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Mestrado Integrado em Engenharia Química
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de
Efluente Rico
Tese de Mestrado
Projecto de Desenvolvimento em Ambiente Empresarial
Sónia Daniela Vaz Martins
Departamento de Engenharia Química
Orientador na FEUP: Prof. Dr. Joaquim Faria
Orientador na empresa: Engº Paulo Araújo
Fevereiro de 2008
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Agradecimentos
Ao longo deste projecto de desenvolvimento muitos foram aqueles que contribuíram e
ajudaram à realização e conclusão do mesmo:
Ao Professor Doutor Joaquim Luís Faria, um agradecimento especial pela disponibilidade e
confiança, crítica e orientação durante todo o projecto.
Ao Doutor Ádrian T. Silva pela simpatia e disponibilidade, bem como na ajuda imprescindível
para a discussão dos resultados.
Ao Engenheiro Paulo Araújo pela cedência da instalação experimental para a realização dos
ensaios de oxidação, pelo apoio e preocupação demonstrados.
Ao Doutor Alexandre Ribeiro, que apesar de não ser orientador directo, esteve sempre
presente durante este projecto, apoiando-me a todos os níveis.
Agradeço também, aos colegas do laboratório de análises, Sr. Valente, Sr. Vasco, Sr. Amílcar,
Sr. Almeida pela disponibilidade de material, companhia e boa disposição, que permitiram
criar um excelente ambiente de trabalho.
Por fim, um agradecimento à minha família, aos meus amigos e colegas.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resumo
A remoção de nitrofenóis, presentes nos efluentes resultantes do processo de produção de
mononitrobenzeno, foi levada a cabo por oxidação por via húmida (WO) simples e com
peróxido de hidrogénio. Na WO, os compostos orgânicos são oxidados a dióxido de carbono e
água em fase líquida, a temperaturas cerca de 300ºC e pressões entre 5 e 200 bar, na
presença de um agente oxidante, geralmente uma corrente de ar. A introdução de peróxido
de hidrogénio (H2O2) permite melhorar a eficiência a temperaturas e pressões mais baixas,
especialmente no que respeita à remoção do dinitrofenol (DNF) e do trinitrofenol (TNF).
A 200ºC, à pressão parcial de oxigénio de 0,8 bar e usando concentrações de peróxido de
hidrogénio a partir de 46 g.L-1, obtiveram-se remoções superiores a 99% para o DNF e TNF ao
fim de 120 minutos de reacção. A percentagem de remoção de carbono orgânico total (TOC)
variou entre 55,5 e 96,5%.
No que diz respeito ao efeito da temperatura, fixando a razão número de moles de
nitrofenóis/número de moles de peróxido em aproximadamente 1 e a pressão parcial de
oxigénio em 0,8 bar, a remoção dos compostos foi normalmente superior a 99,7%.
Na ausência de peróxido de hidrogénio, a pressões totais de O2 de 6 e 8 bar e a 200 ºC, não se
conseguiu a remoção completa dos compostos, tendo ficado pelos 98%. Baixando a
temperatura de reacção, a 150ºC, à pressão de oxigénio de 6 bar, não é possível remover os
compostos ao fim de 120 minutos.
Na presença de peróxido de hidrogénio, a pressões totais de O2 entre 2 e 4 bar e a 200ºC,
obteve-se a remoção completa do DNF e do TNF. A redução do TOC, para as diferentes
pressões de oxigénio foi superior a 88%.
Observou-se a formação de nitratos e sulfatos em todos os ensaios, bem como de alguns
sólidos que foram analisados por Infravermelho.
A oxidação por via húmida e a oxidação por via húmida assistida por peróxido revelaram-se
eficientes na remoção do DNF e do TNF. A degradação dos compostos aumenta com a
quantidade de peróxido de hidrogénio e com a temperatura, para a mesma pressão de
oxigénio. Na ausência de peróxido é visível uma maior dependência da remoção com a
pressão de oxigénio e com a temperatura.
Palavras Chave: Dinitrofenol, Trinitrofenol, Oxidação por via húmida, Oxidação por via
húmida assistida por peróxido de hidrogénio.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Abstract
The treatment of nitrophenols, typically found in the effluents from the process of
nitrobenzene synthesis, was carried out by wet oxidation (WO) and wet peroxide oxidation. In
the WO process the organics are oxidized in the liquid phase at temperatures around 300ºC
and pressures from 5 to 200 bar, in presence of an oxygen-containing agent, usually air.
Under the usual conditions, the organic compounds are mainly oxidized into carbon dioxide
and water. The use of hydrogen peroxide (H2O2) improves the efficiency at lower
temperatures and pressures, especially in what concerns to dinitrophenol (DNF) and
trinitrophenol (TNF) removal.
Using a hydrogen peroxide concentration in excess 46 g.L-1, at 200ºC and under 0,8 bar of
oxygen partial pressure was possible to obtain conversions higher than 99% for DNP and TNP in
about 120 min. The TOC removal was between 55,5 and 96,5%.
Concerning to the temperature effect, the degradation was usually of 99,7%, with a mole
ratio of nitrophenols to hydrogen peroxide close to 1 and an oxygen partial pressure of
0,8 bar.
In the absence of hydrogen peroxide, at 200ºC and 6 to 8 bar of oxygen total pressures, the
nitrophenols conversion was 98%. Decreasing the temperature to 150ºC, under 6 bar of oxygen
pressure and after 120 min was not possible to completely convert the compounds.
A complete conversion was observed when hydrogen peroxide was introduced using oxygen
pressures of 2 and 4 bar, at 200ºC. Concerning the TOC removal, the results were always
above 88%.
The formation of nitrates and sulphates occurred during the reaction. Additionally, in some
cases solids were also formed in, and were analysed by infrared spectroscopy.
The wet oxidation and the wet peroxide oxidation are efficient processes to treat streams
with DNF and TNF. Their conversion increases with the amount of hydrogen peroxide and with
temperature, at constant oxygen pressure. In the absence of hydrogen peroxide, a higher
dependency on temperature and oxygen pressure was observed.
Keywords: Dinitrophenol, Trinitrophenol, Wet air oxidation, Wet peroxide oxidation
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
i
Índice
Índice .........................................................................................................i
Notação e Glossário ...................................................................................... iii
Índice de Figuras........................................................................................... v
Índice de Tabelas ......................................................................................... vi
1 Introdução.............................................................................................1
1.1 Enquadramento ................................................................................1
1.2 Legislação .......................................................................................2
1.3 Objectivo e Apresentação do Projecto ....................................................3
2 Estado da Arte........................................................................................4
2.1 Aplicações Industriais .........................................................................8
2.2 Outras Aplicações ..............................................................................9
2.3 Aspectos Gerais.................................................................................9
2.4 Mecanismo de Reacção ..................................................................... 13
3 Parte Experimental................................................................................ 16
3.1 Reactor de Vidro ............................................................................. 16
3.2 Reactor de Alta Pressão .................................................................... 16
3.3 Métodos de Análise .......................................................................... 16
3.3.1 Cromatografia Líquida de Elevada Eficiência (HPLC)............................................. 16
3.3.2 Teor de Cloretos, Nitratos e Sulfatos................................................................ 17
3.3.3 Teor de Carbono Orgânico Total (TOC) ............................................................. 17
3.3.4 Caracterização dos sólidos ............................................................................ 17
3.3.5 Cromatografia Gasosa (GC)............................................................................ 18
3.3.6 Carência Química de Oxigénio (CQO)................................................................ 18
3.4 Destilação do Efluente Rico à Pressão Atmosférica ................................... 18
4 Resultados e Discussão............................................................................ 20
4.1 Experiências Preliminares.................................................................. 20
Remoção de Nitrofenois de uma Corrente de Efluente Rico
ii
4.1.1 Reacção do Dinitrofenolato de Amónia a Baixa Pressão ......................................... 20
4.1.2 Oxidação do Efluente Rico destilado ................................................................ 21
4.1.3 Oxidação a Baixa Pressão.............................................................................. 21
4.2 Oxidação (WPO) em Reactor de Alta Pressão........................................... 22
4.2.1 Efeito da Quantidade de Peróxido de Hidrogénio ................................................. 23
4.2.2 Efeito da Temperatura de Reacção.................................................................. 25
4.2.3 Variação da Temperatura ao Longo da Reacção................................................... 26
4.3 Oxidação (WO) em Reactor de Alta Pressão ............................................ 26
4.3.1 Efeito da Pressão de Oxigénio na Ausência de H2O2 .............................................. 26
4.3.2 Efeito da Temperatura de Reacção na Ausência de H2O2 ........................................ 28
4.3.3 Efeito da Pressão de Oxigénio na Presença de Peróxido de Hidrogénio....................... 28
4.3.4 Efeito da Temperatura de Reacção.................................................................. 32
4.4 Estimativa de Custos ........................................................................ 34
5 Conclusões .......................................................................................... 35
6 Avaliação do trabalho realizado................................................................. 37
6.1 Objectivos Realizados....................................................................... 37
6.2 Limitações e Trabalho Futuro ............................................................. 37
6.3 Apreciação Final ............................................................................. 38
Referências ............................................................................................... 39
Anexo 1 Processos de WAO......................................................................... 42
Anexo 2 Recta de Calibração ...................................................................... 45
Anexo 3 Tabela Destilação ......................................................................... 47
Anexo 4 Reactor de Vidro .......................................................................... 48
Anexo 5 Reactor Parr de Alta Pressão ........................................................... 49
Anexo 6 Síntese de Resultados .................................................................... 50
Remoção de Nitrofenois de uma Corrente de Efluente Rico
iii
Notação e Glossário
C Concentração g.L-1
C´ Concentração molar mM
Cd Concentração destilado g.L-1
Cf Concentração final g.L-1
Ci Concentração inicial g.L-1
Eº Potencial de oxidação V
P Pressão bar
Po Potência W
R Razão número de moles de nitrofenóis/número de moles de peróxido
T Temperatura ºC
Letras gregas
Λ Comprimento de onda nm
Lista de Siglas
BZ Benzeno
CQO Carência Química de Oxigénio
CWAO Catalytic Wet Air Oxidation (Oxidação Catalítica por via Húmida)
DAD Diode Array Detector (Detector de Diodos)
DNF Dinitrofenol
DNFA Dinitrofenolato de Amónia
DRIFT Diffuse Reflectance Infrared Fourier Transform Spectroscopy (Espectroscopia
de Infravermelho com Transformadas de Fourier por Reflectância Difusa)
EPA Environmental Protection Agency (Agência de Protecção Ambiental, EUA)
HPLC High Performance Liquid Chromatography (Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência)
MNB Mononitrobenzeno
PP – CWAO Promoted Peroxide Catalytic Wet Air Oxidation (Oxidação Catalítica por Via
Húmida assistida por Peróxido de Hidrogénio)
PP - WAO Promoted Peroxide Wet Air Oxidation (Oxidação por Via Húmida assistida por
Peróxido de Hidrogénio)
SST Sólidos Suspensos Totais
TNF Trinitrofenol
Remoção de Nitrofenois de uma Corrente de Efluente Rico
iv
TNFA Trinitrofenolato de Amónia
TOC Carbono Orgânico Total
UV Ultra Violeta
WAO Wet Air Oxidation (Oxidação por via Húmida com ar)
WO Wet Oxidation (Oxidação por via Húmida)
WPO Wet Peroxide Oxidation (Oxidação Húmida com Peróxido de Hidrogénio)
Remoção de Nitrofenois de uma Corrente de Efluente Rico
v
Índice de Figuras
Figura 1 – Reacção principal e reacções secundárias do processo de nitração do benzeno. .................1
Figura 2 – Desnitrificação induzida do 2,4- e 2,6-DNF seguindo um ataque electrofílico do radical HO●
(Passo inicial do processo de WAO)(Apolinario et al 2008). ..................................................... 14
Figura 3 -Degradação de nitrofenóis por processo de Fenton e Foto-Fenton (Kavitha & Palanivelu
2005). ...................................................................................................................... 15
Figura 4 – Remoção do DNF e do TNF para os ensaios realizados no reactor de vidro...................... 22
Figura 5 – Remoção do DNF e do TNF para as diferentes concentrações de peróxido de hidrogénio. ... 23
Figura 6 – Aspecto das soluções retiradas do reactor após a realização dos ensaios de oxidação, para
uma concentração de H2O2 de 120, 71 e 46 g.L-1 (da esquerda para a direita, apenas a de 46 g.L-1 foi
filtrada). .................................................................................................................. 24
Figura 7 – Sólidos formados no ensaio com uma concentração de H2O2 de 46 g.L-1. ........................ 24
Figura 8 – Remoção do DNF e do TNF para as diferentes temperaturas....................................... 25
Figura 9 – Remoção do DNF e do TNF em função da temperatura.............................................. 26
Figura 10 – Remoção/Formação do DNF e do TNF para as diferentes pressões de oxigénio. .............. 27
Figura 11 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 150 e 200ºC. .............................. 28
Figura 12 - Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 0,8, 2 e a 4 bar........................... 29
Figura 13 - Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 2, 4, 6 e 8 bar. ........................... 29
Figura 14 – Espectro de IV dos ensaios realizados a 2, 4, 6 e 8 bar. ........................................... 30
Figura 15 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 6 e 8 bar, para valores de R de 3 e 2.31
Figura 16 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 150, 180 e 200ºC......................... 32
Figura 17 - Espectro de IV dos ensaios realizados a 150, 180 e 200ºC. ........................................ 33
Figura 18 – Recta de calibração para o MNB........................................................................ 45
Figura 19 – Recta de calibração para o DNF. ....................................................................... 46
Figura 20 – Recta de calibração para o TNF. ....................................................................... 46
Figura 21 – Reactor de vidro usado nos ensaios a baixa pressão. .............................................. 48
Figura 22 – Reactor de alta pressão. ................................................................................. 49
Remoção de Nitrofenois de uma Corrente de Efluente Rico
vi
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Características do efluente final para a fábrica de Anilina e derivados. .........................3
Tabela 2 – Valores médios de concentração inicial (Ci) e após destilação (Cd) para os diferentes
compostos................................................................................................................. 19
Tabela 3 – Condições operatórias e remoção final para os ensaios realizados no reactor de vidro...... 21
Tabela 4 – Valores de concentração inicial (Ci) e após reacção (Cf) e respectiva formação de nitratos e
sulfatos para os diferentes ensaios. ................................................................................. 24
Tabela 5 – Condições experimentais para os ensaios a diferentes temperaturas. .......................... 25
Tabela 6 – Valores de redução de TOC para os ensaios a diferentes pressões totais de oxigénio. ....... 27
Tabela 7 – Valores de concentração inicial (Ci) e após reacção (Cf) e respectiva formação de nitratos e
sulfatos para os diferentes ensaios. ................................................................................. 30
Tabela 8 – Frequência, natureza de vibração e tipos de compostos correspondentes...................... 34
Tabela 9 – Condições da corrente processual....................................................................... 34
Tabela 10 – Valores de concentração do MNB, DNF e TNF em cada padrão................................... 45
Tabela 11 – Valores de concentração inicial (Ci) e após destilação (Cf) para os diferentes compostos. 47
Tabela 12 – Síntese de Resultados.................................................................................... 50
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Introdução 1
1 Introdução
1.1 Enquadramento
O mononitrobenzeno (MNB) pode ser obtido por nitração do benzeno com o ácido nítrico na
presença de ácido sulfúrico (catalisador), em condições específicas de pressão e temperatura.
Durante este processo formam-se outros compostos fenólicos, incluindo o 2,4-dinitrofenol
(DNF) e o 2,4,6-Trinitrofenol (TNF), bem como outros produtos secundários de reacção
(Fig. 1). Para separar o MNB dos compostos fenólicos formados adiciona-se ao processo uma
solução de amónia em excesso, originando o 2,4-dinitrofenolato de amónia (DNFA) e o 2,4,6-
trinitrofenolato de amónia (TNFA); neste processo, uma pequena quantidade de MNB passa
para a fase aquosa. Esta corrente é denominada industrialmente por efluente rico.
Figura 1 – Reacção principal e reacções secundárias do processo de nitração do benzeno.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Introdução 2
Apesar de maioritariamente constituída por água (95%), esta corrente é altamente tóxica e
constitui uma preocupação ambiental, uma vez que não pode ser descarregada no meio
ambiente sem tratamento prévio. Actualmente, o processo de tratamento usado é a
incineração que, apesar de ser eficaz na remoção, produz emissões gasosas, gera calor em
excesso e tem associado um elevado custo energético. Pretende-se assim estudar e avaliar um
método alternativo de tratamento para este efluente.
Esta corrente processual encontra-se aproximadamente a 70ºC e é sólida à temperatura
ambiente. Por este motivo e devido às propriedades explosivas do DNF e do TNF deve ter-se
algum cuidado no seu manuseamento.
1.2 Legislação
A principal fonte de contaminação por compostos nitroaromáticos está associada aos
processos industriais. A descarga de resíduos gerados durante a produção e o processamento,
bem como o nível de contaminação causado, variam amplamente, dependendo da intensidade
das operações de manufactura e da eficácia das tecnologias usadas no tratamento dos
resíduos. A exposição humana ocorre maioritariamente por contaminação do meio ambiente,
se bem que, em algumas actividades industriais poderá ocorrer por absorção cutânea.
Numa perspectiva de protecção da saúde pública, de gestão integrada dos recursos hídricos e
de preservação do ambiente, é necessário definir e impor limites às características químicas,
físicas e biológicas no domínio da qualidade da água. Nesse sentido, a US Environmental
Protection Agency (EPA) incluiu os compostos nitroaromáticos numa lista de 130 compostos
denominados de poluentes prioritários, e estabeleceu limites máximos para a ocorrência
destes compostos. As concentrações recomendadas para o DNF e para o TNF em água não
devem ultrapassar os 2x10-5 g.L-1 in Apolinário et. al (2008). A legislação nacional não faz
qualquer referência aos compostos em estudo. O decreto-lei nº 236/98 de 1 de Agosto que
determina as normas, critérios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio
aquático e melhorar a qualidade das águas em função dos seus principais usos, apenas
estabelece limites para os parâmetros mais comuns, por exemplo, temperatura, pH, óleos e
gorduras, nitratos, aldeídos e metais pesados, tais como o chumbo, cádmio, níquel, crómio,
cobre, níquel.
Devido à não especificação na legislação de muitos compostos químicos presentes em
efluentes industriais, a Câmara Municipal de Estarreja estabeleceu limites específicos para
cada unidade industrial do concelho. As características do efluente final para a fábrica de
Anilina e derivados, onde se inclui a unidade de produção de MNB, estão presentes na
tabela 1:
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Introdução 3
Tabela 1 – Características do efluente final para a fábrica de Anilina e derivados.
Parâmetros Tolerâncias (critérios de aceitação) Frequência de análise
pH > 5,0 e < 9,0 Contínuo
Condutividade (µS.cm-1) <4000 Contínuo
TOC (g.L-1) <0,40 Contínuo
SST (g.L-1) <0,10 Semanal
Cloretos (g.L-1) <0,10 Diário
Nitratos (g.L-1) <1,00 Diário
Sulfatos (g.L-1) <1,50 Diário
1.3 Objectivo e Apresentação do Projecto
O objectivo deste trabalho foi avaliar as alternativas à incineração no tratamento da corrente
de efluente rico. Seleccionou-se a oxidação por via húmida simples e assistida por peróxido
de hidrogénio por serem processos eficientes no tratamento de efluentes de elevada carga
orgânica.
Sabendo à partida que os compostos orgânicos são oxidados na fase líquida a temperaturas de
300ºC e pressões entre 5 e 200 bar e, tendo em conta que estas condições de operação são
algo severas para uma aplicação industrial, pretende-se avaliar a possibilidade de usar
peróxido de hidrogénio (H2O2), de modo a melhorar a eficiência de remoção de DNF e do TNF,
a temperaturas e pressões mais baixas.
Um estudo recente (Apolinário 2007) sobre a decomposição de correntes processuais de base
fenólica concluiu que na CWAO e na PP-CWAO, o MNB não é completamente degradado, ao
contrário do DNF e o TNF.
Deste modo, procedeu-se à destilação da corrente de efluente rico para retirar e recuperar o
MNB, concentrando a corrente a destruir e melhorando, à partida, a eficiência do processo.
Pretendeu-se também optimizar a quantidade de peróxido de hidrogénio a usar na destruição
dos compostos.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 4
2 Estado da Arte
Data de 1911 a primeira referência ao processo de WAO, aplicada à oxidação de um efluente
constituído por sulfitos. No entanto, a primeira unidade em funcionamento só foi construída
em 1958 na Noruega, que mais tarde foi encerrada devido à sua inviabilidade económica
(Mishra et al 1995).
Este insucesso inicial conduziu a uma re-avaliação do processo de WAO principalmente no que
dizia respeito às condições de operação. Por outro lado, produziu uma certa desvalorização
do processo no meio industrial. No entanto, à medida que a legislação ambiental começou a
limitar o volume e os locais de descarga de efluentes, o processo de WAO readquiriu um novo
interesse por parte das indústrias. Na década de 60 começaram a ser construídas as primeiras
unidades para o tratamento de águas residuais, seguindo-se, na década seguinte, a aplicação
do processo a resíduos perigosos.
O procedimento da Zimpro foi o primeiro exemplo de WAO a ser comercializado e atingiu
mais de 130 unidades instaladas nos Estados Unidos e na Europa. A maior parte das unidades
funcionava para o tratamento de lamas, a baixa pressão, oxidando parcialmente a matéria
orgânica (Luck 1999; Mishra et al 1995).
Nesta altura foram desenvolvidos vários processos, nomeadamente, os processos Wetox,
Vertech, Kenox e Loprox (Anexo 1), que procuravam melhorar a eficiência do processo,
principalmente ao nível da transferência de massa e calor (Kolaczkowski et al 1999), através
de modificações na geometria do reactor.
Em 1999 existiam aproximadamente 90 unidades de WAO em operação para o tratamento de
efluentes líquidos provenientes das indústrias químicas, petroquímicas, farmacêuticas e de
lamas residuais. Essas unidades operam em condições de completa oxidação dos poluentes ou
oxidação parcial a compostos de baixo peso molecular, para posterior futuro tratamento por
processos biológicos convencionais (Luck 1999).
A WAO de uma vasta gama de compostos orgânicos tem sido investigada, usando diferentes
condições de reacção e diferentes substratos: ácidos carboxilicos, álcoois, aldeídos, cetonas e
amidas (Bhargava et al 2006). No entanto, os estudos envolvendo a degradação de compostos
nitroaromáticos, mais concretamente para os compostos em estudo, o DNF e o TNF, são raros.
O método de degradação mais comum para a degradação destes compostos é o reagente de
Fenton, ao qual se pode acrescentar o uso de ultrasons e radiação UV ou solar, com o
objectivo de aumentar a eficiência do processo. Alguns dos estudos de degradação e as suas
principais conclusões mais relevantes são referidos de seguida.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 5
A degradação do p-nitrofenol (PNP) foi estudada através de um processo de oxidação assistida
por microondas (Bo et al 2006). No processo utilizou-se carvão activado como catalisador e
para absorver a energia proveniente das microondas. A partir de uma concentração inicial de
1,33 g.L-1 e de um caudal de 6,4 mL.min-1, após 3 horas de operação, é reportada uma
remoção de 90% e uma redução de TOC de 80%.
A degradação de nitrofenóis (2-nitrofenol, 4-nitrofenol, 2,5-dinitrofenol, 2,6-dinitrofenol,
2,4-dinitrofenol, 2-metil-4,6-dinitrofenol, 4-metil-2,6-dinitrofenol) foi abordada por
diferentes métodos, Fenton, foto-Fenton e fotólise na presença de peróxido de hidrogénio
(Goi & Trapido 2002). A degradação dos compostos por fotólise na presença de peróxido de
hidrogénio requer um elevado tempo de reacção, quando comparada com o tratamento por
Fenton e foto-Fenton. Para a mesma concentração de peróxido de hidrogénio, a radiação UV
melhora a acção do reagente de Fenton. Neste estudo, onde a concentração inicial de
nitrofenóis é de 0,4 mM, observou-se uma degradação dos compostos nitroaromáticos da
ordem de 51-67%, 85-90% e 50-60%, para os tratamentos por Fenton, foto-Fenton e fotólise na
presença de peróxido de hidrogénio, respectivamente.
Foi ainda reportado um estudo semelhante, usando a degradação por foto-Fenton solar
(Kavitha & Palanivelu 2005). Os compostos em estudo foram o 2-nitrofenol, 4-nitrofenol,
2,4-dinitrofenol e o 2,4,6-trinitrofenol com concentração inicial de 0,2 g.L-1. De um modo
geral, o processo de degradação por foto-Fenton foi mais eficaz, uma vez que permitiu a
obtenção de uma elevada eficiência de mineralização (>92%) quando sujeito a um pequeno
tempo de radiação, comparativamente ao processo de Fenton (20-30%). A semelhança de
resultados no processo de foto-Fenton, solar e UV, permitem concluir que o processo de foto-
Fenton solar é economicamente mais viável. Relativamente ao processo de Fenton, nos
primeiros 5 minutos de reacção, a degradação dos compostos foi bastante lenta. Entre os 10 e
os 60 minutos ocorre uma rápida degradação dos compostos aromáticos oxidados, enquanto
que nos minutos seguintes a degradação volta a ser lenta.
A remoção do DNF por sono-oxidação também está referenciada usando diferentes
intensidades de ultrasons (Guo et al 2005). Um aumento da intensidade dos ultrasons favorece
a degradação dos compostos em estudo, obtendo-se para 800 W uma remoção de 23,5% ao fim
de 4 horas de operação. A adição de peróxido à solução não provocou nenhuma alteração em
termos cinéticos, no entanto aumentou a eficiência de degradação, que aumenta com o
aumento de concentração de peróxido de hidrogénio. A combinação de ultrasons, peróxido de
hidrogénio e iões Fe2+ permitiu obter, ao fim de 60 minutos, uma remoção de 98%. Contudo, a
combinação de ultrasons, peróxido de hidrogénio e iões Cu2+ conduz a uma degradação
inferior quando não aplicados os ultrasons, uma vez que impedem que o Cu catalise o
peróxido de hidrogénio e este não se converta em radicais hidroxilo.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 6
Existem ainda outros estudos sobre a degradação de nitrofenóis e mononitrobenzeno por
métodos semelhantes aos referidos anteriormente (Al Momani 2006; Li et al 2006; Liou et al
2003; Yuan et al 2006), cuja análise detalhada não está no âmbito desta introdução.
O estudo da degradação de compostos orgânicos por WAO, como o fenol e derivados, é muito
usual devido à sua presença em diversos efluentes industriais. O facto de a WAO ser o método
de degradação mais apropriado para estes compostos e devido a semelhanças na estrutura
entre o fenol e os compostos em estudo, as condições de degradação do fenol podem servir
de base à degradação do DNF e do TNF.
Neste sentido são referidos de seguida alguns estudos sobre a degradação do fenol e seus
derivados por WAO, com o objectivo de racionalizar a informação relativa às condições de
operação mais usadas e aos principais resultados obtidos.
A CWAO do fenol com oxigénio molecular foi levada a cabo usando um catalisador de Ferro
suportado em carvão activado (Quintanilla et al 2006). A temperatura variou entre 100-120ºC,
a pressão total usada foi de 8,1 bar, a massa de catalisador de 2,4 g, o caudal de oxigénio e
de efluente de 91,6 mL.min-1 e 0,125 a 2 mL.min-1, respectivamente. Nestas condições
obtiveram-se conversões entre 70 a 90% e as reduções do valor de TOC variaram entre 40 a
70%.
A degradação de compostos como o 2-clorofenol, fenol, o-cresol, anilina, p-nitrofenol e
nitrobenzeno foi realizada por CWAO usando como catalisador carvão activado (Suarez-Ojeda
et al 2005). O processo de oxidação foi realizado a 100ºC e a 13,1 bar e, obtiveram-se
conversões de 30 a 55% para o 2-clorofenol, fenol e para o o-cresol. Por outro lado, para a
anilina, p-nitrofenol e para o mononitrobenzeno as conversões foram inferiores a 6%.
A maioria dos estudos sobre a degradação do fenol por WAO utiliza catalisadores devido à sua
natureza refractária. No entanto, este composto combinado com MNB, permite obter por
WAO eficiências de degradação razoáveis para ambos os compostos. Um estudo (Fu et al
2005) verificou que a temperatura é um parâmetro importante na co-oxidação do MNB e que
um aumento da concentração de fenol conduz a uma maior remoção de MNB, uma vez que
aumenta a quantidade de radicais livres gerados pelo fenol. Concluiu também que a presença
de MNB inibe a remoção de fenol, e que este efeito diminuiu com o aumento da temperatura.
A 200ºC ocorre a rápida degradação do fenol diminuindo a remoção do MNB.
Para melhorar a eficiência de degradação do fenol na WAO e de outros compostos orgânicos
pode usar-se, além do catalisador, um promotor, o peróxido de hidrogénio (PP-CWAO),
aumentando assim a biodegradabilidade de efluentes que contenham diversos compostos
tóxicos. O uso de carvão activado como catalisador e de uma quantidade estequiométrica de
20% de peróxido de hidrogénio conduz a uma maior mineralização dos compostos orgânicos.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 7
Por exemplo, a 200ºC e a 2 bar de pressão parcial de oxigénio, a remoção do fenol, o-cresol e
p-nitrofenol aumentou de 45, 33 e 15% por CWAO para 64, 64 e 49% por PP-CWAO (Rubalcaba
et al 2007).
Existem ainda estudos comparativos para a degradação de efluentes industriais por CWAO e
por WPO (Prasad et al 2007). A adição de peróxido de hidrogénio sem a utilização de
catalisador permite obter resultados muito positivos na remoção de compostos orgânicos.
Uma remoção superior a 70% foi obtida usando 67 mM de nitrato de cobre, uma pressão
parcial de oxigénio de 5 bar, 200ºC e um tempo de residência de 3 horas. Na ausência de
oxigénio a remoção de TOC baixa para 31%. Na ausência de catalisador, mas adicionando
peróxido de hidrogénio (64 g.L-1), a remoção de TOC é de 80%, a 200ºC, para um tempo de
residência de 1,5 horas.
A aplicação da WPO para remoção de clorofenóis mostrou que é possível degradar
completamente estes compostos. A remoção do valor de TOC e do 4-clorofenol foi de 72,3 e
de 100%, respectivamente, operando a 100ºC e com 2,5 ml de H2O2, uma concentração inicial
de 4-clorofenol de 0,5 g.L-1 e um tempo de residência de 1,5 horas (Garcia-Molina et al 2005).
A degradação do MNB, do DNF e do TNF foi estudada por WAO e por CWAO (Apolinario et al).
Na degradação não catalítica foi considerada a degradação do DNF e do TNF separadamente e
em sistemas multi-componente (MNB-DNF, MNB-TNF, DNF-TNF e MNB-DNF-TNF). A degradação
individual dos compostos mostra que o DNF é completamente oxidado ao fim de 2 horas,
contrariamente ao TNF que apenas atinge uma conversão de 10%. No sistema
multicomponente MNB-DNF-TNF, a degradação do DNF é inibida, enquanto que, a degradação
do TNF aumenta. No sistema a dois componentes é de destacar que a degradação do TNF
aumenta na presença de DNF. O efeito da temperatura na degradação dos compostos no
sistema MNB-DNF-TNF foi também estudado, tendo-se obtido a melhor eficiência a 200ºC.
Na degradação catalítica foi estudada a actividade de três catalisadores, xerogel de carbono
(CX), óxido de cério (CeO2) e o dióxido de titânio (TiO2), na degradação do sistema MNB-DNF-
TNF. O uso de catalisador aumentou a eficiência do processo. Entre os catalisadores usados, o
CX foi o que mostrou maior actividade em termos de redução do valor de TOC, enquanto que
o CeO2 possui ligeiramente uma maior actividade para oxidar o DNF e o TNF; o TiO2 não é
eficiente na degradação dos compostos em estudo. A redução do valor de TOC foi de 77 e
83%, a conversão de DNF de 98 e 99%, para o CeO2 e para o CX, respectivamente. Em ambos
os casos a conversão de TNF foi completa.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 8
2.1 Aplicações Industriais
A US Filter/Zimpro, a Ciba Geigy, a Bayer e a sua licença à Bertrans, são exemplos de
empresas que usam a WAO ou a CWAO como sistema de tratamento de resíduos.
A US Filter/Zimpro, líder mundial, possui uma vasta experiência neste processo e, nos últimos
20 anos tem projectado e construído várias unidades para outras empresas, como a Casmalia
Resources (Califórnia, EUA), a Bosfors-Nobel Inc. (Michigan, EUA), Nothern Petrochemical
Company e Eastman Fine Chemicals (Newcastle, UK).
A Casmalia Resources usa a WAO para o tratamento de vários resíduos perigosos: águas
residuais da produção de pesticidas e da indústria petroquímica, resíduos de reciclo de
solvente e águas residuais da produção de vários compostos orgânicos. Para reduzir o valor de
CQO em 96,7% é necessária uma temperatura de 227ºC e uma pressão de operação de
104,5 bar.
A Bosfors-Nobel, através da Environmental Systems Corporation e de uma empresa específica
no tratamento de resíduos químicos, usa WAO integrada no processo. A corrente do processo
tem uma concentração em compostos orgânicos entre 600-1200 g.L-1 com um valor médio da
carência química de oxigénio de 50 g.L-1. Para um caudal de 1,26 m3.h-1, a 271ºC e
124,14 bar, a unidade de WAO destrói 99,8% dos compostos tóxicos e reduz em mais de 50% o
valor de CQO (William M. Copa 1989).
A Nothern Petrochemical Company usa a WAO para o tratamento das correntes de lavagem
contendo bases fortes resultante da produção de etileno. Esta unidade, projectada, para uma
temperatura e pressão máxima de 320ºC e de 159 bar, respectivamente, degrada
completamente os sulfatos e reduz em 97,8% o valor de CQO, a 304ºC e a 130 bar (William M.
Copa 1989).
A Eastman Fine Chemicals começou a operar em 1992 para o tratamento das águas residuais
da produção do analgésico Paracetamol. A corrente contém vários compostos orgânicos,
incluindo aminofenóis, uma CQO próxima de 70-80 g.L-1 e grandes quantidades de sulfitos. A
temperatura de operação é de 265ºC, a pressão de 110 bar e o caudal nominal de 0,7 m3.h-1,
o que corresponde a um tempo de residência de 2,5 horas. A eficiência de remoção da CQO é
de 97% (Debellefontaine & Foussard 2000).
A Hoffmann La Roche usa o processo Loprox patenteado pela Bayer. Este processo promove a
biodegradabilidade das correntes residuais e de lamas com um consumo mínimo de energia,
conduzindo o meio em processo de decomposição para uma corrente de tratamento biológico
com baixos custos de operação. Devido ao uso de catalisador (ferro e quinona),
preferencialmente em condições ácidas, o processo trabalha a pressão e temperatura inferior
a 35 bar e 230ºC, respectivamente, reduzindo os custos de investimento e operação. Em
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 9
condições inferiores às do processo Loprox, formam-se pequenas moléculas como o ácido
acético e substâncias idênticas que são facilmente biodegradáveis. A redução da CQO é de
aproximadamente 70% (Luck 1996).
A Ciba Geigy desenvolveu o seu próprio sistema para o tratamento de resíduos químicos. O
processo usa um catalisador não suportado de cobre que é separado por filtração e, de
seguida, reciclado. A corrente em causa possui um valor de CQO de 110 g.L-1, é tratada à
temperatura de 295ºC, à pressão de 160 bar, com um caudal de 1 m3.h-1, ou seja uma CQO de
20 toneladas por dia e um tempo de residência superior a 3 horas (Luck 1996).
2.2 Outras Aplicações
Além da aplicação da WAO como processo de degradação de efluentes industriais, o processo,
na sua vertente catalítica (CWAO), é também usado na oxidação parcial de reagentes para a
produção de matérias-primas na indústria química.
É de salientar a oxidação da glucose a ácido sacárico, importante na produção de detergentes
sintéticos, servindo de substituto aos polifosfatos devido às suas propriedades complexantes e
elevada biodegradabilidade (in Gomes (2002)), e a oxidação catalítica de soluções aquosas de
glioxal com ar, produzindo o ácido glioxálico, importante na preparação de alguns produtos
da química fina, como perfumes, aromas e produtos farmacêuticos (Gallezot et al 1992).
Existem outras aplicações da WAO que, apesar de não descritas devem ser mencionadas,
como a oxidação do fenol e derivados (Mishra et al 1995), do formaldeído (Imamura et al
1991) e do etilenoglicol (Mantzavinos et al 1996).
2.3 Aspectos Gerais
A formação de resíduos orgânicos de origem industrial e doméstica resulta, na maioria dos
casos, em efluentes líquidos de elevada CQO e toxicidade. A descarga destes efluentes em
cursos de água é ilegal devido ao potencial tóxico e à diminuição da quantidade de oxigénio
dissolvido, que não deverá ir abaixo do necessário para a existência de vida no meio aquático
(Metcalf & Eddy, 1995). A necessidade de reduzir a carga orgânica dos efluentes para níveis
aceitáveis e legais, fez com que o tratamento dos efluentes se tornasse parte integrante dos
processos industriais.
Os processos de tratamento deste tipo de efluentes são vários, destacando-se a incineração, o
tratamento físico, biológico e químico. Estes processos de tratamento podem ser usados
individualmente ou combinados. A selecção do tratamento a aplicar é específica para cada
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 10
efluente e, na maioria dos casos, está fortemente dependente de factores económicos
(Kolaczkowski et al 1999). Nos tratamentos químicos está incluída a oxidação por via húmida
não catalítica (WAO) e catalítica (CWAO).
O tratamento por membranas (processo físico) é usado para purificar e concentrar
simultaneamente águas residuais que contenham compostos orgânicos e inorgânicos,
reduziam 20 a 50 vezes o volume de resíduos a tratar eventualmente por outro processo. A
selecção da membrana depende das características do efluente em causa, natureza dos
poluentes, concentração, temperatura e pH. Se o efluente for constituído por compostos de
baixo peso molecular, a osmose inversa é a melhor opção (Luan & Plaisier 2004; Madaeni &
Mansourpanah 2003). No entanto, devido ao elevado custo das membranas e da sua
substituição, este processo pode tornar-se pouco atractivo. A adsorção em carvão activado é
outro exemplo de tratamento físico e, pode constituir uma alternativa viável, se for possível a
sua regeneração (Rodgers & Bunce 2001).
O tratamento biológico por lamas activadas é um dos processos mais usados para vários
resíduos químicos devido à sua simplicidade e baixo custo. No entanto, a inibição dos
microorganismos presentes no sistema de lamas activadas e a reduzida biodegradabilidade de
alguns compostos orgânicos, leva a que os efluentes químicos a tratar não devam envolver
elevadas concentrações de compostos orgânicos (<10 g.L-1). A maior desvantagem deste
processo é a produção de elevadas quantidades de lamas, o que implica a destruição ou o
acondicionamento das mesmas (Lin & Ho 1997). Uma variação do tratamento biológico é a
fitoremediação. Neste caso são usadas plantas verdes na remoção de contaminantes da água
e do solo. É pouco dispendioso e de reduzida manutenção e, normalmente tolera maiores
concentrações de poluentes que os microorganismos. Uma desvantagem deste processo de
tratamento é a sua inactividade nos países nórdicos durante o Inverno (Rodgers & Bunce
2001).
A incineração é um processo que permite tratar efluentes com uma elevada carga orgânica.
No entanto, só é economicamente viável se o valor de CQO for superior a 300 g.L-1 devido aos
elevados requesitos energéticos, aos problemas de corrosão e à libertação de produtos tóxicos
para a atmosfera (Debellefontaine et al 1996; Imamura 1999).
Outros processos químicos de tratamento, denominados por processos avançados de oxidação,
incluem a reacção de Fenton, a oxidação supercrítica e a ozonólize.
Os processos avançados de oxidação têm vindo a ser progressivamente utilizados para a
degradação de matéria orgânica presente em efluentes, demonstrando uma elevada
eficiência, sobretudo quando se trata da aplicação de métodos catalíticos e fotocatalíticos.
Estes processos envolvem a geração de radicais hidroxilo (HO●) como intermediários reactivos,
de elevado potencial de oxidação (Eº=2,8 V), capazes de decompor não selectivamente
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 11
compostos orgânicos, inorgânicos e metálicos, formando produtos inócuos (Liou et al 2003;
Rodgers & Bunce 2001). Os processos homogéneos ocorrem numa única fase e utilizam ozono,
peróxido de hidrogénio ou reagente de Fenton como geradores de radicais hidroxilo. Os
heterogéneos utilizam semicondutores como catalisadores (óxidos de calcogénios). A
utilização de radiação UV e as propriedades semicondutoras do catalisador permitem a
formação dos radicais hidroxilo e a consequente oxidação dos compostos orgânicos presentes
no efluente (Kavitha & Palanivelu 2005).
A oxidação supercrítica é uma tecnologia capaz de destruir uma vasta gama de resíduos
orgânicos perigosos, a elevada pressão (200-250 bar) e temperatura (390-600ºC). Existem
estudos sobre a viabilidade deste processo, mas os elevados custos, maioritariamente
energéticos, tornam-no economicamente desfavorável na maioria dos casos (Barner et al
1992; Perez et al 2004).
O tratamento de poluentes usando ultrasons provoca uma decomposição estrutural de alguns
compostos químicos tóxicos, mas pode conduzir à geração de compostos de baixo peso
molecular e de menor toxicidade. O uso desta técnica para a mineralização completa de
compostos orgânicos não é economicamente atractiva, mas o processo pode ser integrado
com outros tratamentos (Guo et al 2005).
A oxidação por via húmida é um processo de tratamento de efluentes que são demasiado
diluídos para incinerar e demasiado concentrados para tratamento biológico (Luck 1996).
Remove compostos orgânicos na fase líquida oxidando-os completamente a dióxido de
carbono e água, usando como agente oxidante o oxigénio. É um processo extremamente limpo
porque não envolve a formação de compostos nocivos e, se a oxidação for completa, os
produtos finais são simplesmente água e dióxido de carbono. Os maiores inconvenientes da
oxidação por via húmida são as elevadas pressões (5-200 bar) e temperaturas (120-320ºC)
necessárias para se atingir um grau de remoção significativo dos compostos orgânicos num
intervalo de tempo razoável. Quando a temperatura ou o tempo de residência não são
suficientes resulta uma oxidação parcial. Na maioria dos casos, formam-se compostos de
baixo peso molecular, como ácidos carboxílicos, muito refractários a posterior oxidação
(Bhargava et al 2006; Mishra et al 1995).
O processo de oxidação por via húmida foi patenteado pela primeira vez pela Zimmerman há
mais de 50 anos e, dependendo da natureza do efluente a tratar, pode ser usado como único
processo de tratamento ou como processo de pré-tratamento (Bhargava et al 2006). Neste
processo a maior parte dos compostos é oxidada estequiometricamente e, uma vantagem da
oxidação por via húmida é que a maioria dos contaminantes permanece em fase aquosa. O
enxofre elementar é convertido em sulfatos, o fósforo em fosfatos, os halogéneos a
compostos halogenados, que em fase aquosa, formam sais inorgânicos e ácidos. O azoto pode
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 12
produzir amónia, nitratos, azoto elementar e óxidos nitrosos dependendo dos poluentes e das
condições do processo. A maioria dos cianetos e dos compostos que contenham aminas
originam amónia como um produto final estável (Genc et al 2002; Mishra et al 1995).
Genericamente, a oxidação por via húmida pode ser representada pela seguinte equação:
A utilização de oxigénio como fonte oxidante requer pressões e temperaturas elevadas de
forma a aumentar a solubilidade do oxigénio na solução. A elevada pressão serve também
para manter a água no estado líquido. Quando as condições de operação envolvem baixas
temperaturas e pressões, são realçadas as vantagens económicas e de segurança do processo.
No entanto, há uma diminuição na concentração de oxigénio na fase líquida e
consequentemente uma menor transferência de massa (Kolaczkowski et al 1999).
Em alternativa ao oxigénio podem ser usados como agentes oxidantes o peróxido de
hidrogénio e o ozono, que originam radicais oxigenados, tipicamente oxidantes, muito
reactivos e pouco selectivos. No entanto, são mais dispendiosos que o oxigénio.
No processo não catalítico de oxidação por via húmida, a oxidação ocorre num sistema
heterogéneo gás-líquido e baseia-se nos seguintes passos (Gomes 2002):
- Transferência do oxigénio da fase gasosa para a interface gás-líquido;
- Dissolução do oxigénio na interface gás líquido;
- Transferência do oxigénio dissolvido da interface gás-líquido para o seio do líquido;
- Reacção química entre o oxigénio dissolvido e o substrato na fase líquida.
As elevadas pressões, temperaturas e o tempo necessário para alcançar uma oxidação
completa dos compostos orgânicos presentes nas águas residuais, conduziram a uma
considerável investigação no processo de oxidação catalítica por via húmida. A diversa
composição dos efluentes industriais e, o objectivo de uma completa remoção dos compostos
orgânicos resultou na procura e estudo de vários catalisadores (homogéneos e heterogéneos)
nas últimas três décadas (Bhargava et al 2006).
A utilização de catalisadores na mesma fase que os reagentes simplifica a operação do
reactor, tornando a transferência de massa e a cinética de reacção similares aos sistemas não
catalíticos. No entanto, e apesar de eficientes, os processos de oxidação por via húmida que
usam catalisadores homogéneos de metais de transição, principalmente os sais de cobre, têm
a desvantagem de transferirem iões tóxicos para solução e requererem um passo posterior de
remoção, ou de regeneração do catalisador (Kolaczkowski et al 1999). O uso de catalisadores
Composto Orgânico + O2 P,T CO2 + H2O (1)
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 13
heterogéneos tem a vantagem, de não ser necessário remover o catalisador da fase
homogénea. Contudo, os catalisadores heterogéneos devem ser activos (elevadas conversões
em tempo de reacção reduzidos), estáveis (não desactivarem facilmente) e resistentes às
condições de operação em meio ácido características destes sistemas (Gomes 2002).
A oxidação por via húmida assistida por peróxido de hidrogénio (WPO) é um método adaptado
da tradicional oxidação por via húmida. Embora usando o oxigénio molecular como agente
oxidante, também é adicionada uma pequena quantidade de peróxido de hidrogénio para
promover a formação de radicais e, por consequência, eliminar alguns problemas de
transferência de massa. Há autores que consideram que este processo é uma adaptação da
reacção de Fenton com uma temperatura de operação próxima dos 120ºC (Debellefontaine et
al 1996). No entanto, a ausência de catalisador neste processo de oxidação começa a ganhar
interesse face a resultados recentemente reportados (Garcia-Molina et al 2005).
2.4 Mecanismo de Reacção
A química do processo de WAO assenta na formação de radicais livres oxidantes (Bhargava et
al 2006). O radical hidroxilo tem um forte carácter electrofílico atacando o átomo de carbono
do anel aromático com maior densidade electrónica. O ataque electrofílico do radical HO●
ocorre numa determinada posição do anel aromático condicionado pela presença de dois
substituintes nos nitrofenóis, nomeadamente as funções hidroxilo (—OH) e nitro (—NO2).
A substituição nos compostos aromáticos é normalmente uma consequência do controlo
cinético e, a função hidroxilo aumenta a densidade electrónica nas posições orto e para. Por
outro lado, a função nitro é um substituinte repulsor de electrões.
De um modo geral, o ataque ocorre nos carbonos não substituídos do anel, formando
dihidroxinitrobenzenos. De acordo com a figura 2, a acção combinada dos substituintes e a
adição de radicais HO● conduzem à formação de radicais dihidroxidinitrociclohexadienil (A e
D). Isto significa um decréscimo da reactividade molecular e um aumento de funções nitro nos
compostos fenólicos (Apolinario et al 2008).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 14
Figura 2 – Desnitrificação induzida do 2,4- e 2,6-DNF seguindo um ataque electrofílico do
radical HO● (Passo inicial do processo de WAO)(Apolinario et al 2008).
Um mecanismo de degradação de nitrofenóis pelo processo de Fenton e Foto-fenton (Fig. 3)
foi proposto por Kavitha et al. (2005). Apesar de o processo de degradação ser diferente, os
passos iniciais são semelhantes, uma vez que, devido à presença dos substituintes hidroxilo e
nitro, se formam nitrofenóis hidroxilados. Como consequência do ataque do radical HO● estes
primeiros nitrofenóis hidroxilados formam espécies com elevado teor de oxigénio que,
sujeitas a um novo ataque do radical HO●, conduzem à abertura do anel aromático e à
formação de compostos alifáticos, principalmente ácidos carboxílicos.
Vários autores investigaram os intermediários e produtos do processo de WAO identificando
compostos como ácido acético, ácido fórmico, ácido oxálico, acetaldeído e cetonas (Bhargava
et al 2006).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Estado da Arte 15
Figura 3 -Degradação de nitrofenóis por processo de Fenton e Foto-Fenton (Kavitha &
Palanivelu 2005).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Parte Experimental 16
3 Parte Experimental
3.1 Reactor de Vidro
O reactor de vidro (Anexo 4) possui camisa de aquecimento e um volume de
aproximadamente 0,8 L. Está equipado com um agitador de 3 lâminas, sensor térmico e um
manómetro. A temperatura de operação é controlada pelo banho de aquecimento externo ao
reactor.
3.2 Reactor de Alta Pressão
As reacções de WAO tiveram lugar num reactor Parr de alta pressão (Anexo 5) (Modelo 4523,
Parr Instrumental Inc., IL, USA). Construído em aço inoxidável 316, este reactor possui um
volume de 1 L. Está equipado com um agitador de 4 lâminas, sensor térmico, serpentina de
arrefecimento e a manta de aquecimento externa. O controlador permite um ajuste da
temperatura em ±0,1ºC. A pressão de operação é medida por um manómetro existente no
reactor.
3.3 Métodos de Análise
3.3.1 Cromatografia Líquida de Elevada Eficiência ( HPLC)
A concentração de cada composto foi seguida por um HPLC da Hitachi Elite LaChrom equipado
com um detector de Diode Array (L-2455), uma coluna de fase reversa Purospher Star RP-18e
(5 µm) e uma bomba (L-2130) a operar a um caudal de 1 mL.min-1.
O método de análise é isocrático e é constituído por uma mistura de iguais quantidades de
acetonitrilo e uma solução de 25 mM de hidrogenofosfato de potássio. O tempo de corrida é
de 10 minutos.
De modo a obter cromatogramas com picos visíveis e de área apreciável, o detector de diodos
(DAD) foi programado para analisar os compostos no seu comprimento de onda de máxima
absorção: MNB a 262 nm e, DNFA e TNFA a 360 nm. Nos ensaios de HPLC-DAD os
comprimentos de onda, mínimo e máximo, seleccionados para o detector foram,
respectivamente, 220 e 400 nm.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Parte Experimental 17
3.3.2 Teor de Cloretos, Nitratos e Sulfatos
Para avaliar a mineralização dos compostos, o teor de cloretos, nitratos e sulfatos foi medido
por cromatografia iónica. O sistema Dionex DX100 é constituído por uma coluna IonPac AS4A-
SC (4x250 mm). O eluente é constituído por iguais quantidades de soluções de
hidrogenocarbonato de sódio (1,70 mM) e carbonato de sódio (1,80 mM). O caudal é de
1 mL.min-1. Os teores de cloretos, nitratos e sulfatos foram lidos no sistema de aquisição de
dados ligado ao aparelho.
3.3.3 Teor de Carbono Orgânico Total (TOC)
A determinação do TOC foi efectuada num aparelho Shimadzu TOC-5000. O modo de
funcionamento deste sistema assenta na oxidação catalítica das amostras a dióxido de
carbono a uma temperatura de 700ºC num leito de catalisador de platina. Após essa etapa, o
dióxido de carbono é transportado por uma corrente de ar até ao espectrómetro de
infravermelho que determina a concentração de dióxido de carbono presente, sendo esta
correlacionada com o Carbono Total (CT). Numa segunda fase, a amostra é injectada no
aparelho, sendo acidificada com ácido fosfórico, o que permite converter os carbonatos e
bicarbonatos em dióxido de carbono, que posteriormente é quantificado por espectrometria
de infravermelho. Esta última determinação corresponde ao Carbono Inorgânico (CI) presente
na amostra. A concentração de TOC é obtida através da diferença entre o CT e o CI. As
amostras foram filtradas e diluídas por conveniência e análise.
3.3.4 Caracterização dos sólidos
Para caracterizar os sólidos obtidos nos diferentes ensaios e, analisar as diferenças e
semelhanças entre eles, realizou-se uma espectroscopia de infravermelho com transformadas
de Fourier no modo de reflectância difusa (DRIFT). O espectofotómetro Nicolet 510P possui
um sistema de aquisição de dados que converte a reflectância em unidades equivalentes
Kubelka-Munk. A teoria de Kubelka-Munk utiliza uma função que varia linearmente com a
concentração (numa gama limitada de concentrações) e que corresponde ao quociente da
coeficiente molar de absorção pelo coeficiente de dispersão da amostra, assumindo que esta
tem uma espessura infinita. Do ponto de vista formal, as suas unidades são equivalentes às
unidades de absorção molar.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Parte Experimental 18
3.3.5 Cromatografia Gasosa (GC)
A fase orgânica obtida na destilação do efluente rico foi analisada por cromatografia gasosa.
Este sistema possui um detector por ionização de chama e uma coluna CP Sil 19CB (2 µm). A
fase móvel é constituída por hélio a um caudal de 1,5 mL.min-1. A amostra foi injectada
directamente no aparelho e as percentagens dos diferentes compostos foi reportada para o
sistema de aquisição de dados.
3.3.6 Carência Química de Oxigénio (CQO)
Devido ao facto de a WAO ser assistida por peróxido de hidrogénio e este não ser consumido
completamente nos ensaios realizados, vai ser contabilizado na medição de CQO, que permite
determinar a quantidade de matéria orgânica total presente num determinado efluente.
Deste modo, os valores encontrados deste parâmetro não traduzem o valor real de
quantidade de matéria orgânica, à excepção das amostras iniciais.
A CQO, pelo motivo referido, não permitiu avaliar a diminuição da carga orgânica nos ensaios
realizados.
3.4 Destilação do Efluente Rico à Pressão Atmosférica
Para remover o MNB do efluente rico realizou-se, sempre que necessário, uma destilação à
pressão atmosférica. Num balão de destilação colocou-se o efluente e procedeu-se ao seu
aquecimento num banho de óleo. Controlou-se a temperatura do banho e do efluente a
destilar. Foram recolhidas amostras periodicamente para determinar a quantidade de MNB
presente no efluente. A destilação termina quando se verifica que a quantidade de MNB no
efluente rico era inferior a 0,050 g.L-1.
As dimensões reduzidas do balão de destilação conduziram à realização de várias destilações
(Anexo 3), pelo que se apresentam os valores médios dos resultados (Tabela 2). É de salientar
que o efluente rico usado nos ensaios não foi sempre o mesmo. Esta variação deve-se ao facto
de o efluente em estudo ser um efluente real, cuja composição está fortemente dependente
das condições de produção do MNB.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Parte Experimental 19
Tabela 2 – Valores médios de concentração inicial (Ci) e após destilação (Cd) para os
diferentes compostos.
MNB DNF TNF
Ci (g.L-1) 14,621 23,156 13,718
Cd (g.L-1) 0,029 35,994 20,318
A redução de MNB foi de 99,8% e, verificou-se um aumento de concentração médio de 50% de
DNFA e TNFA. A análise da composição da fase orgânica do destilado por cromatografia gasosa
indica a presença de 98,770 e 1,226% de MNB e de Benzeno (BZ), respectivamente, e
quantidades vestigiais de Anilina e de Dinitrobenzeno (DNB).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 20
4 Resultados e Discussão
4.1 Experiências Preliminares
O objectivo dos ensaios preliminares, realizados no reactor de vidro, foi investigar a
operatividade do equipamento disponível e a melhor forma de manusear o efluente rico.
Verificaram-se algumas falhas e limitações no que diz respeito à pressão, temperatura e
amostragem.
O simples facto de o reactor ser de vidro obrigava, por segurança, a aliviar a pressão sempre
que esta era superior a 2-3 bar. Com este procedimento o CO2 formado era removido não
permitindo que se acumulasse no sistema. Além disso, verificaram-se algumas fugas no
reactor, levando a que a operação a uma pressão superior à pressão atmosférica fosse
realizada com um caudal de ar constante.
A recolha de amostras não pôde ser feita pela saída existente na base do reactor, uma vez
que a tubagem era demasiado comprida provocando perdas significativas de solução. Outro
problema consistia no possível entupimento devido à baixa temperatura.
Relativamente à temperatura no reactor esta não deveria ultrapassar os 120ºC porque os
suportes de teflon existentes no reactor poderiam ficar maleáveis.
4.1.1 Reacção do Dinitrofenolato de Amónia a Baixa Pressão
Para observar a decomposição do DNFA colocou-se 240 mL de uma solução a 0,5% (w/w) deste
composto num reactor de vidro com camisa de aquecimento (banho a 100ºC). Procedeu-se à
elevação da temperatura da solução a cerca de 94ºC e adicionaram-se 10 mL de H2O2.
Pressurizou-se o reactor com ar comprimido a uma pressão de 2 bar. Uma vez que o reactor
possuía algumas fugas, a pressurização foi realizada a caudal constante (0,5 mL.min-1).
Passados 15 minutos após a adição do peróxido de hidrogénio começou a observar-se a
formação de bolhas na solução, provavelmente resultantes da libertação de CO2, e um ligeiro
aumento da temperatura e da pressão. A temperatura máxima medida foi de 96ºC, para uma
pressão aproximada de 2 bar. A falta de rigor na determinação da pressão deveu-se não só às
fugas existentes no reactor, mas também ao facto de se ter de ajustar manualmente a
pressão de modo a não ultrapassar 4 bar, já que se tratava de um reactor de vidro.
A degradação do DNFA foi de 70% ao fim de 5 horas de reacção. Contudo, verificou-se que, ao
fim de 1,5 horas a degradação já era cerca de 65%.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 21
Este ensaio, realizado em condições pouco rigorosas, teve como principal objectivo observar
o comportamento da reacção ao longo do tempo e adquirir algum controlo no manuseamento
do efluente rico destilado.
4.1.2 Oxidação do Efluente Rico destilado
Este ensaio permitiu observar a evolução da cor da reacção ao longo do tempo, que de cor de
laranja evoluiu para castanho escuro e gradualmente foi ficando mais clara até atingir uma
cor amarelada; e a formação de CO2 após a adição do peróxido de hidrogénio. A mudança de
cor ocorreu passadas aproximadamente 5 horas de reacção, indicando que a destruição do
TNF já teria ocorrido, composto responsável por grande parte da cor do efluente rico. Esta
destruição foi comprovada pela análise de uma amostra por HPLC-DAD.
4.1.3 Oxidação a Baixa Pressão
O ensaio (0) realizado à pressão atmosférica e à temperatura de 95ºC, com uma concentração
de 120 g.L-1 de H2O2, mostra que ao fim de 4 horas de reacção, há uma degradação de 84,4% e
96,0% de DNFA e TNFA, respectivamente. Face a estes resultados, realizaram-se ensaios para
avaliar a eficiência do processo a uma pressão mais elevada (ensaio 1), a uma menor
concentração de H2O2 (ensaio 2) e a uma temperatura mais elevada (ensaio 3) (Tabela 3).
Em todos os ensaios o controlo da pressão no reactor foi deficiente, por motivos mencionados
anteriormente. Considerou-se t=0 a altura em que se adicionou o peróxido de hidrogénio.
Tabela 3 – Condições operatórias e remoção final para os ensaios realizados no reactor de
vidro.
Ensaio [H2O2] (g.L-1) T (ºC) P ar (bar) Remoção DNF (%) Remoção TNF (%) Tempo reacção (min)
0 1 84,4 96,0
1 120 95
2 75,6 87,0
2 20 95 2 64,8 37,2
3 120 100 1 63,3 77,8
240
Para uma melhor compreensão do evoluir da reacção, representou-se graficamente (Fig. 4) a
remoção medida para cada ensaio ao início (t =0) a 1, 2 e 4 horas.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 22
Figura 4 – Remoção do DNF e do TNF para os ensaios realizados no reactor de vidro.
O ensaio 1 mostra que o aumento da pressão não favorece o processo, tornando-o mais lento.
Um aumento de pressão aumenta a quantidade de oxigénio na fase líquida, pelo que a
remoção deveria ser superior ou pelo menos manter-se. Este resultado pode ser explicado por
algumas fugas ainda existentes no equipamento.
A diminuição da concentração de H2O2 sugere uma menor degradação dos compostos
fenólicos, pelo que, deve realizar mais ensaios, de modo a estudar a influência deste
parâmetro na reacção.
O aumento da temperatura sugere uma diminuição na degradação dos compostos fenólicos.
Este resultado é também contrário ao esperado. A temperatura é também um parâmetro
importante na reacção de oxidação, mostrando a necessidade de se realizarem mais ensaios a
diferentes temperaturas. Além disso, um aumento de 5ºC poderá não ser significativo.
Os ensaios realizados são assim pouco conclusivos, mas evidenciam a necessidade de operar
em condições de pressão e temperatura mais severas.
4.2 Oxidação (WPO) em Reactor de Alta Pressão
A inexistência de uma câmara de pressurização e o facto de a pressão máxima de ar existente
ser de 4 bar, colocaram algumas limitações aos ensaios a realizar. Idealmente, deveria
aquecer-se o efluente rico até à temperatura pretendida (pré-aquecimento); atingida esta
temperatura, deveria pressurizar-se o reactor com ar e adicionar-se o peróxido de hidrogénio.
Nesse momento seria considerado o início de reacção (t=0).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 23
Face às limitações existentes, adoptou-se o seguinte procedimento: colocou-se o efluente
rico no reactor, adicionou-se o peróxido de hidrogénio e fechou-se o reactor; iniciou-se a
agitação, pressurizou-se e ligou-se o aquecimento. Considerou-se o início de reacção (t=0)
quando a temperatura desejada foi atingida. No entanto, recolheram-se amostras antes de se
alcançar essa temperatura, uma vez a reacção real já se teria iniciado.
4.2.1 Efeito da Quantidade de Peróxido de Hidrogéni o
De forma a analisar o efeito da quantidade de peróxido de hidrogénio a 50% (w/w) na
degradação do efluente rico, foram testadas quatro concentrações distintas (20, 46, 71 e
120 g.L-1) deste agente oxidante.
A temperatura de operação foi de 200ºC e a pressão de ar de 4 bar, o que corresponde a uma
pressão de oxigénio de 0,8 bar. O tempo necessário para se atingir a temperatura de
operação, pré-aquecimento, foi de 30 minutos.
Na figura 5, é apresentado o valor de remoção para o DNF e para o TNF para as diferentes
concentrações de H2O2, para 0, 30, 60 e 120 minutos.
0
20
40
60
80
100
DNF TNF DNF TNF DNF TNF DNF TNF
20 46 71 120C H2O2 (g.L -1)
Rem
oção
(%
)
_______________________________________
0 min
30 min
60 min
120 min
88,874,0
99,4 99,7 99,9 99,9 100,099,9
Figura 5 – Remoção do DNF e do TNF para as diferentes concentrações de peróxido de
hidrogénio.
À excepção do primeiro ensaio (CH2O2=20 g.L-1), obtiveram-se remoções superiores a 99% para
o DNF e TNF ao fim de 120 minutos de reacção. Usando a concentração mais elevada de H2O2,
é possível obter uma remoção superior a 90% logo na fase de pré-aquecimento. Face ao
aspecto da solução final (Fig. 6) e à semelhança dos valores de remoção dos ensaios,
considerou-se que o melhor resultado é o que utiliza a concentração de H2O2 de 71 g.L-1.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 24
Contudo, observou-se a formação de sólidos de cor escura (Fig. 7) mais predominantes com a
diminuição da quantidade de H2O2 (46 e 20 g.L-1).
Figura 6 – Aspecto das soluções retiradas do reactor após a realização dos ensaios de
oxidação, para uma concentração de H2O2 de 120, 71 e 46 g.L-1 (da esquerda para a direita,
apenas a de 46 g.L-1 foi filtrada).
Figura 7 – Sólidos formados no ensaio com uma concentração de H2O2 de 46 g.L-1.
Com vista a avaliar a extensão da reacção em termos de degradação total dos substratos e
dos intermediários deles derivados, foi quantificada a redução do TOC na presença de menor
e da maior concentração de peróxido de hidrogénio, tendo-se obtido reduções de 55,5 e
96,5%, respectivamente.
Foi também quantificado o teor de nitratos e sulfatos (Tabela 4), tendo-se observado em
todos os ensaios um aumento destes compostos. Foi definida uma grandeza adimensional
designada de formação, obtida pela razão entre a concentração final e a concentração inicial.
Tabela 4 – Valores de concentração inicial (Ci) e após reacção (Cf) e respectiva formação de
nitratos e sulfatos para os diferentes ensaios.
Nitratos Sulfatos
Ensaio Ci (g.L-1) Cf (g.L-1) Formação Ci (g.L-1) Cf (g.L-1) Formação
C H2O2= 20 g.L-1 0,124 27 218,6 0,661 83 125,6
C H2O2= 46 g.L-1 54 939,1 146 195,2
C H2O2= 71 g.L-1 0,058
53 921,7 0,748
125 167,1
C H2O2= 120 g.L-1 0,124 53 429,1 0,661 158 239,0
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 25
4.2.2 Efeito da Temperatura de Reacção
Foram testadas quatro temperaturas distintas (120, 150, 180 e 200ºC) na degradação do
efluente rico.
Como a composição do efluente rico usado nas experiências não é constante, em vez de se
fixar a concentração de H2O2, fixou-se a razão número de moles de nitrofenóis/número de
moles de peróxido (R) no valor em que foi realizado o ensaio de 71 g.L-1 a T = 200 ºC, R =1
(Tabela 5).
Tabela 5 – Condições experimentais para os ensaios a diferentes temperaturas.
Ensaio # T (ºC) P T (bar) P O2 (bar) C H2O2 (g.L-1) R (nnitrofenois/nH2O2)
1 120 55,7
2 150 69,8 3 180 55,7
4 200
4 0,8
71,4
1
Contrariamente ao ensaio anterior, onde o tempo de pré-aquecimento era constante, nesta
sequência de ensaios, esse tempo diminui com a diminuição da temperatura. Assim, para 200,
180, 150 e 120ºC o tempo de pré-aquecimento é, respectivamente, 30, 25, 18 e 15 minutos.
0
20
40
60
80
100
DNF TNF DNF TNF DNF TNF DNF TNF
200 180 150 120T (ºC)
Rem
oção
(%
)
0 min
30 min
60 min
120 min
____________________________
99,9 99,9 99,9 99,9 99,992,1
99,899,7
Figura 8 – Remoção do DNF e do TNF para as diferentes temperaturas.
A figura 8 mostra que todos os ensaios revelaram remoções elevadas, superiores a 92%, no
entanto, o aspecto da solução final é bastante diferente, havendo uma maior formação de
sólidos e um escurecimento da solução com a diminuição da temperatura.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 26
4.2.3 Variação da Temperatura ao Longo da Reacção
Para avaliar a influência da variação da temperatura ao longo da reacção, fez-se uma
variação da temperatura em patamares. O procedimento, semelhante ao dos ensaios
anteriores, consistiu em deixar durante 10 minutos a reacção a 120, 150, 180, 200 e 220ºC. O
tempo de aquecimento entre patamares foi de 5 a 8 minutos (Fig. 9).
Verificou-se que grande parte da remoção ocorre nos primeiros 30 minutos de reacção.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
100 120 140 160 180 200 220
Temperatura (ºC)
Rem
oção
DNF
TNF
Figura 9 – Remoção do DNF e do TNF em função da temperatura.
4.3 Oxidação (WO) em Reactor de Alta Pressão
Nos ensaios seguintes foi usado oxigénio molecular (O2) em vez de ar comprimido tendo-se
variado a pressão total deste agente oxidante.
4.3.1 Efeito da Pressão de Oxigénio na Ausência de H2O2
O efeito da presença de oxigénio na degradação do efluente rico foi avaliado à volta da
variação da pressão total deste agente oxidante: 2, 4, 6 e 8 bar.
Estes ensaios foram realizados na ausência de peróxido de hidrogénio e à temperatura de
200ºC. O tempo de pré-aquecimento foi de 30 minutos (Fig. 10).
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 27
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
DNF TNF DNF TNF DNF TNF DNF TNF
8 6 4 2
P O2 (bar)For
maç
ão(%
) I
Rem
oção
(%
)
0 min
30 min
60 min 120 min
Figura 10 – Remoção/Formação do DNF e do TNF para as diferentes pressões de oxigénio.
Verificou-se em todos os ensaios a formação de sólidos e, como mostra a figura anterior, há
formação de alguns compostos nos minutos iniciais de reacção.
Enquanto que para o DNF não há nenhuma tendência no que diz respeito à sua formação com
a variação da pressão, é visível o aumento da formação do TNF com o aumento de pressão,
nos minutos iniciais de reacção.
Os resultados finais em termos de degradação dos compostos a 6 e a 8 bar são semelhantes.
Apesar das elevadas remoções ao fim de 120 minutos para o DNF e TNF, a cor final de todas
as soluções é escura e existe um ligeiro aumento da quantidade de sólidos com a diminuição
da pressão. Relativamente ao teor de carbono orgânico total, os valores de remoção
encontram-se na tabela 6.
Tabela 6 – Valores de redução de TOC para os ensaios a diferentes pressões totais de
oxigénio.
P O2 (bar) Redução TOC (%)
2 88,0
4 83,4
6 93,0
8 85,4
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 28
4.3.2 Efeito da Temperatura de Reacção na Ausência de H2O2
O objectivo deste ensaio é avaliar o efeito da temperatura na degradação dos nitrofenóis sem
o uso de peróxido de hidrogénio. Dada a semelhança entre os resultados finais realizados a 8
e 6 bar, a variação da temperatura foi realizada para a pressão de oxigénio mais baixa.
Na figura 11 é possível analisar a evolução da concentração dos compostos a 150 e 200ºC.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
-15 0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tempo (min)
CD
NF/C
DN
0
T=150ºC
T=200ºC
(a) (b)
Figura 11 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 150 e 200ºC.
Analisando a figura anterior é possível verificar que a temperatura a 200ºC é mais eficaz a
remover o DNF e o TNF. A 150ºC a degradação dos compostos é lenta, não se obtendo a
degradação do TNF e uma degradação de 48% do DNF, ao fim de 120 minutos.
Comparando os resultados obtidos com os resultados na presença de peróxido de hidrogénio,
nota-se uma diminuição na degradação final dos compostos a 150ºC e, uma conversão mais
lenta para as temperaturas estudadas sem peróxido de hidrogénio. No entanto, há que ter
algum cuidado quanto a esta conclusão, uma vez que os ensaios foram realizados a diferentes
pressões de oxigénio.
4.3.3 Efeito da Pressão de Oxigénio na Presença de Peróxido de Hidrogénio
Para avaliar o efeito da pressão de oxigénio na presença de peróxido de hidrogénio foram
realizadas três séries de ensaios.
A primeira série foi realizada a 200ºC e com R=1 ([H2O2]~69,0 g.L-1), a 2 e 4 bar de pressão de
oxigénio.
Já se tinha verificado anteriormente que com uma pressão parcial de oxigénio de 0,8 bar, R=1
e a 200 ºC a remoção dos compostos era de 99,9%. Um aumento da pressão tornou a
degradação dos compostos ligeiramente mais rápida, como se pode observar na figura 12.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
-15 0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tempo (min)C
TN
F/C
TN
F0
T=150ºC
T=200ºC
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 29
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
-30 0 30 60 90 120Tempo (min)
CD
NF/C
DN
F0
P=0,8 bar
P=4 bar
P=2 bar
(a) (b)
Figura 12 - Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 0,8, 2 e a 4 bar.
Mais uma vez, exceptuando a degradação do TNF a 0,8 bar, verificou-se que na fase de
pré-aquecimento ocorre uma remoção superior a 80%. Não se verificou a formação de sólidos.
Na segunda série de ensaios aumentou-se o valor de R para 2, para se tentar optimizar a
quantidade a usar de peróxido de hidrogénio. A temperatura de operação foi de 200ºC. Na
figura 13 é possível analisar a evolução da concentração do DNF e do TNF a 2, 4, 6 e 8 bar.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CD
NF/C
DN
F0
P= 2 bar
P= 4 bar
P= 6 bar
P= 8 bar
(a) (b)
Figura 13 - Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 2, 4, 6 e 8 bar.
Da análise da figura 13 é possível concluir que a evolução da concentração dos diferentes
ensaios é semelhante e, que o aumento da pressão de oxigénio não é determinante para uma
maior degradação dos compostos, na presença de peróxido de hidrogénio. A degradação do
TNF, à excepção do ensaio realizado a 2 bar, é quase completa ao fim de 15 minutos e,
verifica-se uma quase sobreposição das curvas para os ensaios realizados a 4, 6 e 8 bar. Na
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
-30 0 30 60 90 120Tempo (min)
CT
NF/
CT
NF
0
P=0,8 bar
P=4 bar
P=2 bar
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CT
NF/
CT
NF
0
P= 2 bar
P= 4 bar
P= 6 bar
P= 8 barc
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 30
degradação do DNF tal não se verifica, observam-se pequenas diferenças no comportamento
das curvas, e uma remoção quase completa ao fim de 45 minutos para os ensaios realizados a
4 e 6 bar.
No que diz respeito ao teor de carbono orgânico total, os resultados foram idênticos,
obtiveram-se reduções de 88% para 2, 4, e 8 bar e 89% para 6 bar.
Verificou-se a formação de nitratos e sulfatos. Os valores obtidos para os diferentes ensaios
encontram-se na tabela 7:
Tabela 7 – Valores de concentração inicial (Ci) e após reacção (Cf) e respectiva formação de
nitratos e sulfatos para os diferentes ensaios.
Nitratos Sulfatos
Ensaio Ci (g.L-1) Cf (g.L-1) Formação Ci (g.L-1) Cf (g.L-1) Formação P= 2 bar 51,936 1385 146,839 205 P= 4 bar 50,567 1348 146,727 205 P= 6 bar
0,038 51,751 1380
0,717 148,479 207
P= 8 bar 0,089 52,148 589 1,472 158,563 108
Os sólidos obtidos nesta série de ensaios foram analisados por espectroscopia de
infravermelho com transformadas de Fourier no modo de reflectância difusa (DRIFT). Os
espectros obtidos encontram-se na figura 14:
0
4
8
12
16
20
24
40080012001600200024002800320036004000
Número de onda (cm -1)
Kub
elka
-Mun
k (u
.a.)
P=8 bar
P=2 bar
P=4 bar
P=6 bar
Figura 14 – Espectro de IV dos ensaios realizados a 2, 4, 6 e 8 bar.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 31
O espectro de IV obtido por DRIFT mostra apenas a frequência dos grupos funcionais
existentes no material em análise. Conhecendo o tipo de compostos iniciais, nitroaromáticos,
e sabendo que a sua degradação, se não for completa, origina compostos de cadeia aberta, é
possível inferir sobre as ligações existentes no material em análise.
Observando os espectros destaca-se a existência de quatro bandas: a 3220 cm-1, típica da
ligação O-H, a 1650, 1450 e a 1130 cm-1.
No espectro de Infravermelho, a intensidade da banda de alongamento C=C depende da
posição de ligação da molécula. De um modo geral a intensidade da vibração de alongamento
encontra-se entre 1680-1640 cm-1.
A intensidade da banda de ligação C-OH nos ácidos carboxílicos encontra-se entre
1450-1395 cm-1. Pelo que a banda encontrada a 1450 cm-1 poderá corresponder à vibração
desta ligação.
A intensidade da banda de alongamento, C–N, dos compostos nitroaromáticos encontra-se, de
acordo com estudos mais recentes, entre 1177-865 cm-1, devido ao acoplamento entre as
vibrações C-N e as vibrações do anel. A banda de 1130 cm-1 é assim correspondente à ligação
C-N. No espectro é possível observar que, esta banda, ou o composto que a origina, aumenta
com o aumento da pressão (Lin-Vien 1991).
Na terceira série de ensaios aumentou-se novamente o valor de R para 3, para se observar a
eficiência de remoção dos compostos com uma menor quantidade de peróxido de hidrogénio.
A temperatura de operação foi de 200ºC. Na figura 15 é possível analisar a evolução da
concentração do DNF e do TNF a 6 e 8 bar, para os diferentes valores de R.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CD
NF/C
DN
F0
P= 6 bar (R=3)
P= 8 bar (R=3)
P= 6 bar (R=2)P= 8 bar (R=2)
(a) (b)
Figura 15 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 6 e 8 bar, para valores de R
de 3 e 2.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CT
NF/
CT
NF
0
P= 6 bar (R=3)
P= 8 bar (R=3)
P=6 bar (R=2)P=8 bar (R=2)
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 32
Analisando a figura anterior, verifica-se a semelhança de resultados para os diferentes valores
de R, principalmente na degradação do TNF.
Apesar de já se ter concluído que os valores de pressão de oxigénio estudados não são
determinantes na degradação dos compostos, um menor valor de pressão e uma menor
quantidade de H2O2, deveriam indicar uma menor degradação ou uma degradação mais lenta
dos compostos, o que, de acordo com a figura 15b, não se verifica. Os resultados obtidos
sugerem que o melhor ensaio, em termos de degradação dos compostos, foi o que usou uma
pressão de oxigénio de 6 bar e R=3.
A redução do valor de carbono orgânico total, para 6 e 8 bar com R=3 foi de 88%. Verificou-se
a formação de sólidos e de elevadas quantidades de nitratos e sulfatos.
4.3.4 Efeito da Temperatura de Reacção
Foram testadas três temperaturas distintas (150, 180 e 200ºC) na degradação do efluente
rico. A pressão de oxigénio usada foi de 8 bar e o valor de R de 3.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CD
NF/C
DN
F0
T= 200ºC
T= 180ºC
T= 150ºC
(a) (b)
Figura 16 – Evolução da concentração do DNF (a) e do TNF (b) a 150, 180 e 200ºC.
Pela análise da figura 16, é possível verificar que a 150ºC a remoção dos compostos não é
completa, apresentando remoções de 82 e 92%, para o DNF e TNF, respectivamente. Um
incremento de 30ºC já permite obter a remoção completa dos compostos, bem como a
temperatura de 200ºC.
No que diz ao teor de carbono orgânico total, obtiveram-se reduções de 66, 84 e 88% para
150, 180 e 200ºC, respectivamente.
0,0
0,20,4
0,60,8
1,01,2
-30 0 30 60 90 120
Tempo (min)
CT
NF/
CT
NF
0
T= 200ºC
T= 180ºC
T= 150ºC
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 33
A proximidade de resultados entre 180 e 200ºC, em termos de degradação e de remoção de
TOC, sugere que a melhor temperatura de operação será a 180ºC.
Mais uma vez, verificou-se a formação de sólidos em todos os ensaios. A 150ºC a solução final
apresentou um aspecto pastoso, muito diferente de todos os ensaios realizados
anteriormente.
Os sólidos obtidos foram analisados por espectroscopia de infravermelho com transformadas
de Fourier no modo de reflectância difusa (DRIFT). Os espectros obtidos encontram-se na
figura 17:
0
5
10
15
20
25
30
40080012001600200024002800320036004000
Número de onda (cm -1)
Kub
elka
-Mun
k (u
.a.)
T=150ºC
T=180ºC
T=200ºC
Figura 17 - Espectro de IV dos ensaios realizados a 150, 180 e 200ºC.
A análise dos espectros presentes na figura 17, referentes aos ensaios realizados a 150, 180 e
200ºC, é semelhante à análise dos ensaios realizados a diferentes pressões de oxigénio.
É visível em todos os espectros a existência de uma banda a 3220 cm-1, típica da ligação O-H
e, destaca-se, para as temperaturas de 180 e 200ºC, a existência de duas bandas a 1650 e
1450 cm-1, que, como explicado anteriormente, correspondem à banda de alongamento C=C e
à banda de ligação C-OH, respectivamente. Para a temperatura de 200ºC é também visível
uma banda a 1130 cm-1, correspondente à ligação C-N, que parece diminuir com a diminuição
da temperatura (Lin-Vien 1991).
O espectro obtido para a temperatura de 150ºC apresenta várias bandas, que devem
corresponder à existência de compostos intermediários formados durante a reacção, uma vez
que a degradação de DNF e TNF não foi completa.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Resultados e Discussão 34
A tabela 8 mostra a frequência de algumas ligações e os possíveis compostos que as
originaram (Duncan 1956):
Tabela 8 – Frequência, natureza de vibração e tipos de compostos correspondentes.
Frequência (cm-1) Natureza de Vibração Tipo de compostos
1630-1615 H-O-H ligação Água de cristalização de sais hidratados 1562-1470 -C-N=O alongamento assimétrico Compostos alquilo nitrosos 1540-1520 -N-H ligação N-monosubstituídos, amidas 1380-1378 -CH3 ligação simétrica Hidrocarbonetos alifáticos lineares 1380-1350 NO3
- vibração Ião nitrato 1205-1125 C-OH alongamento Álcoois alifáticos saturados
4.4 Estimativa de Custos
Para esta estimativa foi considerado que se comprariam 25 toneladas de peróxido de
hidrogénio a 50% e, que a entrega seria efectuada em Estarreja em camião cisterna, este
composto teria a cotação de 325€.ton-1, transporte incluído (fonte: Quimitécnica).
De acordo com a tabela 11 (Anexo 3) as quantidades de DNF e de TNF a destruir são,
respectivamente, 35,99 e 20,83 g.L-1, o que corresponde a um total de 56,82 g.L-1. Sabendo
que a quantidade de efluente rico gerada é de aproximadamente 3,0 m3.h-1, a quantidade de
nitrofenóis a destruir é de 170,5 kg.h-1.
Uma concentração de peróxido de hidrogénio de 120 g.L-1, equivale, em termos práticos, a
usar 0,252 L de H2O2 a 50% (w/w) na destruição de 1 L de efluente rico, ou seja, um total de
756 L.h-1. O custo de peróxido de hidrogénio por hora é de 295 €. Para uma concentração de
peróxido de hidrogénio de 70 g.L-1, que apresenta resultados semelhantes ao uso de uma
concentração de 120 g.L-1 (ver secção 3.4.1), a quantidade necessária de H2O2 a 50% (w/w) é
de 400 L.h-1, o que corresponde a um custo por hora deste agente oxidante de 156 €. A
tabela 9 sintetiza a informação descrita anteriormente.
Tabela 9 – Condições da corrente processual
CH2O2=120 g.L -1 CH2O2= 71 g.L -1
Preço H2O2 (€.kg -1) 0,325
Q ER (L.h -1) 3000
Q nitrofenóis (kg.h -1) 170,5
Q H2O2 (L.h -1) 756 400
Q H2O2 (kg.h -1) 907 480
Custo H2O2 (€.h-1) 295 156
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Conclusões 35
5 Conclusões
1. As experiências preliminares mostraram a necessidade de operar em condições de pressão
e temperatura algo severas, pois ao fim de 4 horas não foi possível degradar completamente
os compostos, usando uma concentração de peróxido de hidrogénio de 120 g.L-1,
temperaturas de 95 e 100ºC e pressões de ar de 1 e 2 bar.
2. A conversão do DNF e do TNF aumenta com a quantidade de peróxido de hidrogénio, a uma
temperatura de 200ºC e a uma pressão de oxigénio de 0,8 bar. O uso de uma menor
concentração de peróxido de hidrogénio conduz a uma maior formação de sólidos durante a
reacção e a redução de carbono orgânico total diminui com o aumento da concentração de
H2O2.
3. A variação da temperatura na presença de H2O2 (R=1) mostra que, à excepção do ensaio
realizado a 120ºC, se obtêm remoções superiores a 99%, no entanto, a diminuição da
temperatura conduz a uma maior formação de sólidos e a um escurecimento da solução final
de reacção.
4. Na ausência de peróxido de hidrogénio e a uma temperatura de operação de 200ºC,
verifica-se uma maior remoção dos compostos às pressões de oxigénio mais elevadas (6 e
8 bar). A cor final de todas as soluções é escura e existe um ligeiro aumento da quantidade de
sólidos com a diminuição da pressão.
5. Na ausência de peróxido de hidrogénio, existe uma menor conversão do DNF e do TNF com
a diminuição da temperatura. A 150ºC não é possível degradar o TNF ao fim de 120 minutos.
6. Um aumento da pressão, na presença de H2O2 (R=1 e T= 200ºC) torna a degradação dos
compostos ligeiramente mais rápida.
7. A degradação dos compostos a diferentes pressões é semelhante, mostrando que o
aumento da pressão de oxigénio não é determinante para uma maior degradação dos
compostos, na presença de peróxido de hidrogénio (R=2 e T=200ºC). Uma menor quantidade
de peróxido de hidrogénio, R=3, apresenta resultados semelhantes ao fim de 120 minutos
(T=200ºC e PO2 de 6 e 8 bar).
8. A proximidade de resultados entre 180 e 200ºC, em termos de degradação de compostos e
de remoção de TOC, sugere que a melhor temperatura de operação será a 180ºC, para R=3 e
uma PO2 de 8 bar.
9. Verificou-se em todos os ensaios um aumento do teor de nitratos e sulfatos, o que confirma
a degradação dos compostos nitroaromáticos.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Conclusões 36
10. Das análises por FTIR concluiu-se que os materiais sólidos formados contêm azoto na sua
matriz.
11. A oxidação por via húmida e a oxidação por via húmida assistida por peróxido são
processos eficientes na remoção do DNF e do TNF. A uma dada pressão de oxigénio a
degradação dos compostos aumenta com a quantidade de peróxido de hidrogénio e com a
temperatura. Na ausência de peróxido a remoção é mais lenta e mais sensível à presença de
oxigénio à temperatura de 200ºC.
12. A conversão mais eficiente tem lugar a T= 180ºC, CH2O2= 71 g.L-1 e uma pressão parcial de
oxigénio de 0,8 bar.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Avaliação do Trabalho Realizado 37
6 Avaliação do trabalho realizado
6.1 Objectivos Realizados
A WPO revelou ser um método eficiente para a remoção de DNF e TNF no efluente. Foram
determinados os parâmetros críticos que afectam a eficiência do processo, sugerindo que
após optimização este método pode ser uma alternativa viável à incineração.
A introdução de H2O2 permitiu amenizar as condições de remoção de DNF e TNF relativamente
ao processo de WO. Contudo a quantidade de H2O2 necessária ainda pode ser optimizada em
função da pressão de O2 e da temperatura, bem como das exigências operacionais relativas ao
escoamento e transferência do efluente rico.
6.2 Limitações e Trabalho Futuro
A montagem laboratorial de WPO disponibilizada pelos laboratórios da empresa para este
estudo limitou de certo modo a obtenção de dados cinéticos, pelo que num futuro próximo,
se deverá proceder à identificação dos intermediários da reacção, para se obterem
informações sobre o mecanismo da mesma, permitindo o desenvolvimento de um modelo
cinético.
Num futuro próximo deve optar-se por testes à fase pré-industrial, nomeadamente, tentando
por operar em continuo.
Dada a natureza exotérmica da reacção devem criar-se condições para que a adição de
peróxido de hidrogénio possa ser realizada à temperatura de operação, controlando o início
de reacção. Esta modificação tornaria possível a adição de pequenas doses de peróxido em
vez de uma quantidade total deste agente oxidante, conduzindo a melhores resultados
(Prasad et al 2007). Deste modo o processo poderia tornar-se do ponto de vista energético
auto-sustentável, como sugerem vários trabalhos publicados.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Avaliação do Trabalho Realizado 38
6.3 Apreciação Final
Tendo em conta os custos e inconvenientes da incineração é urgente encontrar uma solução
alternativa para o tratamento de efluente rico. A combinação da destilação com o tratamento
do destilado por oxidação química provou ser o caminho mais viável.
Após uma série de estudos à escala pré-industrial a melhor opção poderá passar pela
implementação de uma unidade de WPO. Estas unidades podem ser encomendadas à medida
das necessidades dos processos em questão. O facto de existirem mais de 150 a operar
mundialmente para situações idênticas, justifica que esta alternativa mereça atenção.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Referências 39
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Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 1 42
Anexo 1 Processos de WAO
Numa perspectiva de melhorar o processo de WAO não catalítico foram introduzidas no
original novas tecnologias e métodos, principalmente no que diz respeito às condições de
operação e à geometria do reactor.
O processo Zimpro foi o primeiro processo de WAO a ser desenvolvido. A temperatura de
operação variava entre os 145 e 325ºC e a pressão entre 20 e 120 bar, dependendo do grau de
oxidação pretendido e do efluente a processar. O tratamento de lamas requeria uma gama
temperatura entre 147 e 200ºC, enquanto que, a regeneração de carvão activado e a
conversão de compostos refractários a substancias biodegradáveis obriga ao uso de
temperaturas no intervalo de 200 a 250ºC. A destruição completa dos compostos pode ser
conseguida a temperaturas superiores. De um modo geral, o reactor é projectado para um
tempo de residência de 60 minutos, no entanto, dependendo da aplicação, pode variar entre
os 20 minutos e as 4 horas.
A principal diferença entre o processo Zimpro e o Wetox é o design do reactor. Constituído
por 4 a 6 compartimentos, o segredo do processo está na agitação e na adição de oxigénio a
cada compartimento. A temperatura de reacção varia entre 207 e 247ºC, havendo um
aumento de temperatura em cada compartimento devido à natureza exotérmica da reacção.
A pressão de operação é geralmente de 40 bar e o tempo de retenção de 60 minutos.
A característica principal do processo Kenox é a existência de dois reactores em série, com
agitação e ultrasons. Este sistema permite reduzir o valor de CQO e destruir compostos
refractários como o ácido acético. A existência de ultrasons permite a dissolução dos sólidos
suspensos e criação de regiões microscópicas de elevadas temperaturas e pressões acelerando
a reacção. A temperatura de operação situa-se entre 200 e 240ºC, a pressão entre 41 e 47 bar
e o tempo de residência, é na maioria dos casos 40 minutos. Adicionalmente pode ser
colocado um catalisador heterogéneo na superfície do agitador para aumentar o grau de
oxidação.
O processo VerTech usa um reactor vertical constituído por dois tubos concêntricos (de
diferentes sentidos, ascendente e descendente) que podem ter uma altura de 1500 m. A
vantagem deste reactor é que usa gravidade para formar as elevadas pressões que o processo
de WAO requer. A pressão depende da altura e da densidade do fluido, que varia com a
temperatura e com a quantidade de gás. Geralmente, a altura do reactor varia entre 1200 e
1500 m permitindo uma pressão na base do reactor de 85 a 110 bar. A temperatura é de
277ºC e o tempo de residência de aproximadamente 60 minutos.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 1 43
O sistema Oxyjet assenta na combinação de agitadores jacto (jet-mixers) e reactores
tubulares. A estratégia deste processo assenta na criação de uma área interfacial elevada que
maximiza a transferência de oxigénio para a fase líquida conduzindo a um controlo cinético
sobre uma vasta gama de condições de operação. Uma temperatura de operação entre 150 e
180ºC e um tempo de residência de 2,5 minutos, permite oxidar o fenol com uma eficiência
entre 20 a 50%. Aumentando a temperatura para 300ºC e o comprimento do reactor para
29 m, para o mesmo tempo de residência, obtém-se, para soluções puras de fenol e
etilenoglicol, uma remoção de TOC de 99%.
Vários catalisadores heterogéneos foram estudados nas últimas décadas, mostrando que os
catalisadores de metais nobres suportados são os que apresentam melhores características,
quer em termos de resistência à desactivação, quer em actividade catalítica, sendo capazes
de oxidar vários compostos poluentes, incluindo compostos refractários como o ácido acético
e a amónia. Face a estes resultados, foram desenvolvidos processos comerciais de oxidação
catalítica usando catalisadores heterogéneos contendo metais nobres.
O processo NS-LC (Nippon Shokubai) opera numa gama de temperatura entre os 160-270ºC e
os valores de pressão encontram-se entre os 9–80 bar. O tempo de residência é geralmente de
1 hora. Usando um catalisador de Pt-Pd/TiO2-ZrO2 é possível de oxidar compostos como o
fenol, formaldeído, ácido acético e glucose com uma eficiência de 99%. A temperatura e
pressão de operação são de 220ºC e 40 bar, respectivamente. Na ausência de catalisador, as
eficiências de remoção ficariam limitadas a 5-50%.
O processo Osaka Gas é semelhante ao processo Zimpro, excepto no uso de um catalisador,
baseado numa mistura de metais nobres e de transição suportados em TiO2 ou ZrO2. As
condições de operação, nomeadamente a temperatura, pressão e pH dependem da
composição do efluente e da eficiência de remoção pretendida. Poluentes como a amónia e o
fenol são degradados para níveis inferiores ao limite de detecção. Na ausência de catalisador,
não havia remoção de amónia e o valor de CQO era elevado.
O processo Kurita foi especificamente desenvolvido para eliminar a amónia, por oxidação com
o ião NO2- a N2 e a N2O, na presença de um catalisador suportado em platina. O uso do ião
nitrito em vez de oxigénio permite baixar a temperatura de operação para valores entre 50 e
100ºC.
Alternativamente aos catalisadores heterogéneos podem ser usados catalisadores
homogéneos. A presença de catalisador na mesma fase que o efluente a tratar simplifica o
sistema de operação do reactor, no entanto, é necessário proceder à sua separação e
reciclagem.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 1 44
O processo LoProx foi desenvolvido pela Bayer para o pré-tratamento de substâncias orgânicas
não biodegradáveis. O uso de condições de operação suaves, temperatura abaixo de 200 ºC e
pressões entre 50 e 200 bar, produzem um efluente final adequado para tratamento
biológico. Este processo usa como catalisador iões Fe2+ e quinona e, de um modo geral, é
apropriado para valores de CQO na ordem das 5 a 100 g.L-1, possuindo um tempo de
residência de 1 a 3 horas.
O processo Ciba-Geigy usa como catalisador um sal de cobre que é recuperado na forma de
sulfureto de cobre. A temperatura de operação é elevada, cerca de 300ºC, de modo a obter
eficiências de remoção entre 95 e 99%, para efluentes provenientes da indústria química e
farmacêutica. No entanto, estas condições, apesar de removerem compostos refractários
como o acido acético, não eliminam completamente a amónia.
Desenvolvido para o tratamento de lamas, o processo Athos assenta em três passos:
preparação da lama, oxidação e tratamento de sólidos residuais. Este processo usa como
catalisador um sal de cobre, e apresenta uma redução do valor de CQO entre 85 a 90% para
uma temperatura de operação de 235ºC e uma pressão de 40 bar.
O processo WPO usa como oxidante o peróxido de hidrogénio e como catalisador iões Fe2+.
Considerado por alguns autores uma adaptação do reagente de Fenton, este processo possui
uma temperatura de operação de aproximadamente 120ºC e uma pressão de 5 bar. Usando
como catalisador uma mistura de Fe2+, Cu2+ e Mn2+, é possível obter, ao fim de 60 minutos
uma redução no valor de TOC de 60%, para uma solução de ácido acético, oxálico e malónico.
Na ausência de catalisador, ou seja, usando apenas peróxido de hidrogénio, é possível obter
uma redução no valor de TOC de 59% e conversões completas para alguns compostos
orgânicos, nomeadamente, clorofenóis.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 2 45
Anexo 2 Recta de Calibração
Preparou-se uma solução mãe constituída por 0,168, 0,205 e 0,168 g.L-1 de MNB, DNF e TNF
respectivamente. A partir desta solução foram preparados 6 padrões de modo a construir uma
recta de calibração para cada composto.
Tabela 10 – Valores de concentração do MNB, DNF e TNF em cada padrão.
Padrões C MNB (g.L-1) C DNF (g.L-1) C TNF (g.L-1)
P1 0,17248 0,07550 0,07600
P2 0,06899 0,03020 0,03040
P3 0,03499 0,01510 0,01520
P4 0,01380 0,00604 0,00608
P5 0,00690 0,00302 0,00304
P6 0,00345 0,00151 0,00152
Figura 18 – Recta de calibração para o MNB.
72,5 10×
72,0 10×
71,5 10×
71,0 10×
65,0 10×
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 6 46
Figura 19 – Recta de calibração para o DNF.
Figura 20 – Recta de calibração para o TNF.
71,8 10×
71,5 10×
71,2 10×
69,0 10×
66,0 10×
63,0 10×
71,5 10×
71,2 10×
69,0 10×
66,0 10×
63,0 10×
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 3 47
Anexo 3 Tabela Destilação
Tabela 11 – Valores de concentração inicial (Ci) e após destilação (Cf) para os diferentes
compostos.
MNB (g.L-1) DNF (g.L-1) TNF (g.L-1) Destilação #
Ci Cf Ci Cf Ci Cf
1 8,034 0,032 22,819 28,071 13,680 16,737
2 * 0,050 * 45,089 * 24,042
3 * 0,047 * 38,679 * 27,548
4 * 0,012 * 28,344 * 11,532
5 * 0,022 * 32,285 * 17,658
6 * 0,032 * 42,279 * 25,342
7 * 0,010 * 50,587 * 28,664
8 * 0,017 * 40,292 * 24,906
9 * 0,011 * 31,509 * 17,799
10 8,491 0,047 24,149 29,712 14,791 17,703
11 27,338 0,042 22,501 29,090 12,684 17,199
Média 14,621 0,029 23,156 35,994 13,718 20,830
*não foram medidos os valores
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 4 48
Anexo 4 Reactor de Vidro
Figura 21 – Reactor de vidro usado nos ensaios a baixa pressão.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 5 49
Anexo 5 Reactor Parr de Alta Pressão
Figura 22 – Reactor de alta pressão.
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 6 50
Anexo 6 Síntese de Resultados
Tabela 12 – Síntese de Resultados
DNF TNF1 B 20,4 8,9 88,75 74,04
C 120,8 0,4 99,91 100,00D 70,6 1,0 99,90 99,91E 45,5 2,5 99,43 99,69F 150 69,8 99,75 99,90G 120 55,7 92,10 99,82H 180 55,7 99,86 99,94
2 D 200 70,6 99,90 99,91I 200 1 0,2 56,1 1 99,93 100,00J variável 4 0,8 69,7 1 ----- ----K 4 4 ---- ---- 91,91 80,04L 8 8 ---- ---- 99,29 98,52M 6 6 ---- ---- 99,42 98,70N 2 2 ---- ---- 92,65 83,81O 1 0,2 ---- ---- 87,49 87,04M 200 ---- --- 99,42 98,70P 150 ---- ---- 47,60 -14,51Q 2 2 69,0 99,95 100,00R 4 4 69,0 99,97 100,00S 2 2 45,5 99,93 99,88T 4 4 45,5 99,96 100,00U 6 6 45,5 99,59 100,00V 8 8 44,6 98,91 100,00
W 8 8 34,2 99,36 99,89
X 6 6 34,2 99,85 99,93
W 200 34,2 99,36 99,89Y 180 33,9 99,87 99,87Z 150 33,9 81,80 91,92
1
1
2
3
8Avaliar o efeito da temperatura na degradação
dos nitrofenóis
Avaliar o efeito da pressão de oxigénio na degradação dos nitrofenóis usando uma menor
quantidade de H2O2
Avaliar o efeito da pressão de oxigénio na
degradação dos nitrofenóis usando uma menor
quantidade de H2O2
8 3
6
Avaliar o efeito da pressão de oxigénio na degradação dos nitrofenóis usando H2O2
Avaliar o efeito da temperatura na degradação dos nitrofenóis sem o uso de H2O2
Avaliar o efeito da pressão de oxigénio na
degradação dos nitrofenóis sem o uso de H2O2
6
200
11
5
6
200
7
8200
9200
10
% Remoção (2h)
200 0,8
Avaliar o efeito da quantidade de H2O2 na
degradação dos nitrofenóis
P Total (bar) C H2O2 (g/L) R (n nitrofenois /nH2O2) Objectivo
4
Avaliar o efeito da temperatura na degradação
dos nitrofenóis
Efluente Rico
Teste T (ºC) P O2(bar)
2
3
0,84 4
Remoção de Nitrofenóis de uma Corrente de Efluente Rico
Anexo 6 51
Tabela 12 (cont.) – Síntese de Resultados
DNF TNF DNF TNF DNF TNFB 20,4 8,9 26927 16055 8938 9925 88,75 74,04C 120,8 0,4 36014 19203 2310 416 99,91 100,00D 70,6 1,0 39784 21214 7682 9547 99,90 99,91E 45,5 2,5 35163 25044 10049 5006 99,43 99,69F 150 69,8 33282 23704 8465 8117 99,75 99,90G 120 55,7 25185 10246 11660 5816 92,10 99,82H 180 55,7 25185 10246 3547 638 99,86 99,94D 200 70,6 39784 21214 7682 9547 99,90 99,91I 200 1 0,2 56,1 1 28664 15678 5707 972 99,93 100,00J variável 4 0,8 69,7 1 27785 15197 14262 10249 ----- ----K 4 4 ---- ---- 42279 25342 36336 34039 91,91 80,04L 8 8 ---- ---- 42279 25342 55578 38678 99,29 98,52M 6 6 ---- ---- 50587 28664 48997 40848 99,42 98,70N 2 2 ---- ---- 50587 28664 46685 34958 92,65 83,81O 1 0,2 ---- ---- 50587 28664 29072 37511 87,49 87,04M 200 ---- --- 50587 28664 48997 40848 99,42 98,70P 150 ---- ---- 40292 24906 41453 36625 47,60 -14,51Q 2 2 69,0 34735 21471 5675 1877 99,95 100,00R 4 4 69,0 34735 21471 1166 180 99,97 100,00S 2 2 45,5 28644 16181 3858 916 99,93 99,88T 4 4 45,5 28644 16181 4237 1036 99,96 100,00U 6 6 45,5 28644 16181 4924 1578 99,59 100,00V 8 8 44,6 27060 16122 4604 1465 98,91 100,00W 8 8 34,2 27677 16490 5940 4232 99,36 99,89X 6 6 34,2 27677 16490 3287 4005 99,85 99,93W 200 34,2 27677 16490 5940 4232 99,36 99,89Y 180 33,9 27115 16031 6082 7088 99,87 99,87Z 150 33,9 27115 16031 11854 7398 81,80 91,92
1
3
3
2
1
C inicial (mg.L -1) C t=0 (mg.L -1)
88
6
200
200
200
6
4 0,8
200
0,8
P O2(bar) C H2O2 (g/L) R (n nitrofenois /nH2O2)Teste T (ºC) P Total (bar) % Remoção (2h)
200 4
Contabilizada a adição de peróxido de hidrogénio.
Não foram atingidas as 2 horas de reacção (ver Fig.9).
*
**
**
*