Revista Graffite

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Revista Graffite é uma publicação interna e experimental dos alunos do 3° Período de Jornalismo da UEMG - Unidade Divinópolis, como parte do conteúdo aprendido na disciplina de Técnicas Gráfi cas e Ofi cina de Jornalismo I, ambas lecionadas pela Profª Daniela Martins Barbosa Couto.

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Revista Graffite • Ano 1 • nº 001

ENTENDA A OPERAÇÃODE RESGATE DOS MINEIROSSOTERRADOS VIVOS

AINDA HÁ LAMAANALISAMOS O ROMPIMENTO DA BARRAGEM DA SAMARCO

QUE CRISE?NACIONAL DE GRAFITE SE

MANTÉM LIDER NO MERCADO

Conteúdo

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Reitor: Dijon Moraes Júnior. Vice-reitor: José Eustáquio de Brito. Diretora Acadêmica da Unidade Divinópolis - UEMG: Profª Ana Cristina Franco da Rocha Fernandes.

COORDENAÇÃO DE FOTOGRAFIA: Profª Daniela Martins Barbosa Couto. DIAGRAMAÇÃO: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier.

FOTÓGRAFOS: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. COORDENAÇÃO GERAL: Profª Daniela Martins Barbosa Couto. PESQUISA:

Luana Carvalho. PRODUÇÃO: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. PROJETO GRÁFICO: Junio Kemil. REPORTAGENS: Junio Kemil, Luana

Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. REVISÃO: Rafael Lasmar, Vinícius Xavier.

Revista Graffi te é uma publicação interna e experimental dos alunos do 3° Período de Jornalismo da UEMG - Unidade Divinópolis, como parte do conteúdo aprendido na disciplina de Técnicas Gráfi cas e Ofi cina de Jornalismo I, ambas lecionadas pela Profª

Daniela Martins Barbosa Couto.

Divinópolis, Junho de 2016

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Conteúdo

GrafGraffiteaffite

fiteO lançamento da revista Graffite já é anunciado com grande alegria e entusiasmo. Em julho de 2016

a revista entra em circulação abordando a atividade extrativista da mineração. Os re-pórteres Vinícius Xavier, Luana Carvalho, Ju-nio Kemil e Rafael Lasmar buscaram diversas informações para criar textos em vários for-matos e gêneros, tornando a revista agradá-vel e versátil.

Nos textos, há bastante foco na empre-sa Nacional de Grafite, onde uma de suas unidades situa-se na cidade de Itapecerica, interior mineiro e próxima à cidade de Di-vinópolis, de onde sairá nossa revista. Assim sendo, alguns textos trazem informações dessa unidade mineira, juntamente com uma crítica a respeito do investimento na minera-ção da cidade juntamente com o Governo do Estado. Diante do fato de uma das maiores empresas de extrativismo do mundo contar com uma unidade em Minas Gerais, há tam-bém um enfoque em notícias recentes sobre mineração no estado. Tentar compreender o acidente na cidade de Mariana e seus impac-tos ambientais em busca de uma ideologia de sustentabilidade nas mineradoras é mais um exemplo do conteúdo da revista.

Há também uma crônica muito interes-sante contando a história de Geremias.

Um funcionário da empresa Nacional de Grafite de Itapecerica – MG. Brevemente re-latando seu cotidiano, sua vida pessoal, sua família e seu trabalho, a crônica encerra com o pensamento e uma visão de futuro do mi-nerador.

Entre as informações de cunho interna-cional, há uma menção a respeito do aciden-te registrado no Chile, onde 33 mineradores ficaram 17 dias em um buraco após o desa-bamento de uma rocha que impedia a saída dos trabalhadores.

Para conferir cada detalhe, cada reporta-gem e cada entrevista da revista, acompanhe a primeira edição da Graffite. Uma revista pra quem gosta e entende do assunto.ED

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Conteúdo

14 • CapaA história dos trinta e três mineiros do Chile

06 • ReportagemNacional dribla a crise e se consolida no mercado

08 • EntendaOs processos são necessários para a produção do grafi te

10 • InvestimentosMercado será aquecido com os novos recursos do governo

12 • Não esqueçaAinda há lama. A Graffi te analisa a tragédia em Mariana

22 • CrônicaRefl etimos o cotidiano do trabalhador.

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Economia

A Nacional de Grafite é uma empresa priva-da que centra-se na mineração e refinação de alta qualidade de grafite cristalina natu-

ral. Fundada em 1939 na cidade de Pindamonhangaba, estado de São Paulo, surgiu pela grande evidência de grafite de uma forma natural. Inclusive as pessoas acha-vam que a grafite era um remédio para quem tinha doença de pele. Hoje, existem três polos de extração, sendo uma em São Paulo, outra em Pedra Azul e em Itapecerica-MG.

Em Itapecerica, a Nacional de Grafite tem um mo-derno centro de pesquisas e desenvolvimento, opera-do por uma equipe de profissionais altamente qualifi-cada. Nesse centro, novos produtos e processos são desenvolvidos, sempre em sintonia com as necessida-des do mercado.

Hoje, a empresa é formada no total por 1200 fun-cionários. Sendo cada um com sua determinada função como, Operador de Produção, Mecânico, Analista en-tre outras. Tendo 40% de seus produtos exportados para diversos países do mundo como, Estado Unidos, Alemanha, Rússia, Japão. Além disso, a empresa não tem nenhum tipo de boletim informativo, por já ter seus clientes certos. O que ela faz geralmente é pales-tras para a comunidade local, dando esclarecimentos sobre a parte de meio ambiente.

No meio à crise econômica, algumas mineradoras são obrigadas a pararem seu serviço. Em Minas Gerais, as mineradoras são geradoras de empregos e estão em ritmo de contenção de gastos, dispensando funcio-nários, assim, acabam prejudicando empresas de ou-tros setores.

Alguns funcionários da Nacional de Grafite, re-lataram sobre a crise econômica e a estabilidade da empresa. “Como 48% do mercado atual da empresa e com o mercado externo (exportação), é com o valor

NACIONAL SE CONSOLIDA EM MEIO À CRISE NO SETOR DE

MINERAÇÃO EM MINAS

LUANA CARVALHO

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Vista parcial da Nacional de Grafite em Itapecerica a noite.

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médio do dólar a 3,60; posso dizer, que a crise parece não afetar a empresa. Mas em contrapar-tida as vendas no mercado interno caíram 20% em relação ao ano passado. Outro fator para “driblar” a crise é o planejamento em redução de estoques e produzir somente o que está pla-nejado para vendas, obedecendo o estoque de segurança de cada cliente”, calculou o analista de processo produção, Walter Reis Souza.

O supervisor de produção e expedição, Darci Mendes disse, “a empresa tem uma visão de futu-

ro. Desde 1975 ela vem buscando novos merca-dos, aplicações, produtos, políticas de qualidade e processos. Hoje ela atende vários países, o que lhe garante boa estabilidade nos períodos de cri-se nacionais e internacionais”.

Apresentar soluções inovadoras a seus clien-tes, com uma excelente relação custo-benefício, é o caminho que a empresa vislumbra para man-ter-se líder mundial em sua atividade.

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Entenda

O planeta Terra é composto por rochas que, por sua vez, são compostas por minerais. Alguns desses minerais são

considerados valiosos. A mineração é a prática responsável por extrair esses minérios da na-tureza para uso comercial. Pelo fato de retirar recursos naturais de seu ambiente, a atividade é considerada extrativista.

Devido a demanda, grandes estruturas são necessárias para a extração e, por isto a os pro-fissionais da mineração estão sujeitos a muitos acidentes. O pesquisador Celso Salim, da Funda-centro – entidade de pesquisa ligada ao Ministé-rio do Trabalho e Emprego –, afirmou em 2014 que a mineração já era o quarto setor da eco-nomia com mais acidentes de trabalho no país e o segundo em taxa de mortalidade por acidente de trabalho. Segundo Salim, os altos índices de acidentes de trabalho na mineração têm refle-xo forte na vida das famílias, além de causarem depressão e traumas para os trabalhadores. Os riscos a que os trabalhadores da mineração são submetidos, conforme o pesquisador, incluem exposição à poeira, o manejo de equipamentos sem proteção, carga de trabalho excessiva, movi-mentos repetitivos, entre outros.

Por ser uma atividade do setor primário da economia, a mineração é muito importante para o comércio. O estado de Minas Gerais, como o próprio nome diz, é rico em minerais valiosos e, por esse motivo, conta com várias empresas mineradoras. Uma delas é a gigante Nacional de Grafite.

A Nacional de Grafite, cuja uma das unida-des é situada em Itapecerica, interior mineiro, há mais de sete décadas, é responsável pela comer-cialização de grafite de diferentes características,

nos cinco continentes. A empresa é líder mun-dial no comércio de grafite natural cristalino, os chamados flakes. Fundada em 1939, a Nacional conta com aproximadamente 1200 funcionários, destes cerca de 390 postos de trabalho estão em Itapecerica. A empresa conta com um moderno centro de pesquisa e desenvolvimento no inte-rior de Minas Gerais.

RAFAEL LASMAR

A PRODUÇÃO DE GRAFITE DA NACIONAL

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A cidade de Itapecerica conta com essa identi-dade cultural e industrial. Por ser uma cidade do interior, a população tem grande conhecimento a respeito da Nacional de Grafite. Atualmente, essa relação entre a mineradora e a população é obtida através de palestras dadas pela empre-sa destinadas à comunidade local. A empresa não depende de aparições em jornais, informativos ou quaisquer meios de comunicação, pois já há clientes certos para a comercialização de seus produtos.

Trabalhando o grafiteO minério de grafite é extraído das minas

com o uso de máquinas escavadeiras que carre-gam caminhões basculantes com o minério bru-to. Todo o processo de extração segue um plano de lavra, facilitando a seleção do minério mais adequado a produtos finais.

A deposição desse minério no pátio de ali-mentação é sistematizada para formar pilhas de alimentação em camadas. O objetivo é reduzir a variabilidade natural do minério.

O minério é submetido a sucessivas moagens e processo de separação mecânica das impurezas presentes no grafite. A concentração mecânica objetiva a máxima recuperação do grafite pre-sente no minério, preservando suas caracterís-ticas físicas.

A concentração com uso de químicas é utili-zada na remoção das impurezas remanescentes no grafite previamente concentrado mecanica-mente. A Nacional de Grafite emprega e trata os resíduos de concentração química de forma a não poluir o meio ambiente.

Após a concentração química, o grafite é la-vado intensamente com água desmineralizada,

atingindo pH neutro. Em filtros tipo prensa e secadores rotativos, a umi-dade restante é removida.

O grafite é então classificado atra-vés de técnicas de peneiramento das partículas do grafite concentrado. Moinhos de jato e martelo trituram o grafite concentrado até que ele atinja o tamanho desejado.

A grafite é o material usado em lapiseiras e lápis para escrever ou desenhar. Além disso, o material pos-sui propriedade lubrificante, devido sua forma molecular. O grafite é ain-da um ótimo condutor elétrico. Por isso possui aplicações em eletrônica, como em eletrodos e baterias.

As partículas moídas são classifi-cadas possibilitando controlar a dis-tribuição granulométrica do produto gerado. Os diferentes métodos de moagem e classificação permitem formatar a partícula, dando ao grafite características distintas de densidade e de superfície específicas para usos relacionados a diversos ramos da in-dústria.

Vista aérea da extração do minério em Itapecerica.

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Centro-oeste

Em menos de um ano, o Governo do Esta-do e a Prefeitura de Itapecerica além de investimentos terceiros por órgãos dos

mesmos, trabalharam juntos para tentarem me-lhorar a economia da região, através da minera-ção. Uma das beneficiadas foi a Nacional de Gra-fite LTDA. Mais de 22 mil pessoas foram direta e indiretamente beneficiadas com isso. Não só os moradores das cidades, mas também a população de cidades próximas da Região Centro-Oeste.

O valor do convênio assinado é de R$ 13,6 milhões. O prazo de execução dos serviços é até dezembro de 2016. A iniciativa integra o Progra-ma Estruturador Caminhos de Minas, que tem o objetivo de promover o desenvolvimento e re-duzir as desigualdades socioeconômicas em to-das as regiões do estado, encurtando distâncias, diminuindo o tempo das viagens e aumentando a capacidade de rodovias que exercem o papel integrador entre os municípios mineiros.

O Brasil é um importante produtor mundial, com destaque para Minas Gerais, onde a Mag-nesita desenvolve um projeto da ordem de R$ 80 milhões, com geração de 200 empregos só na cidade de Almanara no norte do estado, e pro-dução prevista de 40 mil toneladas por ano, a ser iniciada em 2014. Outra empresa importante é a Companhia Nacional de Grafite, que produz na região de Itapecerica/MG. Existem potencia-lidades de produção no Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Goiás e Tocantins, segundo diversas fontes.

No total, o Caminho de Minas prevê a pavi-mentação de mais de 8.131,13 quilômetros de

rodovias, beneficiando 309 municípios do Estado, segundo informações do DER.

A assinatura do documento ocorreu na sede da Codemig. Participam do evento o secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Mu-rilo de Campos Valadares, o presidente da Co-demig, Marco Antônio Castello Branco, o dire-tor-geral do DER-MG, Célio Dantas de Brito, e o prefeito de Itapecerica, Antonio Dianese, além do deputado estadual Tiago Ulisses.

CodemigEmpresa pública controlada pelo Estado, a

Codemig integra o sistema liderado pela Secre-taria de Estado de Desenvolvimento Econômico. A Companhia investe em múltiplos segmentos, como mineração, pesquisa de óleo e gás natural, hotelaria, parques e balneários, distritos indus-triais e centros de feiras e exposições, os Expo-minas.

Essa diversidade de atuação reforça a missão da companhia e projeta a empresa como refe-rência em desenvolvimento regional. Conectada com o presente e de olho no futuro, a Codemig vive hoje um novo tempo.

Em consonância com as diretrizes inovadoras do Governo Estadual, a empresa vem pautando suas ações de maneira arrojada e moderna, pau-tada em três grandes eixos estratégicos: Indús-tria de Energia, Mineração e Metalurgia; Indústria de Alta Tecnologia; e Indústria Criativa. Todas es-sas frentes evidenciam o forte compromisso da empresa com o desenvolvimento econômico de Minas Gerais e o bem-estar social dos mineiros.

NOVOS INVESTIMENTOS NA MINERAÇÃO DE ITAPECERICA

Mesmo com indústria em deficit há manutenção e repasse de fundos do Governo prometem fomentar economia

VINÍCIUS VAVIER

Ainda há lama Ainda há lama

Graffi te. Escreve para não esquecer.

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No início de novembro do ano passado, ocorreu o pior acidente da minera-ção brasileira no município de Maria-

na, em Minas Gerais. A tragédia ocorreu após o rompimento da barragem do Fundão, proprieda-de da mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billinton, maior mineradora do mundo.

Era de se esperar de uma mineradora a pre-ocupação constante com o meio-ambiente e sustentabilidade. Palavras não são tudo. Compre-ender o acidente em Mariana e seus impactos ambientais serve como um alerta para a criação de medidas mais efi cazes de segurança para as mineradoras. Conhecer a história das pessoas mineradoras. Conhecer a história das pessoas que lá deixam seus esforços, suas histórias e sua vida não só traz empatia da comunidade e a valo-rização da empresa, como ajudaria a projetar um futuro melhor e mais limpo para a sociedade que complementam os arredores dos negócios.

O rompimento da barragem provocou uma enxurrada de lama que devastou o distrito de

Bento Rodrigues, deixando um rastro de destrui-ção à medida que avança pelo Rio Doce. Várias pessoas fi caram desabrigadas desde então, com pouca água disponível, sem contar aqueles que perderam a vida na tragédia. Além disso, há os impactos ambientais, que são incalculáveis e, pro-vavelmente, irreversíveis.

O acidente em Mariana liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mine-ração, que eram formados, principalmente, por óxido de ferro, água e lama. Apesar de não pos-suir, segundo a Samarco, nenhum produto que causa intoxicação no homem, esses rejeitos po-dem devastar grandes ecossistemas.

A lama que atingiu as regiões próximas à bar-A lama que atingiu as regiões próximas à bar-ragem formou uma espécie de “onda” no local. Essa cobertura, quando secar, formará uma espé-cie de cimento, que impedirá o desenvolvimento de muitas espécies. Essa pavimentação, no entan-to, demorará certo tempo, pois, em virtude da quantidade de rejeitos, especialistas acreditam que a lama demorará anos para secar. Enquan-

Ainda há lama

Análise

VINÍCIUS XAVIER

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Conteúdo

to o solo não seca também é impossível realizar qualquer construção no local.

A cobertura de lama também impedirá o de-senvolvimento de espécies vegetais, uma vez que é pobre em matéria orgânica, o que tornará, por-tanto, a região infértil. Além disso, em virtude da composição dos rejeitos, ao passar por um local, afetarão o pH da terra e causarão a desestrutu-ração química do solo. Todos esses fatores leva-rão à extinção total do ambiente presente antes do acidente.

O rompimento da barragem afetou o Rio Gualaxo, um importante afl uente do rio Carmo, o qual deságua no Rio Doce, caminho pelo qual a lama encontrou 230 municípios da bacia, em Minas Gerais e Espírito Santo até desaguar no Atlântico. À medida que a lama atingia os ambien-tes aquáticos, causa a morte de todos os organis-mos ali encontrados, como algas e peixes. Após o acidente, vários cardumes morreram em razão da falta de oxigênio dissolvido na água e também em consequência da obstrução das brânquias. O

ecossistema aquático desses rios foi afetado e, consequentemente, os moradores que se bene-fi ciavam da pesca.

A grande quantidade de lama lançada no am-biente afeta os rios não apenas no que diz res-peito à vida aquática. Muitos desses rios sofrerão com assoreamento, mudanças nos cursos, di-minuição da profundidade e até mesmo soter-ramento de nascentes. A lama, além de causar a morte dos rios, destruiu uma grande região ao redor desses locais. A força dos rejeitos arran-cou a mata ciliar e o que restou foi coberto pelo material.

Por fi m, espera-se que a lama, ao atingir o mar, tenha afetado diretamente a vida marinha na re-gião do Espírito Santo onde o Rio Doce encontra o oceano. Biólogos temem os efeitos dos rejeitos nos recifes de corais de Abrolhos, um local com grande variedade de espécies marinhas.

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Entonando gritos de “Chi, Chi, Chi, Chile”, Mario Sepúlveda, de 40 anos, foi um dos primeiros mineiros a ser resgatado após

passar 69 dias preso a 688 metros da superfície, naquela que ficou conhecida como a mais difícil operação de resgate a vítimas de um acidente envolvendo uma mineradora da história do Chi-le. O eletricista ficou conhecido como o porta voz da equipe composta por 33 mineiros soter-rados vivos dentro da mina de San José.

No dia 05 de agosto de 2010, o desabamento de uma rocha basáltica, com peso estimado em 800 mil toneladas, impediu que 33 mineiros saís-sem pela única rampa de acesso à mina. Somente depois de 17 dias em meio a completa escuridão, uma das escavações feita pela equipe de resgate, atingiu o local exato onde os mineradores aguar-davam um milagre. Luiz Urzúa surge na imagem que rodou o mundo, visivelmente esperançoso.

No bilhete enviado buraco acima através da son-da estava escrito a mensagem em forma de alívio, “estamos bem no refúgio, os 33”. O recado cha-mou a atenção do mundo.

A partir da descoberta, no dia 22 de agosto, o clima de tristeza se transformou em euforia e, ao mesmo tempo, tensão. Resgatar aqueles homens se tornou um projeto nacional. Especialistas de todo o mundo foram levados ao Chile com o ob-jetivo de encontrar a melhor maneira de retirar os trabalhadores ainda com vida daquela mina de cobre. Cada minuto contava.

As condições dentro da mina eram completa-mente insalubres a longo prazo. Não havia água e nem comida suficiente. A atmosfera subterrânea onde estiveram os 33 mineiros rondava 36°C e a umidade relativa variava entre 85 a 94%. Uma verdadeira sauna às escuras. Um dos mineiros mais velhos, Omar Reygadas, relatou à televisão

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Quase seis anos após o acidente que mobilizou o mundo, recontamos as história do resgate dos mineiros de San José

JUNIO KEMIL

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Detalhes do acampamento Esperanza, montado ao lado da mina San José.

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alemã DW, as grandes dificul-dades que eles enfrentaram. “Fomos encontrados 17 dias depois do acidente. Estávamos sobrevivendo com uma colher de chá de atum em conserva cada um, a cada 72 horas. A única água que havia era aquela suja e oleosa que normalmente usávamos para limpar as máqui-nas de mineração”, conta Rey-gadas.

Ao saber do acidente, o presidente chileno, Sebastián Piñera interrompeu uma visita à Colômbia e disse que o go-verno faria tudo humanamente possível para resgatar os traba-lhadores. Desde então, o pre-sidente passou a acompanhar pessoalmente o resgate e os esforços se multiplicaram.

A mina San José é um local de exploração de cobre e ouro. Está localizada a noroeste de Copiapó, 850 quilômetros ao norte de Santiago. A jazida de San José é de origem vulcânica e está relacionada com a falha tectônica presente em toda a costa chilena. Os filões magmá-ticos da mina de San José são de forma tabulares, resultantes do preenchimento de fraturas pré-existentes nas rochas dio-ríticas, comuns na região.

A pedra que soterrou os mineiros se forma porque uma grande parte do manto supe-rior da crosta terrestre é cons-tituída por peridotitos, uma rocha holomelanocrata, muito escura, é constituída exclusi-vamente por minerais máficos. Quando esses peridotitos as-cendem na astenosfera a pres-são diminui, provocando a fusão de minerais formando magmas D

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de composição basáltica. Esses magmas quando consolidados à superfície dão origem aos basaltos propriamente ditos. A sua movimentação e dimensões são variáveis, com algumas ra-mificações e variações de tex-turas e mineralógicas.

A mina de San José tinha ca-pacidade de produzir cerca de 1200 t/dia de minério, com um total de 140 a 150 trabalhado-res por turno. Porém, neste dia, o número estava reduzido em 33. As fragilidades estruturais na zona mineralizada, quando realizadas as aberturas subter-râneas, explicam a instabilidade do maciço rochoso no interior da mina, podendo provocar a rotura e deslizamento e causar consequentemente acidentes.

A mina já possuía antece-dentes antes mesmo da queda da gigantesca pedra de basalto. Entre 2003 e 2010, sucessivos acidentes no local mataram três mineiros e deixaram outros dois feridos. Em 2007, a mor-te de um geólogo provocou o fechamento da mina, mas em maio de 2008, o SERNAGEO-MIN, Serviço Nacional de Ge-ologia e Mineração, autorizou a reabertura completa após uma revisão e compromisso com melhorias de segurança. À épo-ca do acidente, o Ministro de Mineração Laurence Golbor-ne revelou a intenção de criar de uma Superintendência de mineração para evitar futuros acidentes. “Paralelamente com o processo de resgate dos mi-neiros, temos trabalhado nas instituições do SERNAGEO-MIN e análise de controle de mineração (…) As tarefas visam

Entrada da mina San José 8 meses depois dos resgate.

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reorientar o papel do Estado para o controle da indústria, avaliação licenças e processo de inspeção, incluindo sanções”, revelou em entrevista ao diário La Terceira.

As principais causas do aci-dente de 2010 estão relacionadas com as altas tensões, os esforços de compressão e tração no maci-ço rochoso, além do inadequado dimensionamento dos pilares que sustentavam a estrutura acima da jazida. Porém, de acordo com in-formações da TV Globo, exibidas no Fantástico em 2015, uma de-cisão do Ministério Público Cri-minal, encerrou as investigações sobre o desmoronamento sem culpar ninguém.

Diante da tragédia, foi iniciada uma tentativa de resgate através das chaminés de ventilação es-palhados pela mina. Mas em 7 de agosto, a equipe de salvamento não conseguiu avançar após ter verificado o deslizamento de ro-chas, também na zona das chami-nés. Foi necessário como alterna-tiva, utilizar tecnologia de ponta para a localização dos mineiros no subsolo e para o posterior pro-cesso de resgate.

Foi inegável a excelência do papel desempenhado pela enge-nharia nas duas etapas de salva-mento dos 33 mineiros no Chile. A primeira etapa, compreendida entre o momento que começou o drama do acidente e o momento de localizar os mineiros com vida foi determinante a contribuição da topografia, a prospecção, a ge-ologia, os métodos de exploração subterrânea, além do planejamen-to e controle das operações.

Para resgatar os 33 mineiros do subsolo, diversos especialistas contribuíram com a aplicação de

OS EQUIPAMENTOS NAS CÁPSULAS DE RESGATEPara o resgate dos mineiros foram preparadas as cápsula Fênix I e II, que tinham as mesmas características e poderiam ser utilizadas alternadamente para realizar manutenção contínua.

O cabo que prende a cápsula pode suportar 54 toneladas.

Manobra de emergência Precavidos da possibilidade dos mineiros ficar preso em algum lugar do caminho, havia um mecanismo de emergência que lhes permitiria soltar o nível superior da cápsula.

No topo existiam alças que, quando pressionadas, soltariam o cone supe-

rior da cápsula.

A ventilação foi feita através da parte superior da cápsula.

Os minei-ros tinham 4 tanques de oxigênio, que seria usado apenas em caso de emergência. Capacidade suficiente para três viagens completas.

O cabo que prende a cáp-

sula permitiria que a cápsula, mesmo desprendida do cone, continuaria enganchada com o restante da Fênix.

O resto da cápsula seria

devolvido para a mina em uma ve-locidade segura.As rodas tinham amortecedores que variavam no in-

terior da cápsula e impediam qualquer movimento de trepidação na cabine.

450 KgPeso da cápsula

A cápsula Fênix III era menor e contava com rodas em sua base. O seu uso estava cogitado apenas para emergências.

Equipamentos A comunicação dos mineiros com o exterior foi feita através do capace-te, especialmente adaptado para o resgate, o qual pos-suía um microfone e um fonede ouvido.

Cintos de segurança sustentariam os mineiros na parte superior do cilindro.

Através das vias nasais foi colocado o tubo de oxigênio.

Levantamento: Carolina Araya, H. Fleming/Infográficos: M. Cáceres, I Muñoz/ Adaptação: Junio Kemil

Fênix III

Fênix II

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alta tecnologia em curto prazo. Na segunda etapa, a escavação da chaminé e o resgate propriamen-te dito, foi imprescindível utilizar a alta engenharia geológica e mi-neira, apoiada pela topografia, pela engenharia mecânica, hidráulica, informática, o planeamento estra-tégico e da política. Dos US$ 22 milhões do custo do resgate, a mineradora San Esteban, proprie-tária da jazida, ficou responsável por reembolsar 25% ao Estado chileno.

A cápsula batizada de Fênix II foi colocada em ação. A ideia era transformar a cabine em uma es-pécie de elevador desenhado pela Nasa. Os 60 centímetros de diâ-metro foram colocados no furo cavado a partir da perfuradora modelo Raise Borer Strata 950. A tecnologia australiana foi interca-lada com outra máquina e o túnel foi alargado com um instrumento conhecido como scaler, numa ve-locidade de penetração variando entre 10 e 15 metros por dia.

Durante a perfuração já era es-perado alguns percalços que atra-palhariam a operação. Sob con-dições normais, a broca formada por carboneto de tungstênio, era substituída a cada 20 ou 40 me-tros devido ao desgaste por atrito e a ausência de qualquer sistema de refrigeração. O lento avanço se deve a falhas geológicas encontra-das na mina que obrigaram a ta-par, por várias vezes, o túnel com cimento e perfurar uma segunda vez. Sob responsabilidade do en-genheiro André Sougarret, a má-quina que utiliza 36 litros dágua por segundo, levou 42 dias para cavar os metros 622 de profundi-dade.

A retirada dos mineiros foi EDU

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Conteúdotransmitida, ao vivo, para o mundo todo. Mais de 200 jor-nalistas estavam credenciados. Em 17 minutos junto da Fênix II um socorrista desceu para dar instruções aos 33 homens. Flo-rencio Ávalos, de 31 anos, foi o primeiro a embarcar morro à cima. No acampamento Es-peranza, montado em volta da mina, o fi lho Byron Ávalos de 7 anos mal suportava os 16 minu-tos da viagem. Foi quando aos 11 minutos do dia 13 de outu-bro o primeiro mineiro pisava em terra fi rme. 22 horas depois, Luis Urzúa, o último dos minei-ros estava a salvo na superfície. Euforia.

Seis anos após a tragédia muita coisa mudou na vida de quem viu o mundo por imagi-nando que jamais iria reencon-trar a luz do sol. “Afi nal de con-tas, esses meses encurralados na mina não foram maus, nem bons. Mas me ajudaram a dar valor a coisas de que me tinha esquecido”, disse Daniel Herre-ra, 32 anos, ao jornal português O Observador, explicando que nunca na sua vida deu tanto va-lor a uma “simples brisa na cara” ou ao tempo que passa “com a família”. “Senti que precisava de voltar a trabalhar, a licença de baixa estava a destruir-me”.

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Geremias. 40 e poucos anos. Cabelo curto e grisalho. Dois dias sim e um não, acorda para se preparar pro tra-

balho. Vai à varanda dar comida para o cão – não menos membro da família. Alícia, esposa de Ge-remias, já acordada e sintonizada no radinho. No aparelho, um programa religioso ecumênico. Su-cesso no estado, quiçá país. Geremias não é só o homem da casa. Ele e mais tantos outros fazem a mesma trajetória em Itapecerica.

Na cidade histórica do Centro-Oeste de Mi-nas Gerais. Percorrem as ruas de pedra-sabão, andando depressa em suas botinas de peão. Não de rodeio. De garimpo mesmo. Mineração. A ta-refa diária é escavar grafi te em uma das maiores reservas mundiais. A Nacional de Grafi te LTDA. É dali que sai a matéria-prima da lapiseira de mui-to estudante. De lá também vai à substância que acaba num piche bonito muro à fora, mundo à fora.

“Não existe amor em Itapê”. Em menção ao Criolo, uma pichação na Praça da Matriz. Um dos pontos tombados pelo patrimônio do Estado. Mas existe amor sim. A gente é que não pergun-ta. Que gente? A gente, ora! Todos. A começar da Dona Maria na avenida principal, varrendo a porta de casa. Vendo o Geremias e mais tarde a

banda passar.Lohanne, fi lha de Geremias, irmã mais nova

de Thaíse, tem bastante orgulho do pai e da mãe que tem. Cresceram vendo os esforços dos dois. A mãe suja com cheiro e mancha de comida e os afazeres domésticos – como muitas “mulhe-res tradicionais de famílias do bem” pelo Bra-sil à fora. O pai não menos cansado e imundo, na mente e no físico, com a batida da lata. Lata não. Picareta. Retroescavadeira. Barulho. Insalu-bridade. Pouco retorno para casa. Pouco volta pra cidade. O ambiente então? Poluído sim, tanto quanto as margens do Ribeirão da Gama. SOS Geremias!

Não tinha intuito de ser herói ou deixar um legado. Só queria o pão deles sem heresia. As contas todas em dia. No fi nal da noite, se tives-se disposição, teria alguma alegria. Mas não tinha tantas. Só o orgulho e contemplação do que ti-nha. Era virar pro lado, fechar a janela ao pé da montanha. Não sentir frio e tentar descansar. Amanhã tem capitalismo opressor outra vez. Pa-trão lucrando mesmo “em crise”, peão suando mesmo com fadiga. O que resta ali e é imortal é só mesmo as ruas de pedra-sabão e a fé. Apontar pra ela e remar.

LUANA CARVALHO E VINÍCIUS XAVIER

Onde está o

legado do peão?

Crônica

Pela casa e pelo povo. A labuta cotidiana de deixar algo pra família e para cidade.

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