Post on 27-Mar-2019
i
ADRIANA PAOLA CASTILLO ESTEPA
SAÚDE VISUAL NO TRABALHO E A SÍNDROME DA
VISÃO DO COMPUTADOR EM PROFESSORES
UNIVERSITÁRIOS
CAMPINAS
2014
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
ADRIANA PAOLA CASTILLO ESTEPA
“SAÚDE VISUAL NO TRABALHO E A SÍNDROME DA VISÃO DO
COMPUTADOR EM PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS”
Orientador(a): Profa. Dra. Aparecida Mari Iguti
EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ADRIANA PAOLA CASTILLO ESTEPA E ORIENTADA PELA PROFA.DRA. APARECIDA MARI IGUTI Assinatura do orientador ________________________
CAMPINAS
2014
Dissertação de mestrado apresentada à
Pós-graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
para obtenção do título de Mestra em Saúde Coletiva, área de
concentração: Epidemiologia
vii
Dedicatória
Com muito carinho dedico esse trabalho aos melhores, meus pais, Julieta e
Reinel, minha orientadora Iguti e meu esposo Arthur.
ix
Agradecimentos
A Deus e aos meus pais Julieta e Reinel, por ser a força incondicional na minha
caminhada.
À minha orientadora Iguti, pela sua confiança e amizade, e pela paciência e
conselhos na realização deste trabalho.
À Diretoria da ADUNICAMP e em particular ao Senhor Rogério José Cerveira
Ribeiro pela sua disposição atenciosa e colaboração para o desenvolvimento
deste projeto.
Ao pesquisador Marco Antonio Bussacos, da Fundacentro.
A todos os funcionários, professores e colegas da Pós-graduação em Saúde
Coletiva, que me acolheram de maneira especial e colaboraram de forma direta e
indireta na conclusão deste trabalho.
A CAPES pelo apoio financeiro.
xi
.
Tú, Señor, eres mi fuerza;
¡yo te amo!
Tú eres mi protector,
mi lugar de refugio,
mi libertador,
mi Dios,
la roca que me protege,
mi escudo,
el poder que me salva,
mi más alto escondite.
Tú, Señor, eres digno de alabanza:
cuando te llamo, me salvas de mis enemigos.
Tú me proteges y me salvas,
me sostienes con tu mano derecha;
tu bondad me ha hecho prosperar.
Has hecho fácil mi camino,
y mis pies no han resbalado.
Salmo 18 (17).
xiii
Resumo
Introdução: Os computadores são parte da vida moderna e seu uso deles
massificado; diariamente as pessoas passam várias horas diante de uma tela
pelas diversas facilidades no trabalho, no lazer, na conectividade, entre outros. Ao
mesmo tempo também trazem riscos à saúde de seus usuários, sendo descritos
problemas psicológicos, problemas musculoesqueléticos e problemas visuais;
estes últimos apresentam uma alta prevalência (50%-70%) e os sintomas visuais e
oculares, que trazem incômodos para realização de atividades com o computador,
reduzem a produtividade dos trabalhadores e diminuem a qualidade de vida dos
usuários de computadores. Estes efeitos à saúde visual têm sido pouco estudados
pela comunidade científica.
Objetivos: Levantar a frequência de casos da Síndrome da Visão do Computador
em professores universitários e identificar os fatores de risco associados à
presença da CVS.
Metodologia: Trata-se de estudo de tipo transversal observacional e participam
professores de uma universidade pública do Estado de São Paulo; foram
aplicados dois questionários, um versando sobre aspectos do trabalho e do uso de
computadores e outro, sobre sintomas oculares e visuais. Além disso, foram
realizados exames visuais. A coleta de dados foi feita entre os meses de Fevereiro
a Dezembro de 2013 no campus da universidade. Critérios de Inclusão:
Professores da universidade. Critérios de Exclusão: Professores que não usem o
computador.
Resultados: Em uma amostra de 53 professores a Síndrome da Visão do
Computador foi encontrada em 30 professores, 19 deles classificados com a forma
leve da Síndrome, 10 com a moderada e 1 com a severa; os sintomas que mais
incomodaram os professores foram fadiga (30 participantes), ressecamento ocular
(20 participantes), irritação ocular (17 participantes). Foram encontrados
problemas binoculares em 27 dos 53 professores e diminuição na produção
lacrimal em 12/53.
xiv
Conclusões: Os professores universitários são uma população com uma alta
prevalência da Síndrome da Visão do computador, na amostra apresentou-se a
síndrome em mais da metade dos participantes 30/23(56%), concordando assim
com as prevalências da Síndrome encontradas nos estudos internacionais.
Três variáveis foram associadas significativamente ao aparecimento da CVS nos
professores universitários, a idade que minimiza as chances de ter CVS (OR: 0,91
IC: 0,83/0,97 P-value: 0,015), as horas de uso diárias no computador que
aumentam as chances de apresentar CVS (OR: 1,26 IC: 1,05/1,57 P-value: 0,021),
e os problemas vergenciais como insuficiência ou excesso de convergência ou
divergência, os quais estão associados positivamente com o aparecimento da
síndrome (OR: 3,24 IC: 1,06/10,49 P-value: 0,042).
Palavras chave: Síndrome da Visão do Computador, Astenopia, Terminais de
computador, Engenharia humana, saúde do trabalhador.
xv
Abstract
Computers are part of modern life, their use sprayed and people spend several
hours using them as they bring several facilities in work, leisure, connectivity,
among others. Computers also brought risks to the health of its users,
psychological problems, musculoskeletal problems and visual problems, although
the latter with a high prevalence (50% -70%) and with visual and ocular symptoms
that diminish the quality of life of users, bother working with the computer and
reduce worker productivity, has been little studied by the scientific community.
Objectives: The study aims to estimate the cases frequency of the Computer
Vision Syndrome in teachers and to identify risk factors associated with the
presence of CVS.
Methodology: This is a cross-sectional-observational study with teachers of a
public university which two questionnaires and a visual test is performed to find
and evaluate the possible symptoms of Computer Vision Syndrome of as well as
their associated factors. The survey is conducted between the months of February
to December 2013 at the University campus. Inclusion Criteria: Teachers and
researchers at university. Exclusion Criteria: Teachers and researches who do not
use the computer.
Results: In a sample of 53 teachers of Computer Vision Syndrome was found in
30 teachers, 19 were classified as mild form of the syndrome, 10 with moderate
and 1 with severe, the symptoms that bother the teachers were fatigue (30
participants), ocular dryness (20 participants), eye irritation (17 participants).
Binocular problems were found in 27 of the 53 teachers and decrease in tear
production in 12/53.
Conclusions: The teachers are a population with a high prevalence of the
Computer Vision Syndrome, the sample presented the syndrome in more than half
of the participants 30/23 (56%), thus agreeing with the prevalence of the syndrome
found in international studies.
xvi
Three variables were significantly associated with 5 % with the onset of CVS on
university teachers , the age that minimizes the chances of having CVS (OR: 0.91
IC: 0.83/0.97 P-value: 0.015), hours daily use of the computer that increase the
chances of presenting CVS (OR: 1.26 IC: 1.05/1.57 P-value: 0.021), and
vergenciais problems like deficiency or excess of convergence or divergence,
which are positively associated with the onset of the syndrome (OR: 3.24 IC:
1.06/10.49 P-value: 0.042).
Keywords: Computer Vision Syndrome, asthenopia, video display terminals,
ergonomics, occupational health.
xvii
Índice de Figuras
Figura 1. Anatomia do olho. FREITAS (1990). ................................................. 37
Figura 2 Efeito da acomodação na forma da lente CRISTALINA PUELL(2006).39
Figura 3 pausas regulares dos professores quando trabalham com o computador
......................................................................................................................... 86
Figura 4 frequencia da cvs ............................................................................... 87
Figura 5 sintomas referidos pelos professores ................................................. 88
Figura 6 Tipos dos sintomas da cvs ................................................................ 89
Figura 7 relação linear entre a idade e as horas de uso diario de pc ............... 94
xix
Índice de Quadros
Quadro 1 Demandas visuais e oculares originadas pelo trabalho com
videoterminais .................................................................................................. 43
Quadro 2 Sintomas e categorias da síndrome da visão do computador .......... 53
Quadro 3 Passos da vigilância ergoftalmológica .............................................. 54
Quadro 4 Classificação da sindrome da visão do computador segundo
blehm(2005) ..................................................................................................... 56
Quadro 5 fatores associados aos sintomas da sindrome da visão do computador
......................................................................................................................... 57
Quadro 6 sintomas da sindrome da visão do computador citados nos estudos dos
principais autores do tema. .............................................................................. 73
Quadro 7 Classificação da síndrome da visão do computador utilizada na presente
pesquisa. .......................................................................................................... 73
Quadro 8 Diagnósticos visuais entregados pelo instrumento III "teste Visual" . 79
Quadro 9 Variáveis independentes analisadas na regressão logística univariada
......................................................................................................................... 92
xxi
Índice de Tabelas
Tabela 1 características demográficas dos participantes. ................................ 84
Tabela 2 Resultados dos testes oculares e visual ............................................ 85
Tabela 3 resultados da analise univariada (odss ratio, intervalos de confiança, p-
value) ............................................................................................................... 93
xxiii
Lista de siglas e abreviaturas
aacc: Amplitude de acomodação.
ADUNICAMP: Associação de Docentes da Universidade Estadual de Campinas.
AET: Análise ergonômica do trabalho.
AO: Ambos olhos.
AOA: Associação Americana de Optometria.
BUT: Tempo de ruptura lacrimal.
CEP: Comitê de Ética em Pesquisa.
cpm: Ciclos por minuto.
CVS: Computer Vision Syndrome/Síndrome da Visão do Computador.
dp: Dioptria.
ICOH: International Commission on Occupational Health.
Lag acc: Lag de acomodação.
LC: Lente de contato.
RH: Umidade Relativa.
SNC: Sistema Nervoso Central.
TNT: Trinitrotolueno.
VDT: Videoterminais.
xxv
Tabela de Conteúdo
RESUMO ................................................................................................................................ XIII
ABSTRACT .............................................................................................................................. XV
ÍNDICE DE FIGURAS.......................................................................................................... XVII
ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................................................ XIX
ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................................... XXI
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ......................................................................... XXIII
APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................XXIX
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 31
O QUE É O TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS? ......................................................................... 33
2. REVISÃO DA LITERATURA: ANALISE DO PROBLEMA ...................................... 35
2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO OLHO ................................................................... 35
ANATOMIA DO OLHO .................................................................................................................. 36
TÚNICAS .................................................................................................................................................. 36
COMPARTIMENTOS ................................................................................................................................. 36
FLUIDOS INTRAOCULARES ..................................................................................................................... 36
FORMAÇÃO DA IMAGEM ............................................................................................................. 37
CÓRNEA E FILME LACRIMAL .................................................................................................................. 37
CRISTALINO ............................................................................................................................................. 38
VISÃO BINOCULAR ..................................................................................................................... 39
ALTERAÇÕES REFRATIVAS DO OLHO ......................................................................................... 40
HIPERMETROPIA ..................................................................................................................................... 40
MIOPIA .................................................................................................................................................... 40
ASTIGMATISMO ....................................................................................................................................... 40
ALTERAÇÕES DA ACOMODAÇÃO ................................................................................................. 41
HIPOFUNÇÃO DA ACOMODAÇÃO ............................................................................................................ 41
HIPERFUNÇÃO DA ACOMODAÇÃO .......................................................................................................... 41
PRESBIOPIA ............................................................................................................................................. 41
ALTERAÇÕES BINOCULARES ....................................................................................................... 41
xxvi
2.2. EXIGÊNCIAS VISUAIS E OCULARES NO TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS
43
FATORES FÍSICOS DA TAREFA EM VISÃO PRÓXIMA .................................................................... 43
DISTÂNCIA DOS PONTOS DE TRABALHO ............................................................................................... 43
POSIÇÃO DA TELA ................................................................................................................................... 45
FATORES ORGANIZACIONAIS DA TAREFA EM VISÃO PROXIMA .................................................. 45
PAUSAS E TIPO DE TRABALHO ............................................................................................................... 45
FATORES AMBIENTAIS DA TAREFA EM VISÃO PRÓXIMA ............................................................ 46
CORRENTES DE AR, UMIDADE RELATIVA E ALTAS TEMPERATURAS ................................................... 46
ILUMINAÇÃO E BRILHO ........................................................................................................................... 47
2.3. EFEITOS DO TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS SOBRE A SAÚDE .......... 49
EFEITOS DA RADIAÇÃO DO VIDEOTERMINAL NA SAÚDE ............................................................ 49
EFEITOS DOS VIDEOTERMINAIS NA SAÚDE MENTAL .................................................................. 49
EFEITOS VARIADOS DOS VIDEOTERMINAIS NA SAÚDE ............................................................... 50
EFEITO DOS VIDEOTERMINAIS NA SAÚDE VISUAL ...................................................................... 50
2.4. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR
(CVS) ......................................................................................................................................... 55
O QUE É A CVS? ......................................................................................................................... 55
MAS, QUAL É A DEFINIÇÃO DA SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR? ......................................... 55
CLASSIFICAÇÃO DA CVS ............................................................................................................. 56
2.5. SAÚDE VISUAL NO TRABALHO COM VDT: HIGIENE VISUAL NO TRABALHO E
SUA ASSOCIAÇÃO COM O APARECIMENTO DA SÍNDROME DA VISÃO DO
COMPUTADOR. ..................................................................................................................... 57
FATORES INDIVIDUAIS ASSOCIADOS À SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR ...................... 57
PRESENÇA DE AMETROPIAS NÃO CORRIGIDAS EM USUÁRIOS DE VDT .............................................. 57
FREQUÊNCIA DE PISCAR EM USUÁRIOS DE VDT .................................................................................. 60
USO DE COSMÉTICOS EM USUÁRIOS DE VDT ....................................................................................... 61
USO DE LENTES DE CONTATO ................................................................................................................ 62
IDADE E MENOPAUSA ............................................................................................................................. 62
USO DE MEDICAMENTOS ........................................................................................................................ 62
DOENÇAS SISTÊMICAS ............................................................................................................................ 62
FATORES AMBIENTAIS E ERGONÔMICOS DA ESTAÇÃO DE TRABALHO ASSOCIADOS AOS SINTOMAS DA
SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR ................................................................................... 62
BAIXA UMIDADE RELATIVA E ALTAS TEMPERATURAS ......................................................................... 63
ALTITUDE ELEVADA ............................................................................................................................... 63
xxvii
AR CONDICIONADO E VENTILADORES ................................................................................................... 63
POSIÇÃO DA TELA DO COMPUTADOR..................................................................................................... 64
ILUMINAÇÃO DA ESTAÇÃO DE TRABALHO ............................................................................................. 64
3. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 67
OBJETIVO ................................................................................................................................ 67
OBJETIVOS SECUNDÁRIOS ................................................................................................ 67
4. METODOLOGIA .............................................................................................................. 69
ESTUDO ...................................................................................................................................... 69
TIPO DE ESTUDO ..................................................................................................................................... 69
POPULAÇÃO ............................................................................................................................................. 69
GRUPO ESTUDADO .................................................................................................................................. 69
PARTICIPAÇÃO DOS DOCENTES .............................................................................................................. 69
COLETA DE DADOS .................................................................................................................................. 69
LOCAL ...................................................................................................................................................... 69
PROCESSAMENTO DE DADOS ................................................................................................................. 70
INSTRUMENTOS ...................................................................................................................................... 70
EMISSÃO DO PARECER DE APROVAÇÃO DO CEP NA PLATAFORMA BRASIL ..................................... 80
5. DIFICULDADES .............................................................................................................. 81
DEFINIÇÃO E INSTRUMENTOS .................................................................................................... 81
TAMANHO DA AMOSTRA ............................................................................................................ 81
ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................................ 82
6. RESULTADOS: ................................................................................................................ 83
ANALISE DESCRITIVA ......................................................................................................... 83
CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................... 83
A SAÚDE VISUAL DOS DOCENTES .................................................................................... 84
HÁBITOS DOS PROFESSORES NO USO DE COMPUTADORES .................................. 85
AS PAUSAS REALIZADAS DURANTE O USO DO COMPUTADOR VARIARAM ENTRE NENHUM E ATÉ A CADA
QUATRO HORAS, SENDO MAIS FREQUENTE A REALIZADA A CADA 3 A 4 HORAS (35,84%)............ 85
PAUSAS DOS PROFESSORES QUANDO TRABALHAM COM COMPUTADORES ........................................ 85
TIPO DE ILUMINAÇÃO ............................................................................................................................. 86
AR CONDICIONADO OU VENTILADOR .................................................................................................... 86
SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR E DIAGNÓSTICOS ASSOCIADOS ........ 87
7. RESULTADOS ................................................................................................................. 91
xxviii
ANALISE ESTATISTICA ....................................................................................................... 91
VARIÁVEIS SIGNIFICATIVAS: ...................................................................................................... 93
8. DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 95
9. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 99
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 101
APÊNDICE 1. ........................................................................................................................ 111
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO........................................... 111
APÊNDICE 2. ........................................................................................................................ 115
PARECER COBSUSTANCIADO DO COMITÉ DE ÉTICA EM PESQUISA ................. 115
APÊNDICE 3. ........................................................................................................................ 119
QUESTIONARIOS E TESTE APLICADOS. ...................................................................... 119
APÊNDICE 4. ARTIGO CIENTÍFICO ............................................................................... 125
APÊNDICE 5 ......................................................................................................................... 127
BOLETIM N 03-2013 CVS- ADUNICAMP ..................................................................... 127
APÊNDICE 6 ......................................................................................................................... 129
CARTAZ SINDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR ................................................. 129
APÊNDICE 6 ......................................................................................................................... 131
QUESTIONARIO FINAL PARA O DIAGNOSTICO DA CVS, FATORES DE RISCO E
DIAGNÓSTICOS ASSOCIADOS. ....................................................................................... 131
xxix
APRESENTAÇÃO
A pergunta inspiradora deste estudo surgiu quando iniciei minha prática
profissional, trabalhando como optometrista1 principal de uma sucursal de uma
ótica em Bogotá.
A maioria dos pacientes que eu atendia no dia a dia eram funcionários de um
importante banco conveniado à ótica e apresentavam queixas visuais semelhantes
nas consultas, como astenopia, visão embaçada, queimação ocular e esses
sintomas eram acompanhados de problemas acomodativos que produziam
cefaleia e dores oculares intensas que afetavam sua produção no trabalho e a sua
qualidade de vida.
Diagnostiquei vários casos de funcionários com a Síndrome da Visão do
Computador, relacionada ao uso constante do computador e ao tipo de trabalho
que eles realizavam diariamente; alguns necessitaram de terapias ortópticas e uso
de medicamentos cicloplégicos, em função da gravidade dos problemas
acomodativos.
Entretanto, nenhum deles conhecia a existência da Síndrome da Visão do
Computador nem os fatores de risco associados e não foram diagnosticados
previamente; esta foi minha preocupação com o tema e me perguntei qual seria a
frequência de casos da CVS e que fatores de risco estar associados ao seu
desencadeamento.
Com o apoio da Doutora Aparecida Mari Iguti e o seu interesse pela saúde
visual do trabalhador, com meu ingresso no programa de mestrado em Saúde
Coletiva em meados de 2012, comecei a desenvolver a investigação, inicialmente
1. O optometrista é o profissional encarregado do cuidado da saúde visual na Atenção Primária. É
capacitado para determinar o estado de saúde visual e avaliação funcional dos componentes
acomodativos, refratais, estruturais e motores do Sistema Visual. Está capacitado para diagnosticar,
prescrever, compensar e tratar todas as anomalias refrativas, binoculares, motoras e sensoriais do
paciente. Igualmente pode detectar condições patológicas ou sistêmicas nos olhos e encaminhar ao
profissional da saúde mais apropriado, geralmente um oftalmologista em aquelas doenças que afetem o
sistema visual.
xxx
com uma revisão exaustiva da literatura, onde me dei conta que a CVS era um
problema de saúde visual e de saúde pública mencionados desde o início dos
anos 80 do século passado, como a “grande epidemia moderna”. Entretanto as
investigações e perguntas seguem sendo as mesmas, existência de um consenso
internacional sobre o que é, como se previne e como se trata a CVS.
Com o presente trabalho, além de descrever a prevalência da Síndrome da
Visão do Computador e de seus fatores associados, também tentei sistematizar os
conhecimentos existentes através de uma revisão exaustiva dos artigos científicos
sobre o tema, e dar um olhar mais objetivo à CVS, propondo uma definição e
caracterização da síndrome, assim como de instrumentos para a detecção da
síndrome, seus fatores de risco e seus diagnósticos relacionados.
31
1. INTRODUÇÃO
A definição da palavra “computador” (por incrível que pareça) é “máquina para
fazer cálculos” e pode parecer simples, mas indica a finalidade inicial dos seus
criadores; os primeiros ‘computadores’ foram utilizados em 300 A.C. e o Ábaco
considerado o primeiro, que permitia a soma, através ‘quadro’ de contas alinhadas
em fios e que através dos anos sofreu diversas modificações, passando pelos
Ossos de Napier (1610), a Pascalina (1642), a máquina de Babbage (1822), até a
construção dos computadores elétricos em 1943 como o ENIAC, o ORDOVAC, o
SEAC e o UNIVAC. A partir da segunda metade da década de 1970 e o início dos
80, os computadores pessoais ganharam espaço; na década de 1990
desenvolveram-se, tornando-se mais eficientes e amigáveis para uso geral; em
1991 com a chegada da World Wide Web, os softwares e programas
desenvolvidos por Apple e Microsoft, os correios eletrônicos e as redes sociais,
começaram a trazer aplicações e ferramentas para a realização de diversas
tarefas e conectividade global (FONSECA, 2007).
Os computadores e a internet trouxeram diversas facilidades para a vida
cotidiana, permitindo aos usuários a conexão com o mundo todo: redes sociais,
compras online, jogos online, correios eletrônicos e facilitaram às tarefas no
escritório, incrementado a produtividade de pessoas e empresas. Sua utilização é
global e frequentemente os usuários passam várias horas do seu dia no
computador.
Algumas estatísticas ilustram a quantidade de computadores em uso e os
comportamentos dos usuários no mundo e no Brasil2,3,4:
2 Fundação Getúlio Vargas (FGV), 24ª Pesquisa do Uso de Tecnologias da Informação (2013).
http://eaesp.fgvsp.br/sites/eaesp.fgvsp.br/files/arquivos/gvpesqti2013ppt.pdf 3 Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE). www.ibope.com.br.
4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010.
32
Utilização de computadores no mundo: 36% (FGV).
Utilização de computadores nos USA: 120% (FGV).
Utilização de computadores no Brasil: 60%, (3 para cada 5 habitantes)
(FGV).
Em três anos teremos um computador por habitante no Brasil (118 hoje
para 200 milhões em 2016) (FGV).
Nos últimos quatro anos dobrou-se o número de computadores em uso no
Brasil (FGV).
83,5% das empresas brasileiras (públicas e privadas) usam computador
(IBGE).
Vende-se um computador por segundo no Brasil (FGV).
O tempo médio de navegação de um usuário no mundo em dezembro de
2012 foi de 16 horas mensais (IBOPE).
O tempo médio de navegação de um usuário no Brasil em dezembro de
2012 foi de 44 horas mensais (IBOPE).
O boom dos computadores foi impulsionado pela indústria e a ‘Terceira
Revolução Industrial’ ocorreu com a inserção dos computadores nos processos
produtivos, muito em função do aumento da competitividade nos grandes
mercados globalizados, com a redução de custos, o aumento da produtividade e
das vendas. Como não era esperado, a era da informática nas empresas
modificou totalmente os processos de trabalho, destruindo uma grande quantidade
de postos de trabalho, tornando anacrônicas várias ocupações, com surgimento
de outras em menor número, com novas exigências e maior complexidade.
Produziu-se uma “intelectualização” do trabalho, que embora gerasse
aprendizagem, entretenimento e exploração de novas ideias, também aumentou a
ansiedade e a alienação nos trabalhadores, fragilidade organizacional, invasão de
privacidade, remanejamento de pessoal, desemprego, além de impactos negativos
sobre a saúde dos trabalhadores nos que se podem citar desde problemas
musculoesqueléticos e alterações visuais até problemas mentais
33
(SHNEIDERMAN, 1989; SMITH; COHEN; STAMMERJOHN, 1981;TAMEZ et al.,
2003).
A era informática, com a interação constante entre o PC e o homem tem
produzido desafios à medicina, pois com as rápidas mudanças tecnológicas que o
homem tem que enfrentar no seu dia a dia tem surgido problemas e doenças
físicas e psicológicas na população e que necessitam ser prevenidas
concomitantemente com as mudanças tecnológicas que impactam as condições
de trabalho.
O que é o trabalho com videoterminais?
As VDT são unidades periféricas de saída que permitem a visualização da
informação; o trabalho com Vídeo Terminais (VDT) pode ser definido como aquele
que toda pessoa exerce habitualmente e durante uma parte relevante do seu
tempo, utilizando uma máquina com uma tela para visualizar dados (MORENO
PÉREZ et al., 2007). Neste trabalho encontram-se diferentes tipos de tarefas:
Comunicação com outras pessoas por meio de chats e correios eletrônicos.
Criação, digitalização e leitura de dados (imagens, textos, bases de dados).
Programação.
Tarefas de tipo misto no computador.
Nos postos de trabalho informatizados, o trabalhador permanece em posturas
quase estáticas, durante horas, com a atenção fixa na tela do monitor e as mãos
sobre o teclado (SÁ, 2010), os movimentos e manobras do trabalhador são
limitados, num sistema homem-máquina, onde se integram as funções do
operador com as da máquina num todo, que levam a inadaptações ergonômicas,
físicas e psicológicas, com consequências sobre a saúde do trabalhador.
As queixas que mais comumente associados ao uso de computadores são as
queixas visuais e musculoesqueléticas; dada a alta prevalência destes sintomas,
começou-se a denominar “Síndrome da Visão do Computador”, síndrome
34
definida como a condição resultante do excessivo uso do computador (BLEHM et
al., 2005b), caracterizada por sintomas visuais, oculares, astenópicos e
musculoesqueléticos, que incluem a fadiga visual, olhos irritados, prurido nos
olhos, olhos secos, lacrimejamento, sensibilidade à luz, dor no pescoço e costas,
entre outros (ROZA, 2008), existem alguns fatores determinantes para a aparição
da síndrome como:
Fatores ambientais: clima, correntes de ar, iluminação.
Fatores fisiológicos e físicos: posição da tela do computador, posições
ergonômicas da pessoa, tela do computador muito pequena, entre outros.
Fatores biológicos: problemas refrativos, olho seco, problemas ortópticos
(BLEHM et al., 2005b).
A “American Optometric Association (AOA)” observa que a primeira causa de
problemas visuais apresentados por pessoas em consulta com o optometrista
relaciona-se com a Síndrome da Visão do Computador e que nos últimos anos
esta síndrome tornou-se um grande problema de Saúde Pública nos Estados
Unidos; estima-se que entre 50% a 75% das pessoas que usam computadores
apresentem sintomas da Síndrome da Visão do Computador, mas apesar disso, a
grande desinformação que existe na população sobre esta síndrome, faz com que
diagnosticá-la e trata-la não seja uma tarefa simples5.
5
American Optometric Association (AOA), Síndrome da Visão do Computador.
http://www.aoa.org/x5380.xml
35
2. REVISÃO DA LITERATURA: ANALISE DO
PROBLEMA
2.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO OLHO
"Ora, não percebeis que com os olhos alcançais toda a beleza do mundo? O olho
é o senhor da astronomia e o autor da cosmografia; ele desvenda e corrige toda a
arte da humanidade; conduz os homens as partes mais distantes do mundo; é o
príncipe da matemática, e as ciências que o têm por fundamento são
perfeitamente corretas.
O olho mede a distância e o tamanho das estrelas; encontra os elementos e suas
localizações; ele... deu origem a arquitetura, a perspectiva, e a divina arte da
pintura.
...Que povos, que línguas poderão descrever completamente sua função! O olho
é a janela do corpo humano pela qual ele abre os caminhos e se deleita com a
beleza do mundo".
Leonardo Da Vinci.
O olho também denominado bulbo ocular ou globo ocular é o órgão
responsável pela visão, apresentando um formato ovalado, localizado numa
cavidade óssea denominada órbita e ocupa cerca de 10% do seu volume. O
espaço restante é ocupado pelos músculos extraoculares, fascia bulbar, tecido
adiposo, vasos sanguíneos, nervos e por grande parte do aparelho lacrimal. O
olho é originado embriologicamente de uma extensão do Sistema Nervoso
Central, compartilhando muitas propriedades anatômicas e fisiológicas. Assim
como o cérebro, o olho é protegido por paredes ósseas, apresenta resistente
cobertura fibrosa e possui um duplo suprimento sanguíneo. A função primária do
olho é formar uma imagem nítida dos objetos que estão ao nosso redor e essas
imagens são transmitidas ao cérebro através do nervo óptico e das vias visuais
posteriores (COSTA, 2008).
36
Anatomia do olho
Esquematicamente podemos considerar que o olho apresenta três túnicas,
três compartimentos e contém dois tipos de fluídos:
Túnicas
Fibrosa ou externa: composta pela córnea, pela esclera e pala lâmina
crivosa.
Vascular ou média (trato uveal): composta pelo íris, corpo ciliar e coroide.
Nervosa ou interna: composta pela retina.
Compartimentos
Câmara anterior: Espaço entre a córnea e o diafragma iriano.
Câmara posterior: Espaço triangular entre a íris, o cristalino e a zônula e o
corpo ciliar.
Câmara vítrea: Espaço atrás da lente e a zônula.
Fluidos intraoculares
Humor aquoso: Fluído opticamente transparente, é uma solução de água e
eletrólitos.
Humor vítreo: Gel transparente formado por fibras de colágeno, com seus
espaços preenchidos por moléculas de ácido hialurônico e água.
37
FIGURA 1. ANATOMIA DO OLHO. FREITAS (1990).
Formação da imagem
O olho é um aparelho óptico complexo e funciona como lente convergente
de poder suficiente para focalizar os raios luminosos na retina. O seu valor óptico
é de aproximadamente 60 dioptrias (dp).
No olho normal as imagens que chegam à retina devem ter bastante nitidez. Os
raios de luz que atravessam os meios transparentes do olho devem chegar à
retina, que dista aproximadamente 23 milímetros da córnea. Para enxergar um
objeto colocado a uma determinada distância é acionado o mecanismo
acomodação, pelo qual o olho pode variar o seu poder refrativo. O olho do ponto
de vista óptico é formado por meios e superfícies refringentes. As superfícies são
da córnea e do cristalino e os meios refringentes, aquoso e vítreo.
Córnea e Filme lacrimal
A córnea é uma lente cujo valor dióptrico oscila entre 40 e 43dp, composta
por cinco camadas de células dispostas de tal modo a permitir a passagem da luz,
38
permanecendo transparente. Para que esta transparência se mantenha, a córnea
não pode ter vasos sanguíneos, nutrindo-se dos líquidos que a banham, o humor
aquoso na parte interna e o filme lacrimal na parte externa. O filme lacrimal é a
lacrima que recobre a parte exposta do olho, a superfície do filme lacrimal é de
1,5cm2 a 2cm² com o olho aberto e o seu volume é de 1µl, composta por três
capas, uma capa de mucina em contato direto com a córnea e que permite uma
maior aderência a esta, uma capa aquosa no meio com funções antimicrobiana,
de lubrificação, metabólica, óptica, entre outras e uma capa lipídica no exterior que
permite reduzir a evaporação da capa aquosa (MAYORGA, 2008).
Cristalino
O cristalino está contido por uma cápsula elástica e é uma lente biconvexa
de potência dióptrica variável que pode focar a diferentes distâncias graças ao
mecanismo da acomodação, cuja principal característica é a sua heterogeneidade
física e óptica. O cristalino apresenta uma estrutura em capas bastante complexa,
e ao longo da vida a lente continua o seu crescimento em espessura mediante a
formação de novas capas de fibras na parte externa. Como resultado normal do
processo de envelhecimento, a lente perde flexibilidade e transparência. A cápsula
do cristalino tem um papel importante no processo da acomodação; os ligamentos
suspensórios da Zônula de Zinn, que se estendem desde a periferia da cápsula
elástica que envolve o cristalino até o corpo ciliar detém a lente e controla a
curvatura das suas superfícies através das variações na tensão da zônula
produzidas pela ação do músculo ciliar. Este processo origina uma mudança na
potência equivalente do cristalino e por conseguinte na potência do olho,
permitindo ao olho focar objetos a diferentes distâncias (PUELL MARÍN, 2006). Na
figura a seguir apresenta o efeito da acomodação, com a relaxação das zônulas,
na forma do lente cristalino.
39
FIGURA 2 EFEITO DA ACOMODAÇÃO NA FORMA DA LENTE CRISTALINA PUELL(2006).
A acomodação ocorre quando o olho precisa mudar de foco; dos objetos
distantes aos próximos, o músculo ciliar contrai-se, diminuindo a tensão nos
ligamentos suspensórios que sustentam o cristalino. A relaxação das zônulas
permite que ambas as superfícies da lente e especialmente a anterior se curvem
mais, engrossando o cristalino no centro e movendo a superfície frontal
ligeiramente à frente, dão lugar a um incremento na potência equivalente do olho.
A acomodação reduz-se progressivamente com a idade, mas em geral só a
partir dos 40 anos que se percebe a dificuldade para enxergar os objetos de perto.
Visão Binocular
A visão binocular permite fusionar numa percepção única as sensações
recebidas por cada uma das retinas. Em cada olho se forma uma imagem que
parte do mesmo objeto real e as duas imagens se transmitem ao córtex cerebral.
A percepção final é o resultado da fusão das duas representações visuais nos
níveis corticais superiores.
A fusão é necessária para ter uma percepção única das sensações
recebidas pela retina, os olhos recebem imagens ligeiramente diferentes de
40
objetos que estão dentro do campo visual binocular devido a que estão separados
entre 54 a 72mm.
Existem alterações da óptica (refração e acomodação) e da visão binocular
do olho e a seguir descreveremos as alterações refrativas, as acomodativas e as
binoculares:
Alterações Refrativas do olho
As alterações refrativas mais comuns são as alterações de foco; na miopia, na
hipermetropia e no astigmatismo, o ponto focal não ocorre na retina e sim na
frente ou atrás dela:
Hipermetropia
É um vício de refração no qual em condições de repouso e de acomodação
os raios paralelos que atingem o olho são interceptados pela retina antes de se
cruzarem. Assim, o foco estaria localizado atrás da retina e os raios
divergentes provenientes de objetos próximos teriam esse foco ainda mais
para trás.
Miopia
É um problema refrativo estando o olho com a acomodação totalmente
relaxada os raios paralelos se cruzam antes da retina. Desta forma, o foco
estaria localizado antes da retina. Porém, os raios divergentes provenientes do
ponto remoto estarão focalizados na retina.
Astigmatismo
É um problema refrativo no qual há uma diferença no grau de refração dos
diversos meridianos da córnea, de maneira que é impossível formar um ponto
focal sobre a retina. A imagem de um ponto jamais será um ponto e sim uma
linha.
41
Alterações da acomodação
Os problemas acomodativos são as principais causas de astenopia e são
classificados em grupos específicos.
Hipofunção da acomodação
Ocorre quando a capacidade ou resposta acomodativa é inferior ao
requerido ou há um déficit em sua manutenção. Entre estas se encontram as
insuficiências, fadigas e paralisias da acomodação (CAMACHO, 2009).
Hiperfunção da acomodação
É uma condição onde o sistema visual gera uma resposta excessiva ao
requerido, entre as quais se encontram os excessos e espasmos de acomodação
(BORRÁS, 2000; CAMACHO, 2009).
Geralmente as alterações do sistema acomodativo ocorrem por esforço
prolongado ou maus hábitos no uso da visão próxima gerando paralisia,
estancamento ou perda da eficácia do sistema (SCHEIMAN e ROUSE, 1994;
CAMACHO, 2009).
Presbiopia
É uma alteração fisiológica que afeta a todos a partir dos 40 anos. Esta
alteração se deve à perda da elasticidade do cristalino, com redução do poder da
acomodação e desta forma o ponto próximo fica cada vez mais distante; em geral
aos 45 anos o indivíduo já não consegue ler textos com facilidade.
Alterações binoculares
As alterações binoculares são geradas por insuficiências ou excessos de
convergência e divergência e quase sempre são acompanhadas de estrabismos
ou tropias - os desvios de alinhamento de um olho em relação ao outro,
42
implicando na falta de coordenação entre os músculos extraoculares e que impede
de fixar a mirada de ambos os olhos no mesmo ponto no espaço (CAMACHO,
2009).
Existem dois tipos de desvios, as forias ou desvios latentes e as tropias ou
desvios manifestos, estes últimos produzem a visão dupla ou supressão de um
olho.
As alterações no sistema óculo-motor - acomodativo ou fusional - afetam todas
as atividades que requeiram atenção, fixação ou seguimento. Os indivíduos com
estas alterações comumente referem visão dupla, cefaleia, diplopia, fadiga visual,
incapacidade para manter a eficácia visual na leitura ou outras atividades de perto,
pulam linhas e letras e a compreensão de leitura diminui (SCHEIMAN; ROUSE,
1994).
43
2.2. EXIGÊNCIAS VISUAIS E OCULARES NO
TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS
O trabalho com videoterminais expõe aos olhos a diferentes demandas
ambientais e físicas, que podem levar a deterioração da saúde visual e ocular do
operador. O quadro 1. Explica os tipos de fatores aos que estão expostos os
operadores de videoterminais.
Tipo de fator Origem Demanda visual ou
ocular
Físico Distancia de trabalho,
posição da tela.
Acomodação,
convergência.
Organizacional Pausas e tipo de
trabalho.
Manutenção da
acomodação,
lubrificação corneana.
Ambiental Correntes de ar, umidade
relativa, temperaturas
altas, iluminação, brilho.
Lubrificação corneana,
miose/midríase.
QUADRO 1 DEMANDAS VISUAIS E OCULARES ORIGINADAS PELO TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS
Fatores físicos da tarefa em visão próxima
Distância dos pontos de trabalho
A tela do computador localiza-se a uma distância próxima dos olhos, é
assim que para ver nítidas as imagens que provem dela, o olho ativa a
acomodação, aumentando sua potencia dióptrica e focando essas imagens na
retina, ativa a convergência, para conseguir fusão da imagem de perto, e ativa a
miose. Esses três mecanismos formam a triada proximal, e devem atuar juntos e
equilibrados para manter uma visão nítida, única e cômoda.
44
O mecanismo da acomodação é bastante primitivo e varia segundo as
espécies, nos humanos, se produz principalmente pelo desfoque na fóvea, esta
informação se envia pelo nervo óptico à área dezenove e depois ao Núcleo de
Edinger Westphal, dai a informação passa pelo III par ao corpo ciliar aonde se
executa a reposta (BORRÁS, 2000).
Ao ativar-se a acomodação, o corpo ciliar se contrai, desencadeando varias
mudanças dentro do globo ocular, a figura 1. nos permite ver claramente as
mudanças oculares relatadas a continuação:
Relaxação das zônulas: Permite a cápsula do cristalino se distender e
assim tomar uma forma esferoidal.
Contração Pupilar: Reduz a necessidade da acomodação, diminuindo o
tamanho do círculo de desfoque na retina (miose).
Deslocamento da borda pupilar da íris para frente: Aproximadamente
0,4mm, diminuindo o espaço da câmara anterior no centro e aumentando
na periferia.
Aumento da curvatura do cristalino: Esta mudança afeta principalmente a
cara anterior. O radio de curvatura da cara anterior diminui desde 11mm até
5mm aproximadamente.
Aumento do Índice de Refração: Pelo deslocamento das fibras cristalinas, o
índice de refração aumenta de 1.42 a 1.427, e recebe o nome de
“Mecanismo intracapsular da acomodação”.
Para manter a acomodação constante e por longo período, deve-se usar a
amplitude de visão confortável, que corresponde à metade da amplitude de
acomodação da pessoa, lembrando que a aacc diminui com a idade e a amplitude
de visão confortável também diminuirá, assim, a distância confortável de
visualização aumenta.
Associada à acomodação, a convergência também é ativada com a
proximidade do objeto, um movimento coordenado dos olhos, no qual os eixos
visuais se desviam simultaneamente de um ponto de visão próxima, evitando a
45
disparidade das imagens e a visão dupla. Os músculos que realizam a
convergência são os extraoculares, reto interno e reto externo.
O estado de repouso do olho é para visão de longe, com o músculo ciliar
relaxado e em posição primária de mirada; assim, acomodar e convergir exigem
esforços físicos e os músculos oculares podem sofrer fadiga ou espasmos quando
esses mecanismos se mantém ativados um tempo longo e sem pausas
(ROSENFIELD, 2011).
Posição da tela
Além da distância, a posição da tela influi no esforço da acomodação,
convergência e na lubrificação ocular; a posição natural de leitura é com o objeto
localizado de tal forma que os olhos estejam olhando para abaixo, o que facilita o
movimento de convergência e mantem a córnea parcialmente recoberta pela
pálpebra superior, diminuindo o ressecamento ocular (CHU et al., 2011).
Entretanto, a posição da tela do computador não sempre se adapta a essas
condições e quando tela está mais alta com relação aos olhos, os esforços
acomodativo e vergencial são maiores e a espaço da abertura palpebral se
amplia, expondo a superfície ocular e produzindo fadiga visual, desconforto
musculoesquelético e secura ocular (ROSENFIELD, 2011; BLEHM et al., 2005;
LAM et al., 1999; SHEEDY; HAYES; ENGLE, 2003).
Fatores organizacionais da tarefa em visão próxima
Pausas e tipo de trabalho
No trabalho com videoterminais, as pausas regulares devem ser
consideradas para diminuir os sintomas astenópicos (BALCI; AGHAZADEH,
2003); como qualquer músculo do corpo, os músculos extraoculares que
interferem na convergência e os músculos intraoculares que interferem na
acomodação, sofrem fadiga ou espasmo quando o esforço é maior que o
46
recomendado. Fazer pausas rápidas e frequentes permite aos músculos de
relaxar e diminuir a fadiga (SÁNCHEZ-ROMÁN et al., 1996).
Balci (2003) comparou a eficácia de três tipos de pausas no trabalho com
computadores e concluiu que a combinação de 30 minutos de trabalho/ 5 minutos
de descanso seguida da combinação 15 minutos de trabalho/micro pausas
diminuíam a manifestação de sintomas astenópicos, comparado com o trabalho
por mais de uma hora com pausas longas e concordando com Balci e Blehm
(2005), indica que longos períodos de trabalho em VDT sem pausas frequentes
prejudicam a saúde visual; trabalhar mais de quatro horas seguidas aumenta o
risco de apresentar CVS (BLEHM et al., 2005b).
O tipo de trabalho também pode aumentar ou diminuir os sintomas oculares
e visuais; o trabalho que requer maior concentração representa um maior esforço
físico com risco maior de apresentar astenopia; Balci (2003) comparando as
tarefas de entrada de dados com as tarefas mentais-matemáticas concluiu que
estas eram mais longas e lentas, cansavam mais e produziam desconfortos
musculoesqueléticos maiores que aquelas (BALCI; AGHAZADEH, 2003).
Fatores ambientais da tarefa em visão próxima
Correntes de ar, umidade relativa e altas temperaturas
Esses três fatores estão relacionados diretamente com a estabilidade
lacrimal, responsável pelo adequado funcionamento óptico e metabólico do olho
(MAYORGA, 2008); essa película deve estar presente sobre a superfície ocular
em quantidade e qualidade suficiente e distribuída uniformemente.
Uma estação de trabalho com fortes correntes de ar ou dirigidas
diretamente aos olhos, associadas à baixa umidade relativa e altas temperaturas
causa uma evaporação mais rápida do componente aquoso da lágrima,
desestabilizando-a e levando a sintomas astenópicos e de secura ocular (ALEX et
al., 2013; HIRAYAMA et al., 2012; INTERNATIONAL DRY EYE WORKSHOP,
2007).
47
Iluminação e brilho
A iluminação e brilho da tela como os da estação de trabalho podem dificultar o
trabalho com videoterminais, altos níveis de iluminação exterior e brilho da tela
podem causar reflexos prejudicando não só a visão de detalhes como também a
sensibilidade ao contraste (CARLSSON et al., 1984).
Todas as fontes de luz na estação de trabalho devem ser consideradas pois
embora, a intensidade e a composição da luz possam ser adequadas para uma
tarefa, o brilho extremo ou os reflexos produzidos na tela podem causar
desconforto visual, diminuindo o desempenho do trabalhador e produzindo
sintomas astenópicos (LAMPI, 1984; BÉLAND; ANDRÉN, 2007).
49
2.3. EFEITOS DO TRABALHO COM VIDEOTERMINAIS
SOBRE A SAÚDE
Efeitos da radiação do videoterminal na saúde
Os primeiros estudos sobre o uso de videoterminais (VDT) e a saúde
procuraram observar se a radiação emitida pelo VDT trazia impactos negativos à
saúde do usuário do computador e os pesquisadores do The Food and Drug
Administration (FDA), do Center for Radiological Health and Devices, Bell
laboratories e do National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH)
indicaram que os VDT “emitem pouca ou nenhum dano ionizante ou não ionizante
sob condições normais de operação” e as emissões produzidas por estes estão
entre os padrões nacionais e internacionais de segurança, a quantidade de
radiação ultravioleta produzida pelos VDT’s é uma pequena fração da produzida
pelas luzes fluorescentes e não envolve raios-x” (BLAIS, 1999),(WOLBARSHT;
SLINEY; HYGIENISTS, 1980),(MOSS, 1977); baseados nestas evidências, a
American Academy of Ophthalmology e Prevent Blindness America considerou
que o uso normal de VDT não resultava em catarata ou em outro dano orgânico
do olho (BLAIS, 1999).
Um dos mitos relacionados com as radiações emitidas pelos PC e a saúde
e que se espalhou na década dos 80’s do século passado foi que o VDT produzia
problemas reprodutivos e na gravidez, levando até aos abortos espontâneos, mas
após numerosos estudos, os pesquisadores concluíram que não existe nenhum
efeito negativo do VDT na reprodução ou na gravidez (BRYANT e LOVE, 1989;
DELPIZZO, 1994; KAVET; TELL, 1991; MARCUS et al., 2000).
Efeitos dos videoterminais na saúde mental
50
Com respeito à saúde mental e o uso do VDT, também surgiram estudos, Wang
(1998) estudou a saúde mental de 516 operadores de VDT e 396 não operadores,
os resultados mostraram que o grupo exposto apresentava desordens somáticas,
ansiedade e hostilidade visivelmente mais altos que o grupo controle, quanto
maior o número de horas por semana de trabalho com VDT, maior a frequência de
desordens acompanhadas de depressão e obsessão, especialmente se a
exposição era maior de 30h semanais de uso de VDT, durante mais de 10 anos; o
autor concluiu que a idade e o tempo de atividade semanal com VDT produzem
efeitos adversos à saúde mental dos usuários de computadores (WANG et al.,
1998).
Efeitos variados dos videoterminais na saúde
Outros problemas de saúde pesquisados em usuários de VDT foram as
doenças dermatológicas (eczema seborreico e dermatites) e os transtornos
músculo esqueléticos, estes considerados as moléstias ocupacionais mais
custosas nos Estados Unidos; em 1997 representaram 30% do total dos casos de
doenças relacionadas ao trabalho e as dores musculares do pescoço, ombros e
em tendões de mãos são os mais comuns (TAMEZ et al., 2003b); como causas
para esses desconfortos se destacam o teclado muito baixo em relação ao piso, a
falta de apoios adequados para os antebraços e punhos, a cabeça muito inclinada
para a frente, o pouco espaço lateral para as pernas e posicionamento
inadequado do teclado (MOTTA, 2009).
Efeito dos videoterminais na saúde visual
Os videoterminais produzem efeitos negativos sobre a saúde visual e ocular
e o conjunto desses efeitos é denominado Síndrome da Visão do Computador;
pesquisas sobre o tema têm sido publicados desde o início dos anos 80´s do
século passado, ressaltando-se especialmente que a CVS foi considerada a
51
doença ocupacional ‘número um’ do século vinte e que seus sintomas atingiram
mais de 50% dos usuários do computador (BLEHM et al., 2004; NAMRATA e
VANDANA, 2009; BLEHM et al., 2005; SÁ, 2010; WU et al., 2009; TAMEZ et al.,
2003; OLIVEIRA, 1997; TAPTAGAPORN e SAITO, 1993; HEDMAN, 1988;
CHEVALERAUD, 1984; MIRANDA; GARCÍA, 1989).
Os sintomas descritos como predominantes da Síndrome são o olho seco, o
cansaço visual e a cefaleia (HEDMAN, 1988; BLAIS, 1999; ROSSIGNOL, 1987;
WOLKOFF et al., 2005) e a diminuição significativa do tempo de ruptura do filme
lacrimal e/ou produção lacrimal após a jornada de trabalho no computador
(SCHAEFER, 2012; BLEHM et al., 2004; NAKAMURA et al., 2010; KAJ BO
VEIERSTED, 2009; NAKAISHI; YAMADA, 1999; AGARWAL et al. 2013). Também
foram enumerados os fatores de risco e algumas ações preventivas tais como uso
de telas com imagem de alta qualidade, flexibilidade para personalizar o posto de
trabalho e várias pausas curtas de descanso na jornada de trabalho (HEDMAN,
1988; SHEEDY et al., 2003).
O artigo “Trabalho em terminais de computadores. Exigências visuais: mito
ou realidade”, publicado na França por Chevaleraud em 1984 nos indica que há
mais de vinte anos as queixas dos usuários de computadores já estavam
presentes e o autor questionou por que ao assistir televisão não se apresentavam
sintomas astenópicos, concluindo que o esforço visual no trabalho era maior, pois
com computador o trabalhador tem que estar mais concentrado, ler, escrever e dar
atenção a mais detalhes que quando se assiste televisão por lazer; além disso
desconhecia-se estudos sobre o uso da televisão e de patologias oculares. O
autor considerou que existia um problema específico no trabalho com
computadores, citando a sintomatologia frequentemente relatada pelos
operadores de computador, como a ardência nos olhos, fadiga visual, espasmos
musculares e as cefaleias, também citados por vários autores (BALI et al., 2007;
ROSENFIELD, 2011; WIMALASUNDERA, 2009; HAYES et al., 2007; GANGAMMA
et al., 2010). Enumerou as condições individuais que contraindicavam (total ou
parcialmente) o trabalho em videoterminais, entre elas (1) A miopia corrigida ou
não; (2) As hipermetropias e o astigmatismo baixos não corrigidos; (3) As
52
anisometropias fortes; (4) A presbiopia; (5) A diplopia; (6). Os portadores de
glaucoma; (7) As afasias monoculares; (8) As discromatopsias tipo dicromatismo;
(9) A epilepsia; (10) As paralisias de convergência, entre outras. Concluiu que os
exames oftalmológicos, a educação para o uso de videoterminais e as avaliações
ergonômicas dos postos de trabalho eram de grande importância para prevenir
patologias oculares associadas ao seu uso, também confirmados por outros
autores mais recentemente (CHEVALERAUD, 1984; BREWER et al., 2006;
PICCOLI et al., 1996; MONTALT e TORREGROSA, 1999; GUR et al., 1994;
IZQUIERDO et al., 2007; HEMPHÄLÄ e EKLUND, 2012; FENETY e WALKER,
2002).
Em 1990, Yeow e Taylor acompanharam por dois anos uma amostra de 161
usuários e 65 não usuários de computador em um mesmo ambiente de trabalho,
comparando a frequência de sintomas astenópicos; não encontraram diferenças
significativas entre o grupo exposto e o grupo controle e assim concluíram que os
VDT não eram um fator de risco para astenopia visual. Foi a única investigação
em revisão que não apresentou associação entre as alterações visuais e o
trabalho com o computador (YEOW e TAYLOR, 1990).
Nessa década o professor Bruno Picolli, chefe do serviço de
Ergoftalmologia da Universidad de Milão na Itália realizou um estudo experimental
com 14 voluntárias comparando a convergência, a acomodação, o estado
refrativo, a quantidade de piscadas e os sintomas visuais e oculares, em duas
sessões; na primeira sessão as voluntárias usaram o computador para suas
atividades de escritório, e na segunda sessão elas realizaram atividade de
escritório sem o computador; os resultados mostraram um número de sintomas e
alterações visuais claramente superior na sessão 1 (71,4%) comparado com a
sessão 2 (35,7%), o estado refrativo na segunda tarefa foi mais positivo,
mostrando um ligeiro excesso de acomodação na primeira sessão, também
tendência à exoforia e uma diminuição na convergência fusional após o trabalho
com o computador (PICCOLI et al., 1996; MUTTI; ZADNIK, 1996).
Blehm em 2005, no trabalho intitulado “Síndrome da Visão do Computador:
uma revisão” apresentou os sinais e sintomas desta síndrome (BLEHM et al.,
53
2005), listados no quadro 2.
CATEGORIA DO SINTOMA SINTOMA
Astenopia Cansaço Visual/ Olhos cansados/ Dor nos
olhos
Superfície Ocular Secura Ocular/Olho irritado/Lacrimejamento
Visual Visão turva/ Enfoque lento/ Visão dupla/
Presbiopia
Extraoculares Dor no pescoço/Dor nas costas/Dor nos
ombros
QUADRO 2 SINTOMAS E CATEGORIAS DA SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR
Como vemos, os sinais e sintomas da Síndrome da Visão do Computador
foram relatados na maioria das pesquisas que estudaram o sistema visual dos
operadores de videoterminais.
Sete publicações encontradas ressaltaram a importância da luz e a
iluminação sobre a visão e o rendimento visual no ambiente de trabalho. Lampi
(1984) no artigo “Fontes de luz e iluminação no local de trabalho” observa que o
sucesso na iluminação industrial, no escritório e em outros ambientes de trabalho
depende de se considerar todos os fatores envolvidos, sendo essencial escolher
fontes de luz adequadas para cada tipo de tarefa, itens também considerados por
outros autores (LAMPI, 1984; ARONSSON et al., 2012; ANSHEL, 2007; BÉLAND
e ANDRÉN, 2007), e escolhê-las corretamente, e não somente a intensidade de
luz e sua composição satisfatórias para uma tarefa (CARLSSON et al., 1984). O
brilho e o reflexos podem causar transtornos à visão dificultando o bom
desempenho de tarefas com exigências visuais e para evitar os reflexos
incômodos da tela reduz-se a velocidade de leitura (ARONSSON et al., 2012).
Também podem levar a alterações posturais em um posto de trabalho
54
ergonomicamente adequada para a tarefa, que podem causar dores no pescoço e
nas costas. No projeto de iluminação do posto de trabalho devem-se levar em
conta vários fatores incluindo desde a idade dos operários até a cor da luz, os
reflexos causados por superfícies brilhantes (BREWER et al., 2006; LAMPI, 1984;
SHEEDY et al., 2005).
Carlsson (1984) considerou que o excesso de brilho no ambiente de
trabalho poderia prejudicar a visão de detalhes e a percepção de contraste,
atrapalhando as atividades executadas (CARLSSON et al., 1984).
O ICOH tem uma proposta de vigilância ergoftalmológica preventiva
periódica aos operadores de computadores, que incluem os aspectos citados a
seguir (INTERNATIONAL COMMISSION ON OCCUPATIONAL HEALTH;
SCIENTIFIC COMMITTEE ON WORK AND VISION, 2003).
VIGILÂNCIA ERGOFTALMOLÓGICA
Anamnese
Ergoftalmológica
Avaliação dos sintomas e associações com
o trabalho.
Exame clínico ocular Avaliação dos anexos do globo ocular.
Exame de refração Avaliação da refração para longe e para
distâncias intermediárias.
Exame ortóptico
Percepção simultânea.
Fusão para perto e longe;
Estereopsis para perto e longe.
Forias laterais e verticais.
Convergência e divergência.
QUADRO 3 PASSOS DA VIGILÂNCIA ERGOFTALMOLÓGICA
A revista La Medicina del Lavoro publicou o artigo de um grupo de
pesquisadores italianos onde também ressaltou a importância do monitoramento
ambiental e a vigilância Ergoftalmológica dos que trabalham com computadores
(“The relationship between work and vision in a preventive medicine context”,
1993).
55
2.4. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA
VISÃO DO COMPUTADOR (CVS)
O que é a CVS?
É difícil ter uma definição clara e objetiva do que é a CVS, embora na
década dos 80´s do século passado vários pesquisadores como Smith (1984),
Rossignol (1987) Collins (1990), Sheedy (1991) entre outros, já publicavam seus
estudos sobre os efeitos dos videoterminais sobre a saúde visual, só foi até 1993
quando Von Stroh usou o termo de “Computer Vision Syndrome” para se referir as
queixas visuais relacionadas com o uso do computador (VON STROH, 1993).
Anos depois Abelson (1999) usou novamente o termo CVS advertindo que
se a síndrome não fosse prevenida, seria a epidemia ocular do século XXI; nos
anos posteriores o termo CVS foi comumente usado não só pela comunidade
médica, como também pela mídia em inúmeras ocasiões (ABELSON; OUSLER,
1999).
Mas, qual é a definição da Síndrome da Visão do Computador?
Blehm (2005) define a síndrome como um “conjunto de queixas oculares
experimentadas pelos usuários de computador que tipicamente incluem fadiga
visual, queimação e irritação ocular, visão embaçada e olho seco” (BLEHM et al.,
2005a), já a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) a define como
“conjunto de problemas oculares e visuais experimentados durante ou
relacionados ao uso de computadores” (BALI; NAVIN; THAKUR, 2007).
Outra definição usada pelos pesquisadores é a da American Optometric
Association (AOA) que descreve a CVS como “um grupo de problemas nos olhos
e na visão relacionado com o uso prolongado do computador” (ANSHEL, 2007;
ROSENFIELD, 2011; KOKAB e KHAN, 2012), como se pode ver, não existe um
56
consenso médico sobre os sinais e sintomas que compõem a síndrome ou que
devem estar presentes para diagnosticar a CVS.
Classificação da CVS
A primeira classificação da Síndrome foi feita por Blehm (2005), dividido em
os quatro grupos de sintomas: astenópicos, visuais, oculares e extraoculares,
indicado no Quadro 4.
Classes de sintomas Síntoma específico
Astenópicos Dor nos olhos
Olhos cansados/Cansaço visual
Oculares Ressecamento ocular
Lacrimejamento
Olhos irritados
Visuais
Visão turva
Foco lento
Visão dupla
Presbiopia
Extraoculares Dor nas costas e/ou no pescoço. QUADRO 4 CLASSIFICAÇÃO DA SINDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR SEGUNDO BLEHM(2005)
Autores como Bergqvist et al. (1994), Montalt et al. (1999), Blais (1999),
Sheedy et al. (2003), Agarwal (2013) descreveram vários outros sintomas da
Síndrome da Visão do Computador tais como dor de cabeça, prurido ocular,
queimação ou ardor ocular, omissão de letras ou linhas do texto e fotofobia,
(BERGQVIST e KNAVE, 1994; MONTALT e TORREGROSA, 1999; BLAIS, 1999;
SHEEDY et al., 2003; AGARWAL et al., 2013).
57
2.5. SAÚDE VISUAL NO TRABALHO COM VDT: Higiene
visual no trabalho e sua associação com o
aparecimento da Síndrome da Visão do
Computador.
Há diferentes fatores que podem predispor e/ou piorar a aparição de sintomas
relacionados com a CVS, entre estes podem se destacar fatores individuais e
fatores do posto de trabalho, tais como:
Fatores Individuais Fatores ambientais e do trabalho
Presença de ametropias não corrigidas e presbiopia.
Umidade Relativa baixa, temperaturas altas.
Frequência de piscar Altitude elevada.
Uso de cosméticos. Ar condicionado e ventiladores.
Uso de Lentes de Contato. Posição da tela do computador.
Idade e menopausa. Iluminação da estação de trabalho.
Uso de medicamentos.
Algumas doenças sistêmicas. QUADRO 5 FATORES ASSOCIADOS AOS SINTOMAS DA SINDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR
Esses são os fatores de higiene visual a ser controlados no posto de trabalho e
são descritos neste capítulo.
Fatores individuais associados à Síndrome da Visão do
Computador
Presença de ametropias não corrigidas em usuários de VDT
Uma boa acuidade visual é importante ao trabalhar com videoterminais, as
ametropias não corrigidas podem provocar alterações das funções acomodativas
e binoculares e como na presbiopia devem ser corrigidas, dependendo das
necessidades visuais e pessoais do trabalhador; não basta somente uma boa
acuidade visual, é preciso que se sinta confortável para realizar todas as tarefas
58
do dia a dia; para que o profissional da Saúde Visual forneça uma boa correção, o
trabalhador precisa saber sobre a distância entre o olho e o VDT e entre o olho e o
teclado; situações incorretas aumentam as queixas visuais. Correções adequadas
para usuários de VDT melhoram a qualidade e eficiência no trabalho com VDT em
aproximadamente 82% (BLAIS, 1999).
Aproximadamente 39% dos trabalhadores apresentam problemas visuais
não corrigidos ou inadequadamente corrigidos, que favorecem o aparecimento de
sintomas em trabalhadores que usam VDT (BLAIS, 1999). Não há estudos que
mostrem especificamente o comportamento visual e ocular de míopes e
hipermetropes quando trabalham com o computador, mas se podem fazer várias
hipóteses:
Os míopes apresentam um sistema visual com poder dióptrico mais positivo
do que o necessário, isto faz com que os raios de luz paralelos, convirjam em
demasia e focalizem a imagem antes da retina, por isso necessitam de óculos que
diminuam o poder do olho, ou seja, raios divergentes que contrabalancem o poder
da convergência; em visão próxima, um ponto próximo ao qual os raios chegam
com divergência suficiente para contrabalançar o excesso de poder dióptrico dão
uma imagem nítida; assim o míope possui a capacidade de enxergar nitidamente
em visão próxima, sem ativar a acomodação ou ativando-a menos que em uma
pessoa emétrope.
Quando se trabalha com VDT a tela normalmente se encontra a 50-70cm
do olho e os raios de luz que saem dela tem poderes dióptricos entre -2.00 e -1.50
dioptrias, um míope de até duas dioptrias enxergaria a tela nítida sem ter que
ativar ou ativando muito pouco a acomodação, isso poderia se constituir em um
fator de proteção para apresentar queixas, pois o esforço muscular é menor
fazendo com que os excessos, espasmos, e fadigas acomodativas tenham menor
probabilidade de aparecer, o mesmo ocorrendo aos sintomas astenópicos
associados.
Os míopes com mais de duas dioptrias de defeito tem seu ponto focal mais
perto que a distância normal de trabalho com o computador (menor que 50cms);
procurando a distância adequada, aproximam-se até encontrar uma imagem
59
nítida. Quanto maior o grau de miopia, mais se aproximará da tela, forçando a
convergência, com maior probabilidade de desenvolver excessos ou insuficiências
de convergência que se acompanham dos sintomas visuais e astenópicos
associados a esses diagnósticos.
Já em hipermetropes, os esforços vergenciais e acomodativos são maiores,
pois o sistema visual desses trabalhadores, ao contrário dos míopes, tem poder
dióptrico menor e quando os raios de luz paralelos (imagem em visão de longe)
entram no olho focalizam atrás da retina e quanto mais próximo o estímulo, mais
divergentes serão os raios e mais embaçada será a imagem. Quando os
hipermetropes são jovens e ainda sem a presbiopia, ativam a acomodação, dando
ao olho o poder que lhes falta, conseguindo assim imagens nítidas de perto e de
longe. Diante da tela do computador terão que acomodar as 1.00-1.50 dps da
distância do olho até a tela (tomando em conta o Lag acc) mais a quantidade de
correção. Essa necessidade de acomodação desordena o sistema vergencial e
acomodativo e quanto maior a acomodação, maior será a convergência e a fadiga
ocular e maior será a probabilidade de transtornos acomodativos e alterações
vergenciais, especialmente as insuficiências ou os excessos de convergência. O
trabalho em computadores para hipermetropes não corrigidos leva a um esforço
visual maior que o dos míopes e os emétropes. Segundo Rojas (2005) a maioria
de problemas acomodativos está associada à hipermetropia (ROJAS, 2005).
Os Astigmatismos no trabalho com VDT foram estudados por Daum (1988)
e Wiggins (1991), examinando os efeitos de astigmatismos não corrigidos quando
os trabalhadores realizavam leitura no computador; ambos estudos concluíram
que a presença de pequenos astigmatismos (0.50-1;00dp) agravava
significativamente as queixas visuais do usuário de VDT (DAUM e GOOD, 1988;
WIGGINS e DAUM, 1991).
Astigmatismos residuais são frequentes entre os que usam lentes de
contato, muitas vezes o trabalhador utiliza lentes de contato esféricas,
permanecendo um astigmatismo não corrigido; em usuários de VDT é importante
a correção completa do astigmatismo, pelo uso de lente de contato tórica ou o uso
60
de óculos com o grau do astigmatismo residual para o trabalho com o computador
(ROSENFIELD, 2011).
Em dois estudos sobre os efeitos do astigmatismo induzido artificialmente
em usuários de computador, Sheddy (2003) produziu astigmatismos mistos com
óculos de grau: +2.00 -4.00 x 180 em trabalhadores naturalmente emétropes e o
grupo referiu sintomas marcados de astenopia no trabalho com VDT,
possivelmente pelo estresse dos mecanismos vergenciais e acomodativos do olho
devido ao alto grau astigmático (4.0dp) que ocasionou confusão e flutuação
acomodativa (SHEEDY et al., 2003). Rosenfield (2011) também induziu a
ametropia, colocando óculos com cilindros oblíquos de -1.0 ou -2.0dp em
trabalhadores em suas tarefas com o computador, os resultados mostraram que o
astigmatismo oblíquo induzido produzia um aumento significativo de queixas
astenópicas e visuais (cefaleia, dor nos olhos, fadiga visual, e visão embaçada)
durante as tarefas e quanto maior o astigmatismo, maior foi a sintomatologia
(ROSENFIELD, 2011).
A presbiopia é uma diminuição fisiológica da amplitude de acomodação,
que produz visão turva para o trabalho de perto, o início da presbiopia pode ser
marcado pela insuficiência acomodativa e alguns sintomas astenópicos que
diminuem com a adequada correção visual e devido a perda progressiva da
acomodação, os problemas associados também diminuem, assim os sintomas
astenópicos e/ou visuais dos usuários de computador presbíopes também se
reduzem com a idade.
Frequência de piscar em usuários de VDT
O filme lacrimal é indispensável para a defesa da superfície ocular da
exposição ao meio ambiente reduzindo os danos causados. A distribuição do filme
lacrimal sobre a superfície ocular é um processo de revestimento obtido pelo
estreitamento da fenda palpebral, proveniente do canto lateral em direção ao
canto médio durante cada piscada. A integridade da lágrima depende da
integração complexa entre a composição lacrimal e o piscar (KAUFMAN, 2003;
WOLKOFF et al., 2005).
61
Tsubota e Nakamori (1993) compararam a quantidade de piscadas de
pessoas, quando conversavam, liam um livro ou usavam o computador; a
diminuição na frequência do piscar foi menor durante a leitura e ainda menor
quando a pessoa usava o computador (em conversação: 22 piscadas por minuto,
leitura de livro: 10 piscadas por minuto, com VDT: 7 piscadas por minuto)
(TSUBOTA e NAKAMORI, 1993). Em investigações posteriores encontraram-se
resultados semelhantes, assim, conclui-se que a frequência de piscar se reduz
durante o uso do computador, influenciada pela concentração no trabalho e pela
atenção visual em tarefas de escritório. A exposição aumentada da superfície
ocular agrava seu desconforto e aumenta as queixas visuais apresentadas pelos
operadores de videoterminais ao final da jornada de trabalho (ZIEMSSEN et al.,
2005; HIMEBAUGH et al., 2009; GOWRISANKARAN et al., 2007).
O piscar ‘correto’ durante o trabalho com VDT mantém a integridade da
superfície ocular e impede a evaporação rápida do filme lacrimal, proporcionando
assim proteção contra a alteração do filme lacrimal e seus sintomas associados
(ZIEMSSEN et al., 2005).
Além da diminuição da frequência do piscar em operadores de VDT,
estudos também mostram que as piscadas destes usuários caracterizam-se por
ser incompletas, pois a pálpebra superior não cobre toda a superfície corneana no
momento do piscar, mantendo assim parte da córnea exposta ao meio ambiente,
alterando a estabilidade do filme lacrimal (HIMEBAUGH et al., 2009; HARRISON
et al., 2008; ABELSON e HOLLY, 1977; COLLINS et al., 1990). A diminuição na
frequência do piscar e as piscadas incompletas são fatores significativos no
desencadeamento e na gravidade da CVS (ROSENFIELD, 2011).
Uso de cosméticos em usuários de VDT
O uso de cosméticos pode resultar em desconforto visual e sua aplicação
incorreta pode bloquear as glândulas de meibomio, encarregadas de secretar o
componente oleoso da lágrima contribuindo para uma rápida evaporação lacrimal
e o desconforto visual (BLEHM et al., 2005b; NG et al., 2012).
62
Uso de lentes de contato
Os usuários de lentes de contato (LC) apresentam 12 vezes mais sintomas
de olho seco quando comparados aos emétropes e cinco vezes mais que em
usuários de óculos (INTERNATIONAL DRY EYE WORKSHOP, 2007), isto
significa que operadores de VDT que usam LC têm maior risco de desenvolver
sintomas da CVS (BLEHM et al., 2005b). A prescrição adequada de lentes de
contato que considere os fatores individuais é importante para manter a saúde
ocular e diminuir os sintomas da CVS.
Idade e menopausa
A produção lacrimal decresce com a idade tanto em homens como em
mulheres; após a menopausa as mulheres são as mais afetadas com a Síndrome
de Olho Seco (WIMALASUNDERA, 2009; DING e SULLIVAN, 2012).
Uso de medicamentos
Anti-histamínicos, alguns anti-hipertensivos e antidepressivos e diuréticos
são causas de desenvolvimento de ressecamento bucal, ressecamento da pele e
do olho seco (BLEHM et al., 2005; FRAUNFELDER et al., 2012).
Doenças sistêmicas
Doenças como a Síndrome de Sjögren e as autoimunes como a artrite
reumatóide, conjuntivites alérgicas e dermatites atópicas são frequentemente
acompanhadas da síndrome do olho seco; assim, é importante que esses
trabalhadores tenham especial cuidado ao se expor a outros fatores que possam
agravar o ressecamento ocular como no caso do uso prolongado dos
videoterminais (INTERNATIONAL DRY EYE WORKSHOP, 2007; CINGÜ et al.,
2013).
Fatores ambientais e ergonômicos da estação de trabalho
associados aos sintomas da Síndrome da Visão do Computador
63
Baixa umidade relativa e altas temperaturas
Condições ambientais como temperatura e umidade relativa influenciam as
mudanças do filme lacrimal (PASCHIDES et al., 1998). A evaporação das
moléculas de água de um filme lacrimal intacto começa a ocorrer quando a
Umidade Relativa (RH) é inferior a 100%, assim mesmo em temperaturas altas a
evaporação da lágrima é mais rápida, estudos como os de Paschides (1998) e
Alex (2013) que expuseram grupos de pessoas a ambientes controlados de
temperatura, velocidade do ar e umidade relativa concluíram que em ambientes
secos e quentes, as alterações do filme lacrimal são maiores que em ambientes
úmidos e frios (PASCHIDES et al., 1998; ALEX et al., 2013).
Altitude elevada
Exposição permanente a altitudes elevadas aumenta o risco de alterações
do filme lacrimal, estudos experimentais como os de Lu (2008), Gupta (2008) e
Guo (2010) mostraram que a síndrome do olho seco é mais frequente em altitudes
elevadas particularmente em populações nativas; a conscientização entre as
pessoas que residem em alta altitude e dos profissionais da saúde precisa ser
feita para a detecção precoce e tratamento dos sintomas de olho seco (LU et al.,
2008; GUPTA et al., 2008; GUO et al., 2010).
Ar condicionado e ventiladores
Ar condicionado ou ventiladores no trabalho também aumentam a
evaporação lacrimal, correntes de ar maiores que 1m/s provocam um resfriamento
exagerado da superfície corneana que em condições normais o olho resolveria
aumentando a frequência do piscar; entretanto, em condições de concentração ou
quando a pessoa realiza tarefas visuais como jogar videogames ou trabalhar com
videoterminais, esta compensação não ocorre e até mesmo pode haver a redução
da frequência do piscar, mantendo a superfície ocular mais tempo exposta,
provocando alterações no filme lacrimal e diminuindo o tempo normal de
rompimento lacrimal (“’BUT” pelas siglas em inglês de Break Up Time) (WOLKOFF
et al., 2005).
64
Alex (2013) denomina “ambiente dessecante” a combinação de três fatores
ambientais na estação de trabalho: ar condicionado ou ventiladores, umidade
relativa baixa e altas temperaturas, que produz alterações no filme lacrimal e leva
a problemas na saúde ocular (ALEX et al., 2013); a utilização de um dispositivo
umidificador alivia os sintomas de secura ocular e melhora da estabilidade lacrimal
em trabalhadores de escritório (HIRAYAMA et al., 2012).
Posição da tela do computador
Posição relacionada à linha visual: A posição adequada para a leitura e para o
trabalho de perto é com o olhar dirigido para baixo, assim a convergência ocorre
mais facilmente e a superfície ocular fica menos exposta, pois a abertura palpebral
é menor e a pálpebra superior cobre parte da córnea, compensando assim a
diminuição da frequência do piscar produzida pela concentração na leitura; no
trabalho com computadores a posição do olhar normalmente é horizontal o que
causa dificuldade para o sistema visual, pois é mais difícil realizar a convergência
com o estímulo apresentado horizontalmente e porque a superfície ocular não é
protegida devido a diminuição da frequência do piscar, não induzindo à diminuição
da abertura palpebral (BLEHM et al., 2005; SHEEDY et al.,2003;
GOWRISANKARAN; et al., 2007; WIMALASUNDERA, 2009); a posição da tela
pode produzir sintomas astenópicos, visuais e de olho seco em usuários de
videoterminais.
Posição relacionada à distância tela-olho: A distância normal da tela do
computador ao olho fica entre 50 a 70cms; quanto menor a distância, mais o olho
precisa acomodar e convergir; este esforço pode causar uma rápida fadiga visual
no trabalho com videoterminais.
Iluminação da estação de trabalho
Uma iluminação inadequada na estação de trabalho afeta a saúde visual dos
operadores de videoterminais e fatores não controlados como a iluminação e
brilho excessivo provenientes de fontes próximas como a luz que entra pelas
janelas, lâmpadas fluorescentes e abajures localizados sobre a cabeça do
65
operador podem criar desconforto e fadiga visual no trabalhador (BLAIS, 1999;
BLEHM et al., 2005; SHEEDY et al., 2003; WOLKOFF et al., 2005; BÉLAND e
ANDRÉN, 2007; American Optometric Association, [s.d.]; SHEEDY et al., 2005).
Excesso de brilho, alta refletância, excesso de contraste e imagens espelho
podem ser produzidas por fontes de luz não controladas provocando problemas
para o usuário de VDT como os reflexos não desejados e ofuscamento, fatores
que diminuem a visibilidade da tela, a visão de detalhes e a sensibilidade ao
contraste, consequentemente dificulta as tarefas no computador (SHEEDY et al.,
2005; CARLSSON et al., 1984). Wolska (1999) também nota que o excesso de
iluminação próximo ao posto de trabalho reduz significativamente a amplitude de
acomodação.
Anshel (2007) observa que condições de iluminação adequadas na estação de
trabalho com computadores melhoram a produtividade dos trabalhadores de
escritório (ANSHEL, 2007).
Outros fatores como o tamanho de letra usado no computador, o tamanho, o
brilho e os contraste da tela podem aumentar ou reduzir a fadiga visual (BLAIS,
1999).
67
3. OBJETIVOS
OBJETIVO
Levantar a frequência de casos da Síndrome da Visão do Computador em
professores universitários.
OBJETIVOS SECUNDÁRIOS
Identificar os fatores de risco associados à presença da síndrome da Visão
do Computador em professores Universitários.
Assinalar os sintomas visuais que mais incomodam o trabalho dos
professores Universitários.
Caracterizar a síndrome da CVS através da construção de categorias de
sinais e sintomas.
Construir instrumentos para diagnosticar a presença da Síndrome da Visão
do Computador.
69
4. METODOLOGIA
Estudo
Tipo de estudo
Transversal
População
1739 Professores da UNICAMP.
Grupo estudado
53 professores da UNICAMP.
Participação dos docentes
Como já se previa a não aceitação dos professores através de
‘convocatória’, impedindo assim a realização de amostragem aleatória, decidiu-se
por estimular a participação dos professores de forma voluntária. A primeira
divulgação do projeto foi realizada pela ADUNICAMP, através do seu Boletim N03
de 2013, distribuído a todas as unidades e institutos e também por meio do e-mail
institucional dos professores associados; também foi divulgado em sua página
oficial; uma segunda distribuição foi feita pela pesquisadora, colocando o boletim
em todos os escaninhos docentes. Num segundo tempo solicitou-se a colaboração
das diretorias dos institutos e faculdades da UNICAMP para divulgação do projeto
de pesquisa. Ainda num terceiro momento, a pesquisadora fez uma divulgação
individualizada aos docentes, principalmente de unidades com menor participação.
Coleta de dados
Foi feita de fevereiro a dezembro de 2013.
Local
Campus da Unicamp.
O estudo realizou-se em parceria com a Associação de Docentes da
Universidade Estadual de Campinas “ADUNICAMP”, que também cedeu uma sala
na sua sede para a coleta dos dados.
70
A coleta de dados foi feita pela pesquisadora optometrista. Foram aplicados
dois questionários e um teste visual a cada participante do estudo, o tempo médio
de duração foi de 30 minutos, em caso do participante ser diagnosticado com
qualquer problema visual ou ocular lhe foi indicado encaminhamento ao seu
oftalmologista e/ou ortoptista de confiança.
Processamento de dados
A construção do banco de dados foi feita utilizando-se o programa Microsoft
Excel for Mac 2011, exportado e analisado estatisticamente no software de
domínio público R Project for Mac (Versão 3.0.2- 25/09/2013).
Instrumentos
(APÊNDICE 3)
Na revisão de literatura não se encontrou nenhum instrumento testado e
validado para o diagnóstico e a classificação da Síndrome da Visão. Assim,
decidiu-se construir um instrumento para a detecção da Síndrome da Visão do
Computador, assim como os seus diagnósticos oculares e fatores associados à
CVS, a partir do referencial teórico publicado na literatura internacional.
O esquema a seguir indica as fases metodológicas do trabalho.
71
Objetivo do Instrumento
Levantar a frequência de casos da CVS, em professores universitários.
Identificar os fatores de risco associados à presença da Síndrome da Visão
do computador.
Encontrar os diagnósticos associados a CVS.
Definição e Sintomas da CVS
Nesta pesquisa definiu-se a CVS como o “conjunto de dois ou mais sinais e
sintomas visuais, oculares e musculoesqueléticos, presentes durante ou após o
uso de computadores, incluindo a sensação de corpo estranho, o lacrimejamento,
o ardor/prurido ocular, a dor ocular, a fotofobia, o ressecamento ocular, a cefaleia,
a sonolência, o cansaço visual, a diplopia, a omissão de letras ou linhas do texto
durante a sua leitura, a tela desfocada, a dor nas costas ou no pescoço”.
Construção do
instrumento
1.Objetivo do
intrumento
2. Definição
e sintomas da CVS
3. Instrumento
usado na pesquisa
4. Criação do
instrumento final
72
Para definição dos sintomas da CVS foram considerados os sintomas da
CVS citados por autores como Bergqvist et al. (1994), Montalt et al. (1999), Blais
(1999), Sheedy et al. (2003), Blehm (2005) e Agarwal (2013). No quadro a seguir
foram listados os sintomas da CVS mencionados por cada um dos autores.
Bergqvist (1994) Desconforto geral, ardor ocular,
sensação de areia no olho, irritação
ocular, prurido, fotofobia,
ressecamento ocular.
Montalt et al. (1999) Visão turva, diplopia, dificuldade de
fixação, olho vermelho, ardor ocular,
dor intraocular, fotofobia, piscadas
excessivas, conjuntivites, dor de
cabeça, dor no pescoço, dor nas
costas, problemas digestivos, fadiga,
sonolência.
Blais (1999) Ressecamento ocular,
lacrimejamento, irritação ocular,
sensação de areia no olho, fadiga
geral, diplopia, problemas na leitura.
Dor no pescoço e ombros
Sheddy (2003) Dor de cabeça, fadiga, diplopia, perda
de foco visual, lacrimejamento, ardor
ocular, ressecamento ocular.
Blehm (2005) Dor nos olhos, olhos cansados,
ressecamento ocular, lacrimejamento,
olhos irritados, visão turva, foco lento,
visão dupla, presbiopia, dor nas
costas ou no pescoço.
Agarwal (2013) Fadiga visual, dor de cabeça,
73
lacrimejamento, irritação ocular, ardor
ocular, prurido, diplopia.
QUADRO 6 SINTOMAS DA SINDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR CITADOS NOS ESTUDOS DOS PRINCIPAIS
AUTORES DO TEMA.
Com a revisão dos sintomas da CVS citados entre 1994 e 2013, os 15
sintomas principais da Síndrome da Visão do Computador foram selecionados,
alguns agrupados como um mesmo sintoma nesta pesquisa pela dificuldade de
diferenciação, como por exemplo “fadiga/cansaço geral/sonolência”. No quadro
seguinte é descrita a classificação dos 15 sintomas considerados para o
diagnóstico da Síndrome da Visão do Computador.
Classes de sintomas Síntoma específico
Astenópicos Dor nos olhos
Dor de cabeça
Cansaço visual
Fadiga/Cansaço Geral/Sonolência
Oculares Ressecamento ocular
Lacrimejamento
Irritação/Ardor Ocular
Sensação de areia no olho
Prurido
Visuais
Visão turva
Omissão de letras ou linhas no texto
Visão dupla
Foco lento
Fotofobia
Extraoculares Dor nas costas e/ou no pescoço. QUADRO 7 CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR UTILIZADA NA PRESENTE PESQUISA.
Para diagnosticar a presença ou ausência da Síndrome utilizou-se a pontuação
do “Questionário 1. Sintomas da CVS”.
74
Construção de questionários
Foram construídos dois questionários, aplicados pessoalmente pela
optometrista pesquisadora, sendo a primeira versão dos instrumentos de janeiro
de 2013, utilizada na presente pesquisa. APÊNDICE 3.
Primeiro questionário
1. No primeiro questionário procura-se reconhecer e avaliar os sintomas da
Síndrome da Visão do Computador e contém uma lista de 15 sintomas, onde o
participante deve assinalar a presença ou ausência dos sintomas durante ou após
o uso do computador e sua frequência com as gradações “nunca”, “às vezes”,
“quase sempre” e “sempre”. Além disso, os participantes respondem há quanto
tempo apresentam os sintomas e em que momentos do dia.
2. O segundo questionário é sobre os hábitos no uso do computador, incluindo o
tempo de trabalho, o tipo de iluminação, o tipo de trabalho, as pausas que o
usuário realiza no uso do PC, o tamanho da tela, o tamanho da letra, fatores
citados por alguns autores como fatores de risco para a CVS.
Nome_________________ RG______________
QUESTIONÁRIO I
Sintomas da Síndrome da Visão do Computador:
Quando você esta usando o computador apresenta alguns dos seguintes sintomas? Marque com uma X.
1. Em que momento do dia você apresenta esses
sintomas? Manhã ___ Tarde ___ Noite____
2. Faz quanto tempo você apresenta esses sintomas? ________
Nunca As vezes Quase
sempre
Sempre
Sensação de Corpo estranho
Secreção Ocular
Lacrimejamento
Ardor ocular
Dor ocular
Coceira
Fotofobia
Ressecamento Ocular
Cefaleia
Sonolência
Cansaço
Tontura
Diplopia
Omissão de letras ou linhas no
texto
Tela desfocada
75
Na pergunta 5 sobre o brilho da tela do computador, pediu-se para
identificar qual figura mais se aproximava do utilizado cotidianamente; da
esquerda para direita, o primeiro quadro mostra uma tela com brilho baixo
(exemplo 1), o segundo quadro um brilho moderado (exemplo 2) e o terceiro
quadro um alto brilho (exemplo 3).
QUESTIONÁRIO II
Hábitos no uso do computador:
9. Quantas horas você usa o computador ao dia?
Diurno Noturno Trabalho Lazer Tota
9. De quanto em quanto tempo você faz pausas do computador.
Marque com X.
Nunca
A cada 20 minutos
Cada 21 minutos a 59 minutos
Cada hora
Cada duas horas
Cada 3 a 4 horas
9. Como é a iluminação na sua estação de trabalho? Marque com X.
Natural Insuficiente
Adequada
Excessiva
Artificial Insuficiente
Adequada
Excessiva
Mixta
9. Se a iluminação na estação de trabalho é artificial, marque com
X, se esta apresenta alguma das seguintes características:
Uniformidade
Excesso de contraste
Reflexos incômodos
5. Qual destes exemplos se parece mais com o brilho da tela que você usa quando trabalha no Computador. Marque com X.
Exemplo 1.
Exemplo 2.
Exemplo 3.
6. Qual é o tamanho da tela do computador que você usa normalmente? Marque com X.
<10 polegadas
Entre 11 e 14 polegadas
Entre 15 e 19 polegadas
Entre 20 e 24 polegadas
Mais de 25 polegadas
7. Qual dos seguintes tamanhos de letra se assemelha mais ao que
você usa no computador?. Marque com X.
Abcde
abcde
abcde abcde
abcde
8. Usa AR condicionado ou ventilador, dirigido ao seu rosto ou acima
76
Além disso, o questionário contêm itens da história ocupacional como horas
de aula por semana, se as aulas são para graduação, pós-graduação extensão ou
outros, faculdade/instituto à que o professor pertence e os fatores que também
poderiam influenciar no aparecimento da CVS.
3. Na ficha do teste visual constam dados pessoais do entrevistado como idade,
sexo e os testes básicos do exame optométrico de rotina; também foram incluídos
testes funcionais para a avaliação da binocularidade e a acomodação visual,
funções com um papel importante na visão próxima, que podem estar alteradas
nos usuários frequentes de computadores.
Anamnese: Informações sobre os antecedentes gerais e oculares, medicamentos
de uso sistêmico e ocular, uso órtese de correção visual e problemas visuais
atuais.
Acuidade Visual: teste binocular e monocular, de longe e de perto, com o
optotipo de Snellen, números para visão de longe e a cartilha de Rosenbaum para
visão de perto.
77
Oftalmoscopia: técnica de oftalmoscopia direta para observar possíveis
anormalidades em fundo de olho.
Exame Externo: Uso do transiluminador Welch Allyn para avaliar as estruturas
externas do Globo Ocular.
Refração - Com a técnica de retinoscopia estática se determina o estado refrativo
do olho, identificando a ametropia visual.
Shirmer Tipo II: Teste para medir a Secreção Basal da Glândula Lacrimal, com
aplicação de anestésico tópico (Benoxinato Sódico ao 0,4%) para eliminar a
secreção reflexa; espera-se dois minutos para ação do anestésico e se coloca
uma tira de Shirmer no fundo de saco conjuntival inferior, solicitando manter o
olhar para frente durante o procedimento; pode-se piscar normalmente e após
cinco minutos retira-se a tira com cuidado.
A aplicação do anestésico pode produzir leve ardor; antes do exame explica-se o
procedimento ao sujeito e se pede a sua autorização para realizá-lo.
Medicamento usado: OQ-seina, Benoxinato HCl ao 0.4%. Laboratório:
Oftalmoquímica.
Tiras de Shirmer: Papel filtro Whatman No. 41 estéril. Marca MADHU.
Test de Hirschberg: Observam-se os reflexos corneais produzidos com uma luz
que se coloca em frente dos olhos, serve para detectar estrabismos.
PPC: Ponto Próximo de Convergência. Ponto mais próximo aos olhos no qual o
sujeito consegue fixar com os dois olhos, um dos testes para avaliar a
convergência ocular realizado com um objeto real ou com uma luz, aproximando-
se pouco a pouco diante dos olhos, até que o sujeito refira diplopia ou se observe
a perda da binocularidade.
78
MEO: Movimentos Extra Oculares: Avaliação da função de cada um dos seis
Músculos Extraoculares. O paciente segue uma luz que se moverá da posição
primária do olhar até as outras oito posições do olhar.
Amplitude de Acomodação: Utiliza-se o método de Sheard, o sujeito deve estar
com sua melhor correção óptica, colocando um texto a 50 cm, solicitando-se a
leitura de uma linha sob sua melhor acuidade visual; troca-se progressivamente de
lentes ‘negativas’ até que não se distingue mais as letras, ao valor final obtido se
lhe levaram em consideração os valores normais de Hofsteter. Em presbíopes
(pacientes com insuficiência de acomodação) não se realizou o teste.
Cover Test: Visão de longe e Visão Próxima. Cover Test Cover-Uncover e
Cover Test Alternante. O teste permite detectar a presença de forias e tropias,
com um estímulo de fixação (de longe: 6m; de perto: 40cm); uso de oclusor.
Reservas Fusionais: Para medir a habilidade do sujeito de manter a visão
binocular única. O exame se realiza antepondo prismas Base Temporal ou Base
Nasal (dependendo se medem reservas positivas ou negativas) até que se
produza a supressão de uma imagem ou até que o sujeito veja duplo; as reservas
foram medidas de longe e de perto. Para a análise dos resultados foram
considerados os valores normais de Morgan.
Como os anteriores, quatro tipos de diagnósticos são feitos:
Diagnóstico Ocular, Diagnóstico Visual Refrativo, Diagnóstico Acomodativo,
Diagnóstico Vergencial.
Tipo de Diagnóstico Testes avaliados Diagnósticos finais para o análise de dados:
Diagnóstico ocular Oftalmoscopia, exame externo, Shirmer tipo II.
Patologia de segmento anterior.
Patologia de segmento posterior.
79
Insuficiência na produção lacrimal.
Diagnóstico Visual Refrativo
Acuidade Visual e Retinoscopia.
Emetropia.
Miopia.
Hipermetropia.
Astigmatismo.
Diagnóstico Acomodativo
Amplitude de Acomodação.
Dentro dos parâmetros da normalidade.
Insuficiência acomodativa.
Excesso acomodativo.
Espasmo Acomodativo.
Inércia Acomodativa.
Diagnóstico Vergencial
Hirschberg, PPC, MEO, Cover Test, Reservas fusionais.
Dentro dos parâmetros da normalidade.
Tropia/Foria EXO
Insuficiência de convergência.
Excesso de divergência.
Tropia/Foria ENDO
Excesso de convergência.
Insuficiência de divergência.
Tropia Vertical
Outro QUADRO 8 D IAGNÓSTICOS VISUAIS ENTREGADOS PELO INSTRUMENTO III "TESTE VISUAL"
A “construção” final da síndrome foi feita com quatro categorias e quinze
sintomas.
Questionário final
No sentido de dar coerência aos dados e extrair o máximo, os dados da
presente pesquisa foram analisados e retrabalhados, com reagrupamentos que
permitiram propor um novo questionário chamado na presente pesquisa
“questionário final”, que pode ser considerado um produto desta pesquisa, que
poderia ser testado em outras pesquisas e que originou os resultados do trabalho.
80
O questionário final encontra-se no APÊNDICE 7.
Emissão do Parecer de Aprovação do CEP na Plataforma Brasil
CAAE: 08994012.2.0000.5404 DE 14 de janeiro de 2013.
81
5. DIFICULDADES
Definição e instrumentos
A Síndrome da Visão do Computador é uma síndrome pouco estudada, por
isto a definição encontrada na literatura cientifica tende a ser imprecisa, assim
como os instrumentos para diagnosticá-la; assim houve necessidade de se definir
a CVS e a construção de novos instrumentos (não validados).
Tamanho da amostra
Uma das maiores dificuldades da presente pesquisa foi o tamanho da
amostra, num primeiro momento pensou-se fazer uma amostragem aleatória,
estratificando-a por faculdades, esperando obter uma amostra de 200 pessoas.
No projeto piloto foram feitos convites pessoais aos professores associados
da ADUNICAMP, de distintas faculdades para participar da pesquisa. Após dois
meses, com disponibilidade de três dias por semana, só obtivemos a participação
de 18 professores. Assim, decidiu-se pela não amostragem aleatória e foram
convidados a participar do estudo professores de todas as faculdades da
UNICAMP.
Realizaram-se duas ‘chamadas’ gerais pela ADUNICAMP por e-mails e por
boletim impresso distribuídos a todas as unidades, colocados nos escaninhos
individuais de todos os docentes, os boletins informativos sobre a CVS e a
pesquisa (APENDICE 5); o boletim também foi afixado nos murais de algumas
faculdades e reenviado pelas diretorias de cada faculdade aos seus professores.
Assim, no decorrer da pesquisa chegou-se ao número de 52 docentes.
Finalmente uma última tentativa foi feita, com mensagem individualizada
enviada por e-mail a professores de cinco faculdades, com um cartaz com
informações sobre a síndrome e o convite a participar da pesquisa (APENDICE 6);
um docente respondeu e a amostra final totalizou 53 docentes em 9 meses de
atividades.
82
Análise estatística
Com a amostra final de 53 professores, tornou-se difícil a realização de
análises estatísticas das variáveis e a busca de associações com a CVS. As
categorias de algumas variáveis foram reorganizadas a fim de permitir uma
análise, cujos resultados podem ser entendidos como de natureza mais tendencial
do que de significância.
83
6. RESULTADOS:
ANALISE DESCRITIVA
CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
As características demográficas dos participantes do estudo são
apresentadas na Tabela 1. Foram 27 (mulheres 50,9%) e 26 homens (49,1%). A
idade variou de 29 a 74 anos com mediana de 58 (percentis 25% de 51,5 anos e
75% de 63 anos), com média de 56,81 ± 10,0 anos.
Entre os participantes, 71,7 (138) tinham contrato com dedicação integral e
exclusiva na UNICAMP (RDIDP), 20,7% pertenciam à Faculdade de Ciências
Médicas, seguidos por professores do Instituto de Economia e do Instituto de
Estudos da Linguagem com 9,43%; outros participantes pertenciam aos vários
institutos e unidades.
Em relação às atividades docentes, 39 (73,6%) ministram tanto na
graduação como na Pós-graduação, num total semanal entre 5 e 18 horas, sendo
o mais frequente de 13 a 18 horas.
CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS
Variáveis Médicos n=208 (%)
Sexo Feminino (%) Masculino (%)
27 (50,9) 26 (40,1)
Idade Mediana (percentis 25,75) Media ± DP Mínimo Máximo
58 (51,5 , 63) 56,81 ± 10,0
29 74
Nível académico das Aulas Graduação e Pós-Graduação (%) Graduação (%) Pós-Graduação (%)
39 (73,6) 8 (15,1) 6 (11,3)
Regime de docência Tipo de dedicação na UNICAMP:
Aposentado (%) RDIDP (%)
11 (20,8) 38 (71,7)
84
Outro (%) 4 (7,5) Horas ministradas de aula por semana
13 a 18 horas(%) 6 a 12 horas (%) < 5 horas (%)
39 (73,5) 6 (11,3) 8 (15,9)
Horas de trabalho por dia no computador
Mediana (percentis 25,75) Media ± DP Mínimo Máximo
6 (4 , 8.5) 6,6 ± 3,12
1 13
TABELA 1 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES.
A SAÚDE VISUAL DOS DOCENTES
Entre os participantes 79% (42) eram ametropes; entre as ametropias mais
prevalentes encontramos a hipermetropia com 45,2 %, e a miopia com 35,7%. Dos
participantes 90,5% (48) eram presbíopes. Dado que 48 pessoas eram
presbiopes, não foram realizadas as provas acomodativas, pois a presbiopia em si
já se constitui em uma insuficiência de acomodação.
A produção lacrimal (teste de Shirmer) encontrou-se diminuído (≤ 10 mm)
em 12 (22,5%) sujeitos.
Apresentaram algum problema convergencial, 27 professores (51%), 21
destes com Insuficiência de Convergência (39%).
Em 20,75% dos participantes encontrou-se algum tipo de tropia para visão
de perto (desvios manifestos dos olhos), sendo mais prevalentes as exotropias
(90,9%), mostrando ausência de visão binocular quando trabalham com o
computador.
Três participantes apresentaram alguma patologia ocular, como exoftalmia,
retinopatia diabética e retinopatia miópica.
CARACTERÍSTICAS DA SAÚDE VISUAL DOS PROFESSORES
Variáveis Professores n=53 (%)
Presença de ametropia Sim Não
42 (79%) 11 (21%)
Tipo de ametropia
85
Nenhum Hipermetropia Miopia Astigmatismo
11 (20,7%) 19 (35,8%) 15 (28,3%) 8 (15,1%)
Presença de presbiopia Sim Não
48 (90,5%) 5 (9,5%)
Presença de patologia ocular Sim Não
3 (5,7%)
50 (94,3%) Test de Shirmer II
Normal Diminuído
36 (67,9%) 12 (32,1%)
Vergências Normais Anormais
26 (49,0%) 27 (51,0%)
Tipos de problemas vergenciais Nenhum Problemas de Convergência Problemas na Divergência Outros problemas vergenciais
26 (49,0%) 21 (39,6%) 3 (5,7%) 3 (5,7%)
Tropia em visão de perto Sim Não
11 (20,7%) 34 (79,3%)
TABELA 2 RESULTADOS DOS TESTES OCULARES E VISUAL
HÁBITOS DOS PROFESSORES NO USO DE COMPUTADORES
A quantidade de horas de uso do computador variou de 1 a 12 horas, com
mediana de 6 horas (percentis 25% de 4 horas e 75% de 8,5 horas), com média
de 6,60 ± 3,13 horas.
As pausas realizadas durante o uso do computador variaram entre nenhum
e até a cada quatro horas, sendo mais frequente a realizada a cada 3 a 4 horas
(35,84%).
Pausas dos professores quando trabalham com computadores
86
FIGURA 3 PAUSAS REGULARES DOS PROFESSORES QUANDO TRABALHAM COM O COMPUTADOR
Tipo de iluminação
Segundo o referido pelos participantes, o tipo de iluminação na estação de
trabalho que predominou foi a mista (natural e artificial) em 50,9%, seguida da luz
artificial em 39,6% e finalmente só a luz natural em 9,4%. 81% dos professores
percebiam a iluminação no seu posto de trabalho com computador adequada,
considerando-a uniforme (91%), sem reflexos de luz (96%) e com brilho adequado
(86%).
Ar condicionado ou ventilador
45 professores não contavam com aparelhos de ar condicionado,
ventiladores dirigidos ao seu rosto ou acima da cabeça na estação de trabalho.
Tipo de atividade
Leitura, redação e correção de texto foram as atividades com o computador
mais realizadas por todos. A maioria dos participantes do estudo referem ter uma
estação de trabalho saudável para a visão, com condições ergonômicas e de
iluminação adequadas, tela do PC mediana ou grande, cadeiras ergonômicas,
iluminação sem presença de reflexos incômodos ou excesso de brilho e fonte de
letra com tamanho adequado.
5 12 19 16 0
5
10
15
20
0 a 59 minutos 1 hora a 2 horas 3 a 4 horas NuncaNú
me
ro d
e p
rofe
sso
res
Pausas
PAUSAS REGULARES DOS PROFESSORES NO TRABALHO COM COMPUTADORES
87
SÍNDROME DA VISÃO DO COMPUTADOR E DIAGNÓSTICOS
ASSOCIADOS
Para a análise de dados criou-se uma pontuação para cada sintoma
dependendo a sua frequência: (0 pt) para “nunca”; (1 pt) para “as vezes”; (2 pt)
para “quase sempre” e (3 pt) para “sempre”, com a soma de todos os pontos ao
final do questionário.
Pontuação final de 0 a 3 - sem CVS.
Pontuação final de 4 a 8 - CVS Leve.
Pontuação final de 9 a 14 - CVS Moderada.
Pontuação final de 15 a 30 - CVS Grave.
Pontuação final de 31 a 42 - CVS Muito Grave.
Presença da CVS na amostra:
30 dos 53 professores da amostra sofrem a CVS (57%).
FIGURA 4 FREQUENCIA DA CVS
Dos 53 professores examinados e incluídos no estudo 57% (30)
apresentaram o CVS.
30
23
Com CVS Sem CVS
0
5
10
15
20
25
30
35
FREQUÊNCIA DE CVS
88
A pontuação da escala criada para diagnosticar o CVS variou entre 1 e 17
pontos, com média (DP) de 4,85 (4,22), e mediana de 4,0 (percentis 25% de 1 e
75% de 8 pontos). A média mínima para o diagnóstico é de 4 pontos, incluindo os
sintomas visuais, oculares, astenópicos, de sensibilidade à luz e
musculoesqueléticos.
Entre os que apresentaram a síndrome e de acordo com a quantidade de
sintomas, 63,3% (19) foram considerados com CVS Leve (4 a 8 pontos), 33,3%
(10) com CVS Moderada (9 a 13 pontos) e um docente com CVS grave (14 ou
mais pontos).
Dos participantes 42 (79%) apresentaram pelo menos um sintoma
associado o uso do computador (Figura 2). Entre as mais prevalentes
encontramos: fadiga (56,6%), ressecamento ocular (37,7%), irritação ocular
(32,1%), tela desfocada/visão turva (26,4%) e dor nas costas ou pescoço (26,4%).
FIGURA 5 SINTOMAS REFERIDOS PELOS PROFESSORES
Professores que apresentaram um ou mais sintomas de cada categoria da
CVS:
6 11 10 30 20 9 17 7 12 14 8 9 12 14 05
101520253035
Nú
mero
de p
rofe
sso
r
Sintomas da CVS
SINTOMAS REFERIDOS PELOS PROFESSORES
89
FIGURA 6 TIPOS DOS SINTOMAS DA CVS
34 21 28 14 0
5
10
15
20
25
30
35
40
Sintomas astenópicos Sintomas visuais Sintomas oculares Sintomasmusculoesqueléticos
Nú
me
ro d
e p
rofe
sso
res
Categorias da CVS
SINTOMAS DA CVS REFERIDOS PELOS PROFESSORES POR CATEGORIAS
91
7. RESULTADOS
ANALISE ESTATISTICA
A análise estatística realizada no software livre R Project for Mac (Versão
3.0.2- 25/09/2013).
Realizou-se uma regressão logística univariada, as variáveis significantes
foram para uma regressão logística multivariada, com um nível de significância de
95%.
Analisaram-se 13 variáveis independentes, a variável dependente foi ter ou
não ter CVS, como se pode observar no Quadro 5. As variáveis independentes
foram listadas, para cada categoria e testada a sua significância na análise uni
variada.
Variável independente Respostas
Sexo Feminino
Masculino
Idade em anos Variável continua
Horas diárias de uso do PC Variável continua
Frequência das pausas no trabalho
com computador
A cada duas horas ou menos.
A cada 3 horas ou mais.
Brilho da tela do PC Baixo-Médio
Alto
Níveis das aulas dadas Graduação
Pós-graduação
Graduação e Pós-graduação
Posição ergonômica na estação de
trabalho com computadores
Boa
Ruim
Presença de ar condicionado na
estação de trabalho com
computadores
Sim
Não
Tamanho da tela usada na estação Pequena: Menor a 14 polegadas
92
de trabalho Mediana: Entre 15 e 19 polegadas
Grande: Igual ou maior a 20
polegadas
Regime de trabalho Aposentado
Não Aposentado: RDIDP; RTC; RTP
Outros
Resultado Test Shirmer Variável continua
Diagnóstico Vergencial Normal
Anormal (Problemas na
convergência e divergência)
Diagnóstico Refrativo Amétrope
Emetrope
Forias Orto
Foria
Tropia
QUADRO 9 VARIÁVEIS INDEPENDENTES ANALISADAS NA REGRESSÃO LOGÍSTICA UNIVARIADA
Após a análise de cada variável independente, encontrou-se significância
estatística em relação a apresentar ou não CVS em três delas, “Idade em anos”,
“Horas diárias de uso de PC” e “Diagnóstico Vergencial”.
O Quadro 6. mostra os resultados (Odds Ratio, Intervalos de Confiança, P-
value) da análise univariadas, das variáveis que foram significantes, assim como
os resultados de outras variáveis.
Análise Univariada
Variáveis Com CVS
OR IC95% p-value
Gênero Feminino (27) Masculino (26)
1,0 0.58
0,19/1,75
0,343
Idade em anos 0,91 0,83/0,97 0,015 Frequência das pausas no trabalho com computador 0 a 2 horas (18) 3 ou mais horas (35)
2.11
0.67/6,90
0,204
Brilho da tela do PC Alto (8) Baixo-Médio (44)
1,0 0,79
0.15/3.63
0,765
93
Horas diárias de uso de PC 1.26
1.05/ 1.57 0,021
Dedicação como docente da UNICAMP Aposentado (11) RDIDP (38)
1,0 1,65
0.42/6.66
0,727
Forias Orto (7) Foria (37) Tropia (11)
1,0 1.77 2.33
0.34/10.19 0.34/17.95
0,492 0,391
Diagnóstico Refrativo Ametropia (43) Emetropia (10)
1,0 2.02
0.49/10.39
0,349
Diagnóstico Vergencial Normal (26) Anormal (Excessos e insuficiências de convergência e divergência)(27)
1.0 3.24
1.06/ 10.49
0,042
TABELA 3 RESULTADOS DA ANALISE UNIVARIADA (ODSS RATIO, INTERVALOS DE CONFIANÇA, P-VALUE)
Variáveis significativas:
CVS-Idade em anos: Odds Ratio: 0,91. IC: 0,83/0,97, p-value: 0,015
CVS-Horas diárias de uso de PC: Odds ratio: 1.26, IC: 1.05/ 1.57, p-value:
0,021..
CVS - Diagnóstico vergencial: Odds Ratio: 3.24 IC: 1.06/ 10.49,P- value:
0.042
Ao se fazer regressões lineares entre variáveis encontraram-se variáveis
relacionadas significativamente entre si:
Horas diárias de uso do PC – Idade: Odds Ratio: 0.86, IC: 0,80/0,93, p-
value: 0.00047.
94
Tempo entre as pausas – Idade: OR: 0,92 IC: 0,84/0,98, P-value: 0,033.
De acordo com os resultados, pode-se afirmar que por cada ano de
aumento da idade a chance de apresentar o CVS diminui em 9% (OR: 0,91;
IC 95% 0,83-0,97). No caso das Horas diárias de uso de PC, o risco de
apresentar CVS aumenta 26% a cada hora adicional no computador (OR:
2,928; IC 95% 1,05-1,57). Os professores que apresentam alterações de
vergencia têm três vezes mais chance (OR: 3,24; IC 95% 1,06-10,49) de
apresentar a Síndrome de Visão do Computador.
A idade foi uma variável que proporcionou ‘proteção’ para a CVS;
estudando este fenômeno observamos que quanto maior a idade do professor,
menor o número de horas diárias ele permanece em frente ao computador,
encontrando-se uma relação linear significativa (p<0,001) entre estas duas
variáveis (Figura 3); também o professor com mais idade faz pausas mais
frequentemente no seu trabalho com o computador quando comparado com os
mais jovens.
FIGURA 7 RELAÇÃO LINEAR ENTRE A IDADE E AS HORAS DE USO DIARIO DE PC
95
8. DISCUSSÃO
Foram encontradas três variáveis associadas significativamente ao
aparecimento da CVS nos professores universitários, a idade que minimiza as
chances de ter CVS (OR: 0,91 IC: 0,83/0,97 P-value: 0,015), as horas de uso
diário do computador que aumentam as chances de apresentar CVS (OR: 1,26 IC:
1,05/1,57 P-value: 0,021) e os problemas vergenciais como insuficiência ou
excesso de convergência ou divergência, associados positivamente com o
aparecimento da síndrome (OR: 3,24 IC: 1,06/10,49 P-value: 0,042).
Entre os resultados, encontrou-se que os hábitos no uso do computador, como
frequência das pausas e o número de horas de uso que a pessoa trabalha no PC
aumentam a quantidade e a frequência das queixas visuais, concordando com
Rosenfield (2011), indicando que acomodar e convergir são esforços físicos que
ao se manter ativados por longos períodos sem pausas podem produzir sintomas
de fadiga geral ou visual, e levar a espasmos dos músculos oculares. Sanchez
(1996), Hedman (1988) e Sheedy et al., (2003) também indicam que fazer pausas
rápidas e frequentes permite aos músculos relaxar e diminuir os sintomas de
fadiga.
Um dos achados interessantes da pesquisa foi o fato da idade se constitui em
fator de proteção contra a CVS. Na busca de suas causas, encontrou-se que os
professores mais jovens tem hábitos mais nocivos para a saúde visual no uso do
computador; como por exemplo, menor frequência de pausas (OR: 0,92 IC:
0,84/0,98 P-value: 0,033); segundo Hedman (1988) e Sheedy (2003) o hábito de
fazer pausas rápidas, mas frequentes na jornada de trabalho com computadores,
ajudaria a prevenir os sintomas da síndrome.
Investigações de Blehm (2005) apontam que trabalhar mais de quatro horas
seguidas aumenta o risco de desenvolver a CVS e ajustando-se os resultados da
presente pesquisa, encontrou-se que o maior número de horas diárias trabalhando
com o computador estavam significativamente associadas ao aparecimento da
CVS, com riscos aumentados com média de 5,16 horas diárias; novamente os
96
professores mais jovens são os que passam mais tempo na frente do computador,
com uma diferença estatisticamente significativa do que os professores mais
velhos (OR:0,86 IC: 0,80/0,93 P-value: 0,0004).
Os professores em cujos testes apresentaram problemas de natureza
vergencial, relatam maior quantidade de sintomas visuais no trabalho com o
computador, do que os que não apresentavam (OR:2,99 P-value:0,009 IC: 1.31-
6.79), especialmente os que apresentaram insuficiência de convergência, que em
alguns casos era tão intenso que gerava uma tropia em visão de perto. Não se
pode afirmar que a insuficiência de convergência seja causa da CVS, nem que o
trabalho com o computador provoque os problemas vergenciais, no entanto é
interessante apontar o estudo “Viewing distance variation and related
ophthalmological changes in office activities with and without VDUs” onde os
autores analisaram a convergência e os sintomas visuais e oculares antes e
depois do uso de computadores, observando que 71% dos pacientes
apresentaram algum sintoma visual, com tendência à exoforia e uma diminuição
na convergência fusional após a jornada de trabalho (PICCOLI et al., 1996). Estas
mudanças da convergência provocadas pelo uso de computadores também foram
relatadas no estudo "Is computer use a risk factor for myopia?" de Mutti e Zadnik
(1996).
A definição mais utilizada na literatura para a CVS é a da American
Optometrical Association (AOA) como o “conjunto de um ou mais sintomas
associados com o uso do computador” (ANSHEL, 2007; ROSENFIELD, 2011;
KOKAB e KHAN, 2012), que difere da definição geral de síndrome (quadro clínico
ou conjunto significativo de sintomas e sinais que concorrem em tempo e forma) e
que talvez leve a superestimação da prevalência da CVS no mundo, já que se
diagnostica CVS com a presença de um só sintoma quando se trabalha com o
computador e assim, a prevalência da doença poderá muito alta, sem indicar,
entretanto, a realidade do problema. Não existe um consenso médico sobre os
sinais e sintomas que compõem a síndrome ou que devem estar presentes para
diagnosticar a CVS.
97
Os sintomas da CVS mais prevalentes na amostra foram fadiga, ressecamento
ocular e irritação ocular concordando assim com os sintomas predominantes
descritos na literatura, olho seco, o cansaço visual e a cefaleia (HEDMAN, 1988;
BLAIS, 1999; ROSSIGNOL, 1987; WOLKOFF et al., 2005), embora sejam
denominados de forma diferente. Esses sintomas afetam a qualidade de vida do
trabalhador, e diminuem a concentração e a produtividade no trabalho com
computadores (BLAIS, 1999).
Os professores universitários tem uma tarefa em comum quando trabalham
com o computador, especialmente redação e correção de texto, uma tarefa que
requer esforço mental, concentração e paciência e segundo Balci (2003), este tipo
de tarefas cansa mais e chega a produzir desconforto musculoesquelético, mais
do que as tarefas de entradas de dados ou aquelas que requerem pouco esforço
mental; nos professores da amostra, os sintomas astenópicos (fadiga e dor de
cabeça) e musculoesqueléticos foram os que apresentaram “sempre” e “quase
sempre” quando trabalhavam com o computador.
A produção lacrimal estava diminuída em 12 dos 48 professores nos que se
aplicou o teste de Shirmer e apresentaram sintomas e sinais de Olho Seco quando
trabalhavam no PC, como relatado por alguns pesquisadores que associam o
ressecamento ocular ao uso de computadores (SCHAEFER, 2012; BLEHM et al.,
2004; NAKAMURA et al., 2010; KAJ BO VEIERSTED, 2009; NAKAISHI; YAMADA,
1999; AGARWAL et al. 2013). Este risco de ressecamento ocular se encontra
acentuado entre os professores da pesquisa, que por ter em sua maioria mais de
40 anos, e maior risco de sofrer de olho seco, em função da idade e nas mulheres,
pela menopausa (WIMALASUNDERA, 2009; DING e SULLIVAN, 2012).
99
9. CONCLUSÕES
Foram encontradas três variáveis associadas significativamente ao
aparecimento da CVS nos professores universitários, a idade que minimiza as
chances de ter CVS, as horas de uso diário no computador que aumentam as
chances de apresentar CVS e os problemas vergenciais como insuficiência ou
excesso de convergência ou divergência, associados positivamente com o
aparecimento da síndrome.
Os problemas visuais e oculares mais frequentes foram a insuficiência de
convergência e a diminuição na quantidade de lágrima produzida, diagnósticos
associados aos sintomas mais relatados de fadiga e ressecamento ocular. O
tratamento dos problemas de saúde visual habitualmente diminui as queixas
visuais no trabalho com computadores.
Os professores universitários podem ser considerados uma população com
uma alta prevalência da Síndrome da Visão do Computador, na amostra
encontrou-se a síndrome em mais da metade dos participantes (56%). Destes,
(37%) diagnosticados com CVS moderada ou severa apresentaram queixas mais
frequentes e mais intensas, que incomodavam no trabalho com o computador.
Cabe ressaltar que a média da idade da amostra foi de 55,8 anos, sendo
em sua a maioria presbíope, o que pode se constituir em um fator de proteção
contra os espasmos e excessos de acomodação, responsáveis por dores de
cabeça fortes e mudanças na visão de perto e longe, sintomas menos frequentes
neste grupo.
A maioria dos participantes no estudo queixou-se de pelo menos um
sintoma da síndrome quando trabalhavam com o PC, especialmente a fadiga, o
ressecamento ocular e a irritação ocular, sintomas que afetam a qualidade de vida
do trabalhador, e diminuem a concentração e a produtividade no trabalho com
computadores. Os que sofrem de sintomas musculoesqueléticos, geralmente os
apresentam com uma frequência de “sempre” ou “quase sempre” quando usam o
100
computador, e mesmo que não sejam os sintomas mais frequentes, são os mais
afetados por dores no pescoço e nos ombros quando trabalham com o
computador.
Faz-se necessário um consenso da comunidade cientifica internacional,
para uma definição mais acurada da síndrome, seus sintomas, formas de prevenir
e tratar a CVS, com o olhar de diferentes profissões que lidam com o tema,
incluindo médicos, oftalmologistas, optometristas e ergonomistas. A validação de
testes e questionários para o diagnóstico da CVS é de suma importância para o
real conhecimento da prevalência da síndrome na população, consequentemente,
para seu tratamento e prevenção eficazes.
Propõem-se três grupos de fatores a serem controlados para evitar o
aparecimento da Síndrome da Visão do Computador, os fatores visuais (uso da
correção visual, a visão binocular e a acomodação e a superfície ocular protegida
especialmente pela lagrima), os fatores organizacionais (horas de uso com o
computador, os horários de trabalho e as pausas frequentes) e os fatores do posto
de trabalho com computadores (iluminação, presença de ar condicionado ou
ventiladores dirigidos aos olhos).
A Síndrome da Visão do Computador é uma síndrome complexa dividida por
alguns autores em diferentes categorias, dificultando um diagnóstico mais preciso
e seu tratamento das diferentes alterações visuais e oculares. Entretanto, há de se
considerar que a maioria dos sintomas está inter-relacionada, dificultando a
identificação dos transtornos; um exemplo são os sintomas astenópicos, presentes
em todos os diagnósticos associados à síndrome, mas que também são
produzidos por fatores internos e externos. Assim, a análise da síndrome deve ser
cuidadosa, analisando fatores da estação do trabalho com computadores e fatores
individuais, por serem todos igualmente importantes.
Outros estudos devem ser estimulados para se construir um quadro da real
situação da saúde visual dos trabalhadores que utilizam computadores,
conhecimento que permitirá avançar na sua promoção, prevenção e seu
tratamento.
101
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112
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Resolução nº 196/96 – Conselho Nacional de Saúde
Esta pesquisa tem como objetivo levantar a frequência de casos da Síndrome da
Visão do Computador em professores e verificar seus fatores associados. Os
professores universitários utilizam o computador como uma das ferramentas
necessárias para suas atividades acadêmicas e há uma grande probabilidade de
muitos sofrerem sem saber, da chamada “Síndrome da Visão do Computador”.
Esta síndrome torna a realização das tarefas no computador um verdadeiro
desafio, já que provoca sintomas visuais que dificultam o trabalho e comprometem
a qualidade de vida dos profissionais. Por isso é importante o diagnostico,
tratamento e a prevenção desta síndrome.
Será solicitado que você responda a dois questionários, sendo um focado nos
hábitos no uso do computador e outro, nos sintomas da Síndrome da Visão do
Computador, com duração total aproximada de 30 a 40 minutos. Também será
realizado um exame optométrico. O teste de Shirmer II é o único pode provocar
algum desconforto, pois para medir a produção normal de lágrima, será
necessário inserir uma pequena tira de papel filtro (só 5mm x 5mm da tira ficam
em contato com a conjuntiva bulbar) no olho durante 5 minutos, após a colocação
de uma gota de anestésico ocular (Benoxinato cloridrato ao 0,4%). Os estudos
com este procedimento não apontam para riscos à integridade do olho.
Os benefícios da pesquisa serão conhecimentos sobre a Síndrome da Visão do
Computador em professores universitários, da divulgação sobre seu diagnóstico e
prevenção e além de conhecer o estado da sua saúde visual e ocular, em caso
que você presente a Síndrome, será encaminhado ao oftalmologista, de
preferência dos docentes associados; e receberá orientações em relação aos
cuidados oculares no trabalho com o computador.
Você tem garantido o direito de esclarecimentos de eventuais dúvidas antes,
durante e após o desenvolvimento deste trabalho, podendo retirar sua permissão
a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo ou retaliação pela sua decisão.
Se você quiser obter mais informações, pode procurar a qualquer momento, o
responsável pelo projeto.
Suas informações ficarão em segredo e os resultados serão analisados sem que
apareçam os nomes dos entrevistados. Os dados serão divulgados em conjunto,
113
nunca individualmente. Você terá o direito de conhecer os resultados da pesquisa
ao final do estudo, que estarão disponibilizados na ADUNICAMP. Não estão
previstos ressarcimentos nem indenizações e minha participação nesta pesquisa
esta isenta de qualquer ônus financeiro.
Eu ___________________________________________________________,
RG____________ após a leitura deste documento e tendo a oportunidade de
esclarecer todas as minhas dúvidas, considerando-me suficientemente informado,
ciente dos objetivos da pesquisa, dos procedimentos aos quais serei submetido,
dos possíveis riscos deles provenientes e da garantia de confidencialidade,
expresso minha concordância de espontânea vontade em participar deste estudo.
_________________________________________
Assinatura do Entrevistado
Data:
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e
Esclarecido deste voluntário para a participação neste estudo.
_________________________________________
Adriana Paola Castillo Estepa
Em caso de duvidas ou esclarecimentos:
Fone: (019) 9492-7219
CEP: 13084-030.
Endereço: Av. Luis Vicentim Sobrinho, 145
E-mail:
Em caso de denuncias e/ou reclamações referentes aos aspectos éticos da
pesquisa.
Fone (019) 3521-8936 ou 3521-7187.
CEP 13083-887 Campinas-SP.
Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126.
E-mail:
120
Nome_________________ RG______________
QUESTIONÁRIO I
Sintomas da Síndrome da Visão do Computador:
Quando você esta usando o computador apresenta alguns dos seguintes sintomas? Marque com uma X.
1. Em que momento do dia você apresenta esses
sintomas? Manhã ___ Tarde ___ Noite____
2. Faz quanto tempo você apresenta esses sintomas? ________
Nunca As vezes Quase
sempre
Sempre
Sensação de corpo estranho
Lacrimejamento
Ardor ocular
Dor ocular
Coceira
Fotofobia
Ressecamento Ocular
Cefaleia
Fadiga/Sonolência
Cansaço visual
Diplopia
Omissão de letras ou linhas no
texto
Tela desfocada
Dor nas costas ou pescoço
125
APÊNDICE 4. ARTIGO CIENTÍFICO
Submetido e Aprovado: Setembro de 2013.
Disponivel em: http://revistas.lasalle.edu.co/index.php/sv/article/view/2504
131
APÊNDICE 6
QUESTIONARIO FINAL PARA O DIAGNOSTICO DA CVS,
FATORES DE RISCO E DIAGNÓSTICOS ASSOCIADOS.
Nome_________________ RG______________
QUESTIONÁRIO I
Sintomas da Síndrome da Visão do Computador:
Você presenta algum dos seguintes sintomas durante ou depois do uso do computador?
Marque com uma X.
1. Em que momento do dia esses sintomas são mais incômodos?
Manhã ___ Tarde ___ Noite____
2. Faz quanto tempo você apresenta esses sintomas? ________
Nunca As vezes Quase
sempre
Sempre
Sensação de Areia no Olho
Fadiga/Cansaço geral
Lacrimejamento
Irritação/Ardor ocular
Dor nos olhos
Coceira
Fotofobia
Ressecamento Ocular
Dor de cabeça
Visão turva
Foco lento
Cansaço visual
Diplopia
Omissão de letras ou linhas no texto
Dor nas costa e/ou no pescoço
132
QUESTIONÁRIO II
Hábitos no uso do computador:
9. Quantas horas você usa o computador ao dia?
Diurno Noturno Trabalho Lazer Tota
9. De quanto em quanto tempo você faz pausas do computador.
Marque com X.
Nunca
A cada 20 minutos
Cada 21 minutos a 59 minutos
Cada hora
Cada duas horas
Cada 3 a 4 horas
9. Como é a iluminação na sua estação de trabalho? Marque com X.
Natural Insuficiente
Adequada
Excessiva
Artificial Insuficiente
Adequada
Excessiva
Mixta
9. Se a iluminação na estação de trabalho é artificial, marque com
X, se esta apresenta alguma das seguintes características:
Uniformidade
Excesso de contraste
Reflexos incômodos
5. Qual destes exemplos se parece mais com o brilho da tela que você
usa quando trabalha no Computador. Marque com X.
Exemplo 1.
Exemplo 2.
Exemplo 3.
6. Qual é o tamanho da tela do computador que você usa
normalmente? Marque com X.
<10 polegadas
Entre 11 e 14 polegadas
Entre 15 e 19 polegadas
Entre 20 e 24 polegadas
Mais de 25 polegadas
7. Qual dos seguintes tamanhos de letra se assemelha mais ao que
você usa no computador?. Marque com X.
Abcde
abcde
abcde abcde
abcde
8. Usa AR condicionado ou ventilador, dirigido ao seu rosto ou acima
da sua cabeça, no seu posto de trabalho?
Sim______ Não______
Historia Ocupacional
8. Tipos de empregos/trabalho realizados ao longo da vida laboral: _____________________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________
9. Há quantos anos trabalha na docência?
10. Há quantos anos trabalha com computador?
11. Tipo de dedicação como docente da UNICAMP:
12. Quantas horas de aula você dá na semana?. Marque com X.
13.Que tipo de atividade é a que você mais realiza quando trabalha
no computador?
14. Níveis académicos em que o professor da aula. Marque com X.
Especialização
Graduação
Mestrado
Doutorado
15. Faculdade à que o professor pertence?
16. Tomando em conta que a seguinte imagem é a posição
ergonomicamente ideal para trabalhar no computador, como qualifica sua posição ergonomica na sua estação de trabalho?
Perfeita
Boa
Ruim
Muito Ruim
133
EXAME VISUAL III
HISTORIA CLINICA
Nome________________________________________
Idade____ Gênero____Telefone__________ RG_____
Ultima consulta com o Oftalmologista____________
Antecedentes Familiares Antecedentes pessoais Doenças Sistêmicas ou Oculares Doenças sistêmicas ou Oculares
HIPERTENSÃO
DIABETES
GLAUCOMA
CATARATA
Outras?Quais?__________________________________________ Alguma cirurgia ocular? ____
De catarata
De Descolamento retinal
De Queratocono
De correção refrativa
Outra_________
ANAMNESE
Você presenta algum problema visual ou ocular? ________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________
Revisão Visual
AVSC AVCC LOD POD LOD POD
LOI POI LOI POI
Olho Dominante ________ MEO ________ DP ______ Reflexos Pupilares__________________________________________
REVISÃO OCULAR
Oftalmoscopia
OD _________________________ OI _______________________ ____________________________ __________________________
____________________________ __________________________
Examen externo
OD _________________________ OI_______________________ ____________________________ _________________________
____________________________ _________________________
Retinoscopia Estática
Rx AV
OD
OI
Shirmer (Tipo II)
OD:________ OI:________
HISTORIA CLINICA FUNCIONAL
Exame Motor Hirschberg:___________ PPC _______
Acomodação Amplitude de Acomodação
OD______________ OI______________
Prisma Cover test/ Correção Habitual 6mts_______
40cms_______
Reservas fusionais RFNP_______RFNL______
RFPP_______RFPL_______
DIAGNÓSTICOS DIAGNOSTICO OCULAR_______________________________________
DIAGNOSTICO VISUAL REFRATIVO______________________________ DIAGNOSTICO ACOMODATIVO___________________________________
DIAGNOSTICO VERGENCIAL ____