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Caderno de estudos para violão. José Maria Bezerra.
RITMOS DA AMAZÔNIA
Caderno de estudos para violão.
José Maria Bezerra.
1ª edição
Belém – PA
Edição do autor.
2011
RITMOS DA AMAZÔNIA
Caderno de estudos para violão.
José Maria Bezerra.
Universidade Federal do Pará
Pró-Reitoria de Extensão
Diretoria de Programas e Projetos
FICHA TÉCNICA
Partituras: José Maria Bezerra
Editoração eletrônica das partituras: José Maria Bezerra
Revisão das partituras: José Maria Bezerra e Joelma Telles
Revisão textual: Guilherme Fernandes
Colaborador: Marcellino Milhomem Moreno
CD de áudio e partituras em PDF – Gravado nos dias 13 e 14 do mês de abril de
2011 no estúdio APCE Music – Belém – PA.
Técnico de gravação, mixagem e masterização: Assis Figueiredo.
Projeto gráfico do miolo: José Maria Bezerra
Design da capa: José Maria Bezerra
Foto da capa: José Maria Bezerra (Iara esculpida em tronco de árvore, obra do
artista Carlos Alberto – fotografia tirada na Fazenda Araruna – Soure-PA).
Projeto premiado no I Prêmio PROEX de Arte e Cultura – Universidade Federal do
Pará – UFPA – ano 2010.
Patrocinadores:
BEZERRA, José Maria 1967-
RITMOS DA AMAZÔNIA – Caderno de estudos para violão: caderno de
partituras e CD de áudio e dados / José Maria Bezerra. – Belém – PA, 2011 música.
ISBN
1. Música popular – Brasil – Textos. 2. Partituras. I. Título.
Todos os direitos autorais deste caderno são reservados e garantidos.
Sumário
Apresentação 6
Exercícios preparatórios 13
Estudo 1 - Canção de rede 16
Estudo 2 – Retumbão 17
Estudo 3 – Boi-bumbá 18
Estudo 4 – Boi-bumbá (variação) 19
Estudo 5 – Carimbó 20
Estudo 6 – Afro-índio 21
Estudo 7 – Mazurca 22
Estudo 8 – Valsa a três 24
Estudo 9 – Rio baixo (Lundu) 26
Estudo 10 – Lembrando Villa 28
Universidade Federal do Pará
Pró-Reitoria de Extensão - PROEX
Diretoria de Programas e Projetos
RITMOS DA AMAZÔNIA Caderno de estudos para violão.
José Maria Bezerra.
Sobre o autor – Nasceu em Monte Alegre – PA em 1967, mudou-se para Belém do
Pará em 1978, onde hoje reside. Iniciou seus estudos musicais tocando violão,
ingressou na Universidade Federal do Pará em 1993, formou-se em Educação
Artística – Habilitação em Música. Trabalhou nesta universidade por quatro anos
como professor substituto de violão, desde o ano de 2009 é professor efetivo da
mesma, ministrando aulas de Violão e Prática de Conjunto.
É compositor, produtor musical e arranjador, tem sua obra registrada nas séries de
CDs “De Criança para Criança 1, 2 e 3” do Coro Infantil da Unama e “Trilhas D’água
1, 2, 3 e 4” do Coro Cênico da Unama; CDs “Banho de Cuia” e “Dizeres” do poeta
Emanuel G. Matos; CD “Árvore Ar” de Rafael Barros.
Professor, compositor e roteiristas para espetáculos musicais de oficinas de
Iniciação Artística da Fundação Curro Velho – Belém – PA;
Compositor da trilha sonora para o espetáculo “A fábula das águas tristes” de
Carlos Correia Santos;
Compositor da trilha sonora para o espetáculo “Os de quarenta” de Lindemberg
Monteiro dos Santos;
Professor de violão e educação musical do Colégio Gentil Bittencourt.
Universidade Federal do Pará
Pró-Reitoria de Extensão
Diretoria de Programas e Projetos
Do caderno de estudos para violão.
Este caderno tem como principal objetivo apresentar alguns estudos e peças que
compus depois de vivenciar alguns projetos musicais nos quais pesquisamos,
ouvimos, estudamos, transcrevemos e fizemos releituras. Falo aqui na terceira
pessoa, pois é natural que estejam participando direta ou indiretamente deste
caderno muitos amigos, com os quais aprendi e dividi conhecimento, então ao
mesmo tempo em que agradeço, os apresento.
Joelma Telles – Cantora, regente, arranjadora, professora, minha companheira
sempre. É também minha primeira ouvinte, com ela divido muitos arranjos e
parcerias em outros projetos musicais, nos quais aprendemos mais do que
ensinamos. Para conhecer mais sobre nossas parcerias é só procurar as séries de
CDS “Trilhas D’ água” e “De Criança para Criança”.
Marcellino Milhomem Moreno – Professor e violonista brasiliense que faz de
Belém sua casa. Meu amigo e parceiro, sempre que me chama atenção
musicalmente, me agracia com aulas que trouxeram riquezas musicais que com
certeza se fazem presentes neste caderno, também é meu socorro em algumas
dúvidas musicais do violão.
Silvério Maia – Minha eterna admiração. Com ele aprendo sempre que tenho a
oportunidade de estar perto.
Emanuel G. Matos – Amigo, parceiro, poeta de mão cheia, sociólogo, professor e
um grande apaixonado pela Amazônia. Foi quem me deu a primeira oportunidade
de ter minhas melodias e arranjos gravados nos nossos trabalhos intitulados
“Banho de Cuia” e “Dizeres”. Ainda temos muitas canções guardadas esperando
seus momentos.
Rafael Barros – Excelente percussionista a quem recorri inúmeras vezes quando
das composições rítmicas dos estudos. Nosso trabalho está registrado eu seu CD
“Árvore Ar” e no grupo Árvore Ar do qual fazemos parte juntamente com os
também percussionistas João Paulo Cavalcante e Franklin Furtado.
Éder Jastes – Professor e pesquisador que me emprestou algumas de suas
pesquisas para que eu pudesse buscar embasamento para a composição dos
estudos. As parcerias musicais com ele foram muitas nas tantas viagens em que
estivemos juntos pelo programa Multicampiartes.
Carlos Pires – Professor, amigo e excelente pianista, parceiro em muitas idéias
musicais.
Ana Margarida Leal e Valéria Marques – Minhas grandes professoras, hoje
colegas de profissão, razão e emoção se confundem quando elas estão presentes.
Daniel Bastos e Guilherme Fernandes – Amigos poetas e parceiros musicais com
os quais divido pensamentos, poesias e músicas.
Toni Soares – Parceiro que juntamente com Beto Fares me abriu as portas para
que eu pudesse ouvir minhas músicas tocando na rádio Cultura FM – Belém - PA.
Tem um trabalho de pesquisa lindo e sincero.
A todos os professores da Escola de Música da Universidade Federal do Pará –
EMUFPA, em especial aos da Graduação.
A todos os amigos que fiz na PRO-REITORIA DE EXTENSÃO DA UFPA – PROEX,
Vilma Dias, João Castro, Adriana Couceiro, Celson Gomes, Leonardo Coelho.
A todos os alunos que tive oportunidade de trocar conhecimentos: os da graduação
em música - dos municípios: Belém, Soure e Oriximiná e aos novos alunos do
Parfor – Capanema e Oriximiná; aos músicos por onde o programa
Multicampiartes passou; as crianças do Colégio Gentil Bittencourt e as da Fundação
Curro Velho; ao músico Fábio Cavalcante; aos amigos e parceiros da APCE Music:
Assis Figueiredo, Fernando Pacha e Ulisses Moreira, ao Jorge “Bob” Cunha, ao prof.
Márcio Nascimento e toda a sua equipe na coordenação geral do Parfor-UFPA.
Agradeço e ofereço especialmente a Deus e a minha família: Meus pais e irmãos,
meus lindos filhos Raphael Vinícius e Maria Beatriz.
José Maria Bezerra.
Belém-PA – 2011.
Dos estudos e peças.
Há algum tempo venho experimentando alguns sons no violão com os ritmos da
Amazônia. Estes sons foram tomando corpo e se transformando em pequenos
trechos musicais, alguns já registrados em canções gravadas nos projetos em que
estive envolvido. Mas gostaria de poder fazer um trabalho com o violão em que
pudesse estar mostrando a riqueza musical rítmica que tem o Brasil e,
particularmente, a região amazônica. É certo que em alguns desses ritmos o violão
não aparece como um instrumento solista, e, na maioria das vezes, se faz somente
acompanhante.
Esta talvez tenha sido a maior dificuldade de trabalhar composições baseadas nos
ritmos da Amazônia, onde somente o violão estaria presente. Depois de ouvir uma
grande variedade rítmica e poder fazer com muito cuidado uma seleção do que
estaria presente neste projeto, comecei a compor os estudos.
“A Amazônia é palco de inúmeras manifestações culturais que resultam da
dinâmica cultural dos povos” (JASTES, 2004, p. 60). Dentre as que nos chamam
mais atenção atualmente estão o Çairé; Pretinhas D’angola; Desfeiteira; Carimbó;
Lundu Marojoara; Lundu Africano; Chula Marajoara; Vaqueiro do Marajó;
Marujada; Xote Bragantino; Banguê; Cordão de Bichos; Boi Bumbá; Batuque
Amazônico; Samba de Cacete; Siriá; Dança do Maçariquinho; Retumbão; Dança da
Onça; Boi de Máscaras; Quadrilhas, entre outras.
Os ritmos brasileiros de uma maneira geral são bem parecidos ou próximos. A
célula rítmica que para a nossa região parece tão ímpar, tão única, é encontrada em
outras regiões com pequenas alterações: nas acentuações, em ligaduras que nos
induzem a ter uma nova ou outra percepção; nos instrumentos, através dos quais
são executados; ou nas “manulações,” encontradas para os diversos instrumentos
percussivos. É fato que a rítmica da Amazônia é hoje objeto de pesquisa, pela sua
diversidade, riqueza e particularidade.
Aos poucos fui encontrando o que seria para mim, a melhor maneira de mostrar
estes ritmos adaptados para o “idioma” do violão.
O caderno será apresentado da seguinte maneira:
1. Primeiramente, iremos conhecer os estudos baseados em alguns de nossos
ritmos, estes fazem parte de uma série composta especialmente para este
projeto, aonde o aluno, o professor, o músico em geral vai ter a
oportunidade de estudar intervalos, ligados, arpejos e o ritmo em si.
2. Em um segundo momento, teremos peças também baseadas nos ritmos da
Amazônia, mas com um nível de dificuldade mais elevado.
Neste caderno não faremos análise das peças apresentadas, ficando esta para um
próximo projeto, ou para quem queira desfrutar desta oportunidade.
Estudo 1 – Canção de rede (intervalos).
O canto de trabalho, tão comum entre os brasileiros, aparece nesta série destinado
ao estudo de intervalos. No Brasil, esta maneira de se fazer música é encontrada
em diversas regiões; na Amazônia, ganharam também o nome de canção de rede.
A construção de acordes sempre apresenta ao aluno iniciante de violão uma série
de dificuldades: pressão sobre as cordas, dedilhação, ritmo, entre outras. O estudo
vai ajudar o aluno em sua compreensão sobre a melhor sonoridade.
Estudo 2 – Boi-bumbá (arpejos) e Estudo 3 – Boi-bumbá (variação).
Manifestação cultural bastante divulgada e executada em vários municípios da
nossa região. Na região norte, estado do Pará o boi-bumbá apresenta
características diferentes das encontradas em cidades como Manaus e Parintins, no
Amazonas ou São Luis, no Maranhão. Os estudos de bois-bumbás apresentados
aqui foram baseados nos ritmos executados pelas barricas: (pequenos tambores
feitos de armação de madeira e cobertos com pele de animais, que são tocados com
as mãos a altura do peito). Existem vários padrões rítmicos para o
acompanhamento da dança. Os estudos presentes neste caderno mostram apenas
dois. Nestes estudos, além dos arpejos, iniciamos a técnica de ligados ascendente e
descendente.
Estudo nº 4 – Retumbão (arpejos e ligados)
Neste estudo, o aluno exercita, além dos arpejos, o uso de ligados ascendentes e
descendentes. O retumbão é um dos ritmos presentes na Marujada, manifestação
cultural que ocorre no município de Bragança – PA. A linha melódica deste estudo
foi construída a partir de um dos temas tocados pela rabeca, instrumento de
cordas friccionadas, usado como solista nesta manifestação.
Estudo nº 5 – Carimbó
Manifestação cultural típica do estado Pará. O carimbo é uma dança que tem em
seu acompanhamento um instrumento chamado Curimbó (tambor oco esculpido
do tronco de árvore, uma das bocas é tampada com pele de animal). Em alguns
municípios onde a dança acontece existem até dois tocadores para o instrumento,
produzindo sons com as mãos ou com baquetas.
Este estudo apresenta uma clara divisão de vozes. É destinado ao aprendizado da
melodia acompanhada: enquanto a primeira voz (aguda) canta a melodia, a
segunda voz (grave ou bordões) faz um acompanhamento simples. É ideal para o
aluno que está iniciando a formação de acordes.
Estudo nº 6 – Afro-índio (arpejos)
Não é necessariamente um ritmo da Amazônia. Este estudo de arpejos já apresenta
algumas dificuldades, como a identificação de notas de alturas média e aguda em
várias regiões do braço do instrumento. É também uma oportunidade para o
professor mostrar aos alunos como identificar e diferenciar melodia e
acompanhamento. Este estudo foi inspirado na composição “Indauê Tupã”, dos
compositores paraenses Paulo André e Ruy Barata.
Estudo nº 7 – Valsa a três (escalas)
A valsa é um ritmo internacionalmente usado. Em nossa região, ele está presente
em várias manifestações culturais: ladainhas, cânticos usados em procissões
religiosas, em danças. Quis neste estudo, primeiramente, homenagear minha
esposa Joelma Telles e meus dois filhos Raphael Vinícius e Maria Beatriz. É um
ótimo exemplo de estudo de escalas, podendo, inclusive, ser usado pelo professor
ou aluno para o exercício de modulação. Nele é explorada a alternância entre os
dedos da mão direita (p.i.m.a.).
Estudo nº 8 – Mazurca
No CD Árvore Ar, de Rafael Bastos, existe uma música chamada “Nêga”, em que
podemos ouvir a Mazurca tocada na região amazônica. Quando o Rafael me
mostrou este ritmo fiquei impressionado com as possibilidades de
acompanhamento, e quis experimentá-lo nesta série de estudos. Aqui, o estudante
de violão encontrará algumas dificuldades técnicas, mas que serão resolvidas com
o estudo correto. As construções dos acordes e da linha melódica da peça estão
bem “amarradas”, exigindo do aluno maior atenção para os acordes de pestana e
meia pestana.
Estudo nº 9 – Rio baixo (lundu)
A afinação usada no violão de seis cordas é: 1ª Mi, 2ª Si, 3ª Sol, 4ª Ré, 5ª Lá, 6ª Mi.
Este arranjo foi feito usando uma afinação alternativa: a 5ª corda deverá ser
afinada em Sol (um tom abaixo) e a 6ª corda em Ré (um tom abaixo). Esta peça é
um Lundu, ritmo africano trazido para o Brasil. Aqui em nossa região apresenta
variantes: o lundu da região do salgado e o marajoara são exemplos dessa
diversidade. Ainda hoje este ritmo é bastante utilizado nas duas regiões por grupos
de cultura popular. Esta peça está registrada no CD Banho de Cuia, com a poesia de
Emanuel G. Matos. No arranjo deste CD usamos um violão de seis cordas, tocado
por Marcellino Moreno, e uma viola de dez cordas, que foi tocada por mim.
Estudo nº 10 - Lembrando Villa
Peça composta em duas partes. A primeira parte apresenta um ritmo
genuinamente brasileiro, o choro, que tem forte influência em grandes músicos
locais. Em Belém do Pará existem casas noturnas especializadas neste gênero. Para
a segunda parte da peça, faço uma homenagem aos mestres da cultura popular.
Quis “brincar” com saltos melódicos imitando um instrumento mais grave,
enquanto o acompanhamento está nas notas e posições fixas das regiões média e
aguda do braço do instrumento. O ritmo tocado é o Marambiré, que se confunde
com outros de nossa região, neste caso especificamente, dependendo do
andamento, a peça pode ser entendida como um Carimbó.