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SERRA DO TEPEQUÉM (RR): EVOLUÇÃO DA PAISAGEM ATUAL
Luiza Câmara Beserra Neta(a)
, Talita Suelen Carvalho Silva(b)
, Stélio Soares Tavares
Júnior(c)
a)Departamento de Geografia/Universidade Federal de Roraima,luiza.camara@ufrr.br
b)Departamento de Geografia/Universidade Federal de Roraima,talita.silva@ufrr.br
c)Departamento de Geologia/Universidade Federal de Roraima,stelio.tavares@ufrr.br
Solos, Paisagens e Degradação
Resumo
A presente pesquisa é fruto de um estudo sobre os depositos correlativos visando entender sua
influencia na evolução da paisagem que compõe o topo da serra do Tepequém. Os depositos correlativos são
formados a partir dos processos de erosão ao longo do tempo geologico, transportados e depositados sob
condições de agentes climáticos. Para alcançar o objetivo foram realizadas atividades de campo com intuito
identificar os ambientes de deposição dos depositos correlativos. Em laboratorio foram realizadas técnicas de
tratamento e manipulação de imagens digitais para elaboração de mapas temáticos destacando parâmetros
morfométricas de altimetria, declividade, orientação das encostas e espacialização dos depósitos coluvionares. O
topo da serra apresenta variações altimétricas configurada pela presença de áreas de planície, morros e colinas,
encostas íngremes, representando as declividades mais acentuadas da serra. Os ambientes propícios para a
deposição dos sedimentos coluvionares, corresponde à base de morros e colinas, formando franjas alongadas ou
por interceptação.
Palavras-chave: paisagem, erosão, solo, depósitos correlativos.
1. Introdução
No contexto da paisagem da amazônica setentrional, destaca-se a serra do Tepequém
no norte de Roraima, com altitudes de 1100 metros aproximadamente. Limita-se entre as lat.
3o
46’ a 3o
50’ N e long. 61o
41’ a 61o
45’ W, localiza-se no município de Amajarí, com
distância aproximada de 210 km da capital Boa Vista, sendo as principais vias de acesso a
BR174 – sentido Pacaraima e RR203 – sentido Amajarí (Figura 1).
Geologicamente, a serra do Tepequém é sustentada por rochas sedimentares de idade
Paleoproterozóico representadas pela Formação Tepequém (CPRM, 1999). As principais
litologias são constituídas por arenitos, siltitos, argilitos e conglomerados. O substrato da
serra está representado por rochas vulcânicas ácidas a intermediária do Grupo Surumu.
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Destaca-se na morfologia da serra do Tepequém topo irregular devido a variação
altimétrica constituida por colinas e morros, intercalados por vales por vezes encaixados onde
se situam os rios Paiva e Cabo Sobral. Os solos que compõem a paisagem da serra do
Teepequém apresentam suscetibilidade a processos naturais de erosão, entretanto, esse fator
foi intensificado pela atividade garimpeira diamantifera que teve seu auge na década de 30.
Estudos realizados por Luzardo (2006), Beserra Neta (2007), Fernandes Filho (2010) e
Nascimento (2013) proporcionam um aporte de dados geológicos e geomorfológicos da serra
do Tepequém que ajudam no entendimento da vulnerabilidade dos solos frente à
suscetibilidade física aos processos erosivos, bem como as intervenções antropogênicas em
destaque à ação garimpeira diamantífera. Atualmente a paisagem da serra é marcada pela
presença de feições erosivas lineares predominantemente nas áreas de planicie e
secudariamente em encostas de morros. As feições erosivas se instalam preferencialmente em
vales estreitos próximos a bordas de colinas com presença de depósitos correlativos. Com
base nessas questões se observa a importância do entendimento e influência dos depósitos
correlativos no modelamento da paisagem atual da serra do Tepequém.
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Figura 1 - Localização da serra do Tepequém no estado de Roraima, com destaque para a
Imagem OLI, LandSat8 na composição colorida 6R5B4Gcom as principais drenagens.
2. Materiais e Métodos
As etapas metodológicas da pesquisa foram as seguintes:
Foram realizados levantamentos de dados bibliográficos e cartográficos (Tabela I), com o
intuito de auxiliar nos trabalhos de campo e interpretação dos resultados. Nas atividades de
campo foram adquiridos dados quanto a declividade com auxilio de inclinômetro, altitude e as
coordenadas geográficas dos pontos utilizando GPS Garmim Etrex Legend e medição das
orientações das estruturas através da Bússola de Brupton. Também foram adquiridas imagens
fotográficas das feições de relevo através de câmara digital do tipo Samsung S760.
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Tabela I1 - Dados das imagens digitais de sensores remotos utilizados. Imagem Tipo Sensor Resolução Banda Referência
Landsat8 (233/57)
setembro/2014 Óptica
OLI
(Operation
Land
Imager)
30x30 e 15x15 (6R, 5G,4B)
8 - pancromática
http://earthexplorer.usg
s.gov/
Shuttle Radar
Topography
Mission- SRTM
(quadrante -04n63)
Radar - 30metros L e X- http://www.dsr.inpe.br/
topodata/acesso.php.
As imagens Landsat8 e Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) foram a base para
a elaboração dos mapas de localização, espacialização dos depósitos correlativos, hipsometria
e orientação das vertentes.
As imagens ópticas foram submetidas aos procedimentos de pré-processamento referentes
a atenuação dos efeitos atmosféricos e das distorções geométricas. Os procedimentos de
tratamento das imagens de sensores remotos orbitais e criação do banco de dados foram
efetuados através do uso dos aplicativos computacionais SPRING, v. 5.1 (aplicativo gratuito,
obtido através do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e PCI Geomatics, v. 10.2.
Em ambiente ArcGis 10.3, foi realizada a manipulação de dados do Modelo Digital de
Elevação – MDE (SRTM). A imagem do MDE foi compilada utilizando o pacote Spatial
Analist, da plataforma ArcGis 10.3, o modelo de elevação passou por ferramentas que extraiu
dados tais como o cálculo de hipsometria e orientação das encosta. Foi realizado através do
ArcHydro a extração da drenagem automática para compor os mapas, demonstrando a rede
hidrográfica da serra.
Em campo foi realizada a aquisição de dados morfométricos como: altitude
declividade, cobertura vegetal e características dos solos, visando à elaboração de blocos
diagramas como representação das formas de relevo. Nesta etapa foi utilizado como auxílio à
carta plani - altimétrica da folha vila Tepequém - 1: 100. 000 (IBGE, 1983).
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3. Resultados e Discussões
3.1. Modelado atual da paisagem da serra do Tepequém
Os níveis altimétricos que caracterizam as formas de relevo da paisagem da serra do
Tepequém são representados por: a) áreas de planícies representadas por níveis altimétricos
que variam de 553 a 646 metros. Apresentam forma alongada, sendo a mais representativa,
por seu fator largura e extensão, a planície situada entre a encosta Sudeste e o conjunto de
morros situados no interior da serra, denominada por Beserra Neta (2007) de Planície
Intermontana; b) morros e colinas que configuram o relevo movimentado no interior da serra
estão situados entre os rios Cabo Sobral, Meio, Barata e Paiva. Estes apresentam alinhamento
direcional NE-SW cujas altitudes variam de 612 a 739 metros. Os morros apresentam
morfologia de topos convexo a alongados e vertentes côncavo-convexo; c) as vertentes
interiores que bordejam a serra apresentam altitudes variando de 800 metros na porção
noroeste, 940 metros na porção nordeste e elevando-se para 1.100 metros na porção sudeste.
Em detrimento as áreas cujas cotas variam entre 416 a 600 metros representam as áreas de
entalhamento dos talvegues da rede de drenagem, estas configuram o modelado nas porções
Oeste e Sudoeste da serra. Os níveis altimétricos que caracterizam as formas de relevo na
serra do Tepequém são destacados na Figura 2.
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Figura 2 - Classes altimétricas da serra do Tepequém, a partir de dados do SRTM.
No mapa de orientação das vertentes e declividade é possível identificar que as
encostas que compõe a porção sudeste da serra, em sua maioria, estão orientadas para
noroeste do mesmo modo que as sequencias de morros e colinas situados na porção central da
serra (Figura 3 e 4). Essas correspondem às áreas com declividades mais acentuadas, o que
caracteriza um modelado favorável ao escoamento superficial devido à inclinação das
vertentes variarem em torno de 14° (base da vertente) a 28º (média a alta vertente). Foi
observado na superfície do solo um expressivo manto de cascalho, o que permite interpretar
que os sedimentos mais finos estão sendo carreados e depositados na base de morros e
colinas. Tais depósitos promovem o preenchimento de vales, onde se encontra instaladas as
feições erosivas lineares do tipo voçorocas.
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Figura 3 - Orientação das vertentes situadas no topo da serra do Tepequém – RR.
Figura 4 - Caracterização da declividade no topo da serra do Tepequém – RR a partir dos
dados de SRTM.
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3.2. Modelado dos depósitos coluvionares
Na serra do Tepequém foram identificados duas morfologias distintas de franjas
deposicionais descritas a seguir:
a) Franjas alongadas – correspondem às franjas de depósitos coluvionares situadas na
base das vertentes com possível prolongamento para áreas das planícies de entorno. Este
modelo foi observado em morros e colinas situados na parte central da serra. Estes morros
apresentam altitudes de aproximadamente 701 metros, topo retilíneo alongado e vertente
côncavo – convexo com inclinação de 19º na média vertente e de 9° na base. Estes formam na
paisagem o interflúvio dos rios Barata e Paiva (Figura 5).
Figura 5 - Morro do Entorno (A), Bloco diagrama do morro do Entorno com destaque para
blocos conglomeráticos, fragmentos Lateríticos.
b) Franjas por interceptação – este tipo de franja corresponde as que exibem algum
tipo de interceptação seja natural ou por influência antrópica (Figura 6), a exemplo das
voçorocas e/ou corte de estrada. Este modelo foi identificado na paisagem nos morros e
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colinas da porção mais a noroeste da serra. Estas elevações apresentam altitudes
aproximadamente de 648 metros, topos de morfologia côncavo e vertentes a 20° de inclinação
gradando para 6º na base.
Figura 6 - Morro Funil próximo ao igarapé meio (A), Croqui do morro Funil com destaque
para a instalação de feição erosiva e franjas coluvionares por interceptação (B).
A partir do mapa de espacialização se observa que as franjas coluvionares por
interceptação não apresentam grandes dimensões e estão situadas próximas à corte de
estradas. Outra característica refere-se ao relevo, nota-se que as franjas por interceptação
estão situadas em áreas onde predomina os vales encaixados. Desta forma os sedimentos
denudados preenchem o fundo dos vales podendo ser carreados e retrabalhados pelos sistemas
hidrográfico da serra. Em detrimento as franjas coluvionares alongadas, por sua extensão são
mais perceptíveis e se estendem ao longo dos conjuntos de morros situados na porção central
da serra em que correspondem as áreas de planície mais extensas (Figura 7).
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Figura 7 - Espacialização das áreas de deposição dos sedimentos coluvionares.
4. Considerações Finais
A paisagem atual que compõe a serra do Tepequém é um mosaico de unidades de
relevo fruto do retrabalhamento proporcionado por fatores climáticos pretéritos e atuais que
deixaram marcas evidentes. Soma-se a esse remodelamento a ação antropogênica,
principalmente a atividade garimpeira diamantífera que foi bastante expressiva na serra do
Tepequém, promovendo mudanças como: desmonte de relevo (bordas das vertentes),
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mudanças de curso da rede de drenagem, além de assoreamento dos canais fluviais. Faz-se
necessário um amplo estudo dos elementos que compõem a paisagem, a exemplo dos
depósitos coluvionares que recobrem as franjas dos morros e colinas e se estendem nas
planícies intermontanas. Essas coberturas atuais são palcos de intenso processo erosivo na
forma de ravinas e voçorocas e tem demonstrado ao longo dos anos uma suscetibilidade ao
escoamento superficial e subsuperficial e por consequência a formação e evolução de feições
erosivas.
Agradecimentos
A Universidade Federal de Roraima, pelo apoio as atividades de campo e de laboratório. A
segunda autora agradece a CAPES pela concessão da bolsa de estudo durante os estudos no
Programa de Pós-graduação em Geografia - UFRR e apoio financeiro durante as etapas da
pesquisa.
Referências Bibliográficas
BESERRA NETA, L. C. Analise evolutiva da paisagem da serra Tepequém – Roraima e
o impacto da atividade antrópica. 190p. 2007. Tese (Doutorado em Geologia e
Geoquímica), Programa de pós – graduação em Geoquímica, Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Para, Belém, 2007.
CPRM – Serviço Geológico do Brasil. Programa Levantamento Geológico Básico do
Brasil. Roraima Central, Folhas NA.20-X-B; NA.20-X-A; NA.20-X-C; NA.21-V-A e
NA.21V.C. Escala 1:500.000. Estado de Roraima. CPRM, Manaus, 166 p. CD-Rom, 1999
FERNANDES FILHO, L. A. Fácies deposicionais, estratigrafia e aspectos estruturais da
cobertura sedimentar Paleoproterozóica na serra do Tepequém, Escudo das guianas,
estado de Roraima. 118p. 2010. Tese (Doutorado em Geologia e Geoquímica) – Programa
de Pós – Graduação em Geologia e Geoquímica, Universidade Federal do Pará, Belém, 2010.
LUZARDO, R. O Metamorfismo da serra do Tepequém (Estado de Roraima). 2006, 91p.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Geociências, Universidade Federal
do Amazonas. UFAM. Manaus, 2006.
NASCIMENTO, F. A. Compartimentação geomorfológica da serra do Tepequém – RR,
com base em produtos de sensoriamento remoto, 2013, 110p. Dissertação (Mestrado em
Geografia) - Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Roraima,
Boa Vista, 2013.