Roberto Q. Borges Médico Psiquiatra Diretor da Clínica...

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Roberto Q. Borges

Médico Psiquiatra

Diretor da Clínica Pacífico – Psiquiatria – Brasília - DF

Todas as doenças não infecciosas em geral têm a mesma origem: herança genética + fator ambiental

+

Transtornos Depressivos

Transtornos de Ansiedade

Hipertensão Arterial

Câncer

E muitas outras doenças

São doenças caracterizadas por níveis de humor anormais

ALEGRE

TRISTE

De acordo com a classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV TR) da Associação Americana de Psiquiatria:

Durante pelo menos duas semanas pelo menos um dos seguintes sintomas:

Humor deprimido

Perda de interesse ou prazer

E mais quatro dos seguintes sintomas:

Perda ou ganho de peso significativo sem estar de dieta (Ex: 5% do peso em um mês)

Insônia ou hipersonia

Agitação ou retardo psicomotor

Fadiga ou perda de energia

Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva

Dificuldade de concentrar-se

Pensamentos de morte recorrentes, ou ideação suicida, ou plano ou tentativa de suicídio

Despertar antes do habitual

Sintomas piores pela manhã

Queda do desejo sexual

Ocorre em 15% da população geral

Ocorre em 25% da população feminina !!!

Idade média de início: 40 anos

Mesma incidência em todas as classes sociais

Ocorre menos em casados

Se um gêmeo idêntico (univitelino) desenvolver um transtorno depressivo maior, a chance de o outro irmão vir a ter também é de 50%

Deprimidos demoram mais para iniciar o sono

O sono REM (sono com movimentos rápidos dos olhos) ocorre mais precocemente na noite

O sono não-REM também fica alterado

O resultado é o cansaço, queda de energia, falta de iniciativa...

Deprimidos têm redução da secreção noturna de melatonina (importante para o sono de boa qualidade), níveis mais baixos de LH, FSH e testosterona

Têm também aumento da secreção de cortisol, e redução da secreção de GH (“hormônio do crescimento”) durante a noite

O deprimido muitas vezes não tem energia sequer para buscar tratamento contra a doença

Em casos graves, a pessoas passam a não se alimentar, a não mais beber água

Fica reclusa em um ambiente, em geral no quarto, com as luzes apagadas, debaixo das cobertas

Ocorre queda da auto-estima

A pessoa passa a negligenciar seus cuidados de higiene (passa a tomar poucos banhos, não troca de roupa, não escova os dentes...)

Nos casos graves ocorrem também sintomas psicóticos:

Delírios (acreditar veementemente em fatos irreais) . Ex: a pessoa acredita que ela é a causa de todo o sofrimento do mundo e por isso deve morrer

Alucinações (ver, sentir ou ouvir coisas inexistentes). Ex: a pessoa afirma ver e ouvir pessoas que supostamente a estão perseguindo para lhe assassinar

O deprimido pára de fazer planos para o futuro, e se vê como fraco, inválido, imprestável

2 /3 dos pacientes deprimidos cogitam se matar

15% dos pacientes deprimidos cometem suicídio

Se inicia em geral na infância e adolescência os pacientes queixam-se que “sempre foram deprimidos”

Afeta 6% das pessoas

As alterações do sono são similares às da depressão

É como se fosse uma depressão pouco grave, mas constante e incessante, em que a pessoa “nunca fica bem”

A impressão para as pessoas que convivem com os distímicos é que eles são “eternos mal-humorados e pessimistas”

Infelizmente sim, e esta condição é denominada “Depressão Dupla”

Todos os estudos de grande qualidade realizados nos últimos anos mostram que o tratamento deve ser realizado com:

Medicamentos + Psicoterapia

O tratamento apenas com medicações geralmente é insuficiente

O tratamento apenas com psicoterapia geralmente é insuficiente

Se o paciente não for tratado, um episódio depressivo dura em torno de 13 meses

Com tratamento adequado, este período cai para 03 meses em média

O objetivo do tratamento não é deixar o paciente “um pouco melhor”

O objetivo é deixar o paciente “100% bem”

É realizado com medicamentos antidepressivos

Atualmente as medicações causam poucos efeitos colaterais ou mesmo nenhum efeito colateral

Com o tratamento combinado (medicamentos e psicoterapia) ocorre a remissão dos sintomas, e a pessoa volta a ter sua vida normal

Porque é importante que estas doenças sejam tratadas por especialistas?

É comum a pessoa estar tão deprimida que não tem nem “energia” para se matar

Muitas vezes o médico que não é psiquiatra, na “melhor das boas intenções” inicia uma medicação antidepressiva na tentativa de “ajudar”

“É uma depressãozinha, vou começar uma fluoxetinazinha...”

E a medicação antidepressiva dá aquela “energia que faltava para o paciente” e ele se mata

“ O caminho para o Inferno está pavimentado de boas intenções”

Sendo assim, o tratamento destas condições deve ser conduzido por psicólogos e psiquiatras, que são os profissionais com a experiência necessária para se obter o melhor desfecho possível, com o mínimo de riscos para o paciente

Também conhecido como Transtorno Afetivo Bipolar

Antigamente era chamado de “Psicose Maníaco-Depressiva” – nome repleto de estigma

Infelizmente, hoje em dia tornou-se a “Doença da Moda”

Muitas pessoas mal-educadas atualmente se auto denominam “bipolares” para poderem ser rudes com os outros livremente

É o uso do nome desta doença “em vão”

Transtorno bipolar é uma doença extremamente grave, e que merece respeito

Episódio Maníaco:

Dura pelo menos uma semana (se for necessário internação psiquiátrica, o tempo não importa)

Humor elevado, grandiosidade, auto estima inflada, pequena necessidade de sono

Pressão por falar (“não pára de falar nunca”)

Pensamento acelerado

Agitação psicomotora

Envolvimento excessivo com atividades prazerosas com potencial danoso (compras excessivas, inconveniência sexual)

Sintomas Psicóticos: delírios e alucinações

Paciente masculino, 56 anos de idade, com renda mensal de R$ 12.000,00, casado, pai de 03 filhos

Em um episódio maníaco, tomou 02 comprimidos de Viagra e fez sexo em uma só noite com 04 profissionais do sexo diferentes. Sem usar preservativo.

Gastou 1,5 milhão de Reais de seu patrimônio em uma semana

Passou 04 noites seguidas sem dormir: “cheio de energia”, ele tomava em média 05 banhos gelados de madrugada para não dormir

Se achava lindo, atraente, “cantava” todas as mulheres que via em seu caminho

Sentia-se criativo, e passou a acreditar que era o acionista majoritário do Banco do Brasil

Quando interrogado como isso era possível, já que o banco era público, ele disse: “É público, mas eu sou amigo do Lula e comprei todas as ações do governo !!!”

O tempo mínimo de duração é quatro dias

Tem as mesmas características diagnósticas do episódio maníaco, mas são mais brandas, e não causam acentuados prejuízos no funcionamento ocupacional e social, não requer internação, e não pode ter sintomas psicóticos

É uma condição bastante bizarra, em que o paciente reúne critérios tanto para episódio maníaco quanto para episódio depressivo concomitantemente

Tipo I:

1 episódio maníaco OU 1 episódio misto já é suficiente para o diagnóstico

Tipo II:

1 episódio hipomaníaco + 1 episódio depressivo maior são necessários para o diagnóstico

Tipo I: 1% da população

Tipo II: 0,5% da população

Mesma frequencia em homens e mulheres (mas homens tem maior tendência a episódios maníacos, e mulheres a episódios depressivos)

Idade média de início: 30 anos

Ocorre menos em casados – mas também é possível que isso ocorra devido ao maior número de separações conjugais de pacientes bipolares

Os filhos de um paciente portador de transtorno bipolar tipo I tem o risco de 25% de ter um transtorno do humor

Se os dois pais forem bipolares, a chance de os filhos serem vítimas um transtorno de humor sobe para 75%

Se um gêmeo idêntico (univitelino) for portador de transtorno bipolar tipo I, a chance de o outro irmão vir a ser também é de 90%

75% dos pacientes em episódios maníacos apresentam delírios

75% dos pacientes em episódios maníacos são ameaçadores ou agressivos

Mais pacientes em episódios maníacos do que esquizofrênicos ameaçam pessoas importantes

Na vida do bipolar, em geral um episódio depressivo maior ocorre primeiro, e posteriormente, surge um episódio maníaco ou hipomaníaco

No transtorno bipolar tipo I, apenas 7% dos pacientes não terão recorrência dos sintomas após o primeiro episódio

Nas fases depressivas, principalmente as que ocorrem após uma fase maníaca, a chance de suicídio é grande, devido à “ressaca moral”

Medicamentos estabilizadores de humor + Psicoterapia

Os paciente com transtorno bipolar precisam de um trabalho muito forte de psicoeducação, com esclarecimentos sobre a doença, a cronicidade e a necessidade do tratamento

A família é fundamental, pois detecta alterações de humor precocemente e alerta o psicólogo e psiquiatra que cuidam do caso, evitando descompensações graves e internações psiquiátricas

Carbonato de Lítio: é considerado o padrão-ouro no tratamento do transtorno bipolar com mania “clássica”, eufórica

NÃO!!!!!!!!!!!!

Descobriu-se que usar comprimidos de carbonato de lítio é útil no tratamento do transtorno bipolar, mas a doença não é causada por falta de lítio

Não!!!!!!!!

A litemia (dosagem do lítio no sangue) só serve para avaliar os níveis de lítio de quem toma comprimidos de carbonato de lítio

Em quem não toma estes comprimidos, o nível tem que dar baixo mesmo

Medicações estabilizadoras do humor também com poder anticonvulsivante:

Ácido valpróico e derivados

Carbamazepina e oxcarbamazepina

Lamotrigina

Topiramato

Gabapentina

Medicações estabilizadoras do humor também com poder antipsicótico:

Risperidona

Olanzapina

Quetiapina

Clozapina

Haloperidol

Clorpromazina

Mais uma vez: é uma doença grave e de manejo muito difícil, e que deve ser tratada por especialistas

O uso de medicações ou psicoterapia de forma inadequada no transtorno bipolar pode ser até letal !!!

Os portadores de necessidade especiais podem apresentar deficiências de vários tipos:

Físicas Motoras

Físicas específicas de funções sensoriais

Mentais

Combinadas

Tornar-se portador de necessidade especial pode ser o evento ambiental que deflagra o transtorno mental

+ =

Episódio Depressivo

+ =

Episódio Maníaco

Portadores somam 1% da população

Leve: 85% dos casos

Moderada: 10% dos casos

Grave: 4% dos casos

Profundo: 1 a 2% dos casos

Quanto mais grave a deficiência mental, maior é o risco para o desenvolvimento de outras doenças mentais e auto-mutilações

A deficiência auditiva é 04 vezes mais comum em portadores de deficiência mental

10% dos portadores de deficiência mental também são portadores de epilepsia

O tratamento medicamentoso dos transtornos mentais em portadores de deficiência mental é similar ao dos não portadores, mas tende a ser mais difícil devido a dificuldades de comunicação

Devido às dificuldades de comunicação, muitos destes indivíduos não tem transtornos do humor diagnosticados e tratados adequadamente

As alterações de comportamento muitas vezes são tomadas como sendo “parte da deficiência mental” e assim o paciente deixa de ser tratado, perdendo muito de sua qualidade de vida

Portadores de deficiência mental leve têm maior consciência de seu déficit cognitivo em relação às outras pessoas, o que leva a rebaixamento do humor e a quadros depressivos importantes

Os portadores podem ter alto ou baixo funcionamento, dependendo do QI, da quantidade e capacidade de comunicação, da linguagem e da severidade dos demais sintomas

70% dos portadores têm QI abaixo de 70

Início dos sintomas antes dos 03 anos de idade

Os portadores geralmente têm grande prejuízo na interação com outras pessoas

Por exemplo: realizam pouco contato visual, não compartilham suas realizações com outras pessoas, têm falta de reciprocidade social e emocional

A comunicação é bastante prejudicada. Ex: atraso ou ausência de linguagem falada

Tendência a comportamentos repetitivos, não aceitando bem mudança nas rotinas

Interesse acentuado em detalhes e partes de objetos

Como é uma doença que prejudica intensamente a comunicação e a expressão das emoções, diagnosticar transtornos do humor geralmente não é uma tarefa simples

Mudanças nos comportamentos repetitivos podem ser pistas de transtornos do humor

Em muitos casos, o indivíduo já nasce com a deficiência, e assim ela está presente durante todo o período de crescimento e desenvolvimento

Durante o período escolar, a interação social pode ser benéfica ou maléfica ao portador de necessidade especial

Em um contexto em que a criança é bem recebida e tratada com equidade por seus pares, a auto-estima é fortalecida, e a chance de um transtorno de humor ou de ansiedade se iniciar na infância é reduzido

Atualmente, temos iniciativas como filmes infantis, desenhos animados e revistas em quadrinhos que têm personagens portadores de necessidades especiais

“Procurando Nemo”

Turma da Mônica

Luca (2004) – É um ótimo nadador, e joga basquete

Turma da Mônica

Dorinha (2004) e seu cão-guia Radar

Iniciativas como estas ajudam a ocorrer uma socialização plena e saudável do portador de necessidades especiais na infância

Entretanto...

... se no contexto escolar prevalecer a discriminação entre os colegas, o bulling e a falta de suporte da instituição, o resultado é o aumento da incidência dos transtornos mentais

Os transtornos mentais iniciados na infância muitas vezes têm pior prognóstico que os iniciados mais tardiamente na vida

As consequências de transtornos de humor e ansiedade na época de formação da personalidade deixam marcas indeléveis

Seja qual for o tipo da necessidade especial, atividades que promovam a interação social saudável reduzem a chance da ocorrência de transtornos de humor

É demonstrado por estudos também a capacidade de atividades físicas regulares em reduzir a ocorrência de transtornos de humor em portadores de necessidades especiais das mais variadas ordens

Além de ter que lidar com as dificuldades de sua situação, um grande entrave ao portador de necessidade especial é a forma como a sociedade o trata

Por exemplo: a “infantilização” com que muitos são tratados contribui sobremaneira para a eclosão de transtornos de humor

O portador de necessidade especial não quer ser tratado como um “bebê”

Não é porque ele tem dificuldade em uma habilidade específica que suas outras capacidades estão abolidas

Quando a pessoa é tratada desta maneira, ocorre estresse psíquico, e aumenta a chance de surgirem transtornos do humor e de ansiedade

A perda auditiva dificulta a interação com os outros indivíduos

Muitos portadores de deficiência auditiva passam a ser ignorados nas conversas, o que leva a rebaixamento do humor e da auto-estima

Um outro comportamento danoso da sociedade com o portador de necessidades especiais é a “generalização”

Por exemplo: muitas pessoas lidam com o portador de baixa acuidade auditiva como se ele sempre tivesse deficiência mental e fosse incapaz de entender e ser entendido, o que gera grande estresse psíquico

Portadores de dificuldades para a expressão verbal de todas as ordens enfrentam situação análoga

Muitos profissionais, inclusive de saúde, ao invés de se dirigirem diretamente ao paciente com dificuldade de comunicação o ignoram, e olham e conversam apenas com o seu acompanhante

Ou seja, mesmo nos serviços que deveriam cuidar do bem-estar da pessoa com deficiência pode existir um ambiente propício ao surgimento de estressores que alteram o humor

A institucionalização de portadores de necessidades especiais também contribui sobremaneira para o surgimento de transtornos mentais do espectro depressivo

Nas instituições, tanto o baixo suporte familiar quanto o baixo nível de interação social que muitas vezes ocorre contribuem para o sub-diagnóstico e consequente tratamento inadequado dos transtornos de humor

Imagine-se trocando de lugar com o portador de necessidade especial:

Você já andou alguma vez de cadeira de rodas?

Você já tentou caminhar em um quarto escuro se orientando pelo tato e audição?

Você já tentou acompanhar uma conversa com um “tapa ouvidos”?

Você alguma vez já ficou completamente afônico e tentou se comunicar com outras pessoas?

Você já tentou resolver algum problema difícil mas sentiu que parecia que todo mundo à sua volta consegue, menos você?

Se colocando no lugar do outro podemos entendê-lo muito melhor

Isso vale não apenas para lidar com a situação dos portadores de necessidades especiais

Vale para todas as situações em que queremos nos tornar pessoas melhores

À Sra. Alessandra Cardoso por sua colaboração

À Dra. Marta Ires, pelo honroso convite para esta apresentação

E a todos os portadores de necessidades especiais (inclusive meu irmão) que me ajudaram a ser um médico mais humano

Contatos, dúvidas, sugestões e solicitações de palestras sobre doenças mentais para

sua instituição ou evento:

clinicapacificobrasilia@gmail.com

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