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com grande satisfao que a Secretaria
Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo e
a Academia Leopoldinense de Letras e Artes
apresentam o resultado do 23 Concurso
Nacional de Poesias Augusto dos Anjos neste ano
do centenrio de morte do grande escritor e
patrono de nossa Academia.
As inscries foram abertas no dia 10 de
setembro de 2014 e encerradas um ms depois,no dia 10 de outubro. Foram inscritas 605
(seiscentas e cinco) poesias e recebidas 429
(quatrocentos e vinte e nove), das quais foram
selecionadas as 10 (dez) finalistas. Trabalho duro
da Comisso Julgadora, composta pelos
acadmicos: Arnaldo Spndola Maximiano;
Begma Tavares Barbosa; Luiz de Melo Sobrinho;
Maria Jos Ladeira Garcia e Rafael Loche
Barbosa.
As poesias finalistas passaram por uma
difcil seleo, sendo merecedoras de muitos
cumprimentos. Antes, porm, de apresent-las, a
Comisso Organizadora faz um pequeno relato
sobre a trajetria deste Concurso.
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No incio da dcada de 1990, quando as servidoras da Biblioteca Municipal Luiz
Eugnio Botelho lanaram o primeiro Concurso de Poesias Augusto dos Anjos, poucas
pessoas poderiam imaginar que o evento tomaria a proporo atual. Capitaneadas pela
servidora municipal Maria Helena Vieira, a equipe lutou com bravura, adquirindo um tal grau
de aprimoramento que j na quarta edio o certame teve mbito nacional e, no ano
seguinte, atravs da Lei n 2844, passou a fazer parte do calendrio oficial do municpio.
Ao longo destes 23 anos, Leopoldina tem vivido momentos especiais de culto
poesia, atravs dos poetas e declamadores que anualmente se apresentam na solenidade
que marca o julgamento final. Os autores locais tm, assim, oportunidade de conhecer seus
pares, ouvir novas vozes, sentir outras emoes. E muitos pequeninos comeam a trilhar a
estrada literria estimulados pela vivncia deste acontecimento.
A forma de realizar o Concurso pode ter sofrido alteraes ao longo do tempo.
Entretanto, a sua essncia permanece. Homenageando o poeta maior, que viveu por alguns
meses em nossa cidade, o esforo desta comunidade a faz merecer o ttulo de augustiniana,
como querem alguns, ou anjosiana, como definem alguns escritores da terra de Augusto dos
Anjos.
Ao longo deste sculo que nos separa daquele 1914, quando a cidade o recebeu paradirigir o seu principal educandrio infantil, tivemos vrios ciclos de maior atividade em torno
de seu nome. Na dcada de 1920, atravs do incentivo de Julio Ferreira Caboclo, professor
do ento Ginsio Leopoldinense, foi criado o Grmio Litero-Artstico Augusto dos Anjos que,
alm de despertar o interesse da mocidade pela obra do poeta, e por extenso da literatura
em geral, promoveu vrios encontros anuais em homenagem ao centenrio de morte de seu
patrono.
Este ano, atravs das palavras de Luiz Gonzaga Rodrigues, ex-presidente e atual vice-
presidente da Academia Paraibana de Letras, que nos visitou entre os dias 6 e 9 de
novembro, ficamos sabendo que Leopoldina foi pioneira no culto obra de Augusto dos
Anjos, antes mesmo que ele se tornasse mais conhecido na Paraba natal. Segundo Gonzaga
Rodrigues, na dcada de 1920 a Paraba ainda no se rendera ao poeta do Eu. Enquanto isto,
aqui em Leopoldina um grupo de jovens realizava a ento chamada Missa de Arte, cerimnia
que extrapolava a celebrao religiosa com palestras de vrios literatos.
Outros momentos de igual relevncia aconteceram em outras dcadas, com
destaque para a intensa movimentao da cena cultural na dcada de 1980, por estmulo do
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mordomo de Augusto, ou o mago das cores como Serginho do Rock alcunhou Luiz
Raphael Domingues Rosa, o artista plstico que com sua persistncia trouxe para a gerao
atual o conhecimento no s da obra como da casa onde viveu Augusto.
Neste 2014, quando pela primeira vez a Academia Leopoldinense de Letras e Artes
participa da organizao do Concurso, temos a satisfao de declarar que a memria de
Augusto dos Anjos continua presente no s na pequena casa agora Museu, como na
atividade febril de quantos continuam poetando ou aclamando os que se dedicam a tal arte.
E que esto representados nas mais de seis centenas de inscritos no 23 Concurso Nacional
de Poesias Augusto dos Anjos.
Leopoldina (MG), 14 de novembro de 2014
Amanda Oliveira Almeida, Glaucia Maria Nascimento Costa de Oliveira e Nilza Cantoni
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INDICE
1 Lugar e Melhor Intrprete ................................................................................................. 1
Luxrias Lascivas, Lancinantes .................................................................................................... 1
2 Lugar ................................................................................................................................... 2
Infncia ....................................................................................................................................... 2
3 Lugar ................................................................................................................................... 3
Histria de quem fez histria ou Trajetria de uma histria ..................................................... 3
Demais Finalistas .................................................................................................................... 6
Anjosiana .................................................................................................................................... 6
Avenidas de mim ........................................................................................................................ 7
Confidncia ................................................................................................................................. 9
Do lbum de Famlia................................................................................................................. 11
Soneto Temporal ...................................................................................................................... 12
Um Poema Livre........................................................................................................................ 13
Versos e Ondas ......................................................................................................................... 15
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1 Lugar e Melhor Intrprete
Luxu rias Lascivas,Lancinantes
Vincius Fernandes CardosoContagem, MG
Intrprete: o prprio autor
Luxrias lascivas, lancinantes,
volpias violentas, viscerais,
desejos despticos, dionisacos,
gozos gongricos, genitais...
Orgasmos rficos, ofegantes,
selvagerias saltitantes, sensuais,
fomes furiosas, sedes soberbas,
sadismos srdidos, saturnais...
Toques trridos, pertos vidos...
mos malvolas, tendes tesos,
bocas babam, pupilas pululam,
poros porejam, suores secretam...
Rostos rotos, enrugados,
egos efusivos, extasiados,
sensaes saciveis acesas,
sentidos todos saturados...
E no gozo que tudo desfalece,
se desfibra, morre e esquece,
quando Scubo se regozija,
quando Baphomet nos vence...
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2 Lugar
Infancia
Eliana Ruiz JimenezBalnerio Cambori, SC
Intrprete: Fabrcio Manca
Minha infncia no
cais de saudades clidas
vio a correr nas campinaspiro em fogo lenha.
Na minha infncia chovia
em hordas torrenciais
at virar enchente
e na gua que corria
eu soltava barcos de papel
inocentes.
Numa noite fria
a correnteza levou
meus cadernos de poesias
e as certezas do futuro
que eu teria.
Cresci abruptamente
no vazio do balano que ficou
e no carrossel enlameado
que nunca mais girou.
Minha infncia
cais de saudades plidas
vio de sonhos persistentes
forja que me tornou valente.
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3 Lugar
Historia de quem fezhisto ria ou Trajeto riade uma historia
Dodora GalinariBelo Horizonte, MG
Intrprete: a prpria autora
Eu vou contar uma histria,
na Paraba nascida;
em Minas, fez trajetria
nas trs dcadas de vida.
Mostrarei, em relatrio,
vida de Augusto dos Anjos-
autor de um livro notrio;
alma-poeta, em esbanjos.
Acolhido em Leopoldina,
deixou um marco importante:
potica genuna...
iderio palpitante.
Terreno frtil, a mente
de um advogado capaz...
do pensador inclemente...que, de cultura se faz!
Dono de conhecimento,
usado nos seus escritos;
questionador muito atento,
honesto em todos quesitos.
Racional, inteligente,
valorizou a cincia;
pelas artes, combatente,
sem fugir da consequncia.
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e, faz jus a nobre histria!
Enaltecendo o Brasil,
Mais um bardo na memria:
literato varonil,
merecedor de vitria.
Parabns a Leopoldina-
grande cidade mineira-
que poesia se inclina,
sendo dela, mensageira!
Homenagensas deste ano-
so a quem, entre os Arcanjos,hoje, escreve em outro plano:
O augusto Augusto dos Anjos!
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Demais Finalistas
Anjosiana
Jos LiraRecife, PE
Intrprete: Glria Barroso
Acabrunhado e taciturno, triste
E reflexivo, pelos matos ando,
Como Augusto dos Anjos, procurando
A explicao de tudo quanto existe.
E, guante s mos, e de elmo, lana em riste,
Cavaleiro da Dvida, demando
A soluo do enigma formidando
Que, qual a Esfinge, atro e fatal persiste.
J de louco me chamam. Entretanto,
Teimo e prossigo, s, tateando a esmo,
Como quem segue atrs de uma quimera...
Mas a resposta que eu procuro tanto
Encontra-se, talvez, dentro em mim mesmo,
Ou talvez no epitfio que me espera!
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Avenidas de mimCamila Caroline Messias
Nova Serrana, MG
Intrprete: Fabrcio Manca
Que peas so essas
Que me compem?
Daquelas que conheo,
Penso que sou.
Das que desconheo, o que querem me dizer?
Um absurdo qualquer
Desses que me levam a escapar de mim.
Que me convidam para dar uma volta
Por onde no pisaria
Desacompanhada assim.
Em voo e mergulho. Decolo. Salto.De volta, pouso no que sei sobre mim.
E sobre mim pouco sei. To pouco a ponto de querer
Estar a ss comigo e, na mais completa solido,
Vasculhar nesses meus pores
Mal iluminados e empoeirados
Algum sinal. Um vestgio
De alguma verdade. Uma razo.
Aos meus anjos, em silncio,
Eu vou pedir proteo.
Vez por outra, me rendo tentao
De me exilar nesses labirintos
De mim mesma e por ali ficar
Perambulando lentamente nos
Caminhos curvos que
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Em mim encontro.
E j no me perco. J no temo
No encontrar onde a sada est.
Sada, bem sem, j no h.
Na companhia de mim,
Em desassossegada solido, aprendi estar.
No silncio ensurdecedor aprendi a mergulhar.
E aquelas peas desconhecidas,
Silenciosamente, hei de encontrar.
Se no nas minhas, permito-me
Ousar procur-las nas tuas gavetas,
Em meio s tuas tralhas. Em meio s milhares
De traas, meias, velhas camisetas.
Talvez j tenha sido, por completo, devoradas.
Talvez restado, ao fundo, algumas pequenas migalhas.
Talvez sejam peas imperfeitas e desajustadas,Desprezveis demais para serem tocadas.
Talvez tenham se perdido no tempo.
Rarefeitas pelo suave sopro do vento.
Talvez sejam peas desalinhadas.
Peas erroneamente recortadas.
Imperfeitamente encaixadas, tais como
Pedras calando as caladas.
Obedientes peas alienadas seguindo
Numa marcha rumo ao nada
At despencarem de um precipcio
Ou morrerem numa encruzilhada.
Bailarinas peas trpegas a bailar
Nos sales de pavimentao irregular
Dessas avenidas
De mim.
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ConfidenciaLuiz Rogrio Camargo
Curitiba, PR
Intrprete: Antnia das Graas
Certa vez nasci em Guarapuava.
Por isso este corao.
Duro.
Frio.
Coberto de geada.
Naquele tempo j a cidade era velha.
As pessoas todas eram velhas.
At as crianas.
Do alto, as pandorgas viam casas.
Os homens desejando mulheres.
Os suicidas no escuro escrevendo.
Os sapos pulando nas caladas
- Depois da chuva.
Nos banhados se apagavam vaga-lumes
E era triste o assovio pelos carreiros.
Os espinhos do p a mo tirava
Enquanto os da alma foram ficando sem remdio.
O apito estridente do vigia
Andava guardando remorsos e iluses.
O cansado tropel da mulinha do leiteiro
Trazia o sol arrastado para o dia.
E o p suspenso das ruas ainda antigas
Calou para sempre
Na roupa.
Na pele.
Nos ossos.
Dos bancos das velhas mercearias
Rindo acenavam bbedos desgraados.
Enquanto ces vadios e muito mansos
Lambendo feridas ladravam pelas ruas.
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(Quando ento algum morria
Morriam tambm grandes copos-de-leite
Sujos de velas
E limpos a pranto.E havia caf preto e cachaa e po.
A certa altura choravam gaitas
Para descanso das almas e das carpideiras
Enquanto velhas faziam piadas para esquecer.)
Naquele tempo ainda havia borboletas
E as corroras andavam pelos beirais
Anunciando sonhos de primavera.
No cu escrita em linguagem de nuvem
Havia mensagens que as crianas
J no podem decifrar.
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Do A lbum de FamliaRita Maria de Souza Lacerda
Rio de Janeiro, RJ
Intrprete: a prpria autora
Imagem traduz fato,
fotografia ato.
Fato a frao instantnea
da rebelada rotina.
Foto a tentativa frustrada
de estagnar o tempo.Fato carece de preparo,
foto de preparo se abastece e
imagem concentra palavras mil.
Foto canaliza sentimentos,
do fato, a foto revela
notcias do cotidiano.
A foto de fato vela pelo
cotidi (ano) das lembranas.
Para fato, liberta=se o clima,
para foto o clima se busca.
Quem busca o fato,
a notcia encontra.
O encontro com a foto,
reminiscncias resgata.
Quem sabe do fato,
em foto no atenta.
Quem atenta-se foto,
atou-se, de fato, ao ato.
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Soneto TemporalCarlos Alberto Assis Cavalcanti
Arcoverde, PE
Intrprete: Dbora Miana
Oscilo, sob o pndulo do tempo,
sentado na cadeira de balano,
e a saudade, que vem por entretempo,
volta e meia transporta-me ao que alcano.
Viajando na cadeira passatempo,na mquina do tempo ento me lano,
talvez queira fugir do contratempo
que agora o tempo causa enquanto avano.
Se o balanar do pndulo oscilante
deixa o sujeito e o tempo em vo litgio,
s lhe resta o futuro do pretrito,
pois que o tempo presente s tem mrito,se colheu do que fez algum prestgio
que divida com todos doravante.
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Um Poema LivreCristiane Kovacs Cardoso
So Paulo, SP
Intrprete: a prpria autora
Queria traar um poema livre
Sem mtrica peso ou lgica
De risco liberto natural
Que por uma louca mgica
Num abrao forte abismal
Me levasse alm de mimPara algum lugar sem fim
Onrico, transcendental
Queria traar um poema livre
Que tivesse soltos versos
De mil penas indestrutveis
Bem mais fortes que as de caro
Cada qual com mais de cem
Um poema passarinhado
Sem freio, astronauta alado
Penas douradas brilhantes...
Ou que fosse um poema fnix
Em que a cada combusto
Das cinzas sempre renascesse
Que suas lgrimas curassem e
Muitos fardos carregasse
Que pegasse meu caroo
Quando chegasse enfim o fim
E o levasse para longe
Desta carcaa pele e osso e
Assim num voo, o ressuscitasse.
Me levasse ento para onde?
L, depois do horizonte
Ao lado donde o verso soa
Pra l donde o vento voa
To longe quanto eco ecoa
Perto do calor do SolOu do aconchego da Lua
Inda mais alm... que voasse alto e
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De orbe em orbe pulasse
Me alegrasse cada salto.
Queria traar um poema livre
To livre que me libertasseQueria traar, um poema livre.
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Versos e OndasJos Amalri do Nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Intrprete: o prprio autor
Meus versos,
Como ondas,
Vm e vo...
Minharte,
Uma praia sem limites...
s vezes,
Ao vagar das vagas,
Perdem-se aos ventos,
Ecoam rimas e mtricas
Nas espumas que coroam cristas...
Nareia,
Bero para poemas incertos,
Meus versosSucumbem a ps descalos,
Nas arrebentaes desaparecem.
Sem desanimar
Sigo a poetar...
Nas pontas de gravetos
Entrego minhas inspiraes para que dancem
Na constncia do marulhar das guas do mar.
Meus versos
So livres...
Quais vazantes de mars,
Efmeros!
Sofrem a quadratura dos astros.
Minha poesia,
s vezes, pura mansido...
Flutua suave na calmaria
De mares sem ventos.
Meus poemas,
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Por vezes, se agitam
E meus poros se afrouxam
No xtase das ressacas
Que se levantam!