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Relatório Final Estágio professionalizante
Daniela Serras nº 2010230
6.º Ano do Mestrado Integrado em Medicina NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas
Universidade NOVA de Lisboa Ano Lectivo 2015/2016
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Índice
I. Introdução
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II. Descrição sumária das actividades (estágios parcelares)
a. Estágio parcelar Medicina Geral e Familiar
b. Estágio parcelar de Medicina Interna c. Estágio parcelar de Pediatria
d. Estágio parcelar de Saúde Mental
e. Estágio parcelar de Cirurgia Geral
f. Estágio parcelar de Ginecologia e Obstetrícia
g. Estágio opcional e PPC
h. Actividades extra-curriculares
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III. Posicionamento crítico
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IV. Anexos
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Nota: Este relatório não foi escrito de acordo com o Acordo Ortográfico
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Aqueles que passam por nós,
não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós.
Antoine de Saint-Exupéry
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Introdução
Este relatório tem como objectivo sintetizar as actividades desenvolvidas durante o Estágio
Profissionalizante do 6.º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM), assim como fazer
uma valorização das mesmas e uma avaliação em relação aos objectivos traçados no início
do ano. Os estágios clínico-cirúrgicos decorreram desde 14 de Setembro de 2015 a 20 de
Maio de 2016 e foram compostos por 4 semanas de Medicina Geral e Familiar, Ginecologia e
Obstetrícia, Pediatria e Saúde Mental e por 8 semanas de Medicina Interna e Cirurgia Geral,
perfazendo um total de 32 semanas. Será feita ainda uma breve referência ao estágio
opcional (Cardiologia no Hospital de Santa Cruz) e à unidade curricular de preparação para a
prática clínica. O presente relatório encontra-se dividido em 4 partes: Introdução, descrição
sumária dos estágios parcelares, posicionamento crítico e anexos.
No âmbito dos objectivos, e relembrando uma frase de Abel Salazar ”quem só sabe de
medicina nem medicina sabe” saliento que, no último ano de curso, é imperativo não só o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de certas competências médicas teórico-práticas, mas
também de competências relacionais e sociais, pois só este conjunto de características me
tornará uma médica completa. Assim sendo, defini, no início deste ano, como pontos
importantes a aquisição de mais autonomia na prática clínica; a revisão e sedimentação de
conhecimentos teóricos; o estabelecimento de uma boa relação médico-doente com a
melhoria de capacidades como a empatia, a comunicação e a observação; a capacidade de
abordar o doente de um ponto de vista holístico; a capacidade de avaliação do estado geral
de um doente, a interpretação de exames complementares simples, a prescrição de
fármacos correntes e a realização de técnicas e manobras simples; Finalmente, considero
imprescindível o reconhecimento da necessidade de constante procura pelo saber associada
à criação de oportunidades para a autoaprendizagem.
Estágio parcelar Medicina Geral e Familiar (14/09/2015- 25/10/2015)
O estágio de Medicina Geral e Familiar integra o 6º ano do mestrado integrado em Medicina,
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assumindo um papel de relevo no âmbito da aquisição e aprofundamento de conhecimentos
médicos teóricos e sua aplicação prática. Realizei este estágio na USF São Julião em
Oeiras, tendo sido tutelada pela Dra. Helena Febra. Durante este estágio acompanhei as
consultas de saúde infantil, saúde materna, planeamento familiar e saúde de adultos. Foi-me
ainda dada a oportunidade de conduzir, de forma autónoma, consultas não programadas o
que foi uma mais-valia uma vez que, não só me permitiu melhorar a minha relação médico-
doente como também rever de forma mais atenta certos conceitos. Saliento, ainda, que foi
neste estágio que realizei pela primeira vez uma citologia no âmbito da consulta de
planeamento familiar.
Estágio parcelar de Medicina Interna (25/01/2016-18/03/2016)
As oito semanas do estágio profissionalizante de Medicina Interna decorreram sob a
orientação da Dra. Liliana Dias no CHLC- Hospital de São José, no serviço de medicina 1.2.
Abrangeu as seguintes áreas: serviço de internamento, serviço de urgência e consulta
externa (apenas uma manhã). Salienta-se ainda a presença nas actividades formativas que
decorreram na faculdade e em algumas das sessões clínicas que decorreram na sala de
reuniões do hospital de São José. Este estágio foi, sem dúvida, um dos mais importantes
uma vez que está associado a uma grande autonomia.
Na enfermaria fui responsável por vários doentes, tendo realizado notas de entrada e diários
clínicos. Participei, também, nas discussões diagnósticas e terapêuticas associadas a estes
casos o que tornou a prática clínica muito mais enriquecedora. Pude ainda praticar alguns
procedimentos como as gasimetrias e as punções venosas, para além de ter observado uma
paracentese abdominal e uma toracocentese. Ressalvo uma das situações que me
impressionou: um doente do sexo masculino, com 72 anos que após a ingestão de metadona
ficou com danos neurológicos irreversíveis. Estava internado há cerca de 6 meses à espera
de uma vaga numa unidade de cuidados continuados.
No serviço de urgência também me foi permitido ter um papel activo, tendo feito a colheita de
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história e realizado o exame objectivo a doentes triados como verdes e amarelos.
Finalmente, apresentei ao corpo clínico, um trabalho sobre síndrome febril indeterminado.
Estágio parcelar de Pediatria (09/11/2015-04/12/2015)
O estágio de Pediatria decorreu no Hospital Cuf Descobertas, tendo sido tutorada pela Dra.
Cláudia Cristóvão. Passei pelo serviço de internamento, atendimento permanente e consulta
externa de pediatria. Salienta-se ainda a presença nas consultas de cirurgia pediátrica,
ortopedia pediátrica e em actividades formativas das quais são exemplo, as sessões clínicas
que decorriam as 12h30 na biblioteca do hospital.
No internamento, tive oportunidade de acompanhar os doentes internados: observando e
realizando colheita da anamnese e exame objectivo, analisando exames complementares de
diagnóstico e discutindo diagnósticos diferenciais e terapêutica a instituir.
Na consulta externa colaborei na realização do exame objectivo assim como utilizei o Boletim
de Saúde infantil e Juvenil para proceder à marcação dos parâmetros biométricos ( peso,
comprimento/altura, perímetro cefálico).
No final deste estágio realizei, em conjunto com 2 colegas, um trabalho sobre “Convulsões no
serviço de urgência” o qual foi apresentado à equipa clínica e à directora do serviço (Prof. Ana
Neto).
Estágio parcelar de Saúde Mental (7/12/2015 a 15/01/2016)
Este estágio decorreu, no Hospital de Dia do serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando
Fonseca. Durante este tempo fui orientada pelo Dr. João Melo tendo participado em várias
actividades como o despertar, a escala de tarefas, o grupo psicoterapêutico livre, o grupo
psicoterapêutico temático, as actividades culinárias e as sessões clínicas. O contacto mais
próximo com os doentes com patologia psiquiátrica (maioritariamente esquizofrenia,
transtorno afectivo bipolar e perturbação específica da personalidade) permitiu-me
desmistificar alguns dos medos que tinha em relação a eles, nomeadamente no que toca à
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questão da agressividade.
Durante uma manhã frequentei ainda o serviço de urgência onde tive contacto com patologia
mais aguda.
Finalmente, integrei ainda um grupo cujo trabalho consistiu em realizar a tabulação científica
de vários artigos previamente reunidos pela turma anterior, sobre o tema: “Distribuição de
camas psiquiátricas”.
Estágio parcelar de Cirurgia Geral (28/03/2016-20/05/2016)
O estágio de cirurgia geral decorreu no Hospital Beatriz Ângelo (Loures), sob a tutela do Dr.
Vitor Moura Guedes. Este estágio estava organizado da seguinte forma: uma semana de
sessões teóricas e teórico-práticas; duas semanas na Unidade de Cuidados Intensivos
(opcional); uma semana no Serviço de Urgência e quatro semanas no serviço de Cirurgia
Geral. Durante o período de 4 semanas de cirurgia geral tive a oportunidade de conhecer a
prática cirúrgica dentro das várias valências da especialidade: consulta externa, enfermaria,
bloco operatório e urgência. Saliento a oportunidade de assistir a cirurgias da tiróide no
hospital da Luz, onde o Dr. Vitor Moura Guedes opera com a Dra. Olímpia Cid, sendo que
numa dessas intervenções pude entrar como ajudante.
No âmbito desta cadeira, apresentei, em conjunto, com dois colegas um trabalho intitulado
“massas laterocervicais- Que abordagem?” . Tal ocorreu no dia 19 de Maio no mini-
congresso de cirurgia no Hospital Beatriz Ângelo.
Estágio parcelar de Ginecologia e Obstetrícia (12/10/2015-06/11/2015)
Realizei o estágio de Ginecologia e Obstetrícia no Royal London Hospital (Londres- Reino
Unido) ao abrigo do programa free-mover. Este estágio decorreu de 12 de Outubro a 6 de
Novembro de 2015 sob a orientação do Dr. Ramesan Navaratnarajah.
Durante este estágio frequentei as consultas externas de ginecologia onde efectuava a
colheita de histórias clínicas e apresentava os doentes ao meu tutor. Também realizei, neste
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âmbito, citologias.
Frequentei ainda o internamento de obstetrícia onde assisti e auxiliei as midwifes nos partos
vaginais eutócitos, assim como o bloco operatório onde assisti a cesarianas tendo-me sido
sempre dada a oportunidade de me desinfectar e ajudar nos procedimentos.
Outra das actividades que desenvolvi foi no serviço de urgência, onde mais uma vez, me foi
atribuída a tarefa de contactar com os doentes e colher os dados clínicos importantes de
forma a apresenta-los, à posteriori, ao médico de serviço.
Em anexo, apresento o certificado deste estágio, assim como, uma carta de recomendação
escrita pelo meu tutor.
Estágio opcional e PPC
Realizei o meu estágio opcional no serviço de cardiologia do Hospital de Santa Cruz sob a
orientação do Dr. Miguel Mendes, director de serviço. Este estágio decorreu de 23 de maio a
3 de junho de 2016 e foi-me dada liberdade para escolher as áreas do serviço por onde
queria passar. Assim sendo, foram-me atribuídos 2 doentes na enfermaria que acompanhei
durante as 2 semanas de estágio (realização de diários clínicos, discussão diagnóstica e
terapêutica). Acessoriamente, frequentei ainda o serviço de hemodinâmica e electrofisiologia
onde pude observar os procedimentos que decorriam. Para além disto, dispensei ainda uma
manhã na ecocardiografia.
Quanto à unidade curricular “preparação para a prática clínica” , esta teve duração semestral
(2º semestre) e frequência quinzenal, sob a regência do Professor Doutor Roberto Palma dos
Reis. Consistiu sessões multidisciplinares com o objectivo de promover o raciocínio clínico e
a integração de conhecimentos transversais às várias áreas da Medicina.
Actividades extracurriculares
No âmbito das actividades extra-curriculares destaco a participação: nas conferências CUF
de cirurgia-70 anos, no simpósio da função Champalimaud intitulado “New challenges in
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early diagnosis and management of pancreatic cancer”, na palestra “Economia e saúde”
ministrada pelo Professor Pedro Pita Barros e no curso “Controlo sintomático e medicina da
dor” ministrado pelo Dr. Paulo Reis Pina com o apoio da fundação Grunenthal.
Posicionamento crítico
O 6ºano do mestrado integrado em medicina propõem-se ser um ano de transição entre a
vida académica e a vida profissional, sendo que por isso, a componente prática e de
autonomização têm um peso inestimável. De uma forma geral, considero que este ano foi
bastante positivo e permitiu-me ter, pela primeira vez, a noção efectiva da importância da
integração e transversalidade dos conhecimentos teóricos até agora adquiridos. Pelas
particularidades de cada estágio optei por fazer uma pequena reflexão acerca de cada um
deles.
Os termos “Medicina Interna” têm origem no alemão Innere Medizin, expressão
popularizada na Alemanha, no final do século XIX. No entanto, já na Índia e China Antiga
existem “vestígios” da medicina interna enquanto campo de abordagem ao doente, sendo os
textos mais antigos sobre esta especialidade as antologias ayurvédicas de Charaka. Esta é,
portanto, uma especialidade de extrema importância pela sua transversalidade e como tal,
este estágio era um dos que mais expectativas me suscitavam. Considero então que as 8
semanas constituíram um período ideal, já que permitiram a adaptação ao local, à equipa e
actividades diárias. Saliento também a grande autonomia que me foi facultada na abordagem
do doente, o que contribuiu, indubitavelmente, para uma aprendizagem mais intensa e
metódica. Foi assim cortada uma das principais metas de um estágio que se pretende
profissionalizante, já que me senti integrada na equipa médica, ganhando noção do trabalho
diário numa enfermaria de Medicina Interna.
Quanto a Pediatria é uma especialidade cuja especificidades se reconhecem desde a
antiguidade, como ilustra Celsus na seguinte citação “Ex toto non sic pueri ut viri curari
debent”. No entanto a pediatria moderna, “nasceu” já no século XVIII, considerando-se Nils
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Rosén von Rosenstein (1706–1773), o seu pai/fundador. Deste então, tem sofrido uma
constante evolução até aos dias de hoje. Neste estágio foram vários os factores que
contribuíram para uma avaliação bastante positiva. Entre eles, destaco: o ratio aluno/tutor
(1:1), a disponibilidade por parte dos restantes membros do serviço de Pediatria para
ensinar, esclarecer e ajudar sempre que solicitado e a oportunidade de estar presente em
diversos contextos clínicos tais como o Internamento, o Atendimento Permanente ou
Consulta Externa (inclusive a consulta de cirurgia pediátrica e ortopedia pediátrica).
Por outro lado, o objectivo de autonomização foi apenas moderadamente conseguido pois
grande parte dos procedimentos descritos como exigidos não foram passíveis de serem
realizados, já que o estágio é composto por uma vertente observacional significativa e muitos
destes procedimentos são invasivos, o que torna mais sensível e difícil a sua realização.
A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a alma". Neste âmbito,
embora fosse uma área que me suscitava muita curiosidade, era também uma especialidade
médica contra a qual tinha algum estigma, não só em relação às doenças psiquiátricas que
considerava basearem-se em critérios muito subjectivos mas também em relação aos
psiquiatras, enquanto profissionais de saúde. De um modo genérico, a realização deste
estágio superou as minhas expectativas .A frequência do hospital de dia foi muito gratificante
e permitiu-me seguir os doentes ao longo do tempo. Como tal, deu-me a oportunidade de
observar as suas flutuações longitudinalmente. Embora o ratio tutor/aluno tenha sido 1:2, não
sinto que a aprendizagem tenha sido comprometida.
Realizei o estágio de Ginecologia e Obstetrícia no Royal London Hospital, em Londres
(Reino Unido). Tomei esta decisão pois fiz Erasmus no 4º ano da faculdade em Florença o
que considerei uma experiência muito enriquecedora quer em termos académicos quer em
termos pessoais. Escolhi Londres pela excelência médica que é reconhecida a muitos dos
seus hospitais e faculdades, embora tivesse receio que o ensino se baseasse mais numa
vertente teórica e observacional. Contudo, este estágio foi surpreendentemente positivo uma
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vez que não estava à espera de ser tão bem integrada, nem de ser instigada a ter tanta
autonomia. A equipa era absolutamente fantástica, estando sempre disponíveis para o
esclarecimentos de dúvidas e auxilio nos procedimentos. Saliento uma situação que
surpreendeu: quando referi que tinha muito pouca prática na realização de punções venosas
uma junior doctor, voluntariou-se para que treinasse nela.
O estágio de Cirurgia Geral apresentou como pontos positivos a possibilidade de conhecer
as várias valências da especialidade (consulta externa, enfermaria, bloco operatório e
urgência),de escolher uma opcional e a grande disponibilidade do tutor. Por outro lado, o
facto do ratio tutor/aluno ser de 1:3 e de existirem muitos alunos no HBA limitou algumas das
oportunidades de aprendizagem. O meu tutor tentou colmatar este facto oferecendo-nos a
possibilidade de nos deslocarmos ao hospital da Luz para assistirmos a cirurgias do pescoço,
algo que acabou por se revelar uma experiência muito interessante.
O estágio de Medicina geral e familiar foi um dos estágios, que em paralelo com Medicina
interna e ginecologia e obstetrícia, mais autonomia conferiram. De uma maneira geral, foi
muito benéfico pois permitiu-me reconhecer a importância dos cuidados de saúde primários e
desenvolver uma boa relação médico-doente.
Concluo que o 6º ano foi um ano bem estruturado e muito proveitoso em termos de
consolidação de conhecimentos teóricos. Quanto ao objectivo de autonomização destaco a
importância dos estágio de medicina interna, medicina geral e familiar e ginecologia e
obstetrícia que me permitiram uma “interacção directa” com os doentes permitindo o
cumprimento de muitos dos objectivos a que inicialmente me propus.
Termino agradecendo à minha família, amigos, colegas, tutores e professores que
contribuíram diariamente para a construção do meu caminho quer em termos de formação
pessoal, quer em termos de formação médica. Acrescento, ainda uma frase de Platão que na
minha opinião resume o papel do médico e que terei sempre em mente ao longo do meu
percurso “The greatest mistake in the treatment of diseases is that there are physicians for
the body and physicians for the soul, although the two cannot be separated."
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Anexos:
1.Certificado de frequência do serviço de Ginecologia e obstetrícia do The Royal London
Hospital como elective medical student.
2. Carta de recomendação escrita pelo Mr Ramesan Navaratnarajah, MD (meu tutor durante
o meu estágio em Londres).
3. Certificado de participação nas conferências Cuf de cirurgia- 70 anos.
4. Certificado de participação no simpósio da função Champalimaud “New challenges in early
diagnosis and management of pancreatic cancer”.
5. Certificado de participação na palestra “Economia e saúde”.
6. Certificado de participação no curso “Controlo sintomático e medicina da dor” ministrado
pelo Dr. Paulo Reis Pina com o apoio da fundação Grunenthal.