Post on 30-Nov-2018
Instituto Superior de Educação Universidade Cândido Mendes Campus - Tijuca
Sonia Araújo O Jogo na Educação Infantil
Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia.
Orientadora: Professora Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2004
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Universidade Cândido Mendes O jogo na Educação Infantil
Verificar a importância dos jogos na Educação Infantil, contribuir para a prática pedagógica
3
AGRADECIMENTOS
A Deus que me deu a vida. A minha família e amigos pelo apoio dedicado.
Aos professores pelo incentivo.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os que buscam como eu, levar as crianças a desenvolverem o seu potencial cognitivo, físico e social, preparando-as para serem cidadãos que contribuam para construir uma sociedade melhor.
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“O nascimento e desenvolvimento do
universo são o jogo de uma criança que move
suas peças num tabuleiro.
O destino está numa criança que brinca.”
Heráclito Fragmeto 52
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RESUMO Sempre foi desejo dos professores pode criar na sala de aula uma atmosfera
de motivação que permitisse que os alunos pudessem participar ativamente do
processo ensino – aprendizagem. Mas surgia uma pergunta como faze-lo? Estas
aspirações e este questionamento não são novos na prática escolar. A história da
Pedagogia demonstra que vários educadores do passado já se preocupavam com o
aspecto motivacional do ensino, preconizando uma educação de acordo com as
necessidades e interesses infantis, e que também reconheciam o valor formativo do
jogo. Estes questionamentos nos levam a elaboração deste trabalho, considerando
que o jogo está presente na vida da criança e que é uma das maneiras lúdicas de
estimular o desenvolvimento global da criança na pré-escola. Jogar é uma atividade
natural do ser humano. Ao brincar e jogar a criança fica tão envolvida com o que está
fazendo, que coloca na ação seu sentimento e emoção. O jogo assim como a
atividade artística é um elo integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos
e sociais. Por isso participantes do pressuposto de que é brincando jogando que a
criança ordena o mundo em sua volta, assimilando experiências e informações e
sobretudo, incorporando atividades e valores. Portanto, é através do jogo e de
brinquedo que ela reproduz e recria o meio circundante. O professor da pré-escola
deve estar compromissado com uma constante busca do conhecimento como
elemento do seu crescimento pessoal e profissional, buscando portanto, um caminho
viável para a reflexão e melhoria de alguns pontos fundamentais que interferem no
atendimento das crianças na educação infantil. Constata-se à partir das leituras que a
proposta pedagógica para a educação infantil deve ser elaborada depois de uma
reflexão de como o jogar é importante para a criança dessa faixa etária. O êxito do
processo ensino-aprendizagem depende, em grande parte, da interação professor-
aluno, sendo que neste relacionamento, a atividade do professor é fundamental. Ele
deve ser antes de tudo um agente facilitador de aprendizagem, criando condições
para que a criança explore seus movimentos, manipule materiais, interaja com seus
companheiros e resolva situações problema.
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METODOLOGIA Foram utilizados livros, pesquisas na Internet, revistas, apostilas.
Foram feitos ainda visitas a escolas públicas e particulares.
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ÍNDICE Resumo 06
Introdução 09
1 – Jogo e Cultura 10
2 – Jogo e Cotidiano 15
2.1 – Classificação dos jogos 17
3 – Evolução do Jogo na Criança 18
3.1 – Jogo de Exercício Sensório-Motor 18
3.2 – Jogo Simbólico 19
3.3 – Jogo de Regras 19
4 – O Jogo e a Escola 20
4.1 – A criança aprende enquanto brinca e brinca enquanto aprende 23
4.2 – Quando, como e porque usar os jogos 24
4.3 – A socialização na Educação Infantil a partir dos jogos 26
5 – Os jogos e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil 28
5.1 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais e os jogos 29
6 – Espaço Lúdico para a criança na Escola de Educação Infantil 31
Conclusão 33
Bibliografia 34
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INTRODUÇÃO
A Brincadeira (jogo) é para a criança a coisa mais importante da vida.
O jogo é, nas mãos do educador, um excelente meio de formar a criança. Por
essa duas razões, todo educador – pai ou mãe, professor, dirigente de movimento
educativo – deve não só fazer jogar, como utilizar a força educativa do jogo.
E, para isso é preciso certa habilidade, senão dificilmente conseguirá algum
êxito junto às crianças.
O jogo é para a criança o que o trabalho é para o adulto. Para educar uma
criança precisamos absolutamente compreender o que o jogo representa na sua vida,
para que pode servi-lhe.
Se não compreender claramente tudo isso, é impossível compreender a
própria criança.
É como procurar educa-la sem ter primeiro compreendido sua mentalidade.
A palavra jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que
significa gracejo que tardiamente tomou lugar de lodus de onde se originou a palavra
lúdica.
O seu significado expressa sentido de divertimento, brincadeira, passatempo,
sujeito a regras que devem ser observadas quando se joga.
Significa também balanço, astúcia, ardil, manobra.
Neste trabalho está esboçado o fruto das pesquisas sobre a origem dos jogos e
seus usos ao longo dos tempos, até chegar aos nossos dias, pretendemos falar sobre
os jogos na educação e em particular na educação infantil, na qual nos envolvemos e
passamos a dedicar tempo e atenção para ampliar o nosso conhecimento e
compreensão de todos os aspectos que a ela convergem.
Os temas que compõem este trabalho procuram estabelecer a importância do
jogo para a criança, pré – escolar e a educação.
Prevalece a idéia de que o jogo é fundamental para a educação e o
desenvolvimento infantil.
O jogo e a criança caminham juntos desde o momento em que se fixa a
imagem da criança como ser que brinca, portadora de características próprias que se
expressam pelo ato lúdico, a infância carrega consigo as brincadeiras e a alegria que
se perpetuam e se renovam a cada geração.
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Sendo assim o objetivo do trabalho é verificar a importância dos jogos na
Educação Infantil e contribuir para a melhoria de prática pedagógica dos professores
da mesma.
1 - Jogo e cultura
O ser humano tem recebido várias designações: Homo sapiens porque tem
como função primordial o raciocínio para poder aprender e conhecer o mundo;
Homo faber porque fabrica objetos e utensílios, e Homo ludens porque é capaz de
dedicar se a atividade lúdica, isto é, do jogo.
Abrindo o raciocínio e procurando o verbete relativo ao termo jogo,
constatamos que Aurélio Buarque de Holanda, apresenta, na edição consultada, 17
acepções para este vocábulo, dentre as quais destacamos duas:
“atividade física ou mental organizada por um
sistema de regra que define a perda ou o ganho; brinquedo,
passatempo ou divertimento”. (Holanda, 1980, p. 803).
Freire apresenta nada menos que 29 acepções para o vocábulo jogo, das quais
transcrevemos duas:
“exercício ou passatempo recreativo, sujeitos a
certas regras ou combinações; exercício ou brincadeira de
crianças em que estas fazem prova de sua habilidade,
destreza ou astúcia.” (Freire, 1954, p. 3078.79)
A ação de jogar é tão remota quanto o próprio homem, pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Alguns autores vão
além, afirmando que o jogo não se limita apenas a raça humana – seria anterior,
inclusive ao próprio homem, pois já era praticado por alguns animais.
“Os animais brincam tal como os homens....
Consideram-se uns aos outros brincar mediante um certo
ritual de atitudes e gestos. Respeitam a regra que os proíbe
morderem, ou pelo menos com violência, a orelha do
próximo. Finge ficar zangados e, o que é mais importante,
eles, em tudo isto, parecem experimentar um imenso prazer e
divertimento”. (Huizinga, 1971, p.3)
11
Quem tem um animal em casa, certamente já obteve a oportunidade de ver o
animal brincando: é o caso do gatinho que brinca com o novelo de lã, ou do cachorro
que corre atrás de uma bola para pegá-la.
“Mas convém assinalar uma diferença entre os
jogos sensórios motores iniciais e os do animal, ou pelo
menos, de uma grande parte deles. No animal, os esquemas
motores exercido, são freqüentemente, de ordem reflexa ou
instintiva, lutas, perseguições etc...; daí a relação ao que
essas atividades serão no estado de amadurecimento adulto,
a noção de pré-exercício. Utilizada por Groos. Nas espécies
superiores como o chimpanzé que se diverte a fazer a água
correr, a juntar objetos ou a destruí-lós a dar cambalhotas e
a imitar os movimentos de marcha, etc... e na criança, a
atividade lúdica supera amplamente os esquemas reflexos e
prolonga quase todas as ações.” (Piaget, 1971, p. 146)
Nesta perspectiva, o jogo ultrapassa a esfera da vida humana, antecedendo a
cultura. Quanto a relação existente entre jogo e cultura, Huizinaga fez um profundo
estudo sobre o assunto, abordando a função social do jogo desde as sociedades
primitivas até as civilizações consideradas mais complexas. De acordo com a tese
desse autor, a cultura surgiu sob a forma de jogo, sendo que a tendência lúdica do ser
humano está na base de muitas realizações na esfera da Filosofia, da Ciência, da Arte
(em especial da música e da poesia), no campo militar e político e mesmo na área
judicial.
Embora o caráter lúdico dessas realizações seja mais evidente nas sociedades
primitivas, ele aparece também nas sociedades mais complexas, muitas vezes
atenuado ou disfarçado.
“Mesmo as atividades que visam a satisfação
imediata das necessidades vitais, como, por exemplo, a caça,
tende a assumir nas atividades primitivas uma forma lúdica.
A vida social reveste-se de formas suprabiológicas, que lhe
conferem uma dignidade superior sob a forma de jogo, e é
através desse último a que a sociedade exprime sua
interpretação da vida e do mundo”. (Huizinaga, 1971, p. 53)
12
Não significa dizer que o jogo se transforma em cultura, e sim que em suas
fases mais primitivas, a cultura possui um caráter lúdico, que ela se processa segundo
as formas e no ambiente do jogo. Assim sendo, a idéia básica é que além dos jogos
que são normalmente incorporados à cultura de um povo, a própria cultura se forma e
se desenvolve impulsionada pelo espírito lúdico.
Sendo parte integrante da vida em geral, o jogo tem uma função fundamental
para o individuo, não só para distensão e descarga de energia, mas acima de tudo
como forma de assimilação da realidade, além de ser culturalmente útil para a
sociedade como expressão de ideais comunitários.
O desenvolvimento da cultura humana ao longo dos tempos teve lugar sem
que houvessem mudanças substanciais de ordem biológica na raça humana. Neste
período de estancamento relativo dos processos evolutivos e quando a espécie do
Homo sapiens permanece relativamente constante, por sua vez, o desenvolvimento
da cultura da criança se caracteriza, principalmente, por produzir enquanto ocorrem
mudanças dinâmicas de caráter orgânico. O desenvolvimento cultural se superpõe
aos processos de crescimento, maturação e desenvolvimento orgânico. Da criança,
formando com ele um todo.
“Os planos de desenvolvimento – o natural e o
cultural coincidem e se unem um ao outro. As mudanças que
ocorrem num plano e outro se intercomunicam e constituem
na realidade um processo único de formação biológico-
social da personalidade humana”. (Negrine, p. 15)
Negrine com base nos estudos de Vygotsky considera que:
“Costumamos encontrar com bastante freqüência
processos já fossilizados, isto é, que por serem tido um longo
período de desenvolvimento histórico, se petrificam. A
fossilização da conduta se manifesta sobretudo nos
chamados processos psíquicos automatizados ou
mecanizados. São, na realidade, processos que, por muito
tempo, repetimos milhões de vezes, e devido a isso se
automatizaram, perderam seus aspectos primitivos e sua
aparência externa, não revelando sua natureza interior.
13
Noutras palavras perderam todos os indícios de sua
origem”. (Negrine, p.15)
1- Negrine, Airton.
O Lúdico no Contexto da Vida Humana: Da Primeira Infância à Terceira
Idade. In Santos, Santa Marli Pires. (dos (org). Brinquedoteca: A criança, o Adulto e
o Lúdico. Petrópolis – RJ. Vozes 2000).
2- Ibidem, Ibidem
Vista essa concepção teórica, podemos deduzir que o comportamento humano
não é hereditário, mas construção sistemática e permanente para atender às
necessidades com as quais o individuo se depara em todos os momentos marcantes
de sua vida.
Os jogos, as brincadeiras e os divertimentos ocupavam um lugar de destaque
nas sociedades antigas. Mas essa atitude se apresenta sob dois aspectos diferentes.
De um lado, todos os jogos eram admitidos sem reservas nem discriminação pela
grande maioria.
De outro, e ao mesmo tempo, uma minoria poderosa e culta de moralistas
rigorosos os condenavam quase todos de forma e igualmente absoluta, denunciando
sua, moralidade, sem admitir praticamente nenhuma exceção. A indiferença moral da
maioria e a intolerância de uma elite educadora coexistiam, durante muito tempo,
formando hábitos e valores que se propagam no tempo e no espaço.
O jogo, as brincadeiras e o brinquedo foram considerados de várias maneiras
segundo os povos de diversos países do mundo ao longe dos tempos.
“Ora se o brinquedo é considerado, hoje em dia
simplesmente um objeto infantil, os estudos de Áries. (1971) e
Benjamim (1984) contribui para a compreensão de que, no
entanto, na história das sociedades ocidentais, a criança e o
brinquedo assumiram diferentes significados. No caso das
bonecas, por exemplo, historiadores e colecionadores
tiveram muita dificuldade em distinguir a boneca brinquedo
de criança de todas as outras imagens e estatuetas
encontradas em escavações, que tinham, quase sempre, uma
significação religiosa. Muitas vezes eram miniaturas de
objetos familiares depositadas nos túmulos. Tais objetos,
14
somados a iconografia analisada por Áries (1981), indicam
que, na Antiguidade Clássica, de modo geral, desde cedo a
criança era introduzida no mundo adulto, de cujos jogos e
trabalho participava”. (Porto 3, 1998, p. 172)
Ao longo dos séculos XVII e XVIII adotou uma atitude moderna em relação
aos jogos, fundamentalmente diferente do que ocorria até então. A partir daquele
momento histórico passa a existir um novo sentimento de infância.
O conceito Homo ludens passa a ser valorizado, isto é, o homem que se
diverte. O ato de jogar (brincar) passa a ser considerado como um fator fundamental
no processo de desenvolvimento humano. O jogo pode apresentar significado
distinto, dos mais amplos aos mais restritos.
Pode ser entendido como movimento que a criança faz nos seus primeiros
anos de vida (agitar objetos que estão ao seu alcance, por exemplo), como também os
jogos tradicionais e os desportos institucionalizados.
Todavia, foi a partir do final do século XIX que o jogo do ponto de vista
cientifico passa a ser alvo de estudo de psicológicos, psicanalistas e de pedagogos em
geral, surgindo a partir daí todo um rol de teorias na tentativa de explicar o seu
significado.
“A teoria do recreio, de Schiller (1875),
sustentava que o jogo servia para recrear-se, sendo esta sua
finalidade intrínseca. Na teoria do descanso, de Lazarus
(1883), o jogo é visto como atividade que serve para
descansar e para restabelecer as energias consumidas nas
atividades sérias ou úteis. Na teoria do excesso de energia,
de Spencer (1897) o jogo tem como função a descarga do
excesso de energia excedente. Portanto, sua características
seria de provocar catarse. Na teoria de antecipação
funcional de Groos (1902), o jogo é visto como um pré-
exercício de funções necessárias a vida adulta. Na teoria de
recapitulação de Stanley Hall (1906), o jogo é visto como
forma de recapitular gerações passadas, caracterizando a
função atávica da atividade lúdica. Essas concepções
teóricas sinalizam a predominância positiva que denominava
15
nas ciências sociais da época. Isso não significa que no
momento atual tal tendência tenha diminuindo. Ocorre que
atualmente contamos com outras abordagens do jogo a
partir de um paradigma naturalista, levando-nos a entender
que a atividade lúdica é uma criação humana, e não apenas
um determinismo puramente biológico”. (Negrine, p. 17, 18)
O relevante nesse debate é que a ludicidade vista até então como alguma
coisa sem muita importância no processo de desenvolvimento humano - hoje é
estudada como algo vital do processo, fazendo com que cada vez mais se produzam
estudos de cunho científico para entender sua dimensão no comportamento humano e
se busquem novas formas de intervenção pedagógica como estratégia favorecedora
de todo o processo.
3- Negrine, Airton: “O lúdico no Contexto da Vida Humana – Da primeira
Infância à Terceira Idade”. In Santos, Santa Marli Pires – dos (org). Brinquetoca – a
criança, o Adulto e o Lúdico. Petrópolis, RJ Vozes, (2000).
2 – Jogo e o Cotidiano
É comum opor-se o trabalho ao jogo, considerando o primeiro como sendo
uma “atividade séria”, enquanto o jogo estava associado ao conceito de seriedade.
“apesar dos conceitos proféticos dos grandes
educadores, a pedagogia tradicional sempre considerou o
jogo como uma espécie de alteração mental ou, pelo menos,
como uma pseuda atividade, sem significação funcional e
mesmo nociva às crianças que desvia de seus deveres”.
(Piaget, 1971, p. 193)
Essa idéia se refletiu na educação durante muito tempo.
“alguns autores em particular os norte
americanos, tentando contrapor à conduta lúdica a conduta
séria, dizem que o jogo seria desprovido de estrutura
organizada, em oposição as atividades consideradas
“sérias” que seriam regulamentadas. Ora a existência de
jogos com regras já é um argumento suficiente para
contradizer essa idéia. O próprio simbólico, com é chamado
o jogo de ficção ou imaginação, também é uma forma de
16
ordenar a realidade, embora de modo subjetivo, isto é, de
acordo com os desejos, anseios e interesses do individuo”.
(Rizzi & Haydt, 1987, p. 9)
Entretanto para outros autores, entre os quais podemos citar Huizinga e
Piaget, a atividade lúdica supõe uma ordenação da realidade seja ela subjetiva e
intuitiva ou objetiva e consciente. A dicotomia entre trabalho e jogo parece ser
artificial e ilusória, já que entre eles não são nem rígidos, nem imutáveis.
Algumas formas de jogo podem ser bastante sérias, o futebol o xadrez são
exemplos.
Para deixar claro que a distinção entre atividade lúdica e não-lúdica não é
rigorosa basta analisar a atividade lúdica do ponto de vista de seus elementos
constituídos, ou seja, de certos aspectos que caracterizam os diversos tipos de jogos.
Entre os elementos que Huizinga (1951) considera como característica do
jogo estão a natureza livre do jogo, a existência de regras, o tempo e o espaço
necessário a cada jogo.
Rizzi & Haydt (1987) consideram como características fundamentais nos
jogos a capacidade de absorver o participante de maneira intensa e total, realizando-
se num clima de arrebatamento e entusiasmo, predomina no jogo uma atmosfera de
espontaneidade, limitações de espaço e existência de regras.
Enumerando os elementos constituídos do jogo podemos perceber que não
existe razão para contrapor o trabalho ao jogo, assim como não existe oposição entre
“atividade lúdica e atividade séria”.
Para Piaget, o que distingue a atividade lúdica da não-lúdica é apenas uma
variação de grau nas relações de equilíbrio entre o eu e o real, ou melhor entre a
assimilação e a acomodação. Dentro dessa concepção o jogo começa quando a
assimilação predomina sobre a acomodação.
Os jogos e as brincadeiras fazem parte do cotidiano das pessoas que sejam
elas crianças que sejam elas adultas, algumas brincadeiras como o futebol agrada a
todos. Às vezes adultos e crianças brincam juntos. Alguns consideram os jogos e
brincadeiras não-sérias, outras levam tão à sério quanto o trabalho, mas o importante
é que todos jogam, todos brincam.
17
2.1 – Classificação dos jogos
Os jogos podem ser classificados de diversas maneiras de acordo com o
critério adotado. Vários são os autores que se dedicaram ao estudo do jogo, tentando
explicar sua origem e apresentação com a alternativa de classificação. Entre
elas podemos citar: Henri Wallon, Roger Caillois, Claparide, Karl Groos, Stern,
Buhler e Jean Piaget.
Rizzi & Haydt (1987, p. 10 e 11) analisa algumas teorias sobre as
classificações dos jogos das quais transcrevemos as abaixo.
“Claparide e Groos adotou como critério
classificatório a função e dividem os jogos em duas grandes
categorias que comportam várias subdivisões: jogos
sensoriais (assobios, gritos etc.); jogos motores (bolas,
corridas, etc.); jogos intelectuais (imaginação e
curiosidade); jogos Afetivos (amor, sexo); Exercícios de
vontade (sustentar uma posição difícil o máximo de tempo
possível); jogos de funções especiais: Jogos de luta,
perseguição, cortesia, imitação, os jogos sociais e familiares.
Buhler adota o critério estrutural e divide os
jogos em cinco classes: Jogos funcionais ou sensório-
motores; Jogos de ficção ou de ilusão, Jogos receptivos (sob
esta designação estão incluída a audição de histórias e
observação de imagens); Jogos de construção; Jogos
coletivos. Piaget verificou que existem basicamente, três
tipos de estrutura que caracterizam os jogos: o exercício, o
símbolo e a regra. Os jogos são então divididos em três
grandes categorias, cada uma delas correspondendo a um
tipo de estrutura mental, jogo de exercício sensório-motor;
jogo simbólico (de ficção, ou de imaginação e de imitação);
Jogo de regra.”
A classificação dos jogos não é uma regra definitiva a qual todos tenham que
seguir cada autor, através das suas observações e registros, entrevistas e estudos das
classificações de outros autores, elaborou a sua própria classificação de acordo com
os critérios por eles adotados. Para nós eles ficam como orientação para o nosso
18
trabalho e não com regras, ficam como parâmetros para nossas atividades
educacionais e não como uma norma.
3 - Evolução do jogo na criança
Como foi dito anteriormente o ser humano possui uma tendência lúdica. Mas,
como se manifesta essa tendência ao longo do processo do desenvolvimento
humano? Piaget fez um estudo profundo sobre a evolução do jogo na criança, e
verificou este impulso lúdico já nos primeiros anos meses de vida predomina sob a
forma de jogo simbólico, para se manifestar, através de prática do jogo de regra na
etapa seguinte. Na elaboração de sua “classificação genética baseada na evolução das
estruturas” como ele diz, cada uma das três classes de jogos correspondem as três
fases do desenvolvimento mental.
Os autores dos vários correntes de Psicologia parecem concordar com esta
linha evolutiva, apenas diferem quanto à terminologia: ao que Piaget quanto de jogo
de exercício sensório-motor, Buhler e Jean Chateau designam de jogo funcional
enquanto Stern usa o termo “jogo de conquista do próprio corpo e das coisas”, o que
Piaget chama de jogo simbólico, Buhler chama de jogo de ficção e Chateau de jogo
de regras, está na classificação de Buhler dentro da categoria “jogos coletivos”.
Portanto, basicamente existem três formas de atividade lúdica que
caracterizam a evolução do jogo na criança de acordo com a fase do seu
desenvolvimento. Mas estas três formas de atividades lúdicas podem coexistir de
forma paralela no adulto.
3.1 – Jogo de exercício sensório-motor
A atividade lúdica aparece sob forma de simples exercícios motores,
dependendo para a sua realização exclusivamente da maturação do aparelho motor.
Seu objetivo é simplesmente o próprio prazer do funcionamento. “Quase todos os
esquemas sensório-motores dão lugar a um exercício lúdico” (Piaget, 1975, p. 145)
“Esses exercícios motores consistem na repetição
de gestos e movimentos simples, com o valor exploratório.
Nos primeiros meses de vida, o bebê estica e recolhe as
pernas e braços, agita as mãos e os dedos, toca os objetos e
os sacode produzindo ruídos ou sons. Esses exercícios têm
valor exploratório, embora os exercícios sensório-motores
19
constituam a forma inicial do jogo na criança, eles não são
específicos dos sois primeiros anos ou da fase de condutas
pré-verbais. Eles reaparecem durante toda a infância e
mesmo no adulto, sempre que um novo poder ou nova
capacidade são adquiridos” diz Piaget. (Rizzi & Haydt,
1987, p. 12)
3.2 – Jogo Simbólico
O jogo simbólico, isto é jogo de ficção, ou imaginação, e de imitação, é a
forma lúdica que predomina no período compreendido entre os dois e os seis anos.
Nesta categoria estão incluídos a metamorfose de objetos e o desempenho de
papeis. O jogo simbólico se desenvolve a partir dos esquemas sensório-motores que a
medida que são internalizados, dão origem a imitação depois de representar a função
desse tipo de atividade lúdica de acordo com Piaget.
“Consiste em satisfazer o eu por meio de uma
transformação do real em função dos desejos. A criança que
brinca de boneca refaz sua vida, corrigindo-a a sua maneira,
e revive todos os prazeres ou conflitos, resolvendo-os,
compensando-os ou seja completando a realidade através de
ficção”. (Piaget,1969, p. 29)
Assim sendo o jogo simbólico tem como função assimilar a realidade, através
da liquidação de conflitos, da compensação de necessidades não satisfeitas, ou de
inversão de papéis.
O jogo simbólico é tanto uma forma de assimilação do real e um meio de
auto-expressão, reproduzindo situações reais por ela vivenciadas.
3.3 – Jogo de Regras
A terceira forma de atividade lúdica a surgir é o jogo de regras, que começa a
se manifestar por volta dos cincos anos, mas se desenvolve predominante na fase que
vai dos sete aos doze anos, predominando durante toda a vida do individuo.
“Os jogos de regras são jogos de combinações
sensórios-motoras (corridas, jogos de bola de gude ou com
bolas etc.) ou intelectuais (cartas, xadrez, etc.) com
competição dos indivíduos (sem o que a regra seria inútil) e
regulamentos que por um código transmitido de gerações em
20
gerações, que por acordos momentâneos”. (Piaget, 1971, p.
185)
A regulamentação por meio de um conjunto sistemático de normas que
asseguram a reciprocidade dos meios empregados, é o que caracteriza o jogo de
regras. É uma conduta lúdica que supõe relações sociais ou interindividuais, já que a
regra é uma regularidade imposta pelo grupo. Essa forma de jogo pressupõe a
existência de parceiros, bem como de certas obrigações (as regras), o que lhe confere
um caráter social.
“O jogo de regras é a atividade lúdica do ser
socializado e começa a ser praticado em torno dos sete anos,
quando a criança abandona o jogo egocêntrico das crianças
mais pequenas, em proveito de uma aplicação efetivo de
regras e do espírito de cooperação entre os jogadores”
(Piaget, 1971, p. 180)
Percebemos o jogo na criança, à princípio egocêntrico e espontâneo, vai se
tornando cada vez mais uma atividade social, na qual as relações interpessoais são
fundamentais.
4 – Os Jogos e a Escola
Dentro das teorias da educação durante muitos anos foi adotado o conceito de
que “ensinar” é “transmitir” eram a mesma coisa, e nesse contexto o aluno era um
agente passivo de aprendizagem e o educador atuava como transmissor não
necessariamente presente nas necessidades do aluno. Cria-se que toda aprendizagem
se dava pela repetição e que os alunos que não aprendiam eram os responsáveis por
isso e assim não resta ao professor sentenciá-lo a reprovação. Hoje entende-se que
onde há a aprendizagem, e isto acontece pela transformação, pela ação facilitadora
do educador, do processo de busca do conhecimento, que deve sempre partir do
aluno.
“A idéia de um ensino despertado pelo interesse
acabou transformando o sentido do que se entende por
material pedagógico e cada estudante, independentemente de
sua idade, passou a ser um desafio a competência do
professor. Seu interesse passou a ser a força que comanda o
processo de aprendizagem. Suas experiências e descobertas,
21
o motor de seu progresso e o professor um gerador de
situações estimuladoras e eficazes. É nesse contexto que o
jogo ganha um espaço como ferramenta ideal da
aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao
interesse do aluno, que como todo pequeno animal adora
jogar sempre e principalmente sozinho e desenvolve níveis
diferentes de sua experiência pessoal e social. O jogo ajuda-
o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece
sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico
que leva ao professor a condição de condutor, estimulador e
avaliador da aprendizagem”. (Antunes, 1999, p. 36)
Hoje a maioria dos pensadores, teóricos, pedagogos e sociólogos concordam
em compreender o jogo como uma atividade que contém em si mesmo o objetivo de
decifrar os enigmas da vida e de construir um período de entusiasmo e alegria dentro
da caminhada humana, que é na maior parte do seu tempo árida. Assim sendo brincar
é extrair da vida o seu próprio significado, e o jogo é o melhor caminho para isso.
Dentro das razões para que os educadores recorram ao jogo no processo
ensino-aprendizagem:
“1- O jogo corresponde a um impulso natural da
criança; neste sentido, satisfaz uma necessidade interior,
pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica. 2- A
atitude do jogo apresenta dois elementos o prazer e o esforço
espontâneo. 3- A situação do jogo mobiliza os esquemas
mentais; sendo uma atividade física e mental, o jogo aciona e
ativa as funções psico-neurológicas e as operações mentais,
estimulando o pensamento. 4- O quarto motivo é decorrente
dos anteriores, pois o jogo integra as várias dimensões da
personalidade: afetiva, motora e cognitiva. Como atividade
física e mental que mobiliza as funções e operações, o jogo
aciona as esferas motoras e mental que mobiliza as funções e
operações, o jogo aciona as esferas motoras e cognitivas, e à
medida que gera envolvimento emocional, apela para a
esfera afetiva. Neste particular, o jogo se assemelha a
22
atividade artística, como um elemento integrador dos vários
aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga é
também, o ser que age, sente, pensa, aprende, se
desenvolve”. (Rizzi & Haydt, 1987, p. 14)
Apesar de parecer nova a idéia de aplicar o jogo à educação, ela é bastante
antiga. Já no século XVIII, Rosseau e Pestalozzi acreditavam na importância do jogo
como instrumento formativo. O jogo como recurso didático foi defendido a partir do
movimento da Escola Nova e da adoção dos “chamados métodos ativos”.
“Em 1632, Comenius terminou de escrever a sua
obra Didática Magna, na qual apresentava sua concepção de
educação. Ele pregava a utilização de um método de acordo
com a natureza e recomendava a prática de jogos devido ao
seu valor formativo (...) A educação não deveria ser um
processo artificial e repreensivo, mas um processo natural,
de acordo com o desenvolvimento mental, da criança e
levando em consideração seus interesses e suas tendências
incertas. Salientavam a importância dos jogos como
instrumento formativo, pois além de exercitar o corpo, os
sentidos e as aptidões, os jogos também preparam para a
vida em comum e para as relações sociais (...) Mas Proebel
que viveu em 1782 e 1852 já defendia o uso dos jogos na
ação educativa, e no seu trabalho docente ele pôs em prática
a teoria do valor educativo do brinquedo e do jogo
principalmente no jardim de infância para isso elaborou um
currículo centrado em jogos para desenvolvimento da
percepção sensorial, da expressão e para a matemática”.
(Rizzi & Haydt, 1987, p. 14-15)
Muitos educadores ao longo dos tempos têm reconhecido a importância do
jogo como recurso pedagógico e procuram aproveita-lo ao máximo.
“O jogo é para a criança a coisa mais
importante da vida. O jogo é nas mãos do educador, um
excelente meio de formar a criança. Por essas duas razões,
todo educador, pai, mãe ou professor, dirigente de
23
movimento educativo deve não só fazer jogar como verificar
a força educativa do jogo”. (Joaquim, 1963, p.7)
A criança aplica seus esquemas mentais de realidade que a cerca, aprendendo
e assimilando quando brinca e joga, é assim que reproduz as experiências vividas,
transformando o que é real segundo seus desejos e interesses. Portanto, pode-se
concluir que é através do brinquedo e do jogo que a criança expressa, assimila e
constrói a sua realidade.
4.1 – A criança aprende enquanto brinca e brinca enquanto aprende.
As vivências lúdicas de uma criança, desde a mais tenra idade, vão lhe
refinando as apresentações do seu ambiente social. Pelos jogos e brincadeiras
acontecerem às adaptações, os erros e acertos, as reduções de problemas que torna-
lo um ser autônomo.
A natureza da criança e lúdicas, de animação de curiosidade, de
voluntariedade negar essa natureza é negar a própria criança.
Ao se observar uma criança brincando, jogando percebe-se o quanto se
concentra na sua atividade, neste instante, ela incorpora suas fantasias e reproduz
cenas do seu cotidiano, tanto pode ser agitado, violento, triste e cheio de privações,
quanto calmo, alegre e cheio de satisfação.
Através do jogo simbólico, do “faz-de-conta”, a criança pode liberar sonhos
ou medos, partindo em busca de um lugar de pertinência familiar e social pela
construção do seu próprio ego (eu)
Uma criança com experiências lúdicas diversificadas terá mais riqueza de
criatividade, relacionamentos, capacidade, crítica e de opinião. O contato, a
exploração do meio ambiente, brinquedos, e expressão musical, artes, dança, teatro,
jogos e vivências corporais ampliam sua visão do mundo na medida que interage
com ele. Assim sendo, ela própria vai definindo seus limites desafios e criando novos
jogos, brinquedos e brincadeiras, ampliando o seu campo de relacionamento tanto
com crianças como com adultos aperfeiçoando a cada dia o grau de socialização.
Assim sendo, pode-se dizer que a escola de educação infantil vem
complementar a educação dada pela família, abrindo espaço para o desenvolvimento
global da criança, através principalmente dos jogos lúdicos, tornando a aprendizagem
prazerosa e espontânea despertando na criança o desejo de aprender mais e mais.
24
“É possível identificar se uma boa escola de
educação infantil quando pode apresentar uma projeto
pedagógico fundamentado e quanto se propõe avançar no
desenvolvimento cognitivo múltiplo, fornecendo experiências,
estimulando seus sentidos, abrindo espaços para a ação
infantil, para a música, a arte, materiais táteis, jogos lógico-
matemáticos, naturalistas, e lingüísticos e quando iniciam
uma verdadeira alfabetização cartográfica, musical,
pictórica e emocional da criança. É essencial que a
educação infantil seja plena de brincadeiras que gratificam
os sentidos, levam ao domínio de habilidade, despertam a
imaginação, estimulam a cooperação e a compreensão sobre
regras e limites, e respeite, explora e amplia, os inúmeros
saberes que toda criança possui quando à escola”. (Antunes,
1999, p. 30)
A escola de educação infantil tem procurado cumprir seu papel na sociedade.
Ao estabelecer propostas pedagógicas coerentes com a necessidade do mundo atual.
“A Escola Lúdica de Educação Infantil tem por
finalidade promover a interação social, o desenvolvimento
das habilidades físicas e intelectivas dos alunos; formar a
postura de estudante, levando-o a organizar e preparar seu
material, viver em grupo, trocar idéias, saber ouvir e
participar, descobrir coisas novas, participar de jogos
variados de forma ordenada, interiorizar regras de convívio
em grupo...”
4.2 – Quando como e porque usar os jogos
Os jogos devem ser usados no momento certo, e esse é determinado pelo
interesse do aluno, pela proposta do professor e pelo seu caráter desafiados.
“Os jogos devem ser utilizados somente quando a
programação possibilita somente quando se constituem em
um auxílio eficiente ao alcance de um objetivo dentro dessa
programação”. (Antunes, 1999)
25
A grande dúvida dos professores é como usar os jogos, as brincadeiras e as
dinâmicas de recreação e integração, quando se justifica ou não o seu uso no
processo pedagógico o porque usa-lo. Antunes diz que existem quatro elementos que
justificam e de certa forma, condicionam a aplicação dos jogos.
“Capacidade de se construir em um fato de auto
estima do aluno – Jogos extremamente fáceis ou cuja solução
por parte do aluno causam seu desinteresse, e, o que é pior,
sua baixa estima, associada a uma sensação de incapacidade
ou fracasso.
O jogo jamais pode surgir trabalho ou estar
associado a alguma forma de sanção. Ao contrário, é
essencial que o professor dele se utilize como ferramenta de
combate à apatia e como instrumentos de inserção e desafios
grupais.
Os jogos devem ser cuidadosamente introduzidos
e as posições dos alunos claramente definidas. A convivência
do ambiente é fundamental para o sucesso no uso dos jogos.
Um jogo jamais deve ser interrompido e, sempre que
possível, o aluno deve ser estimulado a buscar seus próprios
caminhos. Além disso todo jogo precisa sempre ter começo,
meio e fim e não ser programado se existir dúvidas sobre as
possibilidades de sua integral consecução”. (Antunes, 1999,
p. 41/42)
Os jogos, as brincadeiras e as dinâmicas de recreação e integração se
encaixam no campo das relações e servem para:
“Integrar a pessoa no meio social, desenvolva o
conhecimento mútuo e a participação grupal, destingir e
desbloquear, desenvolver a comunicação verbal e não
verbal, descobrir habilidades lúdicas, desenvolver adaptação
emocional, descobrir sistemas de valores, dar evasão no
excesso de energia e aumentar a capacidade mental”.
(Fritzen, 1999, p. 9/10)
26
O aparecimento do jogo e do brinquedo, das brincadeiras e dinâmicas no
ensino moderno, proporcionou um campo amplo de estudos e pesquisas e hoje a
questão de consenso a importância do lúdico na educação. Dentre as contribuições
mais importantes destes estudos destacamos:
“As atividades lúdicas possibilitam o
desenvolvimento integral da criança, já que através destas
atividades a criança se desenvolve afetivamente, convive
socialmente e opera mentalmente;
• O brinquedo e o jogo são produtos de
cultura e seus usos permitem a insenção da criança na
sociedade;
• Brincar ajuda a criança no
desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social, pois,
através das atividades lúdicas a criança forma conceitos,
relaciona idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a
expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz
a agressividade, integra-se na sociedade e constrói seu
próprio conhecimento”. (Santos, p.20)
4.3 – A socialização na Educação Infantil a partir dos jogos.
Um dos principais objetivos da educação infantil é a socialização da criança,
já que ao nascer toda criança é centrada em si mesmo. Com o passar dos anos a
criança deixa de ser egocêntrica e passa a ser cada vez mais socializada. Quanto mais
estimulada ela for, quanto mais experiências ela viver, mais rapidamente ela se
integrará ao convívio social, dentro desse contexto, os jogos propiciam as
oportunidades adequadas para se atingir esse objetivo.
“Os jogos brinquedos e brincadeiras são
atividades fundamentais da infância. O brinquedo pode
favorecer a imaginação, a confiança e a curiosidade,
proporciona a socialização, desenvolvimento de linguagem,
do pensamento, da criatividade de concentração”. (Batista,
Moreno & Paschoal)
27
O jogo para a criança nos seus primeiros anos tem um caráter egocêntrico e
espontâneo. Ao atingir a fase entre os 4 e 6 anos ela já consegue seguir regras
simples e não se preocupa muita com o “ganhar” ou “perder”, jogo. A partir dos 7
anos a criança tem maior facilidade para lidar com um número maior de regras e com
um grupo mais numeroso.
A cooperação é uma característica dessa faixa etária que se estenderá
aproximadamente até os 12 anos.
O cumprimento ou violação das regras é observado por cada elemento do
grupo, gerando sentimentos e atitudes de aprovação ou reprovação para com os
colegas diante do seu comportamento durante a atividade. Algumas crianças
precisam aprender a “perder” e “ganhar” nos jogos. Concluímos então que formar
professores para uma plena introdução do lúdico na escola é, sem dúvida, uma
necessidade da escola atual.
O sentido real verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantido se o
educador moderno estiver pronto para realiza-lo.
“O jogo supõe relação social, supõe interação.
Por isso, a participação em jogos contribui para a formação
de atitudes sociais, respeito mútuo, solidariedade,
cooperação, obediência às regras, senso de
responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando que
a criança aprende o valor do grupo, como força integradora
e o sentido de competição acirrada, aproveitando essa
disposição natural da criança para jogar pelo simples prazer
de jogar. Deve selecionar jogos simples com poucas regras.
Quando o clima de sala de aula é de cooperação e respeito
mútuo, a criança sente-se segura emocionalmente e tende a
aceitar mais facilmente o fato de ganhar ou perder como
algo normal, é preciso preparar a criança para a competição
sadia, na qual impera o respeito e a consideração pelo
adversário”. (Rizzi & Haydt, 1987, p. 15)
28
5 – Os jogos e o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil simboliza uma
proposta que visa orientar, de maneira coerente, as muitas políticas educacionais
existentes nas diferentes áreas territoriais do país e que contribuem para a melhoria
de eficiência, atualização e qualidade de nossa educação. Além disso, visam
imprimir uma concepção de cidadania que ajuste o aluno e conseqüentemente, o
cidadão à realidade e demandas do mundo contemporâneo. Representam, dessa
forma, um parâmetro para fomentar a reflexão sobre os currículos municipais,
garantindo a melhoria da qualidade de ensino, socializando discussões e pesquisas
sobre estratégias e procedimentos e subsidiando a participação de técnicos em
educação e o professor brasileiro de maneira geral. Não constituem, dessa forma uma
linha pedagógica impositiva mas um conjunto de proposições que buscam
estabelecer parâmetros a partir das quais a educação possa progressivamente ir se
transformando em processo de construção de cidadania. Lamentavelmente,
entretanto, muitos dos “especialistas” encarregados de avaliar propostas, obras e
projetos para facilitar sua implementação revestem-se de absolutistas “donos da
verdade” exercitam seus julgamentos menos em função desses parâmetros e muitos
mais pelo egocentrismo de julgarem-se seus proprietários exclusivos. Por outro lado
muitos municípios têm realizado as referências de forma coerente e tem procurado
capacitar os professores para uma nova realidade.
“Os momentos do jogo e de brincadeira devem se
constituir em atividades permanentes nas quais as crianças
poderão estar em contato também com temas relacionados
ao mundo social e natural. O professor poderá ensinar às
crianças jogos e brincadeiras de outras épocas, propondo
pesquisas junto aos familiares e outras pessoas da
comunidade e ou em livros e revistas. Para a criança é
interessante conhecer as regras das brincadeiras de outros
tempos, observar o que mudou em relação às regras atuais,
saber o que eram feitos dos brinquedos, etc...”. (Recnei,
2001, p. 200)
29
A orientação proposta no RECNEI está situada nos princípios construtivistas
e apóia-se em um modelo de aprendizagem que reconhece a participação construtiva
do aluno, a intervenção do professor nesse processo e a escola como um espaço de
formação e informação em que a aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de
habilidades operatórias favoreçam a inserção do aluno na sociedade que o cerca e,
progressivamente, em um universo cultural mais amplo. Para que essa orientação se
transforme em uma realidade concreta é essencial a interação do sujeito com o objeto
a ser conhecido e, assim, a multiplicidade na proposta de jogos concretiza e
materializa essas interações. Ao lado dessa função os jogos também se prestam a
multidisciplinariedade, e, dessa forma, viabilizam a atuação do próprio aluno na
tarefa de construir significados sobre os conteúdos de sua aprendizagem e explorar
de forma significativa os temas transversais (meio ambiente, pluralidade cultural)
que estruturam a formação do aluno-cidadão. Esses temas não constituem novas
matérias, mas atravessam áreas do currículo e, dessa forma, devem ser desenvolvidos
no momento oportuno por qualquer professor, inspirado por acontecimentos que se
tornam marcantes no momento vivido pela escola (uma notícia de jornal, uma briga
entre colegas, uma cena marcante de uma novela na televisão, um desenho que todos
os alunos assistiram, etc.).
Não correspondem aos objetivos deste estudo estabeleça uma ponte entre a
apresentação e sugestão múltipla de jogos e a forma como o RECNEI (Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil) propõe seu desenvolvimento e seu
registrar que no RECNEI os professores certamente encontrarão outras propostas,
idéias e fundamentos que darão “vida” e plena justificativa à maior parte dos jogos
apresentados.
5.1 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o jogo
Os Parâmetros Curriculares Nacionais encontramos uma proposta que visa
orientar coerentemente as muitas políticas educacionais existentes em cada estado,
em cada município do País, visando a melhoria da educação no Brasil. Além disso,
pretendem dar uma concepção de cidadania que ajuste o educando e
conseqüentemente o cidadão à realidade do mundo contemporâneo. Representando
dessa forma um parâmetro para fomentar a discussão sobre os currículos estaduais e
municipais. No volume sobre educação física, encontramos as orientações para
desenvolver em diferentes planos a motricidade, a linguagem corporal, estabelecendo
30
relações equilibradas e construtivas com outras pessoas. Conhecer as várias formas
de manifestações culturais do País expressas através das danças e rituais folclóricos e
assumir conhecimento do corpo e suas limitações, como estratégias de construção de
uma forma de vida mais saudável...
“Foram selecionadas práticas da cultura
corporal que tem presença marcante na sociedade brasileira,
cuja aprendizagem favorece ampliação das capacidades de
interação socio-cultural, o usufruto das possibilidades e
manutenção da saúde pessoal e coletiva”. (PCN, 1997, p. 45,
Vol. 7)
No volume que trata das artes encontramos orientações sobre como estimular
o aluno na apreciação da arte de uma forma geral descobrindo novas linguagens
interagindo com diferentes materiais e identificar a arte como uma expressão de
cultura deste e de outros tempos.
Neste volume encontramos referências sobre os jogos na educação.
“O ato de dramatizar está potencialmente
contido em cada um, como uma necessidade de compreender
e representar uma realidade. Ao observar uma criança em
suas primeiras manifestações dramatizadas, o jogo
simbólico, percebe-se a procura na organização de seu
conhecimento do mundo de forma integradora. A
dramatização acompanha o desenvolvimento da criança
como uma manifestação espontânea, assumindo feições e
funções diversas, sem perder jamais o caráter de interação e
de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente. Essa
atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo de regra, do
individual para o coletivo”. (PCN, 1997, p. 83, Vol. 6)
31
6 – Espaços Lúdicos para a criança na escola de Educação
Infantil
A principio, em qualquer lugar, podem ser realizados as atividades,
exercícios, jogos e brincadeiras. Vai depender obviamente de vários fatos, tais como:
o objetivo a ser atingido no momento, o fator tempo (clima, chuva, muito sol, calor,
etc.) o material a ser usado, etc...
“Os espaços onde podem ser realizados mais
convenientemente os jogos são, como vimos, a praia, o
parque infantil, o campo, o pátio de recreio escolar, o
galpão, o ginásio e a sala de aula”. (Miranda, 1984, p.66)
A área de atividades deveria ter, pelo menos espaço para execitarem-se as
habilidades básicas, como: andar, balançar-se, lançar, deslizar, correr, pendurar-se,
pegar, nadar, saltitar, trepar, rolar, mergulhar, saltar, apoiar-se, chocar-se,
equilibrar...
Interessante seria que o piso da área de recreio fosse bem variado (areia,
grama, cimento) e que tivesse vários níveis (terreno desigual). Seriam interessantes
as existências de plataformas de várias alturas, inclinadas, superpostas, árvores,
cordas, balanços, gangorras, escorregadores, túneis. (com manilhas ou tambores).
Caso haja um ginásio de esportes (quadra coberta) que ela possua: redes para
jogar bolas, colas penduradas, espaldar, barras paralelas (alturas variáveis).
O importante é que qualquer que seja o local, ele ofereça segurança para as
crianças.
É fundamental, porém, que sejam mostrados os possíveis perigos as crianças
e que elas aprendem evita-los.
Além de Sala de aula, do ginásio coberto, do parquinho, do tanque de areia e
do pátio ao ar livre, seria interessante a escola possuir outros espaços destinados ao
desenvolvimento das atividades lúdicas como uma biblioteca com livros que as
crianças pudessem manusear e um baú com roupas e objetos onde elas pudessem
brincar de “faz-de-conta”.
Outro espaço interessante seria uma brinquedoteca onde a criança teria acesso
a diversos jogos e brinquedos diferentes que a criança poderia explorar com o auxilio
do professor ou livremente, construindo o seu conhecimento gradativamente a partir
das experiências vivenciadas.
32
“As escolas que possuem brinquedotecas tem
mostrado ser o jogo e o brinquedo uma estratégia poderosa
para a construção do conhecimento, pelos desafios que o
lúdico proporciona”. (Santos, p.58/59)
33
CONCLUSÃO Ao longo dos tempos, os pensadores vêm buscando aperfeiçoar as formas de
ensinar, os modos de se aprender, e essa discussão chegou até o nível da Educação
Infantil.
Conclui-se que o jogo é um dos elementos pelo qual a criança assimila a sua
realidade, resolve os seus conflitos, compensa as suas necessidades não satisfeitas e
desenvolve a sua auto-expressão os “por quês” das regras.
Através do jogo a criança vai se tornando cada vez mais um ser social, já que
um dos ingredientes fundamentais do jogo é a relação interpessoal.
O jogo favorece o aprendizado das crianças por tornar teorias em fatos ou
atos, conceitos palpáveis e naturais, já que jogar é um pulso natural da criança.
No jogo, a criança realiza um esforço espontâneo e natural, mobilizando os
esquemas mentais integrando as várias dimensões da personalidade da criança, o
afetivo, o motor e o cognitivo.
Os órgãos oficiais do governo, Ministério e Secretarias de Educação – os
profissionais da área e a sociedade, de um modo geral, tem procurado encontrar uma
forma de tornar a escola um lugar de aprendizagem prazerosa.
Por isso acreditamos que o processo de ensino-aprendizagem atual está
buscando atingir ao educando através do lúdico na educação.
Conclui-se também, que o desejo dos professores de poder criar em sala de
aula uma atmosfera de motivação constante, a fim de permitir sua participação ativa
nas aulas, não será esgotada nunca e que o lúdico seja uma boa opção para todos os
níveis de ensino.
34
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Santos, Santa Marli Pires dos (org.) O Lúdico na Formação do Educador. Petrópolis – RJ, 1987.
36
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação Psicopedagógia
O jogo na Educação Infantil
Sonia Ramos de Araújo
Orientador: Fabiane Muniz
Data de Entrega: 29/03/2004
Banca Examinadora:
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