em suas gavetas duas obras
prontas: Oriovaldo Greceller- político e radialista e general Nelson de Melo.
Vivia e trabalhava incansavelmente no Museu que era a sua casa. Colaborou
94
em 1992 na reestruturação do novel Conselho Estadual de Cultura. Os seus
cadernos sobre Sant’Ana têm uma riqueza maravilhosa de preciosas
informações sobre gente e história da fronteira.
Ricardo Carle escreveu preciosa crônica em Zero Hora de
20/4/2000, sob o título -Um provedor de lendas. Dele toma as frases: “O
historiador usava os papéis para comprovar sua capacidade mnemônica
veramente prodigiosa. Aquela saleta na rua Vasco Alves era depositária de
um vasto passado. Ivo era um homem voltado para o passado. Devotado ao
tempo, devorado pelos homens e aos homens devastados pela História. É
um tipo de paixão que ele encarava com uma seriedade feroz”.
Tive a graça e o prazer de ser amigo de Ivo Caggiani nestes últimos 15
anos. Quaisquer dúvidas sobre personagem da fronteira ou de homens e
mulheres ilustres nas Letras, Ivo me ajudava incontinenti. Abriu-me as páginas
de A PLATÉIA, onde os meus artigos eram reclamados, quase semanalmente.
A nossa grande amizade continua além da efemeridade do tempo e se projeta
na eternidade. O exemplo de Ivo Caggiani, estudioso, ardoso pesquisador,
amante impenitente de nossa terra e de nossa gente, deve germinar e vigorar
entre tantos jovens que desejam ter um Estado e um Brasil mais cultos, mais
respeitados da Verdade e do Amor.
Jornal da Semana, 27/05/2000, Sant’Ana do Livramento/RS, p. 02.
O Silêncio do Guerreiro
No dia 4 de março, aos 72 anos, silenciava para sempre a voz de
Guerreiro, caía-lhe a pena das mãos... O Jornalista, o idealizador de novos
caminhos para o Jornal do Comércio, para a imprensa oficial do Estado,
entregava os pontos. Ficava seu testamento de vida dedicada a bem servir a
95
comunicação social, como deixou escrito: “Em jornalismo, como na vida,
devemos ter sempre idéias, mas enquanto isso, ir fazendo o melhor que nos é
possível, dentro da realidade empresarial e profissional”.
Filho de tradicional família de Vacaria, decantada em versos no livro
“Tropeiro da saudade”, desde guri foi aprendendo no colégio marista São
Francisco o verdadeiro caminho da vida. Adolescente veio para a capital. Em
1952 ensaiava os primeiros passos nos misteres jornalísticos. Freqüentou o
Curso de Jornalismo da PUCRS, pioneiro no Sul do Brasil. Bacharel em
jornalismo, em 1953 iniciou a sua caminhada de 49 anos no Jornal do
Comércio. Dominava com rara maestria o vernáculo, além disso o seu tino de
administrador o levou a outros patamares no JC, na imprensa oficial do Estado.
Criou a Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (CORAG) em 1970. Com
Alberto André e Antônio González criou o Museu da Comunicação Hipólito José
da Costa. Amigo do fundador do JC, Jenor Jarros e de Dona Zaida soube
imprimir em seus colaboradores a sua filosofia de trabalho, apostando no
segmento da economia e na fidelidade à verdade na notícia. Na reestruturação
do Jornal nos anos 90, Homero passou a integrar o Conselho de Administração,
ao lado da viúva do fundador Zaida e do filho Delmar Jarros.
Homero Guerreiro foi dedicado à esposa, Prof. Nair e à filha Silvana,
considerava a família base sólida e insubstituível da organização social e humana.
Quantas promoções culturais nasceram da iniciativa de Homero! Sabia
colocar em tudo a palavra certa, o conselho apropriado, a visão, o justo valor
que Deus Nosso Senhor coloca na existência ao confiá-la a cada pessoa para
que administre esse tesouro de valor imensurável. Homero soube administrar a
vida no âmbito familiar, social e empresarial. Soube dar a si mesmo o que a
vida lhe destinara, soube dar-se à família em gestos de amor e de profunda
compreensão, soube dar à empresa o necessário para seu desenvolvimento,
soube dar à sociedade todo empenho de cidadão para vê-la cada vez mais
vivível, cada vez mais solidária para ter a pátria sem males. Após os 72 anos
96
Guerreiro silenciou, o seu silêncio nos conclama a ser pessoas fiéis à verdade
na comunicação, a ser pessoas construtoras da família e empreendedoras na
tarefa de um mundo melhor.
Jornal do Comércio, 25/03/2002, p. 4, Opinião.
O Poeta de Quaraí
Figura notável nas letras nacionais é ANTÔNIO CARLOS OSÓRIO,
nascido em Quaraí/RS, em 1928. Terra fértil de escritores: Dyonélio Machado,
Cyro Martins e Lila Ripoll, entre outros. Alfabetizou-se na terra natal, buscou o
colégio Marista de Sant’Ana e depois o Colégio Rosário na capital do Estado.
Freqüentou ao mesmo tempo as faculdades de Direito na UFRGS e o Curso de
Filosofia na PUCRS. Liderou a política acadêmica durante cinco anos.
Perigosa enfermidade comprometeu-lhe por vários anos os estudos
e as leituras. Finalmente ei-lo duplamente bacharel em Direito e Filosofia,
duas forças que lhe abrirão o caminho na sociedade e no trabalho. Amante
da leitura dos clássicos do século XIX Dostoievski, Tolstoi, Verlaine, passou
a ler os modernos: R.M.Rilke, Garcia Lorca, Paulo Neruda, T.S.Eliot, Cecília
Meireles e Fernando Pessoa. Com as leituras dos poemas ia-se
estruturando a alma do poeta Antônio Carlos Osório.
Teve a idéia desafiadora que o levou a Brasília, onde a advocacia tinha
terreno propício e abundante. Tornou-se brasiliense de corpo e alma.
Estruturou a vida profissional como também a vida cultural, criando a
Academia Brasiliense de Letras, de que é presidente há várias décadas. Ser
presidente de sodalício lítero-cultural é exercer a missão de servir às letras e
aos colegas com denodo e perseverança.
97
A trajetória de Osório nas lides literárias se concretiza em: Rebanhos de
Ventos; O Desafio do Branco; Arsenal da Vigília; O Silêncio e suas Raízes;
Quase Hai-Kais.
Agora aparece ANTOLOGIA PESSOAL, Os Degraus do Tempo, 2, com
excelente esboço de auto-retrato intelectual. No poema NUPCIAS, celebra a
grande missão da palavra:
Deixa que palavra
Por si mesma fale.
Se dela pedes magia e liberdade
Liberta-se das travas dos teus pavores. (p.24)
O poeta se reinventa com a força e a magia do engenho:
Revisto-me, refaço-me, reinvento-me em metáforas de sonho.
(p.27).
O tema da palavra retorna com força em cântico de Libertação, leia-se
a penúltima estrofe:
Palavra, és liberdade
Que crias, e recrias o criado
O mundo é todo herdado
Dominas todo o fado
E se sonhas, realidade se faz o teu sonhado (p.33).
É expressivo o “Quase Hai-kais Sísifo com a força mítico-fabulosa do
refazer de cada dia:
Retombo. Levanto.
E retomo de novo nos ombros
O peso do tempo. (p.69)
98
Em seus poemas percorre a vida, as pessoas, os lugares
habitados, os sonhos que foram tantas gentes. Tudo vai passando nas
estrofes, nos poemas, nas andanças do poeta, são os descaminhos da dor
que se encontram e se distanciam dos corações devorados pelo ócio e
pelo trabalho.
Em todas as expressões de elegia, de canções, de noturnos, de
sofrimento, de desventura ouve-se o palpitar firme e esperançado do Poeta
que espera o amanhecer de nova aurora.
Emocionalmente é o poema C.T.l, em memória do irmão Walter, que se
encerra no terceto:
O arquejo final do homem
não era mais humano:
só um solavanco da máquina (P.131).
TEMPUS FUGIT é o soneto que põe o fecho no panorama belo,
exuberante da Antologia pessoal de Antônio Carlos Osório, poeta de Brasilia,
poeta de Quaraí:
Caminhos, trilhas, passos, um dia
Todos unidos, e hoje bem distantes
Por crueza do tempo e geografia.
Não adianta sonhar o sonho de antes
Ele está sufocado sem piedade
Por garras de gigante sem idade. (p. 131).
A Platéia, 29/01/2002, Santana do Livramento/RS, Opinião.
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Semana de Língua Portuguesa?
A Academia Brasileira de Filologia acaba de realizar a Semana
Nacional de Língua Portuguesa, iniciativa do presidente Leodegário de Azevedo
Filho. O evento teve pleno êxito em número e qualidade dos participantes. A
Língua Portuguesa situa-se como necessidade existencial para uma população
de 200 milhões de pessoas, é a oitava mais falada do planeta. Entre os idiomas
ocidentais fica atrás apenas do inglês e do castelhano. No país somos 170
milhões. Para esta população, aprender o Português é mais do que uma
questão educativa, é uma necessidade existencial na afirmação de Andréa
Antunes em reportagem da FOLHA DIRIGIDA.
A importância do idioma foi discutida no I Seminário Nacional de Língua
Portuguesa, realizado de 8 a 12 de abril, na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. A conclusão das teses e discussões que ocuparam os eruditos é de
ampliar e aprofundar científica e politicamente a aprendizagem da forma correta da
língua usada no Brasil. Para o filólogo Leodegário de Azevedo, a importância do
idioma ultrapassa as fronteiras territoriais. A tendência do mundo moderno é
fortificar os grandes blocos lingüísticos. Então temos que lutar pela unidade do
mundo lusofônico porque os grandes blocos linguísticos é que vão ter cada vez
mais lugar. “Nosso bloco terá importância universal na medida em que se mantiver
unido e forte”. Para manter a unidade é necessário o estudo contínuo e sério. Além
do estudo a leitura acompanhada de assíduos exercícios de expressão oral e
escrita. O cuidado no uso que idioma começa na família. A alfabetização é
fundamental. Falhas ocorridas nela podem comprometer a boa linguagem. No
ensino fundamental e médio o adolescente vai firmando a sua língua para enfrentar
o curso superior com o domínio do vernáculo. O que está se propondo é utópico
para nossas escolas. Haja vista os resultados da pesquisa da UNESCO em 2001
entre milhares de estudantes de 15 anos de idade. A literacia em língua materna no
Brasil alcançou níveis baixíssimos.
100
Oportuna e urgente é a ação do MEC na decisão do ministro Paulo
Renato Souza, de lançar a cruzada da literatura e educação, colocando livros ao
alcance dos estudantes. Além dos livros é preciso criar condições e mecanismos
propícios à leitura. “O trabalho pela qualidade do ensino passa pelo hábito da
leitura. Toda a sociedade deve participar”. (min. Paulo Renato).
Correio do Povo, 22/04/2002, p. 4, Opinião.
Santo Amaro — QG de Chico Pedro
O eminente escritor Francisco Pereira Rodrigues no dia de seu 90º
aniversário fez o lançamento solene, no salão Mourisco da Biblioteca
Pública, do livro — Santo Amaro, QG de Chico Pedro. É uma obra
histórico-literária de cerca de 90 páginas em que se narram as aventuras
de um lutador pela legalidade nos anos da Revolução Farroupilha. O autor,
filho de Santo Amaro, argumenta: “Por que as lutas e as vitórias dos
vencedores imperiais não têm as atenções literárias das hostes farrapas?”.
A história de Francisco Pedro de Abreu é uma saga de devotamento e de
patriotismo e de fidelidade à Pátria. A narração dos feitos de Chico Pedro
transcorre tranqüila nos vaivéns das tropas farrapas e imperiais à margem
direita do Jacuí onde a Revolução se desenrolou até as fronteiras argentino-
uruguaias. Ao mesmo tempo em que se acompanham as refregas vê-se
crescer a pessoa e o heroísmo dos combatentes. Santo Amaro, vila, cidade
cresce serena e bucólica, tranqüila como as águas do Jacuí.
Fragmentos da História Rio-grandense somam-se à grande história
de tantas famílias açorianas que em 1752 chegaram para povoar aquelas
ribanceiras para formar um povo trabalhador, consciente de sua vocação
101
de povoadores daquelas imensidões que hoje formam o mapa cívico-
político e cultural do Estado Meridional do Brasil.
Francisco Pereira Rodrigues com 90 anos de idade tendo andejado
pelas veigas e pelas serras do Rio Grande sempre teve o coração ancorado
naquele grupo de casas, junto da igreja protegida por Santo Amaro, que
espera novo diploma político para a comuna tranqüila e promissora.
Igaçaba, 06/2003, n° 73, p. 8, Cultura e Braças Literárias, Dom Pedrito/
RS, 07/2003, p. 3.
Carlos Dante de Moraes
Transcorre no dia 27 de julho o centenário de nascimento do crítico
e literário ensaísta Carlos Dante de Moraes, nasceu em Santa Maria e
faleceu em Porto Alegre. Freqüentou o Colégio Anchieta e o Colégio Militar.
Bacharelou-se em 1927 pela Faculdade de Direito. Exerceu jornalismo em A
Federação e no Correio do Povo, funcionário da Secretaria do Interior do RS
e procurador do Estado. Foi um dos principais críticos literários ao lado do
primo Moysés Vellinho, nas décadas de 1930 a 1970. Os seus artigos
ilustram a revista Província de São Pedro. Além desses textos, publicou:
Viagens Interiores, Tristão de Ataíde e outros estudos, Fim Trágico de
Antero de Quental, Algumas Reflexões sobre Rimbaud, O povo rio-
grandense às vesperas de 35, Figuras e Ciclos da História rio-grandense,
Três faces da Poesia, Alguns Estudos e fragmento de autobiografia. Era um
eremita em seu gabinete de leitura, de estudos e de redação de seus
artigos, que apareciam no Correio do Povo, na Revista da Província de São
Pedro ou revista Estudos. Sua formação intelectual e artístico-literário tem
mito de sua leitura de autores franceses e alemães.
102
O seu drama interior é relatado no fragmento de autobiográfia, onde
triunfa a luz que jorra da Verdade do Verbo de Deus-Jesus Cristo, após dias
e anos de intensos sofrimentos. Em 1975, mestre Gulhermino César
escreveu: “Carlos Dante de Moraes, sem sair de Porto Alegre, de seu
gabinete de estudos, onde se encaramuja para mais isento registrar os sons
do grande mundo das paixões ainda vivas numa página amarelada; de sua
solidão ele estende os olhos para alcançar nos escritores seus amigos que
elegeu para o comércio diário-preocupação que mais o absorve: ser livre em
face da sociedade escrava das convenções, das utopias barbarizantes, das
leituras ideológicas, das ambições materiais, das artes desumanizadas”. A
leitura dos ensaios críticos de Carlos Dante é agradável e ilustrativa, os
escritores ou poetas estudados aparecem de face atraente e reveladoras de
seus valores estéticos e humanos. A sua crítica tanto na metodologia como
na profundidade se modela na crítica humanista e ontológica apregoada e
praticada pelo mestre Alceu Amoroso de Lima. Os jovens, colegas e amigos
de seus filhos freqüentavam o gabinete de Carlos Dante, transfigurava-se,
então, no educador incansável, sabia derramar seus conhecimentos nos
espíritos juvenis e sedentos de paz e amor.
Correio do Povo, 22/07/2002, p. 4, Opinião, O Estafeta, 24/07/2002,
Veranópolis/RS, p. 2, Opinião, A Platéia, 02/08/2002, Sant’ana do
Livramento/RS, p. 06, Opinião e O Mundo das Letras, 09/2002, p. 02.
Lobo da Costa: 150 anos.
A cidade de Pelotas, o Rio Grande e o Brasil preparam-se para
celebrar os 150 anos de nascimento de Francisco Lobo da Costa. Aquele vate
lírico-romântico que enfeitiçou os salões nos saraus de várias cidades do Sul.
103
A sua presença enaltecia uma festividade com a recitação de seus poemas
longos ou breves, sempre maravilhosos.
Desde a mocidade estive e estou muito ligado à Literatura, a leitura de
antologias me dá prazer. Ao chegar ao Colégio São Francisco, em Rio
Grande/RS, o pai de aluno meu, ao encontrar-me certo dia, me recitou o
poema de Francisco Lobo da Costa — VINGANÇA. Emprestou-me o senhor
Alcides Duarte o livro AURAS DO SUL. Foi a minha descoberta do vate. Anos
mais tarde em 1952 quando pensei o nome e o tema de tese de doutoramento
veio-me à mente Francisco Lobo da Costa. Com o meu caro e saudoso
orientador de tese Prof. Guilhermino César empreendi a investigação dos
textos do poeta em livros, jornais e revistas nas bibliotecas de Pelotas, de Rio
Grande e de Porto Alegre.
Estávamos às vésperas do centenário do nascimento do poeta.
Registravam-se belas conferências de Moysés Vellinho, de Mozart Vitor
Russomano e outros. Aos poucos a tese ia-se estruturando. Em novembro
aconteceu a defesa com banca de cinco examinadores: Guilhermino César
(orientador), Francisco da Silva Juruena, Moysés Vellinho, Silvio Elia
(PUCRJ) e Pedro Vergara. Após todos esses trabalhos e indagações era
DOUTOR em LETRAS. Foi minha maneira de celebrar o 1° Centenário de
nascimento de Francisco Lobo da Costa. Nas aulas de Língua ou de
Literatura na Universidade fui utilizando poemas do inspirado vate. Como
era interessante e belo ouvir recitação de versos do Lobo por gente do povo
tanto na Capital como no interior do Estado.
No Curso de Mestrado e Doutorado começaram aparecer teses e
dissertações sobre a obra lobatiana.
A colega Dulce Zimmermann ao realizar a dissertação de Mestrado
apresentou o estudo sobre a novela ESPINHOS d’ ALMA.
A Dra. Alice Therezinha Campos Moreira defendeu tese de doutoramento
em 1989 com a fixação do texto da OBRA POÉTICA de Lobo da Costa.
104
A tese mereceu ser publicada em parceria com FAPERGS, Instituto
Estadual do Livro e EDIPUCRS. É um excelente livro que está nas bibliotecas das
universidades desde 1991.
A fortuna crítica do poeta pelotense foi-se ampliando, ampliando
horizontes, afirmando-se como o grande romântico rio-grandense e brasileiro.
A Profª. Dra. Ângela Machado Treptow Sapper após longo estudo e
incansável investigação apresentava-se à argüição de sua tese em janeiro
de 2003, no dia 17, sob o título ficção em Dramaturgia e ficção em Lobo da
Costa edição crítica de textos. Vencedora é a propagandista por excelência
do pelotense ilustre.
A sobrevida do poeta vai-se alastrando através dos anos e das
existências sendo como dizia o latino Horácio: “Aere Perennius” (mais
duradouro que o bronze).
No dia 29 de junho de 2001, assumi a cadeira na Academia Sul - Brasileira
de Letras, em Pelotas, cujo patrono é Francisco Lobo da Costa. Pronunciei, na
época, entusiasta oração em que recordava e enaltecia a arte sedutora dos
poemas lobianos.
A poesia domina as palavras do grande vate de tão curta existência terrena
(1853-1888), e de intérmina sobrevida que vem atravessando século e meio para
se projetar no ocaso dos tempos ad aeternitatem.
Novo livro está-se preparando, novas e maravilhosas possibilidades de a
poesia chegar à admiração e ao curtir prodigioso do prazer estético.
Lobo da Costa mais conhecido e mais amado é uma festa para os
corações que amam a poesia, que exultam ao dedilhar as novas e ocultas
harmonias que estão adormecidas no imo de cada pessoa.
Com a edição da Obra de Lobo da Costa, marca imorredoura
do sesquicentenário do nascimento, Jandir João Zanottelli se perpetua
na galeria sublime de quem semeia poemas para colher felicidade,
alegria e AMOR.
105
Jornal O Mundo das Letras, 07/2003, p. 05. Academia Pelotense de Letras.
Lobo da Costa: sesqüincentenário
No dia 12 de julho celebraram-se, em Pelotas os 150 anos do
nascimento do maior poeta rio-grandense Francisco Lobo da Costa. Por
iniciativa da Academia Sul-Brasileira de Letras e da Universidade Católica
realizou-se magnífico Seminário de três dias. Seleto e numeroso público
freqüentou as sessões de conferências e debates. Na abertura da celebração o
Dr. Mozart Victor Russomano apresentou novidades sobre a vida e obra de
Lobo da Costa, acrescentando fatos relatados por ocasião do centenário em
1953. Ir, Elvo Clemente apresentou os estudiosos de Lobo da Costa: Alice TC.
Moreira e Ângela Treptow Sapper.
Aconteceu no 1° dia o lançamento do livro: LOBO DA COSTA — Obra
completa — organizada por Jandir Zanotelli e Ângela T. Sapper. As 100
primeiras páginas apresentam críticas e impressões sobre a obra de Lobo da
Costa, escritas por eminentes críticos e admiradores. Nas 500 páginas está a
Obra Poética com 345 páginas e restantes 158 com dramaturgia e ficção em prosa.
Depois de 115 anos do falecimento do poeta saem a prosa e os poemas
enfeixados em livro de 603 páginas, edição da Academia Sul-Brasileira de Letras,
assumida pela EDUCAT. Alice T. Campos Moreira apresentou análise e crítica da
obra poética, tema de tese de doutoramento. Ângela Treptow apresentou o seu
trabalho de tese sobre a prosa de Lobo da Costa. Foram ouvidos outrossim:
Valter Sobreiro, Manoel Magalhães, Adão Monquelat, Aldyr Schlee, Eduardo
Arriada, Beatriz Loner, Nelson Nobre e Gilnei Oleiro Corrêa.
Por que tantas celebrações em honra de Lobo da Costa? É o poeta
romântico por excelência cuja poesia atravessa os séculos XIX, XX e XXI.
Como é belo ouvir gente do povo recitar poemas curtos e longos do grande
andarengo que tanto escreveu em jornais e revistas em seus 35 anos de
106
existência. A grande lição do querido vate pelotense é de saber cantar as
alegrias, as tristezas, os dissabores e as aventuras da vida. Muitos poemas são
recitados nos gaipões na imensidão do pampa ou nas lonjuras do planalto. A
OBRA COMPLETA, livro de 600 páginas é fonte de estudos e de belos textos a
serem recitados em ocasiões festivas ou de luto. Lobo da Costa vive e revive
em cada geração com lirismo romântico que se aninha em cada coração que
sonha com a Esperança e com o Amor.
Correio do Povo, 5/08/2003, p. 4, Opinião.
10º Concurso Literário Mansueto Bernardi
A prefeitura de Veranópolis pela Secretaria de Educação lançou no
dia 09 de junho o 10° Concurso Literário Mansueto Bernardi.
É a clarinada do alto da serra que reboa nos vales do caudoso rio das
Antas, conclamando os poetas a dedilharem a lira do coração.
São dez anos em se ouvem os toques dos clarins, sempre encontram
eco no recôndito das pessoas que amam o belo nas letras, que amam a
cadência do poema, que amam a beleza que se pereniza e se lança no infinito
em busca da eterna beleza. O patrono, sempre lembrado, é Mansueto Bernardi,
aquele frágil emigrante de 1882, cedo largou as fraldas em que veio envolto da
cara Itália para a Roça Reiúna (Alfredo Chaves), Veranópolis.
A lição de vida de Mansueto com a esposa Idalina Mariante da Costa,
perdura não só pela presença física da Vila Bernardi, mas sobretudo pelas
lições de amor e de vida na Livraria do Globo, na emulação dos jovens
escritores como Erico Verissimo e muitos outros. Pelas mãos de Mansueto
Bernardi muitas vocações literárias encontraram caminho e ambiente onde viver
e justificar. Aí estão não só a Revista do Globo como também escritores da
107
década de 30 e 40 no Rio Grande do Sul. Hoje, no Concurso Literário, a estrela
de Mansueto Bernardi e a imagem de beleza de Idalina vão inspirar aos
adolescentes, aos jovens e aos adultos a realizarem o grande poema de sua
vida, luz de nosso porvir.
O Estafeta, 02/07/2003, p. 2, Opinião.
90 Anos nas Letras
No dia 23 de abril o escritor Francisco Pereira Rodrigues completa 90
anos de existência. Nasceu em 1913, em Santo Amaro. Cedo perambulou pelo
Rio Grande, de 1923 a 1925 foi aluno do colégio Santo Antonio (Garibaldi) que
lhe deixou saudades adolescentes. Realizou bacharelado em Direito,
alcançando por concurso o cargo de fiscal do ICM. Jovem brilhante de intensa
vida política, foi vereador em Itaqui, Taquari, Farroupilha e prefeito de General
Câmara que absorvera Santo Amaro. Dedicado esposo e solícito pai de família.
Enveredou desde cedo pelas trilhas das Letras sendo polimorfo
freqüentador da prosa e do verso. Os temas de sua ficção em contos e
romances, versam sobre a problemática social dos últimos 60 anos. Alguns
títulos lembram as lutas sangrentas de 1923: Sombras e Sangue; Terra
afogada, Marinheiros da Lama, Desumana solidão, Os degolados, Moinho
recorda a adolescência garibaldense e episódios da Revolução de Trinta. Os
poemas voltam-se para a campanha, recordam as planuras do Jacuí:
Quintilhas do meu Tear; Troteada. Nos versos na inspiração ombreava com o
saudoso mano Lauro Pereira Rodrigues. A vida política é lembrada em
Memórias de um Vereador.
Ultimamente Francisco P Rodrigues tem-se dedicado veementemente
no restabelecimento do foro municipal do atual Distrito de Santo Amaro. A força
política de Francisco Pereira Rodrigues jamais sossegou. No ano 2000,
108
inaugurou valiosa Casa de Cultura em Santo Amaro, a Academia Rio-
Grandense de Letras, esteve lá. Aos 90 anos o escritor, o político, continua
sendo aquele homem ativo, sempre disposto a novas iniciativas culturais. Os
embates e as durezas da existência fizeram-no amável e resistente, clarividente
e decisivo. As agremiações literárias a que pertence são para ele sua casa e
sua razão de ser cultural. Na presidência da Academia Rio-Grandense de
Letras, na sucessão do saudoso Dante de Laytano, empenhou-se e conseguiu
do governo do Rio Grande a sede da Academia. Notável coincidência, o dia 23
de abril é o Dia Internacional do Livro, lembrando os escritores falecidos nessa
data em anos diferentes: William Shakespeare e Miguel Cervantes. Para o Rio
Grande é a data do livro, celebrada em prosa e verso e pela vida laboriosa e
fecunda de Francisco Pereira Rodrigues exemplo de carinho pela história, e
lendas do Rio Grande nos 90 anos nas Letras e no afeto dos amigos.
Correio do Povo, 21/04/2003, p. 4, Opinião.
Quatro Centenários
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul celebrou no dia
5, o 83° aniversário com a comemoração do centenário de nascimento de
quatro sócios efetivos: Cardeal Vicente Scherer, José de Araújo Fabrício,
Manoelito de Ornellas e Darcy Azambuja. O prof. Luiz Alberto Cibils apresentou
o Cardeal Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre de 1947 a 1981. Criou o
Jornal do Dia que teve vida eficiente por 20 anos; notabilizou-se pela Voz do
Pastor Depois de resignar o mandato aos 75 anos, aceitou o cargo de Provedor
da Santa Casa. Desse ato heróico surgiu a salvação do grande complexo que
salvaguarda a saúde de tantas pessoas de todas as classes sociais. Nascido a
5 de fevereiro de 1903 faleceu no dia 8 de março de 1996.
109
O general José de Araújo Fabrício foi comemorado pelo Prof. Luiz
Alberto Cibils. Foram exaltadas as suas virtudes de militar devotado à vida
da Pátria, no ensino da juventude. Notabilizou-se em estudos e
investigações genealógicas. Mereceu por seu amor à história de famílias e
notáveis genealogias, ser membro efetivo e atuante da direção do IHGRS
por várias décadas.
O Prof. Dr. Miguel Frederico do Espírito Santo apresentou a vida e obra
de Darcy Azambuja, nascido na vila de Encruzilhada. No terceiro ano de
Faculdade apareceu com o livro No Galpão, livro premiado pela Academia
Brasileira de Letras. O jovem promissor na seara literária continuou a produzir
ficção com Coxilhas e Cidade Antiga. Notabilizou-se pelo livro TEORIA DO
ESTADO de que foi por dezenas de anos mestre nas faculdades e da Capital.
O professor Espírito Santo apresentou de maneira entusiasta e viva a
figura de Manoelito de Ornellas, nascido em 17 de fevereiro de 1903, em Itaqui.
Manoelito foi poeta, orador melodioso, professor, produziu Gaúchos e
Beduínos, Terra Xucra e Rodeio de Estrelas. As vidas centenárias passaram
em filme maravilhoso de valor, de poesia e de enaltecimento dos valores das
pessoas que deram força o vigor ao Instituto Histórico Geográfico. O presidente
Gervásio das Neves agradeceu envaidecido as brilhantes manifestações.
Correio do Povo, 2/09/2003, p. 4, Opinião.
110
Donde veio a PUCRS?
No dia 9 do corrente mês a PUCRS completa 54 anos de equiparação
universitária. Entre as universidades européias seria considerada pré-
adolescente, entre as coirmãs brasileiras é veterana. Nesta data recordam-se
as peripécias de uma fundação e de uma existência acadêmica. Em 1903, o
governo francês punha em prática a Lei Combes, que expulsava os religiosos
que não quisessem secularizar-se. Entre os milhares de banidos estava o
jovem Irmão Afonso (Charles Désiré Joseph Herbaux) com 16 anos. Entre
lágrimas deixaram a França para assegurar nos quadrantes do orbe a difusão
da fé católica e a cultura francesa.
Irmão Afonso, em 1904, ei-lo em Uruguaiana; de 1907 a 26, no
Colégio Santa Maria; em 1927 a 36 no Colégio Nossa Senhora do Rosário, à
Av. Independência. Em 1931, fundava, a pedido dos alunos, a Faculdade de
Ciências Políticas e Econômicas, a primeira no Sul do País. Em 1940, surgia
a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; em 1945, a Escola de Serviço
Social; em 1947, a Faculdade de Direito. Em 1948, no dia 9 de novembro o
Decreto presidencial criava a Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Em 1950, o Papa Pio XII conferia-lhe o título de Pontifícia. Nesta caminhada
salientaram-se as atividades dos Irmãos Afonso, Faustino, José Otão,
coadjuvados por brilhantes professores como: Eloy José da Rocha, Elpídio
Ferreira Paes, Salomão Pires Abrahão, Ivo Wolff, Manoel Parreira, Francisco
Juruena, Antonio César Alves, Balthazar Gama Barbosa, Elyseu Paglioli e
tantos outros cujos nomes estão no livro da vida e no coração de Deus.
A Universidade veiu de uma Lei iníqua que a Providência
transformou em benefícios imensos para a educação, a cultura e a ciência
de muitos países. Irmão Afonso obedeceu ao Espírito que o guiou. Mais
tarde o Espírito esteve com os Reitores: Armando Pereira da Câmara,
Alberto Etges, Irmão José Otão, Irmão Liberato e desde 1979, com o Irmão
112
Norberto Francisco Rauch. O Espírito conduziu os primeiros anos, o
translado para o Partenon, para a Cidade Universitária, maravilhosa nos
edifícios, nos jardins e na paisagem. O Espírito tem sempre novas alvoradas
alvissareiras, novas jornadas de ciência, de cultura e de fé, que preparam a
civilização do Amor.
Correio do Povo, 08/11/2002, p. 4, Opinião.
70 anos de Economia
Em 1930, Irmão Afonso escutou as vozes dos alunos do Curso Superior
de Comércio que pediam FACULDADE. Existiam Cursos de Comércio desde os
primeiros anos do século. Os Maristas chegados, em Bom Princípio, agosto de
1900, a partir de 1904 abriram cursos de Comércio em Santa Cruz do Sul,
Santa Maria, Garibaldi, Bom Princípio, Porto Alegre (Rosário). Foram os
verdadeiros pioneiros do ensino comercial no Sul do País. Em 1909, o
desembargador André da Rocha, criava a Escola Superior de Comércio na
Faculdade de Direito. O colégio Rosário sob a direção do Irmão Afonso ampliou
os estudos do Comércio passando a Curso Superior. Ainda não era curso
universitário. A turma de 1930 do Curso Superior de Comércio solicitou ao
Diretor, a criação da Faculdade. Durante 1930 foram feitos os preparativos junto
do Ministério de Educação. Autorizado o curso naquele ano, começou a
funcionar em março de 1931. Estava criada a primeira Faculdade Superior pois
a Escola Superior de Comércio correspondia ao Curso de Contabilidade de
nível médio. No dia 12 de março de 1931, iniciaram as aulas do Curso Superior
de Administração e Finanças, tomando em seu reconhecimento em 1933, pelo
Decreto n° 23.993 do presidente Getúlio Vargas, o nome de Faculdade de
Ciências Políticas e Econômicas, a pioneira no sul do Brasil.
113
A Faculdade teve os primeiros professores: Eloy José da Rocha (Diretor),
Félix Contreiras Rodrigues, Salomão Pires Abrahão, Elpídio Ferreira Paes, Breno
Pinto Ribeiro, José Pereira Coelho de Souza, além dos Irmãos Afonso, Estamislau
e Gabriel Victor.
A novel Faculdade foi singrando solitária quando, em 1940, surgiu a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a primeira do Sul, em 1945 e 46
seguiram-se as Faculdades de Serviço Social e Direito. Estava ali concretizada
em 9/11/1948, a Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
A faculdade pioneira, em 1998, com a reforma do estatuto, tomou o
nome de Administração, Contabilidade e Economia. No início de fevereiro,
começaram as obras do prédio 50, que terá 11 andares, destinado a
receber os alunos, mestres e pesquisadores, que, em 2001, celebrarão os
70 anos das Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas.
Correio do Povo, 25/02/2000, p. 4, Opinião.
60 Anos: Letras e Filosofia
No dia 26 de março de 1940, o salão nobre da centenária Faculdade
de Direito se engalanava para a sessão solene de inauguração da
Faculdade Católica de Filosofia, Ciências e Letras, pioneira no Sul do País.
O Prof. Armando Pereira da Camara, proferiu a aula inaugural sob o tema —
Filosofia e a Cultura Nacional. O Irmão Afonso, o idealizador e fundador
esteve presente, acompanhou a sessão emocionado. Colheu naquela hora
os primeiros frutos de sua semeadura: começavam a funcionar os Cursos de
Filosofia, Letras Clássicas, Neolatina e Anglo-germânicas, Geografia e
História e Ciências Sociais.
114
Daquela maravilhosa e profícua tarde surgiram as atuais faculdades
de Letras, de Filosofia e Ciências Humanas, com os respectivos cursos de
Doutorado e Mestrado. Dessa Faculdade, houve irradiação nos diversos
bispados com a colaboração do Irmão Faustino: Caxias do Sul, Pelotas,
Bagé, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Uruguaiana.
Nesses 60 anos, quantos professores formados partiram da Praça Dom
Sebastião, da Cidade Universitária do Partenon, a semear a ciência, a cultura e
a luz da fé em tantos corações e em tantas mentes juvenis do Rio Grande e do
Brasil! 60 anos depois contemplamos o milagre realizado pela centelha do
espírito iluminado do Irmão Afonso, secundado pelo espírito empreendedor
do Irmão José Otão e de tantos mestres como: Eloy José da Rocha, Elpídio
Ferreira Paes, Salomão Pires Abrahão, Manoel Coelho Parreira, Irmão
Roque, Irmão Dionísio Fuertes Alvarez, Ernani Fiori, Ivo Wolff, Francisco
Juruena, Antonio César Alves para mencionar alguns dessa plêiade
maravilhosa e devotada ao ensino e à ciência. Ao comemorar os 60 anos as
atuais Faculdades de Letras e de Filosofia e Ciências Humanas elevam um
grande hino de louvor a Deus por tanto bem realizado, por tantas vocações
que floresceram para que a Educação, a Ciência e a Cultura estejam no
nível atual, lançadas sempre para um futuro de melhores dias na
salvaguarda da infância e juventude para alçançarmos a verdadeira
civilização do amor.
Correio do Povo, 25/03/2000, p. 4, Opinião.
São 30 anos de História
No dia 28 de agosto celebrou-se o 30º aniversário da criação do
Programa de Pós-Graduação de História, na PUCRS. Houve comemoração
115
interna com o lançamento da Revista ESTUDOS IBERO-AMERICANOS em
edição especial. Naquele 1973 os programas de Pós-Graduação no Rio Grande
do Sul iam tomando feição mais séria. Com a presença do Prof. Gregório
Martin, do Luis-Lorenzo Rivero, o coordenador Prof. Irmão Elvo Clemente, com
Mons. Urbano Zilles, resolveram iniciar a caminhada do Mestrado em História
da Cultura em três lances: Brasileira, Portuguesa e Ibero-americana.
Com o andar dos estudos e pesquisas o curso chegou a ser
reconhecido como MESTRADO em História, passando a DOUTORADO. A
galeria dos coordenadores não é pequena nem sempre tranqüila. O
Programa se desenvolve num perfil próprio, com destaque: a formação
acadêmica internacional, a pluralidade temática de ensino de pesquisa, com
abordagem interdisciplinar.
A área de concentração é vasta e se expressa na História das
Sociedades Ibéricas e Americanas. As principais linhas de investigação:
Sociedade, Estado e relações internacionais, em liberalismo e Reação na
Península Ibérica e na Ibero-América; Sociedades, Práticas políticas e conflitos
na América Latina; Relações entre os países do Cone Sul e Política interna
brasileira. São seus coordenadores: Braz Augusto Aquino Brancato, Earle Diniz
Macarthy Moreira, Sandra Maria Lubisco Brancato e Helder Gordim da Silveira.
Este último coordena o setor de Meios de Comunicação de Massa na Política
externa do Brasil.
Outras linhas de investigação: Sociedade, Urbanização e Imigração
com os itens: Cidadania e Nacionalidade: Problemas de integração política de
alemães e descendentes no Rio Grande do Sul sob a coordenação de René
Ernaini Gertz; Urbanização, Estrutura Social e Mentalidade, sob a coordenação
de Núncia Santoro de Constantino; Porto Alegre, cidade, relações municipais,
história sob a coordenação de Margaret Marchiori Bakos; História das
mentalidades — o sagrado e o profano, coordenação de Moacyr Flores.
116
Outra linha de investigação é a Sociedade, Ciência e Arte com os
projetos sobre: a modernidade no Brasil e Países platinos sob a
coordenação de Maria Lúcia Bastos Kern; As fronteiras entre a tradição e
Modernidade, coordenação de Ruth M. Chittó Gauer; Cidades, Cultura
Urbana e Elites, coordenação de Charles Monteiro.
Outra linha de investigação denomina-se Sociedade, Cultura material e
povoamento: Projeto internacional de investigação interdisciplinar da Região
Platino Oriental, sob a coordenação de Arno Álvarez Kern; Arqueologia pré-
histórica no Sul do Brasil, coordenada Maria Cristina Santos.
Com os títulos das áreas e respectivas linhas de pesquisa pode-se
inferir como a abrangência do Curso de História é imensa.
Nenhuma atividade do ser humano é olvidada pelo investigador de
História, pois qualquer atividade humana é história, pode ser narrada e
investigada para orientação e guia das novas gerações. Procura pela
pluralidade dos temas a unidade da família humana.
Jornal do Comércio, 11/09/2003, p. 4, Opinião.
30 Anos de Geriatria e Gerontologia
A Faculdade de Medicina da PUCRS foi criada em março de 1970, em
seu currículo estava presente a GERIATRIA, primeira faculdade dar tal
destaque a essa disciplina sendo professor o Prof. PhD. Yukio Moriguchi. Com
visão ampla vislumbrou e viu claramente o futuro da vocação do médico para o
idoso. Celebrou-se no dia 13 de novembro os 30 anos da fundação do Instituto
de Geriatria que acrescentou mais amplitude com a Gerontologia. Após a missa
de ação de graças, começou o Seminário comemorativo que reuniu centenas e
centenas de ex-alunos do Instituto iniciado em 1973, no Reitorado do Irmão
117
José Otão e na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação do Prof. Dr. Ir. Elvo
Clemente. Além da disciplina na Graduação, começou o Curso de
Especialização em Geriatria com duração de 360h, além de horas de estágio e
de práticas geriátricas. Na abertura do Seminário o Prof. Dr. Yukio Moriguchi
forneceu dados importantes da vida do Instituto que passou da Especialização
para o Mestrado e para o Doutorado, funcionando numa ala do Hospital São
Lucas. Em 1999 o Instituto de Geriatria e Gerontologia teve da Organização
Mundial da Saúde o título de Centro de referência para prevenção das
patologias e doenças crônico-degenerativas associadas ao envelhecimento. Se
IGG está nesta situação grandiosa isso é devido primeiramente à Reitoria da
Universidade que autorizou espaço e outros benefícios.
Em segundo lugar deve-se relembrar e realçar os investimentos do
Governo do Japão através da JICA quer financeiros, quer doação de aparelhos
e máquinas sofisticadas, quer em bolsas para estudo e doutoramento de
dezenas de brasileiros e da vinda dc professores de várias universidades
japonesas que vieram ministrar cursos no Instituto de Geriatria.
Vejam-se alguns dados:
Nestes 30 anos o IGG recebeu a colaboração científica de 41
professores de várias universidades. Muitas investigações científicas têm sido
subvencionadas pelo Japão; O curso de treinamento para médicos especializou
146 médicos na América Latina e dos países de língua portuguesa; O Curso de
Especialização para alunos do Rio Grande do Sul especializou 630 geriatras;
foram 55 os residentes formados em Geriatria, no Programa de Pós-Graduação
até momento formaram-se 59 mestres e doutores. A presença de membros da
equipe do IGG em congressos e seminários nacionais e internacionais é
assídua e eficiente apresentando trabalhos e teses cujo número é de 428
trabalhos originais.
O governo japonês através do Consulado Geral e da JICA tem
proporcionado verbas importantes num total de cinco milhões de dólares. Há
118
projetos de pesquisa sobre geriatria e gerontologia que ultrapassam as
fronteiras do Brasil: Projeto Veranópolis e o Projeto Gravataí. No corrente ano
iniciou o projeto Glorinha.
Além do ensino, a pesquisa e a extensão o IGG é responsável pelo serviço
de internação de 10.228 pacientes e o ambulatório geriátrico já atendeu, até
outubro deste ano, 75.752 pacientes.
Paralelamente a esses trabalhos do IGG o Prof. Dr. Yukio Moriguchi
e sua equipe têm realizado trabalho pioneiro nas colônias japonesas na
região Sul do Estado, examinando seus hábitos de alimentação com os
imigrantes nipônicos.
O Instituto de Geriatria e Gerontologia tem hoje uma estrutura que serve
de referência nacional e internacional. Como é belo ver a Ciência, a Técnica e a
Medicina praticadas por profissionais abalizados em tornar a vida dos idosos mais
apreciada e digna e mais humana, conforme os desígnios de Deus.
Jornal do Comércio, 26/11/2003, p. 4, Opinião.
Mestre e Magistrado
No dia 29 de abril faleceu o Ministro, professor Eloy José da Rocha, aos
91 anos. A sua vida perpassou o século, as suas atividades abrangeram
Universidades e tribunais de justiça. Em 1931, era companheiro do Irmão
Afonso e de Elpídio Ferreira Paes na fundação da primeira Faculdade de
Ciências Econômicas do Sul, sendo seu diretor de 1933 a 38. Em 1939
colaborou na estruturação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
novamente a pioneira do Sul, sendo seu diretor de 1939 a 1946. Além do Irmão
Afonso estavam presentes Irmão Faustino e Irmão José Otão. Em 1947 ajudou
a fundar a Faculdade Católica de Direito, culminando em 1948 com a formação
119
da Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Eloy seguiu sempre os
ensinamentos do Irmão Weibert e do Irmão Afonso, sendo sempre um homem
de bem, nas funções de professor, de diretor, de juiz, de ministro do Superior
Tribunal de Federal, de que foi presidente.
Eloy José da Rocha na simplicidade e na operosidade foi modelo de
chefe de família, de cidadão e de magistrado.
Pouca gente relembra-lhe o nome pois passou os últimos dez anos no
retiro de seu apartamento, privando com os familiares, com os amigos mais
íntimos e com os livros inesquecíveis. Professor de Direito do Trabalho, soube
com Alberto Pasqualini dar uma orientação séria e profunda às Teorias e aos
princípios do Direito. Formou a equipe que prosseguiu a missão com Carlos
Alberto Barata da Silva e colegas de jornada na UFRGS e na PUCRS, traçando
as diretrizes amplas e cristãs.
O exemplo e a obra construtiva e perene do homem de bem - Eloy José
da Rocha - permanecem e prosseguirão entre mestres e discípulos, nas
gerações vindouras. A inestimável colaboração dada à fundação e à estrutura
da PUCRS, desde o berço, em 1931, prosseguiu e prosseguirá perene na
maravilhosa biblioteca, que os filhos, cumprindo o desejo do ministro Eloy José
da Rocha, acabam de incorporar à Biblioteca Central Irmão José Otão.
Correio do Povo, 11/06/1999, p. 4, Opinião.
Celso Pedro Luft
No dia 28 de maio, Celso Pedro Luft, se vivo fosse completaria 80 anos
de profícua existência. Desde jovem dedicou-se aos estudos e, em especial, à
Língua Portuguesa. Éramos colegas. Tivemos um professor muito dedicado:
Irmão Vendelino, exímio mestre da leitura e da redação. Era admirável vê-lo
corrigir as composições; não perdoava erro de sintaxe ou de morfologia.
120
Em 1940, no início do Curso de Letras Clássicas, Celso Pedro foi aluno
da primeira turma. As aulas de Português, densas de exercícios e metódicas na
execução. Em 1963 deixou a vida marista para abraçar o matrimônio, sendo
esposo de Lya Fett. Em sua vida de magistério no Rosário, na PUCRS e na
UFRGS, foi o abnegado professor, exemplar de rara sabedoria filológica e
lingüística. Em 1954/55 esteve na Universidade de Coimbra, onde se
aprofundou e se especializou na Filologia Portuguesa com o mestre Manoel
Paiva Boléo. Celso Pedro estudioso incansável, enriquecia a biblioteca para
ampliar os horizontes de suas aulas. Aos poucos iam brotando as flores e os
frutos de seus estudos e meditações. Em 1954, aparecia Guia Ortográfico; em
1958 editava pelo I.E.L. o livro de poemas: Arcos da Solidão, denso de poesia e
de música interior. Em 1960, surgia Gramática resumida, acompanhada em
1967 pelo Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira. Outros escritos mais
práticos enriqueceram a estante dos estudiosos: Textos e Testes e Moderna
Gramática Portuguesa, 1976. Em 1985 publicava o “Mundo das palavras”
durante vários anos era coluna procurada e anotada do Correio do Povo. Em
1982, contava com 4.000 artigos publicados.
Espírito sensível, alma amorosa, tudo em sua vida era marcado pela
sensibilidade e pelo afeto. As letras da Província não fizeram justiça ao valor de
Celso Pedro Luft como professor universitário, como exegeta da língua, como
gramático ponderado e justo na interpretação de dúvidas da sintaxe, da
morfologia, do léxico e da ortografia. Ao celebrar a lembrança de seus 80 anos,
recordo-o como amigo sincero, como colega competentíssimo, como mestre
insuperável da nossa amada Língua Portuguesa. Em tudo havia a harmonia da
lógica e do afeto. Sabia amar as pessoas e a Língua Portuguesa instrumento da
Fé, da Verdade, da Esperança e do Amor.
Correio do Povo, 05/07/2001, p. 4, Opinião.
121
Centenário do Mestre de gerações
Elpídio Ferreira Paes nasceu na Palmeira, no dia 24 de fevereiro de 1902.
Em 1910, o major Pedro Pelágio foi transferido para a Capital. O jovem freqüentou
os Cursos Preparatórios, dirigidos pelo Irmão Weibert, no Colégio Rosário. Anos
depois era bacharel em Direito. Advogou em Taquara, onde encontrou a jovem
Isolda Holmer, que lhe foi esposa até a sua morte aos 12 de fevereiro de 1972.
Elpídio sentiu-se atraído pelo ensino: o curso pré-jurídico do Rosário conheceu o
professor de Português, de Literatura e de Latim. Em 1931 Irmão Afonso, mente
iluminada, resolveu atender o pedido dos alunos do Curso Superior de Comércio e
fundou a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, a primeira no Sul do
Brasil. Junto a Eloy José da Rocha estava Elpídio; com Irmão Afonso os três
fizeram Collegium. Elpídio era secretário e professor de Direito. Em 1939, projetou-
se a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, começou a funcionar em 26 de
março de 1940. Elpídio estava lá na organização e como professor de Latim e
Literatura Latina. Em 1941, iniciaram os trabalhos para estruturar a Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado, Elpídio era um dos
incentivadores, também professor. Abriu concurso para Direito Romano na
Faculdade de Direito, Elpídio se inscreveu e venceu com brilhantismo o
concorrente, pessoa de alto saber humanístico e jurídico. Eis o professor Elpídio
com aulas nas Faculdades de Filosofia e Direito. Em 1946, preparava-se a
Faculdade Católica de Direito, Elpídio sempre presente prestando seu nome, sua
habilidade e seu saber para a novel Faculdade, inaugurada em 1947. Professor de
quatro Faculdades, mestre eficiente e estudioso das novas conquistas nas letras e
nas investigações do Direito Romano. No fim da década de 1950 Elpídio foi-se
aposentando das aulas da PUCRS como já se havia retirado da Faculdade de
Economia, em 1940. Ajudou na criação do Colégio de Aplicação com a Isolda e
Graciema Pacheco. Atendia os alunos com o sabor agridoce da ironia sempre
cordial. É o mestre de gerações em seu centenário.
122
Jornal Igaçaba, 03/2002, Roque Gonzales/RS, p. 4, Cultura, A
Platéia, 27/02/2002, Sant’ana do Livramento/RS e Correio do Povo,
23/02/2002, p.4, Opinião.
Professores eméritos
É bela a etimologia de emérito. Provém do verbo e-merére. Na antiga
Roma o soldado emérito era aquele que deixava de servir no exército,
mantinha, porém a dignidade e as condecorações. Professor emérito é o
docente que deu sua vida, sua dedicação, sua cultura, sua ciência aos alunos e
agora deixa a cátedra para colher o reconhecimento de sua Escola, de seus
colegas e de seus alunos, nova lição de vida.
No dia 25 de novembro 11 professores da PUCRS receberão o diploma de
Professor Emérito — na Faculdade de Letras: Adda Nari Menezes Alves e Maria
Zita Englert; na Faculdade de Direito: Carlos Alberto Allgayer (post-mortem),José
Sperb Sanseverino e Paulo Claudio Tovo; Faculdade de Biociências: Milton
Menegotto; Faculdade de Medicina: Eduardo Beck Paglioli, José João Menezes
Martins, José Torquato Severo, Manuel Adolpho May Pereira e Oscar Belmiro. Bela
galeria de nomes e mais que nomes de méritos. Cada um merece um vasto e
eloqüente artigo de jornal, de fulgurante programa de televisão, de infinitos
aplausos de tantas gerações que conquistaram saber e habilidade profissional na
água cristalina das lições dos mestres eméritos.
Olhando para os diversos centros onde atuaram os mestres notam-se a
diversidade de conhecimentos e a variedade de métodos e de práticas
convergindo para um grande ideal: formação integral do profissional de Letras,
de Direito, de Biologia e da Medicina. Os 11 eméritos brilham na galeria das
pessoas que construíram a PUCRS nos últimos trinta anos. A grande lição que
os mestres eméritos ensinam é a mesma que o MESTRE deixou no Evangelho
123
— “Não vim para ser servido, vim para servir”. Eis a grande lição de altruísmo,
do semeador da boa semente, que se preocupa em dar, sem esperar retorno
das benesses de suas mãos. Ensinaram a manter a vida com saúde e
dignidade; ensinaram a prática das leis no respeito do outro; mostraram o
caminho da comunicação pelas línguas começando pela língua materna e
alargando horizontes pelo inglês e pelo espanhol. Os professores eméritos
recebem esta uníssona e grande saudação, o grande agradecimento numa
cascata de louvores que começa na caudal do tempo e se lança além dos
umbrais da eternidade, onde os sábios eméritos brilharão como estrelas.
Correio do Povo, 18/11/2002, p. 4, Opinião.
Vinte e cinco anos depois
Naquele 1978 houve dias festivos e horas de luto. No dia 28 de março
faleceu o Prof. Manoel Coelho Parreira, filiado ao Instituto dos Irmãos
Maristas, Vice-Reitor da PUCRS por seis anos, dedicado professor catedrático
de Mineralogia na UFRGS e no Curso de História Natural, Diretor da Viação
Férrea do Rio Grande do Sul. No dia 2 de maio concluiu sua viagem terrestre
o lrmão José Otão, Reitor desde o dia 8 de dezembro de 1954. A
Universidade no Partenon já cobria vasta gleba de um de outro lado do riacho
Dilúvio. O Hospital São Lucas fora inaugurado no dia 29 de outubro de 1976.
A Cidade Universitária fora inaugurada no dia 16 de setembro de 1968. A obra
sonhada pelo Irmão Afonso e conduzida por nobres e devotados
colaboradores: Elpídio Ferreira Paes, Eloy José da Rocha, Francisco
Juruena, Manoel Parreira, Ivo Wolff e outros recebera a consagração pela
vida heróica do Irmão José Otão. A Universidade estava realizada dentro
dos ideais da década de 1970. O ano de 78 teve o operoso esforço do
124
saudoso Irmão Liberato. O Irmão Norberto Francisco Rauch foi nomeado
Reitor pelo Cardeal Vicente Scherer no dia 28 de dezembro.
O ano de 1979 abria suas portas para novos labores, para novos
obreiros, para novos desafios. Novos edifícios foram surgindo linhas atrevidas
romperam a arquitetura anterior. Seguiram-se: Prédio 12, o Prédio 40,
dedicado à Extensão Universitária com o magnífico Museu de Ciências e
Tecnologia, único na América Latina. Convênios culturais com a Universidade
de Tubinga criaram novas oportunidades no PRO-MATA. O ano de 1998 viu a
inauguração do MCT, do prédio de eventos. A urbanização concluída em 1999
transformou o campus em múltiplos jardins. O campus de Uruguaiana
modernizou-se em âmbito de estudos e pesquisa.
Vinte e cinco anos depois, encontramos a PUCRS entre as principais
universidades da América Latina ombreando com as academias americanas e
européias. O Hospital São Lucas é ponto de referência. Vinte cinco anos
depois 30 mil alunos freqüentam as escolas em vários pontos do Rio Grande
em busca da VERDADE plena. Vinte e cinco anos recordam o passado,
energia para o Futuro sereno e alvissareiro.
Correio do Povo, 02/05/2003, p. 4, Opinião.
Egito Antigo
Realizou-se, sábado, dia 29 de junho a 8ª Jornada de Estudos do
Oriente Antigo, promoção do Curso de História da PUCRS. A Jornada teve
pleno êxito com a presença de várias centenas de professores, procedentes
dos Estados do Sul. A coordenação esteve com as professoras Margaret
Marchiori Bakos e Cláudia Musa Fay que conduziram galhardamente a Jornada
focalizando O EGITO na História.
125
O Prof. Ciro Flamarion Cardoso realizou duas brilhantes palestras, o
Irmão Elvo Clemente abriu os trabalhos com o texto sobre Egito Antigo.
Congratulo-me com a equipe organizadora deste evento pelo temário
escolhido e proposto à consideração desta ilustre platéia — Egito Antigo. A
história da humanidade está intimamente ligada ao Egito. A sua posição
geográfica, entre o berço e a expansão da raça humana, os acontecimentos
históricos passam pelo Cairo, navegam pelo rio Nilo e se expandem pelo porto
de Alexandria. As civilizações, as culturas têm seu nascedouro ou sua
incubadora junto das pirâmides. Por que o “Povo de Deus”, que teve sua manhã
nativa em UR na Caldéia, teve sua infância e juventude nas terras de Canaã;
teve de alcançar a maturidade junto das planícies do Egito para depois retornar
à Palestina, após os acontecimentos do Sinai e da peregrinação dos 40 anos
bíblicos, pelos desertos, até chegar à Terra prometida. O Egito está sempre
presente. Tema da 8ª Jornada de Estudos do Oriente Antigo, vão resplandecer
as conferências do Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso com o seu conhecimento e
experiências do país das pirâmides, dos areais e das terras férteis que tantas
vezes saciaram a fome do mundo e que hoje vai minguando faminto de
alimento e de verdadeira paz.
Jesus Cristo teve a sua experiência salvadora no Egito. Nas terras do
exílio em que andaram os filhos de Israel, andou o Filho de Deus, ali aprendeu
a falar a língua de seus pais, ali conviveu escutando a fala dos adultos e
crianças dos vizinhos egípcios. De lá voltou adolescente para Nazaré e assim
respondeu à visão dos profetas — será chamado Nazareno.
Nos conflitos, nas horas de paz, o Egito Antigo, medieval, moderno
e atual, está sempre presente. No dealbar do século XIX, aí estavam as
pirâmides atentas às palavras de Napoleão, que apelou pelos 40 séculos,
para que sua façanha durasse duas décadas apenas...
Egito antigo vai-nos entreter nesta Oitava Jornada de estudos, de
investigações e descobertas na contemplação das Pirâmides que se erguem
126
mudas reverenciando os séculos e interrogando o futuro que brilha nas
águas barrentas ou diáfanas do misterioso e prodigioso Rio Nilo que espelha
as sombras fugazes dos milênios.
A Platéia, 07/07/2002, Santana do Livramento/RS, p. 6, Opinião.
Editoras Universitárias
Quem disse que a Universidade precisa de editora? A vocação da
universidade é produzir saber ou ciência, descobrir a verdade em todos os
seres e de todos os seres. Bolonha (Itália) viu o nascimento do primeiro
centro de altos estudos em 1088. Alunos e mestres de todos os pontos da
Europa se reuniram para estudar, para aprofundar questões filosóficas e
jurídicas. Era a verdadeira Alma Mater. Lá estudaram grandes cientistas,
filósofos, literatos como Dante, Petrarca, Copérnico, Erasmo de Roterdam,
Carducci e tantos outros.
As aulas se traduziam em manuscritos, havia a profissão de copista,
havia o lente (legente) (que lia o texto na aula magna). Já havia o divulgador dos
textos, que em Coimbra séculos depois em 1308, tomavam o nome de sebentas.
Com Gutenberg se processaram os incunábulos, depois os livros. Para a época
moderna apareceram outras modalidades de comunicação ou de levar além o
produto da pesquisa ou do saber. O livro, porém, mantém sua hegemonia, com
apresentações variadas mas sempre mantendo a essência de livro. As
universidades brasileiras também viveram seus anos de sebentas ou de textos
policopiados, nas últimas décadas xerocados, etc. O que sempre valeu foi o texto
impresso em forma de livro seja anuário ou atas de algum evento.
Em 1931, iniciou o surgimento da escola superior católica de Ciências
Econômicas em Porto Alegre, na Avenida Independência. Logo surgiu o Anuário
127
que se repete há 72 anos. Nos começos era feito em gráficas particulares, a
partir de 1956 tanto a Revista VERITAS como o Anuário e os Anais eram
processados no Editorial da Universidade. Várias dezenas de obras foram
editadas sob essa égide. A partir de 1988 o Reitor Irmão Norberto Francisco
Rauch resolveu criar a EDITORA, termo atualizado com programação definida.
Nestes 15 anos se publicaram mais de 833 títulos de obras sem contar a edição
das 16 revistas especializadas.
As coleções são especialidade da EDIPUCRS, a melhor coleção é de
Filosofia com 190 títulos. Dessa maneira o saber conquistado nas investigações
é levado para longe para leitores de todo o Brasil e do mundo. A vocação da
editora complementa a vocação da Universidade expandir a VERDADE.
Correio do Povo, 07/11/2003, p. 4, Opinião.
Editora Universitária
A Universidade, alma mater do saber, desde o século X, em que
surgiram os primeiros cursos em Bolonha (Itália), foi e é a criadora de livros.
Antes do século XV estavam em voga os pergaminhos, os papiros. Depois de
Gutenberg os escritos impressos em papel. Na Europa e no Brasil as
universidades ilustraram-se na edição de textos, frutos de investigação e de
elaboração dos mestres. As arcadas de São Paulo e de Recife madrugaram no
Brasil com as edições de livros. Hodiernamente as Universidades do Rio, de
São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre tomaram a iniciativa de inaugurarem
editoras. A PUCRS desde os começos manteve o Editorial que em 1988 tomou
o nome de EDIPUCRS. Centenas de livros foram publicados naquele período,
com duas revistas e o anúario. Nesta última década sob a coordenação do
conselho editorial, presidido pelo Prof. Dr, Urbano Zilles e a direção do Prof.
128
Antoninho Muza Naime, a Editora teve notável desenvolvimento. O ano de 1989
teve 12 publicações, em novembro do corrente ano chegou a 83 títulos, além de
editar 20 revistas com várias periodicidades. É notável essa produção de obras
científicas, literárias, históricas e sobretudo filosóficas.
As coleções são a força propulsora das edições dentre elas destacam-se:
FILOSOFIA com 104 títulos; HISTÓRIA com 28 títulos; TEOLOGIA com 18 títulos;
LITERATURA com 25 títulos; EDUCAÇÃO com 20 títulos; CADERNOS com 13
títulos diferenciados. Além da publicação de livros, a EDIPUCRS edita periódicos :
Jornal Mundo Jovem, Análise, Biociências, Estudos Ibero-americanos,
Odontociência, Psico, Letras de Hoje, Teocomunicação, Veritas, Educação, Revista
da FAMECOS, Comunicação do Museu de Ciências e Tecnologia, Brasil/Brazil, Acta
Médica, Revista de Medicina e Direito e Justiça.
A Universidade cumpre a sua vocação originária: ser lugar rico de formação
e humanitas, ao serviço da qualidade de vida, seguindo a verdade integral do homem
no seu caminho na história. É cultura do homem e para o homem, que se difunde e
se robustece nos diversos campos do saber, nas modalidades e formas de costume,
no ordenamento correto e harmônico da sociedade (Fides et Ratio). Castro Alves
declamava: “Espalhai livros à mão cheia. Mandai o povo pensar!”...
Correio do Povo, 10/12/1999, p. 4, Opinião.
Que universidade é esta?
Hoje, muito se escreve e muito se discute sobre a universidade. Na
maioria das vezes, porém, fica-se na periferia da problemática, teme-se entrar
no âmago da questão. Por isso vamos à definição de universidade, oferecida
pelo professor Basílio Rueda Guzmán, educador e superior marista por 16
129
anos, falecido em janeiro de 1997 no México: “Universidade é um espírito que
cria o pensamento e o capacita à ação científica universal” (2/5/1973).
Este espírito se apresenta em três dimensões:
1. Pensamento puro ou a vida do pensamento, que vive e se
desenvolve faz sua trajetória em si e para si. É aquela atividade silenciosa,
profunda, dos pensadores, dos inventores, dos poetas, dos profetas, que desde
as eras mais remotas vem alimentando as gerações até o surgimento dos
primeiros núcleos de estudos — universitas studiorum. Aqui menciona-se
Bolonha, que, em 1088, organizou o primeiro centro universitário, impulsionado
pelo espírito renovador que surgia dos mosteiros.
2. A universidade é um espírito que cria pensamento para educar os
que acreditam nela e nela ingressam. E o sentido mais profundo da
universidade, como alma mater (mãe como nutriz). Cada jovem universitário é
uma vida que se abre, é um processo que se inicia, é uma pessoa que se
aventura e se entrega à vida de um modo completamente distinto daquele em
que chegou. Daí decorre a grande responsabilidade da instituição, dos diretores
e mestres dessas jovens existências.
3. A universidade tem a vida para si mesma, mas também para a
sociedade, para o país, como educadora, como emissora de mensagem. A
universidade se abre e se insere numa sociedade como uma vida criadora de
pensamento que se difunde entre as pessoas de seu tempo e de seu âmbito. A
universidade seria uma espécie de consciência crítica da sociedade, do Estado,
do país e do mundo.
A grande vocação da universidade é a formação de líderes, de
profissionais do pensamento, das artes, das ciências, das tecnologias, capazes de
indicar novos rumos para o bem de cada pessoa, de cada grupo e de cada país.
Que universidade é esta que cada leitor, que cada pessoa tem diante
dos olhos ou diante de seu pensamento? Desde a década de 1930, a
130
universidade brasileira vem-se desenvolvendo, abrindo espaços, criando
pensamentos, formando profissionais...
Como está reagindo a universidade diante dos novos desafios, das
crises, das incertezas e das mutações freqüentes da atualidade? Os dirigentes da
universidade pensam realmente formar pessoas, profissionais nas dimensões
humanas, sociais, religiosas e cívicas? Vive-se a universidade que não evoluiu
muito do modelo napoleônico presente até pouco tempo, passando, no Brasil, por
duas ditaduras que durante mais de três décadas ditavam o processo
administrativo-pedagógico da instituição superior. Habituou dirigentes e
funcionários a receberem tudo pronto para ser executado. Com a
democratização, a nova Lei de Diretrizes derrubou barreiras e obstáculos, e os
responsáveis pela redação do estatuto, pela estruturação dos regulamentos,
parecem ter medo de usar a liberdade ou a autonomia que lhes é conferida.
Vivem-se, então, problemas cujas soluções dependem do espírito da
universidade, desse espírito que cria ciência e saber, que abre portas e leva o
aluno a pensar e a sentir-se em seu ambiente de estudo, de pesquisa e de
valorização pessoal. Não se nota o engessamento de currículos ultrapassados,
de pré-requisitos regulamentados mais pela desídia do professor do que pelo
espírito de facilitar novos caminhos, novos avanços ou salvar novas vocações de
lideranças jovens.
Que o espírito divino que ilumina as mentes e esclarece os corações dê
força para que a universidade que está aí seja renovada e atenta ao espírito e à
aventura salvífica dos jovens em formação.
Zero Hora, 05/10/1999, p. 25, Opinião.
131
Universidade: Novos caminhos?
Fala-se tanto em mudanças, em novos caminhos para a indústria, para
o comércio, e a Universidade como fica? O espírito que moveu os fundadores,
os basiladores de sua estrutura parou, tornou-se inativo? O espírito de uma
instituição nunca está parado, nunca esmorece, poderá lamentavelmente,
ausentar-se. Desde a implantação da primeira Universidade em Bolonha em
1088 até o presente, o espírito de investigação da Verdade, do Bem e do Belo
teve e tem sua vida em muitos corações. Aqueles homens irrequietos desde os
bosques de Academo, na antiga Hélade, vêm passando gerações, séculos,
milênios, até nós com o facho da inquietação em busca da Verdade na
natureza, nos seres humanos, nas sociedades, nos remos mineral, animal e
vegetal. O espírito não sossega enquanto não descobrir a Verdade física,
natural, espiritual, transcendente. Como escrevia e exclamava a grande
inteligência do século V, Agostinho de Hipona: “O nosso espírito, nosso coração
não tem paz enquanto não descansar em Deus, a plenitude da VERDADE.”
O coração humano é insaciável peregrino em busca do Santo Graal
das Ciências, das Artes, da Tecnologia e da Ética.
Cada centro universitário tem sua alma, seu modo de ser, de
estruturarse, de abrir-se para novos horizontes. Em todos os centros, em
todas as unidades acadêmicas e em todas as disciplinas há o despertar da
curiosidade, dos porquês.
Fato importante na história da Universidade no Brasil é que tudo foi
sempre determinado por ordem superior, por ação do Governo surgiram as
Faculdades de Direito de Recife — Olinda e de São Paulo, as faculdades
de Medicina do Rio e Salvador e outras. Em Porto Alegre, houve bela e
importante iniciativa excepcional de intelectuais que entenderam o valor do
ensino superior em Medicina, Direito, Engenharia, Farmácia e outras
faculdades. A legislação, porém, foi comandando o crescimento, a
132
estruturação das Universidades a partir do Estado Novo com o ministro
Campos, em 1934. Depois vieram outras etapas de governos totalitários:
nas escolas superiores tudo era feito sob a batuta do CNE ou dos ministros
de Educação. As administrações das Universidades federais, estaduais ou
particulares deviam pautar-se de acordo com as Leis e Diretrizes da
Educação ou com os decretos. A administração tida como excelente era
aquela mais obediente e submissa à legislação. Dessa forma o espírito
científico foi controlado, às vezes, embotado. Os administradores reitores,
diretores ou coordenadores de departamentos olhavam mais para o
cumprimento do mandamento legal do que para o espírito de iniciativa dos
docentes, dos reclamos das Comunidades docente e discente e da
Sociedade. Assim é que a estrutura Universitária se tornou lerda e pesada,
os currículos engessados, as disciplinas repetidas ao sabor da boa vontade
de professores.
No dia 24 de setembro de 1998, Roberto Macedo escrevia em O Estado
de São Paulo, o artigo — A inflexibilidade dos cursos superiores, em que
ressalta a assertiva: É preciso que as Universidades e faculdades vençam a
acomodação e as resistências.
Diante de uma iniciativa surgida de um grupo de professores ou de
alunos ou de setor social, a primeira preocupação é ver a posição legal, em
vez de auscultar a necessidade e importância do que foi apresentado.
É preciso que as lideranças Universitárias sejam atentas às vozes do
espírito que clama por mudanças em prol da Ciência, da arte e da tecnologia
para o bem da sociedade em todos os seus escalões, para que se consiga a
verdadeira civilização do AMOR, no dizer do Papa Paulo VI.
Zero Hora, 22/02/2000, p. 17, Opinião.
133
Universidade em mudança
Sopram ventos fortes sobre as estruturas da Universidade exigindo
mudanças urgentes. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aponta
para a liberdade e autonomia universitárias. Acontece, porém, que surgem ou
proliferam cursos superiores com a mesma estrutura dos cursos que têm 70 ou
30 anos de funcionamento. Teme-se tomar iniciativas de mudança pois o
verdadeiro espírito que ilumina as mentes docentes e administrativos se
pergunta: O que o MEC pensa disso? O que o Conselho Nacional de Educação
vai aceitar? Essas interrogações eram válidas nos temidos anos da ditadura.
Hoje, graças a Deus, e à nova Lei, está livre o espírito de iniciativa. Administrar
uma Faculdade ou um Departamento é muito mais fácil quando se pensa
simplesmente no que a legislação orienta ou obriga. Nesse caso onde está o
espírito universitário? Onde está a vocação do curso superior que deve atender
aos reclamos profundos dos alunos e das empresas?
Deve-se atender mais o clamor, a necessidade de formação do aluno
ou simplesmente reger-se pelo estatuto legal? Ser professor universitário, não é
simplesmente ministrar aulas tecnicamente boas ou realizar pesquisas úteis
para si ou para a ciência ou tecnologia em geral. É preciso ser pessoa de
espírito aberto, inquieto, preocupado pela boa formação do aluno para que seja
um cidadão consciente de seu dever de patriota dentro de um país em
mudanças vertiginosas. Quem é que pode dar garantia que determinado
currículo é o melhor na formação da pessoa que a sociedade e o país precisam
em suas tarefas de renovação, de melhoria social, de melhor atendimento às
necessidades locais, regionais e nacionais?
O Estado de São Paulo, de 9 de julho, traz ampla reportagem sobre a
alteração de estrutura de ensino da Harvard University. Um dos professores
caracterizou as mudanças com estas palavras: “Uma corrida infernal para se
manter em dia”. Em 1995, reconheceu o prof. Clark: “Estávamos bem atrasados
134
no caminho”. Naquela data não se usava o e-mail entre a Universidade e os
alunos. Finalmente o espírito assoprou nas inteligências e surgiram as reformas
de currículos. A alteração mais significativa foi a mudança da exigência do
estudo de Administração Geral para Administração Empresarial durante o
primeiro ano do curso.
A alteração do currículo foi uma medida mais complicada, explica David
Leonhard do The New York Times, e de alcance profundo. Até meados da
década de 80, a escola só oferecia um ou dois cursos de Empreendimentos;
muitos docentes achavam que o tema não merecia estudo detalhado. As
medidas tecnológicas dos últimos 20 anos obrigaram os professores a
repensarem os currículos e atenderem os reclamos dos alunos. O
Departamento de Empreendimentos atualmente oferece cerca de 18 cursos,
ministrados por 28 professores, que são acadêmicos veteranos ou
administradores de grandes empresas.
É preciso que o espírito de mudança agite as cabeças dos
administradores, coordenadores e docentes de Cursos superiores e assim
promovam substanciais e eficientes câmbios nos currículos, nos programas
e nas disciplinas e nos famosos pré-requisitos.
A Universidade é um corpo vivo movido por um espírito
irrequieto e inquiridor.
Um grupo de reflexão, formado por professores dos diversos ramos de
ensino, deve agir e discutir diuturnamente, auscultando a opinião de empresa, de
setores de educação e cultura do Estado e do País.
A USP em 1999 resolveu fazer um vestibular único para os 26
cursos de Engenharia! Por que para cada curso, para cada turno de aulas
há um vestibular em algumas Universidades? As barreiras de currículos, de
pré-requisitos, de vestibulares setorizados facilitam as administrações mas
prejudicam o aluno. O Curso deve atender a administração ou o aluno? É
bom quando serve ambos.
135
Colocando-se a boa formação do aluno em primeiro lugar
acontecerão quedas de barreiras de um curso para outro e de pré-requisitos.
É preciso flexibilizar a vida acadêmica, ora para que servem tantos
programas de computadores?
Sentindo o pulsar forte do progresso tecnológico, deve-se melhorar a
vida do atendimento ao aluno. Do espírito de compreensão para as mudanças
que se impõem pelo bom senso, surgirão medidas aptas a formar as novas
gerações na verdadeira civilização do Amor, como requeria Paulo VI.
Zero Hora, 28/07/2000, p. 21, Opinião.
Para onde vai a Educação?
Passamos os últimos anos em discussões de métodos, de resultados de
provões, de conseqüência de avaliações... Nova Lei de Diretrizes e Bases aponta
para mais liberdade, mais iniciativas de pessoas e de instituições, parece que
estamos marcando passo. O número de professores com o título de doutor e de
mestre tem crescido aritmeticamente. E o ensino de graduação não demostra
melhoras. Aumentou o número de estudantes nos cursos superiores. Cresceu o
número de faculdades e de universidades surgidas às vezes de maneira
atabalhoada. Sempre os números e a qualidade tão falada pouco aparece. Quem
é que está realmente pensando a educação ou o ensino no país? A família tem
preocupações financeiras por isso faz todos os esforços para que o filho consiga
uma vaga num curso da universidade pública, onde não precisa pagar. Há
famílias que se preocupam com a verdadeira formação dos filhos, esbarram com
dificuldades econômicas ou com a desídia dos filhos.
Guilherme D’ Oliveira Martins, escritor e pensador português da
atualidade, insiste na eficácia da persistência e do gradualismo para obter
136
resultados. “Trata-se de pôr o fermento na massa e, sobretudo, de fazer
interiorizar em toda a sociedade a responsabilidade de educar melhor e de
recusar todas as tentações de uniformização ou de nivelamento por baixo. Daí
que tem sido fundamental o assumir, com todas as conseqüências, de uma
autêntica cultura de avaliação”. É preciso estar abertos e atentos à ação dos
professores em todos os níveis de ensino; estar vigilantes com o comportamento
dos alunos na base de respeito a seus mestres. Conclui o educador D’ Oliveira
Martins: “Criar a sociedade educativa é aprofundar a democracia na sua essência
- como lugar de liberdade e responsabilidade”.
Os boicotes ao provão, as resistências às avaliações dos cursos no foro
interno da instituição são formas de romper com a democracia de um povo e com
a respectiva responsabilidade de educar-se, de formar-se, de subir no escalão
exigido hoje. Para sermos fiéis aos ideais da PAIDEIA e da HUMANITAS e às
lições do DE MAGISTRO é indispensável que compreendamos que em Educação
o trabalho está sempre por realizar, volta a firmar o escritor Martins. O
fundamental é a atitude e o compromisso. A emancipação e a solidariedade
ligam-se à liberdade e à responsabilidade sempre. Daí porque a educação não se
faz por decreto ou por impulsos motivados pelas ideologias da moda. Agostinho
de Hipona refletiu ao longo das praias de Cartago sobre as diretrizes da PAIDÉIA
e da HUMANITAS para dar-lhes um sentido mais elevado, à luz benéfica e
transformadora do Evangelho donde surgiu o tratado DE MAGISTRO. A formação
da personalidade do adolescente e do jovem é a grande meta da educação
assumida pela sociedade toda. Há nisso tudo a necessidade dos princípios, que
balizam os atos educativos que modelam ou remodelam os currículos, sempre os
princípios educativos. Parece que a palavra princípios está em desuso em
algumas casas ou instituições de ensino. Dali vem a importância fundamental do
professor educador, não do simples repassador de esquemas ou teorias. É
preciso que toda a sociedade, em seus níveis, esteja compenetrada de que a
137
EDUCAÇÃO ocupa o primeiro lugar num país, num estado, numa cidade, num
bairro, em cada família.
Se deixarmos essa preocupação para algumas instituições, para as
secretarias dos vários níveis governamentais não acontecerá a verdadeira
formação de personalidades estruturadas em princípios humanos que não são
diversos dos princípios pregados por Jesus de Nazaré. Ele em sua sabedoria
divina e profética sabia o que havia no homem por isso ensinava com
autoridade. Cícero, no senado de Roma debatia as mesmas teses defendidas
pela HUMANITAS oriundas da PAIDÉIA, cimentadas pela visão profunda de
Agostinho em DE MAGISTRO. Educar é formar um homem novo para o milênio
que desponta feliz nas madrugadas de janeiro de 2001.
Zero Hora, 03/01/2001, p. 19, Opinião.
Universidade renovada
Na tarde de 11 de dezembro, o Papa João Paulo II recebeu na Basílica
S. Pedro, Reitores e estudantes de Roma e de países, em vista da preparação
do Natal. Na homilia o Santo Padre falou com entusiasmo ao sentir-se rodeado
de autoridades universitárias, de professores e acadêmicos. Reviveu saudoso
os anos de professor em Cracóvia. Destacou: “Queridos jovens trabalhai para
uma Universidade digna do homem, ao serviço da sociedade de modo crítico.”
É uma clarinada veemente às consciências dos formadores das novas
gerações. É preciso renovar a Universidade, não só em tecnologia, instalações,
investigações, currículos, programas ou cursos. É preciso chegar ao âmago —
a renovação do coração do futuro cientista, do novel filósofo, do novo politólogo,
do mestre em letras, em ciências... Universidade digna do homem, conforme os
138
valores humanos, hauridos do Evangelho, ensinados pela tradição cristã
através dos séculos.
No mapa-mundi das academias observam-se profundas inquietações,
aspirações transcendentes, em busca do melhor para a mente e o coração. O
Papa renova seus apelos e conclama: Duc in altum, (conduze para o alto) non
timere (não temer). A palavra dita por Cristo a Pedro soa aos nossos ouvidos
pelo sucessor de Pedro. A Europa, a Ásia, a América, o Brasil precisam de uma
nova vitalidade intelectual. Uma vitalidade, insiste o Papa, que proponha
projetos de vida austera, capaz de empenho e sacrifício, simples nas suas
legítimas aspirações, linear nas suas realizações, transparente em seus
comportamentos. É necessária nova audácia do pensamento, livre e criativo,
pronta para receber, na perspectiva da fé, as perguntas e os desafios que
surgem da vida, para fazer emergir com clareza as verdades últimas do homem.
A experiência da unificação da moeda em 12 países da Europa leva a trabalhar
para a unidade do pensamento em suas diversidades, caracterizada pela Uni-
versidade (unidade na diversidade). No Brasil e em especial no Mercosul,
apesar de todos os solavancos políticos e econômicos caminhamos para a
Unidade. É preciso repensar, renovar a Universidade, partindo da renovação do
ensino fundamental e secundário. Desde cedo é preciso pensar na formação
pela escola digna da criança e do adolescente. Daí a urgência da formação de
mestres dignos da escola para que a escola seja digna do homem para o bom
serviço à sociedade.
Correio do Povo, 08/02/2002, p. 4, Opinião.
139
Champagnat − O Educador
No domingo, 18 de abril, o Papa João Paulo II presidiu o rito de
canonização de Marcelino Champagnat, elevando-o à categoria dos Santos da
Igreja. Aquele humilde jovem, nascido no Rosey, no Forez, perto de Lyon
(França) no dia 20 de maio de 1789, desde 1955 tinha o título de Bem-
aventurado, agora será invocado pelo nome de São Marcelino Champagnat.
Viveu as agruras do homem das montanhas, na agricultura, no trabalho rude.
Aos 17 anos sentiu-se chamado à carreira sacerdotal. Ei-lo sacerdote aos 26
anos! Nomeado vigário da freguesia de La Vallá, em 1816... Deparou logo a
grande miséria material, cultural e espiritual daqueles... Resolveu fazer a
revolução do ensino: aquela gente precisava ser alfabetizada, instruída para
vencer na vida e andar no caminho do bem e da virtude.
No dia 2 de janeiro de 1817, reuniu dois jovens semi-alfabetizados,
foram seus primeiros discípulos — estava fundado o Instituto dos Irmãos
Maristas! Tudo um tanto improvisado, mas estava lançada a grande
aventura da redenção da infância e da juventude, mais elevados que os
píncaros do Pilat e de outros montes do Forez! Tornou como guia e
protetora a Virgem Maria Mãe de Deus, por isso os discípulos foram
chamados “Pequenos Irmãos de Maria” e hoje Irmãos Maristas.
Marcelino Champagnat em sua rápida e laboriosa existência de 51
anos, dedicou-se totalmente às tarefas da educação. Empreendeu a renovação
dos métodos de ensino. Adotou a língua francesa em vez dos dialetos falados
nas diversas regiões. Alfabetizava as crianças com estímulos antes ignorados.
Os seus discípulos foram formados para serem captadores dos melhores
métodos a fim de que os jovens aprendessem com facilidade ler, escrever e
fazer contas, juntamente com o catecismo que mostrava o melhor caminho para
vida virtuosa e para a prática da verdadeira e genuína cidadania. Espírito
prático ensinava a aprender fazendo. Em poucos meses as crianças das 48
141
escolas existentes por ocasião de seu falecimento no dia 6 de junho de 1840,
eram alfabetizadas e conhecedoras do que necessitavam de mais urgente no
viver. O amor ao trabalho foi sempre a grande característica do educador
Champagnat. O gosto pela novidade, orientado pela prudência, levava os
educadores a amarem o estudo, a leitura e a pesquisa nas letras e nas ciências.
Os Maristas presentes em 75 países, se adaptaram a todos os climas,
adotaram novas culturas, mantêm escolas paroquiais, amplos colégios de ensino
médio, universidades modernas. Da incipiente escolinha de La Vallá às PUCs do
Rio Grande do Sul e Paraná, os Irmãos Maristas procuram manter o espírito e os
ideais de Marcelino Champagnat.
Nos 182 anos do Instituto dos Irmãos Maristas não faltaram
dificuldades, perseguições, mártires: 172 na Guerra Espanhola, (1936 - 38);
recentemente um irmão trucidado em Argel; cinco Irmãos assassinados em
Ruanda, quatro Irmãos vitimados em 1998, no Zaire. Para os apóstolos,
continuadores da obra de Champagnat educador não há obstáculos, não há
desânimos, pois como ele costumava dizer: “se Deus e a Virgem Mãe Nossa
Senhora estão por nós, não há o que temer”.
São Marcelino Champagnat, educador, protegei a educação do mundo
e do Brasil!
Marcelino Champagnat dizia: “Todas as dioceses do mundo estão
dentro de nossos projetos”, era o verdadeiro coração sem fronteiras.
A platéia. 04/05/1999, Santana do Livramento, p. 4, Opinião.
Champagnat: além do horizonte
Marcelino Champagnat nascido a 20 de maio de 1789, faleceu em 6 de
junho de 1840, declarado santo em 18 de abril de 1999, era filho de pais
142
agricultores, habitantes dos contrafortes montanhosos do Pilat, na região de
Forez, perto de Lyon, França. Jovem costumava palmilhar aquelas paragens,
no pastoreio de ovelha, contemplando as lonjuras do horizonte. Entrou no
Seminário, passados os vinte anos. Ei-lo sacerdote aos 28!... Designado
vigário-coadjutor na paróquia de La Vallá, viu desde logo a imensa seara que
ondulava, loira de promessas, nos vales e nas fraldas daqueles montes.
Infância e juventude jejunas das primeiras letras e ignaras das verdades da Fé.
Em sua alma de sacerdote, do devoto da Virgem Maria de Fourvière, sentia
arder uma chama que os gélidos ventos das serranias e as neves dos cimos
não poderiam apagar. Era o zelo que lhe devorava o íntimo e punha energia em
seus pés de peregrino da esperança e do amor.
Era preciso criar uma congregação de irmãos para instruírem as
crianças e jovens carentes de ciência e de Fé. Era preciso ter irmãos da Virgem
Maria, Maristas, para abrirem escolas nas aldeias, nas cidades, nas capitais
para difundirem a verdadeira ciência e arte das letras do caminho para Deus,
formar honestos cidadãos e verdadeiros cristãos.
Para além do horizonte os discípulos de Champagnat estabeleceram
suas tendas, suas casas, suas escolas. Em 1836 já partiram para as ilhas da
Oceania. Depois vieram a Inglaterra, a Bélgica, a África do Sul, a Espanha, a
Itália, o Brasil em 1897.
Depois em 1900 era a vez do Sul receber os maristas, em Bom
Princípio. Em 1903, chegavam a Belém do Pará. Açoitados pelos vendavais
adversos de sua França, os maristas levaram a sua cultura para os quadrantes
do mundo. Os horizontes do elevado Pilat, difícil de galgar, tornaram-se
pequenos quando outros horizontes foram ultrapassados, além dos Himalaias,
para longe dos Alpes, para os desafios dos Andes. “Todas as dioceses do
mundo entram em nossos projetos!” dissera Marcelino Champagnat. As
perseguições fecharam colégios, dizimaram os obreiros do Senhor. Na Argélia
de nossos dias, o Irmão Henry Berger caiu sob os golpes do alfanje. No Zaire,
143
quatro Irmãos espanhóis, trabalhavam em campos de refugiados, além de
darem o pão de cada dia aos órfãos e aos carentes de amor, deram suas vidas.
Vidas e sangue generoso ofertados em holocausto ao Senhor para que aquelas
povoações tenham mais vida, tenham a catequese do amor, tenham a
educação para que novos horizontes surjam anunciando paz e justiça. Outros
maristas se lançaram e se lançam na construção de escolas, de colégios, de
universidades para que os povos de todas as etnias, de todos os credos tenham
os caminhos abertos para a construção “da cultura de uma nova humanidade
em que brilhem os horizontes da paz, da justiça e da solidariedade”. As obras
dos maristas nas creches populares, nos centros sociais de reabilitação, nas
escolas, nos bancos e laboratórios das Academias, nos hospitais e centros de
saúde, procuram atualizar e dinamizar aquele espírito que impelia São Marcelino
Champagnat a transpor os vales, a vencer os cimos alcantilados para além dos
horizontes. O espírito sempre vivo de Marcelino revive em cada coração marista
em quaisquer situações onde haja necessidades, onde se encontre uma boca
faminta, uma inteligência ávida de saber, um coração órfão de amor.
Correio do Povo, 06/06/2002, p. 4, Opinião, Versão Semanal. 13 a
19/06/2002, p. 6, Opinião e Jornal O Estafeta, 12/06/2002, Veranópolis p. 2, Opinião.
Um coração sem fronteiras
Domingo, 18 de abril, na Praça São Pedro, Roma, o Papa João Paulo II
presidiu o rito de canonização do Padre Marcelino Champagnat, do Padre João
Calábria e da Irmã Agostinha Pientrantoni, do Instituto das Irmãs da Caridade.
Marcelino Champagnat é o nome que vem soando aos ouvidos de
milhares e milhares de gaúchos desde 1900, nos colégios dos Irmãos Maristas,
fundados por esse grande amigo da infância e da juventude - Um coração sem
144
fronteiras. Nascido a 20 de maio de 1789, levou em sua vida as marcas
redentoras de uma revolução em favor da alfabetização e da assistência a
tantos jovens dos quatro cantos do universo. Ao morrer em 1840, no dia 6
de junho, o Instituto marista contava 280 Irmãos atuando em 48 localidades
na França e em 4 comunidades no exterior (uma na longínqua Oceânia).
Hoje passados 159 anos, os 5.000 Irmãos estão presentes nas escolas e
obras sociais de 75 países. No Brasil são 535 Irmãos em 65 colégios, 35
obras sociais, duas editoras (FTD e EDIPUCRS), duas universidades e mais
uma em parceria.
Marcelino Champagnat viveu 51 anos, o câncer vitimou-lhe os dias em
plena atividade, as pessoas que tiveram curas consideradas milagrosas,
tiveram a mesma enfermidade.
A canonização de um servo de Deus, feita pela Igreja Católica, significa
a exaltação das virtudes que notabilizam uma vida a serviço das pessoas quer
na saúde, na educação, na salvação das almas.
São Marcelino Champagnat, um coração sem fronteiras, trabalhou e os
Irmãos Maristas continuam a sua obra em favor da infância e juventude
carentes de educação, de assistência social e de conforto espiritual e moral,
centralizando os esforços na imitação de Maria de Nazaré, Mãe de Jesus.
Como é belo ouvir as vozes de milhares de crianças, jovens, adultos e ex-
alunos, exclamarem: Viva São Marcelino Champagnat.
Correio do Povo, 14/04/1999, p. 4, Opinião, A platéia. 18/04/1999,
Santana do Livramento, p. 4, Opinião e Jornal Minuano, 21/04/1999,
Bagé p. 5, Geral.
145
O que é ser humilde?
Nos livros de ascese, no belo cântico do Magnficat, da Virgem Maria de
Nazaré, exalta-se a pessoa humilde. A humildade é o fundamento da vida
espiritual, é o alicerce da vida cultural e científica de alguém. O que é ser
humilde? É curioso observar a etimologia do vocábulo humilde, que provém de
humus, que significa terra fértil, propícia à cultura de plantas. Ser humilde é
conhecer-se como a gente é. É saber de suas boas qualidades e de suas
carências. O humilde é aquele que reconhece ter necessidade do outro, dos
conhecimentos, das experiências dos outros. Sempre se aprende em contato
com os outros. Com as pessoas de nosso convívio diário e costumeiro, com as
pessoas estranhas, sempre acontece um aprendizado. O humilde tem fome de
saber, de aumentar seus conhecimentos. A fome do saber é outra característica
do humilde. O presunçoso, orgulhoso, imagina-se sabedor de tudo, não sente
necessidade de acompanhar em livro uma leitura feita por outra pessoa. O
humilde é pessoa atenta ao que os outros fazem, como falam, como escrevem,
para aprender!...
Nas crônicas maristas nos cem anos devida no Rio Grande do Sul,
aparecem muitos testemunhos de humilde aprendizagem da língua portuguesa,
do estudo de filosofia, de física, de química e de história. Como os Irmãos
sabiam ajudar-se como se ensinavam mutuamente! Como os Irmãos eram
disponíveis para explicar, para perguntar. Vejo a figura do Irmão Robertão, nos
cursos de férias a perguntar: Que problemas ou teoremas de Matemática, de
Álgebra ou Geometria querem que explique? Outro fato notável no aprendizado
do Português. Por que os Irmãos europeus e os jovens provindos das falas
alemã, italianas, francesas ou espanholas, falavam tão bem o vernáculo?
Sempre funcionava a correção de quem sabia um pouco mais, e aquele que
sabia menos, tinha fome de aprender. Os jovens iam para as comunidades e lá
se dedicavam a preparar as aulas, aprendendo sempre dos mais velhos. Ter
146
fome de aprender, ter humildade, ter fome de aprender pois aquilo que a gente
sabe é sempre muito pouco. O Padre Champagnat como sabia pedir
explicações, como aprender com os colegas, Vianney, Colin, com os Irmãos,
com o Irmão Luís Maria e outros. A Virgem de Nazaré, obediente à voz do Anjo
Gabriel quis aprender: “Como se fará isso?” Depois em magnífico canto
proclama: “Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de
bens os famintos e despediu vazios os ricos” (que não precisam dos outros).
Igaçaba, 04/05/2002, Roque gonzales/RS, p. n° 60/A, Cultura.
Centenário Marista
No próximo dia 2 de agosto, em Bom Princípio/RS, às margens do rio
Caí, será aberto o 1° Centenário da vinda dos Irmãos Maristas ao Sul do Brasil.
Dom Cláudio Ponce de Leão, Bispo de Porto Alegre, solicitou aos superiores na
França, o envio de Irmãos para as escolas dos imigrantes alemães e italianos.
O Congresso dos católicos alemães de Bom Princípio foi o ato decisivo para a
iniciativa do Antístite do Rio Grande do Sul. Em 1900, partiram três irmãos do
norte da França, perto de Lille — Beaucamps, para o Sul do Brasil. Eram eles:
Weibert, Domingos e José. Tiveram rápida preparação lingüística antes de
enfrentarem a longa travessia. Chegados ao porto de Rio Grande foram
recebidos pelos padres jesuítas do Colégio Stella Maris, atual São Francisco.
Em Porto Alegre, foram recepcionados pelos padres do Colégio Anchieta.
Depois a viagem até São Sebastião do Caí, no barco de passageiros. Depois, a
carreta e a recepção solene dos habitantes de Bom Princípio, no dia 2 de
agosto de 1900. O pároco era o Padre Stemans, Jesuíta. Os maristas entraram
no sul do Brasil pelo pedido do Bispo Dom Cláudio e pelo cuidado dos padres
jesuítas que estavam nesta terra desde 1847, semeando o evangelho e
147
ensinando em várias importantes escolas. Os três primeiros irmãos foram a
semente de mostarda da parábola evangélica, semente pequenina que germina
e se transforma em árvore frondosa.
Nesses cem anos, quantas peripécias! Quantos momentos de proteção
miraculosa da Providência Divina, do Sagrado Coração de Jesus e da Boa Mãe,
Nossa Senhora! Em 1904 se abriam colégios em Garibaldi, Porto Alegre, Santa
Maria, Uruguaiana, São Leopoldo. Os Irmãos vinham expulsos das terras de
França pela famigerada Lei de Combes e assim o Brasil, a América, a Ásia e a
Oceânia tiveram educadores religiosos maristas, lassalistas e de outras
congregações que floresciam no território francês. O bem sempre triunfa! Naquele
2 de agosto de 1900 estava a célula inicial do grande corpo educacional marista
que nos anos subseqüentes ia-se ampliando nos estados de Santa Catarina e do
Paraná. Como é belo ver a trajetória providencial e exuberante de um pequeno e
humilde grupo congregacional tornar-se alma mater da ciência, da tecnologia e da
Cultura! Deus seja louvado por essa alvorada esplêndida do Centenário da
chegada dos Irmãos Maristas ao Sul do Brasil!
Correio do Povo, 25/7/1999, p. 4, Opinião e Jornal do Comércio, 04/08/
1999, p. 4, Opinião.
Aqueles moços!
Ao findar o século XIX, perpassou uma onda de entusiasmo e de fé
pelos países da América Latina: era preciso educar as novas gerações nas
veredas do Senhor. Tantas almas sedentas de cultura, de Deus estavam à
espera de obreiras da seara do Senhor. Ao mesmo tempo, a França, filha
primogênita da Igreja, promulgava a Lei de Combes — expulsão dos religiosos
dos colégios, dos hospitais, etc. Aqueles moços recém-ingressados no Instituto
dos Irmãos Maristas, zelosos de seu amor a Cristo e à Nossa Senhora tinham
148
um ideal — levar as crianças e jovens a Jesus por Maria mediante a educação
cristã. Aqueles moços tomam a decisão: abandonar a pátria querida a fim de
cumprir a missão de seguir a Cristo e ir pelo mundo a ensinar... Os mares, as
lonjuras dos horizontes ficaram perto, o Amor, o espírito missionário leva-os a
quaisquer rincões: sentiram no peito aquele mesmo ardor de Paulo: Ai de mim
se não evangelizar, (se não ensinar a Jesus Cristo numa escola) ... Aqueles
moços partiram da França e chegaram ao Rio Grande do Sul em fins de julho
de 1900... No dia 3 de agosto eram recebidos triunfalmente em Bom Princípio...
Dias depois já estavam ministrando aulas àqueles jovens sedentos de ciência e
da sabedoria de Deus.
O espírito trouxe aqueles jovens, que vinham em vários grupos a doarem
suas vidas, seu elã às novas gerações em múltiplos municípios. Até 1914 haviam
chegado 173 jovens irmãos maristas vindos da França e da Alemanha, que
ministravam aulas na roda dos ventos do Rio Grande: Uruguaiana, Santana,
Santa Maria., Alegrete, Porto Alegre, Garibaldi, São Leopoldo, Bom Princípio,
Santa Cruz, Hamburgo Velho, etc.
O espírito nobre e sublime guiava aqueles moços! Depois vieram
espanhóis formados no Colégio São Francisco Xavier e tantos outros. A seara
do Rio Grande recebeu e se agigantou na ciência e na cultura graças às
dezenas de colégios que distribuíam o pão da ciência, o pão da vida que leva
adiante o Espírito da investigação científica, o Espírito de união com Deus,
pelos gestos maternos de Maria Santíssima. Aqueles moços acenderam em
outros corações e mentes o mesmo Espírito que construiu e mantém colégios,
que idealizou, criou e mantém a Pontifícia Universidade Católica — Tudo isso é
obra daqueles moços que disseram sim ao Espírito.
Correio do Povo, 12/01/2000 , p. 4, Opinião.
149
A longa viagem centenária
No dia 18 de junho de 1900, os Irmãos Weibert, Domingos e José,
despediam-se de Beaucamps para iniciar a longa viagem até Bom Princípio/RS. O
trem levouos a Paris. Visitaram longa e piedosamente o Santuário do Sagrado
Coração, inaugurado em 1899. Lá fizeram a consagração de sua vida e das obras
que iriam fundar. Depois a ida para Le Havre, o navio transatlântico: mar oceano;
Rio de janeiro, Rio Grande e Porto Alegre. Mudanças de navios, de portos, de falas
e por fim porto de São Sebastião do Caí e a carreta de bois a levá-los a Bom
Princípio, dia 2 de agosto. Longa viagem de 45 dias... Peripécias, mãos amigas, os
jesuítas em Rio Grande, em Porto Alegre, e Bom Princípio. A obra marista
começava a 3 de agosto de 1900, numa pobre casa, na escolinha no campanário
da igreja matriz. Os foguetes e os hosanas da chegada emudeceram e começou a
vida na simplicidade, no silêncio e na pobreza. Irmão Weibert e os dois
companheiros não descansaram: aulas aos meninos, aulas para si mesmos a fim
de aprender a língua portuguesa e a linguagem da afabilidade da acolhida da gente
rio-grandense.
Bom Princípio: bom começo entre imigrantes alemães, depois em 1904,
em Garibaldi, com os imigrantes italianos, depois viriam Porto Alegre, Santa Maria,
Uruguaiana, São Leopoldo... Sempre encontro com descendentes de imigrantes
lusos, açorianos, poloneses, todos integrados pela tradição brasileira e pelo
amálgama da língua portuguesa. O que fizeram de grande aqueles irmãos maristas
expulsos da douta França, de Combes! Até 1914 chegaram 174 irmãos formaram
os quadros de magistério dos colégios em dezenas de cidades. Como aqueles
jovens após abandonarem as famílias, a sua pátria deram tudo de si para
construírem a obra educativa marista no Sul Brasil! Vinham com o Curso Normal,
feito com seriedade e dedicação. Tinham em si aquela luz missionária de dar a
vida para o bem da juventude, “tudo a Jesus mas por Maria”... Marcelino
Champagnat deixara-lhes o exemplo de piedade, de estudo e de pertinácia. E
150
eles sabendo apenas o francês em poucos dias se apresentavam falando
português. Isso exigiu deles força de vontade, iniciativa perseverante de
autodidatas. A longa viagem de um século indica as grande peripécias da
educação marista da humilde escolinha do campanário de Bom Princípio ao
majestoso campus universitário da PUCRS.
Igaçaba, 11/07/2000, Roque Gonzales, n° 38.
Donde vieram os Irmãos Maristas
Há duzentos anos um rapaz de 14 anos semi-analfabeto demandava o
Seminário. Deixara o rebanho no Rosey, buscava pastorear outras ovelhas. Em
1916, sacerdote, era destinado a coadjuvar o velho pároco de La VaIlá, nos
contrafortes do Pilat. Ao tocar aquela ignorância cultural e religiosa, sentia
dentro de si o desejo: “Precisamos de irmãos para ensinar a ler, a escrever, a
fazer contas e a tornar Jesus Cristo mais conhecido e amado”. Era um
programa de vida, era a doação de uma e muitas vidas para a redenção da
infância e juventude. Sem mais delongas, no dia 2 de janeiro de 1817, em casa
alugada reúne dois jovens, que serão os primeiros irmãos maristas. Preparados
por ele mesmo começaram em 1818, a reger a primeira escola. Vieram outros
enviados a Champagnat por Nossa Senhora do Puy. La Vallá recebera mais
jovens, escolas iam-se abrindo nas vilas e lugarejos nas encostas dos montes
ou nas fraldas dos vales. Mais adiante, construíram Casa maior, num lugar
silencioso L’Hermitagio (o eremitério). Braços fortes, inteligência viva do pastor
de homens, desbravaram as rochas, como desbravariam as mentes sedentas
do pão da verdade e da luz da ciência. Em 1840, aos 51 anos, no dia 6 de
junho, Marcelino Champagnat deixava o vale de lágrimas para repousar de
suas lides de pai e de educador.
151
Em 1900 aportaram no Rio Grande do Sul, os três Irmãos guiados por
Weibert, destinados a Bom Princípio, o nome da vila era feliz augúrio. Até 1914
eram 110 Irmãos franceses e alemães em 15 escolas no Sul do Brasil. O
dinamismo do Irmão Weibert e do discípulo Irmão Afonso abriu, preparou os
colégios de Santa Maria e do Rosário para uma etapa mais ampla na educação.
Os cursos técnicos de Contabilidade prepararam várias gerações de diretores
de empresas, de políticos, prefeitos, deputados, vereadores, administradores. O
Ginásio e o Colégio preparavam profissionais liberais e líderes com cursos
universitários. Em 1931, Irmão Afonso fundou a primeira Faculdade de Ciências
Políticas e Econômicas, no Rio Grande. Culminando em 1950 com o título de
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aquele pastorzinho do
Rosey é hoje o santo pastor de milhares e milhares de jovens universitários,
estudantes de todos os níveis nos cinco continentes, para se formarem
honestos cidadãos e bons cristãos.
A platéia, 17/06/2003, Santana do Livramento, p. 6, Opinião.
Maristas, III Século!?
Ao passar do vale de 2000 para 2001 entramos no novo ano, novo
século, no novo milênio!...É algo de surpreendente.
No dia 2 de janeiro celebramos os 184 anos do gesto fundador de São
Marcelino Champagnat, na humilde e pobre La Vallá. Tudo isso nos leva a
refletir, a meditar diante da cremalheira do tempo de dois séculos, entrando
para o terceiro. No primeiro século o Instituto foi-se estabelecendo, se
difundindo na França, pelas petites écoles, com pequenas e notáveis exceções
de grandes colégios. Uma vez reconhecido pela Santa Sé e pelo governo
francês o Instituto dos pequenos Irmãos de Maria se firmou, abrindo seus ramos
152
para a Espanha, Inglaterra, Oceania, Itália e América. O contingente de 6 mil
irmãos sofreu o forte sacudão pela Lei de Combes, da secularização dos
religiosos e suas propriedades na França. Muitos irmãos fiéis à sua vocação se
transformaram em missionários para os cinco continentes, outros preferiram
ficar em sua pátria, mestres-escola ou em estabelecimentos clandestinos... O
número diminuiu nas primeiras décadas do século XX. A celebração do primeiro
centenário, em 1917, encontrou a Europa em guerra total, muitos irmãos nas
trincheiras dos países beligerantes. Depois em vários países da América
começou o reflorescimento da obra educativa marista. Escolas surgiam na Síria,
na Turquia, na Grécia, nos U.S.A, Canadá, México, Brasil, Colômbia e tantos
outros países.
De 1936 a 38 os Irmãos Maristas em suas belas e promissoras escolas
de Espanha sofreram dizimação de 72 membros, pela foice comunista. Em
meados do século, novo reflorescimento surgido das ruínas e do sangue
derramado, colocaram a obra marista na Espanha na dianteira do Instituto. De
1927 a 1960 os irmãos no México resistiram heroicamente à perseguição
marxista apesar da lei contrária à escola cristã. Os irmãos na China são outros
tantos exemplos de mártires em prol da escola marista, da catequese. Em 1940
começa a expansão universitária no Brasil. O Instituto na década de 1960
chegava perto dos 9 mil irmãos.
Começou então, após o Concílio Vaticano II, a grande debandada, por
interpretações equivocadas do grande pentecoste da Igreja, decretado pelo
Papa João XXllI.
Os vários capítulos gerais se sucederam, o êxodo de irmãos
continuava. Iam rareando as comunidades dedicadas à escola, à educação.
Surgiram as vozes conclamando para o social, ação dirigida aos pobres como
se os longos anos, os grandes colégios e as escolas nada tivessem feito pelo
social. O que os colégios nos diversos países promoveram de ação social ainda
não foi escrito nas páginas de história, mas sua ação salvadora está em
153
centenas e milhares de ex-alunos que formam forças dirigentes graças à mão
dadivosa de um diretor ou administrador, que compreendeu a situação do
adolescente pobre desejoso de estudar.
Agora estamos no dealbar do terceiro século marista para onde vai a
barca do Instituto com 3 mil e poucos irmãos, muitos deles em avançada idade
e pouquíssimos em tarefas educativas? O Capítulo Geral começará em
setembro, os representantes das províncias e distritos estudarão, discutirão,
proporão novos rumos?! Desde já cada irmão, cada comunidade, o Instituto
inteiro se unem numa fervorosa e incessante prece à Boa Mãe, tão solícita aos
rogos de São Marcelino Champagnat e dos primeiros irmãos, para que indique
e conduza o destino ao barco do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas.
lgaçaba, 11/08/2001, Roque Gonzales, n° 51, Cultura.
A grande reforma
No dia 10 de junho de 1970, no Hospital São Francisco, o Irmão
Afonso, fundador da PUCRS, entregava sua bela e dinâmica alma ao Criador.
Havia concluído a sua exuberante e frutífera carreira. Veio da França, ainda
jovem, em 1904, esteve em Uruguaiana, depois Santa Maria onde firmou sua
base de estudos e pesquisas e sua capacidade administrativa.
De 1920 a 26 elevou o Colégio Santa Maria à categoria do Colégio Dom
Pedro II. Jovens de todo o Rio Grande ocorriam ao grande Ginásio. Galerias de
homens ilustres nas ciências, nas artes e na política colocaram bases sólidas em
suas vidas e no porvir profissional. Em 1927, começou a reger o Colégio Rosário,
na Avenida Independência. Poucos anos transcorridos o colégio é estadualizado
junto com o Anchieta, Bom Conselho e Sévigné, tudo ação do Irmão Afonso e da
equipe dos Irmãos. Em 1930 atendendo o apelo veemente dos alunos do Curso
154
Superior do Comércio, estrutura a primeira Faculdade de Ciências Políticas e
Econômicas do Sul. Em 1940 era a vez da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras para formar professores para o curso secundário. Seguiram-se as
Faculdades de Serviço Social e de Direito.
Em 9 de novembro de 1948 o Decreto presidencial equiparava a
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em 1950 recebia o Diploma da
Santa Sé com o título de Pontifícia. Irmão Afonso, homem dinâmico, estudioso
perseverante, administrador de visão clara, de grandes horizontes. Homem
profundamente religioso, colocava Deus e Nossa Senhora em primeiro lugar
por isso é que foi tão magnânimo para atender os anseios de tantos que
desejavam a Universidade Católica, luz serena, tranqüila e perseverante na
investigação das verdades científicas irmanadas com as luzes da Fé.
Armando Câmara, primeiro Reitor, em 1948, atribuiu à caridade do Irmão
Afonso, a realização da Universidade e de outros empreendimentos em prol
da ciência e da cultura. Passados 50 anos, aí está a PUCRS no seu vigor e
projeção além fronteiras graças aos trabalhos do Irmão Otão até 1978 e de
1979 até hoje sob a orientação serena e eficiente do Irmão Norberto e sua
equipe. A figura do Irmão Afonso é uma luz para os atuais responsáveis do
ensino, da pesquisa e da extensão, tarefas constantes sempre vivas em favor
dos alunos e ex-alunos.
Correio do Povo, 16/06/2000, p. 4, Opinião.
A Vida do Irmão Pacômio
No dia 1º de junho, sábado, entregou sua bela alma a Deus na
casa São José de Mendes, Rio de Janeiro, Irmão Pacômio, no registro civil
Armando Corbellini, que nos seus longos anos de África assumiu o nome
155
de Armando Cordeiro. Nascido em Garibaldi da tradicional família
Corbellini, no distrito de Araripe. Freqüentou as aulas no Colégio Santo
Antonio, depois dirigiu-se para o Instituto Champagnat. Terminada a
formação marista e pedagógica iniciou a sua trajetória de professor nos
colégios de Santa Maria, Rosário, Internato Paranaense, de Curitiba. Em
1948, o Irmão Afonso abria as fundações maristas em Portugal e
Moçambique. Irmão Pacômio deixou os pagos e lançou-se à aventura de
África: Moçambique e Angola de 1948 a 1975. A chegada gloriosa não
imaginava a retirada em fuga 27 anos depois. Voltou ao Brasil para
dedicar-se à recepção e colocação dos refugiados e fugitivos brancos de
Angola e Moçambique que em 1976 se organizavam independentes sob o
regime marxista.
Milhares de refugiados receberam das mãos do Irmão Armando
Cordeiro o auxílio, novo assentamento na terra hospitaleira do Brasil, no
estado do Espírito Santo, no Rio de Janeiro ou alhures. Não tinha
descanso de dia ou de noite para atender os refugiados carentes de
comida, de vestuário, de moradia. A tudo ele acorria para salvar os irmãos
necessitados. Nesse trabalho, passaram-se largos dez anos. Depois que
as coisas serenaram do lado dos refugiados, Irmão Pacômio ofereceu-se
para nova missão - os meninos de rua da zona da Tijuca, ali perto do
Colégio São José. Longos dias de sacrifício e privações salvaram e
encaminharam dezenas e centenas de jovens para um emprego, para uma
vida mais digna e mais útil a ser vivida.
Em janeiro último, tendo encerrado a sua missão junto dos meninos de
rua, resignou-se a recolher as armas e bagagens na Casa São José, em
Mendes, Rio de Janeiro, onde no dia 1°, Nossa Senhora foi buscá-lo para
recompensar-lhe a existência octogenária a serviço dos alunos nos colégios,
das comunidades em Angola e Moçambique e na dedicação aos desvalidos.
156
Irmão Pacômio foi uma figura singular como professor, como vigilante
de internato, como coirmão e companheiro de estudos e trabalhos. Recordo
aquele perfil severo, feito estátua de pedra que logo se transformava em
amigo e confidente.
Irmão Pacômio, poeta, pára-quedista, professor de Língua
Portuguesa, beletrista. Soube, como poucos, dedilhar o mistério da alma
humana nos versos e nos gestos humanitários e fraternais. Descansa o
coração inquieto após tantas batidas de amor em prol do bem de tantos, como
aconteceu em 1994, em prol dos reféns da Unita, libertados graças ao
telefone do Irmão Pacômio ao Savimbi, de quem fora protetor e amigo.
A generosidade constante e prodigiosa, que acompanhou os 81 anos e
quatro meses do Irmão Pacômio, Armando Corbellini ou Armando Cordeiro, é
lição perene para as gerações atuais e futuras, que procurarem trilhar os
caminhos do Padre Marcelino Champagnat e de Maria Santíssima.
Jornal do Comércio, 07/06/1996, p. 4, Opinião.
Irmão Faustino João
Irmão FaustinoJoão (Salomón Torrecilla Vesga) nasceu no dia 21 de
outubro de 1908 na Vila de Quintanilla de San García, perto de Burgos
(Espanha). lngressou na Congregação dos Irmãos Maristas, em Turim
(Itália), em 1926. Em 1927 foi enviado como missionário para o Brasil.
Chegou a Porto Alegre no dia 27/09/1927. Toda a sua vida de educador no
colégio Rosário ou na PUCRS foi nesta Capital. Formou-se bacharel na
Faculdade de Ciências Econômicas, em 1937. A sua formação continuou
com curso especial em Lyon, na França; com estágio em Universidades
norte-americanas, a convite do governo; com cursos e estágios em
157
Universidades da Espanha (Madrid, Barcelona); com estágios na Itália. Foi
permanente estudioso e atualizado por suas inúmeras leituras. A seguir
começou a lecionar na estruturação da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, inaugurada em março de 1940. Foi professor, secretário e membro
dos Conselhos. Preparou, outrossim, a Faculdade de Serviço Social em
1945 e a Faculdade de Direito em 1947. Sempre foi a força eficiente e
silenciosa das iniciativas da Universidade e das Faculdades de 1940 a 1990.
Nestes 50 anos a vida da PUCRS passou por suas mãos ou por sua
orientação. Nos últimos dez anos supervisionou e observou os atuais
progressos da Instituição e teve o merecido ócio com dignidade.
Irmão Faustino, em 1951, organizou o Curso de Jornalismo que
começou a funcionar em 1952. As reformas de Estatutos e de regulamentos
todos passavam por ele, por sua análise e visão. Professor e Diretor da
Faculdade de Educação, Pró-Reitor de Extensão foram alguns de seus
cuidados. Trabalho notável executou na preservação dos documentos e do
acervo histórico. Em 1994, empreendeu com o Ir. Elvo Clemente a tarefa de
redigir a História da PUCRS, que tem três volumes: 1931 — 1951; 1954 —
1978; 1979— 1998. Na bela, operosa e extensa existência o Irmão Faustino
João (Salomón Torrecilla) distinguiu-se em três aspectos: 1) O apóstolo —
convidado a deixar a sua terra, Castella — Espanha, ainda jovem obedeceu
à voz que o chamava para o Brasil — Porto Alegre. Deu sua vida, seu saber,
seu tempo todo à educação e à instrução da juventude no Colégio Rosário e
na PUCRS. Soube pregar o Evangelho de Jesus Cristo pela palavra e pelo
exemplo; 2) O educador marista, aquele ardor juvenil pela missão de
Marcelino Champagnat se manteve viva e forte em toda a vida de 94 anos. A
vocação se manteve graças à perseverança de seu espírito na união com o
Divino Mestre a exemplo da Senhora Bendita de Nazaré; 3) Foi o
Consolidador da obra iniciada pelo Irmão Afonso, ampliada pelo Irmão José
Otão. Teve o reconhecimento de sua obra pela Prefeitura que o fez Cidadão
158
de Porto Alegre; do Estado que o consagrou Professor emérito; da Espanha
que lhe outorgou a Comenda de Isabel a Católica no mais alto grau. O maior
reconhecimento é de tantos corações que o veneram e amam como pai e
protetor. Muitas vidas tiveram seus rumos melhorados graças à palavra, ao
conselho e à ação do Irmão Faustino. Obra duradoura é sem dúvida a
Fundação Irmão José Otão de que foi primeiro presidente e constante
conselheiro e orientador. Irmão Faustino por sua vida devotada ao ensino e à
educação da juventude, imitando o Divino Mestre no seguimento de Maria
Santíssima é exemplo para as novas gerações maristas e para as pessoas que
se dedicam aos jovens nas escolas e nas Universidades. Será para sempre
uma estrela a indicar o verdadeiro caminho da ciência, da fé e da virtude.
Jornal do Comércio, 01/07/2002, p. 4, Opinião e O Estafeta,
17/07/2002, Veranópolis/RS.
Adeus ao Irmão Faustino João
Aqui estamos para o adeus ao Irmão Faustino João, um dos pilares
mestres da Universidade, um dos sustentáculos e apóstolo da Educação
Católica no Rio Grande e no Brasil, fundador da Associação da Educação
Católica (AEC) há 50 anos; o co-autor ou melhor a história viva da
Universidade: o Irmão Marista exemplar, o homem que durante 75 anos esteve
presente e atuante na vida da educação e do ensino, o mestre, o orientador dos
caminhos de nossa Universidade.
Muitos dos presentes aqui, estivemos lado a lado com ele no Colégio
Nossa Senhora do Rosário, nos últimos 34 anos na Comunidade Santo Tomás
de Aquino, na PUCRS.
159
Em toda esta trajetória era o homem, o discípulo fiel de São Marcelino
Champagnat, na humildade, na simplicidade e modéstia, as três flores tão caras
à Nossa Boa Mãe, Virgem Santa Maria.
Poderíamos resumir a biografia desta longa e benemérita existência em
poucas palavras: Irmão amigo, compreensivo na Comunidade, nas aulas, no
gabinete, no trato de quem quer que fosse, ou o procurasse. Homem de estudo
e de leitura perseverantes, religioso de escrupulosa observância das
constituições; fiel aos destinos presentes e futuros da obra marista no Brasil e
no mundo; era feliz e semeava a felicidade do verdadeiro filho de Deus.
Irmão Faustino João, nasceu Salomón Torrecilla Vesga, em 21 de
outubro de 1908, no pueblo de Quintanilla de San García, a 40kms de Burgos,
Castela, Espanha. Educado na família profundamente cristã. Completou a
escola primária na casa dos Irmãos Maristas, em Arceniega. Aos 14 anos
aceitou o convite para continuar os estudos no juvenato Internacional de São
Francisco Xavier, em Grugliasco, perto de Turim (Itália). Neste educandário se
preparavam jovens missionários para as longínquas escolas da Ásia, Oceânia,
América e África.
Em 1926, o jovem Salomón revestiu o hábito marista no noviciado de
Santa Maria (Turim) adotando, então, o nome de Irmão Faustino João, que
soube honrar por 76 anos. Em 1927, foi enviado ao Brasil Meridional,
chegando a Porto Alegre, no dia 12 de outubro. Designado para o Colégio
Nossa Senhora do Rosário, encontrou Irmão Afonso na direção do
educandário, na Avenida Independência, n°359. Aprendeu, rapidamente, o
Português, em março de 1928, estava lecionando para uma turma de 56
meninos no terceiro ano primário. Dedicava-se de corpo e alma ao estudo e
ao ensino. Anos depois lecionava no Ginásio várias disciplinas: matemática,
história e geografia e francês.
160
Em 1931, assistiu à fundação da Faculdade de Ciências Políticas e
Econômicas. Em 1934 era aluno e em 1939, era bacharel, sem com isso
diminuir suas aulas no Ginásio.
Naqueles anos teve início a amizade profunda com o Fundador da
Universidade e o executor dos grandes sonhos do Irmão Afonso. O acréscimo
de compromissos no ensino superior não lhe diminuíram as obrigações no
Ginásio, no Curso Comercial e na Comunidade.
Em 1940 era inaugurada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
26 de março. Em 1942, começaram, em junho, os Cursos da Ciências, de
Pedagogia e Didática.
Em 1945 era estruturada e começava a funcionar a Faculdade de
Serviço Social.
Em 1947, a Faculdade de Direito despontava promissora para constituir
a Universidade Católica do Rio Grande do Sul, cuja equiparação federal
aconteceu a 9 de novembro de 1948.
Naquele magno empreendimento o Irmão Faustino João colocou a alma
e o coração, até conseguir-lhe o título de Pontifícia, outorgado pelo Servo de
Deus, o Papa Pio XII, no dia 1° de novembro de 1950.
Seguiram-se as outras faculdades — Odontologia em 1953; Engenharia
em 1960... Outras mais vieram sempre com a presença ativa e criativa do Irmão
Faustino junto dos Reitores: Irmão José Otão e Irmão Norberto Francisco Rauch.
As Faculdades de Filosofia começaram a surgir em várias cidades,
graças à ação do Irmão Faustino e respectivos bispos: Caxias do Sul, Pelotas,
Bagé, Santa Cruz do Sul, Uruguaiana, Caxias do Sul.
Irmão Faustino sabia desdobrar-se no magistério, na direção da
Faculdade de Educação, na criação do Curso de Pós-Graduação. Depois
esmerou-se na Pró-Reitoria de Extensão e na Assessoria do Reitor. Era o
factótum de tantas iniciativas, cuidando sempre de manter o arquivo da
161
Universidade. Juntos realizamos a História da PUCRS, junto com o Irmão
Roque Maria escrevemos a vida do irmão Weibert e do Irmão Afonso.
Sempre ocupado, dando ao descanso e ao lazer o mínimo de tempo.
Sempre presente no Conselho Universitário, no Conselho Provincial, presente
na vida acadêmica, na vida comunitária, nos exercícios de piedade, nas
horas de lazer.
Sempre ativo trabalhando nos bastidores, planejando
reformas e melhorias.
Recebeu significativas honrarias de reconhecimento de seu
incessante trabalho e dedicação em prol da Educação e do Ensino.
Mencionamos apenas algumas:
Do Município: Cidadão Porto-alegrense
Do Estado: Educador Emérito e Gaúcho Honorário
Da França: Palmas Acadêmicas
Da Mãe Pátria, Espanha: Encomienda de numero del Orden de Isabel
la Catolica, título recebido no dia 21 de outubro de 1998, ao completar 90 anos.
Sempre foi um verdadeiro Irmão Marista, devoto de Nossa Senhora, fiel
discípulo de São Marcelino Champagnat e apaixonado pela vitalidade e
desenvolvimento do Instituto. Viveu intensa e santamente cada dia de sua rica
existência dentro da pobreza religiosa de seus compromissos sagrados dando
de si para a organização da Universidade e nos últimos anos na criação e na
consolidação da Fundação Irmão José Otão, obra de benemerência para
investigação científica e para o amparo aos estudantes.
As forças físicas iam minorando, seu estado de saúde necessitava
melhoras e constantes cuidados de médicos e enfermeiros. No dia 16 de junho
de 2000 deixava a sua e nossa Universidade para receber o amparo fraterno e
amigo da Casa São José, em Viamão. Aos poucos o depauperamento do
organismo foi-lhe limitando as energias e confinando-o ao apartamento onde
recebia diuturnamente todas as atenções que se lhe faziam mister. Na tarde às
162
16h, de 28 de junho, entregava serena e tranqüllamente sua bela alma a Nossa
Senhora que a conduziu a Nosso Senhor a quem ele servira com tanto amor,
devotamento e fidelidade. Eram as primeiras vésperas da festa dos apóstolos
Pedro e Paulo, Salomón Torrecilla pôde dizer em seu silêncio: “Combati o bom
combate, completei minha carreira, guardei a fé”. Seja Deus louvado! Os santos
apóstolos puderam apresentar a Deus Nosso Senhor o grande lutador vitorioso
das causas da educação e do ensino no Rio Grande do Sul e no Brasil.
No dia 29, aconteceram as exéquias presididas pelo bispo
emérito de Uruguaiana, Dom Augusto Petró e por distinta equipe de
sacerdotes concelebrantes.
Bela vida, bela existência entregue a Deus, à Boa Mãe para levar
tantas pessoas a conhecerem Jesus Cristo e a amá-lo. Eis a beleza de uma
existência que fecha o ciclo terrestre para florir nos páramos celestes!
Versão Semanal, 18 a 24/07/2002, Porto Alegre, p.06, Opinião.
Irmão Dionísio Fuertes Alvarez
No dia 21 de julho faleceu o prof. Dr. Irmão Dionísio Fuertes Álvarez,
presidente do Instituto de Cultura Hispânica, membro da Academia Rio-
Grandense de Letras, professor emérito da PUCRS. Nascido em Léon
(Espanha) a 28 de março de 1913, fez a formação marista na Itália, perto de
Turim. Obedeceu ao chamado missionário e veio ao Brasil em 1930. Exerceu
o magistério no Colégio Rosário, em Garibaldi, Rio Grande e Uruguaiana e
sobretudo na PUCRS de 1941 até 1999. Irmão Dionísio notabilizou-se por
suas atividades:
1) Na organização da Biblioteca Central, de que foi Diretor durante 25
anos: organizou o prédio e a classificação geral, antes da informatização.
163
2) No Instituto de Cultura Hispânica, foi um dos fundadores em 1956 e
Diretor durante 35 anos. Esmerou-se em transformá-lo no melhor centro de
Cultura, de Literatura de Espanha: biblioteca e videoteca — tesouros imersos.
3) No magistério, Irmão Dionísio lecionou nos cursos de Comércio do
Colégio Santo Antonio e no Colégio São Francisco, na PUCRS lecionava
Língua Espanhola e respectivas literatura e Cultura hispânica, Introdução à
Filosofia em várias unidades acadêmicas, Didática Geral e Didática Especial.
4) Nas Letras foi exímio escritor e poeta com os dois ensaios: Núcleo
mínimo da e.pressão lingüística e Poesía y belleza; os livros de poesia;
Salmos do Silêncio, 1957; Terra habitada, 1958; Casa dourada, 1961;
Escuro labirinto, 1972. A poesia dele tem o sotaque marcado pelos ritmos
de São João da Cruz e de Santa Teresa de Ávila. Aquele tom místico,
aquela flor sobre a paisagem humana. Era notável orador tanto em
português como em sua língua materna. Encantava qualquer público.
5) Na cultura em todos os sentidos, Irmão Dionísio foi longe. A grande
paixão pela leitura o levou a explorar os tesouros escondidos nos livros de
ciências, de filosofia, de ficção, sempre em busca da VERDADE, da Esperança
e do AMOR.
Jornal Igaçaba, 08/2000, Roque Gonzáles/RS, p. 07, No mundo da
Cultura.
O Misssionário Marista
Faleceu no dia 21 de fevereiro, o Irmão José Pasa, natural de Nova
Roma/RS, nascido no dia 26/12/1926. Desde cedo dirigiu-se do juvenato dos
Irmãos Maritas. Em 1948 era religioso de votos e pronto para as lides do
ensino. Lecionou em 1951, no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em 1952,
pediu para ir às missões de África. Esteve 11 anos em Moçambique naquele
164
tempo com três prósperos colégios em Maputo (Lourenço Marques), Beira e
Quilemane. Em 1964 foi enviado para Angola. No início tudo lindo, tudo
progressista. Começavam as guerras da independência. As missões eram
invadidas. Em 1975, época da independência, saíram os portugueses para Portugal
e para os quatro cantos do mundo. Irmão José Pasa ficou no posto, em suas
missões. Alguns irmãos voltaram ao Brasil, ele, o Irmão Antonio Bet e Irmão
Firmino Schneider ficaram no posto missionário. Viram os belos colégios arrasados,
viram as cidades desmanteladas, viram Luanda saqueada e invadida. Todo o belo
e próspero território angolano reduzido à miséria e à fome. As cidades incharam
pelo povo que se deslocava dos territórios agrícolas, infestados de inimigos. As
estradas minadas, imensos caminhos que haviam sido cimentados ou asfaltados
tudo foi pelos ares. A luta fratricida destruiu tudo, desanimou os braços amigos,
mas o Irmão José com os coirmãos resistiu. Tudo via, tudo procurava reparar e
melhorar. Na volta de tempos melhores, retomou o trabalho de reconstrução de
Ndalatando, onde passou ensinando às crianças e adolescentes o verdadeiro
caminho Jesus Cristo, o verdadeiro Deus, filho de Nossa Senhora. No dia 22 de
fevereiro toda aquela região realizou o enterro do Irmão José Pasa, verdadeira
ovação, entre lágrimas e preces àquele que fora pai e mãe daquele povo.
O Estafeta, 12/03/2003, Veranópolis/RS, p. 14, Variedades.
Irmão Mainar Longhi
Na hora noturna, no profundo silêncio dos seres e das coisas, o prof.
Irmão Mamar Longhi deixou as contingências deste mundo pelas realidades
eternas. Ia chegando às vésperas dos 65 anos (23/7) e já amadurecera a seara,
o anjo do Senhor veio colher os frutos de seis décadas e meia de serviços.
Abrira os olhos para a vida, em Vila Segredo (Vacaria), mesmo chão do ilustre
165
falecido Raimundo Faoro. Mestre devotado ao estudo, à pesquisa, para ser
cada vez mais luz e orientação para os alunos dos cursos de Letras e de
Comunicação Social. Por 35 anos foi o fiel distribuidor dos ensinamentos
perenes da Língua Portuguesa e da Literatura.
Era belo ver como sabia dedicar horas e horas a leituras, à preparação
de aulas, buscando novos textos, novas formas de apresentar os fatos da
língua. Para a Literatura Brasileira ia buscar as novidades nos jornais e revistas.
Pouca gente amou tanto quanto ele a leitura de jornais e revistas. Belos artigos
eram enviados à redação do Correio do Povo. Ficava faceiro quando via suas
letras estampadas na 4ª página! Vibrava com os acontecimentos políticos e
sociais, participava da vida como exemplar cidadão. Amando e exaltando seus
próceres como o Lacerda e outros. Detinha-se na leitura de biografias ou de
autografias dos personagens da cena literária e política do Brasil, da Espanha,
da França e da Itália. Sabia ser amigo de seus alunos e de seus colegas. De
modo geral reservado e silencioso, sabia numa roda de amigos expandir seu
bom humor, com ditos e piadas bem contadas. Na vida com os coirmãos era de
poucas palavras, em horas especiais era entusiasta nas conversas e anedotas.
Soube nos 47 anos de Irmão Marista viver o carisma de religioso e
educador. Dedicou muitas horas de investigação e de leituras na realização de
seu Mestrado e Doutoramento em Lingüística aplicada, em temas ligados à
língua nas Letras e no Jornalismo. Acumulou leituras, jornais, revistas e livros
em vista da continuidade às perquirições estilísticas do gênero jornalístico.
Atendia com assiduidade as funções de conselheiro da TVE. Sempre disponível
às solicitações da Reitoria, da Comunidade ou da Província: participava de
comissões, de seminários e de estudos para o bem da cultura, da ciência e da
religião. Irmão Mainar era e é para nós o mestre modelar, o amigo sincero e fiel
discípulo de São Marcelino Champagnat.
Correio do Povo, 08/07/2003, p. 4, Opinião.
166
Quem prepara o professor?
Nas mudanças todas que se apregoam na política, na religião, nas
ciências, nas escolas não se fala da preparação do professor. As outras
profissões chamam a atenção dos governos nas esferas do município, do
estado e do país, o professor não é pensado nem considerado. Olhando
objetivamente o professor está em toda a parte, é o elemento incentivador,
realizador e aperfeiçoador de todas as profissões e atividades. Em tudo e em
toda a parte necessita-se da pessoa que ensina, que instrui e que eduque.
O Evangelho tem alto conceito de MESTRE, a ninguém chameis de
mestre, o MESTRE é CRISTO. A benemérita mestra das primeiras letras, o
mestre da aldeia, do ensino fundamental e do ensino médio são pessoas
vitais para a vida da família, da sociedade, da organização científico-cultural,
religiosa e política. Apesar da importância enorme do mestre, pouco ou nada
se faz para a formação dele. Os incentivos do Ministério da Educação visam
aumentar o número de alunos nas escolas, diminuir a população infanto-
juvenil fora da sala de aula. Pouco ou nada se faz para que essas crianças e
adolescentes tenham mestres bem preparados e bem pagos. Observa-se um
paradoxo: salas de aulas modernizadas, equiparadas com máquinas de última
geração, ligadas à lnternet, etc. E o professor como é que fica? Os diários
oficiais conclamam tantos docentes para que as salas de aula tenham o
mestre. A paga é pequena, sempre serve para um bico. Que educação se faz
com esses docentes improvisados? Resolveram alguns autodenominar-se de
trabalhadores do ensino ou da educação. Deixaram de lado toda a tradição de
respeitabilidade que a categoria angariou através dos tempos com tão
devotados mestres desde os pedagogos da Grécia até a legião de santos
educadores que seguiram as pegadas de Jesus Mestre.
É necessário que desde o município, passando pelo estado e
alcançando o país haja uma verdadeira e sadia reforma quanto à
168
preparação científica e moral dos docentes. Haja bolsas de estudos para
formar mestres competentes, que as instituições religiosas dêem exemplo
de preparação de mestres entusiastas no seguimento do Mestre por
excelência para ter uma sociedade melhor numa terra sem males.
Correio do Povo, 06/03/2002, p. 4, Opinião.
“Queremos mais professores ...”
A imprensa desta semana apresentou significativa manchete —
Protesto de estudantes na França mobiliza 100 mil. Nas primeiras semanas de
aula, após as férias do verão europeu, os estudantes franceses se mobilizaram
em 140 cidades da França gritando: “Queremos mais professores ...” É um grito
juvenil que ressoa nos umbrais de novo ano letivo, no término de um século, no
alvorecer de novo milênio. Entre nós as vozes soam diversamente celebrando
menor evasão das aulas, graças ao método de não-reprovação... Tudo estará
tão tranqüilo assim sob o céu do Cruzeiro do Sul? As marchas dos professores
do norte, do leste, do oeste sobre Brasília o que procuram? Os professores
querem ser ouvidos, querem ser respeitados, tratados como cidadãos
vocacionados para uma tarefa ingente: formar gente! formar filhos da Pátria;
formar cidadãos, filhos de Deus!
Mais um dia do professor em nossas vidas, mais uma folhinha a cair do
bloco do calendário, são tantas as folhas caindo no outono europeu, tantas
folhas a reverdecerem nos ramos que florescem em nossas primaveras.
Como serão os frutos? Como é que está sendo preparada a geração do novo
milênio? A dança dos métodos, o entrechoque das ideologias, a solidez dos
princípios, quanta coisa é necessária para o professor esculpir a nova
humanidade na tosca pedra das novas gerações... A Universidade, a Escola
169
normal, os cursos de magistério, são os formadores de professores: pessoas
que vivem o presente, olhando o passado e gerando o porvir. Assim, como no
Gênesis, cada professor, cada escola pode repetir a famosa e divina
sentença: “Façamos o homem e a mulher à nossa semelhança.” Será que o
labor do mestre chega a modelar um ser humano livre, inteligente e capaz do
amor construtivo da nova humanidade? Como são formados os mestres, tais
serão os discípulos em todos os níveis de ensino e de educação.
Neste 15 de outubro, ao mestre com amor e carinho, não só no beijo
ingênuo e inocente das crianças e adolescentes, mas também pela ação
decisiva do Estado garantindo o justo salário, assegurando dias melhores
aos professores e famílias. O mestre sentindo-se amado e respeitado pelas
famílias, pelos alunos, pela sociedade, tem ânimo de ir adiante e responder
com entusiasmo ao grito lancinante dos adolescentes: queremos mais
professores e melhores condições materiais de ensino. Na alegria do
semeador a semente jogada nos corações germina e frutifica, prometendo a
verdadeira civilização do AMOR.
Correio do Povo, 21/10/1999 , p. 4, Opinião.
Flores, frutos, formaturas
Vivemos este verão escaldante em que se colhem tantas flores, tantos
frutos, em que se realizam tantas formaturas. São diplomas colhidos após
longos e trabalhosos anos, frutos de paciente e concentrada dedicação ao
estudo, à investigação científico-literário-filosófica. Tudo para se ter na
sociedade uma pessoa renovadora, sinalizadora de novos caminhos e de outros
horizontes de progresso e paz. Na.hora de formatura, quanta beleza, quantas
flores, quantos risos e quantas lágrimas de alegria. Justifica o salmo que reza
170
assim: “Aqueles que semeiam entre lágrimas colherão com a alegria ...”. Valeu
a pena fazer os sacrifícios de pais, de cônjuges, de irmãos e de namorados.
Estão aí lindos ramalhetes, estão aí os frutos sazonados amadurecidos ao
longo do percurso de quatro a seis anos. Nessa hora pouco contam os
sacrifícios da caminhada, pouco valem as horas passadas sobre os livros,
diante da telinha do computador, nos laboratórios ou nas bibliotecas, pois
brilham as luzes da formatura.
Nesta temporada assisti a algumas formaturas, encontrei ali entusiasmo,
agradecimentos aos pais, aos mestres, à faculdade; esperança de um emprego
imediato. Assisti à formatura da Educação Matemática, na URI, Campus de
Erechim. Dezoito licenciados prestaram seu juramento de revigorar o ensino, de
oferecer à juventude de nossa terra aulas melhores, educação aprimorada para a
formação de cidadãos honestos e responsáveis pela pátria que desejamos ver e
viver forte e feliz. Como é belo presenciar tantos jovens, vencedores, de um
currículo, sonhadores de uma missão especial, renovadora do ensino, semeadora
de novas e seguras esperanças e certezas de uma existência melhor, apesar dos
prenúncios augurentos. Só o amor constrói, dá ânimo e ensina a viver.
A valorização do magistério, eis a tônica da formatura, quer dos
mestres, quer dos novos licenciados em Educação Matemática. Amar a
vocação, valorizar a profissão, acreditar em Deus para que cresça o amor na
vida e nos corações.
Correio do Povo, 24/01/1999, p. 4, Opinião.
O lado positivo do idoso
O Livro Sagrado, repleto de sabedoria, glorifica a idade avançada de
mulheres e homens que atravessaram as tempestades da existência. O
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salmo 89 enaltece os setenta anos e chama os oitenta anos de fato notável
quando a vida for vigorosa. O salmista ora a Deus: “Ensina-nos a contar
nossos dias para que venhamos a ter um coração sábio! Sacia-nos com o
teu amor pela manhã, e alegres, exultaremos nossos dias todos.”
A longevidade em toda a tradição bíblica e das culturas orientais e
ocidentais é bênção de Deus. O ideal da ciência da Medicina Geriátrica
preventiva é vida longa com saúde.
Para todas as etapas da vida é válida a Pedagogia da Positividade. O
idoso passou pela vida e agora olha os anos passados entre dificuldades,
acertos e desafios, sorri, vê como pôde vencer, vê como superou momentos
duros. Graças a Deus e à sua coragem venceu! O olhar para trás dá forças e
visão para estar com a visão atenta para frente. Como é belo ver os
sexagenários, os septuagenários os octogenários sorrindo à vida, sorrindo a
seus familiares, sorrindo aos amigos ao mesmo tempo em que sabem
sentir-se úteis. O que passou, passou, está no regaço da misericórdia e
bondade infinitas de Deus! O patamar de sua visão abriu o horizonte
apesar das miopias e presbitias, ele vê longe. A vida tem outros degraus, a
vida se prolonga sempre mais, pois transforma o ocaso numa rutilante
aurora. Os incômodos de cada dia, os achaques de cada idade se
transformam no gesto positivo de novo degrau, de nova maneira de colher
outros frutos que alimentam a esperança e revigoram a fé na vivência do
verdadeiro AMOR.
Como é bela a cena em que o idoso aparece sorrindo, em que o
idoso recebe as atenções dos familiares, crianças, jovens e adultos que
vêem no avô, na avó, aquele momento de sabedoria. O elã esmorece, mas a
voz enfraquecida diz tantas palavras carregadas de vigor e de sabedoria...
Ver o mundo, a vida, as pessoas, os acontecimentos com positividade
não é iludir-se ou iludir, é saber viver o dia-a-dia sub specie aeternitatis (sob a
172
luz da eternidade) em que o sol da vida brilha sempre no coração que sabe e
pode amar além dos tropeços do existir, além da luz opaca dos desânimos.
Viver positivamente é resgatar para si e para outros a beleza, o bem e o
verdadeiro que estão nas pessoas, nas coisas e nos acontecimentos.
Jornal do Comércio, 18/10/1993, p. 13, 2° Caderno.
Como é belo o Rosário!
Como é belo ver o Rosário nas mãos de uma pessoa orante,
contemplativa das glórias e encantos da Vida de Jesus Cristo e de Nossa
Senhora! O terço do Rosário em sua vida redentora de mais de 700 anos, levou
muitíssima gente a rezar numa relação de amor com Deus.
Frei Betto, em artigo recente em O Estado de São Paulo (22/09/99)
escreve coisas lindas sobre o ato de orar. “Na oração é preciso entregar-se
a Deus. Deixar que ele ore em nós. Se temos resistência à oração, é
porque, muitas vezes, tememos a exigência de conversão que ela encerra.
Parar diante de Deus é parar diante de si mesmo”.
A reza do terço é este ato de entregar-se a Deus pela recitação das
avemarias, na suavidade monótona de nossa voz, o coração em
contemplação dos grandes acontecimentos da encarnação, vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo, na presença da Mãe Medianeira.
Como a Santa Madre Igreja é sábia ao recomendar a reza do terço
do rosário em horas quietas do dia ou da tarde, a reza em família, em
pequenos grupos, na contemplação dos grandes mistérios que resumem a
vida de cada cristão nesta terra.
Como é belo o Rosário nas mãos de uma pessoa idosa, de uma
pessoa adulta, de um jovem ou de uma jovem ao repassar das contas e ao
173
balbuciar carinhoso das ave-marias e dos pai-nossos. As fadigas, as
pressões, a agitação do dia tudo se harmoniza pois a reza do terço
descansa, repousa no Coração de Jesus e nos braços da Boa Mãe.
lgaçaba, 07/10/1999, Roque Gonzales/RS, nº 29, No Mundo da Cultura.
A vida é bela!
Ao abrir-se a manhã de um novo ano, do Ano 2000, como a vida sorri
bela e promissora!
O nosso caro poeta de Itaqui, Paulo Corrêa Lopes, cujo centenário de
nascimento celebramos em 1998, no belo poema LARGAI as velas conclui com
os versos: E vereis como é mais bela a vida entre relâmpagos e abismos!
Apesar de tudo a vida é bela! É o maior dom que recebemos da
Divina Providência que zela por nós dia e noite com o olhar e o
carinho de Pai.
A cada dia novo tesouro se nos apresenta para valorizá-lo em saúde,
bemestar, atividade cultural e aperfeiçoamento espiritual.
Quantos exemplos extraordinários de pessoas encarceradas no leito
de dor, às vezes, imóveis, às vezes, dependentes totalmente da mão
caridosa de outrem, aquele sorriso nos lábios sofridos nos diz: Como é bela
a vida! A vida é bela pelo valor humano-divino que ela tem. Por um ato de
amor de um homem e de uma mulher Deus nos destinou à existência.
Quantos ficaram a meio caminho, quantos não tiveram a dita de ver o dia de
nascimento e nós o tivemos! Não só aquele venturoso dia como outras
centenas e outros milhares de dias
E o nosso coração repete no seu pulsar: Como é bela a vida!
174
Cada um de nós tem uma missão a cumprir em tantos dias, em
tantos anos, conforme os altos e amorosos desígnios de Deus! Alguns
cumprem sua missão em poucos meses ou poucos anos, outros avançam
nas décadas... No dia 22 de janeiro o grande jornalista, presidente da
Associação Brasileira de Imprensa, Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho,
completou 103 anos. Ainda escreve, ainda dirige a A.B.l., ainda é um lutador
em prol da liberdade de expressão e da imprensa.
Nos festejos destes dias, ele canta um hino centenário que inicia com a
exclamação: Como é bela a vida!
A cada dia, ao despertar pela manhã, elevemos a Deus o Cântico de
agradecimento que “Vai acordar a aurora!” É um novo dia de dar a glória a Deus,
de realizar o bem aos outros, de traduzir a beleza da vida com nosso sorriso que
reconforta e anima as pessoas de nosso convívio de nosso ambiente de trabalho.
Encerro esta louvação à vida com os versos da canção italiana:
Vivere! Che la vita é bela!
Vivere sempre più!
A Platéia, 17/02/2000, p. 10, Opinião e Jornal Novo Milênio, 14/02/2000,
p. 07, Artigos.
O outro existe. E eu?
Estamos vivendo uma atmosfera carregada de egoísmos, Parece, para
muita gente, que só existe o eu. Tudo converge para a pessoa que se considera
o centro de tudo num grupo social, numa comunidade. Tudo e todos dependem
daquele centro - egocêntrico. Nada há de mais anti-evangélico do que o
egoísmo. Jesus Cristo pregou e realizou em sua vida a grande missão de servir.
“O maior dentre vós deve ser aquele que serve” Jesus Cristo, homem-
Deus, é o exemplo espetacular de solidariedade, de serviço. A grande lição do
175
lava-pés, naquela derradeira noite de sua vida peregrina neste mundo... Vale a
pena reler aquela página sublime escrita por São João.
Ainda depois da Ressurreição, Jesus Cristo continua sendo Aquele-
que-serve. A caminho de Emaús, no lago do Tiberíades, no Cenáculo, sempre o
Mestre a servir não só a Fé dos discípulos, como a fome e as dúvidas. Maria
Santíssima, a Mãe do sublime amor, quanta caridade, quanta solidariedade
para com cada um dos discípulos do Filho, para as pessoas necessitadas de
qualquer raça, língua ou crença. Ela é a Mãe solícita, todos somos filhos da São
Marcelino Champagnat, exemplo perene de serviço aos colegas, aos irmãos,
aos alunos. Olhando para estes exemplos quanto devemos fazer para vencer o
nosso enrustido egoísmo, e ser os verdadeiros servos de quem está perto de
nós e das pessoas que vêm até nós!
Igaçaba, 11/06/2000, Roque Gonzales/RS, n° 37, No Mundo da Cultura.
Natal, Novo Milênio!
Bimbalhavam os sinos em todas as igrejas da terra: É NATAL! Jesus
nasceu, Jesus inaugura novo milênio... Que força extraordinária tem o
sorriso dessa criança que sorri, que chora sobre a caminha de palha. A força
do infante se opõe aos fortes, aos dominadores soberbos dos caducos
remos deste mundo. Ei-lo Jesus o doce menino, embalado nos braços
virginais da donzela Maria. A fraqueza, a ternura, a meiguice vencem os
olhares arrogantes, as forças das bombas dos potentados, elas vencem
porque são a força miraculosa de Deus.
Jesus pequenino atrai todos a si, não se apavora daquele velho vestido
de vermelho que mente com abraços e promessas. Jesus Menino é a
expressão da Verdade que brilha no presépio franciscano, aquele velho com
176
nome de pai, infecundo, joga mentiras aos ouvidos inocentes. São as mentiras
do consumismo, dos presentes sem a presença do afeto, dos abraços frios e
calculados que não têm o calor revitalizante do AMOR, daquele que é Senhor
do céu e da terra, e que, para conquistar os corações se fez CRIANÇA.
Jesus Menino em nossos corações pela sinceridade das atitudes;
Jesus Menino em nossa família pelo amor e pelo perdão sincero que revive
os corações; Jesus Menino acompanha nossos passos pelas mãos de Maria
e de José na simplicidade de vida, na verdade e no Amor da PALAVRA que
une, que salva no verdadeiro amplexo de AMOR. Assim o Natal é feliz,
assim o terceiro Milênio nasce com muita fé, com muita esperança coroada
com as luzes do AMOR.
Muitas são as luzes nas ruas, nos edifícios, tudo é tão lindo e
maravilhoso em nossas cidades, vilas e povoados. É preciso que se acendam
as verdadeiras luzes da Fé de quem disse: Eu sou a Luz do mundo! Não é
possível andar nas trevas. Nascemos, vivemos na luz e para a Luz.
Naquela manjedoura de Belém conflagrada como seria maravilhoso
ouvir de novo as vozes dos anjos aos pastores: “Glória a Deus nas alturas e paz
na terra aos corações que amam a Deus”. E no canto e no encanto daquelas
vozes repercutindo em cada coração humano surgirá nova terra e novo céu no
terceiro milênio, para a alegria dos que sabem viver com justiça e amor.
Correio do Povo, 22/12/2000, p. 4, Opinião e A Notícia, 28/12/2000, p.
4, Segundo Caderno.
Natal, para quê?
Dentro de poucos dias estamos no Natal, festejando o nascimento do
VERBO de Deus que se fez homem. É a união hipostática do SER infinito com
a criatura finita, do SER por excelência com o relativo frágil e mensurável.
177
Observando as imensas invenções de nossa civilização, o que vemos? O
que temos? Publicidade de bens perecíveis, alarde de preços competitivos
para coisas que satisfazem de imediato as necessidades de ter mais
objetos, coisas que amanhã são obsoletas, que amanhã se colocam de lado,
talvez numa lixeira...
Então pergunto: Natal para quê? Para termos mais entulhos em nossos
aposentos? Mais aparelhos eletrônicos para distrair a minha atenção, minha
necessidade de recolhimento, de silêncio à contemplação daquele Infante
pequenino? A Igreja me convida nas quatro semanas do Advento a preparar o
caminho do Senhor Jesus que procura sua morada no coração de cada pessoa,
que deseja dar amor a tanta gente ensurdecida pelo barulho de instrumentos,
pelo ruído do espocar de foguetes e rojões...
Natal para quê? É o momento especial para uma pausa, urna parada
no frenesi de nossas ingentes e estressantes atividades. A campina de Belém
naquela noite memorável celebrava o silêncio, os astros na imensidão do
universo percorriam suas óbitas mais lentos, mais silenciosos para não
pertubarem o silêncio misterioso da gruta santa. Os pastores, aquelas
pessoas simples, vigiavam os rebanhos, defendiam-se dos gélidos ventos. As
sanfonas entoavam cantigas gregorianas na unção da Fé e no pulsar da
Esperança. O Salvador deveria vir numa noite assim, dominada pelo silêncio de
tantos séculos; o Salvador deveria chegar numa paisagem em que a PAZ
soberana dominava silente e misteriosa. E assim Jesus nasceu, a Esperança de
milênios completava o ciclo do mistério da Revelação. Ei-lo deitado na
manjedoura, o Infante pequenino. É Infante, não falante, fala por seu sorriso,
pelo brilho daqueles olhos que penetram as penumbras do coração...
Aquelas mãozinhas sentem as pontas agudas das palhas. O soberano
do universo, ei-lo pequenino, indefeso, entregue às vicissitudes da temporada
álgida e curtindo a indiferença dos albergues bem aquecidos, dos salões
iluminados onde as músicas, os ruidosos bailes, profanam o silêncio da Noite
178
Santa. Natal para quê? Para ter para mim, para meus parentes e amigos aquela
hora redentora de silêncio e comtemplação!...
Correio do Povo, 24 e 25/12/2002, p. 4, Opinião.
A coisa mais importante
No dia 17 de junho de 1999 a Igreja perdia uma das grandes figuras
que lhe dera mais prestígio neste final de século: o cardeal Basil Hume, primaz
da Inglaterra e do país de Gales. Na idade de 76 anos o novel arcebispo de
Westminster morria em conseqüência dum câncer que se revelara dois meses
antes. Segundo o comunicado oficial do arcebispado: “Sem sofrer e com
serenidade”. A serenidade era realmente a virtude que o definiu melhor em vida.
Era a sua característica que o distinguia no episcopado católico. Paulo VI o
nomeou cardeal da Grã-Bretanha, em 1976. Em 1994 foi relator no Sínodo
sobre a vida religiosa.
Em sua relação com a Igreja universal e seus irmãos bispos teve uma
ação notável de elevação espiritual.
Numa assembléia de bispos da Europa deixou uma alocução primorosa
sob o título — A coisa mais importante.
Muitas pessoas se fazem a pergunta: que tipo de Igreja deve emergir
no século XXI? Farei outra pergunta antes da resposta, que tipo de pessoas
querem ser?
À medida em que avança em seu peregrinar na história, a Igreja há-se
ser continuamente purificada e renovada.
Enquanto as pessoas se preparam para viver no século XXI quereria
sugerir nova reflexão sobre importante passagem da Evangelii nuntiandi; escrita por
Paulo VI em 1975: “O mundo ... reclama evangelizadores que falem de um Deus
179
que conhecem e que tratam familiarmente como se vissem o invisível.” Notem bem
as últimas palavras: como se vissem o invisível. Este paradoxo é muito importante.
Com os olhos da fé, deve-se olhar mais além das coisas visíveis que possam ver e
contemplar as coisas invisíveis que não podem ver (RM 1,19).
Em 1997, João Paulo II falando na reunião do Conselho das
conferências episcopais européias afirmou que os anunciadores do Evangelho
“sejam experts em humanidade, conheçam as profundezas do coração humano,
possam compartilhar as alegrias e as esperanças, as angústias e os
sofrimentos das pessoas de hoje, sejam ao mesmo tempo contemplativos
enamorados de Deus”.
Todos nós na Igreja devemos ser mais espirituais. A oração é uma
prioridade para todos nós. Hoje, as pessoas pedem com insistência que se lhes
ensine a rezar e a lhes dar um sentido mais profundo do que é a vida. As
pessoas buscam a espiritualidade. Faz alguns anos fui convidado, diz o cardeal
Home, a falar a um numeroso grupo de profissionais dirigentes de empresa e
pessoas desse ramo. Pediram-me o tema: “Espiritualidade e moralidade”. É
esta a grande necessidade do nosso tempo. As pessoas querem ouvir falar de
Deus e da nossa relação com Ele.
Querem que as pessoas que indicam os caminhos como se
pudessem ver o invisível e sejam realmente enamoradas de Deus. O povo
de Deus peregrino que acaba de entrar no novo milênio, há de tornar a
encontrar o peregrino que avança na direção oposta, aquele que é o
Caminho, A Verdade e A Vida, aquele que vendo-o, se vê o Pai. Para que
Cristo renasça em nosso mundo.
(Tradução do texto colhido do livro He tingut un sommi)
Igaçaba, 11/06/2001, Roque Gonzales/RS, n° 49, Cultura.
180
Novo Millennio ineunte
João Paulo lI, no dia 6 de janeiro, ao encerrar solenemente o jubileu,
lançou a carta apostólica Novo MILLENNIO INEUNTE, em português NO INÍCIO
DO NOVO MILÊNIO. O latim é sintético, o português é analítico daí a diferença no
título da carta apostólica. É a um tempo, relatório do ano jubilar e a prospectiva para
o milênio que inicia. A motivação do papa é o Evangelho de Lucas 5,4 em que
Cristo diz a Pedro: Duc in altum! (conduze a barca para o alto mar!).
O primeiro capítulo — Encontro com cristo, legado do Grande jubileu. A
memória traz à leitura os principais fatos do Ano 2000!
O segundo capítulo — Um Rosto a contemplar caracteriza-se por uma
forte inspiração contemplativa. O Papa convida a Igreja a aprofundar a
contemplação do mistério de Cristo, permanecendo com os olhos fixos no seu
divino Rosto. Lembra o episódio de Marta e Maria (Lc 10, 41) Maria escolheu a
melhor parte.
O terceiro capítulo entra na programação — Partir de Cristo — convoca
as igrejas locais a prosseguir e aprofundar a sua programação pastoral,
conforme as exigências dos diversos contextos. A pastoral deve assentar sobre
a experiência de uma fé sólida. Convite à oração pessoal, comunitária e
litúrgica, meta e fonte da vida eclesial. É preciso redescobrir o domingo, a
Páscoa da semana! Fazendo da Eucaristia o coração da vida das pessoas, das
famílias e das comunidades.
O último capítulo — Testemunhas do amor continua a falar da
programação na vertente da comunhão, da caridade e do testemunho no
mundo. A Koinomia, vista pelo Concílio Vaticano II como categoria central para
descrever o próprio mistério da Igreja, partindo de sua dimensão espiritual para
passar às exigências que daí derivam. O cristão não pode esquivar-se dos
compromissos ligados ao bem-estar de seus concidadãos, dos seus familiares,
dos seus coirmãos.
181
A Carta encerra suas iluminações e convites como havia começado
recordando a ordem de Jesus a Pedro: Duc in altum. Aqui estaria bem o poema
de Paulo Corrêa Lopes: Largai as velas!
Largai as velas que o mar é largo!
Para longe, para o fim de tudo!
Largai as velas
e vereis como é mais bela a vida
entre relâmpagos e abismos!
Largai as velas que o mar é largo
e embala os corações
que não tremem diante do mistério. (O Pp.75)
Igaçaba, 11/04/2001, Roque Gonzales/RS, n° 46, No Mundo da Cultura.
L’osservatore Romano: 140 anos
No dia 1° de julho celebrou-se os 140 anos de L’OSSERVATORE
ROMANO, jornal da Santa Sé. O ano de 1861 marca uma época difícil para a
Igreja Católica e para a Itália, ameaças da derrubada dos Estados Pontifícios,
lutas contra as posições do Papa Pio IX que defende o cristianismo haurido no
Evangelho de Jesus Cristo e do Magistério eclesiástico. Surgiu entre as névoas
da descrença e do anticlericalismo o Observador, houve naqueles dias outros
jornais com esse nome na Inglaterra, na França e Estados Unidos. O n°1 de
L’OSSERVATORE se pergunta: “Em que momento o OR vem tomar lugar entre
o imenso número de jornais italianos? Essa é a grande pergunta que todos
fazem e que nós fizemos desde logo. A Itália dividida, a Igreja combatida, os
cristãos perplexos... Todos necessitam de uma diretriz de pensamento e de
182
conduta...” Aí está desde o começo dos 140 anos dileneada a missão do
Osservatore Romano. Vieram as tempestades da guerra contra os Estados
Pontifícios, a expoliação da Santa Sé. O Papa aprisionado em sua residência
vaticana. O 1°Concílio Ecumênico Vaticano, em 1870... A morte de Pio IX, o
longo e luzente pontificado de Leão XIII, depois seguiu-se a doçura e a firmeza
de São Pio X. A seguir veio Bento XV que sofreu com os horrores da I Grande
Guerra. Surgiu depois Pio XI, com a ação católica no enfrentamento dos
totalitarismos nazi-fascista-marxistas. O Beato Papa Giovanni com as luzes
do Concílio Vaticano II, continuado por Paulo VI, e em 1978 com João Paulo
II até hoje. L’OSSERVATORE ROMANO a tudo acompanhava, tudo
registrou em suas páginas que são a memória de século e meio de história
de lutas, de sacrifícios, de mortandades e de resurreição para nova VIDA, na
primavera dos tempos.
No dia 1º de julho, o Papa João Paulo II dirigiu comovente saudação à
família de L’OSSERVATORE ROMANO na hora do Angelus na Praça São
Pedro. Além disso escreveu importante mensagem ao corpo dirigente e a todos
os jornalistas, repórteres, gráficas, numa palavra a toda a família do jornal que
completou 140 anos, mantido pelos católicos italianos e pelos católicos de
Outros países.
O jornal teve papel importantíssimo no ano do jubileu: “além de dar uma
visão cósmica da vida da Igreja, fortemente unida à cátedra de Pedro, oferece a
imagem de uma Igreja aberta às expectativas do mundo, chamada a ser em
Cristo, como que sacramentou sinal e também instrumento da união íntima com
Deus e da Unidade de todo o gênero humano”. Bela lição de
L’OSSERVATORE! Vamos manter nosso jornal!
Igaçaba, 11/09/2001, Roque Gonzales/RS, n° 52, Cultura.
183
A liberdade de servir
Jesus Cristo ao entrar no mundo disse: “Meu Pai, estou aqui, para fazer
a tua vontade! Estarei sempre a serviço dos homens e mulheres segundo a
vontade do Pai celeste.”
Maria de Nazaré, ao ser visitada pelo arcanjo Gabriel, perguntada se
aceitaria ser a mãe de Jesus, respondeu: ‘Eis aqui a Serva do Senbor faça-se
em mim segundo a tua palavra.”...
Padre Marcelino Champagnat, diante do altar da Virgem em Fourvière,
naquele mês de julho de 1816, pronunciou no fundo de seu coração: “Eis-me,
aqui, minha Boa Mãe.”...
Três grandíssimos exemplos, espelhos das almas que procuram a vida
mais conforme a vontade de Deus, mais segundo as raízes do Evangelho, mais
radical, no serviço de Jesus Cristo e de seus irmãos e irmãs neste mundo.
Olhando para cada uma das pessoas mencionadas vemos quanto
sofreram, quanto se devotaram para servir os outros! E nós quereríamos imitar
os nossos modelos sem sofrer, sem servir os outros na alegria, na dor, na
saúde, na doença?!...
O santo homem Job exclamou: “Militia est vita hominis super terram”
(luta e trabalho é a vida do homem sobre aterra). Ninguém escapa a esse
imperativo, nem mesmo os comodistas que relutam em reconhecê-lo: desertam
das fileiras de Cristo e afadigam-se em outras contendas para satisfazerem a
sua poltronaria, a sua vaidade, as suas ambições mesquinhas; andam escravos
dos seus caprichos” (Bem-aventurado Josemaría Escrivá, em Amigos de Deus,
homilia p. 228).
Como está a tua vida, tu que me lês? Como está o teu serviço em tua e
à tua família ou à tua comunidade?
Segues o exemplo de quem veio ao mundo para servir ou estás nas
hostes de quem exclamou e viveu e vive: “Non serviam? (Não servirei!)
184
Para bem servir os outros é preciso começar a servir a Deus pela
oração e pela observância de seus mandamentos.
Com as bênçãos de Nossa Boa Mãe queremos ser os servos de nossos
irmãos e irmãs. Servindo sempre, porque servir é reinar!
Versão Semanal, 04 a 10/10/2001, Porto Alegre, p. 7, Opinião.
Adesão a Jesus Cristo
Antes de entrar no tema vejamos o significado de adesão: união
estreita, participação com alguém. Adesão a Jesus Cristo acontece quando
renunciamos ao “mundo”, aos vínculos familiares e àquilo que nos aprisiona.
Quem optar por Jesus Cristo está livre das armadilhas do mundo. Esta opção,
porém, exige maturidade, pois requer um comportamento baseado
essencialmente no ensinamento do Evangelho (Liturgia Diária p. 35). As leituras
propostas pelo XXIII domingo do tempo comum insistem na adesão total e
radical (na raiz) de nosso ser a Jesus Cristo que é ontem, é hoje e será sempre
o mesmo. Os tempos mudam, as gerações mudam Cristo é sempre o mesmo,
pois é Deus. O Evangelho de São Lucas 14, 25-33, fala claríssimamente: “Se
alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e
filhos, seus irmãos e suas irmãs e até de sua própria vida, não pode ser meu
discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode
ser meu discípulo.” A citação é longa e lúcida, a palavra de Jesus é clara e vital.
Devemos entendê-la no íntimo de seu amor supremo. Ele é o amor primeiro,
mais importante, o amor às pessoas mais caras deve ser em vista de seu Amor.
Como é belo aderir a Jesus Cristo, pois pertencemos a Ele pela nossa
criação e especialmente por nosso batismo. Mas ainda se tivermos a graça da
vocação religiosa ou da sagração sacerdotal. São degraus diferentes da adesão
185
formal a Jesus Cristo. A adesão pessoal a Jesus se mede pelo amor de cada
coração. A medida do amor é não ter medida pois extrapola todas as medidas.
A adesão a Jesus se manifesta na imitação das virtudes de Maria
Santíssima, a “Virgem Mãe” filha de seu filho (Divina Comédia). Como Maria ao
dealbar do dia rezam-se os salmos de louvor, que “despertam a aurora”, para
começar o convívio de amor de um novo dia. Consagram-se a Ele todas as
horas de trabalho. Volta-se a Ele, ao fim da manhã, glorificando a Deus na
recitação do terço, saltério precioso das almas simples e amorosas. Retomam-
se os trabalhos com as tarefas, as pessoas, as preocupações. Santa Missa,
pela manhã ou a tarde é o momento sublime da demonstração sincera e feliz de
nossa adesão a Cristo, gotas de água que se misturam com o vinho, que será
sangue do Senhor.
Ao cair da tarde, ao fechar-se a pálpebra do dia novamente volta-se aos
salmos, oração predileta de Jesus, em que pulsa o coração amoroso da Igreja,
corpo místico de Cristo. São as vésperas ou as completas, horas de louvor e de
ação de graças a Deus, junto com Nossa Senhora, como rezava São Marcelino,
como rezavam e como rezam tantos irmãos nossos. Eis a crônica da adesão a
Jesus, sendo fiéis a ela seremos os verdadeiros filhos de nossas famílias e
verdadeiros sustentáculos de nossas comunidades pois o nosso amor radical a
Jesus Cristo santifica os nossos atos, enraíza solidamente nossos afetos
regulados no amor supremo a Jesus. A alegria cantará em nossos lábios e o
nosso coração exultará em perene louvor nesta terra para perlustrar as moradas
eternas! Como é belo, como vale a pena aderir à pessoa de Jesus Cristo!
Igaçaba, 11/2001, Roque Gonzales/RS, n° 54, Cultura.
186
Como é belo viver!
Os dias e os anos sucedem-se na cremalheira da existência
trazendo horas alegres, minutos e jornadas tristes. Tudo isso compõe a vida
do ser humano que vem da infinita bondade de Deus e se realiza no
profundo gesto de amor de um homem e de uma mulher. Quantas coisas
acontecem do berço ao túmulo!... O santo homem Jó, personagem
misterioso da Bíblia Sagrada, aparece sem antecedentes e desaparece da
história num virar a folha, diz muitas coisas sobre a vida: felizes, tristes
sempre profundas e verdadeiras. Todos contemplamos a vida, nem todos a
vivemos pois ela exige nossa adesão, nossa entrega à missão pela qual
Deus no-la colocou à nossa disposição.
Não somos donos de nossa vida, somos arrendatários. Conseguiremos
a verdadeira VIDA se soubermos administrar os dias e os anos no peregrinar
terrestre. Temos diante de nós quem soube dar um sentido profundo da
existência: Jesus Cristo. Ele conhece o que há no homem e o que vale a vida
do homem, sopro e sombra que passam para o salmista, para Ele valor imenso
pelo qual morreu e ressurgiu! O Mestre intitulou-se: Caminho, Verdade e Vida.
Por isso é que vale à pena viver, por isso é que uma vida tem valor imenso... A
canção expressa com entusiasmo: Vivere che la vita è bella, vivere sempre più
(viver que a vida é bela, viver sempre mais!).
Paulo Corrêa Lopes, poeta da vida e do amor traduziu num poema todo
o mistério da vida, todas as provações, belezas, contradições, prostrações e
vitórias. Poema sublime pela sonoridade e pela luminosidade de suas
mensagens: Largai as velas. Largai as velas que o mar é largo! Para o longe,
para o fim de tudo! Largai as velas / e vereis como é mais bela a vida / entre
relâmpagos e abismos! Largai as velas que o mar é largo / e embala os
corações que não tremem diante do mistério.
187
(Obra poética, p. 75) Com tudo isso, como é belo viver, com a Luz
divina a conduzir os passos e a alegria a iluminar o coração.
Correio do Povo, 16/11/2001, p.4, Opinião e Igaçaba, 12/2001, nº 55/A,
p. 4, Cultura.
O Tempo Voa...
Bela expressão popular, ouvida tantas vezes: Como o tempo voa... como
corre. Já dizia o velho Parmênides: PANTA REI, (tudo corre)... E nós corremos junto
com as cascatas, com as corredeiras que tudo levam, tudo arrastam para o abismo
da eternidade. A existência do ser humano se esfuma e se fenece como a erva do
campo que nasce de manhã e à tarde se estiola e seca. A fugacidade do tempo, da
existência que se esvai, mas a vida é o grande dom que Deus confiou e confia a cada
pessoa para que a administre com cuidado, para que seja rentável para o próprio
bem, para o bem dos outros e para a glória de Deus Pai. Santo Inácio de Loyola
entendeu bem isso colocando para si e para a Sociedade de Jesus, o lema: AD
MAJOREM DEI GLORIAM (que tudo seja para a maior Glória de Deus). Com este
mote a vida se transforma em hino de louvor a Deus e aos nossos semelhantes.
O instante fugidio que serviu para enxugar uma lágrima; para fazer sorrir
alguém; para dar alento aos desfalecidos, para soerguer os desvalidos e deprimidos,
esta fração de tempo tem valor incalculável pois serviu ao outro, foi instante redentor.
À beira do lago que é o ano 2002, contemplamos o horizonte de indefinições,
de incertezas, de surpresas agradáveis ou de sobressaltos. São os segundos, os
minutos que se escoam lentos ou rápidos, carregados de graça, pois foram remidos
pelo sangue do Redentor. Na clepsidra do tempo quanta alegria, quanta dor
superada, quanto amor que rompe as paredes egotistas para tornar-se serviço ao
outro, para transformar-se em pão que sacia a fome de amor.
188
O ano 2002, palíndromo que deixa-se ler em dois sentidos e que
esconde segredos ocultos desde os arcanos do princípio do mundo, que a
Palavra que é o Jesus Menino sabe desvelar, tirar-lhe os véus para que se
contemple a maravilha do ser humano que vive, que morre e ressuscita a
cada dia, a cada hora e a cada instante. Fugaz é o tempo, estática é a
eternidade, como um sopro é a vida do homem, o espírito salva e vivifica
todos os mortos na planície dos anos e nos alcantis das tragédias ou nos
vales misteriosos da vida.
Como é belo o tempo! Como é maravilhoso o ano 2002, que nos
oferece tantas oportunidades e modalidades de sermos bons, de sermos
melhores para o nosso bem, para o bem dos outros, celebrando a
glória de Deus!
O Estafeta, 09/01/2002, p. 2, Opinião e Igaçaba, 02/2002, p. 4, Cultura.
A arte da oração
O papa João Paulo II não se cansa de exortar todas as pessoas do
mundo para a oração. No dia 8 de setembro, na breve alocução mariana
salientou: “Está na oração o segredo para enfrentar as vicissitudes
dramáticas que causam desorientação e angústia”. A oração é a respiração
das almas e das verdadeiras relações dos filhos de Deus. Não há encontro
com o Papa que Ele não recorde a força maravilhosa da oração.
No domingo 6 de outubro acontece na Praça São Pedro, em Roma, a
canonização de JOSEMARÍA ESCRIVÁ, fundador do movimento do OPUS DEI.
O novo santo nasceu em 9 de janeiro de 1902 em Barbastro (Espanha). Aos 16
anos sentiu o chamado para a vida sacerdotal, sendo ordenado em 1925. Antes
de concluir a Teologia estudou Direito Civil, resultando anos depois o duplo
189
doutoramento. Desenvolveu seu apostolado em Saragoça no atendimento de
crianças, jovens e doentes abandonados, mudando-se depois para Madri. No
dia 2 de outubro de 1928, viu claramente o objetivo de sua vida: a fundação do
OPUS DEI, para difundir o Reino de Deus.
A partir de 1930 resolveu estender a OBRA entre as mulheres. Abria-se
assim na Igreja um caminho novo, destinado a promover, entre pessoas de
todas as classes sociais, a busca da santidade, e o exercício do apostolado
mediante a santificação do trabalho de cada dia, no meio do mundo e sem
mudar de estado de vida. Na Guerra Civil espanhola foi capelão militar
assistindo os jovens soldados (1936-38). Em 1943, no dia 14 de fevereiro
fundou unida ao OPUS DEI a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. A partir de
1946, Monsenhor Escrivá passou a residir em Roma. Dali estimulou e orientou a
difusão do OPUS DEI, por todo o mundo. Em 26 de junho de 1975 faleceu.
Mons. Escrivá foi consultor da Comissão Pontifícia para intervenção do Código
de Direito Canônico e da Sagrada Congregação de Seminários e
Universidades. Prelado de honra de sua Santidade e Acadêmico ad honorem da
Pontifícia Academia Romana de Teologia. Foi Grão-chanceler das
Universidades de Navarra (Espanha) e Piura (Peru). Havia, então mais de 60
mil pessoas empenhadas na OBRA, exercendo apostolado, assistindo pessoas
de todas as idades e condições, com a fidelidade na prática da arte de reza e
de ser apóstolo do Evangelho de Jesus Cristo.
Correio do Povo, 05/10/2002, p. 4, Opinião.
MATEUS — Evangelista da Felicidade
Dom Dadeus Grings preparou na entrada do 3° Milênio, o livro
MATEUS — o Evangelista da Felicidade que a EDIPUCRS publica sob a
190
chancela do n° 23 da Coleção Teologia. A obra MATEUS, o Evangelista da
Felicidade está calcada nos textos bíblicos do Evangelho propostos para o
tempo comum do ano A, que é o ano litúrgico de 2002. Serve de preparação
para a Liturgia destes 34 domingos e de reflexão para as homilias, levando a
um aprofundamento teológico-pastoral das propostas litúrgicas e para o
conhecimento pessoal da proposta de salvação feita pelo primeiro Evangelho.
O livro destina-se à reflexão mais aprofundada da mensagem cristã e
suas exigências de proporcionar a verdadeira felicidade aos homens. A obra de
Dom Dadeus extrapola os limites litúrgicos para integrar uma exposição
sistemática, baseada na riqueza da exposição doutrinária e espiritual
apresentada pelo Evangelho de Mateus.
A felicidade cristã situa-se entre dois grandes marcos: é anunciada pelas
“bem-aventuranças” do capítulo 5 e concretizada pelos benditos do Capítulo 25. Os
vinte capítulos intermediários apresentam as exigências e propostas divinas para a
busca da humanidade rumo à felicidade.
Mateus é o apóstolo que antes do chamado de Jesus Cristo era Levi, o
cobrador de impostos a serviço de Herodes e de Roma. À voz de Cristo: Vem e
segue-me! O publicano se transforma em discípulo. Sempre fiel ao Mestre,
profundo conhecedor dos textos bíblicos explicados pelos rabinos nas sinagogas. O
programa de Mateus foi de mostrar aos hebreus que Jesus Cristo era o Messias
segundo os textos sagrados. Entre os primitivos cristãos os textos de Mateus
formaram o primeiro Evangelho, escrito em aramaico logo traduzido para o grego.
Mais tarde São Jerônimo passou todos os textos bíblicos para a VULGATA.
Dom Dadeus Grings, doutor em Teologia, é exímio escritor de livros
espirituais, exegéticos, adaptados às exigências de nossos dias. A presente
obra é uma tentativa de explicitar e sintetizar a grande caminhada cristã,
centrada na fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, feito homem: Síntese de
teologia e espiritualidade bíblica, litúrgica e pastoral.
191
É o livro que se oferece ao leitor para seu crescimento na Fé e para a
abertura do horizonte da verdadeira FELICIDADE, fruto do AMOR.
Versão Semanal, 23 a 29/05/2002, Porto Alegre, p. 6, Opinião.
Como são belos os pés...
Isaias o grande profeta era um exímio poeta, sabia usar a metonímia, a
metáfora e outras figuras. Como são belos os pés dos que caminham sobre os
montes e anunciam a paz aos povos. Todos ouvem com amor e esperança os
anunciadores da paz. O mundo de hoje aspira pela paz, como Carlos
Drummond de Andrade nos famosos versos: “Quero a paz das estepes/ a paz
dos descampados/ a paz do pico de Itabira quando hatia pico de Itabira/ a paz
acima das Agulhas Negras/ a paz de muito abaixo da mina, mais funda e
esboroada de Morro Velho/a paz/da paz”. Ouve-se o clamor dos corações
angustiados, todos aspirando pela paz. O mundo, os homens de boa vontade
contemplando o Rei da Paz, naquele descampado de Belém... Os anjos
cantando a melodia da Paz, e as pessoas que amam a Deus, alcançam a paz.
Ao mesmo tempo neste início de 2003 ouvem-se os rumores de preparativos
bélicos. Porta-aviões transportam homens e artefatos para a morte. Os Reis
magos foram do portal do sol às planícies da Judéia para levar seus presentes
ao Menino Deus recém-nascido.
Hoje observam-se movimentos inversos do Ocidente para o Oriente,
ações preparatórias para a guerra. A humanidade vê, contempla estupefata
toda o maquinário de destruição e de morte. E todos se perguntam: para que
tanto conspiração para a morte quando todos querem viver, querem a paz?!
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Será que o grito de tantas criaturas inocentes ficará surdo perante os céus,
perante os ouvidos dos que querem a paz?
Boquiabertos homens livres convivem e exaltam a pessoa do tirano que
mantém nas masmorras um povo que suspira pela paz e pela liberdade... Tantas
contradições e tanto horror perante o céu da América perante o céu do universo!
Por que o homem louva os pés do mensageiro da paz e ao mesmo
tempo glorifica os átilas que procuram guerra, sob cujos passos não volta a
crescer a promessa de vida? Como associar na humanidade os mensageiros da
paz e os artífices da guerra, da tirania despótica? Os monarcas santos, os reis
magos, celebrados pelos cantadores de nosso folclore açoriano semeiam a paz,
a alegria de viver, porque acreditam na força suave, pacífica e divina daquela
criança que governa o mundo com a bondade do sorriso inocente, luzente de
Amor e de Paz!
Correio do Povo, 10/01/2003, p. 4, Opinião.
O Velho se faz Novo!
Vai 2002, trôpego, cansado, em seu caminhar inexorável de
Ashaverus...A meia-noite os relógios pararam, o velho cansado deixou cair
aquele saco escuro e pesado de 365 dias, todos vividos, sofridos, gozados,
ridículos de esperanças esfarrapadas... Por que tantas horas vividas, na
contradição, na contramão da Esperança e do Amor? Por que tanta mentira na
face da terra, na sociedade dos homens? É verdade que o salmista coloca em
dois versículos a tremenda e hilariante realidade:
Todo o homem é mentiroso... / Todo homem!...
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O poeta do salmo falou no masculino para atingir o feminino também.
Não se sabe quem mente mais. Infelizmente ou felizmente é uma prerrogativa
do gênero humano. Agora é preciso ver que o salmista também era HOMEM...
Mas no dia de Natal veio o Filho do homem, o Senhor da História. Aquele
que é a VERDADE, o CAMINHO e a VIDA. Ele nos indica a cada dia o CAMINHO
para andar na LUZ e não nas trevas.
Pois Ele disse: “Eu sou a LUZ do Mundo”. Porque os seus não o
conheceram, o mundo anda nas trevas, imersos em convulsões, em ameaças de
guerras e destruições. Por que tanto ódio no pequeno coração das pessoas? Por
que tantos projetos de terrorismo contra pessoas, contra grupos sociais, contra
cidades, contra nações e povos?
2003 vem mostrando seu rosto, risonho, hilariante, carrancudo,
ameaçador, carregado de ameaças, iracundo, inventando iraques de terror! As
alegrias de Natal persistem em sua força e em sua beleza para que o horizonte
rosicler possa anunciar a PAZ e a Beleza do viver das pessoas e dos povos!
Que Deus-Menino em seu sorriso pacífico e conquistador saiba nos dar
pela Virgem Mãe, horas de paz, de alegria e felicidade a todos os corações
abertos que amam o Senhor e sabem perdoar, para viver um ano feliz na
civilização do AMOR.
A platéia. 19/01/2003, Santana do Livramento, p. 6, Opinião, Jornal O
Mundo das Letras. 03/2003 Pelotas/RS, p. 6 e Jornal Braças Literárias, 04/ 2003,
Dom Pedrito/RS, p. 12.
Os 100 anos de Dom Vicente
No próximo dia 5 de fevereiro, Bom Princípio/RS e o Rio Grande do Sul
estarão em festa celebrando os 100 anos de nascimento de Dom Vicente
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Scherer, arcebispo e cardeal. A comissão central da celebrações presidida
por Mons. Antonio D. Lorenzatto já estabeleceu vasto calendário, a começar
pela Paróquia e pelo Município de Bom Princípio. Estão previstos os atos, no
dia 5 de fevereiro: Missa solene, oficiada pelo arcebispo Dom Dadeus
Grings; recepção festiva no Parque Municipal; inauguração do monumento;
abertura do Memorial Dom Vicente; almoço festivo, passeio de trenzinho
pela cidade, visita aos locais marcados pela vida do Cardeal Centenário. O
prefeito municipal, Jacob Nestor Seibel e o pároco P. Leonardo Reichert se
desvelam na preparação da abertura solene do centenário de Dom Vicente,
nascido no distrito de Santa Teresinha no dia 5 de fevereiro de 1903, 12°
filho da família de Pedro Scherer e de Ana Oppermann Scherer. Desde
adolescente resolveu seguir a vocação sacerdotal como outros dois irmãos.
Concluiu os estudos eclesiásticos em Roma, sendo ordenado em 1926.
Voltou para Porto Alegre, foi secretário particular do arcebispo Dom João
Becker (bispo de Porto Alegre 1912 a 1946). Em 1930 seguiu como capelão
militar os soldados gaúchos na Revolução de 1930. De retorno recebeu o
título de cônego. Em 1947 foi sagrado arcebispo de Porto Alegre, cargo que
exerceu até 1981. Por seus méritos apostólicos recebeu o titulo de Cardeal
pelo Papa Paulo VI. Participou dos conclaves que elegeram João Paulo I e
João Paulo II. Celebrar a vida apostólica do Cardeal Vicente Scherer
significa programar durante todo ano de 2003 solenidades nos diversos
setores beneficiados especialmente por ele. A Universidade Católica de que
foi professor titular e chanceler. A Santa Casa que o teve como provedor e
salvador a partir de 1981 até 1996. A voz do Pastor, suas falas das
segundas-feiras; o clero, o seminário de Viamão a paróquia da Catedral.
Haverá homenagens especiais na PUCRS, pequena biografia, conferências;
na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa, na Catedral. Durante todo
o ano centenário das dioceses, das paróquias, das famílias católicas do Rio
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Grande do Sul subirá um solene canto de ação de graças a Deus, pela vida
e pela obra imensa do Cardeal Vicente Scherer.
Jornal do Comércio, 27/01/2003, Porto Alegre, p. 4, Opinião.
Meus mestres, meus alunos
De passagem por Erechim tive a oportunidade de um gostoso diálogo
com os professores do colégio DOM. Foi na semana pedagógica daquela escola.
Levei o tema despretensioso: recordações de tempos idos e vividos. Recapitulei
meus dias de aluno, no Instituto Santo Antonio, de Garibaldi. Irmão Romualdo,
mestre de primeira viagem. Sessenta meninos no 1º Curso... A cartilha.
Ao voltar para casa, às 8h da noite, à luz do lampeão, meu pai que não
falava português, lia as páginas que eu repetia, não sei como. Depois veio o
Curso de admissão ao ginásio, em Bom Princípio, o Irmão Miguel Dario
preparava a redação, com esquema e os pontos principais. Mais adiante, o
Irmão Vendelino nos introduziu na dissertação dos textos argumentativos. Tive
mestres exigentes que amavam os alunos e queriam nosso progresso nos
estudos. Na Faculdade de Letras, no 1° ano tive os mestres Guilhermino César
em Língua Portuguesa; Elpídio Ferreira Paes, no Latim; Francisco Juruena nas
Literaturas Brasileira e Portuguesa. Deles recebi o exemplo de perseverança e
de entusiasmo pela investigação.
Não explicavam tudo, davam o início, indicavam o caminho. Essa
iniciação me acompanhou a vida inteira; Procurei transmitir a meus alunos o
entusiasmo pelo estudo e pela pesquisa em Língua Portuguesa. Lá em Rio
Grande, no Colégio São Francisco, os alunos escreviam belas descrições,
comoventes narrativas, sizudas dissertações. Faziam o que o Prof. Guilhermino
me ensinara: escrever ao correr da pena, preocupado com o relato, sem pensar
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na ortografia ou na correção dos textos. A partir de 1950 com pequenas
adaptações, os alunos dos Cursos de Letras escreviam textos bem
interessantes, discutiam elementos de estética literária; empreendiam as
aventuras da crítica. Em 1957 era introduzida a Estilística em Porto Alegre, em
nossas aulas. Depois vieram outros métodos, sempre, porém, a leitura séria,
amorosa e fecunda foi e é a base da crítica literária. Durante 50 anos tive
alunos e alunas maravilhosos. No percurso de meio século tive adolescentes,
jovens e adultos, todos alunos amados por mim. Sabia compreendê-los,
escutar-lhes as queixas, os temores e as limitações. Para o mestre o exemplo
de Jesus Nazaré é sempre novo, duradouro e iluminador. Marcelino
Champagnat, na França, Dom Bosco, na Itália no século XIX, foram os grandes
mestres, ambos tiveram como lema: “Para educar os alunos é preciso amá-los”.
Correio do Povo, 11/03/2003, p. 4, Opinião e A platéia. 06/03/2003,
Santana do Livramento, p. 6, Opinião.
Paz para o século XXI
João Paulo II recepcionou, na manhã de 14 de abril, milhares de jovens
de vários países que realizaram o encontro internacional em Roma. O lema do
encontro: “Construir a paz no século XXI”. O papa acolheu aquela juventude
com carinho e solicitude. Ao mesmo tempo em que o mundo tremia sob as
bombas e os mísseis no Iraque e alhures, a juventude reunida com o Papa,
rezando pela paz, procurando maneiras de construir a paz.
A primeira e fundamental ação em favor da paz é a oração, pois a paz é
dom do amor de Deus. O papa recordou o 400 aniversário da Carta de João
XXIII, PACEM IN TERRIS. O documento protagoniza os quatro pilares em que
se deve apoiar a paz a verdade, a justiça, o amor e a liberdade. Para construir a
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paz é preciso, acima de tudo viver na verdade. O apelo do papa: “Vós, jovens
tendes a coragem de fazer perguntas sinceras sobre o sentido da vida; formai
límpida retidão de pensamento e ação de respeito e diálogo com os outros.
Tende em primeiro lugar aquela relação para com Deus que pede conversão
pessoal e abertura ao seu mistério”. Em vão se procura a paz no mundo sem
pôr no coração o amor de Deus. A paz de Cristo é a do seu Reino, e o Reino de
Nosso Senhor funda-se no desejo de santidade, na humilde disponibilidade
para receber a graça, numa vigorosa obra de justiça, numa divina efusão de amor
(Escrivá). A verdade junta-se à justiça com o respeito pela dignidade de cada
pessoa. Sem amor sincero a própria justiça não assegura a paz. A verdadeira paz
floresce quando no coração se vence o ódio, o rancor e a inveja e quando se diz
não ao egoísmo.
Continua o Papa: “Se o amor sinal distintivo dos discípulos de Cristo, se
traduz em gestos de serviço gratuito e desinteressado, em palavras de
compreensão e de perdão, a onda pacificadora do amor alarga-se e estende-se
até interessar toda a comunidade humana. É, então, mais fácil compreender
também o quarto pilar da paz, a liberdade, o reconhecimento dos direitos das
pessoas e dos povos e o livre dom de si no cumprimento responsável dos
deveres que competem a cada um no próprio estado de vida”. De fato a paz
começa em cada pessoa, em cada família, em cada grupo social, em cada
comunidade civil ou citadina para estender-se à região, ao país. Na base de
tudo está a Paz de Cristo que deve estar em cada coração sustentada nos
quatro pilares: verdade, justiça, amor e liberdade.
Correio do Povo, 23/06/2003, p. 4, Opinião.1
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