Post on 14-Aug-2015
QUALIDADE NO ENSINO INFANTIL
Reflexões no contexto da alfabetização e do letramento
Prof.ª Me. Fernanda Ferreira
EDUCAÇÃO E QUALIDADE
EM PERMANENTE CONSTRUÇÃO
E o que entendemos por qualidade?
Vamos conceituar o termo?
PROCESSOS
Tarefa fácil? Por quê?
Experimente realizar uma
"chuva de ideias" e depois
relacioná-las. Vamos lá...
Não se abstenha dessa reflexão...
Não vale esperar pelo
próximo slide, hein?
Vamos ao dicionário?
Qualidade: propriedade
específica ou condição natural
que caracteriza uma coisa ou
pessoa; maneira de ser boa ou
má de uma coisa; superioridade,
excelência; título, categoria.
Então... Qualificar...
É atribuir qualidade a;
classificar; avaliar;
enobrecer.
A ideia mais geral sobre qualidade é que,
subjacente ao seu conceito, há sempre uma dada
avaliação. A qualidade de algo ou alguém é então
considerada a partir de parâmetros
preestabelecidos ou de juízos de valor. Portanto,
ao falarmos em qualidade, há que identificarmos
e explicitarmos critérios objetivos de análise e
indicadores de qualidade. Isso diminui os efeitos
negativos de avaliações subjetivas. Assim, se
queremos analisar a qualidade de um ensino
escolar para crianças, precisamos saber quais os
nossos parâmetros de análise e o que, na prática
cotidiana, consideramos como indicadores dessa
qualidade.Sousa (1998)
Será que isso garante um
trabalho de qualidade no ensino
para crianças?
Há sempre a possibilidade de interferências de fatores diversos que podem nos dar uma ideia falsa sobre a qualidade e, além disso, podem existir variações na avaliação da qualidade tanto entre os avaliadores quanto em um mesmo avaliador, em diferentes momentos ou contextos.
Sousa (1998)
O que pode então ser considerado qualidade no
ensino para crianças? E, mais especificamente,
o que pode ser considerado qualidade no
ensino para crianças no que diz respeito aos
processos de alfabetização e de letramento?
Quais seus indicadores? Como avaliar a
qualidade do trabalho pedagógico
desenvolvido? Enfim, o que é preciso para o
desenvolvimento de um ensino de
qualidade para crianças no
contexto da alfabetização e
do letramento?
Antes da nossa busca por respostas,
outras perguntas...
De que crianças estamos falando?
E de que ensino estamos falando? Do
ensino em que etapa(s) da educação
escolar?
Partindo do pressuposto que, segundo o ECA,
considera-se criança a pessoa até doze anos de
idade incompletos, podemos considerar que esse é
o período da vida denominado infância. O dicionário
confirma: infância é o período de crescimento que
vai do nascimento à puberdade. Logo, estamos nos
referindo à criança nesse contexto.
E a outra pergunta? Sobre o ensino
de que etapa(s) da educação escolar
estamos tratando?
Observe esta imagem
Ela lhe traz que ideias, que sensações?
PENSOU EM OUTRAS?
TRAVESSIA
CAMINHO
CAMINHADA
TRAJETÓRIA
PERCURSO
RUMO
DIREÇÃO
TRANQUILIDADE
EQUILÍBRIO
SUAVIDADE
HARMONIA
AUTONOMIA
INDEPENDÊNCIA
LIBERDADE
Estamos tratando do ensino relacionado aos processos de
alfabetização e de letramento que precisa se dar de forma
harmoniosa, sem rupturas, com certa tranquilidade.
Imaginemos que a ponte retratada na imagem está
localizada sobre a divisão territorial entre duas cidades. No
sentido do seu comprimento, um lado dá acesso a uma
cidade e, o outro, à cidade vizinha. O que a criança pode
fazer para ir de uma cidade a outra com tranquilidade? Ela
deve parar sobre o ponto de interseção entre as cidades,
jogar-se da ponte, subir nela novamente a partir desse
ponto e recomeçar seu percurso?
Ou, para ir com tranquilidade, ela
deve continuar caminhando; prosseguir?
Agora, imagine que de um lado do processo de
aprendizagem da criança está a educação infantil e, do
outro, o ensino fundamental...
Ou seja, ao passar da educação infantil para o ensino
fundamental, a criança não pode desconstruir suas
aprendizagens para reconstruí-las, como se chegasse ao
1º ano do EF sem conhecimentos sobre a leitura e a
escrita.
Ela não chega ao EF "zerada", como se fosse um
caderno em branco a ser preenchido...
Pensemos no próprio termo pré-escola.
O que ele sugere?
Ruptura?
Dá ideia de algo que antecede a escola, como se o ensino escolarizado fosse iniciado
somente após essa fase. Isso decorre do caráter assistencialista conferido
historicamente à educação infantil, em que o cuidar se sobrepunha ao educar. Era como
se o ensino sistematizado se iniciasse somente no ensino fundamental.
Assim, sem desconsiderarmos
que cada etapa escolar tem
suas especificidades,
precisamos pensar em uma
conexão entre o ensino que
se dá na educação infantil e o
que se dá no início do ensino
fundamental.
Imaginemos as seguintes situações:
Uma criança de 5 anos de idade questiona a professora
sobre a escrita de determinada palavra.
A professora lhe responde que isso somente deve ser
aprendido no "1º ano".
Ao contrário, uma criança chega alfabetizada no 1º ano
do ensino fundamental e a professora "para cumprir o
programa" começa a ensinar as letras à turma.
O que faz então essa criança?
Finge que ainda não sabe ler e escrever?
Vivemos em uma sociedade
grafocêntrica, ou seja, que é centrada
na linguagem escrita.
Até mesmo a criança desfavorecida do
ponto de vista socioeconômico que
nunca foi à escola pode ter, de alguma
forma, contato com a língua escrita.
Ao considerarmos o sujeito enquanto
um ser social, entendemos que ele se
apropria de características da língua
escrita em variados
contextos.
O professor, enquanto mediador
dos processos de alfabetização e
de letramento na escola, precisa
promover aprendizagem a todos os
alunos. Daí porque as expectativas
de aprendizagem de uma etapa
escolar e outra se interpenetram.
É preciso
destruirmos
as muralhas que
dividem o ensino em educação
infantil e ensino fundamental...
Precisamos ver essa transição
como processo, como caminho
sem interrupção.
E quando nos referimos ao termo
ensino, enquanto ação de ensinar, esse
não está dissociado da ação de
aprender.
Tomando emprestada ideia freireana,
só se ensina algo a alguém quando
esse alguém aprende.
Pode haver ensino sem aprendizagem?
O ensino somente ocorre quando há aprendizagem.
Agora que definimos de que criança e
de que ensino estamos falando,
voltemos à questão
da qualidade.
Recordemos algumas perguntas...
O que pode então ser considerado
qualidade no ensino da língua escrita
para crianças? Quais seus indicadores?
Enfim, o que é preciso para o
desenvolvimento de um ensino de
qualidade para crianças no contexto da
alfabetização e do letramento?
Como vimos, precisamos de parâmetros e de
indicadores para pensarmos em qualidade.
Considerando que os processos de alfabetização e de
letramento precisam ser considerados no âmbito
escolar desde a educação infantil, tomaremos esta
etapa como referencial para nossas reflexões, o que não
significa que, ao final dessa etapa, seus parâmetros e
indicadores de qualidade tenham que ser
desconsiderados, para então considerarmos somente
parâmetros e indicadores estabelecidos para o início do
ensino fundamental. Ao pensarmos em processo,
caminho, os parâmetros e indicadores considerados
para a educação infantil precisam ser articulados aos do
início do ensino fundamental, sem rupturas.
Retomando, vimos que a ideia de qualidade depende de muitos
fatores: os valores nos quais as pessoas acreditam; as tradições
de uma determinada cultura; os conhecimentos científicos sobre
como as crianças aprendem e se desenvolvem; o contexto
histórico, social e econômico no qual a escola se insere...
Sendo assim, a qualidade pode ser concebida de forma diversa,
conforme o momento histórico, o contexto cultural e as
condições objetivas locais. Por esse motivo, o processo de definir
e avaliar a qualidade de uma instituição educativa deve ser
participativo e aberto, sendo importante por si mesmo, pois
possibilita a reflexão e a definição de um caminho próprio para
aperfeiçoar o trabalho pedagógico e social das instituições.
(BRASIL, 2009)
O documento do MEC/20009 intitulado Indicadores de Qualidade na Educação Infantil
O MEC sintetizou os principais
fundamentos referentes à qualidade da
educação infantil no documento
Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
Educação Infantil (2006).
Posteriormente, elaborou o documento
Indicadores da Qualidade na Educação
Infantil (2009), o qual traduz e detalha
esses parâmetros em indicadores
operacionais.
O documento intitulado Indicadores da Qualidade
na Educação Infantil foi construído com o objetivo
de auxiliar as equipes que atuam na educação
infantil, juntamente com famílias e pessoas da
comunidade, a participar de processos de
autoavaliação da qualidade de creches e pré-
escolas que tenham um potencial transformador.
Pretende, assim, ser um instrumento que ajude os
coletivos – equipes e comunidade – das instituições
de educação infantil a encontrar seu próprio
caminho na direção de práticas educativas que
respeitem os direitos fundamentais das crianças e
ajudem a construir uma sociedade mais
democrática.(BRASIL, 2009)
E, afinal, o que são indicadores?
Indicadores são sinais que revelam aspectos de
determinada realidade e que podem qualificar
algo. Por exemplo, para saber se uma pessoa está
doente, usamos vários indicadores: febre, dor,
desânimo. Para saber se a economia do país vai
bem, usamos como indicadores a inflação e a taxa
de juros. A variação dos indicadores nos
possibilita constatar mudanças. No referido
documento, os indicadores representam a
qualidade desejável para a instituição de
educação infantil em relação a importantes
elementos da sua realidade: as dimensões. (BRASIL, 2009)
DIMENSÕES DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
FORMAÇÃO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DE
PROFESSORES E DEMAIS
FUNCIONÁRIOS
MULTIPLICIDADE DE EXPERIÊNCIAS E
LINGUAGENS
PLANEJAMENTOINSTITUCIONAL
ESPAÇOS, MATERIAIS E MOBILIÁRIOS
INTERAÇÕESPROMOÇÃO DA
SAÚDE
COOPERAÇÃO E TROCA COM AS
FAMÍLIAS E PARTICIPAÇÃO NA
REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL
Reflitamos sobre o termo multiplicidade...
Indica vários/múltiplos elementos.
Nesse contexto, ao pensarmos especificamente em alfabetização e em letramento, enquanto experiências relacionadas à linguagem escrita, esses processos precisam ser considerados na educação infantil em que proporção?
Em nossas reflexões vamos focar na dimensão
multiplicidade de experiências e linguagens.
Na avaliação de uma instituição de educação
infantil, devemos nos perguntar: o trabalho
educativo procura desenvolver e ampliar as
diversas formas de a criança conhecer o
mundo e se expressar? As rotinas e as
práticas adotadas favorecem essa
multiplicidade ou, ao contrário, roubam a
possibilidade de a criança desenvolver todas
as suas potencialidades?
Primeiramente, se buscamos uma sociedade mais
democrática, a instituição de educação infantil, assim
como a das demais etapas, deve estar organizada de
forma a favorecer e valorizar a autonomia do aluno.
Para isso, os ambientes e os materiais precisam estar
dispostos de forma que as crianças possam fazer
escolhas, desenvolvendo atividades individualmente,
em pequenos grupos ou em um grupo maior.
As professoras precisam atuar de maneira a incentivar
essa busca de autonomia, sem deixar de estar atentas
para interagir e apoiar as crianças nesse processo.
(BRASIL, 2009)
Assim, precisam planejar atividades variadas,
disponibilizando os espaços e os materiais
necessários, de forma a permitir e sugerir
diferentes possibilidades de expressão,
brincadeiras, aprendizagens, explorações,
conhecimentos, interações. A observação e a
escuta são importantes para sugerir novas
atividades a serem propostas, assim como
ajustes no planejamento e troca de
experiências entre a equipe. (BRASIL, 2009)
Essas diferentes possibilidades de
expressão, nas quais a linguagem escrita
precisa estar incluída, estão abordadas
de forma mais específica no decorrer do
estudo proposto na temática em questão
- Qualidade no Ensino Infantil -, dada a
sua relevância para a realização de um
trabalho pedagógico de qualidade na
educação infantil.
Voltando ao documento em estudo, na dimensão que
acabamos de ressaltar, consta, entre outros, o
seguinte indicador:
Crianças tendo experiências agradáveis, variadas e
estimulantes com a linguagem oral e escrita.
O documento não somente reconhece a inter-relação
entre essas duas linguagens como explicita que
experiências com a linguagem escrita precisam
ocorrer na educação infantil.
Assim, ele aponta algumas indagações que podem
servir para avaliar a qualidade do trabalho pedagógico
desenvolvido no contexto dessas linguagens.
As professoras leem livros diariamente, de diferentes
gêneros, para as crianças?
As professoras contam histórias, diariamente, para as
crianças?
As professoras incentivam as crianças a manusear livros,
revistas e outros textos?
As professoras criam oportunidades prazerosas para o
contato das crianças com a palavra escrita?
As crianças são incentivadas a “produzir textos” mesmo
sem saber ler e escrever?
Consideramos relevante destacarmos
aqui as seguintes questões:
Como a criança pode ler se ainda não
sabe ler convencionalmente?
Como a criança pode escrever se ainda
não sabe escrever convencionalmente?
Vamos buscar respondê-las?
Com relação a primeira questão, a
correspondência grafofonêmica (ou grafofônica)
não é o único procedimento que utilizamos para
ler. Ao lermos, realizamos um trabalho de
construção do significado do texto com base no
que buscamos nele, no conhecimento que
anteriormente construímos sobre o assunto do
qual ele trata, no que sabemos sobre seu autor
e sobre a língua: características do seu
portador, do seu gênero, do sistema de
escrita... Desse modo, vários procedimentos
estão envolvidos no ato de ler.
A criança, mesmo antes de escrever
convencionalmente, é capaz de produzir
linguagem escrita: pode recontar histórias em
linguagem literária; relatar informações sobre
determinado assunto para que a professora
produza um relatório; produzir oralmente uma
carta para que uma pessoa alfabetizada faça o
papel de escriba... São muitas as
possibilidades...
E quanto a outra pergunta? Como a
criança pode escrever se ainda não
sabe escrever
convencionalmente?
Há ainda, no documento em estudo,
questões mais específicas, que se referem à
determinada faixa etária:
Questão que se refere apenas a bebês e
crianças pequenas:
As professoras e demais profissionais
adotam a prática de conversar com os bebês
e crianças pequenas mantendo-se no mesmo
nível do olhar da criança, em diferentes
situações, inclusive nos momentos de
cuidados diários?
Questão que se refere apenas a crianças de 4
até 6 anos:
As professoras incentivam as crianças
maiores, individualmente ou em grupos, a
contar e recontar histórias e a narrar
situações?
Nesse caso, nossas experiências práticas nos
mostraram que essas atividades também
podem ser realizadas de modo satisfatório
com crianças menores de 4 anos .
Às questões apontadas no documento em
questão, que podem nortear a avaliação da
qualidade do ensino na educação infantil,
poderíamos acrescentar outras? Quais?
Afinal, enquanto sujeitos críticos,
precisamos realizar uma reflexão crítica do
que lemos.
Sugerimos que você tente responder a essas
questões por escrito. Isso porque, assim
como a linguagem oral, a linguagem escrita
também organiza o nosso
pensamento.
Às questões apontadas no documento, consideramos de extrema
relevância acrescentarmos:
As professoras promovem às crianças um ambiente alfabetizador?
Isso amplia o nosso olhar na avaliação da qualidade do ensino ofertado às
crianças, uma vez que essa questão nos move a também refletirmos
sobre a qualidade dos materiais escritos que circulam no ambiente
escolar.
E o que é um ambiente alfabetizador?
Um ambiente alfabetizador é aquele em que a cultura
escrita, que necessita ser mediadora de toda prática de
alfabetização, é reconhecida, problematizada e construída
pelos participantes do contexto escolar. Nele, não basta a
presença de livros, textos digitais, revistas, gibis, jornais,
folhetos, cartazes, entre outros materiais escritos. É
preciso que práticas culturais e sociais de leitura e de
escrita sejam mediadas por esses materiais. Isso contribui
para que o alfabetizando, além de conviver com a língua
escrita, passe também a utilizá-la em suas práticas
sociais.
Nesse contexto, trabalhar com "textos reais", que fazem
parte do cotidiano das crianças, como os contidos em
letreiro de ônibus, embalagens de produtos, outdoors,
entre outros, é imprescindível para a formação de sujeitos
alfabetizados e letrados.
Ou seja, é preciso que tenhamos um olhar mais atento,
mais apurado, na avaliação da qualidade do trabalho
pedagógico desenvolvido.
Uma sala de aula repleta de livros não significa,
necessariamente, que o ambiente é alfabetizador. Isso
vai depender do trabalho que é desenvolvido pelo
professor com esses e outros materiais escritos.
Isso significa que, para avaliarmos a
qualidade do ensino, é
imprescindível direcionarmos o nosso
olhar para a prática docente.
Ressaltamos que, propositadamente, colocamos aqui
mais perguntas que respostas, a fim de problematizar a
questão da qualidade do ensino ofertado às crianças.
Consideramos que perguntas e respostas precisam nos
levar a novas perguntas e respostas, para que a nossa
construção de conhecimentos avance, amplie-se,
aprofunde-se.
Destacamos que um dado conhecimento
é construído em um determinado momento
histórico e contexto sociocultural.
Assim, precisamos avançar...
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica. Indicadores da Qualidade
na Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2009. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/indic_qualit_educ_infantil.pdf. Acesso em: 12/07/2015.
SOUSA, M. de F. Educação Infantil: os desafios da qualidade na diversidade. Seminário Nacional de Educação Infantil do SESI. Belém, 1998. Disponível em:
http://scholar.google.com.br/scholar_url?url=http://inforum.insite.com.br/arquivos/13935/qualidade_na_diversidade_-_editado_15.04.docfatima...
Acesso em: 10/07/2015.
http://dicionariodoaurelio.com/qualidade. Acesso em: 10/07/2015.
fernanda-f2003@ig.com.br
Referências