Quando eu me for daqui... Por favor, faça-me um carinho, último.

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Quando eu me for

daqui...

Por favor,  

faça-me um carinho, último.

Não me procure por

entre várzeas  floridas, ou, não.

Nem marque em seu

calendário, qualquer estação.

Não erga seu olhar aos

ninhos dos passarinhos

nem ao desabrochar de

uma flor.Não permita que

seus olhos ensaiem quaisquer lágrimas...

Deixe que apenas a relva

molhe de orvalho os

canteiros dos jardins e,

faça exalar o perfume dos

jasmins.

Quando eu me for daqui...

Não folhei meus livros

procurando, em meus poemas, 

vestígios de mim.

Quantas vezes, em minhas páginas,

por mais que estivessem  

repletas de cenas e ação,

escrevi apenas... Solidão.

Não cheire minhas roupas

para sentir o perfume do corpo que não as veste. Quantas vezes, à sua espera,  

despi-me, sem ao menos ter

ido, ao portão.

A nossa música preferida...

Decorei-a, nota por nota, palavra por

palavra, regendo-a, silenciosamente,

entre os cantos do meu coração.

Tome-a, somente para você e escute-a

enquanto joga, ao vento,   

nossas fotografias... Eis que se tornaram

   cinzas de uma história cremada pela

separação.Mas, jogue-as,

delicadamente...

 Perpassei-as entre

minhas mãos, lembrando um

ritual de maltratos cada

vez que eu folheava,

nossos álbuns de retratos.

Por isso, quando eu me for

daqui não me procure em

lugares comuns.Procure-me por

todos os caminhos que tive que seguir

todas as vezes em que se separou

de mim.

Procure-me entre os tropeços, 

as quedas, as lágrimas vertidas...

Em vão. Tente encontrar-me

além das promessas nas quais acreditei e nos sonhos que sonhei...Embalada nos braços

seus.

Se quiser, pode procurar-me entre os sons dos meus

sorrisos retinentes, como guisos a se perderem, espaço

à fora de sua amnéstica  memória.

Esmiúce os sonhos que

sonhei e troque a personagem que não mais sou eu.

Cumpra o ritual da saudade com que me presenteou...

Ah! Como lá estou.

Depois, exauridas suas esperanças de me encontrar, entre tantas

lembranças... Olhe o céu e,

olhe a lua.

Não, não é o vento, tão pouco a brisa

que lhe causa tanto arrepio. Sou eu!  

E, insanamente,  este amor que

sublimou todos os sentimentos da

minha vida.

Sou eu... Agora estrela,

agora lua... E, para

sempre...Agora sua!