Post on 28-Jun-2018
Paulo Mittelman
Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Pós – Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC
/ RJ
Segurança Baseada no Comportamento Usando algumas ferramentas da Análise Transacional
O que é Segurança Baseada em Comportamento
(Behavior-Based Safety) ou Segurança Comportamental
• Alguns Conceitos Importantes:
• A Segurança Baseada em Comportamento é o uso da Psicologia
Comportamental para promover a segurança no ambiente de trabalho, no
trânsito e na área de saúde.
• O Comportamento Seguro de um trabalhador, de um grupo ou de uma
organização é definido como sendo a capacidade de identificar e controlar
os riscos presentes numa atividade no presente, de forma a reduzir a
probabilidade de ocorrências indesejadas no futuro, para si e para os outros.
• Ao trabalhador devem ser dadas condições (capacitação e abertura) para
Pensar, Sentir e Agir considerando os riscos aos quais está exposto e as
melhores formas de controlá-los. É preciso haver coerência entre
Pensamento, Sentimento, Ação e Objetivo final.
• Comportamento Seguro é aquilo que o trabalhador faz e que contribui para
a não ocorrência de acidentes (ex.: o uso de EPI’s, o cumprimento de
normas de segurança, uso adequado de ferramentas e equipamentos, estar
em adequadas condições físicas e psicológicas, etc.)
Características Principais da Segurança Baseada em
Comportamento (Behavior-Based Safety)
1. Criar um processo contínuo que define o conjunto de comportamentos que
reduzem o risco de lesões relacionadas ao trabalho.
2. Coletar dados sobre a freqüência de comportamentos críticos de
segurança.
3. Avaliar as barreiras internas (crenças estabelecidas, etc.) dos empregados
e as barreiras internas (pressão excessiva por produção, tempo, etc.) da
empresa às mudanças na direção dos comportamentos seguros.
4. Garantir o feedback com ênfase nos comportamentos seguros como um
valor para todos.
5. Adotar as práticas psicológicas que estimulam e mantêm os
Comportamentos Seguros (além de corrigir as distorções que estimulam
os comportamentos críticos): Princípios de reforçamento positivo,
Modelagem de comportamentos saudáveis e seguros, Correção de
distorções cognitivas no processo de percepção e Estímulo aos processos
de auto – proteção e desenvolvimento interpessoal.
6. Garantir a manutenção de todo esse processo numa Cultura de Melhoria
Contínua.
Percepção de Risco e Comportamento Seguro
• Percepção De Risco:
É a capacidade da pessoa em identificar (atribuir um significado) uma determinada situação ou condição de trabalho como possível de causar dano. Isso é determinado por vários fatores: Bom funcionamento de seu “aparato sensorial” (acuidade visual, auditiva, etc), adequado nível de informação para decodificar os estímulos como sendo de risco e capacidade de articular essa informação com o conjunto de medidas de segurança.
Quem não percebe os riscos não tem condições de escolher o meio mais seguro de agir.
Mas atenção:
Percepção de Riscos e Comportamento Seguro não são sinônimos!Se existirem pressão desmedida por produção, “Cultura do Heroísmo”, condições de trabalho
precária, despreparo técnico e emocional, o fato de perceber os riscos não levará, isoladamente a uma mudança de comportamento.
O Comportamento Seguro é um resultado de fatores (internos ao indivíduo e do ambiente de trabalho) que permitem às pessoas agir de maneira preventiva no trabalho.
BBS – Segurança Baseada no Comportamento
BBS – Behavior-Based Safety
C o m p o r t a m e n t o s
Grave
Ou Fatal
Lesões leves
Perdas materiais ou
processo
Incidente / Quase Acidente
(Relato de Perigo)
(Claudio Maceratesi)
Pirâmide de Bird ou da ICNA (Insurance Company of North
America)
• A Pirâmide de Acidentes (ou Pirâmide de Bird) é o resultado de um estudo estatístico que representou um marco histórico para a segurança. Este estudo foi realizado em 1969 por Frank E. Bird Jr. Para realizá-lo, Bird analisou 1.753.498 acidentes industriais que foram reportados por 297 companhias, as quais representavam 21 grupos industriais diferentes, empregando 1.750.000 colaboradores que trabalharam cerca de 3 bilhões de homens-horas durante o período de exposição analisado. O resultado deste estudo é a famosa relação 1-10-30-600 entre os níveis da pirâmide.
• Para 1 acidente humano grave,
• 10 acidentes humanos leves,
• 30 acidentes com dano material e
• 600 quase-acidentes.
Instrumentos da Psicologia para ajudar a lidar com as
Questões Comportamentais
• Modelos Comportamentais de Aprendizagem.
• Modelos Cognitivos de Manutenção de Padrões.
• Modelos da Análise Transacional.
Modelos de Aprendizagem.
Modelos de Crenças e Distorções Cognitivas.
A abordagem Cognitivo-Comportamental procura integrar
esses modelos num conjunto de técnicas consistentes de
mudança.
Fundamentos Teóricos da
Cognitivo-Comportamental
R.I.
R.C.
Estímulo incondicionado (e.i.)
(alimento)
Condicionamento Clássico ou Respondente
(Pavlov)
Estímulo condicionado (e.c.)
(som)
Resposta
Modelos de Aprendizagem (I)Modelos de Aprendizagem (I)
comportamento reforço
aumenta
a freqüência
da resposta
diminui
a freqüência
da resposta
+
-
Condicionamento Operante(Skinner)
Modelos de Aprendizagem (II)Modelos de Aprendizagem (II)
Modelos de Aprendizagem (III)
Aprendizagem por Observação e Modelagem
Interação entre cognição, comportamento e influências ambientais
Características do modelo
3 fatores Características do observador
Conseqüências reforçadoras
atenção
retenção
produção
motivação
Teoria da aprendizagem Social
(Albert Bandura)
4 mecanismos
Modelos Cognitivos
situação pensamento resposta
“A perturbação emocional não é criada pelas situações,
mas pelas interpretações dessas situações.”
( Epicteto , século I D.C. )
Os pensamentos influenciam as emoções e o
comportamento
Os pensamentos podem ser distorcidos a partir de
crenças pessoais.
Crenças intermediárias: regras, atitudes, suposições
Crenças centrais: padrões e estruturas cognitivas profundas
interações iniciais com o mundo
regras básicas de vida, rígidas
Crenças centrais
Crenças intermediárias
PercepçãoSituaçãoemocionais
reações comportamentais
fisiológicas
Modelo CognitivoModelo Cognitivo
(Aaron (Aaron BeckBeck))
Abordagem da Análise
Transacional para ajudar a
compreender algumas
incoerências e estimular a
Implantação e Manutenção do
Comportamento Seguro
Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (I)Nossas crenças e processos internos interferem na nossa percepção e interação com a realidade externa. Esquemas da Análise Transacional ajudam a entender esse processo.
Estados do Ego
Emoções “Agradáveis” e
“Desagradáveis”,
Impulsos
e Aspectos Biológicos
Conceitos Racionais, Percepção do “Aqui e Agora”,
Objetivo
Conceitos de “Certo” e “Errado”, Juízos de Valor,
Conceitos Morais, etc.P
A
C
Pai
Adulto
Criança
Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (II)
Muitas vezes nossa capacidade de pensar de forma objetiva é influenciada por
nossos valores morais e preconceitos ou por nossos desejos, medos e outras
emoções. Isso é chamado de Contaminação pela A.T..
Adulto
contaminado
pela Criança
Adulto
contaminado
pelo Pai
P
A
C
Pai
Adulto
Criança
Adulto
Criança Adaptada
Rebelde
Como Eu Penso, Sinto e me Relaciono (III)
Nossos Estados do Ego possuem sub-divisões e modos de funcionamento positivo (ok) ou
negativo (não ok). Nossos processos internos interferem na nossa relação com o outro.
Pai Crítico
Pai Nutritivo
Criança Adaptada
Submissa
+
Perseguição
Salvação
Proteção
Permissão
PC+: Protetor
PN+: Permissor
PC- : Perseguidor
PN- : Salvador
CAS: Criança Submissa
CAR: Criança Rebelde
Uso da Análise Transacional para entender alguns
Problemas de Comunicação no Ambiente de
Trabalho:
• Todas as vezes que duas ou mais pessoas estão juntas, cedo ou tarde, vão
se comunicar, seja por meio de palavras, gestos ou olhares. A Análise
Transacional dá a esse fenômeno o nome de “Transação”: Uma das
pessoas envia um estímulo (mensagem) e a outra dá uma resposta.
Transação = Estímulo + Resposta
A transação é, então, a unidade básica da comunicação humana.
As transações se realizam através dos Estados do Ego de uma
pessoa e da outra.
Existem tipos de Transações eficazes e saudáveis e tipos de
Transações que tendem a ser as responsáveis pelas
dificuldades que ocorrem nas relações interpessoais em geral
e no Ambiente de Trabalho em particular.
Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- I
• Saudáveis:
Diretas (ou Complementares): Quando o estímulo enviado é recebido e
respondido pelo Estado de Ego previsto e esperado. A Transação Direta é a
base do relacionamento saudável.
-Você pode me dizer que horas são?
- São 11:30h.
PAI
ADULTO
CRIANÇA
PAI
ADULTO
CRIANÇA
Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- II
• Outro exemplo de Transação Saudável: (Direta ou Complementar):
Quando o estímulo enviado é recebido e respondido pelo Estado de Ego previsto e
esperado. A Transação Direta é a base do relacionamento saudável.
- Minha filha foi atropelada! Preciso ir ao hospital!
- Claro! Pode ir. Procure o Serviço Social pra nós ajudarmos você.
Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- III
• Transações Cruzadas: Responsáveis por algumas dificuldades nas
Relações Interpessoais e nas Relações de Trabalho.
Transação Transferencial:
- Você pode me dizer que horas são?
- Eu não tenho culpa de ter chegado atrasado! Faltou luz lá em casa e o despertador
não tocou!
Transações “Saudáveis” e “Não Saudáveis”- IV
• Outro exemplo de Transação Cruzada: (Responsável por algumas
dificuldades nas Relações Interpessoais e nas Relações de Trabalho).
Transação Desumanizada:
- Minha filha foi atropelada! Preciso ir ao hospital!
- Seu horário de saída é 17:00h.
Como o Conceito de Estímulo (ou
Carícia), da Análise Transacional
pode contribuir para a Melhoria
nas Relações Interpessoais
A Importância de se aprender a trocar estímulos
positivos saudáveis (“Carícias”)
• Carícia (toque, afago, estímulo) é qualquer coisa que fazemos que dá a entender ao outro que sabemos de sua existência.
• É a unidade de reconhecimento humano.
• Estudos de R.Spitz (1945) mostraram que bebês que não recebiam estimulação física durante grandes períodos, sofriam transtornos psíquicos e em seguida um quadro de prostração que podia levar à morte.
• O processo de troca de carícias começa no nascimento com o toque físico. Depois passa para palavras, olhares, gestos e aceitação.
Alimento Carícia
=
Corpo Psiquismo
Se uma pessoa não está conseguindo obter carícias
positivas vai se engajar, mesmo de forma não
consciente, em atividades para obter carícias, ainda que sejam
negativas.
• Claude Steiner considerava o Álcool e Outras Drogas como “Carícias de Plástico”.
Classificação de Carícias
1. Pela emoção que convidam a sentir:
• Positivas: Convidam a emoções agradáveis.
• Negativas: Convidam a emoções desagradáveis.
• Falsas Positivas: De lástima (“Coitado, é um dependente químico.”) e Adulatórias.
2. Pela influência no bem estar:
• Adequadas: Carícias que aumentam o bem estar a longo prazo.
• Inadequadas: Carícias que provocam mal estar a longo prazo, ainda que pareçam agradáveis a curto prazo.
3. Pelas condições para dar ou receber:
• Incondicionais: Dadas ou recebidas pelo simples fato de a pessoa existir.
• Condicionais: Dadas ou recebidas pelo que se faz ou se tem.
4. Pelo meio de transmissão:
• Físicas: São as mais poderosas.
• Verbais
• Gestuais
• Simbólicas
Áreas de Troca de Carícias
• Cada pessoa tem uma “cota de carícias” que necessita. O ideal é que haja uma distribuição uniforme pelas áreas.
• Se todas as “fichas” estiverem colocadas em apenas uma área e essa vier a faltar (por qualquer razão), a “cota” cairá imediatamente para zero (vazio existencial).
SOCIAL E
LAZER
PROFISSIONAL
PAR
FAMILIAR
Leis da Economia de Carícias (Steiner-1971)
Normas parentais preconceituosas que impedem a sadia troca de
estímulos sociais contrutivos.
1. Não dê as carícias positivas que quer dar.Justificativas:
“As pessoas que recebem elogios ficam mal acostumadas”.
“Todos os pais amam seus filhos. Não há por que ficar dizendo isso para eles.”
2. Não aceite as carícias positivas que merece.Justificativas:
“Começaria a depender dos outros.”
“Aceitá-las é falta de modéstia.”
3. Não peça as carícias positivas que precisa.Justificativas:
“Se ele realmente me amasse, saberia do que preciso.”
“Eu tenho dificuldade de ouvir um não.”
“Elas só tem valor se forem espontâneas.”
4. Não se dê carícias positivas.Justificativas:
“É falta de modéstia, é vaidade.”
“É narcisismo.”
5. Não recuse carícias negativas.Justificativas:
“Se te criticam, é para o teu bem.”
“A gente tem que aceitar o que nos dão.”
“Você não pode lutar contra o destino.”
Leis da Abundância de Carícias
1. Dê as carícias positivas que quer dar.
2. Aceite as carícias positivas que merece.
3. Peça as carícias positivas que precisa.
4. Dê a si mesmo as carícias positivas.
5. Recuse as carícias negativas.
“Peça 100% das vezes as carícias que você necessita.
Isto não quer dizer que você vai obter 100% das
carícias que pedir mas, com certeza, vai obter mais
do que se não pedir.”
(Claude Steiner)
Jogos Psicológicos e Codependência
Os jogos psicológicos são uma série de transações entre os Estados de Ego
dos participantes, mantendo uma relação de codependência entre os mesmos.
• Propiciam uma grande quantidade de carícias (todas negativas).
• Confirmam crenças pré-existentes.
• Possibilitam a alternância de papéis e posições existenciais no triângulo
dramático“.
Salvador
Vítima
Perseguidor
“Salvamos as pessoas de suas responsabilidades. Cuidamos
dessas responsabilidades por elas. Mais tarde, ficamos furiosos
com elas pelo que nós fizemos. Então nos sentimos usados e
lamentamos por nós. Esse é o padrão, o triângulo.”(Melody Beattie)
Dinâmica de Trabalho:Procure responder às questões que serão apresentadas da
forma mais detalhada possível. Você pode usar o que lhe foi apresentado anteriormente neste Workshop, sua própria experiência de vida, seu convívio com os colegas de trabalho e sua experiência de trabalho na empresa. Você não precisa assinar suas respostas. Depois de respondido, compartilhe o que você respondeu com os colegas de seu grupo de trabalho. Vocês devem procurar então, elaborar algumas sugestões para serem discutidas com os demais participantes do Workshop. Sua contribuição é muito importante para nós!
Questões:
(para serem respondidas individualmente e depois debatidas em grupo)
1. Procurando imaginar seu ambiente de trabalho e de seus
colegas, procure descrever pelo menos três comportamentos
críticos à segurança.
2. O que, na sua opinião, poderia ser feito, no sentido de se
estimular os comportamentos seguros no dia a dia de seu
ambiente de trabalho?
3. O que você considera que seria necessário mudar na rotina
de trabalho (sua e de seus colegas), para que o maior número
de pessoas possível pudesse participar da implantação e
manutenção de um Programa de Segurança baseada no
Comportamento?
Paulo Mittelman
Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Pós – Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC / RJ
paulomit@hotmail.com
Obrigado!